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EDUCAÇÃO POPULAR NA AMÉRICA LATINA:
APROXIMAÇÕES ENTRE FREIRE E MARIÁTEGUI
Daniel Gutierrez
daniel.mx@gmail.com
Eixo de Diálogo: 9 - PAULO FREIRE em diálogo com outros(as) autores(as)
Resumo: O presente texto tem como objetivo discutir os aspectos teóricos e metodológicos à
cerca da educação popular, principalmente quando se trata da educação popular pensada na
América Latina. Como exemplo e para amparar algumas de minhas possíveis conclusões
sobre o tema, acredito ser pertinente trazer aqui alguns comentários referenciando a minha
experiência pessoal dentro do grupo Práxis – PET Conexões de Saberes da UFFS Campus
Erechim, onde nosso grupo de pesquisa tem estudado o perfil dos estudantes que tem chegado
a esta instituição, e assim tentar trazer algumas problematizações referentes a educação. Para
tanto se referencia Paulo Freire por ter sido um dos grandes pensadores da educação popular,
e pela sua afirmação de compromisso com a emancipação das classes ditas populares. Em
minha abordagem, alem de contextualizar o pensamento de Freire, pretendo relacioná-lo com
os ideais de José Carlos Mariátegui, autor Peruano que escreveu e pensou questões
relacionadas com a educação, cultura e emancipação de seu povo, visando uma sociedade
mais igualitária.
Palavras-chave: Educação Popular. América Latina. Educação popular.
Antes de falar sobre o texto e o tema proposto gostaria de brevemente me apresentar.
Meu nome é Daniel Gutierrez e sou bolsista do PET – Conexões de Saberes da UFFS
Erechim, grupo no qual estudamos temas como Educação Popular, Pesquisa Participante,
Ações Afirmativas, Políticas Públicas, entre outros. Escolhi escrever sobre Freire e
Mariátegui por serem, em minha opinião, dois autores fundamentais para pensarmos o modelo
de educação existente em nossa sociedade e na América Latina como um todo, e, se esse
modelo é realmente o necessário para alcançarmos certo grau de desenvolvimento do nosso
povo no geral. Antes de tudo vale lembrar que ambos os autores partem de uma visão um
tanto quanto utópica, pois pensam a partir de ideais socialistas, que como sabemos é
2
divergente ao nosso sistema capitalista e que bate de frente com o discurso neoliberal que
circula por nossa sociedade.
Tanto Freire como Mariátegui acreditam na educação como forma de “libertação” de
seu povo, a educação como meio de emancipação de um povo. Para ambos o modelo
existente de escola e educação em si é o modelo burguês, é o modelo que fortalece a cultura
burguesa e seus interesses, e desse modo é um modelo que ao mesmo tempo em que incluiu,
ele também exclui os indivíduos, pelo fato de já nos primeiros anos, a escola já cria seus
métodos de diferenciar o “filho do rico” com o “filho do pobre”, pois dentro de seu sistema
ele favorece aquele que tem mais recursos.
Mariátegui, autor Peruano que foi praticamente um autodidata por causa de problemas
físicos que o impediu de freqüentar a escola quando criança, problemas os quais também o
aproximou pelo gosto aos estudos e pelo amor a leitura. Abandonado pelo pai e criado
somente por sua mãe, desde criança teve interesse por figuras heróicas, quando moço o
interesse por autores anarquistas crescia a cada dia mais, mas lhe faltava ainda uma boa base
teórica por causa da sua má formação escolar. Tempos depois começou a trabalhar em um
jornal e posteriormente a publicar alguns de seus textos. Critico do governo Peruano da época,
foi convidado a se exilar na Europa onde conseguiu tomar conhecimentos de novos autores e
assim aprofundar seus conhecimentos, dando inicio a sua fase socialista. Alguns anos depois
volta ao Peru e funda revistas e sindicatos operários e de classe, também se torna professor da
Universidade Popular Gonzáles Prada de Lima e assim torna-se uma das figuras mais
importantes do movimento socialista e operários do Peru.
