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01 CONTEMPORÂNEO




         DESENHO
                              e sensibilidade




                                                                                                                                                                                                        foto TOMOYUKI UTSUMI/MILLIGRAM STUDIO
                                                                                                                                                                                                                                                Sensorial, repleta de sutilezas e integrada à natureza, a arquitetura
                                                                                                                                                                                                                                                japonesa contemporânea reflete a identidade cultural do país
                                                                                                   foto RENZO PIANO BUILDING WORKSHOP; RENA DUMAS ARCHITECTURE INTERIÈURE; ARUP; TAKENAKA CORPORATION




                                                                                                                                                                                                                                                TEXTO Marcelo de Valécio

                                                                                                                                                                                                                                                     Assim como em outras culturas, a arquitetura japonesa sofreu influências diretas do clima,
                                                                                                                                                                                                                                                da geografia e dos costumes do país. Nos projetos tradicionais, a madeira se destacava como o
                                                                                                                                                                                                                                                material mais usado, assim como o papel e o barro. Minimalista e sutil, o desenho japonês sem-
                                                                                                                                                                                                                                                pre se apoiou em questões sensoriais – e isso não mudou com o tempo. Mas a arquitetura con-
                                                   foto HERZOG & DE MEURON; TAKENAKA CORPORATION




                                                                                                                                                                                                                                                temporânea também incorporou a multiculturalidade que o Japão experimenta nas últimas
                                                                                                                                                                                                                                                décadas, e o concreto, o aço e o vidro passaram a ser mais utilizados nas construções. “O mi-
                                                                                                                                                                                                                                                nimalismo, aliado à tecnologia, faz com que os arquitetos trabalhem de forma poética esses
                                                                                                                                                                                                                                                materiais”, diz o arquiteto paulistano Naoki Otake, que passou cinco anos no Japão.
                                                                                                                                                                                                                                                     A exposição Parallel Nippon – Arquitetura Contemporânea Japonesa 1996-2006, resultado de
 O PRADA BOUTIQUE (AQUI), O MAISON HERMÈS
 (À DIREITA) E O ARC SHAPED SUKYA EXTENTION                                                                                                                                                                                                     uma parceria entre a Fundação Japão e o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, passou por diver-
 (NA PÁGINA AO LADO) SÃO PROJETOS QUE EVIDENCIAM
                                                                                                                                                                                                                                                sas capitais brasileiras em 2010 e segue agora para os Estados Unidos. A seguir, destacamos algu-
 A OUSADIA DA ARQUITETURA NIPÔNICA

                                                                                                                                                                                                                                                mas obras da mostra que evidenciam o trabalho preciso e ousado dos arquitetos japoneses.
01 CONTEMPORÂNEO




                                                                                                                                                                                                                           Tadao Ando ganhou destaque no cenário internacional por seus                                                                              que buscou as raízes para realizar a reforma e ampliação da mile-
                                                                                                                                                                                                                        edifícios limpos e harmoniosos, que sugerem uma arquitetura in-                                                                              nar casa de Shigenobu Okuma (1838-1922), político da Era Mei-
                                                                                                                                                                                                                        trospectiva e de grande sutileza, sempre em harmonia como a natu-                                                                            ji, localizada em Karuizawa, no Japão. O projeto, batizado de
                                                                                                                                                                                                                        reza, representada por recortes precisos de luz, espelhos d'água e                                                                           ARC Shaped Sukyia Extension, foi desenvolvido, em 2004, so-
                                                                                                                                                                                                                        aberturas que favorecem a circulação de ar. O curioso é que Ando                                                                             bre a casa original retangular. Nela, foi adicionado um bloco cur-
                                                                                                                                                                                                                        é autodidata e nunca se formou em arquitetura. Estudou por conta                                                                             vilíneo que incorpora espaços que ressaltam a curvatura e a inte-
                                                                                                                                                                                                                        própria, viajando mais tarde pela Europa e América do Norte para                                                                             gração com a natureza. À estrutura original de madeira foram
                                                                                                                                                                                                                        aprofundar seus conhecimentos na área. Em 1995, ganhou o Prê-                                                                                acrescentadas chapas de cobre, e o espaço interno teve a cor de
                                                                                                                                                                                                                        mio Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura.                                                                                            madeira original trocada pelo branco.




