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Novos Espaços, Novos Acontecimentos: o jornalismo popular baiano e a
                      (re)construção de notícias na internet1



    Camila Teles, Daniela Neves, Jamille Ribeiro, Júnia Ortiz, Verônica Vilasboas2
       Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista, BA



Resumo

A fim de refletir a respeito dos mecanismos proporcionados pelo surgimento das novas
tecnologias na atualidade, este trabalho pretende analisar a forma como programas
televisivos de veiculação regional se dão a ver na mídia online. Para a análise,
utilizamos vídeos veiculados no site Youtube dos programas Que Venha o Povo, da TV
Aratu, afiliada do SBT, e do Se Liga Bocão,da TV Itapoan, afiliada da Rede Record.
Ambos produzidos na cidade de Salvador-BA, misturam jornalismo popular,
sensacionalismo e entretenimento. Em primeiro lugar, observamos a espetacularização
dos acontecimentos operada por estes programas e, dessa forma, estudamos como a
veiculação destes produtos na mídia online colabora para a elaboração de novos
sentidos na sociedade, com a participação do espectador no processo de construção das
informações.
Palavras-chave: jornalismo popular; mercado regional; internet.


1. Introdução
       O surgimento da Internet e da rede World Wide Web, representou uma grande
transformação no processo comunicacional. A Internet inaugurou formas de
comunicação essencialmente interativas, com a possibilidade de interação igualitária
entre todos os usuários e a liberação do pólo unidirecional emissor-receptor. Uma vez
que não exige coincidência entre o momento de enunciação e o de recepção, a Internet
rompe com o modelo tradicional do fluxo de informação. Com isso o cidadão ganha
mecanismos de participação no processo de construção das informações.
       Com o objetivo de entender a utilização destas ferramentas na construção de
sentidos no mundo contemporâneo, analisamos as veiculações de matérias dois
programas da televisão baiana no site Youtube: o Que Venha o Povo, e o Se Liga
Bocão. O Que Venha o Povo é exibido pela TV Aratu, de segunda a sexta, às 12h, com
resumo da semana aos sábados, e apresentado pelo jornalista Casemiro Neto. A TV
Aratu alcança 80% do estado da Bahia. Está no ar desde 15 de março de 1969. Desde

1
  Trabalho apresentado à disciplina Comunicação e Mercado Regional do 6º semestre do curso de
Comunicação Social/Jornalismo. Orientado pelo professor Francis José.
2
  Estudantes do 6º semestre do curso de Comunicação Social/Jornalismo.
junho de 1997 é afiliada do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Já o Se Liga Bocão,
apresentado por José Eduardo, é exibido no horário de 13h, também de segunda a sexta,
pela TV Itapoan.
       Primeiramente, analisamos a forma como se dá a transformação dos problemas
cotidianos em verdadeiros espetáculos, operada pela mídia televisiva. A partir daí,
investigamos como algumas matérias retiradas destes programas se reconstroem ao
serem expostas na internet, proporcionando a constituição de novos contornos
interpretativos.



2. Espetacularização dos Acontecimentos

       O sensacional tornou-se uma tendência crescente na sociedade atual. As
peculiaridades da vida privada têm ganhado cada vez mais espaço nos meios de
comunicação, de modo geral. O particular é alçado ao conhecimento social como algo
relevante e notório, produzindo um espetáculo de shows e entretenimento.
       O jornalista norte-americano Neal Gabler, em sua obra “Vida, o filme: como o
entretenimento conquistou a realidade”, sustenta a tese de que a indústria do
entretenimento pode ser considerada um dos maiores fenômenos da sociedade pós-
moderna. O autor defende que o entretenimento moldou e reestruturou o meio social,
especificamente a vida humana.
       Outro crítico da sociedade do espetáculo, o francês Guy Debord, também
reafirma o império da mídia na construção e representação de personagens. Em sua
concepção, o espetáculo está se tornando uma mercadoria que ocupou totalmente o
espaço da vida social, numa relação de poder e eficácia. Nessa mesma perspectiva,
Debord acrescenta:

                     A mais velha especialização social, a especialização do poder, encontra-se na
                     raiz do espetáculo. Assim, o espetáculo é uma atividade especializada que
                     responde por todas as outras. É a representação diplomática da sociedade
                     hierárquica diante de si mesma, na qual toda fala é banida. No caso, o mais
                     moderno é também o mais arcaico (DEBORD, 1997, p.20).



       O vídeo do programa “Que venha o povo”, postado no Youtube no dia 26 de
junho de 2009, ilustra como essa espetacularização é evidenciada na soma da notícia
com a dramatização dos fatos. Sob o título “Pigmeu assassino”, o vídeo foi exibido mais
de 8.000 vezes. Um anão é personagem central da narrativa, acusado de homicídio. No
decorrer dos quase três minutos de duração do post, apresentador e repórter usam
expressões como “meio metro de pura perversidade” e “anão do mal” para referir-se ao
réu. Além disso, ao longo do programa várias legendas como “anão miserável: nos
menores frascos, os piores venenos” e “meio metro de bandido: o anãozinho cruel”, vão
se sucedendo na tela.
       A espetacularização, em programas como este, vai desde o modo como o
apresentador se coloca frente às câmeras até a maneira como às notícias são construídas.
Estas, em geral, são voltadas para o deboche, independente da situação narrada. No
vídeo postado em 14 de julho de 2007, por exemplo, o personagem principal da
narrativa foi preso em flagrante ao roubar um aparelho de som automotivo. Ao longo
dos dois minutos de post, a entrevista com o acusado é conduzida ao som da música
“Larga o doce pivete”, da banda Parangolê, numa analogia ao objeto furtado pelo autor
do crime. Além disso, o repórter Zé Bim coloca-se diante do entrevistado numa postura
diferente da habitualmente adotada nesses casos. Mantém uma relação mais próxima do
acusado, “brincando” em vários momentos da entrevista. Nesse sentido, as pessoas
começaram a assumir espaços que não eram os seus e os seus verdadeiros papéis
tornaram-se roteiros para a dramaturgia. Tudo o que era vivido diretamente, tornou-se
uma representação. No sensacional, segundo Debord, o capital chegou a um grau de
acumulação que se transformou em imagem.

                        A primeira fase da dominação da economia sobra a vida social acarretou, no
                        modo de definir toda a realização humana, uma evidente degradação do ser
                        para o ter. A fase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos
                        resultados acumulados da economia, leva a um deslizamento generalizado do
                        ter para o parecer, do qual todo ‘ter’ efetivo deve extrair seu prestígio imediato
                        e sua função última. Ao mesmo tempo, toda realidade individual tornou-se
                        social, diretamente dependente da força social, moldada por ela (DEBORD,
                        1997, p.18).



