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Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:41) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
Enxerto

Quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Especial
Inovação

| F1

Arbix, da Finep alerta
para a necessidade de
estabilidade de
funding F3
REGIS FILHO/VALOR

Geração de
conhecimento
deve ser pautada
por governo,
empresas,
universidades e
instituições de
pesquisa. Por
Genilson Cezar,
para o Valor,
de São Paulo
Ministro Marco Antônio Raupp: “A intenção é realizar uma convergência entre as políticas de desenvolvimento econômico e as estratégias de produção de conhecimento e inovação”

Diferencial

competitivo
M

ais investimentos e
mais colaboração entre os diversos agentes
envolvidos na produção de conhecimento e da inovação — governo, empresas, universidades
e instituições de pesquisa do
mundo acadêmico — são ações
vitais para enfrentar as novas
demandas da competitividade
em um mercado globalizado,
segundo manifestaram em
uníssono empresários, dirigentes governamentais e representantes de instituições acadêmicas e de entidades de fomento à
pesquisa de tecnologias no país
presentes ao seminário “Inovação e Desenvolvimento Econômico”, realizado pelo Valor em
parceria com a Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep), em
São Paulo, na terça-feira.
Do lado do governo, pelo menos, dinheiro não vai faltar, assegura o ministro Marco Antônio
Raupp, da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI). Além do orçamento anual, estimado em
R$ 7,01 bilhões para 2013, o go-

verno colocará R$ 15 bilhões à
disposição das empresas e instituições de ciência e tecnologia
(ICTs), na forma de crédito, subvenção e fomento não reembolsável para atividades inovadoras, até 2014. São recursos novos,
obtidos pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em parceria com o BNDES, para atender
projetos prioritários previstos
no Plano Brasil Maior para tecnologia e inovação.
“A intenção é realizar uma
convergência entre as políticas
de desenvolvimento econômico
e as estratégias de produção de
conhecimento e inovação”, afirmou Raupp durante o seminário. “Pela primeira vez, há um
movimento inédito de inserir a
política de inovação no coração
do Plano Brasil Maior, para o desenvolvimento econômico”, assinalou. Trata-se de um novo
modelo de atuação do Ministério da Ciência e Tecnologia, que,
desde o ano passado, incorporou o I de Inovação, e está adotando novos instrumentos de fi-

nanciamento, além de medidas
de ajustes aos novos tempos de
mais competitividade, explicou
o ministro.
Em 2011, informou, foram liberados R$ 6 bilhões em créditos a projetos de tecnologia e
inovação, principalmente nas
áreas de petróleo e gás, sustentabilidade, saúde. Não só: o governo tem incentivado o desenvolvimento de inovação das empresas por meio de renúncia fiscal, por conta da Lei de Informática. É um volume de recursos da
ordem de R$ 4 bilhões que, somados às desonerações da Lei
do Bem, atingem o montante de
R$ 6 bilhões. “Vivemos uma fase
de ações transversais de ciência,
tecnologia e inovação, e isso leva a uma multiplicidade de
meios e instrumentos de atuação em apoio à inovação em todos os setores da sociedade”, explicou Raupp.
Para os empresários, além de
mais investimentos, é necessário fortalecer os laços de cooperação entre as instituições en-

volvidas na produção do conhecimento e da inovação. A palavra-chave é colaboração, disse
Mauro Kern, vice-presidente
executivo de engenharia e tecnologia da Embraer. Segundo
ele, é preciso criar redes de colaboração envolvendo empresas
industriais, instituições de pesquisa e governo. “Daqui para
frente, as empresas que quiserem desenvolver tecnologias
por conta própria não vão conseguir enfrentar os desafios
atuais. A competição vai se dar
entre redes de colaboração e essas redes precisam ser fortes e
competitivas.”
Não se trata, de acordo com
Kern, de buscar apenas instrumentos de ganhos de produtividade e de competitividade. “Em
um mundo de rápidas mudanças,
colaboração e inovação são questões de sobrevivência”, afirmou. A
empresa apostou nessa direção,
segundo ele. A Embraer investe
3% de sua receita em inovação,
pesquisa e desenvolvimento, o
que tem resultado na criação de

novos produtos em alta velocidade. “Somos a empresa que mais
desenvolve aviões no mundo e isso tem proporcionado à companhia o crescimento de sua receita
20 vezes mais desde 1995.”
As universidades estão prontas
para exercitar essas ações de colaboração, avaliou João Grandino
Rodas, reitor da Universidade de
São Paulo (USP). “A universidade
sai de sua torre de marfim, ciente
de que não é mais dona do monopólio do conhecimento e do
ensino”, afirmou. No caso da USP,
várias ações adotadas estão em
desenvolvimento para incentivar
a inovação e o empreendedorismo. Só no Programa de Inovação
à Pesquisa, por exemplo, a USP
investiu R$ 300 milhões para
criar núcleos de apoio à pesquisa.
Mais R$ 200 milhões estão sendo
aplicados desde 2011 no projeto
de implantação pioneira da tecnologia cloud computing no
campus da universidade.
O presidente da Finep, Glauco Arbix, acredita que há uma
nova cultura de inovação em

curso. “Foi-se o tempo em que
tínhamos dificuldade de discutir ciência e tecnologia com empresários”, disse. “Agora, tratase de criar um ambiente amigável, diminuir a carga de burocracia das empresas e mitigar os
esforços entre os diversos agentes envolvidos na inovação.”
Segundo João Alberto De Negri, diretor de inovação da Finep,
uma parte relevante dos investimentos na economia nos próximos anos será realizada, por
exemplo, pelas empresas vinculadas à cadeia produtiva do petróleo. De um total de 1.714 empresas do núcleo da indústria
brasileira, pelo menos 750 desenvolvem atividades de P&D, das
quais 500 estão integradas ao sistema do MCT (Finep e CNPq), recebendo apoio direto dos programas governamentais de financiamento à inovação. “Os resultados mostram que as firmas
brasileiras que investiram em conhecimento e em inovação cresceram 21% a mais do que aquelas
que não investiram”, afirmou.

Governo deve perseguir metas como as corporações
Jacilio Saraiva
Para o Valor, de São Paulo
Para o Brasil vestir a camisa de
país inovador, o governo deve
emular processos adotados pelas
grandes empresas. “O caminho
para chegar à inovação mistura
ingredientes como qualificação
de recursos humanos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento”, diz Luiz Serafim, líder
de marketing corporativo da 3M
no Brasil e autor do livro “O Poder
da Inovação-Como Alavancar a
Inovação na sua Empresa” (Saraiva). O executivo foi um dos participantes do painel “Como Desenvolver o País por meio da Inovação”, do Seminário Inovação e
Desenvolvimento Econômico.

Segundo Serafim, a cultura de
inovação dentro das companhias
precisa ser irrigada diariamente
— e a mesma coisa deve ser feita
na esfera pública. A 3M, exemplo
de organização inovadora, começou fabricando lixas em 1910 e
hoje tem mais de 46 plataformas
tecnológicas, de componentes de
energia a produtos baseados em
nanotecnologia. Lança mais de
43 mil patentes ao ano e estima
que 40% das vendas em 2015 virão de novos produtos.
“O Brasil também pode perseguir objetivos estratégicos comuns ao setor privado, como absorver cientistas na área industrial e reservar parte do PIB para
P&D”, diz Serafim. Na 3M, 5,3%
dos resultados das vendas vão pa-

ra pesquisa. Para o executivo, faltam competências profissionais,
mais líderes e gestores. A 3M tem
sete mil cientistas espalhados em
85 laboratórios e 35 centros técnicos, em todo o mundo.
Rafael Lucchesi, diretor-geral
do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), afirma
que o órgão, que tem 2,8 milhões
de matrículas, quer dobrar esse
volume, até 2014. “Vamos investir em laboratórios e atividades
de ensino a distância.” Até 2015, a
meta é implantar 23 institutos
Senai de inovação e 61 unidades
de tecnologia. Mas o déficit no setor de qualificação ainda é grande. Enquanto no Brasil apenas
6,6% dos jovens de 15 a 19 anos
recebem educação geral e profis-

sional ao mesmo tempo, no Japão essa fatia é de 55%.
Segundo Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano, o cenário econômico está propício para investimentos no setor. “Somos outra nação com o fim da
inflação e os investimentos estrangeiros saltaram de US$ 2 bilhões, em 1992, para US$ 68 bilhões”, compara. “Ainda não temos uma cultura de inovação,
mas o Brasil já sabe inovar.”
Maciel lembra que a Suzano investe em genes de crescimento
para acelerar o cultivo de florestas. Para ele, uma das receitas para
colocar a inovação nos trilhos é
investir em subvenções econômicas de longo prazo. “Aportes em
inovação significam mais valor

agregado aos produtos, empregos e melhor qualidade de vida.”
De acordo com Glauco Arbix,
presidente da Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep), o plano é descentralizar subvenções
econômicas e de crédito. “Vamos
trabalhar com bancos estaduais
para ajudar as empresas.” O BNDES anunciou que vai repassar
R$ 3 bilhões à entidade, para
pesquisa científica e tecnológica.
Segundo Mark Lyra, diretor presidente da Cosan Biomassa, a inovação também pode ajudar o país a
realizar mais projetos, em menor
tempo e com menos custos. “Mas
isso deve ser feito de forma sustentável”, diz. “Na Cosan, fazemos P&D
no estilo ‘pé no chão’. Investimos
na área, mas com metas.”

O desenvolvimento nacional
passará obrigatoriamente pela
chancela da inovação, na opinião
de Laércio Cosentino, presidente
da Totvs. “Toda vez que um brasileiro tem uma ideia, seis chineses
também têm. Precisamos ser
bons para competir globalmente”, argumenta.
Para Carlos Calmanovici, presidente da Associação Nacional de
Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), os aportes das companhias em inovação têm aumentado com mais velocidade
do que o crescimento do PIB. “O
mundo vai crescer menos nos
próximos anos e uma boa gestão
da inovação será fundamental
para vencer a concorrência”.
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Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:44) - Página 2- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
Enxerto

F2

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Valor

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Quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Especial | Inovação
Cenário Concorrência global pede geração de conhecimento inovador

País perde posições, mas
empresas mantêm ritmo
LEO PINHEIRO/VALOR

Carmen Nery
Para o Valor, do Rio
O país desceu nove posições este ano em relação a 2011 entre as
nações inovadoras e passou ao
58 o lugar no levantamento anual
Global Innovation Index, produzido pelo Insead, escola francesa
de administração e negócios, e a
Organização Mundial de Propriedade Intelectual, órgão das Nações Unidas. Por outro lado, empresas expostas à concorrência
global não podem se dar ao luxo
de perder o ritmo na geração de
conhecimento e conteúdo inovador de produtos e processos.
Jorge Ávila, presidente do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), diz que, no cenário atual, um portfólio de patentes é fundamental para as companhias disputarem o mercado internacional. “A inovação global
hoje é competitiva e, ao mesmo
tempo, colaborativa em processos de open inovation. E quanto
maior a quantidade de patentes,
maior a capacidade de desenvolver novas tecnologias ou de resistir a um eventual ataque e disputar um lugar ao sol”, diz Ávila.
Mesmo companhias que lidam com commodities, como a
Vale, utilizam tecnologias e processos inovadores para ganhar
competitividade global. A empresa tem 2.711 patentes depositadas, abrangendo cerca de 72
países, e investiu US$ 1,7 bilhão
em pesquisa e desenvolvimento
(P&D) em 2011, devendo chegar
a US$ 2,4 bilhões em 2012. Luiz
Mello, diretor presidente do Instituto Tecnológico Vale (ITV), diz
que a companhia produz 300 milhões de toneladas de ferro ao
ano e, nesta escala, qualquer ganho de eficiência representa economia de milhões de dólares.
“A Vale é focada em gestão e excelência operacional, o que se
traduz em inovação. Com o minério a US$ 100 a tonelada, se tivermos um ganho de 1%, são US$
300 milhões de economia. A empresa leva 45 dias para chegar à
China, nosso principal cliente.
Nossos concorrentes na Austrália levam 15 dias. Daí o investimento em processos logísticos e
em tecnologias, como os navios
de 400 mil toneladas”, diz Mello.
Entre as inovações está um sistema de helter dinâmico, que
permite acoplar um conjunto de

