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urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
ISSN2175-3369
LicenciadosobumaLicençaCreativeCommons
Urbanismo, cultura e globalização em Portugal:
modelos analíticos e de desenvolvimento territorial1
Urbanism, culture and globalization in Portugal:
analytical and territorial development Models
Paulo Castro Seixas
Doutor em Antropologia (Antropologia Urbana), Universidade de Santiago de Compostela, professor associado com
Agregação do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa - Portugal,
e-mail: pseixas@iscsp.utl.pt
Resumo
As cidades têm sido concebidas como actores chave face aos processos globais desde o último quarto do século
XX. Neste quadro, é fundamental perceber-se os diferentes modelos que as cidades utilizam para responder aos
desafios globais. O artigo analisa o estado da arte em Portugal na relação entre cidade e globalização nos últi-
mos 25 anos, no âmbito das ciências sociais e sua relação com as políticas públicas. São caracterizados quatro
modelos analíticos e de desenvolvimento territorial que respondem aos desafios globais: o da Metrópole, o da
Metropolização, o da Intermediação Sócio-Cultural e o da Criatividade Urbana. Propõe-se, em função de tal sín-
tese, uma visão multinível e sua importância no desencadear de novas políticas públicas urbanas e territoriais.
Palavras-chave: Cidades. Globalização. As políticas urbanas. Estudos urbanos.
Abstract
Cities have been viewed as key actors in relation to global processes since the last quarter of the twentieth cen-
tury. In this context, it is essential to understand the different models that cities use to respond to global chal-
lenges.The article presents the state of the art regarding social sciences outputs on city and globalization in
the last 25 years in Portugal and its relationship to public policy. Four territorial analytical and policy models
to respond to global challenges are characterized: the metropolis; the metropolitanization; the socio-cultural
intermediation and the urban creativity. It is proposed on the basis of such a synthesis, a multilevel vision and
its importance in triggering new urban and territorial policies.
Keywords: Cities. Globalization. Urban policies. Urban studies.
¹ Este texto foi escrito a partir da Lição em Provas de Agregação, realizadas em maio de 2010 no ISCSP – Universidade Técnica de
Lisboa, Portugal. Será mantida a grafia original do texto.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
SEIXAS, P. C.56
quadro de (inter)dependência global em que vivemos.
Esta síntese e a consciência acrescida que ela pode
possibilitar, utilizando o caso português como case-
-study, poderá, estamos certos, ver tais modelos re-
flectidos na experiência de outros países, uma vez
que os próprios modelos de análise e intervenção
decorrem da experiência da transnacionalização.
A consciência possível
É apenas em meados da década de 80 que a ‘glo-
balização’ começa a ser um conceito usado, reme-
tendo, antes de mais, para uma internacionalização
ou mundialização da economia, e adquirindo depois
uma diversidade de significados:
a) a hegemonia e homogeneização dos valores
liberais;
b) uma nova época histórica;
c) um fenómeno de compressão do espaço tempo;
d) uma terceira revolução tecnológica;
e) um fenómeno sócio-económico, etc.
Quanto à relação entre processos globais e urba-
nismo é, ao mesmo tempo, muito antiga e muito re-
cente. Muito antiga porque a cidade sempre foi a tra-
dução possível do mundo (veja-se o mito de Babel)
e, nos seus graus mais elevados, da cidade-estado à
cidade imperial e à cidade global, a cidade ambicio-
nou sempre estruturar ou estruturou mesmo o pró-
prio mundo. No entanto, num tempo pluralizado pe-
las globalizações, a reflexão sobre as relações entre os
processos globais e o urbanismo implicam novos qua-
dros de análise. A ‘globalização’ faz-se sentir no perío-
do da história da humanidade em que o crescimento
da população mundial é mais rápido, em que se dá o
maior êxodo rural de sempre e em que a população
urbana atinge mais de 50% da população mundial.
Em Portugal a reflexividade da globalização no
mundo urbano evidencia-se nos mais diversos cam-
pos e regimes textuais, imagéticos e discursivos, sen-
do talvez de relevar quatro imaginários:
a) o das ciências sociais;
b) o das políticas públicas, quer portuguesas, quer
da União Europeia;
Introdução
Este texto apresenta uma revisão da literatura
centrada na relação entre análise e intervenção ur-
banas e territoriais e globalização em Portugal nos
últimos 25 anos (desde 1985 do século passado²).
A (inter)dependência global alterou substancialmen-
te o quadro no qual as políticas públicas urbanas e
territoriais se constroem e se implementam, sendo
no entanto necessária uma certa distância temporal
para a consciência de tal interdependência e a com-
preensão dos diferentes tipos de modelos de análise e
interveção urbana e territorial que estão na base das
políticas públicas. O objectivo deste artigo é, exacta-
mente, fazer um ponto da situação face às análises
e intervenções urbanas e territoriais em Portugal de-
correntes de uma consciência em mudança relativa-
mente aos desafios da (inter)dependência global ou
‘globalização’. A metodologia seguida foi a da revisão
bibliográfica e documental, centrada na produção
científica das Ciências Sociais na sua relação com o
urbano e o territorial, tendo-se tido como critério
central, na análise das publicações/documentos, a re-
ferência a um quadro transnacional. Ainda que se não
tivesse recorrido a uma análise métrica, a Geografia
e a Sociologia são as ciências que proporcionaram
maior produção em termos de análise e propostas
de intervenção, tendo a Antropologia ou a Ciência
Política e a produção de documentos programáticos
menor evidência produtiva. A análise de conteúdo
efectuada de todo o acervo bibliográfico e documen-
tal levou à identificação de universos conceptuais
específicos, os quais depois de agregados, em função
de uma procura de coerência, possibilitou a categori-
zação em grandes modelos de análise e intervenção.
Atingiram-se quatro modelos de análise e interven-
ção urbana e territorial em Portugal, num quadro de
globalização, a saber: o da Metrópole, o da Metro-
polização, o da Intermediação Sócio-Cultural e o da
Criatividade. A síntese que estes quatro modelos nos
possibilita, apresentada neste artigo, é também um
ponto da situação face às políticas públicas urbanas e
territoriais, permitindo-nos reflectir sobre os cons-
trangimentos e oportunidades de cada modelo, as-
sim como sobre as estratégias a desencadear para
um mais consciente planeamento e implementação
das políticas públicas urbanas e territoriais no novo
² Em 1º de Janeiro de 1986, Portugal aderiu à CEE.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 57
não é feita num mesmo espaço-tempo. Os estudos
teóricos e comparativos que possibilitam quadros de
análise são estabelecidos mais por regiões e países
centrais, enquanto os países periféricos tendem a se-
guir tais quadros nos seus trabalhos mais empíricos
e de estudo de caso relativos aos seus próprios paí-
ses (ALATAS, 2003 apud FORTUNA, 2007). A defesa
da intensificação da cooperação em ciência, para a
tradução e a leitura do Sul científico e para a criouli-
zação científica do mundo, parece-nos certa mas tal
não parece poder alterar o facto da produção teórica
aceite ser a que provém de sociedades centrais e lín-
guas centrais que elegem temas centrais. Vem isto a
propósito da relação temática abrangente entre ur-
banismo e globalização cuja produção sociológica, no
caso português, é escassa. Neste sentido, Portugal é
um país do Sul. Porque se nos perguntarmos que teo-
rias temos disponíveis escritas por portugueses para
compreender a relação entre urbanismo e globaliza-
ção, poderá ser difícil responder. No entanto, tal difi-
culdade pode existir mais em função de uma ausên-
cia de síntese teórica das proposições contrastantes
que foram sendo feitas ao longo do tempo sobre tal
relação do que, propriamente, pela ausência destas.
Este texto procura ser um contributo para a saí-
da de tal situação. Tal implica ter uma consciência da
produção portuguesa como produtora de quadros
teóricos, possibilitando, assim, não só políticas do
território sustentadas por reflexões teóricas portu-
guesas, mas mesmo a comparação entre tais qua-
dros teóricos com os de diversas outras geografias
de produção científica. Interpretando o caminho que
se fez ao longo dos últimos 25 anos, procurou-se
neste texto compreender as diversas proposições,
no quadro amplo das Ciências Sociais, face às relações
entre urbanismo e globalização em Portugal, pro-
pondo-se uma categorização dessas em quatro mo-
delos de interpretação e acção: o da Metrópole, o da
Metropolização, o da Intermediação Sócio-Cultural
e o da Criatividade Urbana.
c) o do marketing na construção de Portugal
como marca;
d) o das artes, novelísticas, pictóricas, drama-
túrgicas, filmicas, etc. Estes imaginários, ao
constituirem-se como a reflexividade da glo-
balização, são também a consciência possível
acerca daquela.
Neste texto centrar-nos-emos apenas na reflexivi-
dade da produção das Ciências Sociais em Portugal,
e, especificamente, nas relações com o urbano sendo,
no entanto, importante referir os demais imaginá-
rios que com este, de uma ou de outra forma, aca-
bam por dialogar.³
No quadro das Ciências Sociais, os processos glo-
bais influenciaram (e influenciam) a divisão do tra-
balho científico implicando mudanças no próprio ob-
jecto de estudo que as cidades eram para a Geografia,
a Sociologia ou a Antropologia. Em 1992 afirmava-se
já que era necessário passar de uma escala da cidade
à metrópole; do urbano ao território; da Sociologia
Urbana à Sociologia do Território; da perpectiva ana-
lítica à prospectiva (FERREIRA, 1992). A transição da
escala da cidade para a do território e da mono para a
interdisciplinaridade dos anos 80 para os 90 foi clara
nos centros de investigação nesta área. É o caso do
do Centro de Estudos Territoriais (CET) do ISCTE, fun-
dado em 1991 a partir do Núcleo de Estudos Urbanos
e Territoriais (NEUT), que tinha surgido em 1980 no
âmbito do Centro de Estudos de Sociologia (actual-
mente Centro de Investigação e Estudos de Sociolo-
gia – CIES). Um outro caso é o do Centro de Estudos
Geográficos (CEG ), o qual, tendo a sua origem em
1943 com Orlando Ribeiro, evidencia uma transição
clara dos anos 80 para os anos 90, com o seu núcleo
de estudos urbanos, denominado Urban Studies –
Neturb. A adopção de uma categorização plural, seja
Estudos Territoriais ou Estudos Urbanos, evidencia a
abertura de escala e disciplinar. No entanto, tal pas-
sagem para uma escala territorial e interdisciplinar
³ Para dar apenas alguns exemplos, no quadro das políticas públicas, para além dos múltiplos programas, é de referir dois momen-
tos-chave na construção de novas fronteiras territoriais e identidades: o documento da Comunidade Europeia Practical Guide to
Cross-Border Cooperation (2000), assim como o PNPOT- Programa Nacional de Planeamento e Ordenamento do Território (2007).
No quadro da construção de Portugal como marca, as campanhas do ICEP (‘take a break from the rest of the world’) e a de BBDO
(Europe West Coast) por exemplo evidenciaram a problemática da ‘posição’ de Portugal entre o ‘resto do mundo’, o ‘Sul’ e a ‘Costa
Oeste’. Finalmente, no quadro das artes, e, por exemplo, no caso das narrativas vale a pena referir três romances que constro-
em imaginários territoriais muito diferentes: ‘Jangada de Pedra’ (1986) de José Saramago, ‘Euronovela’ (1998) de Miguel Vale de
Almeida e ‘Destino Turístico’ (2008) de Rui Zink. Ou ainda, nas artes plásticas, trabalhos de Leonel Moura e de Joana Vasoncelos
entre outros tendo como referência Portugal.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
SEIXAS, P. C.58
da criatividade urbana (COSTA; SEIXAS; OLIVEIRA,
2009; SEIXAS; COSTA, 2008). Procuraremos, nas pá-
ginas seguintes, caracterizar cada uma destas pers-
pectivas em função das quais as Ciências Sociais em
Portugal foram traduzindo a globalização nas suas
relações com o urbanismo.