Acredito que seu pensamento pedagógico aproxima-se muito de Freire, pois
Para Mariátegui, as Universidades Populares não deveriam ser vistas como institutos de
‘extensão universitária’ agnósticos e incolores, nem tão pouco escolas noturnas para
trabalhadores. De acordo com ele eram escolas de renovação, já que não dependiam de
academia oficiais nem de esmolas do governo, mas sim, do calor das massas populares. Não
haveria, portanto, uma simples ‘digestão’ rudimentar das idéias e valores burgueses, mas a
criação de uma nova experiência intelectual dentro do proletariado. [...] Mariátegui irá propor,
sem se aprofundar muito no tema, novas ‘fórmulas’ escolares, baseadas basicamente na
‘autoformação’ e no controle dos métodos e conteúdos do ensino pelas próprias massas
populares, e, com isso possibilitar o surgimento de uma consciência revolucionaria, a partir de
uma progressiva educação ‘ideológica’ do campesinato, realizada por docentes que fossem
também indígenas (PERICÁS, 2010, p .251).
Importante ressaltar aqui, tanto Freire como Mariátegui pensaram um modelo
educacional que valorizasse a cultura de seu povo, os saberes locais, articulando aprendizado
com o denominado “senso comum”, dessa forma, ambos trabalhavam numa perspectiva de
3
ação “por fora” da burocracia estatal, pensavam um sistema que funcionava sem intervenção
do Estado tendo uma lógica totalmente diferente do modelo escolar vigente, para ambos,
como já foi dito antes, o modelo escolar existente até então era o modelo burguês que não
servia a todo o povo da mesma forma, gerando exclusões e formas de diferenciação.
Nesse novo modelo Freire trabalhou com a educação e alfabetização de adultos, de
trabalhadores, fazendo assim com que eles tivessem para além de seus conhecimentos de vida
o domínio também da palavra, da escrita, da matemática, etc. Enquanto Mariátegui, seguindo
a mesma lógica, pensou um modelo escolar pensado pelo seu povo e para seu povo, dando
ênfase a seus conhecimentos e a sua cultura. A Universidade Popular onde lecionou foi um
exemplo disso, ela era voltada a trabalhadores, operários, e para alem da formação escolar ela
visava à formação política e social para que o povo pudesse “ter condições de se emancipar”
como ele dizia.
Fica claro aqui a preocupação dos autores quando dialogam sobre essa tal de Educação
Popular, e esse adjetivo “popular” refere-se a uma educação voltada para um certo tipo de
classe social, uma classe que tanto no Brasil quanto no Peru sempre tiveram seus direitos
negligenciados, principalmente a educação. Acredito caber nesse momento uma citação do
próprio Freire
Precisamente porque penso assim, quando falo de Educação Popular, é que tento que esta
educação popular esteja, primeiro, a serviço dos grupos populares ou dos interesses dos grupos
populares, sem que isso signifique a negação dos direitos dos grupos das elites. Não estou
dizendo que devemos matar as crianças ricas, nem negar-lhes a educação. Não, não é isso. Mas
o grande objetivo da Educação Popular esta exatamente em atender os interesses das classes
populares que há 500 anos estão sendo negados. [...] De um modo mais radical a Educação
Popular significa, para mim, caminhos, isto é, o caminho no campo do conhecimento e o
caminho no campo politico, através dos quais amanha – e aí vem a utopia –, as classes
populares encontrem o poder (FREIRE, 2008, p. 74).
Agora que já tratamos minimamente sobre as idéias dos dois autores, acredito que
caiba aqui alguns comentários sobre a minha e a nossa própria realidade. Como já disse antes,
faço parte do Grupo Práxis – PET Conexões de Saberes da UFFS, uma das atividades que
nosso grupo realizou no ano de 2012 foi uma pesquisa voltada a identificar alguns traços do
perfil dos alunos que estavam chegando a nossa instituição no mesmo ano. A UFFS uma das
ultimas universidades criadas pelo REUNI, nasce com o intuito de ser uma Universidade
Pública e que se diz “popular”, então coube a nos como estudantes fazer essa pesquisa e
analisar segundo as teorias que tratam da Educação Popular, até que ponto a nossa
universidade está favorecendo as classes populares e até que ponto ela pretende-se ser
popular.