Luiz Mello: “Que o ITV seja um híbrido com a cara de P&D para a indústria e que academia se reconheça como igual”

vagões e locomotivas a outro conjunto de vagões em movimento
com menor consumo de energia
e maior rapidez para operar em
Carajás em áreas de aclive.
Também em Carajás, a empresa
trabalha a mineração sem caminhões, apenas com escavadeiras e
britadores móveis, que vão extrair
o minério de ferro e alimentar correias transportadoras, levando até
a usina de beneficiamento. O beneficiamento do minério a seco a
partir da umidade natural, sem o
uso de água, é outra tecnologia
que vai mitigar os impactos ambientais. Mas o caminho da inovação não é fácil, diz Mello.
“Quando se fala em inovação
no mundo, pensa-se na academia
de onde o pesquisador sai para
montar uma empresa. No Brasil,
quem faz pesquisa é a universidade pública e o ambiente universitário tem pouca interação com o
setor empresarial. Há exceções,
como a Petrobras, que deve o que
é ao Cenpes, que é o que é em função da UFRJ; e a Embraer com o
ITA e o CTA. Mas no Brasil não te-

mos um cluster como o MIT (Massachusetts Institute of Technology) . Queremos que o ITV seja um
ente híbrido com a cara de P&D
para a indústria e que a academia
se reconheça como igual”, diz.
Para Ado Jório, diretor da Coordenadoria de Transferência e
Inovação Tecnológica (CTIT) da
UFMG, é preciso uma mudança
cultural dos próprios produtores
da ciência no Brasil. Ele considera que temos uma legislação que
dificulta a relação entre o público e o privado. E a geração de conhecimento obedece a uma estrutura complexa que envolve o
CNPq, a Finep e as fundações de
amparo à pesquisa. “Há uma excelência no setor público, que
concentra 82% da produção científica, mas há dificuldade em
transferir conhecimento para o
setor industrial, que por sua vez
não é intensivo em tecnologia,
não tem interesse ou não está
preparado para receber alta tecnologia”, sintetiza.
Para Marcos Cavalcanti, coordenador do Centro de Referência em

Inteligência Empresarial (Crie) da
Coppe/UFRJ, o Brasil é fraco do
ponto de vista de política de inovação porque a visão é totalmente
acadêmica e o único critério de
avaliação do pesquisador é o número de artigos publicados, enquanto aquele que gera patentes
não tem qualquer valor. Ele lembra que um professor de dedicação exclusiva, se for remunerado
por alguma pesquisa privada, corre o risco de ser investigado pelo
Tribunal de Contas da União.
“O pano de fundo é uma visão
que isola quem produz conhecimento de quem gera riqueza. Fui
diretor de tecnologia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio
de Janeiro, em que 95% do orçamento de R$ 300 milhões vão para pesquisas completamente
desvinculadas da sociedade, como a de um pesquisador que ganhou recursos para estudar o
ronco do boi”, observa. Ele também reclama que quem julga os
editais da Finep são acadêmicos
que vão escolher projetos por critérios acadêmicos.

Governo ajuda
a transformar
oportunidades
Roberto Rockmann
Para o Valor, de São Paulo
Criar inovação e riqueza no
Brasil não depende da importação de um modelo de inovação já
implementado em outros países,
mas, sim, de um papel mais ativo
do Estado. Por meio de política
industrial, o governo pode transformar as oportunidades existentes em setores em que o país
já é competitivo em soluções diferenciadas criadas por empresas brasileiras ou multinacionais
que têm negócios no Brasil.
“Muito difícil a importação de
modelos porque cada país tem
uma relação diferente com o
mercado e as empresas. Então, é
melhor considerar as especificidades do caso brasileiro”, afirma
o economista e diretor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernando Sarti. Para ele,
primeiro é preciso entender que
inovar não é um processo automático ou linear, mas depende
de investimento de alto risco.
Nesse contexto, ter um horizonte de demanda firme por um
período de médio a longo prazo
é um pressuposto importante. “A
economia brasileira passa por
um momento positivo com projetos estruturantes em vários setores que poderão criar inovação, mas o grau de desenvolvimento tecnológico dependerá
de uma política industrial que
propicie que essa demanda firme
em setores como energia, mineração, agroenergia tenha desdobramentos no país”, afirma.
Para Sarti, o ciclo de inovação
começa na demanda, que puxa o
investimento privado e de estatais, mas, para que soluções sejam criadas no Brasil, é preciso
ver como elas serão mediadas.
“Poderemos ter soluções internas ou externas, depende da política que você vai ter”, afirma.
Um dos setores é o de petróleo
e gás, em que a Petrobras está investindo mais de R$ 50 bilhões
por ano e deve manter o ritmo,
de olho na exploração gradual
da camada pré-sal, distante 300
quilômetros da costa brasileira,
mais de três vezes a distância da
Bacia de Campos, que hoje concentra mais de 60% do óleo extraído no país.
Se o petróleo é extraído a 2 mil
metros de profundidade de Cam-

pos, no pré-sal a profundidade
pode chegar entre 5 mil e 7 mil
metros em relação à superfície do
mar, o que exigirá um outro modelo de exploração, com maior
automatização, sistemas submersos, uma nova estrutura de pessoas e equipamentos especiais.
“Isso abre perspectiva de capacitação de fornecedores locais e de
criação de uma cadeia de valor e
cabe destacar que a empresa líder
do setor é a Petrobras, que é uma
estatal e que pode ter uma dimensão de mais longo prazo e pode ser
levada a uma política industrial
mais ativa porque não está de olho
apenas na remuneração do acionista”, diz.
Outro segmento que desperta
oportunidades é o de agronegócio. Até 2020, a produção mundial de alimentos terá de aumentar 20% para atender à crescente
demanda, vinda principalmente
da expansão das classes médias
das economias emergentes, segundo estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Grande parte desse acréscimo
virá do Brasil, cuja produção terá
de aumentar 40% na década,
mais que o dobro das projeções
para a agricultura da Austrália
(17%), dos Estados Unidos e do
Canadá (15%) e da União Europeia (4%). “O Brasil será o maior
produtor mundial de agroenergia, isso traz oportunidades no
setor de máquinas e equipamentos, agricultura de precisão e de
criação de softwares”, diz Sarti.
Para o ex-ministro da Fazenda
Antonio Delfim Netto, as emissões de gases de efeito estufa serão um assunto cada vez mais
presente no mundo, abrindo
oportunidades para a criação de
empresas voltadas à economia
verde. “O problema é que todos
querem crescimento do PIB e, para produzir uma unidade de produto, há sempre associado também emissão de dióxido de carbono”, diz. Nesse sentido, é preciso se pensar na criação de mecanismos de incentivo para inovações tecnológicas que permitam
redução da emissão de gases de
efeito estufa para cada unidade
de crescimento de um país. No
Brasil, o estímulo teria que ser
genérico, por meio de proteções
mais rigorosas às patentes de indivíduos e incentivos tributários
no caso das empresas.

Franquia adota Falta conexão com setor acadêmico
novidades na AL
Marleine Cohen
Para o Valor, de São Paulo

Kátia Simões
Para o Valor, de São Paulo
Quando no fim dos anos 80,
um franqueado da rede McDonald’s, de Curitiba, decidiu propor à franqueadora a criação de
um quiosque para alavancar as
vendas de sorvetes e sobremesas,
ninguém acreditava que a ideia
pudesse vingar. Afinal, o próprio
conceito de franchising determina a obediência a processos e ao
manual do franqueado. Mas, para surpresa geral, a proposta entrou em teste e, o melhor, deu resultado com um incremento nas
vendas de cerca de 30%.
“Em pouco tempo percebemos
que a ideia era, sem dúvida, um
grande negócio. Dois anos depois
de implantado no shopping paranaense, o dessert center ganhou escala. Hoje, é encontrado
em toda a América Latina, nos Estados Unidos e em alguns países
da Europa”, afirma Rogério Barreira, 44 anos, vice-presidente de
operações do McDonald’s.
O quiosque de sobremesa não
foi a única inovação nascida em solo brasileiro e incorporada pela rede. O Brasil também exportou para
os franqueados do McDonald’s ao
redor do mundo – e não são poucos, em torno de 20.000 – um mo-

delo de consultoria focada em alavancar as vendas. Trata-se de uma
série de indicadores, como o nível
de qualidade da limpeza e dos serviços, por exemplo, que quando
compilados e analisados ajudam a
definir o número de visitas do consultor de campo e quais áreas ele
deve dar mais atenção e avaliar. “O
modelo começou a ser adotado no
país em 2002, depois em toda a
América Latina e agora está sendo
usado também nos Estados Unidos”, diz Barreira.
Considerado o quarto mercado
mundial de franchising, com
2.213 marcas e um faturamento de
R$ 105 bilhões estimados para este
ano, de acordo com a Associação
Brasileira de Franchising (ABF), o
Brasil tem assistido nos últimos
anos não só à chegada em peso de
redes internacionais quanto à expansão das bandeiras nacionais
para os mais variados destinos.
Comparando-se os resultados de
2010 com os registrados este ano
pelo estudo Aspectos Mercadológicos e Estratégicos da Internacionalização das Franquias Brasileiras, realizado pela Escola Superior
de Propaganda e Marketing
(ESPM), constata-se um crescimento de 41%, saltando de 65 franquias internacionalizadas há dois
anos para 92 este ano.

