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Clareamento interno: uma alternativa para discromia de
dentes tratados endodonticamente
Intra coronal bleaching: an alternative to dyschromia
of endodontically treated teeth
DESCRITORES:
Clareamento dental, Endodontia, Materiais
dentários.
Keywords:
Tooth heaching, Endodontics, Dental ma-
terials.
Renan Menezes Cardoso1
, Randerson Menezes Cardoso2
, Paulo Correia de Melo Júnior 2
, Paulo Fonseca Menezes Filho3
1. Aluno do curso de graduação em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco
2. Especialista em Ortodontia pela Universidade de Pernambuco, Brasil e aluno do curso de Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco
3. Prof. Adjunto 1 da Universidade Federal de Pernambuco
ABSTRACT
Intrinsic color changes are common in endodontically treated teeth. That consequence compromises
the facial harmony, since converted a single structure in visual stress area. Thus the endogenous ble-
aching appears is a good alternative for reversibility color, because it shows itself as a conservative,
fast, secure and low cost technique to the aesthetic restoration of the dental element. This study aims
to conduct a brief review of the literature about Intra coronal bleaching, and demonstrate, through a
case, a clinical series using urea crystal.
RESUMO
Alterações cromáticas intrínsecas são comuns em elementos dentais tratados endodonticamente.
Tal consequência compromete a harmonia facial, uma vez que transforma uma única estrutura em
área de estresse visual. Assim, o clareamento endógeno surge como uma boa alternativa para rever-
sibilidade cromática, pois se mostra uma técnica conservadora, rápida, segura e de baixo custo no
restabelecimento estético do elemento dental. O presente trabalho tem por objetivo realizar uma
breve revisão de literatura sobre clareamento endógeno bem como demonstrar, através de um caso
clínico, uma sequência clínica utilizando cristal de ureia.
Endereço para correspondência
Renan Menezes Cardoso
Rua Antonio Novaes, 51/ 902 Graças
CEP: 52050-280 - Recife - PE
E-mail: renanmenezes@hotmail.com
INTRODUÇÃO
Ao viver em sociedade, padrões são instituídos com o
objetivo de definir “o normal”. Atualmente, a estética assumiu
destaque na vida dos indivíduos, estabelecendo como aceitável
socialmente, no que concerne ao sorriso, ter dentes claros. As-
sim, o clareamento dental assume papel relevante na realidade
do cirurgião-dentista, principalmente em dentes tratados endo-
donticamente, uma vez que o escurecimento é comum.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Em meados do século XIX, o tratamento clareador sur-
giu da necessidade de procedimentos mais conservadores
frente às alterações cromáticas dentais. Entretanto, a técnica
endógena só se tornou realidade em 1961, devido a Spasser,
o qual manteve, temporariamente, no interior da câmara pul-
par, uma pasta constituída de perborato de sódio diluído em
água. Já em 1965, Stewart instituiu a técnica termocatalítica,
cujo processo envolvia uma pelota de algodão embebida em
substância clareadora e um instrumento aquecido. Tal condu-
ta, entretanto, caiu em desuso com o decorrer dos anos, uma
vez constatados os efeitos deletérios do calor sobre o tecido
periodontal1,2
. Com a chegada dos anos 80, Howell sugeriu a
utilização de ácido fosfórico em concentração de 30% para
abertura dos túbulos dentinários, antes da inserção do agente
clareador, com o intuito de otimizar os resultados. Em 2004,
Wanderley et al. descreveram a utilização do cristal de ureia
para o tratamento de alterações cromáticas de dentes não-
-vitais, relatando rápida reversão cromática3, 4, 5
.
A utilização de substâncias clareadoras no interior da
câmara pulpar mostra-se uma manobra conservadora frente a
alterações cromáticas de dentes desvitalizados. O clareamento
Relato de Caso/Case Report
Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (2) 177-180, abr./jun., 2011
www.cro-pe.org.br
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interno pode ser realizado através de três formas básicas - me-
diata, imediata ou mista, mas a associação de procedimentos
não é incomum. Na primeira, o paciente permanece com o
produto no interior da câmara pulpar – o curativo, por um pe-
ríodo de três a sete dias, sendo necessária a troca até a obten-
ção da cor desejada. Na técnica imediata, o agente clareador
é aplicado no interior da câmara pulpar e sobre a superfície
vestibular do elemento, obtendo-se o resultado após a reali-
zação do protocolo clínico, seja ele fotoassistido ou não. Já no
processo misto, une-se a técnica mediata à imediata. É de fun-
damental importância observar o comportamento do dente
frente a tais procedimentos, uma vez que, constatada ausência
de reversibilidade cromática, o profissional pode lançar mão
de soluções restauradoras ou protéticas 4, 6, 7
.
