Este documento discute questões ambientais urgentes como as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e o impacto da atividade humana no planeta. Aponta que as sociedades humanas estão causando alterações climáticas 170 vezes mais rápidas do que as causas naturais e levando a uma extinção em massa de espécies. Também critica as políticas e práticas que contribuem para a degradação ambiental em Portugal e no mundo, como a pecuária industrial e a energia nuclear. Defende uma mudança para um modelo de desenvolvimento
Incêndios florestais tragédia, insensibilidade e irresponsabilidade
Onde é que nos encontramos para aonde estamos a ir e onde devemos estar
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Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
Onde é que nos encontramos,
para aonde estamos a ir
e onde devemos estar
Texto e Fotos_Jorge Moreira [Ambientalista e Investigador]
Uma responsabilidade verdadeiramente planetária: o reconhecimento do facto de que todos nós
que partilhamos o planeta dependemos uns dos outros para o nosso presente e futuro.
Nada do que façamos ou deixemos de fazer pode ser indiferente para o destino de todos os
outros. Nenhum de nós pode mais procurar e encontrar um refúgio privado para tormentas que
se podem originar em qualquer parte do globo.
Zygmunt Bauman, A Vida Líquida
Foto_Maria Augusta Pinto
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AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
A palavra do ano de 2016, escolhida pelos
dicionários britânicos Oxford, foi a pós-ver-
dade. Trata-se de um adjetivo que reflete as
circunstâncias em que os factos objetivos
têm menos influência na formação da opinião
pública do que os apelos emocionais e as
opiniões pessoais. A escolha desta palavra
foi motivada pelo referendo Brexit no Reino
Unido e a eleição presidencial nos Estados
Unidos da América. De facto, assistimos
a um mundo onde a mentira, a censura
científica, a ocultação e a construção de
uma narrativa alternativa à verdade, tem sido
utilizadas frequentemente por muitos políticos
controladores e empresas irresponsáveis, que
querem continuar a aumentar a sua influência,
poder e lucro, sem olhar às consequências
que poderão advir para a saúde e o bem-es-
tar de seres humanos, animais e dos outros
seres vivos, bem como para a natureza como
um todo. Há um ataque generalizado à vida
e à qualidade de vida humana, exceto para
uma pequeníssima franja de seres humanos,
que vive à custa da miséria de outros seres
humanos e da exploração da natureza. Uma
grupo que invade, que separa, que mata e
pretende perpetuar o sistema que é baseado
numa economia irreal feita à sua medida, que
não contabiliza as externalidades, nem os
limites, nem o sofrimento e é, de certa forma,
corresponsável pelo atraso civilizacional que
ainda vivemos em pleno século XXI. Enten-
da-se civilização, não na sua materialidade
tecnológica, mas como um estado evolutivo
da sociedade global, fundada na cidadania, na
liberdade, na equidade, na solidariedade, na
justiça, na partilha e na colaboração. O desa-
broçar da humanidade que habita ou deveria
habitar em cada um de nós. Humanidade que
é sinónimo de sabedoria, compaixão, respeito
pelas outras formas de vida e que cuida da na-
tureza à qual faz parte. Tantas vezes ouvimos
a pergunta: onde está a tua humanidade? E se
colocássemos a mesma questão à civilização
atual?
Numa análise coerente, verificaríamos que o
resultado da atividade desta civilização à qual
pertencemos, envergonha a essência da hu-
manidade. Seres humanos reféns de um siste-
ma que absorve grande parte das suas vidas,
animais sensíveis tratados pior que objectos
inanimados e a natureza, que é fonte e suporte
de toda a vida, é explorada e envenenada.