O modelo da Metrópole
A primeira revelação, implicando também alguma
ocultação, da relação entre globalização e urbanismo
em Portugal dá-se pela (re)introdução da noção de
Metrópole. De facto, metrópole significava, no tempo
colonial, o território português europeu em relação
às ‘províncias ultramarinas’, como então se chama-
vam. O fim da colonização fez com que o termo me-
trópole passasse a ser sinónimo (ainda que não tives-
se um uso generalizado) da cidade de Lisboa. Lisboa
passou “de capital do Império a centro da Metrópole”
(FERREIRA, 1986b), mantendo a sua centralidade
histórica e, mesmo, enfatizando-a, como compensa-
ção da perda territorial sofrida. Falar de Lisboa como
‘Centro da Metrópole’ ou mesmo como ‘metrópole’
remete para uma consciência de uma determinada
globalização, a da primeira globalização, cujo símbolo
máximo terá sido o Tratado de Tordesilhas, dividindo
o Mundo entre dois países com duas cidades-mundo
(Lisboa e Sevilha), ou seja, o mundo colonial. Esta re-
velação de Lisboa como Metrópole é também, assim, a
consciência de uma perda, a qual se procurará supe-
rar. No limiar da Expo’98⁴ – de certo modo um mar-
co de desluto colonial ao passar-se da denominação
‘Mercado do Oriente’ e da celebração da chegada de
Vasco da Gama à Índia para a celebração universa-
lista e futurista dos Oceanos – Vitor Matias Ferreira
(1997) no artigo “A Expo’98 e a metrópole de Lisboa”
apresenta ainda Lisboa como a cidade-metrópole,
centro de um território metropolitano, centro do país.
Assim, em vários textos ‘metrópole’ surge como sinó-
nimo quer do país, quer da sua capital, Lisboa, sendo
esta uma metonímia daquele.
Metrópole, Metropolização, Intermediação
Sócio-Cultural e Criatividade Urbana
Propomos que a reflexividade sobre a relação en-
tre urbanismo e globalização em Portugal ao longo
dos últimos 25 anos pode ser compreendida em fun-
ção de quatro modelos, englobando cada um deles
propostas conceptuais muitos diversas. Não obstante
o facto de, em cada momento histórico de tal reflexi-
vidade, os conceitos surgidos terem sido entendidos
como contrapostos e legitimando mesmo interven-
ções territoriais diferenciadas, é possível à distância
do tempo concebermos tais propostas conceptuais
como fazendo parte dos mesmos modelos em cons-
trução. Os quatro grandes modelos propostos, o da
Metrópole, o da Metropolização, o da Intermediação
Sócio-Cultural e o da Criatividade Urbana, constituem
não só perspectivas (como um olhar geral sobre uma
paisagem em construção), mas mesmo quadros de
intervenção no âmbito da relação entre urbanismo
e globalização em Portugal.
A focalização na Metrópole foi a primeira e
centrou-se em conceitos como o de metrópo-
le (FERREIRA, 1986a, b, 1997); cidade primacial
(BAPTISTA, 1994; GAMA, 1993); urbanismo difuso
(GAMA, 1993; GASPAR, 1987; FAUP, 2002) e pola-
rização limite (FERRÃO, 1997). A focalização na
Metropolização seguiu-se-lhe, com conceitos como
os de metropolização (FERREIRA, 1992; BRITO,
1997; SEIXAS, 1999) ou região urbana (FERRÃO,
2007), estabelecendo alguma relação com o de-
senvolvimento local (FERRÃO, 2000; SILVA, 2000).
Depois, a focalização na Intermediação Sócio-Cul-
tural, com conceitos como os de destradicionaliza-
ção (FORTUNA, 1997, 2006), formatação cultural
(FERREIRA, 2002b), oportunidades mobilizadoras
(FERREIRA, 2007), redesenvolvimento das cidades
(FORTUNA; SILVA, 2001), zonas e profissionais de
Intermediação Sócio-Cultural (FERREIRA, 2009;
FORTUNA; SILVA, 2001). Por fim, a focalização na
Criatividade Urbana centra-se, exactamente, nos lu-
gares da criatividade urbana e espaços e processo
⁴ A Expo’98 ou Exposição Internacional de Lisboa de 1998, realizou-se entre 22 de maio e 30 de setembro de desse ano. A parte
oriental da cidade, escolhida para acolher o evento, era uma zona de estaleiros com contentores, uma zona de depósitos de com-
bustíveis e uma zona periurbana pouco valorizada. A Expo’98 realizou uma intervenção integrada, cultural, social, arquitectónica e
urbanística, teve mais de 10 milhões de visitantes (a população portuguesa) e foi considerada pela BIE (Bureau International des
Expositions) como a melhor exposição de sempre. A exposição serviu para a reconversão urbana completa de uma vasta zona (330
hectares com 5 km de frente ribeirinha) que se tornou no actual ‘Parque das Nações’, uma nova centralidade em Lisboa de elevada
qualidade de vida. Alguns trabalhos têm sido feitos sobre este novo espaço urbano (por exemplo, GATO, 2009).
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 59
Quadro 1 - Tipos de urbanização no Centro e na Periferia
Centro Periferia
Urbanização antiga Sobre-urbanização recente
Taxas altas de urbanização Taxas baixas de urbanização
Curvas de ordem-tamanho log-normais Estrutura primacial da rede urbana
Urbanização como desenvolvimento Urbanização como dependência
Fonte: Dados da pesquisa.
contraurbanização e pode ser de tipo metropolitano
ou não metropolitano. É, no entanto, mais uma vez
António Gama que procura fazer uma relação entre
a urbanização difusa e os processos mais globais,
afirmando que tal urbanização é a evidência da si-
tuação semiperiférica e de dependência do centro
em que Portugal se encontra em termos históricos.
Gama parte de um quadro de diferenças entre ur-
banização nos países do Centro e urbanização nos
países da Periferia (GAMA, 1993, p. 443-444):
A focalização na primacialidade de Lisboa é uma
derivação desta ideologia. Diversos autores descre-
veram o carácter de cidade primacial de Lisboa face
ao resto do país. Luís Vicente Baptista (1994) refere
a excepcionalidade demográfica de Lisboa em 127
anos de Censos em relação ao conjunto da popula-
ção e Álvaro Silva (1997) refere a relação primacial
da maior cidade com o conjunto do sistema urbano.⁵
É, no entanto, António Gama (1993) que estabelece
uma relação entre a primacialidade de Lisboa no sis-
tema urbano e a globalização ao afirmar que o Mode-
lo Primacial se associa à periferia do sistema mundo
ou/e a países que foram centros de Impérios. A dé-
cada de 2000 evidenciou mudanças no sistema ur-
bano português com consequências para o indicador
da Primacialidade. De facto, com o Censo de 2001
deixa de se poder falar em primacialidade urbana
stricto sensu,⁶ ainda que se possa falar de macrocefa-
lia de Lisboa (não já no sentido demográfico) versus
uma satelização nacional – em função da possibili-
dade de um ‘cenário de médio prazo’ de ‘Neocentra-
lismo’ (FERRÃO; MARQUES, 2003) ou, substituindo
a comparação entre cidades por uma comparação
entre áreas metropolitanas, se possa aplicar de novo
o conceito de primacialidade,⁷ ou referindo-se, ainda,
à bipolarização-macrocefalia das áreas metropoli-
tanas (VALENTE, 2004).
Uma outra visão da relação entre urbanismo e
globalização no quadro do modelo da Metrópole, cons-
truída no início da década de 90, centra-se no concei-
to de urbanismo difuso. Jorge Gaspar (1987) caracte-
riza dois grandes tipos de urbanização em Portugal:
a urbanização com concentração e a urbanização di-
fusa (Quadro 1). Assim, o urbanismo difuso é a con-
traparte da Metrópole ou da primacialidade. É neste
sentido que o conceito de urbanização difusa serve a
explicação da relação entre urbanismo e globalização
segundo o modelo da Metrópole. A urbanização difu-
sa pode ser o resultado da urbanização in situ ou da
⁵ O conceito de primacialidade é, assim, usado com diferentes acepções, de forma mais generalista como um ratio entre a população
da maior cidade face à população do país e, de forma específica, como quando o ratio entre a população residente da primeira
cidade face à população residente da segunda maior cidade é igual ou superior a 2.
⁶ No Censo de 1991, Loures – uma cidade da Área Metropolitana de Lisboa, com 322 mil habitantes – tinha ultrapassado em popula-
ção a cidade do Porto (302 mil). No entanto, Lisboa (com 663.034) mantinha a primacialidade. Mas em 2001, Lisboa tem 564.657
habitantes, Sintra (não sendo cidade) passa a estar em segundo lugar, com 363.749, Vila Nova de Gaia em terceiro, com 288.749 e
o Porto em quarto, com 263.131.
⁷ Curiosamente, a relação entre a região correspondente às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto entre 1950 e 1970 não implicavam
uma primacialidade da primeira. No entanto, o Censo de 1981, 1991 e 2001 denotam tal primacialidade, ou seja, a Área Metropolitana
de Lisboa tem mais do dobro de população residente que a Área Metropolitana do Porto (FERRÃO; MARQUES, 2003, p. 61).
A urbanização difusa é, assim, função de uma de-
terminada relação capital/trabalho que nos coloca na
semiperiferia, enfatizada pela situação pós-colonial
(GAMA, 1993). No entanto, e para além do urbanis-
mo difuso ser explicado em função de uma determi-
nada situação portuguesa no sistema mundo, Gama
considera que a urbanização in situ é uma singulari-
dade portuguesa, não tanto explicável por factores
globais mas mais pela evidência da importância so-
cial da comunidade local. Esta teoria da urbanização
difusa acabou por ser adoptada posteriormente por
outros autores vários. Foi o caso de Fernandes de
Sá, Álvaro Domingues, Nuno Portas e outros que tra-
balharam a urbanização difusa no Noroeste Penin-
sular, propondo mesmo o conceito de cidade difusa,
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
SEIXAS, P. C.60
se deu senão em relação a Lisboa. Ferreira (1986a,
p. 37) afirma:
Como veremos melhor, seguidamente, a aborda-
gem diacrónica será, então, desenvolvida em condi-
ções de maior «proximidade» da realidade visada,
isto é, em relação ao caso que tem vindo a ilustrar a
presente formulação conceptual, através da concre-
tização analítica do processo de metropolização
do território, estruturado e diferenciado em função
do «centro urbano» da Metrópole de Lisboa.
Tal centralidade das Ciências Sociais na análise da
capital levava a uma identificação entre Metrópole
e Metropolização, servindo a análise do território
apenas para reforçar o modelo da Metrópole e não
desenvolvendo, de facto, a proposta epistemológica
e metodológica de Matias Ferreira. Assim, foi preciso
esperar-se pelo final dos anos 90 para que o modelo
da Metropolização começasse a desenhar-se.