As alterações cromáticas intrínsecas são ocasionadas por
uma pluralidade de fatores, os quais devem ser evidenciados
durante exame clínico, a fim de se obter maior previsibilidade
dos resultados. Didaticamente, podem-se classificar tais deter-
minantes em fatores locais e sistêmicos. Os locais são oriundos
de hemorragias pulpares traumáticas, materiais restauradores,
como o amálgama ou obturadores do conduto radicular pre-
sente na câmara pulpar, remanescentes pulpares presentes
pós-tratamento endodôntico e compostos à base de eugenol
e iodofórmio; por outro lado, relativo aos fatores sistêmicos,
ressalta-se porfiria congênita, hepatite neonatal, amelogênese
e dentinogênese imperfeitas, fluorose, derivados da tetracicli-
na, escurecimento fisiológico e hipoplasia de esmalte 4,8
.
O princípio do tratamento clareador baseia-se na utiliza-
ção de substâncias que possuem elevado potencial de libera-
ção de oxigênio. A química do processo ocorre através de uma
reação de oxidação, cujo alvo são macromoléculas estáveis
incorporadas à estrutura dental, que se fragmentam e migram
para o meio externo através de difusão. A eficácia do processo
reside em fatores pertinentes ao elemento dental, como etio-
logia, profundidade, localização e tempo do escurecimento,
pois quanto maior o período, mais incerta é a reversão como
também ao produto, uma vez que o potencial oxidante está
diretamente relacionado à concentração e ao tempo de per-
manência do agente na câmara pulpar. Em um estudo realiza-
do por LIMA em 2006, avaliou-se a velocidade e efetividade de
clareamento em dentes desvitais com utilização de peróxido
de carbamida 37%, peróxido de hidrogênio 35%, perborato
de sódio diluído em água destilada e cristal de ureia. Os re-
sultados obtidos revelam que o grupo pertencente ao cristal
de ureia apresentou maior velocidade de clareamento dos ele-
mentos dentais em um acompanhamento de 15 dias; já entre
os grupos compostos pelos peróxidos e perborato de sódio,
não se constatou diferença significativa 9, 10, 11
.
Não importa o profissional ter uma correta conduta clí-
nica no que concerne ao diagnóstico, à escolha e inserção do
produto, se não atentar para a confecção de um tampão bioló-
gico.Tal procedimento tem por finalidade impedir a difusão da
substância clareadora para as regiões laterais do periodonto,
prevenindo reações inflamatórias, que poderão culminar em
reabsorções radiculares externas. Para a confecção dessa bar-
reira, preconiza-se a desobturação rotatória de três milímetros
do conduto radicular, aquém do limite amelocementário, e a
inserção do material selador. Em estudo sobre avaliação da efi-
cácia de materiais para confecção do tampão cervical, Gomes
et al., em 2007, concluíram que os melhores desempenhos fo-
ram obtidos com o cimento de hidróxido de cálcio fotopolime-
rizável (Biocal) e cimentos de ionômero de vidro fotoativados
(Vitrofill LC, DFL) e autoativados (RIVA, SDI), sendo observado
o maior nível de infiltração do traçador dentinário com o ci-
mento de fosfato de zinco 11, 12
.
Para a realização do curativo de demora, faz-se necessá-
ria a colocação de um material restaurador temporário, o qual
objetiva impedir a entrada de fluidos e microorganismos no
interior da câmara pulpar bem como a saída do agente oxi-
dante para o meio oral, o que comprometeria o resultado e
a duração do tratamento. O material provisório deve propor-
cionar um selamento marginal satisfatório frente às mudanças
orais de pH, temperatura e cargas mecânicas, além de resistir
à pressão dos gases produzidos no interior da câmara pelos
peróxidos e pelo perborato. Em estudos de avaliação da capa-
cidade de selamento de alguns materiais temporários, como
o realizado por VALERA em 2007, concluiu-se que os menores
índices de infiltração, sem diferença estatística, foram obtidos
nos grupos compostos por Vidrion R, Resina composta TPH
SPECTRUM e Cimpat; já em estudo realizado, FACHIN em 2006,
o Bioplic obteve resultado denominado “excelente”, sendo o
Cotosol, Cavit e Tempore conceituados“satisfatórios”. Nos dois
estudos abordados, constatou-se que o IRM obteve o pior de-
sempenho, fato que corrobora os estudos de Grecca e Teixeira
de 2001 e Shinohara de 20013, 14, 15
.