Parece que somos alienados da realidade,
que não somos a própria natureza e que os
animais não sofrem ou não são nossos irmãos
na cadeia evolutiva terrestre. Perpetuamos
práticas culturais absurdas. Inventamos men-
tiras para continuar a escravidão, a selvageria
e a destruição. Entretanto, segundo os dados
das organizações Acción Contra El Hambre
e Save The Children, estima-se que 8500
crianças morram por dia por causa de des-
nutrição severa e segundo as Nações Unidas,
o ano de 2015 estabeleceu um novo recorde
de 65,3 milhões de refugiados e deslocados,
que foram obrigados a deixar suas casas ou
os seus países de origem, na sequência de
guerras e perseguições. Muitos fizeram-no
sobre condições inimagináveis, percorrendo
milhares de quilómetros, atravessando mares
e paredes xenófobas e continuam a viver em
estado de sítio. Paralelamente, segundo a
ADAPTT, com dados da FAO, são abatidos
por ano mais de 150 mil milhões de animais
para consumo humano. Muitos desses
animais tiveram uma vida miserável e sofrida
às mãos de seres humanos crueis que os
exploraram. Para além disto, está em curso
a sexta extinção em massa, que levará cerca
de 75% das espécies. Somos uma força geo-
lógica destrutiva! Mas não queremos saber
ou não damos importância a estes dados.
Estamos domesticados pela elite e conti-
nuamos a nossa vidinha diária, a iludirmos
uns aos outros de que somos civilizados e a
acreditarmos que a tecnociência irá resolver
todos os nossos males, independentemente
do nosso comportamento ou das nossas
escolhas. A pós-verdade é o lugar comum da
nossa sociedade.
Ambiente – alguns dados
preocupantes
Num estudo realizado por investigadores
climáticos da Australian National University,
sobre a direção do Professor Will Steffen,
que tiveram a proeza de desenvolver uma
equação matemática que descreve o impacto
da atividade humana na Terra, chegaram à
conclusão de que a nossa sociedade está a
causar alterações climáticas 170 vezes mais
rápidas do que as causas naturais. Este es-
tudo é muito importante, porque vem provar
que as alterações climáticas antropogénicas
são uma realidade e não uma consequência
natural, como alguns políticos querem fazer
querer. Diz Steffen a propósito: nós não es-
tamos a dizer que as forças astronómicas do
nosso sistema solar ou os processos geológi-
cos desapareceram, mas em termos do seu
impacto num período tão pequeno de tempo,
são agora negligênciáveis comparativamente
à nossa influência. São estas alterações
climáticas que Steffen fala que são a maior
ameaça à vida na Terra, nomeadamente para
o futuro da Humanidade e, especialmente,
quando olhamos para as concentrações de
CO2
na atmosfera e assistimos a um aumento
progressivo, desde a revolução industrial, de
cerca de 280 ppm para 400 ppm e os valores
continuam a crescer. Com estas taxas, os
oceanos estão num processo de acidificação,
tornando a situação mais ainda grave. Mas,
infelizmente, o problema não encerra aqui.
A nossa insensibilidade e ganância doentia
fragmentou os habitats da vida selvagem,
asfixiando-os a cerca de 25% do território
terrestre sem gelo. Como resultado, temos
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taxas de extinção de espécies dramáticas e
a situação, embora conhecida por todos, con-
tinua a piorar. A diretora-geral da UICN, Inger
Anderson, aquando da atualização da Lista
Vermelha (2016), comunicou: a crise mundial
da extinção de espécies pode ser maior do
que aquilo que pensamos. Esta preocupa-
ção transcreve a gravidade da situação e o
profundo impacto antropogénico nas outras
espécies que habitam o nosso planeta.
Os dados recentemente apresentados co-
locam Portugal num desprestigiante quatro
lugar entre os países da Europa com mais
espécies ameaçadas. E o que fazemos? Insis-
timos em políticas e práticas obsoletas, como
a construção de barragens em locais sensíveis
na perpectiva da conservação da natureza,
quando os outros países estão a renaturalizar
os seus cursos de água; apostamos em con-
traciclo energético nos furos de propesção
de hidrocarbonetos, em zonas turísticas por
excelência, colocando em perigo não só o
ambiente, mas toda uma atividade económica
regional altamente lucrativa; substituimos a
floresta autóctone rica em biodiversidade pela
monocultura de uma exótica, o eucalipto, com
a agravante de ser mais suscetível no que
respeita à questão dos incêndios florestais; e
contaminamos solos e rios. Nem o Tejo, que
é o rio mais extenso da Península Ibérica e
passa pela nossa capital, escapou à atividade
industrial envolvente e encontra-se em muitos
locais ferido de morte. Onde está a justiça que
sentenceia os prevaricadores? Paralelamente,
deixamos de fornecer os meios necessários
à conservação das nossas áreas naturais
protegidas, deixamos que as exóticas e as
infestantes proliferem e continuamos na senda
do urbanismo caótico e do desrespeito pela
beleza da nossa paisagem natural. Ainda
somos um belíssimo espaço plantado à beira
mar, mas deixaremos de o ser se continuar-
mos na senda do betão, do papel e do furo.