Em 1997, o texto de João Ferrão já referido inau-
gura o tema da rede, como metodologia de análise
e desenvolvimento territorial, face à hierarquia, en-
quanto tema até então dominante. No mesmo ano,
Soeiro de Brito (BRITO, 1997, p. 228) analisa a in-
fluência da globalização na mudança territorial e ur-
bana. Especificamente refere que a mudança na “fi-
sionomia interna das cidades”, na “sua articulação
no sistema urbano” e na sua articulação “no sistema
regional” são consequência da globalização da eco-
nomia, da globalização da divisão do trabalho e da
nova economia da informação e dos serviços. Em
1999, o autor deste mesmo texto (SEIXAS, 1999,
2008) analisa a cidade do Porto segundo uma lógica
de transição de socioespacialidade urbana para so-
cioespacialidade metropolitana, caracterizando-as
como modelos transnacionais. A análise da cidade
do Porto numa lógica metropolitana era aceite por
muitos com uma certa ironia, tanto mais que a re-
presentação cultural ‘O Porto é uma nação’, as for-
mas de relacionamento social entendidas como de
proximidade e a periferização política e, ao longo
dos anos 90, económica remetiam o Porto para um
estatuto de uma certa pequenez (Quadro 2).
Sustentando-se em Gottdiener, Martinotti, Asher
e outros, Seixas considera que se está perante uma
nova forma de espaço urbano em que a metropo-
lização substitui a urbanização e a região urbana
substitui a cidade (SEIXAS, 1999, 2008, p. 56-59).
o qual nos coloca já num outro momento e que abor-
daremos no modelo seguinte.
Uma última focalização, no âmbito do modelo
da Metrópole, mas que apresenta já uma transição
clara e abertura ao modelo seguinte, evidencia-se
em função da noção de polarização limite (FERRÃO,
1997). Ferrão enquadra o problema que pretende
tratar (rede urbana, instrumento de equidade, co-
esão e desenvolvimento?) logo à partida em função
de um quadro global. Ferrão considera que a globa-
lização causou um aumento da especialização e da
mobilidade e que tal implicou, em termos territo-
riais e urbanos, uma remetropolização e polariza-
ção. Diz ainda que a mudança territorial e urbana
evidencia dois modelos de sistemas urbanos – o mo-
delo da hierarquia funcional por um lado, e o mode-
lo de rede por outro –, e este é o grande contributo
de Ferrão, ao afastar-se de uma análise meramente
centro-periferia, como fez Gama. E a proposta de
Ferrão, em termos de gestão e política territorial, é
a de conjugação dos dois modelos. Ou seja, o desafio
é o de gerir o sistema urbano português no máximo
de vantagens sociais da equidade e no máximo das
vantagens económicas da polarização.
Em resumo, o modelo da Metrópole baseia-se na
descrição e análise dos sistemas urbanos segundo a
valorização da hierarquia funcionalista (demográfi-
ca e económica) e, portanto, do centralismo. Quer os
trabalhos histórico-demográficos tendo como âmbi-
to o país, quer os trabalhos mais comparativos aca-
bam sempre por justificar um modelo territorial e ur-
bano hierárquico funcionalista de base demográfica
e económica. A identificação da urbanização difusa e
a sua caracterização como ‘singularidade portugue-
sa’, associada à ‘importância da comunidade local’, é
a contraparte etnográfica-folclorista que confirma a
importância da concentração urbana, principalmen-
te no quadro de competição global e, por isso, a defe-
sa de tal estratégia como política pública.
O modelo da Metropolização
Se é verdade que Matias Ferreira já em 1986 ti-
nha referido a importância da passagem da escala
analítica de cidade e de urbano à escala do território
e, portanto, a metropolização estava já aqui delinea-
da como território de análise e de intervenção, a
verdade também é que tal empreendimento nunca
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 61
Quadro 2 - Socioespacialidade urbana e socioespacialidade metropolitana
Socioespacialidade urbana Socioespacialidade metropolitana
Nó comprimido e contínuo Região desconcentrada e descontínua
Urbanismo compacto Urbanismo portátil
Cidade pedestre e de localidades
(walking city)
Des-localização auto-mobilizada e de
glocalidades (car-city)
Cidade habitacional e de trabalhadores Entreposto de consumidores
Zonamento económico-social Zonamento narrativo e temático
Fonte: Dados da pesquisa.
sócio-económicos. Encontramo-nos, portanto, pe-
rante a manifestação de um novo fenómeno real
que reclama alguma nova elaboração conceptual
(INDOVINA, 1990, p. 50).
Indovina caracteriza de forma intensiva esta
nova forma urbana nas diversas variáveis em jogo
(INDOVINA, 1990, p. 58), evidenciando-se que o re-
latório da FAUP (2002) segue este quadro. No en-
tanto, sublinhando um dos aspectos fulcrais para a
nossa argumentação, é de referir a substituição de
conexões verticais, hierárquicas, típicas de um me-
trópole e sua influência sobre um território, por co-
nexões horizontais, não hierárquicas. Tais conexões
horizontais, caracterizando-se por uma muldirecio-
nalidade de fluxos é o que identifica a cidade difusa.
Indovina frisa, no entanto, que tal situação não colo-
ca o território em autarcia uma vez que ele está co-
nectado hierarquicamente com os territórios mais
abrangentes (INDOVINA, 1990, p. 56).
Sá et al. no relatório FAUP (2002, p. 2) apresen-
tam a urbanização difusa como um dos processos
(ao lado da suburbanização, da periurbanização, da
rururbanização) que leva à transformação dos sis-
temas urbanos. A relação estabelecida é a de que
a urbanização difusa dá lugar à cidade difusa, que
esta é predominante em Portugal e que o Noroeste
Peninsular é um laboratório por excelência para o
seu estudo. Os autores afirmam, então, que um dos
processos por meio dos quais se chega à cidade di-
fusa é a urbanização difusa. Pela “urbanização di-
fusa [...] as redes de relação abarcam a totalidade
do território e fazem deste território uma cidade”
(FAUP, 2002, p. 2). Parece haver uma certa sobrepo-
sição entre o conceito de cidade difusa e o de cida-
de região, concebendo-se que se está perante “uma
nova ordem urbana, compósita, hetrógenea, polinu-
cleada, produzida por múltiplos agentes e lógicas,
em que cada uma das partes ou elementos (como
decorre da teoria dos sistemas) só é descernivel a
partir de lógicas de estruturação do sistema a que
pertence” (FAUP, 2002, p. 8, grifo no original). De
facto, apesar do relatório referir cidade difusa no
título, o conceito é substituído por cidade região a
partir das primeiras páginas. De qualquer forma,
ainda que não refiram uma relação com a globaliza-
ção clara, os autores consideram que uma nova for-
ma urbana emerge quer de um como de outro lado
do Atlântico (FAUP, 2002, p. 8) e que tal
Defende, ainda, que tal transição se relaciona com
paradigmas sócio-espaciais e políticas da diferença
globais que influenciam as estruturas antropológi-
cas urbanas. No entanto, uma ênfase no modelo da
Metrópole e a (consequente) tardia criação do concei-
to administrativo de Área Metropolitana em Portugal
(Lei n. 10/2003 – revogada pelas Leis n. 45/2008 e
n. 46/2008 – que possibilita a cristalização das as-
sociações de municípios criada pela Lei n. 172/99),
assim como a recusa da regionalização, levou a que
os conceitos de cidade região e região urbana na
acepção sociológica demorassem a atingir um pata-
mar de conceito analítico. A pesquisa sobre cidade
difusa, por um lado (FAUP, 2002), e a pesquisa sobre
as regiões metropolitanas (FERRÃO et al., 2002), por
outro, evidenciam esta nova perspectiva.
O conceito cidade difusa foi usado, em princípio,
por Franco Indovina (1990) para a análise da região
de Venetto Central, em Itália. Tal como neste texto
consideramos que urbanização difusa é tão diferente
de cidade difusa que incluímos em dois modelos de
análise e desenvolvimento urbano e territorial, tam-
bém Indovina refere:
Se anteriormente o adjectivo “difuso” qualificava a
urbanização (Urbanização difusa), hoje torna-se ne-
cessário encontrar uma nova terminologia e, numa
primeira tentativa, definimos esta nova estrutura
territorial como Cidade Difusa. Em certo sentido,
a “cidade difusa” tem às suas costas a “urbaniza-
ção difusa” mas os dois fenómenos apresentam-se
como completamente distintos, tanto na matriz
territorial como no âmbito económico social e cons-
tituem estádios distintos de organização do espaço
como consequência da reorganização dos processos
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
SEIXAS, P. C.62
Nestas novas regiões cognitivas são relevantes a
rede de cidades médias e o desenvolvimento local, que
surgem nos textos de outros autores, vários de facto,
os quais procuram articular a importância de tais
redes territoriais com os constrangimentos reais e rei-
ficados pela perspectiva hegemónica, mesmo quando
crítica, da hierarquia funcional internacional. Em re-
lação ao desenvolvimento local, José Portela (1998),
Cris Gerry (1999) e Manuel Carlos Silva (2000) de-
ram alguns contributos pertinentes. Gerry (1999, p. 7,
grifo do autor) contrapõe-se à perspectiva hierárqui-
ca e considera que “a realidade da globalização é
muito mais complexa, fragmentada, vacilante,
intermitente, parcial e desigual”. Gerry identifica
três conceitos como fundamentais: a fronteira entre
espaços globalizados e não globalizados, a cadeia
de valor e as estratégias de adaptação local. Manuel
Carlos Silva (2000, p. 303) propõe o conceito de con-
trapontos (2000, p. 294), os quais se podem expressar,
pelo que entendemos, por “iniciativas locais contra-
hegemónicas participadas e decididas a partir de
baixo, quer a nível das pequenas e médias cidades,
quer a nível das zonas rurais”. João Ferrão (2000)
faz, de certo modo, um ponto da situação entre a de-
fesa de iniciativas do “desenvolvimento local” que
procuram a criação nos mundos rurais de ‘territó-
rios inteligentes’ e de “cadeias de valor” “a partir
de baixo” e os constrangimentos do ‘centro’ ou do
‘alto’. Ferrão afirma que “o futuro dos ‘mundos ru-
rais’ decide-se, no essencial, em sede urbana”, sen-
do, assim, necessário estimular a representação de
“bio-região” e de “região cognitiva” como rede capaz
de se articular em torno de uma cidade grande para
ser capaz de uma promoção face a mercados abran-
gentes (FERRÃO, 2000, p. 49-52).
Mais recentemente, já na década de 2000, a cria-
ção dos Agrupamentos Europeus de Cooperação
Transfronteiriça – AECT (UNIÃO EUROPEIA, 2006)
evidencia o caminho que a lógica das redes está a
tomar (MEDEIROS, 2010). A partir do modelo da pri-
meira Euroregio, criada em 1958 na fronteira entre a
Alemanha e a Holanda, os AECT constituem-se como
redes cada vez mais abrangentes para criarem esca-
la, quer para a sustentabilidade interna, quer para
adquirir vantagens competitivas na relação externa,
deixando as noções de interno e externo de coinci-
dir com fronteiras dos Estados, ainda que as sedes
desses AECT num Estado ou noutro não seja dispi-
cienda e de ignorar. De facto, o caminho dos AECT
traduz não só a falência do modelo canónico de ci-
dade ou da metrópole, mas, sobretudo, a necessi-
dade de encontrar novas abordagens teóricas para
captar a complexidade e a extensão territorial das
conurbações (simultaneamente, resultado e pro-
cesso) que se vão expandindo geograficamente,
compactando-se ou diluindo-se em formas incer-
tas, de limites imprecisos e em contínua transfor-
mação (FAUP, 2002, p. 8).
