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J A Q U E S D I O G O
A N D R E M I R A N D A
Documentário Reflexivo
O D O C U M E N T Á R I O É , A N T E S D E M A I S N A D A ,
U M A R E P R E S E N T A Ç Ã O D O M U N D O .
 A própria distinção entre filmes feita por NICHOLS
(2005: 27) expressa a linha tênue que separa o real do
imaginário: segundo o autor, todo filme pode ser
considerado um documentário, pois coloca-se em
evidência a cultura que o produz, partindo da realidade
da mesma. Sob este aspecto, os filmes podem se dividir
em duas grandes categorias:
 documentários de satisfação de desejos ( denominados
ficção)
 documentários de representação social (denominados
não-ficção). Isso não significa que a ficção não possa se
basear num fato real ou que não-ficção não recorra a
recursos como a simulação de situações históricas.
 Os documentários reflexivos nos mostram
exatamente como eles são: Uma representação.
 São documentários metalingüísticos onde podemos
ver ao mesmo tempo o documentário e a sua
construção. Um misto entre o que é mostrado com o
próprio modo de como isto (é/foi )feito.
 “O modo reflexivo preocupa-se com o processo de
negociação entre cineasta e espectador, indagando as
responsabilidades e conseqüências da produção do
documentário para cineasta, atores sociais e
públicos. Desta forma, “O lema segundo o qual um
documentário só é bom quando é convincente é o
que o modo reflexivo do documentário questiona.”
(NICHOLS, 2005: 163)
 Para Silvio Ra-Rin não há necessária
correspondência entre fragmentação narrativa e
descontinuidade, características da auto-
reflexividade, e uma maior consciência textual,
justificando que revelar marcas autorais e
metodologias empregadas nos filmes nem sempre
funcionam como uma intervenção crítica na política
da comunicação.
 [...] A verdade da filmagem significa revelar em que
situação, em que momento ela se dá – e todo o
aleatório que pode acontecer nela... É
importantíssima, porque revela a contingência da
verdade que você tem... revela muito mais a verdade
da filmagem do que a filmagem da verdade [...]
Eduardo Coutinho, diretor de “Cabra
marcado para morrer .
Exemplos de documentários Reflexivos
 Á Margem da Imagem, À Margem do Concreto, do cineasta
Evaldo Mocarzel
 Nos filmes o diretor fala sobre a problemática da produção do
documentário, chegando até a convidar seus entrevistados
para discutir como deveriam ser filmados.
 Em À Margem da Imagem, o diretor pergunta aos
entrevistados como eles gostariam de ser vistos pelas pessoas,
como a imagem deles deveria ser passada para o público e
como eles acham que são vistos pela sociedade. Ainda
aparecem os entrevistados em um cinema assistindo ao filme
que participaram e suas reações quando se vêem na tela.
 Após a sessão, Mocarzel colhe a a opinião deles sobre o que
acabaram de assistir.
Eduardo Coutinho
 Nascido em São Paulo, Coutinho iniciou sua carreira no teatro.
Integrante do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE nos anos
60, já no Rio de Janeiro, trabalhou na produção do primeiro filme
do Centro, o longa "Cinco vezes favela" (1962). No total, Eduardo
Coutinho dirigiu 24 filmes em sua trajetória no cinema nacional.
 Responsável por obras-primas do gênero documentário, Eduardo
Coutinho foi homenageado na Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo no ano passado e recebeu o Kikito de Cristal em
Gramado, em 2007, pelo conjunto de sua obra. Como roteirista,
trabalhou com nomes como Leon Hirszman (em "Garota de
Ipanema", de 1967), Zelito Viana (em "Os condenados", de 1975) e
Bruno Barreto (em "Dona Flor e seus dois maridos, de 1976).
Fonte: Cinemateca Brasileira
 Faleceu em 02 de fevereiro de 2014
Cabra Marcado Pra Morrer
 Narrativa semidocumental sobre a vida de João Pedro
Teixeira, líder camponês da Paraíba assassinado em 1962.
 A produção do filme foi interrompida em 1964, em razão do
golpe militar.
 Dezessete anos depois, o cineasta recolheu os depoimentos
dos camponeses que trabalharam nas primeiras filmagens.
Parte da história das Ligas Camponesas de Galileia e de Sapé e
a vida de João Pedro surgem através das palavras de sua
viúva, Elizabeth Teixeira, que fala sobre sua trajetória nesses
20 anos e das dificuldades da família perseguida pela ditadura
militar.
Fonte: 35 Mostra Internacional de Cinema / São Paulo - 2011
Cena do filme de ficção
“Cabra Marcado Para Morrer”
A imagem se trata da
reconstituiçao da vida
deJoão Pedro Teixeira
Cena do documentário
“Cabra Marcado Para Morrer”
Cena em que Elizabeth
está com as amigas,
depois de revelar toda a
verdade da estoria de
sua vida.