Almaraz e Fukushima
Interligando escalas nacionais, regionais e
globais, os ambientalistas ibéricos lutam lado
a lado pelo encerramento da central nuclear
de Almaraz, cujo prazo de validade teria sido
2010, mas, entretanto, foi alargado até 2020. O
problema foi exarcebado nas últimas semanas
devido à intenção do governo espanhol em
construir um armazém de resíduos nucleares
anexo. Instalou-se um caso diplomático
entre os dois países, especialmente porque
Portugal nunca apostou (e muito bem) neste
tipo de tecnologias e pode vir a ser afetado
por contaminação das águas, uma vez que
a central é refrigerada pelas águas de uma
albufeira afluente do rio Tejo e, também, por
contaminação atmosférica, na medida que a
central dista uns meros 100 quilómetros da
fronteira portuguesa. Tal como as alterações
climáticas, um problema que surge numa
central nuclear pode transformar-se num
problema regional ou até global e, infelizmente,
não faltam exemplos que comprovam esse
facto. Mais recentemente, o acidente na cen-
tral nuclear de Fukushima, em 2011, no segui-
mento de um tsunami, dá para retirar algumas
elações. Entre elas, estão os erros de planifi-
cação (geologia do local de implementação),
a falta de segurança técnica, a manipulação
de dados e a ocultação de problemas, todas,
devido a interesses particulares de algumas
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entidades envolvidas na central. Conclui-se
que os interesses particulares de um pequeno
grupo sobrepuseram-se às pessoas em geral
e ao ambiente. Ainda se encontram 100.000
deslocados, um sem-número de pessoas
com a saúde afetada para toda a vida e não há
fim à vista para o problema. Recentemente, os
níveis de radiação atingiram valores recorde
desde o tsunami e estão a contaminar todo
o Pacífico. Depois de uma série de incidentes
com Alvaraz e do Conselho de Segurança
Nuclear espanhol ter denunciado algumas
irregularidades preocupantes com a central,
são válidas as preocupações dos ambientalis-
tas quanto ao encerramento da central, bem
quanto ao depósito altamente perigoso dos
resíduos nucleares.
A nossa relação com os
animais
Quando vemos sociólogos, políticos, autarcas
e educadores, que pelo seu conhecimento
e responsabilidade deveriam ter a obrigação
de fomentaram uma ética alargada e, ao
contrário disso, encontram-se, em muitos ca-
sos, a promoverem ações e espetáculos onde
reina a violência sobre animais sencientes -
animais que possuem características, sentires
e sensibilidades muito parecidas com as do
ser humano, isso quer dizer que a sociedade
ou se encontra profundamente doente ou ain-
da pertence a um passado onde a ignorância
andava a par com a insensibilidade e a selva-
jaria. Não precisamos, nem temos o direito de
tratar os animais da maneira que tratamos.
Nem para alimentação e muito menos para
divertimento, desporto ou moda. Mahatma
Gandhi afirmou que o grau de evolução de
determinada sociedade pode ser avaliado
pela maneira como trata as suas crianças, os
seus idosos e os seus animais. Com tantas
alternativas saborosas e mais saudáveis à
proteína animal ainda continuamos a mandar
milhões de seres sensíveis e amorosos para
os campos de concentração, que são as
imensas indústrias pecuárias e matadouros?