Toda a caracterização, ao longo do trabalho, da
‘cidade região’, e suas conurbações metropolitanas,
não metropolitanas e cidades médias, é a demons-
tração de tais ideias.
Ferrão, Rodrigues e Vala (2002, p. 194) afirmam
que “as regiões metropolitanas portuguesas consti-
tuem peças chave do processo de inserção interna-
cional do país, tanto numa óptica de contiguidade
espacial (Peninsula Ibérica) como em termos de co-
nexão com redes supranacionais de circulação de
pessoas, informação, conhecimentos, produtos e ser-
viços”. É tendo em conta este quadro que utilizaram
diversas metodologias de forma a ter uma compreen-
são das ‘regiões metropolitanas’ (do Porto e Lisboa)
que ultrapassasse uma visão impressionista, territo-
rialista ou meramente administrativa. Basicamente
foram usadas três metodologias: a Nurec (Network
on Urban Research in the European Union) desenvol-
vida por esta rede de investigação em 1994; a Gemaca
(Group for European Metropolitan Area Comparaive
Analysis) desenvolvida em 1996 e a desenvolvida
pelo CPSV (Centre de Política de Sol i Valoacions)
de Barcelona e que segue de perto critérios dos
censos americanos. O que é pertinente neste estu-
do é a procura de novos mapas que possibilitem
uma consciência cognitiva das regiões metropo-
litanas, as quais são, de facto, espaços de fluxos e
vivências. Os autores referem a complexidade das
realidades metropolitanas e o facto de qualquer
delimitação destas ser sempre arbitrária e tenden-
cial (FERRÃO; RODRIGUES; VALA, 2002, p. 193). No
entanto, o facto das regiões metropolitanas serem
“peças centrais de qualquer estratégia de desen-
volvimento” (FERRÃO, RODRIGUES E VALA, 2002,
p. 195), implicando critérios diferentes dos que se
usam para delimitar as cidades e as próprias áreas
metropolitanas, resulta em novas “geografias cogni-
tivas”. É, assim, para uma nova cognição de regiões
que esta obra contribuiu.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 63
Figura 1 - O Sistema Urbano Nacional segundo o PNOPT
Fonte: DGOTDU, 2007.
Figura 2 - Os Agrupamentos Europeus de Cooperação Transfronteiriça (AECT)
Fonte: EUROPEAN COMMISSION, 2007.
População das cidades em 2001
564 657
100 000
10 000
Capitais
Sistema Metropolitano
Outros Sistemas Urbanos
0 50 km
Algarve
Huelva
Baixo
Alentejo
Alto
Alentejo
Alentejo
Litoral
Alentejo
Central
Badajoz
Cáceres
Beira Interior
Sul
Beira
Interior
Norte
Cova da Beira
Serra da
Estrela
Dão-Lafões
Douro
Alto
Trás-os-Montes
Tâmega
Grande
Porto
Cávado
Minho-Lima
Ourense
Pontevedra
Ave
Salamanca
Zamora
Lugo
León
Valladolid
Ávila
ESPAÑA
PORTUGAL
Pinhal
Interior
Sul
Sevilla
Córdoba
parece ser o de colocar em causa a lógica económica
hierárquica, de tipo estrutural, em função da escala
ganha pela concretização de redes urbanas e terri-
toriais transestatais. De certo modo, a mesma lógi-
ca que impulsionou a CEE e a sua continuação em
UE, ou seja, através da ‘rede’ ganhar dimensão para
adquirir um lugar na hierarquia. Esta perspectiva
evidencia como relações sócio-políticas e institucio-
nais, em rede, bem sucedidas podem fazer a dife-
rença nas hierarquias materiais e económicas tidas
como seguras.⁸ Nesta nova lógica urbano-territorial
de desenvolvimento de redes, a não concretização
da regionalização em Portugal⁹ e a subsequente in-
cipiência das próprias regiões urbanas (a função li-
mitada das Comissões de Coordenação Regional e a
governação das Áreas Metropolitanas que só surgiu
com a Lei 46/2008) levou a que nas AECT o papel de
Espanha seja, de facto, mais activo. Não deixa de ser
interessante comparar o mapa de metropolizações
nacionais, identificadas no PNPOT, e o mapa corres-
pondente à área de AECTS, metropolizações transna-
cionais, e como cada um parece o negativo do outro
(Figuras 1 e 2).
Resumindo este segundo modelo, um primeiro
aspecto fundamental é que a passagem de um mode-
lo de Metrópole para um modelo de Metropolização
possibilitou a entrada na análise de investigadores
com sede noutros pontos do país e que podiam, ago-
ra, ter uma perspectiva do desenvolvimento terri-
torial e urbano que não passava apenas por Lisboa.
É em função disso que temos produção de investi-
gadores de universidades do Porto, do Minho e de
Trás-os-Montes, ou seja, uma pluralidade de visões
acerca do urbano e territorial. O que se evidencia no
modelo da Metropolização face ao da Metrópole é,
antes de mais, uma complexificação em que à hie-
rarquia funcional (de base económica e demográfi-
ca) se acrescenta e sobrepõe (sem se substituir) um
sistema de redes de construção sócio-política mais
do que meramente administrativa.
⁸ Exemplo desta lógica é a criação da primeira macrorregião da Peninsula Ibérica, designada como Sudoeste Europeu, cujo primeiro
passo foi dado a 17 de Setembro de 2010 com um memorando de entendimento, assinado em Valladolid, entre os representantes
das três regiões do Noroeste Peninsular, o Governo da Galiza, o Governo da Castela e Leão e a CCRN de Portugal. O objectivo é apre-
sentar candidatura aos fundos comunitários de 2014-2020 para a concretização de tal macrorregião cuja apresentação formal está
marcada para dezembro de 2010 na Cimeira Ibérica de Elvas (GOMES, 2010).
⁹ O referendo de 1998 à Regionalização que resultou na sua recusa.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
SEIXAS, P. C.64
tradition-maintenance, re-tradicionalization and the
construction of new traditions.” (HEELAS, 1996, p. 2).
E é sobre exemplos relativos a esta tese da coexis-
tência que o livro de Heelas, Lash e Morris (1996) se
focaliza. A proposta de Carlos Fortuna de utilização
do conceito de destradicionalização é também com-
preensível no quadro desta definição. Raciocinando
já numa lógica de fluxos, Fortuna apresenta a possi-
bilidade de globalizar a partir de baixo, utilizando
a cultura, e especificamente o património, ou seja,
a representação presente do passado, como factor
de produção. Fortuna opõe uma globalização mate-
rial (económica) mais tendencialmente hierárquica
a “outras possibilidades, nomeadamente de ordem
cultural, que podem ‘globalizar’ a cidade e torná-la
dinâmica” (FORTUNA, 1997b, p. 15). Distinguindo
dois tipos de relações Local-Global – a) Globalização
Passiva: ausência de recursos ou da sua potenciação
e inclusão passiva na globalização, e b) Redinamiza-
ção Global: utilização de recursos locais potencial-
mente globalizantes¹⁰ –, Fortuna considera que a Re-
dinamização Global pode ser levada a cabo por: a)
globalização parcelar ou subglobalização ou b) glo-
balização temporária. A destradicionalização defi-
ne-se como um processo de redinamização global
pelo potenciar dos aspectos inovadores da tradição
e pela rejeição dos aspectos atávicos desta. Este con-
ceito é utilizado por Fortuna para descrever alguns
dos processos de patrimonialização e de classifica-
ção como o Património Comum da Humanidade
(“Património Mundial”) em curso, centrando-se no
caso de estudo de Évora,¹¹ e atribui um valor posi-
tivo a tais processos de globalização de baixo para
cima. Aliás, mais recentemente, Fortuna insistia na
sua tese, num artigo sobre a recomposição do Centro
Histórico de Coimbra, agora num tom mais pedagó-
gico e político do que analítico: “Noutra ocasião e
noutro lugar, atrevi-me a caracterizar esta situação
como tratando-se de um esforço de destradicionali-
zação da tradição (FORTUNA, 2001, p. 231-257).¹²
Mantive-me fiel à ideia. Temos que saber moderni-
zar a história e a memória dos lugares, sem as des-
caracterizar, mas mobilizando-as para o projecto de
O modelo da Intermediação Sócio-Cultural
Se a grande mudança de um modelo da Metrópole
para um modelo da Metropolização foi o da tran-
sição de uma perspectiva sobre a forma, a infraes-
trutura ou o hardware da globalização, passando
de um modelo hierárquico de análise e intervenção
para um modelo de redes, a grande mudança de um
modelo da Metrópole e da Metropolização para um
modelo de Intermediação Sócio-Cultural é, antes,
relativa aos conteúdos, aos factores globalizantes,
ao software da globalização, passando de uma foca-
lização analítica e interventiva material e económi-
ca para uma focalização social, cultural e criativa,
mormente imaterial. Se o modelo hierárquico leva-
va a uma impotência, ainda que analisada de forma
crítica, o modelo da rede constituiu-se, muitas ve-
zes, como uma forma sem conteúdo. O modelo da
Intermediação Sócio-Cultural constitui-se, em par-
te, como resposta a tais constrangimentos.
Em 1997, no livro cujo título é paradigmático,
Cidade, cultura e globalização, Carlos Fortuna pro-
põe o conceito de destradicionalização. Paul Heelas,
Scott Lash e Paul Morris (1996, p. 2) consagraram
um livro a tal conceito. Paul Heelas, na introdução,
define assim o conceito:
As a working definition detraditionalization in-
volves a shift of authority: from ‘without’ to ‘within’.
It entails the decline of the belief in the pre-given
or natural orders of the things. Individual subjects
are themselves called upon to exercise authority in
the face of the disorder and contingency which is
thereby generated. ‘Voice’ is displaced from estab-
lished sources come to rest with the self.
Heelas refere duas formas de teorizar acerca da
destradicionalização: a tese radical (radical thesis) e
a tese da coexistência (the coexistence thesis). A tese
radical sustenta a ideia de uma quebra com a tradi-
ção e um declinio desta face à modernidade triun-
fante; a tese da coexistência “sees detraditionaliza-
tion taking its place along-side or together with,
¹⁰ A Globalização Passiva e a Redinamização Global são, de certo modo, sinónimos de Localismos Globalizados e de Globalismos
Localizados, conceitos propostos por Boaventura de Sousa Santos (2001), incluídos na globalização hegemónica e à qual opõe a
globalização contra hegemónica (Património Comum da Humanidade e Cosmopolitismo).
¹¹ O Centro Histórico de Évora tornou-se Património Mundial da Unesco em 1986.
¹² Refere-se a uma edição da obra Cidade, Cultura e Globalização (FORTUNA, 1997a).