       Para Debord, o espetáculo está intimamente relacionado à vida humana e, por
isso mesmo, desperta tanto interesse nos mais variados públicos. Dessa forma, diante da
separação que foi, de fato, consumada entre realidade e representação, não seria exagero
afirmar que o homem transformou-se em ator e platéia do seu próprio espetáculo. A
nossa sociedade não se apresenta senão como uma imensa acumulação de espetáculos,
diz Debord.
2.1. Descrição das matérias analisadas
       A história do sensacionalismo se confunde com a do jornalismo. Apesar de
alguns autores atribuírem a Joseph Pulitzer e William Randolp a criação da imprensa
marrom, ela está presente desde o início da imprensa. Os primeiros jornais franceses
Nouvelles Ordinairs e Gazette de France se utilizavam de notícias sensacionais pra
chamar a atenção do público.
       O estilo sensacionalista se difere do padrão a partir de algumas características.
Valorização da emoção, com discursos exagerados e dramáticos; valorização do
extraordinário, espetacular; os assuntos mais recorrentes são violência, sexo, desastres,
escândalos; a linguaguem é coloquial. Com a finalidade de chocar o público, este estilo
jornalístico não se utiliza da neutralidade, não busca o distanciamento e sim o
envolvimento. O público deve se emocionar com as histórias.
       O sensacionalismo está presente na mídia impressa, televisiva, no rádio e na
internet. Cada um dos meios usa de artifícios próprios para promover este estilo. Porém
os meios de comunicação que utilizam esses critérios são marginalizados. Tanto que
quando se quer denegrir a imagem de um meio é só chamá-lo de sensacionalista. Os
meios que utilizam o sensacionalismo pretendem aumentar a audiência e serem
populares. O público de modo geral, projeta suas próprias fantasias através do que lhes é
apresentado, personificam seus instintos.
       Na Bahia existem vários programas de televisão que se utilizam do
sensacionalismo. Exibidos no horário de meio dia, Que Venha o Povo, Se Liga Bocão e
Na Mira do SBT; Balanço Geral da Record. Interessante notar a proliferação deste tipo
de jornalismo nos programas locais da Bahia. Neste trabalho, analisaremos dois
programas: Que Venha o Povo e Se liga Bocão. Os vídeos foram tirados da internet no
site do Youtube. São duas edições do programa Que Venha o Povo e onze edições do
programa Se Liga Bocão.
       No programa Que Venha o Povo de sete de março de 2008 o assunto tratado foi
a preocupação dos moradores em relação ao barranco que ameaçava desabar. O repórter
Zé Bim gritou, pediu o apoio do prefeito, pulou no buraco que estava na rua. Ele se auto
intitula como o repórter do povo. “A gente faz o elo entre o povo e as autoridades.
Compromisso com o povo, com o lado social”, diz Zé Bim. Nos comentários, uma
pessoa se assusta ao ver Casemiro Neto no SBT. É possível notar que tanto o repórter
como Casemiro associam o sensacionalismo com o popular. Eles dizem que utilizam a
linguagem do povo e abordam assuntos da comunidade.
No dia seis de abril de dois mil e nove o programa Que Venha o povo falou
sobre um grupo de forró. O repórter Zé Bim se encantou com a dançarina, a chamou de
gostosa. Depois foi veiculada uma matéria com a dança de Zé Bim e a mulher perereca.
Casemiro afirmou que o tapa sexo da mulher perereca havia caído. Não houve
comentários. A linguagem utilizada no programa é extremamente coloquial, são
utilizadas gírias e palavras de baixo calão. O lado sensual é explorado ao mostrar
mulheres seminuas a dançar.
       O programa Se Liga Bocão de fevereiro de 2008 abordou o tema da violência do
carnaval de Salvador. O apresentador José Eduardo repetiu diversas vezes a cena de
uma briga entre dois homens. Mostrou a imagem do governador Jaques Wagner e pediu
que fosse feito alguma coisa para amenizar a violência na cidade. Ele afirmou que o
carnaval de Salvador é extremante violento. Os comentários foram bem racistas ao
denegrirem a imagem dos baianos e da Bahia. Pessoas de outros estados disseram que
os baianos eram preguiçosos, que deveriam trabalhar ao invés de irem para festas, que
são violentos.
       Em catorze de julho de dois mil e sete o programa Se Liga Bocão exibia a
seguinte chamada: os ingênuos do planeta dos macacos, eles nada sabem, nada viram.
Maconha de ninguém: dois quilos da droga sem dono. Zé Bim acusa os suspeitos de
traficarem a droga, porém estes se dizem inocentes. Os comentários acusavam os jovens
de tráfico de entorpecentes.
       No programa do dia catorze de julho o apresentador do Se Liga Bocão José
Eduardo fala sobre universitários que assassinam um policial. O repórter Zé Bim aborda
o fato de eles serem de classe média e não terem necessidade de se envolverem em
crimes. A chamada é bem sugestiva: diploma da bandidagem, universitários participam
de assassinato. Aparência de bacana, mente de bandido dos universitários do crime. Nos
comentários críticas aos baianos e aos universitários.
       Também no dia catorze de julho de dois mil e sete o programa Se Liga Bocão
discutiu sobre um jovem que foi preso em flagrante, mas negava o crime. O rapaz
recebeu um sermão de Zé Bim. Os comentários acusavam o jovem.
       Em onze de dezembro de dois mil e sete o programa trata sobre um traficante
preso. Ele aparece sem camisa e Zé Bim fala do seu porte atlético. Nos comentários
mulheres elogiando a beleza do jovem traficante.
Com as chamadas: inimigo íntimo, padrasto acusado de molestar enteada de
onze anos. Tia da garota de onze anos molestada conta detalhes do abuso. Revolta
familiar: tia da criança molestada dá sermão em acusado. O programa do dia cinco de
dezembro de dois mil e sete se inicia. A criança é entrevistada por Zé Bim e chora ao
lembrar-se do que aconteceu. Não houve comentários.
        No dia primeiro de setembro de dois mil e sete o programa relata a história de
dois homens que foram presos por roubarem Viagras de farmácias. O repórter Zé Bim
fez vários gracejos a respeito do tema e sugeriu que o cinegrafista precisava do remédio.
Nos comentários diversas piadas a respeito do Viagra.
        Em vinte e quatro de dezembro de dois mil e seis, o programa Se Liga Bocão
falou a respeito do protesto dos estudantes da Ucsal contra o aumento das mensalidades.
O apresentador José Eduardo afirmou que os estudantes pediram a presença de Zé Bim
no local. Não houve comentários.
        O programa do dia vinte e seis de junho de dois mil e nove teve as seguintes
chamadas: anão miserável, nos menores frascos os piores venenos. Meio metro de
bandido: o anãozinho cruel. O pigmeu do crime: ele vira gigante da perversidade. Ele
matou seis pessoas. O repórter Zé Bim fez várias piadas pelo fato de o criminoso ser
anão. Nos comentários gracejos sobre as piadas de Zé Bim.
        No programa do dia primeiro de setembro de dois mil e sete o tema abordado é
sobre um golpista que prometeu emprego na Petrobrás a uma mulher em troca de cento
e cinqüenta reais. Nos comentários, pessoas criticando a ingenuidade da mulher.
        No dia vinte e seis de junho de dois mil e nove o programa Se Liga Bocão teve a
seguinte chamada: Nina e Guiga duas bibas na delegacia. O apresentador José Eduardo
disse que elas fizeram amizade com Zé Bim e uma delas pediu o ombro do repórter para
chorar de arrependimento. Os comentários foram a favor dos travestis e contra os
policiais.
        A partir da análise dos vídeos é possível constatar que a linguaguem utilizada é
bastante coloquial, são utilizadas palavras de baixo calão, e sempre são usados os
mesmos bordões. A casa caiu, larga o doce pivete, estas expressões são utilizadas em
quase todos os programas analisados. Os assuntos abordados são na maioria sobre
crimes. Os acusados são entrevistados e os seus rostos são filmados. Há um exagero no
tratamento das notícias, tenta-se utilizar o tom dramático para comover o público.