4
No andamento de nossa pesquisa surgiram dados muito interessantes, por exemplo,
temos cerca de 95% de alunos vindos de escolas públicas, grande maioria deles nunca tiveram
nenhum outro contato com o ensino superior e os dados também nos mostraram uma grande
mobilidade social no se trata da escolarização familiar, grande parte dos pais dos alunos mal
chegaram a completar o ensino médio e uma grande parte deles, cerca de 1/3 dos alunos eram
provenientes de áreas rurais onde o acesso a educação sempre foi ainda mais difícil.
Dados como esses nos mostram uma certa “evolução” no que diz respeito a educação
superior do nosso pais, onde a educação sempre foi privilégios de poucos mesmo sendo um
direito constitucional. Mas essa realidade ainda está longe de se tornar a ideal, poucos
conseguem ter acesso ao ensino superior gratuito em nosso pais, a UFFS em nossa região,
acredito eu, que aos poucos esta cumprindo seu papel, mas no geral ainda são poucos que
podem ter essa oportunidade. E tem mais, acredito que seria pertinente uma indagação nesse
momento, pensando tudo que estou comentando aqui sobre Freire e Mariátegui, sobre seus
ideais e pensamentos voltados à ascensão das classes populares, será que mesmo que se as
universidades crescessem em números elas surtiriam no povo um grau de maturidade política
e social afim de criar uma consciência que os levassem a “libertação” como diria Freire? Ou
apenas fortaleceria o próprio sistema capitalista que as oprimem?
Não cabe a nos nesse momento tentar fazer aqui um exercício de futurologia, mas hoje
observando as novas políticas publicas educacionais, observa-se claramente que para muitos e
principalmente para o discurso neoliberal, a Educação Popular consiste apenas em preparar o
pobre para que consiga trabalho, isso não é totalmente desprezível, mas também a Educação
Popular não se esgota somente na capacitação profissional, existe toda uma formação social e
política por trás dela que em muitos casos, e é o que eu vejo hoje, está sendo omitida. A quem
isso favorece?
Quando perguntado a Freire se ele estava de acordo com a capacitação profissional,
ele deu a seguinte resposta:
Estou. Não há dúvida que nesse tipo de educação para o poder que nós defendemos também
existe a seriedade na formação dos trabalhadores. Por exemplo, se nos trabalhamos com um
grupo de pedreiros, é importante preparar um pedreiro para que ele seja o melhor; mas esta
prioridade na formação profissional não esgota o objetivo da Educação Popular, porque existe
outra prioridade ao lado dela, sem a qual aquela não funciona do nosso ponto de vista da
libertação. Funciona apenas do ponto de vista da domesticação. (FREIRE, 2008, p.75)
A escola existe a muitos séculos e de certa forma ela sempre foi o reflexo de sua
própria sociedade; pensar um novo modelo de escola e de educação é pensar ao mesmo tempo
5
um novo modelo de sociedade, assim como Freire e Mariátegui pensaram o futuro da
educação de seu pais, baseando-se num modelo voltado a não exclusão, há valorização da
própria cultura, do senso comum, pensando e refletindo sobre aquilo que realmente faz
sentido para o povo latino americano que hoje vive num sistema de “colonização do
conhecimento”, onde as matrizes que são impostas a nos ditam o que realmente importa e é
necessário ao desenvolvimento intelectual, social, político, econômico, etc; não levando em
consideração a própria historia de cada povo.
Consolidar uma pratica que seja realmente transformadora de nossa realidade social é
algo imprescindível para que aconteça o resgate do projeto popular de uma educação com as
classes populares, onde o processo de aprendizagem se da dentro e a partir das lutas políticas
e na efetivação de um movimento comprometido com as transformações das relações de
poder que estão vinculadas ao nosso sistema.
Referências
FREIRE, P. Pedagogia do compromisso: América Latina e Educação Popular. Indaiatuba:
Villa das Letras, 2008 [Seminário Dialogando com Paulo Freire – Educação Popular na
América Latina; contextualização e possibilidades nos processos de transição, p. 67-78].
PERICÁS, L. B. José Carlos Mariátegui: Educação e cultura na construção do socialismo. In:
STRECK, D. R. (Org). Fontes da Pedagogia Latino-Americana: uma antologia. Belo
Horizonte: Autentica, 2010. p. 247-257.