Atualmente, fala-se muito na importância de se ter um
sorriso harmônico e dentes claros, mas, como todo procedi-
mento, o clareamento endógeno possui riscos. Uma das prin-
cipais consequências é a reabsorção radicular externa, fruto do
extravasamento de peróxido de hidrogênio para o periodonto
lateral, ocasionando redução de pH local, o qual poderá de-
sencadear o processo reabsortivo através de atividade oste-
oclástica. Em um estudo sobre a variação do pH de algumas
substâncias utilizadas em clareamento endógeno, realizado
por RIEHL em 2001, pode-se concluir que soluções à base de
perborato de sódio apresentaram inicialmente pH neutro ou
alcalino, que, no decorrer das medições, elevou-se; já na utili-
zação do peróxido de hidrogênio, constatou-se pH ácido que
se intensificou com o decorrer do tempo. Outros possíveis efei-
tos indesejados, como: redução da resistência à fratura, redu-
ção da microdureza dentinária e aumento da permeabilidade
dental, apresentam relação com a sobre-exposição dentária
a estas substâncias. Tais alterações ocorrem ao se ultrapassar
o ponto de saturação dental devido à utilização em elevadas
concentrações e/ou por longos períodos, acarretando não
mais degradação dos pigmentos e, sim, de proteínas da matriz
orgânica11, 16, 17
.
O sucesso do tratamento reside na sua correta indicação
e condução, logo é essencial um criterioso exame clínico, a fim
de se obter o real estado de saúde periapical, periodontal e
gengival como também a etiologia do escurecimento dental,
para que seja eliminada qualquer falsa expectativa do pacien-
te sobre possíveis resultados. Situações de dentes com super-
fície vestibular amplamente restaurada ou cariada, presença
de trincas dentárias, restaurações deficientes e canais mal ob-
turados contraindicam o clareamento de dentes não-vitais 4, 8, 9
.
Antes de se realizar o clareamento intracoronário, é ne-
cessário que o paciente seja esclarecido sobre as limitações do
procedimento e sobre sua responsabilidade em relação a sua
durabilidade. Elementos dentários intensamente escurecidos
há diversos anos possuem pequena chance de sucesso de re-
versibilidade de cor, sendo necessária, em algumas situações,
a proposição de alternativas protéticas ou restauradoras. Se-
gundo a literatura, a proservação do elemento deve ocorrer
por um período de sete anos, com reavaliações anuais através
de inspeção clínica e radiográfica 4, 9, 18, 19
.
RELATO DE CASO
A paciente de 28 anos compareceu para consulta com
queixa estética. Após anamnese e inspeção, foi constatado
o escurecimento do elemento 11, o qual possui histórico de
trauma. Ao exame físico e radiográfico, não foi observada
Clareamento Interno: uma alternativa para discromia de dentes tratados endodonticamente
Cardoso RM et al.
Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (2) 177-180, abr./jun., 2011
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qualquer alteração que contraindicasse o tratamento estéti-
co, sendo confirmada ausência de sintomatologia dolorosa,
qualidade do tratamento endodôntico e higidez periodontal.
Assim, o plano de tratamento foi traçado de acordo com os de-
sejos, expectativas e limitações da paciente, sendo proposto um
clareamento interno com cristal de ureia.
Inicialmente, foi realizada a profilaxia com pedra-pome
diluída em água, e o registro da cor, com a escala Vitta (Figura
1). Após a observação da cor, foi realizada a remoção da resina e
exposição da câmara pulpar (Figura 2). Para a confecção do tam-
pão cervical, foi mensurada a distância da borda incisal ao início
do conduto radicular (altura do colo cervical anatômico) com o
auxílio de uma lima endodôntica (K#40). Observada a distância
de 10mm, posicionou-se o stop de silicone na broca Gattes-
-Gliden em 12,0 mm, sendo realizada a desobturação rotatória
de 2,0 mm (Figura 3). O material escolhido para confecção do
tampão foi o hidróxido de cálcio fotopolimerizável (Biocal/Bio-
dinâmica), o qual foi inserido com sua própria seringa e fotopo-
limerizado no espaço desobturado (Figuras 4 e 5).
Figura 1 - Registro da cor dente 11 (cor C4)
Figura 2 - Remoção da resina composta
Figura 3 - Remoção parcial da gutta-percha
Figura 4 - Confecção do tampão cervical
Figura 5 - Posição do tampão cervical
Posteriormente à confecção do tampão, procedeu-se à
aplicação de ácido fosfórico a 37% na câmara pulpar por 15 se-
gundos, lavagem e secagem desta com pelota de algodão estéril,
para subsequente inserção do agente clareador (cristal de ureia)
com o auxílio de um porta amálgama plástico (Figura 6). O ma-
terial selador temporário utilizado foi o“Coltosol”. A troca do cla-
reador foi repetida por cinco semanas. A câmara foi neutralizada
compastadehidróxidodecálcio,afimdeeliminaraaçãoresidual
do agente. Passado esse período, tal etapa perdurou por uma se-
mana, pois este é o período médio para eliminação do oxigênio
residual. Em seguida, realizou-se a restauração do elemento com
resina composta fotopolimerizável. Pode-se observar, comparan-
do-seasFiguras7e8,queoelementodentaliniciouotratamento
em uma coloração C4 e atingiu uma coloração C2 (Figuras 7 e 8).