Onde está a nossa humanidade? A carne
que está no supermercado ou no talho não
vem de um processo industrial mágico. Ela é
o grito que se solta dos olhos sofridos de um
animal! Da mesma forma, a roupa que muitos
seres humanos fazem questão de exibir na
praça pública são pedaços de animais. Será
que têm noção disso? Será que sabem que
em alguns casos a pele foi arrancada com os
animais ainda vivos? Qual a necessidade que
temos em exibir tamanha crueldade?
Quase todos os dias chegam-nos dados
preocupantes sobre a desflorestação da
Amazónia ou de outros pulmões da Terra.
Muitas dessas ações, senão a maioria delas,
devem-se à agropecuária. Da mesma forma,
a produção de carne é responsável por uma
elevada emissão de gases com efeito de es-
tufa. Também por esse motivo, a ONU sugere
um consumo reduzido de produtos de origem
animal para salvar o planeta dos piores impac-
tos das alterações climáticas. O principal autor
do relatório, Edgar Hertwich, diz o seguinte:
Produtos de origem animal causam mais da-
nos do que produzir minerais de construção
como areia e cimento, plásticos e metais.
A biomassa e as plantações para alimentar
animais causam tanto dano quanto queimar
combustíveis fósseis". Esta recomendação
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segue em linha com Lord Stern, conselheiro
económico do governo britânico, que propõe
uma dieta vegetariana para um planeta melhor,
e do IPCC, que sugere um dia por semana
livre de carne, para reduzir as emissões.
Outra questão que se encontra em cima da
mesa é a produção de leite. As empresas do
ramo continuam a reclamar subsídios para
manterem a sua atividade lucrativa e o gover-
no português atribuiu, só em 2016, no Con-
tinente, e segundo as contas do PAN, mais
de 100 milhões de euros para esta indústria.
Quando percebemos que as pessoas estão a
alterar os seus hábitos alimentares, reduzindo
o consumo de leite por questões éticas, de
saúde e ambientais, será correto o Governo
contrariar esta tendência e continuar apoiar
esta atividade? Aquilo que tenho verificado
em alguns países onde o consumo de leite
tem diminuído, a indústria tem-se adaptado
à procura do mercado, adaptando as suas
unidades de produção às alternativas ao leite,
como bebidas de origem vegetal. Fica aqui
esta sugestão.
Recentemente muitas pessoas manifestaram
a sua indignação nas redes sociais por causa
de um evento que promovia a caça à raposa
numa localidade portuguesa. Fizeram-no
bem! Tal prática não se coaduna com uma
sociedade civilizada. Mas depois tiveram o
reverso da medalha, com insultos por parte
dos promotores da caça em geral e, mais
do que isso, por alguns ambientalistas que
defendem a caça como meio de preservação
da natureza. Precisamos de esclarecer umas
coisas. A Natureza não deve estar confinada
aos interesses humanos. Ela está cá há muito
mais tempo do que nós. Melhor dizendo, a
Natureza sempre esteve cá e nós aparecemos
como uma das suas filhas. Devemos respeito
e cuidado para com ela. Mas se estão a
defender o equilíbrio ecológico, não nos
podemos esquecer que a maior força motriz
desestabilizadora é a ação do ser humano
no ecossistema. Mas, partindo do princípio
que a proliferação de uma espécie coloca
em causa o equilíbrio ecológico, facto que
assistimos atualmente com a espécie homo
sapiens, poderá haver outras alternativas do
que a caça. A deslocalização ou o controlo de
natalidade podem ser algumas propostas. Em
todo o caso, o equilíbrio ecológico não está
ameaçado por causa da raposa na localidade
em questão e devemos apoiar os milhares de
corações sensíveis que lutam contra estas
práticas.
Uma excelente notícia surge dos números for-
necidos pela Inspeção-Geral das Atividades
Culturais sobre a tauromaquia. O ano de 2016
foi o pior de sempre em termos de público e
do número de espetáculos. Desde 2010 que
esta atividade perdeu 53% dos espectadores.
Estamos no bom caminho, mas continuamos
a ver as televisões a transmitir estes eventos
violentos, que lembram o pior dos tempos
idos e, especialmente com a assistência de
menores.