De um lado, a universidade e os
institutos de pesquisa; de outro, as
empresas e o mercado. Entre eles,
um país carente de inovação, que
promoveu cortes no orçamento federal para a área de Ciência e Tecnologia — cerca de R$ 1,48 bilhão a
menos no aporte inicial de R$ 6,7
bilhões para este ano; pretendia
chegar ao final de 2010 investindo
1,5% do PIB no setor e, dois anos
depois, não lhe dedica mais do que
1%, para prejuízo das bolsas de estudo, centros de excelência e retração da meta de produzir 11,5 mil
doutores por ano.
A frágil parceria entre setor acadêmico e setor privado tem várias
razões, segundo os pesquisadores.
Para Fernando Schuler, diretor do
Ibmec/RJ, a pesquisa científica universitária no Brasil é muito jovem.
“Outra razão é que o país apostou
em um modelo arcaico de gestão
universitária. A pesquisa científica
ainda é majoritariamente ligada
às universidades estatais, federais
e estaduais, que são, rigorosamente, repartições públicas.”
A isto acrescente-se, por parte
do empresariado, a falta de cultura
de bater à porta da universidade:
“Os caminhos para que o empresário chegue finalmente ao pesquisador não são bem determinados”,
aponta o diretor da Agência de
Inovação da USP, Vanderlei Bagna-

to. E, por parte do pesquisador,
uma formação deficitária: “Nem
sempre conseguimos ensinar ao
jovem que está saindo para o mercado algum empreendedorismo”,
reconhece Ednalva Fernandes Costa de Morais, vice-diretora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da UnB, lembrando que a
ciência básica não exige nem ritmo nem resultados, enquanto no
campo da inovação corporativa, a
pressão por prazos é implacável.
Mas quem deve dar o primeiro
passo? Esse é outro aspecto que
embaralha as regras do jogo: segundo Fernando Schuler, “faz mais
sentido que as empresas procurem
a universidade para desenvolver
um certo tipo de tecnologia”.
Exemplo: “A técnica de congelamento da massa do pão de queijo,
para produção industrial, em Minas Gerais, foi desenvolvida por
demanda dos produtores pela
Universidade de Viçosa e universidades consorciadas – e há muitos
casos nesta linha”, explica.
Para o professor Carlos Levi,
reitor da UFRJ, porém, “sendo a
instituição universitária pública,
cabe a ela buscar mecanismos
para garantir sua integração à sociedade como um todo e também com o mundo corporativo”.
Com ele concorda Ednalva Fernandes. “Defendo a tese de que a
universidade deve dar o primeiro
passo. É lá que se encontram os
problemas e suas soluções”, ad-

voga ela, explicando que a UnB
promoveu recentemente junto a
600 pesquisadores um mapeamento das distintas linhas de
pesquisa em curso, “com o objetivo de divulgá-las para a sociedade”. Ao longo deste resgate do capital intelectual da UnB, uma surpresa: 77% deles manifestaram
interesse em prestar serviços tecnológicos para as empresas,
adiantou a diretora da UnB.
Para que boas invenções ganhem status de commodities há
um longo caminho a percorrer.
“O financiamento de ciência e
tecnologia é o sangue que alimenta e sustenta a pesquisa científica.
No Brasil, porém, a maioria esmagadora dos investimentos é proveniente das agências governamentais, o que gera uma significativa
dependência de praticamente
uma única fonte de recursos: a estatal”, lamenta Andrea Kauffmann
Zeh, assessora de relações institucionais da Fundação para o Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep).
Segundo ela, a contribuição do
setor privado para o financiamento em pesquisa ainda é pequena, e particularmente inexistente quando o assunto é pesquisa básica, uma vez que o retorno
sobre o investimento é arriscado
e de longo prazo. Hoje, cerca de
46% do investimento total em P,
D&I provém de empresas, ao passo que em países como EUA, Alemanha, China ou Japão, este per-

centual chega a quase 70%.
Mas dinheiro é apenas parte
do problema. “A contratação de
doutores que passaram anos
dentro da academia é uma forma
eficiente de aproximar empresas
e faculdades. No exterior, as indústrias absorvem um grande
número de profissionais com este perfil. Com eles vêm conhecimento de fronteira, formas de
contactar a universidade, se necessário, e principalmente o desejo de manter parcerias mais
prolongadas”, sugere Vanderlei
Bagnato. Ele ainda enumera a
realização de cursos de aperfeiçoamento, como forma de permitir aos empresários um contato mais estreito com a academia,
e a disponibilidade de mapas do
conhecimento.
A iniciativa de trazer os executivos que realmente decidem nas
empresas para dentro da universidade é uma proposta que também defende o diretor do Ibmec/RJ: “Em boa medida, o mercado não conhece nosso potencial de pesquisa. Admitir, no Brasil, a figura dos doutorados executivos, em certas áreas, é uma
medida pontual que deve ser tomada”, afirma.
Segundo Schuler, “é preciso
mudar o perfil de nossa formação universitária”. Desde o início
do curso, os alunos devem conviver com as empresas e frequentar
centros de empreendedorismo.
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Enxerto

Quinta-feira, 8 de novembro de 2012

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Valor

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F3

Especial | Inovação
Financiamento Recursos do petróleo são importantes para desenvolvimento de ciência e tecnologia no país

Comunidade busca fontes alternativas
Carmen Nery
Para o Valor, do Rio
A comunidade de ciência e tecnologia se articula para buscar novas fontes de financiamento para a
área de pesquisa e desenvolvimento (P&D), diante da possibilidade
de o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FNDCT) perder os recursos que recebe do fundo setorial CT-Petro,
criado para estimular a inovação
na cadeia produtiva do setor de petróleo e gás natural, e do Fundo Social. O CT-Petro e o Fundo Social recebem recursos provenientes da
exploração do petróleo e o governo brasileiro tende a destinar os
royalties da exploração do pré-sal
para a educação, conforme já sinalizou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
O fundo setorial CT-Petro tem a
maior parte dos recursos destinados a ciência e tecnologia (C&T),
respondendo por 45% dos valores
do FNDCT que, até o ano passado,
era a principal fonte de financiamento à inovação. O Fundo Social
é alimentado com os recursos
que cabem à União, provenientes
da exploração do petróleo. Para
não afetar o desenvolvimento da
pesquisa e desenvolvimento do
país, o então presidente Lula assinou um decreto preservando os
recursos do regime de concessão
para C&T e defesa até 2015.
No texto do PL 2565/11, da Câmara dos Deputados, que trata
da repartição dos royalties de petróleo e que seria votado na terça-feira, o deputado Carlos Zaratini (PT-SP), relator do projeto,
tentou preservar os recursos para
a área de C&T, a partir de 2015.
Mas com a reviravolta na votação, o PL 2565/11 não foi votado
e em seu lugar foi aprovado um

outro texto do Senado, que alterou a distribuição dos royalties e
não se sabe ainda o destino que
será dado aos recursos que hoje
vão para C&T.
Com o fim do CT- Petro, o
FNDCT poderá perder R$ 1,9 bilhão a partir de 2015. Já o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) é transitório e a cada
ano precisa ser renovado. “Se
acabarem os recursos do CT-Petro e o Programa de Sustentação
de Investimentos não for renovado, perderemos 70% do orçamento da Finep. Para avançar,
ciência e tecnologia precisam ter
estabilidade de funding. O
FNDCT já sofre constantes contingenciamentos e a questão a se
discutir é se as áreas de C&T deveriam integrar o arsenal de pronto
socorro das questões fiscais, pois
são áreas em que a descontinuidade interfere diretamente nos
resultados alcançados”, diz Glauco Arbix, presidente da Finep.
Ele afirma que, além de contingenciável, o FNDCT tem uma
governança complexa e é muito
pequeno em relação à demanda
existente. “Isso faz com que o
FNDCT já se mostre inadequado
à situação atual no Brasil. A busca
de fontes alternativas é a questão
chave do sistema”, diz. “Esse é um
problema que já devia ter sido
superado levando-se em conta
que o país elegeu, pelo menos no
discurso, a inovação como fator
estratégico de competitividade.
De fato, os recursos aumentaram, mas estão sempre sob ameaça de cortes”, afirma Guilherme Lima, vice-presidente da Associação
Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras
(Anpei). Segundo ele, além da Finep, o BNDES tem uma alocação
própria para investimento em ino-

REGIS FILHO/VALOR

Linhas disponíveis
Financiamento à inovação - em R$
BNDES
PSI Inovação
PSI Projetos
Transformadores
PAISS*
Inova Petro**
Funtec
Criatec

Total
5,2 bilhões
8 bilhões

Finep
PSI
FNDCT
FAT
Funttel

Total (2012)
3 bilhões
933 milhões
220 milhões
200 milhões

2 bilhões
3 bilhões
200 milhões
270 milhões

Fonte: BNDES e Finep. *Programa Conjunto de Apoio à
Inovação Tecnológica Industrial dos Setores
Sucroenergético e Sucroquímico; ** Programa voltado
a projetos de inovação na cadeia de fornecedores de
bens e serviços no setor de petróleo e gás natural

Glauco Arbix, presidente da Finep: “Para avançar, ciência e tecnologia precisam ter estabilidade de funding”

vação via PSI, mas são recursos reembolsáveis. “O Funtec, único financiamento a fundo perdido do
banco, tem baixa dotação. E na Finep a subvenção econômica não
passa historicamente de R$ 500
milhões”, afirma.
Já o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação pretende destinar R$ 4,5 bilhões para financiamento de projetos de tecnologia e inovação em 2013. Essa
quantia vai se somar aos R$ 15 bilhões já previstos no Plano Brasil
Maior para liberação até 2014.

Arbix tem um estudo que
aponta que, com a possível a interrupção dos recursos do petróleo em 2015, o FNDCT deverá levar dez anos para recuperar a performance atingida até aquele ano.
Por isso, a Finep estuda opções de
como elevar a modalidade de crédito de suas operações, hoje limitadas a 25%, para 35%, reduzindo
o prazo de recomposição do
FNDCT para cinco anos, já que
crédito é recurso reembolsável.
Já a subvenção, no seu entender, deve ser aplicada apenas a

projetos de alto risco tecnológico.
Em relação ao Fundo Social, a estratégia, segundo Arbix, será lutar
para que o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI) entre na partilha dos recursos e que
a Finep passe a operar como
agente financeiro do Fundo.
Em 2012, até julho entraram
na agência 334 projetos, totalizando R$ 12,7 bilhões. Desde o
ano passado, o FNDCT deixou de
ser a principal fonte de recursos
no orçamento da Finep, contribuindo com R$ 794,7 milhões,

ante R$ 3,750 bilhões do PSI, que
se tornou extremamente estratégico para a agência. A Finep já foi
contemplada com dois aportes
do PSI, num total de R$ 4 bilhões,
e acaba de ser autorizada a receber mais R$ 3 bilhões.
Helena Tenório, chefe do departamento de avaliação, inovação e
conhecimento do BNDES, afirma
que o banco não está preocupado
nem tem problema de funding,
embora não tenha um orçamento
carimbado para a área. O PSI Inovação dispõe de R$ 5,2 bilhões para
serem aplicados em duas linhas:
projetos de inovação em geral e
Pro Engenharia, voltado para a
melhoria de processos de engenharia. Outro Programa é o PSI
Projetos Transformadores com orçamento de R$ 8 bilhões para a implantação de plantas greenfield
inovadoras. O banco ainda opera
em conjunto com a Finep outras
duas linhas setoriais: o PAISS, com
recursos de R$ 2 bilhões, e o Inova
Petro que teve aprovados recursos
de R$ 3 bilhões.
_>>>
Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:46) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
Enxerto

F4

|

Valor

|

Quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Especial | Inovação
DANIEL WAINSTEIN/VALOR

Sustentabilidade Ganho de escala ainda é necessário
para que novos produtos cheguem ao mercado