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Documentario reflexivo

  • 1. J A Q U E S D I O G O A N D R E M I R A N D A Documentário Reflexivo O D O C U M E N T Á R I O É , A N T E S D E M A I S N A D A , U M A R E P R E S E N T A Ç Ã O D O M U N D O .
  • 2.  A própria distinção entre filmes feita por NICHOLS (2005: 27) expressa a linha tênue que separa o real do imaginário: segundo o autor, todo filme pode ser considerado um documentário, pois coloca-se em evidência a cultura que o produz, partindo da realidade da mesma. Sob este aspecto, os filmes podem se dividir em duas grandes categorias:  documentários de satisfação de desejos ( denominados ficção)  documentários de representação social (denominados não-ficção). Isso não significa que a ficção não possa se basear num fato real ou que não-ficção não recorra a recursos como a simulação de situações históricas.
  • 3.  Os documentários reflexivos nos mostram exatamente como eles são: Uma representação.  São documentários metalingüísticos onde podemos ver ao mesmo tempo o documentário e a sua construção. Um misto entre o que é mostrado com o próprio modo de como isto (é/foi )feito.
  • 4.  “O modo reflexivo preocupa-se com o processo de negociação entre cineasta e espectador, indagando as responsabilidades e conseqüências da produção do documentário para cineasta, atores sociais e públicos. Desta forma, “O lema segundo o qual um documentário só é bom quando é convincente é o que o modo reflexivo do documentário questiona.” (NICHOLS, 2005: 163)
  • 5.  Para Silvio Ra-Rin não há necessária correspondência entre fragmentação narrativa e descontinuidade, características da auto- reflexividade, e uma maior consciência textual, justificando que revelar marcas autorais e metodologias empregadas nos filmes nem sempre funcionam como uma intervenção crítica na política da comunicação.
  • 6.  [...] A verdade da filmagem significa revelar em que situação, em que momento ela se dá – e todo o aleatório que pode acontecer nela... É importantíssima, porque revela a contingência da verdade que você tem... revela muito mais a verdade da filmagem do que a filmagem da verdade [...] Eduardo Coutinho, diretor de “Cabra marcado para morrer .
  • 7. Exemplos de documentários Reflexivos  Á Margem da Imagem, À Margem do Concreto, do cineasta Evaldo Mocarzel  Nos filmes o diretor fala sobre a problemática da produção do documentário, chegando até a convidar seus entrevistados para discutir como deveriam ser filmados.  Em À Margem da Imagem, o diretor pergunta aos entrevistados como eles gostariam de ser vistos pelas pessoas, como a imagem deles deveria ser passada para o público e como eles acham que são vistos pela sociedade. Ainda aparecem os entrevistados em um cinema assistindo ao filme que participaram e suas reações quando se vêem na tela.  Após a sessão, Mocarzel colhe a a opinião deles sobre o que acabaram de assistir.
  • 8. Eduardo Coutinho  Nascido em São Paulo, Coutinho iniciou sua carreira no teatro. Integrante do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE nos anos 60, já no Rio de Janeiro, trabalhou na produção do primeiro filme do Centro, o longa "Cinco vezes favela" (1962). No total, Eduardo Coutinho dirigiu 24 filmes em sua trajetória no cinema nacional.  Responsável por obras-primas do gênero documentário, Eduardo Coutinho foi homenageado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo no ano passado e recebeu o Kikito de Cristal em Gramado, em 2007, pelo conjunto de sua obra. Como roteirista, trabalhou com nomes como Leon Hirszman (em "Garota de Ipanema", de 1967), Zelito Viana (em "Os condenados", de 1975) e Bruno Barreto (em "Dona Flor e seus dois maridos, de 1976). Fonte: Cinemateca Brasileira  Faleceu em 02 de fevereiro de 2014
  • 9. Cabra Marcado Pra Morrer  Narrativa semidocumental sobre a vida de João Pedro Teixeira, líder camponês da Paraíba assassinado em 1962.  A produção do filme foi interrompida em 1964, em razão do golpe militar.  Dezessete anos depois, o cineasta recolheu os depoimentos dos camponeses que trabalharam nas primeiras filmagens. Parte da história das Ligas Camponesas de Galileia e de Sapé e a vida de João Pedro surgem através das palavras de sua viúva, Elizabeth Teixeira, que fala sobre sua trajetória nesses 20 anos e das dificuldades da família perseguida pela ditadura militar. Fonte: 35 Mostra Internacional de Cinema / São Paulo - 2011
  • 10. Cena do filme de ficção “Cabra Marcado Para Morrer” A imagem se trata da reconstituiçao da vida deJoão Pedro Teixeira
  • 11. Cena do documentário “Cabra Marcado Para Morrer” Cena em que Elizabeth está com as amigas, depois de revelar toda a verdade da estoria de sua vida.