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 65
Se o passado, por reconfiguração discursiva e/ou
por destradicionalização, foi o material sobre o qual
se trabalhou o urbanismo e o território, desde o fim
dos anos 80 e durante a década de 90, em função de
um contexto global, o presente-e-futuro era, em últi-
ma análise, o alvo. Os grandes eventos do fim da dé-
cada de 90 e início da década de 2000 em Portugal
(Expo’98 e Euro 2004) constituiram, como refere
António Ferreira (2007, p. 170), “Oportunidades Mo-
bilizadoras”, ou seja “a realização de grandes even-
tos (eventos ‘marcantes’) constitui – quando devida-
mente programada e integrada numa estratégia am-
biciosa – uma oportunidade para desencadear pro-
fundas transformações nas cidades e nos sistemas
territoriais”. É neste quadro que nos parece pertinen-
te a pesquisa de Claudino Ferreira (2002a, 2002b)
que se focaliza na formatação cultural da Expo’98.
Para o autor a “formatação cultural” resulta num
“modelo culturalmente hibrido” (FERREIRA, 2002a,
p. 294) que conjuga “três modalidades distintas de
acção e de organização cultural”: a que se reporta
aos “fluxos globais hegemonizados”, a das “obras e
dos produtores que integram os circuitos interna-
cionais da arte e da cultura” e, finalmente, os “produ-
tores culturais que operam habitualmente às escalas
local e nacional” (FERREIRA, 2002a, p. 305-306).
O que nos interessa aqui, especificamente, é que a
formatação cultural dos grandes eventos tem resul-
tados arquitectónicos, urbanísticos e territoriais que
propomos aqui conceber como um urbanismo por
formatação. Ao invés da destradicionalização, o ur-
banismo por formatação é uma intervenção, tipica-
mente arquitectónica ou/e urbanística, que não ne-
cessita de um qualquer passado/património de base
local, utilizando antes um pesente-futuro associado
a um qualquer movimento global, mobilizador de
imaginários, para o desencadear de uma produção
arquitectónico-urbanística para o consumo local de
âmbito potencialmente global. O caso da Expo/Parque
das Nações é, em Portugal, o exemplo por excelência
e, a uma escala completamente diferente, a Casa da
Música no Porto.¹⁴
A destradicionalização, o urbanismo por forma-
tação e as suas inerentes estratégias discursivas
renovação urbano-cultural das cidades e dos seus
velhos centros” (FORTUNA, 2006, p. 12). A questão
da destradicionalização foi abordada, de forma mais
problematizada ou não, por diversos autores. Carlos
Fortuna e Paulo Peixoto (2002) problematizam a re-
lação entre destradicionalização e cidades médias e
Claudino Ferreira (2002a) refere o caso da Expo’98 e
a mudança processada face à primeira proposta pela
comissão das Comemorações dos Descobrimentos
para celebrar a chegada à Índia de Vasco da Gama
em função de um ‘Mercado do Oriente’ em Lisboa, a
qual foi substituída pelo conceito “Os oceanos, um
património para o futuro”, título com o qual a candida-
tura foi submetida ao BIE (FERREIRA, 2002a, p. 289),
revelando o típico processo de destradicionalização
(ainda que não referido) descrito por Fortuna.
Vários outros autores centraram-se, especifica-
mente, no que podemos chamar reconfigurações dis-
cursivas, ou seja, no uso de estratégias discursivas ou
narrativas, factor fundamental de facto em toda a ges-
tão imaterial da relação entre cidade, cultura e globali-
zação, capaz de reconfigurações ou reconversões terri-
toriais (figuras, lugares, paisagens) e urbanas (centros
históricos, áreas metropolitanas) que inventam tradi-
ções e novas comunidades imaginárias, enfim, novas
identidades, normalmente função de um consumo
turístico que se tem como expectativa. Referindo ape-
nas alguns autores, um para cada escala, Luís Vicente
Baptista (1999) analisou a reconfiguração positiva do
imaginário saloio¹³ na relação entre cultura, política do
património e turismo, Paula Mota Santos (2005) anali-
sou as ‘narrativas’ que possibilitam compreender a (re)
configuração identitária do Centro histórico do Porto
e Filomena Silvano (2003) analisou as estratégias dis-
cursivas relacionadas com o património na área metro-
politana de Lisboa. Todas estas estratégias discursivas,
criadas por determinados intermediários culturais, im-
plicam revelações e ocultações específicas, as quais em
vários casos evidenciam verdadeiras inversões dianbte
de identidades territoriais e urbanas anteriores. Um dos
aspectos mais importantes destas análises é que as pró-
prias narrativas científicas (históricas, sociológicas, etc)
passam a ser elementos essenciais de todo o processo
de reconfiguração urbana e territorial.
¹³ ‘Saloio’ é um estereótipo que categoriza os habitantes dos arredores de Lisboa.
¹⁴ O caso da Casa da Música a este nível é interessante porque ao ter sido construída num centro de recolha de eléctricos implicou a
recusa de um passado com potencial investimento de destradicionalização por reconfiguração discursiva, tendo-se preferido um
urbanismo por formatação.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
SEIXAS, P. C.66
Assim, e abrindo já ao modelo seguinte, enquanto
que os modelos anteriores procuravam gerir o es-
paço em função de recursos existentes, a mudança
para a cultura como factor de produção do espaço
possibilita que se considere a criatividade como re-
levante. Enquanto num primeiro momento a cultu-
ra, entendida como factor de produção, implicava
sempre uma objectificação arquitectónica ou/e ur-
banística (mesmo assim evidenciando-se sempre a
tensão entre patrimonialização e criação arquitec-
tónico-urbanística), num segundo momento, o ca-
minho da Intermediação Sócio-Cultural tende mais
facilmente a objectificar-se no imaterial, passe o pa-
radoxo, e na criatividade.
O modelo da criatividade urbana
A passagem de um modelo de Intermediação Só-
cio-Cultural (e seus profissionais) para a criativida-
de não é menosprezável ideologicamente e o atraso
na sua recepção em Portugal também não o é. A fo-
calização na criatividade, apesar de alguma conti-
nuidade, evidencia um corte com a Intermediação
Sócio-Cultural. Não se trata já de intermediar entre
um qualquer movimento global e a (re)construção
local mas antes de potenciar a criatividade local que,
em rede, poderá – em alguns casos – atingir âmbitos
cada vez mais abrangentes.
O projecto de investigação CreatCity (2007-2010),
coordenado por João Seixas e que compara a criativi-
dade urbana em três áreas metropolitanas (Lisboa,
Barcelona e São Paulo), vai estabelecendo relações
entre ‘vitalidade’, ‘competitividade’ e ‘criatividade’
como conceitos fundamentais na emergência de
‘lugares da criatividade urbana’ ou ‘espaços e pro-
cessos da criatividade urbana’, procurando atingir
tipologias (SEIXAS; COSTA, 2009). Identificam-se
‘bairros criativos’; ‘espaços alternativos emergen-
tes’; ‘territórios e instituições sócio-culturais e de
conhecimento’; ‘investimentos urbanos de larga es-
cala’; ‘projectos sociais culturais de génese local’ e
‘classes sociais e/ou profissionais’ (COSTA; SEIXAS;
OLIVEIRA, 2009). Outras referências à cidade cria-
tiva e à relação entre cultura, arte e cidade têm sur-
gido nos últimos anos (ANDRADE, 2008; MARTINS,
2009; MILES et al., 2010). Assim, basicamente nos
últimos anos, começa a haver uma consciência em
torno da criatividade e das chamadas ICC, indústrias
associadas a uma cidade de eventos ou/e de estru-
turas em que processos globais servem à (re)cons-
trução urbana local (Património Mundial em Évora,
Porto, Guimarães; capitais da cultura; Expo’98; Euro
2004; etc) o que denotam é que a cidade se constrói
cada vez mais em função de intermediações e inter-
mediários culturais. Uma clarificação conceptual da
intermediação cultural e de intermediários culturais
é feita por Claudino Ferreira (2009). O autor remete
a principal origem conceptual destes últimos para a
definição dada por Bourdieu na obra A Distinção, as-
sociada a profissionais que estabeleciam o quadro
da recepção dos ‘gostos’ pela pequena burguesia
em ascenção e propõe Intermediação Cultural, de
forma geral, como as funções que medeiam entre a
produção e a recepção de cultura (FERREIRA, 2009,
p. 323-324). Uma proposta de análise da interme-
diação cultural relacionada com o urbanismo tinha
já sido sistematizada conceptualmente por Carlos
Fortuna e Augusto Santos Silva (2001, p. 419). Fortuna
e Silva chamam “redesenvolvimento das cidades” ao
facto de que
em redor da cultura e de algumas das suas expres-
sões materiais nas cidades [...] estamos a assistir
à criação de novas centralidades urbanas, com re-
novadas funções [...], associadas a novas modali-
dades de comunicação e ao surgimento de novos
agentes culturais especializados e novos campos
de acção de que está a resultar uma profunda re-
configuração fisica e também estética e simbólica
da cena urbana portuguesa e, em particular, dos
seus espaços públicos.
Este redesenvolvimento das cidades faz-se em
função de zonas de intermediação e de intermedi-
ários culturais que possibilitam “os reajustamentos
sociais e culturais decorrentes da globalização e
actuantes sobre os modos de organização da cultu-
ra urbana e a relação entre espaços públicos e pri-
vados” (FORTUNA; SILVA, 2001, p. 436). Fortuna e
Silva identificam quatro zonas de intermediação:
terceiras culturas, relações sociais de estranhamen-
to e tolerância, domesticidade e práticas sócio-cul-
turais e espaço social de proximidade relacional.
Trata-se, de certo modo, de uma estratégia de cate-
gorização em função de tipos de relações e de espa-
ços e em que o macro e o micro se inter-relacionam
de formas diferenciadas.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 67
públicas a vários níveis, quer nas análises das ciên-
cias sociais. As zonas de intermediação e os intermediá-
rios culturais acabam por relacionar-se directamente
com a noção de criatividade urbana. Os processos de
intervenção urbana que seguiram o modelo da Inter-
mediação Sócio-Cultural, como no caso do Porto, ca-
pital europeia da cultura (2001), acabaram por desen-
cadear processos na sociedade civil que deram origem
ao que se pode definir como centros cosmopolitas de
cultura urbana (Maus Hábitos e Contagiarte), lugares
de hibridismo na distribuição e recepção de cultura,
criando novas zonas de intermediação nas cidades
e, especificamente, de criatividade urbana. Por outro
lado, uma situação de crise imobiliária, criando uma
infraestrutura disponível, associada à disponibilida-
de de artístas e produtores culturais em sentido lato
se reunirem em rede,¹⁵ terão sido factores importan-
tes para a emergência em Lisboa da LxFactory, talvez
o maior exemplo português de um cluster de criati-
vidade. Outros exemplos relativos à sociedade civil
são pertinentes, como seja o novo movimento de no-
matismo estudantil internacional, criando todos os
anos cidades erasmus com um público contínuo de
mais de mil jovens na cidade do Porto e mais de 2
mil na cidade de Lisboa. Ao mesmo tempo surgiram
organizações da sociedade civil centradas na relação
entre criatividade e cidade, como sejam a ADDICT
(no Porto) ou a Inteli e a Induscria (em Lisboa).
Ao nível das políticas públicas temos quer po-
sições da União Europeia, quer posições desenvol-
vidas em âmbito governamental, de várias formas.