Pressão por menor
preço inibe avanço
na cadeia produtiva
Ediane Tiago
Para o Valor, de São Paulo
As empresas brasileiras têm
grandes oportunidades para liderar nas tecnologias que aproveitam o potencial da natureza.
“Há uma simbiose entre inovação
e sustentabilidade”, diz Paulo
Branco, coordenador do estudo
“Inovação e Sustentabilidade na
Cadeia de Valor”, realizado pelo
Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVCes), com patrocínio da
Citi Foundation.
Essa relação estreita se explica
pela necessidade de reinventar os
meios de produção e da criação de
modelos de negócio que avaliam
muito mais do que o preço final de
bens e serviços. “O maior desafio é
mudar a relação das grandes corporações com seus fornecedores”,
afirma Branco. Na prática, o que
ocorre há décadas é a pressão pelo
menor preço. As grandes corporações exercem poder econômico
nas cadeias produtivas, que buscam maior eficiência na redução
de custos. “É difícil garantir atributos sustentáveis com contratos focados em preço. Tanto a inovação
quanto a sustentabilidade requerem investimentos e impactam
custos”, explica.
O estudo aponta para relacionamentos de parceria, com busca de desempenho e perseguição
de atributos capazes de garantir
a sustentabilidade dos negócios.
“Nas contas das grandes empresas, começam a valer as pressões
da regulamentação e da autorregulamentação, vindas do mercado. Desastres ambientais e uso de
materiais poluentes também
causam grandes danos à imagem”, comenta o pesquisador.
Exemplos como o da fabricante
de brinquedos Mattel – cujo parceiro chinês utilizou tinta com
chumbo na produção – são emblemáticos e acendem o alarme
dos executivos. “Ninguém quer
correr riscos como esse.”
De fato, a mentalidade dos dirigentes está mudando, embora o
desdobramento nas empresas e
nas cadeias produtivas ainda seja
um desafio. Segundo estudo publicado pela Accenture, em 2010 –

no qual a consultoria entrevistou
766 dirigentes de empresas de variados países e setores da economia –, 93% dos executivos apontou
que as questões de sustentabilidade serão críticas para o sucesso futuro do negócio; 96% acreditam
que esses pontos devem ser plenamente integrados à estratégia e
operação da empresa; 72% citaram
“marca, confiança e reputação” como fatores que impulsionam os
projetos de sustentabilidade; e
88% dos entrevistados acreditam
que a integração da sustentabilidade deva ser feita em sua cadeia
de suprimentos.
O novo direcionamento empresarial avança e traz novos paradigmas para a pesquisa e desenvolvimento. A inovação – da mesma forma que a sustentabilidade – é tarefa que exige comprometimento
entre fornecedores e clientes. É
muito mais custoso e difícil inovar
de forma isolada. “Assim como a
sustentabilidade, as invenções e as
inovações incrementais só se completam em cadeia”, explica Branco.

O maior desafio
é mudar a relação
das grandes
corporações com
seus fornecedores
Ele alerta que as políticas públicas para promoção de inovação e
sustentabilidade também devem
avançar e, neste caso, o poder econômico pode ser benéfico. “Em
média, entre 10% e 15% do Produto
Interno Bruto (PIB) global está
comprometido com compras públicas. Se essa fatia do mercado
passar a exigir atributos sustentáveis nos produtos e serviços que
adquire, teremos uma demanda
que justifique investimentos e novas frentes de pesquisa e desenvolvimento”, comenta.
Outro ponto de oportunidade
está nas políticas que regulamentam os impactos ambientais. “Muitas empresas encontraram nichos
de mercado a partir da política de
resíduos sólidos. Quando há obrigação para mitigar os efeitos da
poluição, há demanda e, consequentemente, oferta.”

A escala, segundo Branco, ainda
é impedimento para que muitas
inovações cheguem ao mercado.
“Produtos com tecnologia e atributos sustentáveis são mais caros.
A economia verde ainda depende
de quem está disposto a arcar com
o ágio”, explica. A conta, no entanto, é feita de forma errada. Ao comprar um produto sem atributos
sustentáveis, a sociedade paga um
preço alto no final. “Sempre utilizo
o caso da produção orgânica de
alimentos. A agricultura tradicional é altamente subsidiada no Brasil, o que nos leva a uma diferença
enorme de preços na prateleira.
Mas se avaliarmos os impactos na
natureza e na saúde da população,
qual é o método de produção mais
caro?”, questiona. O resultado é
que ainda oferecemos mais vantagens econômicas a atividades poluidoras.
Mas o avanço da sustentabilidade — que dependerá da criação de
novos produtos e modelos de negócios — exigirá ainda um novo
modelo de operação dos departamentos de compras e uma gestão
mais apurada da cadeia de fornecimento por parte das grandes corporações. E a estratégia passa por
uma visão integrada do ciclo de vida do produto, no qual a sustentabilidade está inserida desde a etapa de pesquisa e desenvolvimento
até as atividades pós-consumo.
“Este complexo ciclo exigirá melhores condições para financiar
projetos em empresas de menor
porte, que precisam de estruturas
capazes de suportar a demanda
das grandes corporações.”
Nesse sentido, a convergência
entre parcerias empresariais e estímulos públicos será fundamental
para alicerçar os projetos. “As empresas menores têm dificuldades
para conseguir financiamento. Por
isso, os instrumentos de fomento à
inovação e sustentabilidade precisam avançar”, comenta. Entre as
cadeias produtivas que sofrem
atualmente com a falta de integração está a de óleo e gás. “O pré-sal
só é viável com uma rede de empresas capaz de produzir tecnologia e mitigar os riscos ambientais.
Se conseguirmos isso, venderemos
sistemas de exploração em águas
profundas para todo o mundo.”

“

Dificuldade
está em fazer o
cliente enxergar o
valor da inovação.
Mostrar que a
inserção de um
novo processo ou
produto vai
significar redução
de custos e riscos
na cadeia.

”
“
José Roberto Durço,
da Pack Less

CLAUDIO BELLI/VALOR

A Tramppo
descontamina
270 mil lâmpadas
por mês. Também
vendemos o vidro,
as ponteiras
metálicas, o
pó-fosfórico e o
mercúrio. Cada
um tem a sua
aplicação.
Carlos Pachelli,
da Tramppo

”

Palete de polipropileno mais leve
perde concorrências por custar mais
De São Paulo
Apostar na combinação entre
inovação e sustentabilidade é um
negócio promissor para quem pretende construir uma empresa para
o futuro. “A maior dificuldade ainda está em fazer o cliente enxergar
o valor da inovação. Mostrar que a
inserção de um novo processo ou
produto vai significar redução de
custos e riscos na cadeia”, argumenta José Roberto Durço, diretor
da Pack Less.
Durço e seu sócio criaram uma
solução inovadora para a cadeia
logística: um palete feito a partir
do polipropileno (resina plástica), mais leve e menos volumoso
que a madeira. Em quatro anos,
eles chegaram a um produto que
reduz a quase 10% o peso da embalagem e ocupa muito menos
espaço dentro de caminhões. “Is-

so significa menos emissão de gases do efeito-estufa.”
Apesar de a solução poder reduzir o valor do frete em até 20%, o
produto perde muitas concorrências para os paletes de madeira por
custar, em média, 10% mais. “A
conta tem de ser outra. É preciso
analisar os ganhos no processo logístico em vez de avaliar apenas o
preço final do produto. Os departamentos de compras ainda têm
dificuldade nesta análise”, diz.
Os paletes da Pack Less são 100%
recicláveis e, comparados aos de
madeira, consomem 70% menos
energia na fabricação, segundo
análise da Fundação Espaço ECOBasf. “As peças pesam, em média,
três quilos, enquanto as de madeira pesam 30 quilos.” A Pack Less
produz entre 15 e 20 mil paletes
por mês. Tem capacidade para 200
mil peças mensalmente.

A Tramppo, especializada na
gestão sustentável de lâmpadas,
nasceu na incubadora Cietec (da
Universidade de São Paulo). Focou
seus esforços na criação de serviços
de descontaminação e destinação
de lâmpadas fluorescentes. “Atendemos mais de 600 clientes e descontaminamos 270 mil lâmpadas
todos os meses”, conta Carlos Alberto Pachelli.
A Tramppo também faz gestão
dos resíduos, ao oferecer coleta,
transporte, processamento e destinação dos subprodutos. O serviço
custa entre R$ 0,85 e R$ 2 por lâmpada e a empresa ainda ganha
com a venda de subprodutos para
reciclagem, que hoje responde por
4% do faturamento. “Vendemos o
vidro, as ponteiras metálicas, o pófosfórico e o mercúrio. Cada um
tem sua aplicação em diferentes
cadeias produtivas.” (ET)

Fundo binacional tem R$ 100 mi para bancar startups
DIVULGAÇÃO

Carmen Nery
Para o Valor, do Rio
A 21212 é uma aceleradora de
empresas binacional, comandada
pelos brasileiros Marcelo Sales, Rafael Duton e Leonardo Constantino, que gerenciam a empresa a
partir do Rio de Janeiro (código de
área 21), e por Benjamin White e
Jeff Levinsohn, sediados em Nova
York (código de área 212). Já mantém em seu portfólio 18 empresas
digitais que passaram por uma rigorosa seleção entre centenas de
jovens empreendedores e que durante quatro meses entraram no
programa de aceleração. No processo, elas foram preparadas por
meio de mentorias e couching
com nomes fortes do mercado, como Daniel Simon da Gávea Investimentos, para participarem do Demo Day. O evento apresentou, no
dia 19, no Museu de Arte Moderna
do Rio, nove empresas inovadoras,
que atuam com soluções digitais, a
120 investidores institucionais entre fundos de investimento e de
venture capital e investidores anjo
nacionais e estrangeiros.
“Nossa meta é ter 30 empresas
no portfólio até 2013. Elas recebem um aporte inicial de R$ 50 mil
e até R$ 250 mil em serviços. Estamos criando também o Fundo
21212, com R$ 100 milhões para
investir em empresas digitais”, diz

Marcelo Sales, da 21212: “Nossa meta é ter 30 empresas no portfólio até 2013. O aporte mínimo é de R$ 50 mil”

Marcelo Sales, diretor da empresa.
O ponto alto do Demo Day foram as apresentações dos jovens
entre 20 e 36 anos, vestidos de
jeans, tênis e camisetas com a logomarca de suas promissoras
startups. Cada um teve 10 minutos para vender seu peixe.
A Zona Universitária, por exem-

plo, é uma rede social para ajudar a
planejar a carreira de universitários. Foi apresentada pelo canadense Ylya Brotzky, co-fundador e
chief networking officer, que deixou carreira promissora na Vale
para conduzir o negócio ao lado
de Marcelo Melo e Jair Vençosa.
“Cerca de 71% das empresas no

Brasil dizem que têm dificuldades
de encontrar talentos. Já temos 75
mil universitários e vamos chegar a
100 mil até o final do ano. Agora
estamos abrindo a plataforma para empresas de mentoria que querem vender serviços e companhias,
como a Arcelor Mittal, que buscam
talentos. Estamos reinventando o

recrutamento no Brasil”, prometeu Brotzky, que fechou uma captação de R$ 100 mil e espera captar
outros R$ 200 mil após o evento.
O Site Sustentável, projeto de
Rodrigo Torrentes, 36 anos, e Maximiliano Muniz, 30, propõe a eliminação da pegada de carbono de sites por meio do plantio de árvores.
A empresa calcula quanto o site
consome de energia e faz a neutralização. A cada 100 mil page views,
é plantada uma árvore, ao custo de
R$ 15, pelas equipes do Instituto
Brasileiro de Florestas. “Já temos 70
clientes e plantamos mais de 500
árvores no Paraná e no sul de São
Paulo”, informou Torrentes, que recebeu aporte da Venture One e esperava captar outros R$ 900 mil.
O Acess Club é um clube de privilégios criado pelos irmãos João
Vitor Amaral, 23 anos, e Frederico
Amaral, 21. O foco são VIPs que só
ingressam por meio de convites e
pagam de R$ 240 (plano semestral) a R$ 420 (plano anual) para
ter acesso a uma série de benefícios
de empresas como Natan, Koni,
Bartholomeu e Bar do Copa. “A
compra coletiva foca em desconto.
Nós focamos na experiência única.
Criamos algo inovador aproximando o cliente classe A das empresas parceiras com um canal de
relacionamento forte. Sem investir
em marketing, já temos 300 usuários pagantes”, diz Frederico Ama-

ral, que esperava captar R$ 200 mil
após o evento.
Na área de entretenimento, o
Queremos! é uma plataforma
que reúne fãs, produtores e artistas para promover shows e
eventos por meio de crowdfunding. Já a WeGoOut é uma plataforma de interação social que recomenda festas e locais para sair
com base no seu grupo de amigos de redes sociais como o Facebook, mostrando quem irá,
quem já está lá e fotos do ambiente. Um pouco invasivo, mas,
segundo o co-fundador Frederico Camara, só monitora pessoas
cadastradas na plataforma.
Também se apresentaram a
XJobs, plataforma para terceirização de projetos online; a ZeroPaper, que oferece um gerenciador financeiro inteligente para
pequenos empresários e empreendedores individuais; e a Easyaula, que aproxima pessoas
que querem ensinar das que querem aprender. Já a Bidcorp atua
no mercado de bens e ativos excedentes, com foco na construção civil. Ao encerrar uma obra, a
construtora pode disponibilizar
seus ativos novos e usados a preços acessíveis para pequenas e
médias empresas. A empresa já
conta com mais de R$ 50 milhões
em ativos excedentes de grandes
construtoras como a Odebrecht.