3. Audiência: televisão x internet
O site de veiculação de vídeos www.youtube.com ficou conhecido mundialmente
por exibir conteúdos antes inimagináveis (até mesmo proibidos), engraçados, chocantes,
enfim qualquer gravação considerada interessante. Atualmente a população, em geral,
criou o costume de expor neste site partes de programas de televisão que tiveram
audiência elevada, ou se não obtiveram grande “sucesso” no momento da exibição na
TV, possivelmente, no Youtube terão.
       Mas então, o que significaria o termo “audiência”? De acordo com o dicionário
Michaelis audiência é: s. f. 1. Atenção que se presta a quem fala. 2. Recepção dada por
qualquer autoridade a pessoas que lhe desejam falar. 3. Grupo de ouvintes ou
espectadores de um programa de rádio ou televisão. 4. Dir. Sessão solene do tribunal.
       O significado ao qual este artigo se refere é o número três acima, para constatar
esta quantidade de pessoas o Ibope – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e
Estatística realiza o seguinte procedimento: uma amostra é traçada considerando classe
econômica, escolaridade, faixa etária, sexo e moradia. Então, algumas residências são
selecionadas e os moradores são convidados a participar da pesquisa, instalando em
suas TVs aparelhos especiais que monitoram a sintonia de canal. Essa informação
é enviada por radiofreqüência a diversas antenas espalhadas pela cidade escolhida e, por
sua vez, a enviam à central do Ibope. É importante ressaltar que cada ponto de audiência
equivale a 1% da população.
       Em nosso objeto de análise, os vídeos assistidos no Youtube demonstram, por
conta do tipo de conteúdo veiculado, o aumento do número da audiência. Fato também
justificado pelo número de visualizações no site. O vídeo mais visto no Youtube do
primeiro programa é intitulado de ‘Apresentação "Que venha o povo"’3, com 6370
exibições até a data de acesso. Já o do “Se Liga Bocão” 4, por nome “CARNAVAL EM
SALVADOR 2008 - VIOLENCIA 1º DIA”, tem cerca de 512520 visualizações. Ambos
tentam mostrar indignação diante de um fato, e assim agradar seu público alvo: a
população da baixa renda de Salvador - Bahia.


4. Globalização: regional x global

       O fenômeno da globalização traz consigo novas exigências para o mercado
comunicacional. Entendendo que esta se constitui numa das “mais básicas

3
 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=2uwEylpleIc. Acesso em: 18 de maio de 2010.
4
 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=FM7U_Rm_FaU&feature=related. Acesso em: 18 de
maio de 2010.
características das instituições modernas” (GIDDENS, 1991, p. 69). Giddens conceitua
a globalização como sendo “a intensificação das relações sociais em escala mundial,
que liga localidades distintas de tal maneira que acontecimentos locais são modelados
por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa” (GIDDENS, 1991, p.
69).

                       Assim, próximo e distante, local e global, nacional e internacional, periferia
                       e centro podem conectar-se das mais diferentes maneiras e pelos mais
                       diversos modos e pelas mais diversas razões em uma dinâmica rotacional e
                       ininterrupta. (MATOS, 2008, p. 88)



       Com essa redução das distâncias, pode-se observar como conseqüência
provocada pela globalização, pela mídia e pelo advento das novas tecnologias, uma
alteração na relação dos sujeitos com o tempo e com o espaço. “O homem, nessa
dinâmica, desterritorializa-se; desindividualiza-se e desnacionaliza-se no afã, mesmo
que inconsciente de ser um cidadão do mundo” (MATOS, 2008, p. 91). Nesse sentido, o
mundo globalizado traz influências diretas no processo de construção de significados,
visto que, segundo Hall, tempo e espaço são as coordenadas básicas de todos os
sistemas de representação.

                     Os fluxos culturais, entre nações, e o consumismo global criam possibilidades
                     de ‘identidades partilhadas’ – como ‘consumidores’ para os mesmos bens,
                     ‘clientes’ para os mesmos serviços, ‘públicos’ para as mesmas mensagens e
                     imagens – entre pessoas que estão bastante distantes umas das outras no espaço
                     e no tempo. (HALL apud TASSO, 2006, 138)



       Voltando o olhar para o nosso objeto de análise, é possível notarmos claramente
os efeitos produzidos pela globalização. Com a possibilidade de interação
proporcionada pela internet, pessoas de todo o mundo agora podem compartilhar das
mesmas mensagens, que através da televisão, só seriam veiculadas em âmbito regional.
Este fato também contribui para a criação de certos sentidos no que diz respeito à
construção da imagem sobre a Bahia.