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10 daniel gutierrez

  • 1. EDUCAÇÃO POPULAR NA AMÉRICA LATINA: APROXIMAÇÕES ENTRE FREIRE E MARIÁTEGUI Daniel Gutierrez daniel.mx@gmail.com Eixo de Diálogo: 9 - PAULO FREIRE em diálogo com outros(as) autores(as) Resumo: O presente texto tem como objetivo discutir os aspectos teóricos e metodológicos à cerca da educação popular, principalmente quando se trata da educação popular pensada na América Latina. Como exemplo e para amparar algumas de minhas possíveis conclusões sobre o tema, acredito ser pertinente trazer aqui alguns comentários referenciando a minha experiência pessoal dentro do grupo Práxis – PET Conexões de Saberes da UFFS Campus Erechim, onde nosso grupo de pesquisa tem estudado o perfil dos estudantes que tem chegado a esta instituição, e assim tentar trazer algumas problematizações referentes a educação. Para tanto se referencia Paulo Freire por ter sido um dos grandes pensadores da educação popular, e pela sua afirmação de compromisso com a emancipação das classes ditas populares. Em minha abordagem, alem de contextualizar o pensamento de Freire, pretendo relacioná-lo com os ideais de José Carlos Mariátegui, autor Peruano que escreveu e pensou questões relacionadas com a educação, cultura e emancipação de seu povo, visando uma sociedade mais igualitária. Palavras-chave: Educação Popular. América Latina. Educação popular. Antes de falar sobre o texto e o tema proposto gostaria de brevemente me apresentar. Meu nome é Daniel Gutierrez e sou bolsista do PET – Conexões de Saberes da UFFS Erechim, grupo no qual estudamos temas como Educação Popular, Pesquisa Participante, Ações Afirmativas, Políticas Públicas, entre outros. Escolhi escrever sobre Freire e Mariátegui por serem, em minha opinião, dois autores fundamentais para pensarmos o modelo de educação existente em nossa sociedade e na América Latina como um todo, e, se esse modelo é realmente o necessário para alcançarmos certo grau de desenvolvimento do nosso povo no geral. Antes de tudo vale lembrar que ambos os autores partem de uma visão um tanto quanto utópica, pois pensam a partir de ideais socialistas, que como sabemos é
  • 2. 2 divergente ao nosso sistema capitalista e que bate de frente com o discurso neoliberal que circula por nossa sociedade. Tanto Freire como Mariátegui acreditam na educação como forma de “libertação” de seu povo, a educação como meio de emancipação de um povo. Para ambos o modelo existente de escola e educação em si é o modelo burguês, é o modelo que fortalece a cultura burguesa e seus interesses, e desse modo é um modelo que ao mesmo tempo em que incluiu, ele também exclui os indivíduos, pelo fato de já nos primeiros anos, a escola já cria seus métodos de diferenciar o “filho do rico” com o “filho do pobre”, pois dentro de seu sistema ele favorece aquele que tem mais recursos. Mariátegui, autor Peruano que foi praticamente um autodidata por causa de problemas físicos que o impediu de freqüentar a escola quando criança, problemas os quais também o aproximou pelo gosto aos estudos e pelo amor a leitura. Abandonado pelo pai e criado somente por sua mãe, desde criança teve interesse por figuras heróicas, quando moço o interesse por autores anarquistas crescia a cada dia mais, mas lhe faltava ainda uma boa base teórica por causa da sua má formação escolar. Tempos depois começou a trabalhar em um jornal e posteriormente a publicar alguns de seus textos. Critico do governo Peruano da época, foi convidado a se exilar na Europa onde conseguiu tomar conhecimentos de novos autores e assim aprofundar seus conhecimentos, dando inicio a sua fase socialista. Alguns anos depois volta ao Peru e funda revistas e sindicatos operários e de classe, também se torna professor da Universidade Popular Gonzáles Prada de Lima e assim torna-se uma das figuras mais importantes do movimento socialista e operários do Peru. Acredito que seu pensamento pedagógico aproxima-se muito de Freire, pois Para Mariátegui, as Universidades Populares não deveriam ser