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  • 1. _>>> Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:41) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Enxerto Quinta-feira, 8 de novembro de 2012 Especial Inovação | F1 Arbix, da Finep alerta para a necessidade de estabilidade de funding F3 REGIS FILHO/VALOR Geração de conhecimento deve ser pautada por governo, empresas, universidades e instituições de pesquisa. Por Genilson Cezar, para o Valor, de São Paulo Ministro Marco Antônio Raupp: “A intenção é realizar uma convergência entre as políticas de desenvolvimento econômico e as estratégias de produção de conhecimento e inovação” Diferencial competitivo M ais investimentos e mais colaboração entre os diversos agentes envolvidos na produção de conhecimento e da inovação — governo, empresas, universidades e instituições de pesquisa do mundo acadêmico — são ações vitais para enfrentar as novas demandas da competitividade em um mercado globalizado, segundo manifestaram em uníssono empresários, dirigentes governamentais e representantes de instituições acadêmicas e de entidades de fomento à pesquisa de tecnologias no país presentes ao seminário “Inovação e Desenvolvimento Econômico”, realizado pelo Valor em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em São Paulo, na terça-feira. Do lado do governo, pelo menos, dinheiro não vai faltar, assegura o ministro Marco Antônio Raupp, da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Além do orçamento anual, estimado em R$ 7,01 bilhões para 2013, o go- verno colocará R$ 15 bilhões à disposição das empresas e instituições de ciência e tecnologia (ICTs), na forma de crédito, subvenção e fomento não reembolsável para atividades inovadoras, até 2014. São recursos novos, obtidos pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em parceria com o BNDES, para atender projetos prioritários previstos no Plano Brasil Maior para tecnologia e inovação. “A intenção é realizar uma convergência entre as políticas de desenvolvimento econômico e as estratégias de produção de conhecimento e inovação”, afirmou Raupp durante o seminário. “Pela primeira vez, há um movimento inédito de inserir a política de inovação no coração do Plano Brasil Maior, para o desenvolvimento econômico”, assinalou. Trata-se de um novo modelo de atuação do Ministério da Ciência e Tecnologia, que, desde o ano passado, incorporou o I de Inovação, e está adotando novos instrumentos de fi- nanciamento, além de medidas de ajustes aos novos tempos de mais competitividade, explicou o ministro. Em 2011, informou, foram liberados R$ 6 bilhões em créditos a projetos de tecnologia e inovação, principalmente nas áreas de petróleo e gás, sustentabilidade, saúde. Não só: o governo tem incentivado o desenvolvimento de inovação das empresas por meio de renúncia fiscal, por conta da Lei de Informática. É um volume de recursos da ordem de R$ 4 bilhões que, somados às desonerações da Lei do Bem, atingem o montante de R$ 6 bilhões. “Vivemos uma fase de ações transversais de ciência, tecnologia e inovação, e isso leva a uma multiplicidade de meios e instrumentos de atuação em apoio à inovação em todos os setores da sociedade”, explicou Raupp. Para os empresários, além de mais investimentos, é necessário fortalecer os laços de cooperação entre as instituições en- volvidas na produção do conhecimento e da inovação. A palavra-chave é colaboração, disse Mauro Kern, vice-presidente executivo de engenharia e tecnologia da Embraer. Segundo ele, é preciso criar redes de colaboração envolvendo empresas industriais, instituições de pesquisa e governo. “Daqui para frente, as empresas que quiserem desenvolver tecnologias por conta própria não vão conseguir enfrentar os desafios atuais. A competição vai se dar entre redes de colaboração e essas redes precisam ser fortes e competitivas.” Não se trata, de acordo com Kern, de buscar apenas instrumentos de ganhos de produtividade e de competitividade. “Em um mundo de rápidas mudanças, colaboração e inovação são questões de sobrevivência”, afirmou. A empresa apostou nessa direção, segundo ele. A Embraer investe 3% de sua receita em inovação, pesquisa e desenvolvimento, o que tem resultado na criação de novos produtos em alta velocidade. “Somos a empresa que mais desenvolve aviões no mundo e isso tem proporcionado à companhia o crescimento de sua receita 20 vezes mais desde 1995.” As universidades estão prontas para exercitar essas ações de colaboração, avaliou João Grandino Rodas, reitor da Universidade de São Paulo (USP). “A universidade sai de sua torre de marfim, ciente de que não é mais dona do monopólio do conhecimento e do ensino”, afirmou. No caso da USP, várias ações adotadas estão em desenvolvimento para incentivar a inovação e o empreendedorismo. Só no Programa de Inovação à Pesquisa, por exemplo, a USP investiu R$ 300 milhões para criar núcleos de apoio à pesquisa. Mais R$ 200 milhões estão sendo aplicados desde 2011 no projeto de implantação pioneira da tecnologia cloud computing no campus da universidade. O presidente da Finep, Glauco Arbix, acredita que há uma nova cultura de inovação em curso. “Foi-se o tempo em que tínhamos dificuldade de discutir ciência e tecnologia com empresários”, disse. “Agora, tratase de criar um ambiente amigável, diminuir a carga de burocracia das empresas e mitigar os esforços entre os diversos agentes envolvidos na inovação.” Segundo João Alberto De Negri, diretor de inovação da Finep, uma parte relevante dos investimentos na economia nos próximos anos será realizada, por exemplo, pelas empresas vinculadas à cadeia produtiva do petróleo. De um total de 1.714 empresas do núcleo da indústria brasileira, pelo menos 750 desenvolvem atividades de P&D, das quais 500 estão integradas ao sistema do MCT (Finep e CNPq), recebendo apoio direto dos programas governamentais de financiamento à inovação. “Os resultados mostram que as firmas brasileiras que investiram em conhecimento e em inovação cresceram 21% a mais do que aquelas que não investiram”, afirmou. Governo deve perseguir metas como as corporações Jacilio Saraiva Para o Valor, de São Paulo Para o Brasil vestir a camisa de país inovador, o governo deve emular processos adotados pelas grandes empresas. “O caminho para chegar à inovação mistura ingredientes como qualificação de recursos humanos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento”, diz Luiz Serafim, líder de marketing corporativo da 3M no Brasil e autor do livro “O Poder da Inovação-Como Alavancar a Inovação na sua Empresa” (Saraiva). O executivo foi um dos participantes do painel “Como Desenvolver o País por meio da Inovação”, do Seminário Inovação e Desenvolvimento Econômico. Segundo Serafim, a cultura de inovação dentro das companhias precisa ser irrigada diariamente — e a mesma coisa deve ser feita na esfera pública. A 3M, exemplo de organização inovadora, começou fabricando lixas em 1910 e hoje tem mais de 46 plataformas tecnológicas, de componentes de energia a produtos baseados em nanotecnologia. Lança mais de 43 mil patentes ao ano e estima que 40% das vendas em 2015 virão de novos produtos. “O Brasil também pode perseguir objetivos estratégicos comuns ao setor privado, como absorver cientistas na área industrial e reservar parte do PIB para P&D”, diz Serafim. Na 3M, 5,3% dos resultados das vendas vão pa- ra pesquisa. Para o executivo, faltam competências profissionais, mais líderes e gestores. A 3M tem sete mil cientistas espalhados em 85 laboratórios e 35 centros técnicos, em todo o mundo. Rafael Lucchesi, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), afirma que o órgão, que tem 2,8 milhões de matrículas, quer dobrar esse volume, até 2014. “Vamos investir em laboratórios e atividades de ensino a distância.” Até 2015, a meta é implantar 23 institutos Senai de inovação e 61 unidades de tecnologia. Mas o déficit no setor de qualificação ainda é grande. Enquanto no Brasil apenas 6,6% dos jovens de 15 a 19 anos recebem educação geral e profis- sional ao mesmo tempo, no Japão essa fatia é de 55%. Segundo Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano, o cenário econômico está propício para investimentos no setor. “Somos outra nação com o fim da inflação e os investimentos estrangeiros saltaram de US$ 2 bilhões, em 1992, para US$ 68 bilhões”, compara. “Ainda não temos uma cultura de inovação, mas o Brasil já sabe inovar.” Maciel lembra que a Suzano investe em genes de crescimento para acelerar o cultivo de florestas. Para ele, uma das receitas para colocar a inovação nos trilhos é investir em subvenções econômicas de longo prazo. “Aportes em inovação significam mais valor agregado aos produtos, empregos e melhor qualidade de vida.” De acordo com Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o plano é descentralizar subvenções econômicas e de crédito. “Vamos trabalhar com bancos estaduais para ajudar as empresas.” O BNDES anunciou que vai repassar R$ 3 bilhões à entidade, para pesquisa científica e tecnológica. Segundo Mark Lyra, diretor presidente da Cosan Biomassa, a inovação também pode ajudar o país a realizar mais projetos, em menor tempo e com menos custos. “Mas isso deve ser feito de forma sustentável”, diz. “Na Cosan, fazemos P&D no estilo ‘pé no chão’. Investimos na área, mas com metas.” O desenvolvimento nacional passará obrigatoriamente pela chancela da inovação, na opinião de Laércio Cosentino, presidente da Totvs. “Toda vez que um brasileiro tem uma ideia, seis chineses também têm. Precisamos ser bons para competir globalmente”, argumenta. Para Carlos Calmanovici, presidente da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), os aportes das companhias em inovação têm aumentado com mais velocidade do que o crescimento do PIB. “O mundo vai crescer menos nos próximos anos e uma boa gestão da inovação será fundamental para vencer a concorrência”.