5. Mercado regional e novas mídias

       Com o surgimento de meios de transmissão modernos e facilitadores, o ser
humano passou a ter outras necessidades e apoiar o seu desejo em aparatos eletrônicos
com tempo de vida cada vez menor. Deu-se, então, a corrida pela evolução dessas novas
mídias. Da disponibilidade mundial da World Wide Web, fundada por Tim Berners-
Lee, para o atual Ipad da Apple, foram apenas dezenove anos.
       Esse processo de evolução possibilitou a disseminação de informações,
rompendo limites antes determinados de tempo e espaço. Pessoas de diferentes países
conseguem manter contato em tempo real por meio de redes cibernéticas. E os
programas vêm se aprimorando no sentido de atenderem às necessidades da sociedade
contemporânea.
       Muitos sites e blogs foram criados ou adaptados com o intuito de informar os
internautas, deixando-os atualizados. O Youtube, invenção de Steve Chen, Jawed Karim
e Chad Hurley, surgiu em 2005, como consta no próprio site, para construir
comunidades virtuais gerenciadas por publicações de vídeos pessoais. Para divulgar um
filme basta se cadastrar no endereço web. Pode-se observar, pois, uma nova linha de
comércio para informações, dentro de interesses econômicos e políticos, ou somente em
conformidade com a sede de entretenimento da população mundial.

                       Nessa história, o momento de sucesso chegou em outubro de 2006, quando o
                       Google pagou 1,65 bilhão de dólares pelo YouTube. Em novembro de 2007,
                       ele já era o site de entretenimento mais popular do Reino Unido, com o site
                       da BBC ficando em segundo. No começo de 2008, de acordo com vários
                       serviços de medição de tráfego da web, já figurava de maneira consistente
                       entre os dez sites mais visitados do mundo. Em abril de 2008, o Youtube já
                       hospedava algo em torno de 85 milhões de vídeos, um número que representa
                       um aumento dez vezes maior em comparação ao ano anterior e que continua
                       a crescer exponencialmente. A comScore, empresa de pesquisa de mercado
                       da internet, divulgou que o serviço respondia por 37% de todos os vídeos
                       assistidos nos Estados Unidos, com o segundo maior serviço do tipo, a Fox
                       Interactive Media, ficando com apenas 4,2%. Como uma comunidade de
                       conteúdo gerado por usuários, seu tamanho gigantesco e sua popularidade
                       entre as massas eram sem precedentes. (BURGESS E GREEN, 2009, p. 18)



       O poder que é ofertado ao público de eleger vídeos com teor jornalístico para
publicação permeia uma série de fatores, os quais participam de uma rede de contextos.
Os programas Que Venha o Povo e Se Liga Bocão são publicados com sentidos
políticos, econômicos e de entretenimento mais amplos do que na televisão. Eles saem
dos padrões estabelecidos pelos donos das emissoras com o propósito de atingir uma
parte limitada da sociedade. Podemos constatar, então, uma fuga ao controle dos meios
e da cultura organizacional para um novo mundo interativo e sem fronteiras claramente
estabelecidas, já que todo o mundo pode ter contato com o vídeo.
As pessoas ganham voz e capacidade de intervir rompendo com o esquema
                       tradicional emissor-receptor, na medida em que os tradicionais receptores
                       passam agora também a emissores. Esta é uma das consequências da
                       simplificação do acesso à difusão de conteúdos na web. Mas daí a podermos
                       chamar a estes cidadãos-jornalistas ainda vai um longo caminho.
                       (RODRIGUES, 2007, p. 3)



       A posição do jornalista acaba por ser invertida, pois quem escolhe as pautas
dessa vez é o público internauta. E, além do mais, o profissional de comunicação deve
se adequar às mudanças e fazer um trabalho diferente, não mais focado para a televisão
e muito menos para o mercado regional antes estabelecido. Sabendo que estará exposto
a diversos comentários no youtube. Devemos, ainda, pensar em outro fator dos novos
meios: fragmentação do programa, que por sua vez gera novos focos de interesse. O
público elege as matérias que pretendem assistir sem precisar ver o programa por
inteiro, ao contrário do que geralmente ocorre com a tevê.

       As imagens, que antes só eram vistas pelos baianos, espetacularizam
acontecimentos e pessoas, oferecendo grande dose de deboche a figuras que preenchem
um roteiro de legendas e falas voltadas para a criação de estereótipos, os quais dizem
respeito a Bahia. Com isso, pessoas de outros estados, que já têm construído um
mosaico de imagens estereotipadas acerca dos baianos, acabam por ter as suas idéias
reafirmadas pelo programa. Uma constatação disso é o seguinte comentário feito por
vavadamere1 no mês de maio: “esses baianos além de viados preguiçosos são covardes
cambadas de filhos da puta vão caçar um tarbalho seus viadosssssssssss”.




6. Considerações finais

       A partir de seus instrumentos, a mídia tem realizado a tarefa de construir
realidades. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, ao longo dos anos,
novos mecanismos foram surgindo e modificando o consumo midiático, o que trouxe,
em conseqüência, transformações sociais, com novas formas de ação e interação. O
advento da televisão e a capacidade de unir imagem e som representaram um marco na
história da comunicação. Mais recentemente, o surgimento da internet marcou o
rompimento do universo comunicativo dando poder, espaço e voz ao leitor.
       Partindo do entendimento de que a interatividade é uma das principais diferenças
do jornalismo praticado na internet em relação aos outros meios, verificamos a
produção de novos sentidos a partir da participação dos receptores na construção das
informações. Com a possibilidade de fazer sua opinião conhecida através da postagem
na seção de comentários que acompanha cada matéria veiculada no Youtube, cria-se um
ambiente de troca, o que modifica a maneira como as mensagens serão compreendidas
por leitores posteriores. Também verificamos como a mídia regional tem se adequado a
esse novo ambiente de interações, levando as produções regionais ao conhecimento de
um público em escala mundial.
       Não podemos deixar de observar como os cidadãos comuns estão sendo
representados na mídia. Discutimos a respeito da espetacularização e, a partir daí,
percebemos que existe, por parte destes programas, uma exploração da imagem do
sujeito criminoso, estabelecendo certas significações que circulam e se proliferam na
esfera midiática. Dessa forma, essa abertura para o mundo, possibilitada pelo meio
online, transporta os espetáculos televisivos para a internet, reforçando imaginários no
meio social.


7. Referências

BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. Youtube e a revolução digital. Trad. Ricardo
Giassetti. São Paulo: Aleph, 2009.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de
Janeiro: Contraponto,1997.

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. Trad. Raul Fiker. São
Paulo: UNESP, 1991.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu
da Silva, Guaracira Lopes Louro. 4ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

MATOS, Raimundo Lopes. Pós-modernidade – O sólido se desmancha, o eterno é
provisório, o futuro é presente. In: LEMOS, Maria Teresa Toríbio Brittes (org.).
América Latina: identidades em construção. Das sociedades tradicionais a
globalização. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, pp. 83-97.

Observatório            da          Imprensa.             Disponível       em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=352JDB005. Acesso em:
23 de maio de 2010.