A Estratégia de Lisboa (2000), implicando um desen-
volvimento económico da Europa centrado na Socie-
dade Digital, não teve o sucesso previsto. É nesse
quadro que começa a identificar-se a necessidade de
agregar as ICC (indústrias culturais e criativas) a tal mo-
delo de desenvolvimento. Tal consciência, no entanto,
parece ter sido mais evidente e rápida em Inglaterra
(DCMS, 1998), pois o documento da União Europeia
no sentido de tal inflexão data de 2006 (EUROPEAN
COMMISSION, 2006). Outros momentos charneira
em âmbito internacional foram a criação da The
Creative Cities Network, lançada em 2004 pela Global
Alliance for Cultural Diversity, uma organização da
Unesco e, em 2008, a apresentação, pela UNCTAD, de
um relatório sobre a importância das indústrias cul-
turais e criativas. Em julho de 2008, numa parceria
culturais e criativas, e que leva, por um lado, à foca-
lização no presente, pela gestão das indústrias cul-
turais existentes e, por outro, uma focalização no fu-
turo, pelo investimento em centros (hubs, clusters)
de criatividade. De facto, a pergunta cada vez mais
pertinente é: que futuro é possível imaginar e que
futuro imaginável é possível?
Este novo modelo de desenvolvimento urbano,
centrado na criatividade tende a ser relacionado
com conceitos como os de nova economia, cidades
criativas, classe criativa etc, os quais desde fins da
década de 90 têm feito o seu caminho, principal-
mente nos Estados Unidos e Inglaterra. Apesar do
conceito de cidade criativa ter sido, em princípio,
criado por Charles Landry e Franco Bianchini (1995),
tais ideias vinham sendo desenvolvidas já anterior-
mente. Gunnar Tornqvist, em 1983, desenvolveu a
noção de creative milieu, caracterizando-o por qua-
tro aspectos: informação transmitida entre pessoas;
conhecimento (baseado, em parte, no acumular de
informação); competência em certas actividades re-
levantes; e criatividade (a criação de algo novo como
produto das três actividades anteriores) (LANDRY,
2008, p. 133). Para além disso, a grande questão da
relação entre a cultura mercadoria e espectáculo
(criador do situacionismo passivo), por um lado, e,
por outro, as “pessoas vivas”, capazes de “construir
situações” num urbanismo unitário propiciador da
“criação global da existência” no qual “os urbanistas
do século XX deverão construir aventuras”, é uma
questão colocada em 1957 pelos situacionistas, a par-
tir de Guy Debord (HENRIQUES, 1997, p. 23-33, 51-
56). Por sua vez, esta posição artístico-social prag-
mática dos situacionistas remete para o conceito de
indústria cultural criado por Adorno e Horkheimer,
da Escola de Frankfurt, em 1947, na Dialéctica do
Esclarecimento e em que a cultura, pela via da in-
dustrialização passava a ter que ser encarada como
mercadoria. Por outro lado, o conceito de acunpuc-
tura urbana de Jaime Lerner, utilizado desde 1971
na cidade brasileira de Curitiba, considerando que
“a cidade é um sonho colectivo” (LERNER, 2004), é
um exemplo prático de planeamento cultural e de
cidade criativa.
O modelo da criatividade é, em Portugal, ainda
um modelo em emergência que se vai evidenciando,
quer ao nível da sociedade civil, quer nas políticas
¹⁵ Interpretação da comunicação efectuada por Leonel Moura no encontro BragaCreative em junho de 2010, em Braga.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
SEIXAS, P. C.68
de mudanças cumulativas, portanto pouco percep-
tíveis, de ocorrência em períodos mais longos” ou
“sobreposição de pequenas intervenções, atreladas
a um projeto maior, mas que não se revela em uma
única intervenção, mas sim pelo acúmulo gradual
de projetos menores”.
Segundo Duarte e Ultramari (2009) estas infle-
xões estabelecem, inequivocamente, a diferença entre
dois momentos na história de uma cidade. Ora, a cul-
tura de mudança, associada à criatividade urbana,
que se vai instituindo em algumas cidades portu-
guesas pode bem constituir-se como o desencadear
de inflexões urbanas.¹⁶
Vai-se, assim, constituindo um novo modelo de
desenvolvimento territorial e urbano, assim como
de análise urbana. Se a transição de um modelo da
Metrópole para um modelo da Metropolização re-
velou a abertura multisituada em termos de análise
e se a transição para o modelo da Intermediação re-
velou uma abertura do análise e intervenção urba-
na e territorial às áreas sócio-culturais, na transição
para o modelo da Criatividade um dos aspectos a ter
em conta é que a análise neste caso parece estar a
ser feita para além das universidades, em função de
parcerias na sociedade civil ou entre a sociedade
civil e os municípios.
Conclusão
As relações locais-globais tiveram duas grandes
inflexões, uma relativa à infra-estrutura, contexto,
conexões ou hardware que determinam tais rela-
ções e outra relativa às práticas, conteúdos, gatilhos
ou software em que essas relações se dão. De for-
ma breve e simplista por um lado passou-se de uma
perspectiva hierárquica para uma perspectiva de
redes e até de fluxos; por outro lado passou-se de
uma perspectiva económica, de escala e materialis-
ta para uma perspectiva sócio-cultural e, finalmen-
te, para uma de criatividade (Gráfico 1).
Este texto apresentou quatro modelos que ser-
viram nos últimos 25 anos, em Portugal, à análise e
intervenção urbanas e territoriais no novo quadro
criado pela globalização. O modelo da Metrópole,
ao afirmar de forma clara que o país se divide entre
público-privada, é apresentado o “Estudo macroe-
conómico: desenvolvimento de um cluster de indús-
trias criativas na região do Norte”, e em março de
2010 é apresentado o relatório (encomendado pelo
Ministério da Cultura/GPEARI) de Augusto Mateus,
“O sector cultural e criativo em Portugal”. Em âmbi-
to municipal, foram emergindo e caracterizando-se
‘Bairros criativos’, quer em Lisboa (Bairro Alto e
Bica-Chiado) quer no Porto (eixo das ruas Miguel
Bombarda e Rosário por um lado e galerias Paris e
Cândido dos Reis por outro). O município de Braga,
por meio da Inteli, desenvolveu o primeiro estudo
português de potencial criativo de uma cidade, apre-
sentado em junho de 2010. No território português,
como um todo, dois exemplos são de referência, o de
Óbidos e o de Paredes. Óbidos é já um caso de estudo
europeu ao apostar na criatividade e ao coordenar a
rede Creative Clusters in Low Density Urban Areas
(2011). Desde 2002 que Óbitos tem implementado
uma estratégia de desenvolvimento baseada no tu-
rismo, cultura e economia procurando transformar
Óbitos numa escolha para viver, trabalhar e diver-
tir-se em âmbito nacional e internacional . Paredes
lançou, com o apoio da Inteli, em maio de 2010 um
concurso para um programa de acção “Paredes: Ci-
dade Criativa para o Design de Mobiliário – Design
Hub”. Esta estratégia desenvolve-se numa relação di-
recta com a criatividade urbana, como está, aliás, re-
ferido no site:
Criatividade urbana – regeneração urbana: o
design como âncora do desenvolvimento urbano,
reflectindo-se em toda a estratégia de regeneração
urbana da cidade, por meio da inclusão de elemen-
tos criativos nos espaços, lugares e edificado de
Paredes. Assim como o design urbano como su-
porte à captação de talentos e empresas criativas,
induzindo um ambiente vibrante e diversificado
na cidade (PAREDES CIDADE CRIATIVA, 2011, grifo
do autor).
É provavel que a criatividade urbana esteja na
base de ‘inflexões urbanas’, na acepção de Duarte e
Ultramari (2009), ou seja, tipicamente “mudanças
bruscas e ostensivas, e ocorrem em curto intervalo
temporal (e por isso mesmo visíveis), ao contrário
¹⁶ É esta hipótese que está em desenvolvimento num projecto de investigação de colegas portugueses (Paulo Castro Seixas e Luís
Pinto de Faria) com colegas brasileiros (Fábio Duarte e Clovis Ultramari).
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 69
Gráfico 1 - Hardware e software do desenvolvimento urbano e territorial
Fonte: Dados da pesquisa.
Software
Hardware
Economia
Modelo da
Metrópole
Modelo da
Metrópolização
Modelo da
Intermediação
Sócio-Cultural
Modelo da
Criatividade
Urbana
Sócio-Cultural Criatividade
HierarquiaRedesFluxos
que a região urbana é um modelo transnacional pos-
-industrial e pós-moderno tal qual a cidade foi um
modelo industrial e moderno. Um segundo caminho
(FERRÃO et al., 2002; FAUP, 2002) foi o de tentar
encontrar os indicadores que possam caracterizar
territorialmente e sociologicamente a região urbana
face à mera demografia administrativista caracteri-
zadora das áreas metropolitanas. Um terceiro cami-
nho foi o de olhar o desenvolvimento local (Portela,
Gerry, Silva) e os AECT (Medeiros) e relacioná-los com
a rede urbana e territorial interna e externa. O mo-
delo da Metropolização possibilitou uma sobreposi-
ção do modelo hierárquico com o modelo de redes,
levando ao começo da saída de uma certa impotên-
cia que o modelo hierárquico centro-periferia tinha
criado. Vários dos textos que incorporam este mo-
delo, e porventura muitas das intervenções realizadas
(por exemplo geminações de cidades, inclusão em re-
des, criação de regiões europeias, etc) constituem-se,
em si mesmos, como uma procura, como a tentativa
de perspectivar os possíveis bypass (de desvios ou ca-
minhos secundários) entre o local e o global na expec-
tativa de identificação e criação de novos nichos de
mercado... e novas formas de vida. O própio PNPOT,
Programa Nacional de Planeamento e Ordenamento
do Território, é devedor desta nova perspectiva.
O modelo da Intermediação Sócio-Cultural susten-
ta-se em fluxos glocais e na sua intermediação num
quadro de hierarquias e redes. Enquanto modelo de
análise, desenvolveu-se desde o fim da década de 90,
ainda que as políticas públicas, especificamente de
patrimonialização (os centros históricos de Angra do
Heroísmo e de Évora tornaram-se ‘património mun-
dial’ nos anos 80 e a candidatura do centro histórico do
Porto inicia-se em 1993), parecem ter neste caso ante-
cidido o próprio modelo de análise. Este modelo tem
um primeiro momento com o conceito de ‘destradi-
cionalização’ (FORTUNA, 1997a) e, num segundo mo-
mento, centra-se na ‘formatação cultural’ (FERREIRA;
2002a, b) urbanística, seja arquitectónica, seja dis-
cursiva. As intervenções nos centros históricos reve-
lam basicamente a objectificação da cultura pela
arquitectura, ainda que sustentada por estratégias
discursivas coconstrutoras da destradicionalização. Já
as grandes intervenções do fim dos anos 90 e início da
década de 2000 (Expo’98 e Porto Capital da Cultura,
especificamente a Casa da Música) são exemplos de
políticas que evidenciam este modelo mas, especifica-
mente, em função de um urbanismo por formatação.
cidade metrópole e primacial e uma urbanização
difusa, é o reflexo científico da afirmação de senso
comum dita tantas vezes de forma crítica: “Portugal
é Lisboa, o resto é paisagem”. Neste modelo, a rela-
ção do sistema urbano português com a globalização
passa por três momentos: um pós-colonial, um que
remete para o sistema mundo e um último que reme-
te para redes. Os textos de Matias Ferreira (do fim
dos anos 80, dez anos depois da descolonização) e
textos ainda da década de 90 sobre Lisboa têm uma
referência iminentemente pós-colonial. Lisboa é ana-
lisada no seu importante papel, havendo mesmo uma
‘monumentalização’ da capital, privilegiando-se aná-
lises histórico-demográficas, como que justificando
a sua importância e primacialidade presente, e tal
não deixa de se poder analisar como uma forma de
fazer o luto do Império. Quanto à referência ao siste-
ma mundo e à lógica centro-periferia, ela surge com
o texto de António Gama em 1993, enquanto que o
de João Ferrão, de 1997, nos remete já para a com-
plexificação de tal lógica ao propor a relação entre a
hierarquia funcional e as redes.