  • 2. _>>> Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:44) - Página 2- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Enxerto F2 | Valor | Quinta-feira, 8 de novembro de 2012 Especial | Inovação Cenário Concorrência global pede geração de conhecimento inovador País perde posições, mas empresas mantêm ritmo LEO PINHEIRO/VALOR Carmen Nery Para o Valor, do Rio O país desceu nove posições este ano em relação a 2011 entre as nações inovadoras e passou ao 58 o lugar no levantamento anual Global Innovation Index, produzido pelo Insead, escola francesa de administração e negócios, e a Organização Mundial de Propriedade Intelectual, órgão das Nações Unidas. Por outro lado, empresas expostas à concorrência global não podem se dar ao luxo de perder o ritmo na geração de conhecimento e conteúdo inovador de produtos e processos. Jorge Ávila, presidente do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), diz que, no cenário atual, um portfólio de patentes é fundamental para as companhias disputarem o mercado internacional. “A inovação global hoje é competitiva e, ao mesmo tempo, colaborativa em processos de open inovation. E quanto maior a quantidade de patentes, maior a capacidade de desenvolver novas tecnologias ou de resistir a um eventual ataque e disputar um lugar ao sol”, diz Ávila. Mesmo companhias que lidam com commodities, como a Vale, utilizam tecnologias e processos inovadores para ganhar competitividade global. A empresa tem 2.711 patentes depositadas, abrangendo cerca de 72 países, e investiu US$ 1,7 bilhão em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em 2011, devendo chegar a US$ 2,4 bilhões em 2012. Luiz Mello, diretor presidente do Instituto Tecnológico Vale (ITV), diz que a companhia produz 300 milhões de toneladas de ferro ao ano e, nesta escala, qualquer ganho de eficiência representa economia de milhões de dólares. “A Vale é focada em gestão e excelência operacional, o que se traduz em inovação. Com o minério a US$ 100 a tonelada, se tivermos um ganho de 1%, são US$ 300 milhões de economia. A empresa leva 45 dias para chegar à China, nosso principal cliente. Nossos concorrentes na Austrália levam 15 dias. Daí o investimento em processos logísticos e em tecnologias, como os navios de 400 mil toneladas”, diz Mello. Entre as inovações está um sistema de helter dinâmico, que permite acoplar um conjunto de Luiz Mello: “Que o ITV seja um híbrido com a cara de P&D para a indústria e que academia se reconheça como igual” vagões e locomotivas a outro conjunto de vagões em movimento com menor consumo de energia e maior rapidez para operar em Carajás em áreas de aclive. Também em Carajás, a empresa trabalha a mineração sem caminhões, apenas com escavadeiras e britadores móveis, que vão extrair o minério de ferro e alimentar correias transportadoras, levando até a usina de beneficiamento. O beneficiamento do minério a seco a partir da umidade natural, sem o uso de água, é outra tecnologia que vai mitigar os impactos ambientais. Mas o caminho da inovação não é fácil, diz Mello. “Quando se fala em inovação no mundo, pensa-se na academia de onde o pesquisador sai para montar uma empresa. No Brasil, quem faz pesquisa é a universidade pública e o ambiente universitário tem pouca interação com o setor empresarial. Há exceções, como a Petrobras, que deve o que é ao Cenpes, que é o que é em função da UFRJ; e a Embraer com o ITA e o CTA. Mas no Brasil não te- mos um cluster como o MIT (Massachusetts Institute of Technology) . Queremos que o ITV seja um ente híbrido com a cara de P&D para a indústria e que a academia se reconheça como igual”, diz. Para Ado Jório, diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG, é preciso uma mudança cultural dos próprios produtores da ciência no Brasil. Ele considera que temos uma legislação que dificulta a relação entre o público e o privado. E a geração de conhecimento obedece a uma estrutura complexa que envolve o CNPq, a Finep e as fundações de amparo à pesquisa. “Há uma excelência no setor público, que concentra 82% da produção científica, mas há dificuldade em transferir conhecimento para o setor industrial, que por sua vez não é intensivo em tecnologia, não tem interesse ou não está preparado para receber alta tecnologia”, sintetiza. Para Marcos Cavalcanti, coordenador do Centro de Referência em Inteligência Empresarial (Crie) da Coppe/UFRJ, o Brasil é fraco do ponto de vista de política de inovação porque a visão é totalmente acadêmica e o único critério de avaliação do pesquisador é o número de artigos publicados, enquanto aquele que gera patentes não tem qualquer valor. Ele lembra que um professor de dedicação exclusiva, se for remunerado por alguma pesquisa privada, corre o risco de ser investigado pelo Tribunal de Contas da União. “O pano de fundo é uma visão que isola quem produz conhecimento de quem gera riqueza. Fui diretor de tecnologia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro, em que 95% do orçamento de R$ 300 milhões vão para pesquisas completamente desvinculadas da sociedade, como a de um pesquisador que ganhou recursos para estudar o ronco do boi”, observa. Ele também reclama que quem julga os editais da Finep são acadêmicos que vão escolher projetos por critérios acadêmicos. Governo ajuda a transformar oportunidades Roberto Rockmann Para o Valor, de São Paulo Criar inovação e riqueza no Brasil não depende da importação de um modelo de inovação já implementado em outros países, mas, sim, de um papel mais ativo do Estado. Por meio de política industrial, o governo pode transformar as oportunidades existentes em setores em que o país já é competitivo em soluções diferenciadas criadas por empresas brasileiras ou multinacionais que têm negócios no Brasil. “Muito difícil a importação de modelos porque cada país tem uma relação diferente com o mercado e as empresas. Então, é melhor considerar as especificidades do caso brasileiro”, afirma o economista e diretor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernando Sarti. Para ele, primeiro é preciso entender que inovar não é um processo automático ou linear, mas depende de investimento de alto risco. Nesse contexto, ter um horizonte de demanda firme por um período de médio a longo prazo é um pressuposto importante. “A economia brasileira passa por um momento positivo com projetos estruturantes em vários setores que poderão criar inovação, mas o grau de desenvolvimento tecnológico dependerá de uma política industrial que propicie que essa demanda firme em setores como energia, mineração, agroenergia tenha desdobramentos no país”, afirma. Para Sarti, o ciclo de inovação começa na demanda, que puxa o investimento privado e de estatais, mas, para que soluções sejam criadas no Brasil, é preciso ver como elas serão mediadas. “Poderemos ter soluções internas ou externas, depende da política que você vai ter”, afirma. Um dos setores é o de petróleo e gás, em que a Petrobras está investindo mais de R$ 50 bilhões por ano e deve manter o ritmo, de olho na exploração gradual da camada pré-sal, distante 300 quilômetros da costa brasileira, mais de três vezes a distância da Bacia de Campos, que hoje concentra mais de 60% do óleo extraído no país. Se o petróleo é extraído a 2 mil metros de profundidade de Cam- pos, no pré-sal a profundidade pode chegar entre 5 mil e 7 mil metros em relação à superfície do mar, o que exigirá um outro modelo de exploração, com maior automatização, sistemas submersos, uma nova estrutura de pessoas e equipamentos especiais. “Isso abre perspectiva de capacitação de fornecedores locais e de criação de uma cadeia de valor e cabe destacar que a empresa líder do setor é a Petrobras, que é uma estatal e que pode ter uma dimensão de mais longo prazo e pode ser levada a uma política industrial mais ativa porque não está de olho apenas na remuneração do acionista”, diz. Outro segmento que desperta oportunidades é o de agronegócio. Até 2020, a produção mundial de alimentos terá de aumentar 20% para atender à crescente demanda, vinda principalmente da expansão das classes médias das economias emergentes, segundo estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Grande parte desse acréscimo virá do Brasil, cuja produção terá de aumentar 40% na década, mais que o dobro das projeções para a agricultura da Austrália (17%), dos Estados Unidos e do Canadá (15%) e da União Europeia (4%). “O Brasil será o maior produtor mundial de agroenergia, isso traz oportunidades no setor de máquinas e equipamentos, agricultura de precisão e de criação de softwares”, diz Sarti. Para o ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto, as emissões de gases de efeito estufa serão um assunto cada vez mais presente no mundo, abrindo oportunidades para a criação de empresas voltadas à economia verde. “O problema é que todos querem crescimento do PIB e, para produzir uma unidade de produto, há sempre associado também emissão de dióxido de carbono”, diz. Nesse sentido, é preciso se pensar na criação de mecanismos de incentivo para inovações tecnológicas que permitam redução da emissão de gases de efeito estufa para cada unidade de crescimento de um país. No Brasil, o estímulo teria que ser genérico, por meio de proteções mais rigorosas às patentes de indivíduos e incentivos tributários no caso das empresas. Franquia adota Falta conexão com setor acadêmico novidades na AL Marleine Cohen Para o Valor, de São Paulo Kátia Simões Para o Valor, de São Paulo Quando no fim dos anos 80, um franqueado da rede McDonald’s, de Curitiba, decidiu propor à franqueadora a criação de um quiosque para alavancar as vendas de sorvetes e sobremesas, ninguém acreditava que a ideia pudesse vingar. Afinal, o próprio conceito de franchising determina a obediência a processos e ao manual do franqueado. Mas, para surpresa geral, a proposta entrou em teste e, o melhor, deu resultado com um incremento nas vendas de cerca de 30%. “Em pouco tempo percebemos que a ideia era, sem dúvida, um grande negócio. Dois anos depois de implantado no shopping paranaense, o dessert center ganhou escala. Hoje, é encontrado em toda a América Latina, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa”, afirma Rogério Barreira, 44 anos, vice-presidente de operações do McDonald’s. O quiosque de sobremesa não foi a única inovação nascida em solo brasileiro e incorporada pela rede. O Brasil também exportou para os franqueados do McDonald’s ao redor do mundo – e não são poucos, em torno de 20.000 – um mo- delo de consultoria focada em alavancar as vendas. Trata-se de uma série de indicadores, como o nível de qualidade da limpeza e dos serviços, por exemplo, que quando compilados e analisados ajudam a definir o número de visitas do consultor de campo e quais áreas ele deve dar mais atenção e avaliar. “O modelo começou a ser adotado no país em 2002, depois em toda a América Latina e agora está sendo usado também nos Estados Unidos”, diz Barreira. Considerado o quarto mercado mundial de franchising, com 2.213 marcas e um faturamento de R$ 105 bilhões estimados para este ano, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o Brasil tem assistido nos últimos anos não só à chegada em peso de redes internacionais quanto à expansão das bandeiras nacionais para os mais variados destinos. Comparando-se os resultados de 2010 com os registrados este ano pelo estudo Aspectos Mercadológicos e Estratégicos da Internacionalização das Franquias Brasileiras, realizado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), constata-se um crescimento de 41%, saltando de 65 franquias internacionalizadas há dois anos para 92 este ano. De um lado, a universidade e os institutos de pesquisa; de outro, as empresas e o mercado. Entre eles, um país carente de inovação, que promoveu cortes no orçamento federal para a área de Ciência e Tecnologia — cerca de R$ 1,48 bilhão a menos no aporte inicial de R$ 6,7 bilhões para este ano; pretendia chegar ao final de 2010 investindo 1,5% do PIB no setor e, dois anos depois, não lhe dedica mais do que 1%, para prejuízo das bolsas de estudo, centros de excelência e retração da meta de produzir 11,5 mil doutores por ano. A frágil parceria entre setor acadêmico e setor privado tem várias razões, segundo os pesquisadores. Para Fernando Schuler, diretor do Ibmec/RJ, a pesquisa científica universitária no Brasil é muito jovem. “Outra razão é que o país apostou em um modelo arcaico de gestão universitária. A pesquisa científica ainda é majoritariamente ligada às universidades estatais, federais e estaduais, que são, rigorosamente, repartições públicas.” A isto acrescente-se, por parte do empresariado, a falta de cultura de bater à porta da universidade: “Os caminhos para que o empresário chegue finalmente ao pesquisador não são bem determinados”, aponta o diretor da Agência de Inovação da USP, Vanderlei Bagna- to. E, por parte do pesquisador, uma formação deficitária: “Nem sempre conseguimos ensinar ao jovem que está saindo para o mercado algum empreendedorismo”, reconhece Ednalva Fernandes Costa de Morais, vice-diretora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da UnB, lembrando