vistas como institutos de ‘extensão universitária’ agnósticos e incolores, nem tão pouco escolas noturnas para trabalhadores. De acordo com ele eram escolas de renovação, já que não dependiam de academia oficiais nem de esmolas do governo, mas sim, do calor das massas populares. Não haveria, portanto, uma simples ‘digestão’ rudimentar das idéias e valores burgueses, mas a criação de uma nova experiência intelectual dentro do proletariado. [...] Mariátegui irá propor, sem se aprofundar muito no tema, novas ‘fórmulas’ escolares, baseadas basicamente na ‘autoformação’ e no controle dos métodos e conteúdos do ensino pelas próprias massas populares, e, com isso possibilitar o surgimento de uma consciência revolucionaria, a partir de uma progressiva educação ‘ideológica’ do campesinato, realizada por docentes que fossem também indígenas (PERICÁS, 2010, p .251). Importante ressaltar aqui, tanto Freire como Mariátegui pensaram um modelo educacional que valorizasse a cultura de seu povo, os saberes locais, articulando aprendizado com o denominado “senso comum”, dessa forma, ambos trabalhavam numa perspectiva de
  • 3. 3 ação “por fora” da burocracia estatal, pensavam um sistema que funcionava sem intervenção do Estado tendo uma lógica totalmente diferente do modelo escolar vigente, para ambos, como já foi dito antes, o modelo escolar existente até então era o modelo burguês que não servia a todo o povo da mesma forma, gerando exclusões e formas de diferenciação. Nesse novo modelo Freire trabalhou com a educação e alfabetização de adultos, de trabalhadores, fazendo assim com que eles tivessem para além de seus conhecimentos de vida o domínio também da palavra, da escrita, da matemática, etc. Enquanto Mariátegui, seguindo a mesma lógica, pensou um modelo escolar pensado pelo seu povo e para seu povo, dando ênfase a seus conhecimentos e a sua cultura. A Universidade Popular onde lecionou foi um exemplo disso, ela era voltada a trabalhadores, operários, e para alem da formação escolar ela visava à formação política e social para que o povo pudesse “ter condições de se emancipar” como ele dizia. Fica claro aqui a preocupação dos autores quando dialogam sobre essa tal de Educação Popular, e esse adjetivo “popular” refere-se a uma educação voltada para um certo tipo de classe social, uma classe que tanto no Brasil quanto no Peru sempre tiveram seus direitos negligenciados, principalmente a educação. Acredito caber nesse momento uma citação do próprio Freire Precisamente porque penso assim, quando falo de Educação Popular, é que tento que esta educação popular esteja, primeiro, a serviço dos grupos populares ou dos interesses dos grupos populares, sem que isso signifique a negação dos direitos dos grupos das elites. Não estou dizendo que devemos matar as crianças ricas, nem negar-lhes a educação. Não, não é isso. Mas o grande objetivo da Educação Popular esta exatamente em atender os interesses das classes populares que há 500 anos estão sendo negados. [...] De um modo mais radical a Educação Popular significa, para mim, caminhos, isto é, o caminho no campo do conhecimento e o caminho no campo politico, através dos quais amanha – e aí vem a utopia –, as classes populares encontrem o poder (FREIRE, 2008, p. 74). Agora que já tratamos minimamente sobre as idéias dos dois autores, acredito que caiba aqui alguns comentários sobre a minha e a nossa própria realidade. Como já disse antes, faço parte do Grupo Práxis – PET Conexões de Saberes da UFFS, uma das atividades que nosso grupo realizou no ano de 2012 foi uma pesquisa voltada a identificar alguns traços do perfil dos alunos que estavam chegando a nossa instituição no mesmo ano. A UFFS uma das ultimas universidades criadas pelo REUNI, nasce com o intuito de ser uma Universidade Pública e que se diz “popular”, então coube a nos como estudantes fazer essa pesquisa e analisar segundo as teorias que tratam da Educação Popular, até que ponto a nossa universidade está favorecendo as classes populares e até que ponto ela pretende-se ser popular.