Quanto ao modelo da Metropolização, a relação
entre urbanismo e globalização seguiu aqui, basica-
mente, três caminhos. Um primeiro caminho (SEIXAS,
1999) identifica a metropolização (rede de cidades em
rede com uma nova infraestrutura, novos tipos de re-
lações sociais e novas ideologias) como a nova forma
urbana característica da globalização, significando tal
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
SEIXAS, P. C.70
Figura 3 - Sistema articulado de formações de desenvolvimento espacial
Fonte: Dados da pesquisa.
Intermediação Sócio-Cultural
Metropolização
Metrópole
Criatividade urbana
particular, as grandes infraestruturas, porventura,
reflectem-se mais num sistema centro-periferia. No
entanto, outras infraestruturas (transportes/tele-
comunicações) constituiem o próprio sistema de
redes que vai alterando a relação centro-periferia.
Já o capital social desenvolveu-se mesmo em fun-
ção da sobreposição de lógicas de centro-periferia
e redes. No entanto, o capital simbólico gerido em
tais processos implica fluxos apropriados e (re)dis-
tribuídos segundo lógicas próprias que alteram as
relações territoriais e sociais prévias. Qualquer fo-
tografia teritorial é, assim, tão só a consciência pos-
sível de um movimento.
Tendo em conta o que foi dito, as políticas pú-
blicas devem articular um sistema coerente de for-
mações de desenvolvimento espacial. Ou seja, todos
os sistemas urbanos devem-se constituir em função
de uma coerente relação entre criatividade, metro-
polização e intermediação sócio-cultural (Figura 3).
Esta é uma forma de articular uma sociedade civil
criativa (hubs e clusters de criatividade) numa ma-
lha urbanístico-espacial alargada e relacionada com
centros de intermediação sócio-cultural que possi-
bilitem a articulação a níveis hierárquicos mais ele-
vados. No caso português, o sistema parece incluir
um único sistema urbano, a Área Metropolitana de
Lisboa, com os quatro níveis discutidos neste texto
(Metrópole, Intermediação Sócio-Cultural, Metropo-
lização e Criatividade Urbana), constituindo este sis-
Finalmente,quantoaomodelodaCriatividade,de
certo modo a Criatividade está para a Intermediação
Sócio-Cultural como as redes na Metropolização se
propunham como alternativa face à hierarquia no
modelo da Metrópole. A identificação de uma de-
terminada ‘ecologia criativa’ fortemente articulada
e uma cultura de mudança pode possibilitar a escala
necessária para possibilitar uma oporunidade mo-
bilizadora capaz de desencadear processos de in-
termediação sócio-cultural local-global. As políticas
públicas, desencadeadas basicamente em âmbito
municipal (Porto, Óbidos, Braga, Paredes), eviden-
ciam o diagnóstico e implementação de tais proces-
sos. Sendo um processo serendipitista, contingen-
cial e que é função de hubs (emergências criativas) e
das suas ecologias, a governância de tais processos
é, sem dúvida, um dos aspectos fundamentais e a
construção do modelo tem seguido tal preocupação
(SEIXAS; COSTA, 2009).
Uma visão global dos quatro modelos enuncia-
dos ao longo deste texto é apresentada no Quadro
1. No entanto tal quadro, elaborado de forma a pos-
sibilitar uma síntese científica com intuítos peda-
gógicos, não deve ser entendido de forma simplista
segundo uma lógica gradual em que cada modelo
substitui o anterior, quer como perspectiva analí-
tica, quer como modelo de intervenção. De facto,
o que antes parece poder dizer-se é que os quatro
modelos coexistem e sobrepõem-se, sendo que os
dois modelos mais recentes vieram complexificar e
tornar mais possibilistas as relações locais-globais.
Por exemplo, a potenciação do modelo da rede pode
levar a que esta adquira uma escala que, para além
dos nichos de mercado, ponha mesmo em causa a
hierarquia do modelo centro-periferia. Um outro
exemplo, talvez mais dificil para já de visualizar, é
que a cultura ao projectar-se na economia, e cons-
tituir uma economia das imaterialidades regional e
global, pode implicar mudanças na própria cultura
da economia, ou seja na infraestrutura material e
económica e no mundo capitalista segundo o qual
regulamos a nossa existência.
De qualquer forma, os quatro modelos apresen-
tados coexistem e criam formações de desenvolvi-
mento espacial e urbanístico complexas. É provavel
que se possam identificar campos e, porventura,
graus de desenvolvimento destes (económico, so-
cial, simbólico) que se adequam mais a um tipo de
modelo do que a outro. O capital económico e, em
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 71
Figura 4 - Relação entre os diversos circuitos de capital
Fonte: Dados da pesquisa.
Quadro 3 - Síntese dos modelos analíticos e de desenvolvimento territorial em Portugal
Modelo da Metrópole Modelo da Metropolização
Modelo da Intermediação
Sócio-Cultural
Modelo da
Criatividade Urbana
Concepção antropológica Homo económico
Capital económico
Homo politico
Capital social
Homo comunicante
Capital social e capital simbólico
Homo criativo
Capital de oportunidade
Principais variáveis Demográficas e económicas Administrativo-sócio-politicas Sócio-culturais Criatividade
Circuitos de Capital Primário - secundário Secundário - terciário Terciário - quaternário Terciário - quaternário
Sector da economia Secundário/terciário Terciário Terciário - quaternário Quaternário como activador
Estrutura Hierárquica
Centro-periferia
Redes
Parcerias/contractualização
Fluxos
Parcerias/contractualização
Redes e fluxos
Processo de mudança Por mudança histórica/Lento -
dependente de revoluções
Por parcerias; criação-inserção
nas redes/conjuntural -
politicamente dependente
Por movimentos globais -
politicamente dependente
Por saltos - dependente de uma
cultura de mudança
Âmbito Cidade/urbano Metropolitano/região urbana/
região transfronteiriça
Programático/Plano
Arquitectónico ou Urbanístico
Contingencial multi-escala
Principais conceitos Metrópole; cidade primacial;
urbanismo difuso; polarização
limite
Metropolização; cidade
difusa; região urbana; redes;
desenvolvimento local
Destradicionalização; urbanismo por
formatação; reconfiguração discursiva;
zonas de intermediação sócio-cultural;
redesenvolvimento urbano
Criatividade urbana; lugares de
criatividade; espaços e processos
de criatividade
(Continua)
Circuito quaternário
Sistema de necessidades
Produção do
sistema de
necessidades:
novos conceitos
e desejos
Produzir services e
bens de forma regular
Produzir uma
mão de obra
e uma acréscimo
da procura
Produzir - readaptar
espaços
Circuito terciário
Formação de especialistas
Circuito primário
Industrial
Circuito secundário
Imobiliário
tema urbano o centro orbital dos demais ainda que,
sempre, com alguma competição-cooperação com o
segundo sistema urbano, o da Área Metropolitana
do Porto. Tal implica, no que diz respeito a políticas
públicas, tendencialmente, que a cooperação seja
maior do que a competição, pelo menos a alguns ní-
veis – governância do sistema como um todo e cir-
cuito terciário e quaternário –, de forma a que a ar-
ticulação Lisboa-Porto possa ser uma mais-valia na
competição em ordens hierárquicas superiores (eu-
ropeia e mundial). Ou seja, o sistema orbital que ca-
racteriza uma articulação que se pretende coerente
entre as diversas formações espaciais que incluem,
em desenhos específicos, os quatro modelos aborda-
dos, funciona em função da relação entre os diversos
circuitos de capital: o circuito primário, industrial, o
circuito secundário, imobiliário (caracterizados por
Marx e Lefebvre), o circuito terciário, de formação
(caracterizado por Harvey) e o circuito quaternário
ou a produção do sistema de necessidades (caracte-
rizado por Braudillard) (Figura 4). Assim, as políti-
cas públicas devem articular o mais possível tais cir-
cuitos, tendo em conta que a governância do sistema
requer atenção específica ao sistema terciário e ao
sistema quaternário e à sua forte interdependência.
urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011.
SEIXAS, P. C.72
Quadro 3 - Síntese dos modelos analíticos e de desenvolvimento territorial em Portugal
Modelo da Metrópole Modelo da Metropolização
Modelo da Intermediação
Sócio-Cultural
Modelo da
Criatividade Urbana
Interacções Locais-Globais Restritas e dependentes Múltiplas mas selectivas Múltiplas mas selectivas serendipitistas
Factores de benchmarking Vantagens comparativas na
escala e relação capital-trabalho
Potenciação em escala de recursos
da região como rede. Identificação
de nichos glocais
Potenciação em escala de recursos
culturais (Património). Identificação
de nichos glocais
Projecção glocal de capabilities.
invenções culturais, científicas,
tecnológicas ou/e artísticas
Caracterização do território
e geometrias
Cidade central
Eixos
Região cognitiva
Malhas
Arquitectura/urbanismo de autor;
arquitectura/urbanismo de referência
Pontos/áreas
Ecologias criativas
Pontos/áreas
Actores Institucionais (Estado) e
empresas multinacionais
Parcerias publico-privadas Parcerias publico-privadas; profissionais
das terceiras culturas; criativos
Classe criativa; criativos; cidadãos
associados
Fonte: Dados da pesquisa.
(Conclusão)
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Urbe 4768

  • 1. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. ISSN2175-3369 LicenciadosobumaLicençaCreativeCommons Urbanismo, cultura e globalização em Portugal: modelos analíticos e de desenvolvimento territorial1 Urbanism, culture and globalization in Portugal: analytical and territorial development Models Paulo Castro Seixas Doutor em Antropologia (Antropologia Urbana), Universidade de Santiago de Compostela, professor associado com Agregação do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa - Portugal, e-mail: pseixas@iscsp.utl.pt Resumo As cidades têm sido concebidas como actores chave face aos processos globais desde o último quarto do século XX. Neste quadro, é fundamental perceber-se os diferentes modelos que as cidades utilizam para responder aos desafios globais. O artigo analisa o estado da arte em Portugal na relação entre cidade e globalização nos últi- mos 25 anos, no âmbito das ciências sociais e sua relação com as políticas públicas. São caracterizados quatro modelos analíticos e de desenvolvimento territorial que respondem aos desafios globais: o da Metrópole, o da Metropolização, o da Intermediação Sócio-Cultural e o da Criatividade Urbana. Propõe-se, em função de tal sín- tese, uma visão multinível e sua importância no desencadear de novas políticas públicas urbanas e territoriais. Palavras-chave: Cidades. Globalização. As políticas urbanas. Estudos urbanos. Abstract Cities have been viewed as key actors in relation to global processes since the last quarter of the twentieth cen- tury. In this context, it is essential to understand the different models that cities use to respond to global chal- lenges.The article presents the state of the art regarding social sciences outputs on city and globalization in the last 25 years in Portugal and its relationship to public policy. Four territorial analytical and policy models to respond to global challenges are characterized: the metropolis; the metropolitanization; the socio-cultural intermediation and the urban creativity. It is proposed on the basis of such a synthesis, a multilevel vision and its importance in triggering new urban and territorial policies. Keywords: Cities. Globalization. Urban policies. Urban studies. ¹ Este texto foi escrito a partir da Lição em Provas de Agregação, realizadas em maio de 2010 no ISCSP – Universidade Técnica de Lisboa, Portugal. Será mantida a grafia original do texto.