Clareamento Interno: uma alternativa para discromia de dentes tratados endodonticamente
Cardoso RM et al.
Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (2) 177-180, abr./jun., 2011
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Figura 6 - Posicionamento do Cristal de uréia.
Figura7 - Foto inicial
Figura8 - Foto final
CONCLUSÃO
Com os avanços da Odontologia Estética, o clareamento
endógeno revela-se uma alternativa segura e de menor custo
para o restabelecimento da harmonia cromática de elementos
desvitais. É fundamental que o profissional utilize um protoco-
lo clínico, embasado no conhecimento científico, a fim de se
obter maior controle sobre os riscos e uma maior previsibili-
dade dos resultados.
REFERÊNCIAS
1. Heller D, Skriber J, LIN LM. Effect of intracoronal bleaching
on external cervical root resorption. Amer Assoc Endod. 2002;
18(4).
2. Rotstein I, Zyskind D, Lewinstein I, Bamberger N. Effect of di-
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ge during intracoronal bleaching in vitro. J. Endodont.1992,
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4. Reis A, Logurcio AD. Materiais dentários restauradores dire-
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croinfiltração de materiais restauradores temporários usados
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In: De Deus QD. Endodontia. 5. ed. Rio de Janeiro: Medsi 1992;
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9. Baratieri LN et al. Odontologia restauradora – fundamentos
e possibilidades. São Paulo: Ed. Livraria Santos 2002.
10.Miranda MM, Reis NA, Miranda JR. Clareamento dental en-
dógeno e exógeno. In Cardoso, R. J. A. Gonçalves, E. A. N. Esté-
tica São Paulo: Artes Médicas 2002; 3:343-361.
11. Lima KP. Avaliação da efetividade de agentes químicos em-
pregados em procedimentos clareadores de dentes desvitais.
Dissertação. (Mestrado em Clínica Integrada) Universidade Fe-
deral de Pernambuco; Recife, 2006.
12. Gomes LSG, Melo Júnior PC, Cardoso RM, Barbosa SF, Vi-
cente Silva CH. Capacidade seladora de tampões cervicais. Rev.
Odontologia Clín-Científ. 2007; abr./jun 6(2):139-42.
13. Fachin EVF, Perondi M, Grecca FS. Comparação da capaci-
dade de selamento de diferentes materiais restauradores pro-
visórios. RPG Rev Pós Grad. 2007, 13(4): 292-8.
14. Grecca FS, Teixeira VB. Avaliação do selamento marginal de
materiais restauradores provisórios usados em Endodontia.
Rev Ciênc Odontol 2001, 4(4): 81-5.
15. Shinohara AL, Oliveira ECG, Duarte MAH, Yamashita JC,
Kuga MC, Fraga SC. Avaliação in vitro da infiltração marginal de
alguns materiais seladores provisórios submetidos à ciclagem
térmica. J Bras Endod. 2004; 5(16).
16. Polonato M. Determinação de condutas para o clareamen-
to caseiro. In: Cardoso, R. J. A. Gonçalves, E. A. N. Estética São
Paulo: Artes Médicas 2002, 3: 378-395.
17. Riehl H, de Freitas CA. Determinação da variação do pH de
várias substâncias usadas intracoronalmente para a restaura-
ção da cor (clareamento) da coroa dentária. Rev. da Faculdade
de Odontologia de Lins. 2001; 13(1).
18 - Baratieri LN et al. Clareamento dental. São Paulo: Ed. Livra-
ria Santos 1993; 176.
19. Miyashita E et al. Odontologia estética: planejamento e téc-
nica. São Paulo: Ed. Artes Médicas, 2006.
Recebido para publicação: 29/06/09
Aceito para publicação: 30/09/09
Clareamento Interno: uma alternativa para discromia de dentes tratados endodonticamente
Cardoso RM et al.
Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (2) 177-180, abr./jun., 2011
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Clareamento interno uma alternativa para discromia de

  • 1. 177 Clareamento interno: uma alternativa para discromia de dentes tratados endodonticamente Intra coronal bleaching: an alternative to dyschromia of endodontically treated teeth DESCRITORES: Clareamento dental, Endodontia, Materiais dentários. Keywords: Tooth heaching, Endodontics, Dental ma- terials. Renan Menezes Cardoso1 , Randerson Menezes Cardoso2 , Paulo Correia de Melo Júnior 2 , Paulo Fonseca Menezes Filho3 1. Aluno do curso de graduação em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco 2. Especialista em Ortodontia pela Universidade de Pernambuco, Brasil e aluno do curso de Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco 3. Prof. Adjunto 1 da Universidade Federal de Pernambuco ABSTRACT Intrinsic color changes are common in endodontically treated teeth. That consequence compromises the facial harmony, since converted a single structure in visual stress area. Thus the endogenous ble- aching appears is a good alternative for reversibility color, because it shows itself as a conservative, fast, secure and low cost technique to the aesthetic restoration of the dental element. This study aims to conduct a brief review of the literature about Intra coronal bleaching, and demonstrate, through a case, a clinical series using urea crystal. RESUMO Alterações cromáticas intrínsecas são comuns em elementos dentais tratados endodonticamente. Tal consequência compromete a harmonia facial, uma vez que transforma uma única estrutura em área de estresse visual. Assim, o clareamento endógeno surge como uma boa alternativa para rever- sibilidade cromática, pois se mostra uma técnica conservadora, rápida, segura e de baixo custo no restabelecimento estético do elemento dental. O presente trabalho tem por objetivo realizar uma breve revisão de literatura sobre clareamento endógeno bem como demonstrar, através de um caso clínico, uma sequência clínica utilizando cristal de ureia. Endereço para correspondência Renan Menezes Cardoso Rua Antonio Novaes, 51/ 902 Graças CEP: 52050-280 - Recife - PE E-mail: renanmenezes@hotmail.com INTRODUÇÃO Ao viver em sociedade, padrões são instituídos com o objetivo de definir “o normal”. Atualmente, a estética assumiu destaque na vida dos indivíduos, estabelecendo como aceitável socialmente, no que concerne ao sorriso, ter dentes claros. As- sim, o clareamento dental assume papel relevante na realidade do cirurgião-dentista, principalmente em dentes tratados endo- donticamente, uma vez que o escurecimento é comum. CONTEXTUALIZAÇÃO Em meados do século XIX, o tratamento clareador sur- giu da necessidade de procedimentos mais conservadores frente às alterações cromáticas dentais. Entretanto, a técnica endógena só se tornou realidade em 1961, devido a Spasser, o qual manteve, temporariamente, no interior da câmara pul- par, uma pasta constituída de perborato de sódio diluído em água. Já em 1965, Stewart instituiu a técnica termocatalítica, cujo processo envolvia uma pelota de algodão embebida em substância clareadora e um instrumento aquecido. Tal condu- ta, entretanto, caiu em desuso com o decorrer dos anos, uma vez constatados os efeitos deletérios do calor sobre o tecido periodontal1,2 . Com a chegada dos anos 80, Howell sugeriu a utilização de ácido fosfórico em concentração de 30% para abertura dos túbulos dentinários, antes da inserção do agente clareador, com o intuito de otimizar os resultados. Em 2004, Wanderley et al. descreveram a utilização do cristal de ureia para o tratamento de alterações cromáticas de dentes não- -vitais, relatando rápida reversão cromática3, 4, 5 . A utilização de substâncias clareadoras no interior da câmara pulpar mostra-se uma manobra conservadora frente a alterações cromáticas de dentes desvitalizados. O clareamento Relato de Caso/Case Report Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (2) 177-180, abr./jun., 2011 www.cro-pe.org.br