                                                                                                                                                   foto TADAO ANDO ARCHITECT & ASSOCIATES; KENDALL; HEATON ASSOCIATES
                                                                                                                                                                                                                           passado presente                                                                                                                             traços poderosos
                                                                                                                                                                                                                           Na tradição japonesa, o sukiya (algo como “olhar sagrado so-                                                                                 O Museu de Arte Contemporânea do Século 21 está localiza-
                                                                                                                                                                                                                        bre a natureza”) é descrito como uma arquitetura que coloca em                                                                               do no centro da cidade japonesa de Kanazawa. Erguido em 2004,
                                                                                                                                                                                                                        primeiro plano o usuário, o respeito às características do espaço e                                                                          o museu circular tem 9,5 mil metros quadrados de área e a pecu-
                                                                                                                                                                                                                        o cuidado com as particularidades de cada material. Restam ape-                                                                              liaridade de não ter fachada, podendo ser acessado de qualquer
                                                                                                                                                                                                                        nas algumas dezenas de mestres da marcenaria que herdaram os                                                                                 direção. O projeto é dos arquitetos Kazuyo Sejima e Ryue Nishi-
                                                                                                                                                                                                                        preceitos do sukiya autêntico, que surgiu no século 17, nas cons-                                                                            zawa, do escritório SANAA, premiados com o Pritzker em 2010.
                                                                                                                                                                                                                        truções destinadas às cerimônias de chá japonesas. É o caso de                                                                               Com linguagem arquitetônica singular, os projetos de Kazuyo
                                                                                                                                                                                                                        Tomoyuki Utsumi, fundador do Milligram Architectural Studio,                                                                                 Sejima e Ryue Nishizawa primam por traços sutis, precisos e


                                                                          ACIMA, O MUSEU DE ARTE MODERNA DE FORT WORTH. ABAIXO, O ARC SHAPED                                                                                              Concreto, vidro e aço ganham destaque na arquitetura japonesa
                                                                          SUKYA EXTENTION, E, NA PÁGINA AO LADO, O MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA
                                                                          DO SÉCULO   21: PROJETOS INVENTIVOS PELAS MÃOS DE ARQUITETOS JAPONESES



    naturalmente iluminado
    Nascido em 1941, em Osaka, Tadao Ando é o autor do projeto
 do Museu de Arte Moderna de Fort Worth, no Texas, Estados
 Unidos. O imponente edifício, inaugurado em 2002, é composto
 por cinco volumes retangulares paralelos, constituídos de paredes
 de concreto e vidro com mais de 40 metros de altura. Colunas em
 formato de Y servem de apoio à cobertura e funcionam também




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         foto KAZUYO SEJIMA + RYUE NISHIZAWA/SANAA
 como elemento decorativo ao se refletirem no espelho d’água loca-




                                                                                                                                                                                                                                                                                 foto TOMOYUKI UTSUMI/MILLIGRAM STUDIO
 lizado na frente do prédio. Outro volume, em forma elíptica, com-
 pleta o visual fluido da estrutura. No interior, o pé-direito alto, as
 paredes transparentes e os sofisticados sistemas de clarabóias pro-
 porcionam espaços de circulação agradáveis, com luz natural, que
 possibilitam ao visitante apreciar tanto as obras de arte do acervo
 quanto o espelho d’água e os jardins da parte externa.
01 CONTEMPORÂNEO




                                                                                                                                                                                         interação social




                                                                                                                                                                                                                                                       fotos TKAZUMI KUDO + HIROSHI HORIBA/COELACANTH K&H ARCHITECTS INC
                                                                                                                                                                                         No projeto da Escola Fundamental de Hakata e Centro Comu-
                                                                                                                                                 nitário de Naraya, os arquitetos Kazumi Kudo e Hiroshi Horiba
                                                                                                                                                 provocam reflexão sobre a contribuição desse tipo de construção
                                                                                                                                                 para a comunidade local e sua utilidade na educação. No projeto,
                                                                                                                                                 a tônica foi criar um espaço de convívio agradável para estudantes
                                                                                                                                                 e frequentadores. O prédio, erguido na região central da cidade de
                                                                                                                                                 Hakata, no Japão, em 2001, foi dimensionado para se tornar mais
                                                                                                                                                 um ponto de encontro do que uma escola tradicional. A dificulda-
                                                                                                                                                 de inicial foi conciliar o caráter urbano típico da região com a




                                                                                             fotos TOYO ITO & ASSOCIATES, ARCHITECTS
                                                                                                                                                 manutenção de um ambiente amigável para crianças do curso fun-
                                                                                                                                                 damental. Terraços e balcões erguidos na face voltada para o pátio
                                                                                                                                                 têm a finalidade de assegurar o contato com o entorno.