PINHO, J. B. Jornalismo na Internet – Planejamento e produção da informação on-
line. São Paulo: Summus, 2003.
RODRIGUES, Catarina. A presença do YouTube nos media – razões e
consequências. BOCC – Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação:
http://www.bocc.ubi.pt. Acesso em: 23 de maio de 2010.

TASSO, Ismara Eliane Vidal de Souza. Mídia televisiva e políticas públicas de inclusão
na pós-modernidade: igualdade, solidariedade e cidadania. In: NAVARRO, Pedro (org.)
Estudos do texto e do Discurso. Mapeando Conceitos e Métodos. São Carlos:
Claraluz, 2006, pp. 129-149.

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  • 1. Novos Espaços, Novos Acontecimentos: o jornalismo popular baiano e a (re)construção de notícias na internet1 Camila Teles, Daniela Neves, Jamille Ribeiro, Júnia Ortiz, Verônica Vilasboas2 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista, BA Resumo A fim de refletir a respeito dos mecanismos proporcionados pelo surgimento das novas tecnologias na atualidade, este trabalho pretende analisar a forma como programas televisivos de veiculação regional se dão a ver na mídia online. Para a análise, utilizamos vídeos veiculados no site Youtube dos programas Que Venha o Povo, da TV Aratu, afiliada do SBT, e do Se Liga Bocão,da TV Itapoan, afiliada da Rede Record. Ambos produzidos na cidade de Salvador-BA, misturam jornalismo popular, sensacionalismo e entretenimento. Em primeiro lugar, observamos a espetacularização dos acontecimentos operada por estes programas e, dessa forma, estudamos como a veiculação destes produtos na mídia online colabora para a elaboração de novos sentidos na sociedade, com a participação do espectador no processo de construção das informações. Palavras-chave: jornalismo popular; mercado regional; internet. 1. Introdução O surgimento da Internet e da rede World Wide Web, representou uma grande transformação no processo comunicacional. A Internet inaugurou formas de comunicação essencialmente interativas, com a possibilidade de interação igualitária entre todos os usuários e a liberação do pólo unidirecional emissor-receptor. Uma vez que não exige coincidência entre o momento de enunciação e o de recepção, a Internet rompe com o modelo tradicional do fluxo de informação. Com isso o cidadão ganha mecanismos de participação no processo de construção das informações. Com o objetivo de entender a utilização destas ferramentas na construção de sentidos no mundo contemporâneo, analisamos as veiculações de matérias dois programas da televisão baiana no site Youtube: o Que Venha o Povo, e o Se Liga Bocão. O Que Venha o Povo é exibido pela TV Aratu, de segunda a sexta, às 12h, com resumo da semana aos sábados, e apresentado pelo jornalista Casemiro Neto. A TV Aratu alcança 80% do estado da Bahia. Está no ar desde 15 de março de 1969. Desde 1 Trabalho apresentado à disciplina Comunicação e Mercado Regional do 6º semestre do curso de Comunicação Social/Jornalismo. Orientado pelo professor Francis José. 2 Estudantes do 6º semestre do curso de Comunicação Social/Jornalismo.
  • 2. junho de 1997 é afiliada do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Já o Se Liga Bocão, apresentado por José Eduardo, é exibido no horário de 13h, também de segunda a sexta, pela TV Itapoan. Primeiramente, analisamos a forma como se dá a transformação dos problemas cotidianos em verdadeiros espetáculos, operada pela mídia televisiva. A partir daí, investigamos como algumas matérias retiradas destes programas se reconstroem ao serem expostas na internet, proporcionando a constituição de novos contornos interpretativos. 2. Espetacularização dos Acontecimentos O sensacional tornou-se uma tendência crescente na sociedade atual. As peculiaridades da vida privada têm ganhado cada vez mais espaço nos meios de comunicação, de modo geral. O particular é alçado ao conhecimento social como algo relevante e notório, produzindo um espetáculo de shows e entretenimento. O jornalista norte-americano Neal Gabler, em sua obra “Vida, o filme: como o entretenimento conquistou a realidade”, sustenta a tese de que a indústria do entretenimento pode ser considerada um dos maiores fenômenos da sociedade pós- moderna. O autor defende que o entretenimento moldou e reestruturou o meio social, especificamente a vida humana. Outro crítico da sociedade do espetáculo, o francês Guy Debord, também reafirma o império da mídia na construção e representação de personagens. Em sua concepção, o espetáculo está se tornando uma mercadoria que ocupou totalmente o espaço da vida social, numa relação de poder e eficácia. Nessa mesma perspectiva, Debord acrescenta: A mais velha especialização social, a especialização do poder, encontra-se na raiz do espetáculo. Assim, o espetáculo é uma atividade especializada que responde por todas as outras. É a representação diplomática da sociedade hierárquica diante de si mesma, na qual toda fala é banida. No caso, o mais moderno é também o mais arcaico (DEBORD, 1997, p.20). O vídeo do programa “Que venha o povo”, postado no Youtube no dia 26 de junho de 2009, ilustra como essa espetacularização é evidenciada na soma da notícia com a dramatização dos fatos. Sob o título “Pigmeu assassino”, o vídeo foi exibido mais de 8.000 vezes. Um anão é personagem central da narrativa, acusado de homicídio. No
  • 3. decorrer dos quase três minutos de duração do post, apresentador e repórter usam expressões como “meio metro de pura perversidade” e “anão do mal” para referir-se ao réu. Além disso, ao longo do programa várias legendas como “anão miserável: nos menores frascos, os piores venenos” e “meio metro de bandido: o anãozinho cruel”, vão se sucedendo na tela. A espetacularização, em programas como este, vai desde o modo como o apresentador se coloca frente às câmeras até a maneira como às notícias são construídas. Estas, em geral, são voltadas para o deboche, independente da situação narrada. No vídeo postado em 14 de julho de 2007, por exemplo, o personagem principal da narrativa foi preso em flagrante ao roubar um aparelho de som automotivo. Ao longo dos dois minutos de post, a entrevista com o acusado é conduzida ao som da música “Larga o doce pivete”, da banda Parangolê, numa analogia ao objeto furtado pelo autor do crime. Além disso, o repórter Zé Bim coloca-se diante do entrevistado numa postura diferente da habitualmente adotada nesses casos. Mantém uma relação mais próxima do acusado, “brincando” em vários momentos da entrevista. Nesse sentido, as pessoas começaram a assumir espaços que não eram os seus e os seus verdadeiros papéis tornaram-se roteiros para a dramaturgia. Tudo o que era vivido diretamente, tornou-se uma representação. No sensacional, segundo Debord, o capital chegou a um grau de acumulação que se transformou em imagem. A primeira fase da dominação da economia sobra a vida social acarretou, no modo de definir toda a realização humana, uma evidente degradação do ser para o ter. A fase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos resultados acumulados da economia, leva a um deslizamento generalizado do ter para o parecer, do qual todo ‘ter’ efetivo deve extrair seu prestígio imediato e sua função última. Ao mesmo tempo, toda realidade individual tornou-se social, diretamente dependente da força social, moldada por ela (DEBORD, 1997, p.18). Para Debord, o espetáculo está intimamente relacionado à vida humana e, por isso mesmo, desperta tanto interesse nos mais variados públicos. Dessa forma, diante da separação que foi, de fato, consumada entre realidade e representação, não seria exagero afirmar que o homem transformou-se em ator e platéia do seu próprio espetáculo. A nossa sociedade não se apresenta senão como uma imensa acumulação de espetáculos, diz Debord.