  • 2. 178 interno pode ser realizado através de três formas básicas - me- diata, imediata ou mista, mas a associação de procedimentos não é incomum. Na primeira, o paciente permanece com o produto no interior da câmara pulpar – o curativo, por um pe- ríodo de três a sete dias, sendo necessária a troca até a obten- ção da cor desejada. Na técnica imediata, o agente clareador é aplicado no interior da câmara pulpar e sobre a superfície vestibular do elemento, obtendo-se o resultado após a reali- zação do protocolo clínico, seja ele fotoassistido ou não. Já no processo misto, une-se a técnica mediata à imediata. É de fun- damental importância observar o comportamento do dente frente a tais procedimentos, uma vez que, constatada ausência de reversibilidade cromática, o profissional pode lançar mão de soluções restauradoras ou protéticas 4, 6, 7 . As alterações cromáticas intrínsecas são ocasionadas por uma pluralidade de fatores, os quais devem ser evidenciados durante exame clínico, a fim de se obter maior previsibilidade dos resultados. Didaticamente, podem-se classificar tais deter- minantes em fatores locais e sistêmicos. Os locais são oriundos de hemorragias pulpares traumáticas, materiais restauradores, como o amálgama ou obturadores do conduto radicular pre- sente na câmara pulpar, remanescentes pulpares presentes pós-tratamento endodôntico e compostos à base de eugenol e iodofórmio; por outro lado, relativo aos fatores sistêmicos, ressalta-se porfiria congênita, hepatite neonatal, amelogênese e dentinogênese imperfeitas, fluorose, derivados da tetracicli- na, escurecimento fisiológico e hipoplasia de esmalte 4,8 . O princípio do tratamento clareador baseia-se na utiliza- ção de substâncias que possuem elevado potencial de libera- ção de oxigênio. A química do processo ocorre através de uma reação de oxidação, cujo alvo são macromoléculas estáveis incorporadas à estrutura dental, que se fragmentam e migram para o meio externo através de difusão. A eficácia do processo reside em fatores pertinentes ao elemento dental, como etio- logia, profundidade, localização e tempo do escurecimento, pois quanto maior o período, mais incerta é a reversão como também ao produto, uma vez que o potencial oxidante está diretamente relacionado à concentração e ao tempo de per- manência do agente na câmara pulpar. Em um estudo realiza- do por LIMA em 2006, avaliou-se a velocidade e efetividade de clareamento em dentes desvitais com utilização de peróxido de carbamida 37%, peróxido de hidrogênio 35%, perborato de sódio diluído em água destilada e cristal de ureia. Os re- sultados obtidos revelam que o grupo pertencente ao cristal de ureia apresentou maior velocidade de clareamento dos ele- mentos dentais em um acompanhamento de 15 dias; já entre os grupos compostos pelos peróxidos e perborato de sódio, não se constatou diferença significativa 9, 10, 11 . Não importa o profissional ter uma correta conduta clí- nica no que concerne ao diagnóstico, à escolha e inserção do produto, se não atentar para a confecção de um tampão bioló- gico.Tal procedimento tem por finalidade impedir a difusão da substância clareadora para as regiões laterais do periodonto, prevenindo reações inflamatórias, que poderão culminar em reabsorções radiculares externas. Para a confecção dessa bar- reira, preconiza-se a desobturação rotatória de três milímetros do conduto radicular, aquém do limite amelocementário, e a inserção do material selador. Em estudo sobre avaliação da efi- cácia de materiais para confecção do tampão cervical, Gomes et al., em 2007, concluíram que os melhores desempenhos fo- ram obtidos com o cimento de hidróxido de cálcio fotopolime- rizável (Biocal) e cimentos de ionômero de vidro fotoativados (Vitrofill LC, DFL) e autoativados (RIVA, SDI), sendo observado o maior nível de infiltração do traçador dentinário com o ci- mento de fosfato de zinco 11, 12 . Para a realização do curativo de demora, faz-se necessá- ria a colocação de um material restaurador temporário, o qual objetiva impedir a entrada de fluidos e microorganismos no interior da câmara pulpar bem como a saída do agente oxi- dante para o meio oral, o que comprometeria o resultado e a duração do tratamento. O material provisório deve propor- cionar um selamento marginal satisfatório frente às mudanças orais de pH, temperatura e cargas mecânicas, além de resistir à pressão dos gases produzidos no interior da câmara pelos peróxidos e pelo perborato. Em estudos de avaliação da capa- cidade de selamento de alguns materiais temporários, como o realizado por VALERA em 2007, concluiu-se que os menores índices de infiltração, sem diferença estatística, foram obtidos nos grupos compostos por Vidrion R, Resina composta TPH SPECTRUM e Cimpat; já em estudo realizado, FACHIN em 2006, o Bioplic obteve resultado denominado “excelente”, sendo o Cotosol, Cavit e Tempore conceituados“satisfatórios”. Nos dois estudos abordados, constatou-se que o IRM obteve o pior de- sempenho, fato que corrobora