                                                                                                                                                                                         conhecimento digital
                                                                                                                                                                                         Sintonizado com a era da informática, o Pavilhão Kansai-Kan
                                                                                                                                                 da Biblioteca Nacional da Dieta, erguido em 2002 e localizado na
                                                                                                                                                 periferia de Tóquio, esconde quase todo o volume no subsolo.
 A arquitetura japonesa atual incorpora a multiculturalidade do país nas últimas décadas
                                                                                                                                                 Toda a fachada do pavilhão, projetado por Fumio Toki, é coberta
                                                                                                                                                 por vidro transparente, evitando, assim, que o caráter monumen-
 fluidos, mas também potentes e engenhosos. Sejima e Nishizawa               ousadia em evidência                                                tal da construção se sobreponha ao valioso acervo da instituição.
 sabem como poucos aproveitar o espaço contínuo, a luz, a trans-             A proposta do arquiteto Toyo Ito para a Midiateca em Sendai,        Em oposição à Biblioteca Nacional de Tóquio, na qual a forma
 parência e a versatilidade dos materiais, em uma síntese delicada,       no Japão, está focada na transitoriedade da informação. Mas, ao        reforça a massa volumétrica, o desenho imaterial de Kansai-Kan
 firme e engenhosa. O museu reúne boa parte dessas características.       contrário do Pavilhão Kansai-Kan, aqui, o arquiteto optou por          pode ser interpretado como uma metáfora da nova era digital. d
 Seu formato, que lembra uma nave espacial, sugere algo monu-             não esconder a construção, mas sim projetá-la de forma peculiar.                                                                                                                                                                                             ACIMA, PERSPECTIVAS DA ESCOLA FUNDAMENTAL DE HAKATA E CENTRO
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 mental e, aparentemente, dissociado do local onde está encrava-          O edifício é composto por 13 colunas tubulares que sustentam                                                                                                                                                                                     NACIONAL DA DIETA. NA PÁGINA AO LADO, VISTAS EXTERNA E INTERNA DA MIDIATECA

 do. Mas ao se observar os detalhes, como a parede exterior, total-       todo o prédio, além de chapas de metal que funcionam como piso




                                                                                                                                                 foto FUMIO TOKI/FUMIO TOKI ASSOCIATES
 mente de vidro e que permite visão de 360º do entorno, e as salas        e teto e parede exterior coberta com painéis de vidro em toda a
 de exposição independentes e com formas de círculos e quadra-            extensão. Os tubos também são utilizados nas escadas e nos eleva-
 dos – uma solução para quebrar a monotonia –, percebe-se que o           dores e ajudam a trazer luz para a área interna a partir do telhado.
 museu busca algo a mais do que se isolar ou simplesmente impor           A transparência favorece a circulação e a visitação à biblioteca e à
 sua construção. Ao contrário, propõe um diálogo contínuo entre o         galeria de arte, pois amplia a sensação de espaço livre. No primei-
 interior e o exterior. Além da ausência de uma entrada principal, o      ro andar, há uma enorme área, conhecida como praça, que abriga
 acesso às salas é aleatório, não existe rota privilegiada. Os visitan-   um café e a loja do museu. Há cadeiras e bancos espalhados, al-
 tes podem seguir diretamente o destino desejado ao sabor de seu          guns voltados para fora, fazendo do espaço também um convite ao
 interesse. É, sobretudo, um espaço sem hierarquias.                      relaxamento e à contemplação.