  • 4. 2.1. Descrição das matérias analisadas A história do sensacionalismo se confunde com a do jornalismo. Apesar de alguns autores atribuírem a Joseph Pulitzer e William Randolp a criação da imprensa marrom, ela está presente desde o início da imprensa. Os primeiros jornais franceses Nouvelles Ordinairs e Gazette de France se utilizavam de notícias sensacionais pra chamar a atenção do público. O estilo sensacionalista se difere do padrão a partir de algumas características. Valorização da emoção, com discursos exagerados e dramáticos; valorização do extraordinário, espetacular; os assuntos mais recorrentes são violência, sexo, desastres, escândalos; a linguaguem é coloquial. Com a finalidade de chocar o público, este estilo jornalístico não se utiliza da neutralidade, não busca o distanciamento e sim o envolvimento. O público deve se emocionar com as histórias. O sensacionalismo está presente na mídia impressa, televisiva, no rádio e na internet. Cada um dos meios usa de artifícios próprios para promover este estilo. Porém os meios de comunicação que utilizam esses critérios são marginalizados. Tanto que quando se quer denegrir a imagem de um meio é só chamá-lo de sensacionalista. Os meios que utilizam o sensacionalismo pretendem aumentar a audiência e serem populares. O público de modo geral, projeta suas próprias fantasias através do que lhes é apresentado, personificam seus instintos. Na Bahia existem vários programas de televisão que se utilizam do sensacionalismo. Exibidos no horário de meio dia, Que Venha o Povo, Se Liga Bocão e Na Mira do SBT; Balanço Geral da Record. Interessante notar a proliferação deste tipo de jornalismo nos programas locais da Bahia. Neste trabalho, analisaremos dois programas: Que Venha o Povo e Se liga Bocão. Os vídeos foram tirados da internet no site do Youtube. São duas edições do programa Que Venha o Povo e onze edições do programa Se Liga Bocão. No programa Que Venha o Povo de sete de março de 2008 o assunto tratado foi a preocupação dos moradores em relação ao barranco que ameaçava desabar. O repórter Zé Bim gritou, pediu o apoio do prefeito, pulou no buraco que estava na rua. Ele se auto intitula como o repórter do povo. “A gente faz o elo entre o povo e as autoridades. Compromisso com o povo, com o lado social”, diz Zé Bim. Nos comentários, uma pessoa se assusta ao ver Casemiro Neto no SBT. É possível notar que tanto o repórter como Casemiro associam o sensacionalismo com o popular. Eles dizem que utilizam a linguagem do povo e abordam assuntos da comunidade.
  • 5. No dia seis de abril de dois mil e nove o programa Que Venha o povo falou sobre um grupo de forró. O repórter Zé Bim se encantou com a dançarina, a chamou de gostosa. Depois foi veiculada uma matéria com a dança de Zé Bim e a mulher perereca. Casemiro afirmou que o tapa sexo da mulher perereca havia caído. Não houve comentários. A linguagem utilizada no programa é extremamente coloquial, são utilizadas gírias e palavras de baixo calão. O lado sensual é explorado ao mostrar mulheres seminuas a dançar. O programa Se Liga Bocão de fevereiro de 2008 abordou o tema da violência do carnaval de Salvador. O apresentador José Eduardo repetiu diversas vezes a cena de uma briga entre dois homens. Mostrou a imagem do governador Jaques Wagner e pediu que fosse feito alguma coisa para amenizar a violência na cidade. Ele afirmou que o carnaval de Salvador é extremante violento. Os comentários foram bem racistas ao denegrirem a imagem dos baianos e da Bahia. Pessoas de outros estados disseram que os baianos eram preguiçosos, que deveriam trabalhar ao invés de irem para festas, que são violentos. Em catorze de julho de dois mil e sete o programa Se Liga Bocão exibia a seguinte chamada: os ingênuos do planeta dos macacos, eles nada sabem, nada viram. Maconha de ninguém: dois quilos da droga sem dono. Zé Bim acusa os suspeitos de traficarem a droga, porém estes se dizem inocentes. Os comentários acusavam os jovens de tráfico de entorpecentes. No programa do dia catorze de julho o apresentador do Se Liga Bocão José Eduardo fala sobre universitários que assassinam um policial. O repórter Zé Bim aborda o fato de eles serem de classe média e não terem necessidade de se envolverem em crimes. A chamada é bem sugestiva: diploma da bandidagem, universitários participam de assassinato. Aparência de bacana, mente de bandido dos universitários do crime. Nos comentários críticas aos baianos e aos universitários. Também no dia catorze de julho de dois mil e sete o programa Se Liga Bocão discutiu sobre um jovem que foi preso em flagrante, mas negava o crime. O rapaz recebeu um sermão de Zé Bim. Os comentários acusavam o jovem. Em onze de dezembro de dois mil e sete o programa trata sobre um traficante preso. Ele aparece sem camisa e Zé Bim fala do seu porte atlético. Nos comentários mulheres elogiando a beleza do jovem traficante.
  • 6. Com as chamadas: inimigo íntimo, padrasto acusado de molestar enteada de onze anos. Tia da garota de onze anos molestada conta detalhes do abuso. Revolta familiar: tia da criança molestada dá sermão em acusado. O programa do dia cinco de dezembro de dois mil e sete se inicia. A criança é entrevistada por Zé Bim e chora ao lembrar-se do que aconteceu. Não houve comentários. No dia primeiro de setembro de dois mil e sete o programa relata a história de dois homens que foram presos por roubarem Viagras de farmácias. O repórter Zé Bim fez vários gracejos a respeito do tema e sugeriu que o cinegrafista precisava do remédio. Nos comentários diversas piadas a respeito do Viagra. Em vinte e quatro de dezembro de dois mil e seis, o programa Se Liga Bocão falou a respeito do protesto dos estudantes da Ucsal contra o aumento das mensalidades. O apresentador José Eduardo afirmou que os estudantes pediram a presença de Zé Bim no local. Não houve comentários. O programa do dia vinte e seis de junho de dois mil e nove teve as