os estudos de Grecca e Teixeira de 2001 e Shinohara de 20013, 14, 15 . Atualmente, fala-se muito na importância de se ter um sorriso harmônico e dentes claros, mas, como todo procedi- mento, o clareamento endógeno possui riscos. Uma das prin- cipais consequências é a reabsorção radicular externa, fruto do extravasamento de peróxido de hidrogênio para o periodonto lateral, ocasionando redução de pH local, o qual poderá de- sencadear o processo reabsortivo através de atividade oste- oclástica. Em um estudo sobre a variação do pH de algumas substâncias utilizadas em clareamento endógeno, realizado por RIEHL em 2001, pode-se concluir que soluções à base de perborato de sódio apresentaram inicialmente pH neutro ou alcalino, que, no decorrer das medições, elevou-se; já na utili- zação do peróxido de hidrogênio, constatou-se pH ácido que se intensificou com o decorrer do tempo. Outros possíveis efei- tos indesejados, como: redução da resistência à fratura, redu- ção da microdureza dentinária e aumento da permeabilidade dental, apresentam relação com a sobre-exposição dentária a estas substâncias. Tais alterações ocorrem ao se ultrapassar o ponto de saturação dental devido à utilização em elevadas concentrações e/ou por longos períodos, acarretando não mais degradação dos pigmentos e, sim, de proteínas da matriz orgânica11, 16, 17 . O sucesso do tratamento reside na sua correta indicação e condução, logo é essencial um criterioso exame clínico, a fim de se obter o real estado de saúde periapical, periodontal e gengival como também a etiologia do escurecimento dental, para que seja eliminada qualquer falsa expectativa do pacien- te sobre possíveis resultados. Situações de dentes com super- fície vestibular amplamente restaurada ou cariada, presença de trincas dentárias, restaurações deficientes e canais mal ob- turados contraindicam o clareamento de dentes não-vitais 4, 8, 9 . Antes de se realizar o clareamento intracoronário, é ne- cessário que o paciente seja esclarecido sobre as limitações do procedimento e sobre sua responsabilidade em relação a sua durabilidade. Elementos dentários intensamente escurecidos há diversos anos possuem pequena chance de sucesso de re- versibilidade de cor, sendo necessária, em algumas situações, a proposição de alternativas protéticas ou restauradoras. Se- gundo a literatura, a proservação do elemento deve ocorrer por um período de sete anos, com reavaliações anuais através de inspeção clínica e radiográfica 4, 9, 18, 19 . RELATO DE CASO A paciente de 28 anos compareceu para consulta com queixa estética. Após anamnese e inspeção, foi constatado o escurecimento do elemento 11, o qual possui histórico de trauma. Ao exame físico e radiográfico, não foi observada Clareamento Interno: uma alternativa para discromia de dentes tratados endodonticamente Cardoso RM et al. Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (2) 177-180, abr./jun., 2011 www.cro-pe.org.br
  • 3. 179 qualquer alteração que contraindicasse o tratamento estéti- co, sendo confirmada ausência de sintomatologia dolorosa, qualidade do tratamento endodôntico e higidez periodontal. Assim, o plano de tratamento foi traçado de acordo com os de- sejos, expectativas e limitações da paciente, sendo proposto um clareamento interno com cristal de ureia. Inicialmente, foi realizada a profilaxia com pedra-pome diluída em água, e o registro da cor, com a escala Vitta (Figura 1). Após a observação da cor, foi realizada a remoção da resina e exposição da câmara pulpar (Figura 2). Para a confecção do tam- pão cervical, foi mensurada a distância da borda incisal ao início do conduto radicular (altura do colo cervical anatômico) com o auxílio de uma lima endodôntica (K#40). Observada a distância de 10mm, posicionou-se o stop de silicone na broca Gattes- -Gliden em 12,0 mm, sendo realizada a desobturação rotatória de 2,0 mm (Figura 3). O material escolhido para confecção do tampão foi o hidróxido de cálcio fotopolimerizável (Biocal/Bio- dinâmica), o qual foi inserido com sua própria seringa e fotopo- limerizado no espaço desobturado (Figuras 4 e 5). Figura 1 - Registro da cor dente 11 (cor C4) Figura 2 - Remoção da resina composta Figura 3 - Remoção parcial da gutta-percha Figura 4 - Confecção do tampão cervical Figura 5 - Posição do tampão cervical Posteriormente à confecção do tampão, procedeu-se à aplicação de ácido fosfórico a 37% na câmara pulpar por 15 se- gundos, lavagem e secagem desta com pelota de algodão estéril, para subsequente inserção do agente clareador (cristal de