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A desigualdade
Stephen Hawkins publicou recentemente no
The Guardian um artigo muito interessante,
em que faz uma análise lúcida da atualidade.
Diz ele que Este é o momento mais perigoso
para o nosso planeta. O seu principal argu-
mento é a desigualdade económica em todo
o mundo. Com o avanço tecnológico um pe-
queno grupo de indivíduos é capaz de retirar
lucros fabulosos e empregar muito poucas
pessoas. Lateralmente, verificamos que os
poucos indivíduos que trabalham no setor
financeiro são capazes de acumular grandes
fortunas e quando há um erro devido à sua
ganância, é a população geral que paga a
fatura. Hawkins refere estes dois fatores como
destrutivos. Quando pensávamos que a tec-
nologia seria libertadora do trabalho, criando
condições para a humanidade florescer na
arte, na ciência, na filosofia, no voluntariado e
na espiritualidade, assistimos que no geral ela
é utilizada para condicionar mais as pessoas,
ora pelo número de horas de trabalho, ora pela
escassez de emprego. Quem tem contas para
pagar ao sistema, e o sistema promove-se a si
próprio na questão da dívida, vive numa ansie-
dade constante, submetendo-se a situações
humilhantes e precárias. Quem tem contas e
não tem emprego, está sujeito a perder tudo o
que tem, incluindo a sua saúde.
A utopia de uma civilização fundada na liber-
dade, na igualdade e na fraternidade está a
anos-luz de distância. Stephen adverte que
não podemos continuar a ignorar a desigual-
dade, porque temos meios para destruir o
nosso mundo, mas não para escapar dele.
Para aonde estamos a ir e
onde devemos estar
Aascensãodeumpopulismobruto,quetemos
assistido ultimamente, reflete o mal-estar das
populações com a classe política, mas este ca-
minho ainda é pior do que o anterior. Não leva
em conta os factos mais importantes como as
alterações climáticas, a destruição do suporte
devidanaterra,anossarelaçãocomosoutros,
com os animais e a vida em geral. A realidade
é alienada para dar origem a mais uma história
de entretimento, neste caso, nacionalista. Mas,
independentemente das narrativas que inven-
tados como alternativas à realidade, a natureza
não tem fronteiras antrópicas, não quer saber
das nossas histórias e reflete sempre a verda-
de. Acho que de uma forma ou de outra todos
estamos a perceber que caminhamos para o
abismo. Vivemos uma crise multidimensional,
isto é: ecológica, ambiental, climática, pessoal,
social, demográfica, económica, financeira, de
saúde pública, de perceção, etc. porque na
realidade todos estas dimensões se cruzam.
Nada existe separado. Muitas das consequên-
cias já são tão profundas que as mudanças
são inevitáveis e irreversíveis. Por esse motivo
fala-se agora em adaptações, porque não
há que voltar atrás. Mas o futuro constrói-se
no presente e já provamos que somos uma
força transformadora global. Só precisamos
de mudar o rumo das nossas ações, da nossa
forma de ver e estar no mundo. Precisamos
de derrubar muros e fronteiras entre povos e
culturas; criar pontes de diálogo; incentivar a
cidadania e a governança; cuidar, respeitar e
proteger a natureza que é fonte de bem-estar;
abandonar qualquer prática que fomente a
exploração ou crueldade de seres sencientes,
imprópria de uma sociedade evoluida e apos-
tar nas energias descentralizadas. Está na hora
de acordar. De dar o salto quântico da nossa
evolução como sociedade do século XXI.
Está na hora de construirmos um futuro novo,
mais belo, humana e esteticamente. Temos
de voltar à verdade, mas não aquela verdade
que só olha para os números. Temos de
observar a verdade no coração das pessoas,
nos olhos dos animais e na paisagem natural.
Desconstruir a tecnociência e a economia fria
e materialista, que esmaga tudo à sua volta e
voltar a pintar o mundo com cores alegres que
se soltam da alegria de viver em harmonia e
partilha com os outros.
Foto_Maria Augusta Pinto