seguintes chamadas: anão miserável, nos menores frascos os piores venenos. Meio metro de bandido: o anãozinho cruel. O pigmeu do crime: ele vira gigante da perversidade. Ele matou seis pessoas. O repórter Zé Bim fez várias piadas pelo fato de o criminoso ser anão. Nos comentários gracejos sobre as piadas de Zé Bim. No programa do dia primeiro de setembro de dois mil e sete o tema abordado é sobre um golpista que prometeu emprego na Petrobrás a uma mulher em troca de cento e cinqüenta reais. Nos comentários, pessoas criticando a ingenuidade da mulher. No dia vinte e seis de junho de dois mil e nove o programa Se Liga Bocão teve a seguinte chamada: Nina e Guiga duas bibas na delegacia. O apresentador José Eduardo disse que elas fizeram amizade com Zé Bim e uma delas pediu o ombro do repórter para chorar de arrependimento. Os comentários foram a favor dos travestis e contra os policiais. A partir da análise dos vídeos é possível constatar que a linguaguem utilizada é bastante coloquial, são utilizadas palavras de baixo calão, e sempre são usados os mesmos bordões. A casa caiu, larga o doce pivete, estas expressões são utilizadas em quase todos os programas analisados. Os assuntos abordados são na maioria sobre crimes. Os acusados são entrevistados e os seus rostos são filmados. Há um exagero no tratamento das notícias, tenta-se utilizar o tom dramático para comover o público. 3. Audiência: televisão x internet
  • 7. O site de veiculação de vídeos www.youtube.com ficou conhecido mundialmente por exibir conteúdos antes inimagináveis (até mesmo proibidos), engraçados, chocantes, enfim qualquer gravação considerada interessante. Atualmente a população, em geral, criou o costume de expor neste site partes de programas de televisão que tiveram audiência elevada, ou se não obtiveram grande “sucesso” no momento da exibição na TV, possivelmente, no Youtube terão. Mas então, o que significaria o termo “audiência”? De acordo com o dicionário Michaelis audiência é: s. f. 1. Atenção que se presta a quem fala. 2. Recepção dada por qualquer autoridade a pessoas que lhe desejam falar. 3. Grupo de ouvintes ou espectadores de um programa de rádio ou televisão. 4. Dir. Sessão solene do tribunal. O significado ao qual este artigo se refere é o número três acima, para constatar esta quantidade de pessoas o Ibope – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística realiza o seguinte procedimento: uma amostra é traçada considerando classe econômica, escolaridade, faixa etária, sexo e moradia. Então, algumas residências são selecionadas e os moradores são convidados a participar da pesquisa, instalando em suas TVs aparelhos especiais que monitoram a sintonia de canal. Essa informação é enviada por radiofreqüência a diversas antenas espalhadas pela cidade escolhida e, por sua vez, a enviam à central do Ibope. É importante ressaltar que cada ponto de audiência equivale a 1% da população. Em nosso objeto de análise, os vídeos assistidos no Youtube demonstram, por conta do tipo de conteúdo veiculado, o aumento do número da audiência. Fato também justificado pelo número de visualizações no site. O vídeo mais visto no Youtube do primeiro programa é intitulado de ‘Apresentação "Que venha o povo"’3, com 6370 exibições até a data de acesso. Já o do “Se Liga Bocão” 4, por nome “CARNAVAL EM SALVADOR 2008 - VIOLENCIA 1º DIA”, tem cerca de 512520 visualizações. Ambos tentam mostrar indignação diante de um fato, e assim agradar seu público alvo: a população da baixa renda de Salvador - Bahia. 4. Globalização: regional x global O fenômeno da globalização traz consigo novas exigências para o mercado comunicacional. Entendendo que esta se constitui numa das “mais básicas 3 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=2uwEylpleIc. Acesso em: 18 de maio de 2010. 4 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=FM7U_Rm_FaU&feature=related. Acesso em: 18 de maio de 2010.
  • 8. características das instituições modernas” (GIDDENS, 1991, p. 69). Giddens conceitua a globalização como sendo “a intensificação das relações sociais em escala mundial, que liga localidades distintas de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa” (GIDDENS, 1991, p. 69). Assim, próximo e distante, local e global, nacional e internacional, periferia e centro podem conectar-se das mais diferentes maneiras e pelos mais diversos modos e pelas mais diversas razões em uma dinâmica rotacional e ininterrupta. (MATOS, 2008, p. 88) Com essa redução das distâncias, pode-se observar como conseqüência provocada pela globalização, pela mídia e pelo advento das novas tecnologias, uma alteração na relação dos sujeitos com o tempo e com o espaço. “O homem, nessa dinâmica, desterritorializa-se; desindividualiza-se e desnacionaliza-se no afã, mesmo que inconsciente de ser um cidadão do mundo” (MATOS, 2008, p. 91). Nesse sentido, o mundo globalizado traz influências diretas no processo de construção de significados, visto que, segundo Hall, tempo e espaço são as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação. Os fluxos culturais, entre nações, e o consumismo global criam possibilidades de ‘identidades partilhadas’ – como ‘consumidores’ para os mesmos bens, ‘clientes’ para os mesmos serviços, ‘públicos’ para as mesmas mensagens e imagens – entre pessoas que estão bastante distantes umas das outras no espaço e no tempo. (HALL apud TASSO, 2006, 138) Voltando o olhar para o nosso objeto de análise, é possível notarmos claramente os efeitos produzidos pela globalização. Com a possibilidade de interação proporcionada pela internet, pessoas de todo o mundo agora podem compartilhar das mesmas mensagens, que através da televisão, só seriam veiculadas em âmbito regional. Este fato também contribui para a criação de certos sentidos no que diz respeito à construção da imagem sobre a Bahia. 5. Mercado regional e novas mídias Com o surgimento de meios de transmissão modernos e facilitadores, o ser humano passou a ter outras necessidades e apoiar o seu desejo em aparatos eletrônicos com tempo de vida cada vez menor. Deu-se, então, a corrida pela evolução dessas novas