que a ciência básica não exige nem ritmo nem resultados, enquanto no campo da inovação corporativa, a pressão por prazos é implacável. Mas quem deve dar o primeiro passo? Esse é outro aspecto que embaralha as regras do jogo: segundo Fernando Schuler, “faz mais sentido que as empresas procurem a universidade para desenvolver um certo tipo de tecnologia”. Exemplo: “A técnica de congelamento da massa do pão de queijo, para produção industrial, em Minas Gerais, foi desenvolvida por demanda dos produtores pela Universidade de Viçosa e universidades consorciadas – e há muitos casos nesta linha”, explica. Para o professor Carlos Levi, reitor da UFRJ, porém, “sendo a instituição universitária pública, cabe a ela buscar mecanismos para garantir sua integração à sociedade como um todo e também com o mundo corporativo”. Com ele concorda Ednalva Fernandes. “Defendo a tese de que a universidade deve dar o primeiro passo. É lá que se encontram os problemas e suas soluções”, ad- voga ela, explicando que a UnB promoveu recentemente junto a 600 pesquisadores um mapeamento das distintas linhas de pesquisa em curso, “com o objetivo de divulgá-las para a sociedade”. Ao longo deste resgate do capital intelectual da UnB, uma surpresa: 77% deles manifestaram interesse em prestar serviços tecnológicos para as empresas, adiantou a diretora da UnB. Para que boas invenções ganhem status de commodities há um longo caminho a percorrer. “O financiamento de ciência e tecnologia é o sangue que alimenta e sustenta a pesquisa científica. No Brasil, porém, a maioria esmagadora dos investimentos é proveniente das agências governamentais, o que gera uma significativa dependência de praticamente uma única fonte de recursos: a estatal”, lamenta Andrea Kauffmann Zeh, assessora de relações institucionais da Fundação para o Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep). Segundo ela, a contribuição do setor privado para o financiamento em pesquisa ainda é pequena, e particularmente inexistente quando o assunto é pesquisa básica, uma vez que o retorno sobre o investimento é arriscado e de longo prazo. Hoje, cerca de 46% do investimento total em P, D&I provém de empresas, ao passo que em países como EUA, Alemanha, China ou Japão, este per- centual chega a quase 70%. Mas dinheiro é apenas parte do problema. “A contratação de doutores que passaram anos dentro da academia é uma forma eficiente de aproximar empresas e faculdades. No exterior, as indústrias absorvem um grande número de profissionais com este perfil. Com eles vêm conhecimento de fronteira, formas de contactar a universidade, se necessário, e principalmente o desejo de manter parcerias mais prolongadas”, sugere Vanderlei Bagnato. Ele ainda enumera a realização de cursos de aperfeiçoamento, como forma de permitir aos empresários um contato mais estreito com a academia, e a disponibilidade de mapas do conhecimento. A iniciativa de trazer os executivos que realmente decidem nas empresas para dentro da universidade é uma proposta que também defende o diretor do Ibmec/RJ: “Em boa medida, o mercado não conhece nosso potencial de pesquisa. Admitir, no Brasil, a figura dos doutorados executivos, em certas áreas, é uma medida pontual que deve ser tomada”, afirma. Segundo Schuler, “é preciso mudar o perfil de nossa formação universitária”. Desde o início do curso, os alunos devem conviver com as empresas e frequentar centros de empreendedorismo.
  • 3. _>>> Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:44) - Página 3- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Enxerto Quinta-feira, 8 de novembro de 2012 | Valor | F3 Especial | Inovação Financiamento Recursos do petróleo são importantes para desenvolvimento de ciência e tecnologia no país Comunidade busca fontes alternativas Carmen Nery Para o Valor, do Rio A comunidade de ciência e tecnologia se articula para buscar novas fontes de financiamento para a área de pesquisa e desenvolvimento (P&D), diante da possibilidade de o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) perder os recursos que recebe do fundo setorial CT-Petro, criado para estimular a inovação na cadeia produtiva do setor de petróleo e gás natural, e do Fundo Social. O CT-Petro e o Fundo Social recebem recursos provenientes da exploração do petróleo e o governo brasileiro tende a destinar os royalties da exploração do pré-sal para a educação, conforme já sinalizou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O fundo setorial CT-Petro tem a maior parte dos recursos destinados a ciência e tecnologia (C&T), respondendo por 45% dos valores do FNDCT que, até o ano passado, era a principal fonte de financiamento à inovação. O Fundo Social é alimentado com os recursos que cabem à União, provenientes da exploração do petróleo. Para não afetar o desenvolvimento da pesquisa e desenvolvimento do país, o então presidente Lula assinou um decreto preservando os recursos do regime de concessão para C&T e defesa até 2015. No texto do PL 2565/11, da Câmara dos Deputados, que trata da repartição dos royalties de petróleo e que seria votado na terça-feira, o deputado Carlos Zaratini (PT-SP), relator do projeto, tentou preservar os recursos para a área de C&T, a partir de 2015. Mas com a reviravolta na votação, o PL 2565/11 não foi votado e em seu lugar foi aprovado um outro texto do Senado, que alterou a distribuição dos royalties e não se sabe ainda o destino que será dado aos recursos que hoje vão para C&T. Com o fim do CT- Petro, o FNDCT poderá perder R$ 1,9 bilhão a partir de 2015. Já o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) é transitório e a cada ano precisa ser renovado. “Se acabarem os recursos do CT-Petro e o Programa de Sustentação de Investimentos não for renovado, perderemos 70% do orçamento da Finep. Para avançar, ciência e tecnologia precisam ter estabilidade de funding. O FNDCT já sofre constantes contingenciamentos e a questão a se discutir é se as áreas de C&T deveriam integrar o arsenal de pronto socorro das questões fiscais, pois são áreas em que a descontinuidade interfere diretamente nos resultados alcançados”, diz Glauco Arbix, presidente da Finep. Ele afirma que, além de contingenciável, o FNDCT tem uma governança complexa e é muito pequeno em relação à demanda existente. “Isso faz com que o FNDCT já se mostre inadequado à situação atual no Brasil. A busca de fontes alternativas é a questão chave do sistema”, diz. “Esse é um problema que já devia ter sido superado levando-se em conta que o país elegeu, pelo menos no discurso, a inovação como fator estratégico de competitividade. De fato, os recursos aumentaram, mas estão sempre sob ameaça de cortes”, afirma Guilherme Lima, vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). Segundo ele, além da Finep, o BNDES tem uma alocação própria para investimento em ino- REGIS FILHO/VALOR Linhas disponíveis Financiamento à inovação - em R$ BNDES PSI Inovação PSI Projetos Transformadores PAISS* Inova Petro** Funtec Criatec Total 5,2 bilhões 8 bilhões Finep PSI FNDCT FAT Funttel Total (2012) 3 bilhões 933 milhões 220 milhões 200 milhões 2 bilhões 3 bilhões 200 milhões 270 milhões Fonte: BNDES e Finep. *Programa Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico; ** Programa voltado a projetos de inovação na cadeia de fornecedores de bens e serviços no setor de petróleo e gás natural Glauco Arbix, presidente da Finep: “Para avançar, ciência e tecnologia precisam ter estabilidade de funding” vação via PSI, mas são recursos reembolsáveis. “O Funtec, único financiamento a fundo perdido do banco, tem baixa dotação. E na Finep a subvenção econômica não passa historicamente de R$ 500 milhões”, afirma. Já o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação pretende destinar R$ 4,5 bilhões para financiamento de projetos de tecnologia e inovação em 2013. Essa quantia vai se somar aos R$ 15 bilhões já previstos no Plano Brasil Maior para liberação até 2014. Arbix tem um estudo que aponta que, com a possível a interrupção dos recursos do petróleo em 2015, o FNDCT deverá levar dez anos para recuperar a performance atingida até aquele ano. Por isso, a Finep estuda opções de como elevar a modalidade de crédito de suas operações, hoje limitadas a 25%, para 35%, reduzindo o prazo de recomposição do FNDCT para cinco anos, já que crédito é recurso reembolsável. Já a subvenção, no seu entender, deve ser aplicada apenas a projetos de alto risco tecnológico. Em relação ao Fundo Social, a estratégia, segundo Arbix, será lutar para que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) entre na partilha dos recursos e que a Finep passe a operar como agente financeiro do Fundo. Em 2012, até julho entraram na agência 334 projetos, totalizando R$ 12,7 bilhões. Desde o ano passado, o FNDCT deixou de ser a principal fonte de recursos no orçamento da Finep, contribuindo com R$ 794,7 milhões, ante R$ 3,750 bilhões do PSI, que se tornou extremamente estratégico para a agência. A Finep já foi contemplada com dois aportes do PSI, num total de R$ 4 bilhões, e acaba de ser autorizada a receber mais R$ 3 bilhões. Helena Tenório, chefe do departamento de avaliação, inovação e conhecimento do BNDES, afirma que o banco não está preocupado nem tem problema de funding, embora não tenha um orçamento carimbado para a área. O PSI Inovação dispõe de R$ 5,2 bilhões para serem aplicados em duas linhas: projetos de inovação em geral e Pro Engenharia, voltado para a melhoria de processos de engenharia. Outro Programa é o PSI Projetos Transformadores com orçamento de R$ 8 bilhões para a implantação de plantas greenfield inovadoras. O banco ainda opera em conjunto com a Finep outras duas linhas setoriais: o PAISS, com recursos de R$ 2 bilhões, e o Inova Petro que teve aprovados recursos de R$ 3 bilhões.
  • 4. _>>> Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:46) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Enxerto F4 | Valor | Quinta-feira, 8 de novembro de 2012 Especial | Inovação DANIEL WAINSTEIN/VALOR Sustentabilidade Ganho de escala ainda é necessário para que novos produtos cheguem ao mercado Pressão por menor preço inibe avanço na cadeia produtiva Ediane Tiago Para o Valor, de São Paulo As empresas brasileiras têm grandes oportunidades para liderar nas tecnologias que aproveitam o potencial da natureza. “Há uma simbiose entre inovação e sustentabilidade”, diz Paulo Branco, coordenador do estudo “Inovação e Sustentabilidade na Cadeia de Valor”, realizado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVCes), com patrocínio da Citi Foundation. Essa relação estreita se explica pela necessidade de reinventar os meios de produção e da criação de modelos de negócio que avaliam muito mais do que o preço final de bens e serviços. “O maior desafio é mudar a relação das grandes corporações com seus fornecedores”, afirma Branco. Na prática, o que ocorre há décadas é a pressão pelo menor preço. As grandes corporações exercem poder econômico nas cadeias produtivas, que buscam maior eficiência na redução de custos. “É difícil garantir atributos sustentáveis com contratos focados em preço. Tanto a inovação quanto a sustentabilidade requerem investimentos e impactam custos”, explica. O estudo aponta para relacionamentos de parceria, com busca de desempenho e perseguição de atributos capazes de garantir a sustentabilidade dos negócios. “Nas contas das grandes empresas, começam a valer as pressões da regulamentação e da autorregulamentação, vindas do mercado. Desastres ambientais e uso de