  • 4. 4 No andamento de nossa pesquisa surgiram dados muito interessantes, por exemplo, temos cerca de 95% de alunos vindos de escolas públicas, grande maioria deles nunca tiveram nenhum outro contato com o ensino superior e os dados também nos mostraram uma grande mobilidade social no se trata da escolarização familiar, grande parte dos pais dos alunos mal chegaram a completar o ensino médio e uma grande parte deles, cerca de 1/3 dos alunos eram provenientes de áreas rurais onde o acesso a educação sempre foi ainda mais difícil. Dados como esses nos mostram uma certa “evolução” no que diz respeito a educação superior do nosso pais, onde a educação sempre foi privilégios de poucos mesmo sendo um direito constitucional. Mas essa realidade ainda está longe de se tornar a ideal, poucos conseguem ter acesso ao ensino superior gratuito em nosso pais, a UFFS em nossa região, acredito eu, que aos poucos esta cumprindo seu papel, mas no geral ainda são poucos que podem ter essa oportunidade. E tem mais, acredito que seria pertinente uma indagação nesse momento, pensando tudo que estou comentando aqui sobre Freire e Mariátegui, sobre seus ideais e pensamentos voltados à ascensão das classes populares, será que mesmo que se as universidades crescessem em números elas surtiriam no povo um grau de maturidade política e social afim de criar uma consciência que os levassem a “libertação” como diria Freire? Ou apenas fortaleceria o próprio sistema capitalista que as oprimem? Não cabe a nos nesse momento tentar fazer aqui um exercício de futurologia, mas hoje observando as novas políticas publicas educacionais, observa-se claramente que para muitos e principalmente para o discurso neoliberal, a Educação Popular consiste apenas em preparar o pobre para que consiga trabalho, isso não é totalmente desprezível, mas também a Educação Popular não se esgota somente na capacitação profissional, existe toda uma formação social e política por trás dela que em muitos casos, e é o que eu vejo hoje, está sendo omitida. A quem isso favorece? Quando perguntado a Freire se ele estava de acordo com a capacitação profissional, ele deu a seguinte resposta: Estou. Não há dúvida que nesse tipo de educação para o poder que nós defendemos também existe a seriedade na formação dos trabalhadores. Por exemplo, se nos trabalhamos com um grupo de pedreiros, é importante preparar um pedreiro para que ele seja o melhor; mas esta prioridade na formação profissional não esgota o objetivo da Educação Popular, porque existe outra prioridade ao lado dela, sem a qual aquela não funciona do nosso ponto de vista da libertação. Funciona apenas do ponto de vista da domesticação. (FREIRE, 2008, p.75) A escola existe a muitos séculos e de certa forma ela sempre foi o reflexo de sua própria sociedade; pensar um novo modelo de escola e de educação é pensar ao mesmo tempo
  • 5. 5 um novo modelo de sociedade, assim como Freire e Mariátegui pensaram o futuro da educação de seu pais, baseando-se num modelo voltado a não exclusão, há valorização da própria cultura, do senso comum, pensando e refletindo sobre aquilo que realmente faz sentido para o povo latino americano que hoje vive num sistema de “colonização do conhecimento”, onde as matrizes que são impostas a nos ditam o que realmente importa e é necessário ao desenvolvimento intelectual, social, político, econômico, etc; não levando em consideração a própria historia de cada povo. Consolidar uma pratica que seja realmente transformadora de nossa realidade social é algo imprescindível para que aconteça o resgate do projeto popular de uma educação com as classes populares, onde o processo de aprendizagem se da dentro e a partir das lutas políticas e na efetivação de um movimento comprometido com as transformações das relações de poder que estão vinculadas ao nosso sistema. Referências FREIRE, P. Pedagogia do compromisso: América Latina e Educação Popular. Indaiatuba: Villa das Letras, 2008 [Seminário Dialogando com Paulo Freire – Educação Popular na América Latina; contextualização e possibilidades nos processos de transição, p. 67-78]. PERICÁS, L. B. José Carlos Mariátegui: Educação e cultura na construção do socialismo. In: STRECK, D. R. (Org). Fontes da Pedagogia Latino-Americana: uma antologia. Belo Horizonte: Autentica, 2010. p. 247-257.