ureia) com o auxílio de um porta amálgama plástico (Figura 6). O ma- terial selador temporário utilizado foi o“Coltosol”. A troca do cla- reador foi repetida por cinco semanas. A câmara foi neutralizada compastadehidróxidodecálcio,afimdeeliminaraaçãoresidual do agente. Passado esse período, tal etapa perdurou por uma se- mana, pois este é o período médio para eliminação do oxigênio residual. Em seguida, realizou-se a restauração do elemento com resina composta fotopolimerizável. Pode-se observar, comparan- do-seasFiguras7e8,queoelementodentaliniciouotratamento em uma coloração C4 e atingiu uma coloração C2 (Figuras 7 e 8). Clareamento Interno: uma alternativa para discromia de dentes tratados endodonticamente Cardoso RM et al. Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (2) 177-180, abr./jun., 2011 www.cro-pe.org.br
  • 4. 180 Figura 6 - Posicionamento do Cristal de uréia. Figura7 - Foto inicial Figura8 - Foto final CONCLUSÃO Com os avanços da Odontologia Estética, o clareamento endógeno revela-se uma alternativa segura e de menor custo para o restabelecimento da harmonia cromática de elementos desvitais. É fundamental que o profissional utilize um protoco- lo clínico, embasado no conhecimento científico, a fim de se obter maior controle sobre os riscos e uma maior previsibili- dade dos resultados. REFERÊNCIAS 1. Heller D, Skriber J, LIN LM. Effect of intracoronal bleaching on external cervical root resorption. Amer Assoc Endod. 2002; 18(4). 2. Rotstein I, Zyskind D, Lewinstein I, Bamberger N. Effect of di- fferent protective base materials on hidrogen peroxide leaka- ge during intracoronal bleaching in vitro. J. Endodont.1992, 18:114-117. 3. Pires LCM. Clareamento com gel em despolpados. São Paulo: Ed. Santos, Livraria Editora, 2003. 4. Reis A, Logurcio AD. Materiais dentários restauradores dire- tos – dos fundamentos à aplicação clínica. São Paulo: Ed. Livra- ria Santos, 2007. 5. Wanderley FM et al. Cristal de Uréia – Tratamento da discro- mia dental. Rev ABO. 2004; 12(1):71. 6. Cardoso RM et al. Avaliação radiográfica de tampões cer- vicais no clareamento endógeno. Rev Gaúcha Odontol 2006; 54(3): 280-3. 7. Valera MC, Camargo CHR, Teixeira AU, Camargo SEA. Mi- croinfiltração de materiais restauradores temporários usados durante o clareamento interno. Rev Ciênc Odontol Bras. 2007; 10 (4):26-31. 8. De Deus QD. Clareamento de dentes com alteração de cor. In: De Deus QD. Endodontia. 5. ed. Rio de Janeiro: Medsi 1992; 627-40. 9. Baratieri LN et al. Odontologia restauradora – fundamentos e possibilidades. São Paulo: Ed. Livraria Santos 2002. 10.Miranda MM, Reis NA, Miranda JR. Clareamento dental en- dógeno e exógeno. In Cardoso, R. J. A. Gonçalves, E. A. N. Esté- tica São Paulo: Artes Médicas 2002; 3:343-361. 11. Lima KP. Avaliação da efetividade de agentes químicos em- pregados em procedimentos clareadores de dentes desvitais. Dissertação. (Mestrado em Clínica Integrada) Universidade Fe- deral de Pernambuco; Recife, 2006. 12. Gomes LSG, Melo Júnior PC, Cardoso RM, Barbosa SF, Vi- cente Silva CH. Capacidade seladora de tampões cervicais. Rev. Odontologia Clín-Científ. 2007; abr./jun 6(2):139-42. 13. Fachin EVF, Perondi M, Grecca FS. Comparação da capaci- dade de selamento de diferentes materiais restauradores pro- visórios. RPG Rev Pós Grad. 2007, 13(4): 292-8. 14. Grecca FS, Teixeira VB. Avaliação do selamento marginal de materiais restauradores provisórios usados em Endodontia. Rev Ciênc Odontol 2001, 4(4): 81-5. 15. Shinohara AL, Oliveira ECG, Duarte MAH, Yamashita JC, Kuga MC, Fraga SC. Avaliação in vitro da infiltração marginal de alguns materiais seladores provisórios submetidos à ciclagem térmica. J Bras Endod. 2004; 5(16). 16. Polonato M. Determinação de condutas para o clareamen- to caseiro. In: Cardoso, R. J. A. Gonçalves, E. A. N. Estética São Paulo: Artes Médicas 2002, 3: 378-395. 17. Riehl H, de Freitas CA. Determinação da variação do pH de várias substâncias usadas intracoronalmente para a restaura- ção da cor (clareamento) da coroa dentária. Rev. da Faculdade de Odontologia de Lins. 2001; 13(1). 18 - Baratieri LN et al. Clareamento dental. São Paulo: Ed. Livra- ria Santos 1993; 176. 19. Miyashita E et al. Odontologia estética: planejamento e téc- nica. São Paulo: Ed. Artes Médicas, 2006. Recebido para publicação: 29/06/09 Aceito para publicação: 30/09/09 Clareamento Interno: uma alternativa para discromia de dentes tratados endodonticamente Cardoso RM et al. Odontol. Clín.-Cient., Recife, 10 (2) 177-180, abr./jun., 2011 www.cro-pe.org.br