  • 9. mídias. Da disponibilidade mundial da World Wide Web, fundada por Tim Berners- Lee, para o atual Ipad da Apple, foram apenas dezenove anos. Esse processo de evolução possibilitou a disseminação de informações, rompendo limites antes determinados de tempo e espaço. Pessoas de diferentes países conseguem manter contato em tempo real por meio de redes cibernéticas. E os programas vêm se aprimorando no sentido de atenderem às necessidades da sociedade contemporânea. Muitos sites e blogs foram criados ou adaptados com o intuito de informar os internautas, deixando-os atualizados. O Youtube, invenção de Steve Chen, Jawed Karim e Chad Hurley, surgiu em 2005, como consta no próprio site, para construir comunidades virtuais gerenciadas por publicações de vídeos pessoais. Para divulgar um filme basta se cadastrar no endereço web. Pode-se observar, pois, uma nova linha de comércio para informações, dentro de interesses econômicos e políticos, ou somente em conformidade com a sede de entretenimento da população mundial. Nessa história, o momento de sucesso chegou em outubro de 2006, quando o Google pagou 1,65 bilhão de dólares pelo YouTube. Em novembro de 2007, ele já era o site de entretenimento mais popular do Reino Unido, com o site da BBC ficando em segundo. No começo de 2008, de acordo com vários serviços de medição de tráfego da web, já figurava de maneira consistente entre os dez sites mais visitados do mundo. Em abril de 2008, o Youtube já hospedava algo em torno de 85 milhões de vídeos, um número que representa um aumento dez vezes maior em comparação ao ano anterior e que continua a crescer exponencialmente. A comScore, empresa de pesquisa de mercado da internet, divulgou que o serviço respondia por 37% de todos os vídeos assistidos nos Estados Unidos, com o segundo maior serviço do tipo, a Fox Interactive Media, ficando com apenas 4,2%. Como uma comunidade de conteúdo gerado por usuários, seu tamanho gigantesco e sua popularidade entre as massas eram sem precedentes. (BURGESS E GREEN, 2009, p. 18) O poder que é ofertado ao público de eleger vídeos com teor jornalístico para publicação permeia uma série de fatores, os quais participam de uma rede de contextos. Os programas Que Venha o Povo e Se Liga Bocão são publicados com sentidos políticos, econômicos e de entretenimento mais amplos do que na televisão. Eles saem dos padrões estabelecidos pelos donos das emissoras com o propósito de atingir uma parte limitada da sociedade. Podemos constatar, então, uma fuga ao controle dos meios e da cultura organizacional para um novo mundo interativo e sem fronteiras claramente estabelecidas, já que todo o mundo pode ter contato com o vídeo.
  • 10. As pessoas ganham voz e capacidade de intervir rompendo com o esquema tradicional emissor-receptor, na medida em que os tradicionais receptores passam agora também a emissores. Esta é uma das consequências da simplificação do acesso à difusão de conteúdos na web. Mas daí a podermos chamar a estes cidadãos-jornalistas ainda vai um longo caminho. (RODRIGUES, 2007, p. 3) A posição do jornalista acaba por ser invertida, pois quem escolhe as pautas dessa vez é o público internauta. E, além do mais, o profissional de comunicação deve se adequar às mudanças e fazer um trabalho diferente, não mais focado para a televisão e muito menos para o mercado regional antes estabelecido. Sabendo que estará exposto a diversos comentários no youtube. Devemos, ainda, pensar em outro fator dos novos meios: fragmentação do programa, que por sua vez gera novos focos de interesse. O público elege as matérias que pretendem assistir sem precisar ver o programa por inteiro, ao contrário do que geralmente ocorre com a tevê. As imagens, que antes só eram vistas pelos baianos, espetacularizam acontecimentos e pessoas, oferecendo grande dose de deboche a figuras que preenchem um roteiro de legendas e falas voltadas para a criação de estereótipos, os quais dizem respeito a Bahia. Com isso, pessoas de outros estados, que já têm construído um mosaico de imagens estereotipadas acerca dos baianos, acabam por ter as suas idéias reafirmadas pelo programa. Uma constatação disso é o seguinte comentário feito por vavadamere1 no mês de maio: “esses baianos além de viados preguiçosos são covardes cambadas de filhos da puta vão caçar um tarbalho seus viadosssssssssss”. 6. Considerações finais A partir de seus instrumentos, a mídia tem realizado a tarefa de construir realidades. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, ao longo dos anos, novos mecanismos foram surgindo e modificando o consumo midiático, o que trouxe, em conseqüência, transformações sociais, com novas formas de ação e interação. O advento da televisão e a capacidade de unir imagem e som representaram um marco na história da comunicação. Mais recentemente, o surgimento da internet marcou o rompimento do universo comunicativo dando poder, espaço e voz ao leitor. Partindo do entendimento de que a interatividade é uma das principais diferenças do jornalismo praticado na internet em relação aos outros meios, verificamos a
  • 11. produção de novos sentidos a partir da participação dos receptores na construção das informações. Com a possibilidade de fazer sua opinião conhecida através da postagem na seção de comentários que acompanha cada matéria veiculada no Youtube, cria-se um ambiente de troca, o que modifica a maneira como as mensagens serão compreendidas por leitores posteriores. Também verificamos como a mídia regional tem se adequado a esse novo ambiente de interações, levando as produções regionais ao conhecimento de um público em escala mundial. Não podemos deixar de observar como os cidadãos comuns estão sendo representados na mídia. Discutimos a respeito da espetacularização e, a partir daí, percebemos que existe, por parte destes programas, uma exploração da imagem do sujeito criminoso, estabelecendo certas significações que circulam e se proliferam na esfera midiática. Dessa forma, essa abertura para o mundo, possibilitada pelo meio online, transporta os espetáculos televisivos para a internet, reforçando imaginários no meio social. 7. Referências BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. Youtube e a revolução digital. Trad. Ricardo Giassetti. São Paulo: Aleph, 2009. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto,1997. GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. Trad. Raul Fiker. São Paulo: UNESP, 1991. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 4ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. MATOS, Raimundo Lopes. Pós-modernidade – O sólido se desmancha, o eterno é provisório, o futuro é presente. In: LEMOS, Maria Teresa Toríbio Brittes (org.). América Latina: identidades em construção. Das sociedades tradicionais a globalização. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, pp. 83-97. Observatório da Imprensa. Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=352JDB005. Acesso em: 23 de maio de 2010. PINHO, J. B. Jornalismo na Internet – Planejamento e produção da informação on- line. São Paulo: Summus, 2003.
  • 12. RODRIGUES, Catarina. A presença do YouTube nos media – razões e consequências. BOCC – Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação: http://www.bocc.ubi.pt. Acesso em: 23 de maio de 2010. TASSO, Ismara Eliane Vidal de Souza. Mídia televisiva e políticas públicas de inclusão na pós-modernidade: igualdade, solidariedade e cidadania. In: NAVARRO, Pedro (org.) Estudos do texto e do Discurso. Mapeando Conceitos e Métodos. São Carlos: Claraluz, 2006, pp. 129-149.