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  • 1. 01 CONTEMPORÂNEO DESENHO e sensibilidade foto TOMOYUKI UTSUMI/MILLIGRAM STUDIO Sensorial, repleta de sutilezas e integrada à natureza, a arquitetura japonesa contemporânea reflete a identidade cultural do país foto RENZO PIANO BUILDING WORKSHOP; RENA DUMAS ARCHITECTURE INTERIÈURE; ARUP; TAKENAKA CORPORATION TEXTO Marcelo de Valécio Assim como em outras culturas, a arquitetura japonesa sofreu influências diretas do clima, da geografia e dos costumes do país. Nos projetos tradicionais, a madeira se destacava como o material mais usado, assim como o papel e o barro. Minimalista e sutil, o desenho japonês sem- pre se apoiou em questões sensoriais – e isso não mudou com o tempo. Mas a arquitetura con- foto HERZOG & DE MEURON; TAKENAKA CORPORATION temporânea também incorporou a multiculturalidade que o Japão experimenta nas últimas décadas, e o concreto, o aço e o vidro passaram a ser mais utilizados nas construções. “O mi- nimalismo, aliado à tecnologia, faz com que os arquitetos trabalhem de forma poética esses materiais”, diz o arquiteto paulistano Naoki Otake, que passou cinco anos no Japão. A exposição Parallel Nippon – Arquitetura Contemporânea Japonesa 1996-2006, resultado de O PRADA BOUTIQUE (AQUI), O MAISON HERMÈS (À DIREITA) E O ARC SHAPED SUKYA EXTENTION uma parceria entre a Fundação Japão e o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, passou por diver- (NA PÁGINA AO LADO) SÃO PROJETOS QUE EVIDENCIAM sas capitais brasileiras em 2010 e segue agora para os Estados Unidos. A seguir, destacamos algu- A OUSADIA DA ARQUITETURA NIPÔNICA mas obras da mostra que evidenciam o trabalho preciso e ousado dos arquitetos japoneses.
  • 2. 01 CONTEMPORÂNEO Tadao Ando ganhou destaque no cenário internacional por seus que buscou as raízes para realizar a reforma e ampliação da mile- edifícios limpos e harmoniosos, que sugerem uma arquitetura in- nar casa de Shigenobu Okuma (1838-1922), político da Era Mei- trospectiva e de grande sutileza, sempre em harmonia como a natu- ji, localizada em Karuizawa, no Japão. O projeto, batizado de reza, representada por recortes precisos de luz, espelhos d'água e ARC Shaped Sukyia Extension, foi desenvolvido, em 2004, so- aberturas que favorecem a circulação de ar. O curioso é que Ando bre a casa original retangular. Nela, foi adicionado um bloco cur- é autodidata e nunca se formou em arquitetura. Estudou por conta vilíneo que incorpora espaços que ressaltam a curvatura e a inte- própria, viajando mais tarde pela Europa e América do Norte para gração com a natureza. À estrutura original de madeira foram aprofundar seus conhecimentos na área. Em 1995, ganhou o Prê- acrescentadas chapas de cobre, e o espaço interno teve a cor de mio Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura. madeira original trocada pelo branco. foto TADAO ANDO ARCHITECT & ASSOCIATES; KENDALL; HEATON ASSOCIATES passado presente traços poderosos Na tradição japonesa, o sukiya (algo como “olhar sagrado so- O Museu de Arte Contemporânea do Século 21 está localiza- bre a natureza”) é descrito como uma arquitetura que coloca em do no centro da cidade japonesa de Kanazawa. Erguido em 2004, primeiro plano o usuário, o respeito às características do espaço e o museu circular tem 9,5 mil metros quadrados de área e a pecu- o cuidado com as particularidades de cada material. Restam ape- liaridade de não ter fachada, podendo ser acessado de qualquer nas algumas dezenas de mestres da marcenaria que herdaram os direção. O projeto é dos arquitetos Kazuyo Sejima e Ryue Nishi- preceitos do sukiya autêntico, que surgiu no século 17, nas cons- zawa, do escritório SANAA, premiados com o Pritzker em 2010. truções destinadas às cerimônias de chá japonesas. É o caso de Com linguagem arquitetônica singular, os projetos de Kazuyo Tomoyuki Utsumi, fundador do Milligram Architectural Studio, Sejima e Ryue Nishizawa primam por traços sutis, precisos e ACIMA, O MUSEU DE ARTE MODERNA DE FORT WORTH. ABAIXO, O ARC SHAPED Concreto, vidro e aço ganham destaque na arquitetura japonesa SUKYA EXTENTION, E, NA PÁGINA AO LADO, O MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DO SÉCULO 21: PROJETOS INVENTIVOS PELAS MÃOS DE ARQUITETOS JAPONESES naturalmente iluminado Nascido em 1941, em Osaka, Tadao Ando é o autor do projeto do Museu de Arte Moderna de Fort Worth, no Texas, Estados Unidos. O imponente edifício, inaugurado em 2002, é composto por cinco volumes retangulares