materiais poluentes também causam grandes danos à imagem”, comenta o pesquisador. Exemplos como o da fabricante de brinquedos Mattel – cujo parceiro chinês utilizou tinta com chumbo na produção – são emblemáticos e acendem o alarme dos executivos. “Ninguém quer correr riscos como esse.” De fato, a mentalidade dos dirigentes está mudando, embora o desdobramento nas empresas e nas cadeias produtivas ainda seja um desafio. Segundo estudo publicado pela Accenture, em 2010 – no qual a consultoria entrevistou 766 dirigentes de empresas de variados países e setores da economia –, 93% dos executivos apontou que as questões de sustentabilidade serão críticas para o sucesso futuro do negócio; 96% acreditam que esses pontos devem ser plenamente integrados à estratégia e operação da empresa; 72% citaram “marca, confiança e reputação” como fatores que impulsionam os projetos de sustentabilidade; e 88% dos entrevistados acreditam que a integração da sustentabilidade deva ser feita em sua cadeia de suprimentos. O novo direcionamento empresarial avança e traz novos paradigmas para a pesquisa e desenvolvimento. A inovação – da mesma forma que a sustentabilidade – é tarefa que exige comprometimento entre fornecedores e clientes. É muito mais custoso e difícil inovar de forma isolada. “Assim como a sustentabilidade, as invenções e as inovações incrementais só se completam em cadeia”, explica Branco. O maior desafio é mudar a relação das grandes corporações com seus fornecedores Ele alerta que as políticas públicas para promoção de inovação e sustentabilidade também devem avançar e, neste caso, o poder econômico pode ser benéfico. “Em média, entre 10% e 15% do Produto Interno Bruto (PIB) global está comprometido com compras públicas. Se essa fatia do mercado passar a exigir atributos sustentáveis nos produtos e serviços que adquire, teremos uma demanda que justifique investimentos e novas frentes de pesquisa e desenvolvimento”, comenta. Outro ponto de oportunidade está nas políticas que regulamentam os impactos ambientais. “Muitas empresas encontraram nichos de mercado a partir da política de resíduos sólidos. Quando há obrigação para mitigar os efeitos da poluição, há demanda e, consequentemente, oferta.” A escala, segundo Branco, ainda é impedimento para que muitas inovações cheguem ao mercado. “Produtos com tecnologia e atributos sustentáveis são mais caros. A economia verde ainda depende de quem está disposto a arcar com o ágio”, explica. A conta, no entanto, é feita de forma errada. Ao comprar um produto sem atributos sustentáveis, a sociedade paga um preço alto no final. “Sempre utilizo o caso da produção orgânica de alimentos. A agricultura tradicional é altamente subsidiada no Brasil, o que nos leva a uma diferença enorme de preços na prateleira. Mas se avaliarmos os impactos na natureza e na saúde da população, qual é o método de produção mais caro?”, questiona. O resultado é que ainda oferecemos mais vantagens econômicas a atividades poluidoras. Mas o avanço da sustentabilidade — que dependerá da criação de novos produtos e modelos de negócios — exigirá ainda um novo modelo de operação dos departamentos de compras e uma gestão mais apurada da cadeia de fornecimento por parte das grandes corporações. E a estratégia passa por uma visão integrada do ciclo de vida do produto, no qual a sustentabilidade está inserida desde a etapa de pesquisa e desenvolvimento até as atividades pós-consumo. “Este complexo ciclo exigirá melhores condições para financiar projetos em empresas de menor porte, que precisam de estruturas capazes de suportar a demanda das grandes corporações.” Nesse sentido, a convergência entre parcerias empresariais e estímulos públicos será fundamental para alicerçar os projetos. “As empresas menores têm dificuldades para conseguir financiamento. Por isso, os instrumentos de fomento à inovação e sustentabilidade precisam avançar”, comenta. Entre as cadeias produtivas que sofrem atualmente com a falta de integração está a de óleo e gás. “O pré-sal só é viável com uma rede de empresas capaz de produzir tecnologia e mitigar os riscos ambientais. Se conseguirmos isso, venderemos sistemas de exploração em águas profundas para todo o mundo.” “ Dificuldade está em fazer o cliente enxergar o valor da inovação. Mostrar que a inserção de um novo processo ou produto vai significar redução de custos e riscos na cadeia. ” “ José Roberto Durço, da Pack Less CLAUDIO BELLI/VALOR A Tramppo descontamina 270 mil lâmpadas por mês. Também vendemos o vidro, as ponteiras metálicas, o pó-fosfórico e o mercúrio. Cada um tem a sua aplicação. Carlos Pachelli, da Tramppo ” Palete de polipropileno mais leve perde concorrências por custar mais De São Paulo Apostar na combinação entre inovação e sustentabilidade é um negócio promissor para quem pretende construir uma empresa para o futuro. “A maior dificuldade ainda está em fazer o cliente enxergar o valor da inovação. Mostrar que a inserção de um novo processo ou produto vai significar redução de custos e riscos na cadeia”, argumenta José Roberto Durço, diretor da Pack Less. Durço e seu sócio criaram uma solução inovadora para a cadeia logística: um palete feito a partir do polipropileno (resina plástica), mais leve e menos volumoso que a madeira. Em quatro anos, eles chegaram a um produto que reduz a quase 10% o peso da embalagem e ocupa muito menos espaço dentro de caminhões. “Is- so significa menos emissão de gases do efeito-estufa.” Apesar de a solução poder reduzir o valor do frete em até 20%, o produto perde muitas concorrências para os paletes de madeira por custar, em média, 10% mais. “A conta tem de ser outra. É preciso analisar os ganhos no processo logístico em vez de avaliar apenas o preço final do produto. Os departamentos de compras ainda têm dificuldade nesta análise”, diz. Os paletes da Pack Less são 100% recicláveis e, comparados aos de madeira, consomem 70% menos energia na fabricação, segundo análise da Fundação Espaço ECOBasf. “As peças pesam, em média, três quilos, enquanto as de madeira pesam 30 quilos.” A Pack Less produz entre 15 e 20 mil paletes por mês. Tem capacidade para 200 mil peças mensalmente. A Tramppo, especializada na gestão sustentável de lâmpadas, nasceu na incubadora Cietec (da Universidade de São Paulo). Focou seus esforços na criação de serviços de descontaminação e destinação de lâmpadas fluorescentes. “Atendemos mais de 600 clientes e descontaminamos 270 mil lâmpadas todos os meses”, conta Carlos Alberto Pachelli. A Tramppo também faz gestão dos resíduos, ao oferecer coleta, transporte, processamento e destinação dos subprodutos. O serviço custa entre R$ 0,85 e R$ 2 por lâmpada e a empresa ainda ganha com a venda de subprodutos para reciclagem, que hoje responde por 4% do faturamento. “Vendemos o vidro, as ponteiras metálicas, o pófosfórico e o mercúrio. Cada um tem sua aplicação em diferentes cadeias produtivas.” (ET) Fundo binacional tem R$ 100 mi para bancar startups DIVULGAÇÃO Carmen Nery Para o Valor, do Rio A 21212 é uma aceleradora de empresas binacional, comandada pelos brasileiros Marcelo Sales, Rafael Duton e Leonardo Constantino, que gerenciam a empresa a partir do Rio de Janeiro (código de área 21), e por Benjamin White e Jeff Levinsohn, sediados em Nova York (código de área 212). Já mantém em seu portfólio 18 empresas digitais que passaram por uma rigorosa seleção entre centenas de jovens empreendedores e que durante quatro meses entraram no programa de aceleração. No processo, elas foram preparadas por meio de mentorias e couching com nomes fortes do mercado, como Daniel Simon da Gávea Investimentos, para participarem do Demo Day. O evento apresentou, no dia 19, no Museu de Arte Moderna do Rio, nove empresas inovadoras, que atuam com soluções digitais, a 120 investidores institucionais entre fundos de investimento e de venture capital e investidores anjo nacionais e estrangeiros. “Nossa meta é ter 30 empresas no portfólio até 2013. Elas recebem um aporte inicial de R$ 50 mil e até R$ 250 mil em serviços. Estamos criando também o Fundo 21212, com R$ 100 milhões para investir em empresas digitais”, diz Marcelo Sales, da 21212: “Nossa meta é ter 30 empresas no portfólio até 2013. O aporte mínimo é de R$ 50 mil” Marcelo Sales, diretor da empresa. O ponto alto do Demo Day foram as apresentações dos jovens entre 20 e 36 anos, vestidos de jeans, tênis e camisetas com a logomarca de suas promissoras startups. Cada um teve 10 minutos para vender seu peixe. A Zona Universitária, por exem- plo, é uma rede social para ajudar a planejar a carreira de universitários. Foi apresentada pelo canadense Ylya Brotzky, co-fundador e chief networking officer, que deixou carreira promissora na Vale para conduzir o negócio ao lado de Marcelo Melo e Jair Vençosa. “Cerca de 71% das empresas no Brasil dizem que têm dificuldades de encontrar talentos. Já temos 75 mil universitários e vamos chegar a 100 mil até o final do ano. Agora estamos abrindo a plataforma para empresas de mentoria que querem vender serviços e companhias, como a Arcelor Mittal, que buscam talentos. Estamos reinventando o recrutamento no Brasil”, prometeu Brotzky, que fechou uma captação de R$ 100 mil e espera captar outros R$ 200 mil após o evento. O Site Sustentável, projeto de Rodrigo Torrentes, 36 anos, e Maximiliano Muniz, 30, propõe a eliminação da pegada de carbono de sites por meio do plantio de árvores. A empresa calcula quanto o site consome de energia e faz a neutralização. A cada 100 mil page views, é plantada uma árvore, ao custo de R$ 15, pelas equipes do Instituto Brasileiro de Florestas. “Já temos 70 clientes e plantamos mais de 500 árvores no Paraná e no sul de São Paulo”, informou Torrentes, que recebeu aporte da Venture One e esperava captar outros R$ 900 mil. O Acess Club é um clube de privilégios criado pelos irmãos João Vitor Amaral, 23 anos, e Frederico Amaral, 21. O foco são VIPs que só ingressam por meio de convites e pagam de R$ 240 (plano semestral) a R$ 420 (plano anual) para ter acesso a uma série de benefícios de empresas como Natan, Koni, Bartholomeu e Bar do Copa. “A compra coletiva foca em desconto. Nós focamos na experiência única. Criamos algo inovador aproximando o cliente classe A das empresas parceiras com um canal de relacionamento forte. Sem investir em marketing, já temos 300 usuários pagantes”, diz Frederico Ama- ral, que esperava captar R$ 200 mil após o evento. Na área de entretenimento, o Queremos! é uma plataforma que reúne fãs, produtores e artistas para promover shows e eventos por meio de crowdfunding. Já a WeGoOut é uma plataforma de interação social que recomenda festas e locais para sair com base no seu grupo de amigos de redes sociais como o Facebook, mostrando quem irá, quem já está lá e fotos do ambiente. Um pouco invasivo, mas, segundo o co-fundador Frederico Camara, só monitora pessoas cadastradas na plataforma. Também se apresentaram a XJobs, plataforma para terceirização de projetos online; a ZeroPaper, que oferece um gerenciador financeiro inteligente para pequenos empresários e empreendedores individuais; e a Easyaula, que aproxima pessoas que querem ensinar das que querem aprender. Já a Bidcorp atua no mercado de bens e ativos excedentes, com foco na construção civil. Ao encerrar uma obra, a construtora pode disponibilizar seus ativos novos e usados a preços acessíveis para pequenas e médias empresas. A empresa já conta com mais de R$ 50 milhões em ativos excedentes de grandes construtoras como a Odebrecht.