1. CAPA
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le parece muito seguro. Certamente está
feliz. Do alto de seus 31 anos, casado e pai de três filhos (dois meninos e uma
menina), Marcos Chaib Mion entrou em uma nova fase com a estreia de
Legendários. O programa, que vai ao ar nos sábados à noite na TV Record, vem
conseguindo manter um sólido segundo lugar na audiência desde que estreou
no início de abril. Coidealizador de Legendários, Mion está presente em todas as
fases da produção, sabe de tudo e sente na pele o frenesi do sobe-e-desce da
audiência durante a exibição do programa,que é ao vivo.Dez anos depois de ter
estourado na MTV com o anárquico e jovem Piores Clipes do Mundo, o paulista-
no sentiu a necessidade de falar com um público mais amplo, de todas as clas-
ses e idades.“É a maturidade”,confirma o ator,apresentador e homem de negó-
cios em seu sóbrio escritório. Na entrevista a seguir, Mion fala sobre seus pri-
meiros passos artísticos, sua paixão pela televisão e os novos desafios que vem
enfrentando com o bom humor de sempre.
REVISTA VOE – Quando você considera que foi o seu início na carreira artística?
Marcos Mion – Foi aos 14, 15 anos, quando comecei a estudar teatro na Escola
Célia Helena. A princípio, era mais por curiosidade, não sabia ao certo no que
aquilo ia dar. Óbvio que eu era do tipo de moleque que fazia todas as peças na
escola e só queria ser o protagonista [risos]. Foi uma grande sacada da minha
mãe. Elas nos conhecem melhor do que imaginamos. Foi ela que sugeriu que
eu fosse ter aulas de teatro,que ia me fazer bem.E realmente foi amor à primei-
ra vista. Vi que existia um novo mundo possível ali, um mundo de faz de conta
no qual poderia ser qualquer coisa, contar qualquer história e viver qualquer
vida. Isso me fascinou muito.
O novo
Marcos Mion
Esqueçam o jovem falastrão. Agora o apresentador
e ator quer falar sobre outros assuntos e para um
público maior. Mas com humor, sempre
Texto DAFNE SAMPAIO Fotos JEFFERSON PIRES
E
2. CAPA
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RV – E como foi o curso?
Mion – Foi uma loucura porque vi que o palco era como uma casa para mim.
Quando chegou o final do curso, era época de prestar vestibular e começa-
ram a pintar umas dúvidas, porque minha família toda é de médicos e
nunca me faltou nada. Se fosse por esse caminho,estava garantido,mas por
outro lado tinha essa nova história, que era minha paixão. Quando chegou
a hora de entregar a papelada da inscrição do vestibular, estava tudo preen-
chido, menos a opção do curso. Estava na dúvida entre Medicina ou
Filosofia, que era para poder interpretar melhor os textos, entrar em conta-
to com a psique dos personagens e ser um melhor ator. Quando chegou a
minha vez respirei fundo, preenchi Filosofia e entreguei nas mãos de Deus.
Fiz três semestres do curso e logo depois comecei a trabalhar.
RV – No programa Sandy & Júnior...
Mion – Pois é. Na minha peça de formatura apareceu uma diretora de elen-
co da TV Globo. Ela foi no domingo, e na quarta eu já estava na Globo. Fiquei
só no primeiro ano do Sandy & Júnior [programa exibido entre 1999 e 2003]
e logo depois fui pra MTV. Aliás, essa história é muito louca, porque bati na
porta da emissora antes de ir para Globo. Sempre quis trabalhar na MTV,era
realmente um sonho, porque cresci com ela. Fiz um teste, mas naquele
momento não estavam contratando ninguém. Aí a Globo me chamou.
Quase um ano depois, quando estava para acabar meu contrato, liguei de
novo pra MTV. Poderia ter assinado por mais um ano com a Globo, mas foi
quando o Cazé Peçanha saiu. Foi minha deixa.
RV – Quando entrou na MTV, você teve algum conflito por deixar de atuar
para ser apresentador?
Mion – Duelei muito com isso, mas não sofri tanto porque a MTV era o meu
sonho. E tem outra: quando cheguei lá tinha uma opinião formada sobre o
que estava faltando na programação e o modo como queria atuar. O teste
que fiz já era o Piores Clipes do Mundo, porque era algo que eu sentia falta,
uma molecagem, uma coisa questionadora. Abandonei a interpretação
clássica, mas fui me virando com o que tinha na mão e criando tipos.
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“Na MTV abandonei a interpretação clássica, mas fui me virando e criando outros tipos”
3. 00julho de 2010
CAPA
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RV – Esse personagem que você criou mudou com o decorrer do tempo?
Mion – Ele – que é o cara que fala o que todo mundo quer falar mas não tem
coragem – foi um acerto e caiu como uma luva para a MTV. Eu poderia
fazer por anos e anos, porque é muito real pra mim. Ele na verdade sou eu
com 15, 16 anos [risos]. Agora, com o Legendários, é a primeira vez que não
me pauto por ele, porque o objetivo aqui é atingir um público maior, de
todas as idades, de todas as classes. O desafio é outro.
RV – Então foi uma necessidade sua dar uma pausa nesse personagem?
Mion – Foi sim. Porque o que mantém um artista vivo é o desafio. É acreditar
que você tem que sair da sua zona de conforto.Eu estava querendo falar com
um público mais próximo da minha idade e também sobre assuntos mais
variados. Senti a necessidade de dar esse passo e de ampliar meu público.
RV – Nessa transição entre MTV e Record, já existia a ideia do programa ou
foi algo que se construiu depois que você mudou de emissora?
Mion – A essência do programa veio depois. Quer dizer, nunca chego de
mãos abanando. Queria fazer um programa de humor, porque é algo que
sei fazer muito bem, mas não sabia como poderia ser, principalmente por-
que não conhecia a emissora a fundo. Só depois que entrei fui entender
melhor como são as coisas por aqui. Aí esse programa de humor foi se
adaptando e virou o que é hoje. O Legendários não é um programa de
humor, e sim de entretenimento baseado no humor.
RV – Agora que você está com um programa maior e mais envolvido com
a produção, como é lidar com a batalha da audiência?
Mion – É uma pressão real. Estamos em uma emissora que é a segunda do
país, e audiência é um parâmetro para vários aspectos. Temos uma preocu-
pação muito grande de falar com todo o mundo. Vejo o Legendários como
um supermercado: tem de agradar todo mundo. Ninguém sai insatisfeito
de um supermercado. Sempre se encontra alguma coisa.
RV – Você sente falta de algo na televisão? Ou de algo que você ainda não fez?
Mion – Ah, quero fazer muita coisa ainda. Vendo os profissionais que estão
na ativa hoje, eu tenho mais uns 40 anos de TV, pelo menos [risos]. Dá pra
fazer muita coisa.
“O que mantém um artista vivo é o desafio. É acreditar que você tem
que sair da sua zona de conforto”