paralelos, constituídos de paredes de concreto e vidro com mais de 40 metros de altura. Colunas em formato de Y servem de apoio à cobertura e funcionam também foto KAZUYO SEJIMA + RYUE NISHIZAWA/SANAA como elemento decorativo ao se refletirem no espelho d’água loca- foto TOMOYUKI UTSUMI/MILLIGRAM STUDIO lizado na frente do prédio. Outro volume, em forma elíptica, com- pleta o visual fluido da estrutura. No interior, o pé-direito alto, as paredes transparentes e os sofisticados sistemas de clarabóias pro- porcionam espaços de circulação agradáveis, com luz natural, que possibilitam ao visitante apreciar tanto as obras de arte do acervo quanto o espelho d’água e os jardins da parte externa.
  • 3. 01 CONTEMPORÂNEO interação social fotos TKAZUMI KUDO + HIROSHI HORIBA/COELACANTH K&H ARCHITECTS INC No projeto da Escola Fundamental de Hakata e Centro Comu- nitário de Naraya, os arquitetos Kazumi Kudo e Hiroshi Horiba provocam reflexão sobre a contribuição desse tipo de construção para a comunidade local e sua utilidade na educação. No projeto, a tônica foi criar um espaço de convívio agradável para estudantes e frequentadores. O prédio, erguido na região central da cidade de Hakata, no Japão, em 2001, foi dimensionado para se tornar mais um ponto de encontro do que uma escola tradicional. A dificulda- de inicial foi conciliar o caráter urbano típico da região com a fotos TOYO ITO & ASSOCIATES, ARCHITECTS manutenção de um ambiente amigável para crianças do curso fun- damental. Terraços e balcões erguidos na face voltada para o pátio têm a finalidade de assegurar o contato com o entorno. conhecimento digital Sintonizado com a era da informática, o Pavilhão Kansai-Kan da Biblioteca Nacional da Dieta, erguido em 2002 e localizado na periferia de Tóquio, esconde quase todo o volume no subsolo. A arquitetura japonesa atual incorpora a multiculturalidade do país nas últimas décadas Toda a fachada do pavilhão, projetado por Fumio Toki, é coberta por vidro transparente, evitando, assim, que o caráter monumen- fluidos, mas também potentes e engenhosos. Sejima e Nishizawa ousadia em evidência tal da construção se sobreponha ao valioso acervo da instituição. sabem como poucos aproveitar o espaço contínuo, a luz, a trans- A proposta do arquiteto Toyo Ito para a Midiateca em Sendai, Em oposição à Biblioteca Nacional de Tóquio, na qual a forma parência e a versatilidade dos materiais, em uma síntese delicada, no Japão, está focada na transitoriedade da informação. Mas, ao reforça a massa volumétrica, o desenho imaterial de Kansai-Kan firme e engenhosa. O museu reúne boa parte dessas características. contrário do Pavilhão Kansai-Kan, aqui, o arquiteto optou por pode ser interpretado como uma metáfora da nova era digital. d Seu formato, que lembra uma nave espacial, sugere algo monu- não esconder a construção, mas sim projetá-la de forma peculiar. ACIMA, PERSPECTIVAS DA ESCOLA FUNDAMENTAL DE HAKATA E CENTRO COMUNITÁRIO DE NARAYA. ABAIXO, O PAVILHÃO KANSAI-KAN, DA BIBLIOTECA mental e, aparentemente, dissociado do local onde está encrava- O edifício é composto por 13 colunas tubulares que sustentam NACIONAL DA DIETA. NA PÁGINA AO LADO, VISTAS EXTERNA E INTERNA DA MIDIATECA do. Mas ao se observar os detalhes, como a parede exterior, total- todo o prédio, além de chapas de metal que funcionam como piso foto FUMIO TOKI/FUMIO TOKI ASSOCIATES mente de vidro e que permite visão de 360º do entorno, e as salas e teto e parede exterior coberta com painéis de vidro em toda a de exposição independentes e com formas de círculos e quadra- extensão. Os tubos também são utilizados nas escadas e nos eleva- dos – uma solução para quebrar a monotonia –, percebe-se que o dores e ajudam a trazer luz para a área interna a partir do telhado. museu busca algo a mais do que se isolar ou simplesmente impor A transparência favorece a circulação e a visitação à biblioteca e à sua construção. Ao contrário, propõe um diálogo contínuo entre o galeria de arte, pois amplia a sensação de espaço livre. No primei- interior e o exterior. Além da ausência de uma entrada principal, o ro andar, há uma enorme área, conhecida como praça, que abriga acesso às salas é aleatório, não existe rota privilegiada. Os visitan- um café e a loja do museu. Há cadeiras e bancos espalhados, al- tes podem seguir diretamente o destino desejado ao sabor de seu guns voltados para fora, fazendo do espaço também um convite ao interesse. É, sobretudo, um espaço sem hierarquias. relaxamento e à contemplação.