  • 2. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. SEIXAS, P. C.56 quadro de (inter)dependência global em que vivemos. Esta síntese e a consciência acrescida que ela pode possibilitar, utilizando o caso português como case- -study, poderá, estamos certos, ver tais modelos re- flectidos na experiência de outros países, uma vez que os próprios modelos de análise e intervenção decorrem da experiência da transnacionalização. A consciência possível É apenas em meados da década de 80 que a ‘glo- balização’ começa a ser um conceito usado, reme- tendo, antes de mais, para uma internacionalização ou mundialização da economia, e adquirindo depois uma diversidade de significados: a) a hegemonia e homogeneização dos valores liberais; b) uma nova época histórica; c) um fenómeno de compressão do espaço tempo; d) uma terceira revolução tecnológica; e) um fenómeno sócio-económico, etc. Quanto à relação entre processos globais e urba- nismo é, ao mesmo tempo, muito antiga e muito re- cente. Muito antiga porque a cidade sempre foi a tra- dução possível do mundo (veja-se o mito de Babel) e, nos seus graus mais elevados, da cidade-estado à cidade imperial e à cidade global, a cidade ambicio- nou sempre estruturar ou estruturou mesmo o pró- prio mundo. No entanto, num tempo pluralizado pe- las globalizações, a reflexão sobre as relações entre os processos globais e o urbanismo implicam novos qua- dros de análise. A ‘globalização’ faz-se sentir no perío- do da história da humanidade em que o crescimento da população mundial é mais rápido, em que se dá o maior êxodo rural de sempre e em que a população urbana atinge mais de 50% da população mundial. Em Portugal a reflexividade da globalização no mundo urbano evidencia-se nos mais diversos cam- pos e regimes textuais, imagéticos e discursivos, sen- do talvez de relevar quatro imaginários: a) o das ciências sociais; b) o das políticas públicas, quer portuguesas, quer da União Europeia; Introdução Este texto apresenta uma revisão da literatura centrada na relação entre análise e intervenção ur- banas e territoriais e globalização em Portugal nos últimos 25 anos (desde 1985 do século passado²). A (inter)dependência global alterou substancialmen- te o quadro no qual as políticas públicas urbanas e territoriais se constroem e se implementam, sendo no entanto necessária uma certa distância temporal para a consciência de tal interdependência e a com- preensão dos diferentes tipos de modelos de análise e interveção urbana e territorial que estão na base das políticas públicas. O objectivo deste artigo é, exacta- mente, fazer um ponto da situação face às análises e intervenções urbanas e territoriais em Portugal de- correntes de uma consciência em mudança relativa- mente aos desafios da (inter)dependência global ou ‘globalização’. A metodologia seguida foi a da revisão bibliográfica e documental, centrada na produção científica das Ciências Sociais na sua relação com o urbano e o territorial, tendo-se tido como critério central, na análise das publicações/documentos, a re- ferência a um quadro transnacional. Ainda que se não tivesse recorrido a uma análise métrica, a Geografia e a Sociologia são as ciências que proporcionaram maior produção em termos de análise e propostas de intervenção, tendo a Antropologia ou a Ciência Política e a produção de documentos programáticos menor evidência produtiva. A análise de conteúdo efectuada de todo o acervo bibliográfico e documen- tal levou à identificação de universos conceptuais específicos, os quais depois de agregados, em função de uma procura de coerência, possibilitou a categori- zação em grandes modelos de análise e intervenção. Atingiram-se quatro modelos de análise e interven- ção urbana e territorial em Portugal, num quadro de globalização, a saber: o da Metrópole, o da Metro- polização, o da Intermediação Sócio-Cultural e o da Criatividade. A síntese que estes quatro modelos nos possibilita, apresentada neste artigo, é também um ponto da situação face às políticas públicas urbanas e territoriais, permitindo-nos reflectir sobre os cons- trangimentos e oportunidades de cada modelo, as- sim como sobre as estratégias a desencadear para um mais consciente planeamento e implementação das políticas públicas urbanas e territoriais no novo ² Em 1º de Janeiro de 1986, Portugal aderiu à CEE.
  • 3. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 57 não é feita num mesmo espaço-tempo. Os estudos teóricos e comparativos que possibilitam quadros de análise são estabelecidos mais por regiões e países centrais, enquanto os países periféricos tendem a se- guir tais quadros nos seus trabalhos mais empíricos e de estudo de caso relativos aos seus próprios paí- ses (ALATAS, 2003 apud FORTUNA, 2007). A defesa da intensificação da cooperação em ciência, para a tradução e a leitura do Sul científico e para a criouli- zação científica do mundo, parece-nos certa mas tal não parece poder alterar o facto da produção teórica aceite ser a que provém de sociedades centrais e lín- guas centrais que elegem temas centrais. Vem isto a propósito da relação temática abrangente entre ur- banismo e globalização cuja produção sociológica, no caso português, é escassa. Neste sentido, Portugal é um país do Sul. Porque se nos perguntarmos que teo- rias temos disponíveis escritas por portugueses para compreender a relação entre urbanismo e globaliza- ção, poderá ser difícil responder. No entanto, tal difi- culdade pode existir mais em função de uma ausên- cia de síntese teórica das proposições contrastantes que foram sendo feitas ao longo do tempo sobre tal relação do que, propriamente, pela ausência destas. Este texto procura ser um contributo para a saí- da de tal situação. Tal implica ter uma consciência da produção portuguesa como produtora de quadros teóricos, possibilitando, assim, não só políticas do território sustentadas por reflexões teóricas portu- guesas, mas mesmo a comparação entre tais qua- dros teóricos com os de diversas outras geografias de produção científica. Interpretando o caminho que se fez ao longo dos últimos 25 anos, procurou-se neste texto compreender as diversas proposições, no quadro amplo das Ciências Sociais, face às relações entre urbanismo e globalização em Portugal, pro- pondo-se uma categorização dessas em quatro mo- delos de interpretação e acção: o da Metrópole, o da Metropolização, o da Intermediação Sócio-Cultural e o da Criatividade Urbana. c) o do marketing na construção de Portugal como marca; d) o das artes, novelísticas, pictóricas, drama- túrgicas, filmicas, etc. Estes imaginários, ao constituirem-se como a reflexividade da glo- balização, são também a consciência possível acerca daquela. Neste texto centrar-nos-emos apenas na reflexivi- dade da produção das Ciências Sociais em Portugal, e, especificamente, nas relações com o urbano sendo, no entanto, importante referir os demais imaginá- rios que com este, de uma ou de outra forma, aca- bam por dialogar.³ No quadro das Ciências Sociais, os processos glo- bais influenciaram (e influenciam) a divisão do tra- balho científico implicando mudanças no próprio ob- jecto de estudo que as cidades eram para a Geografia, a Sociologia ou a Antropologia. Em 1992 afirmava-se já que era necessário passar de uma escala da cidade à metrópole; do urbano ao território; da Sociologia Urbana à Sociologia do Território; da perpectiva ana- lítica à prospectiva (FERREIRA, 1992). A transição da escala da cidade para a do território e da mono para a interdisciplinaridade dos anos 80 para os 90 foi clara nos centros de investigação nesta área. É o caso do do Centro de Estudos Territoriais (CET) do ISCTE, fun- dado em 1991 a partir do Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NEUT), que tinha surgido em 1980 no âmbito do Centro de Estudos de Sociologia (actual- mente Centro de Investigação e Estudos de Sociolo- gia – CIES). Um outro caso é o do Centro de Estudos Geográficos (CEG ), o qual, tendo a sua origem em 1943 com Orlando Ribeiro, evidencia uma transição clara dos anos 80 para os anos 90, com o seu núcleo de estudos urbanos, denominado Urban Studies – Neturb. A adopção de uma categorização plural, seja Estudos Territoriais ou Estudos Urbanos, evidencia a abertura de escala e disciplinar. No entanto, tal pas- sagem para uma escala territorial e interdisciplinar ³ Para dar apenas alguns exemplos, no quadro das políticas públicas, para além dos múltiplos programas, é de referir dois momen- tos-chave na construção de novas fronteiras territoriais e identidades: o documento da Comunidade Europeia Practical Guide to Cross-Border Cooperation (2000), assim como o PNPOT- Programa Nacional de Planeamento e Ordenamento do Território (2007). No quadro da construção de Portugal como marca, as campanhas do ICEP (‘take a break from the rest of the world’) e a de BBDO (Europe West Coast) por exemplo evidenciaram a problemática da ‘posição’ de Portugal entre o ‘resto do mundo’, o ‘Sul’ e a ‘Costa Oeste’. Finalmente, no quadro das artes, e, por exemplo, no caso das narrativas vale a pena referir três romances que constro- em imaginários territoriais muito diferentes: ‘Jangada de Pedra’ (1986) de José Saramago, ‘Euronovela’ (1998) de Miguel Vale de Almeida e ‘Destino Turístico’ (2008) de Rui Zink. Ou ainda, nas artes plásticas, trabalhos de Leonel Moura e de Joana Vasoncelos entre outros tendo como referência Portugal.
  • 4. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. SEIXAS, P. C.58 da criatividade urbana (COSTA; SEIXAS; OLIVEIRA, 2009; SEIXAS; COSTA, 2008). Procuraremos, nas pá- ginas seguintes, caracterizar cada uma destas pers- pectivas em função das quais as Ciências Sociais em Portugal foram traduzindo a globalização nas suas relações com o urbanismo. O modelo da Metrópole A primeira revelação, implicando também alguma ocultação, da relação entre globalização e urbanismo em Portugal dá-se pela (re)introdução da noção de Metrópole. De facto, metrópole significava, no tempo colonial, o território português europeu em relação às ‘províncias ultramarinas’, como então se chama- vam. O fim da colonização fez com que o termo me- trópole passasse a ser sinónimo (ainda que não tives- se um uso generalizado) da cidade de Lisboa. Lisboa passou “de capital do Império a centro da Metrópole” (FERREIRA, 1986b), mantendo a sua centralidade histórica e, mesmo, enfatizando-a, como compensa- ção da perda territorial sofrida. Falar de Lisboa como ‘Centro da Metrópole’ ou mesmo como ‘metrópole’ remete para uma consciência de uma determinada globalização, a da primeira globalização, cujo símbolo máximo terá sido o Tratado de Tordesilhas, dividindo o Mundo entre dois países com duas cidades-mundo (Lisboa e Sevilha), ou seja, o mundo colonial. Esta re- velação de Lisboa como Metrópole é também, assim, a consciência de uma perda, a qual se procurará supe- rar. No limiar da Expo’98⁴ – de certo modo um mar- co de desluto colonial ao passar-se da denominação ‘Mercado do Oriente’ e da celebração da chegada de Vasco da Gama à Índia para a celebração universa- lista e futurista dos Oceanos – Vitor Matias Ferreira (1997) no artigo “A Expo’98 e a metrópole de Lisboa” apresenta ainda Lisboa como a cidade-metrópole, centro de um território metropolitano, centro do país. Assim, em vários textos ‘metrópole’ surge como sinó- nimo quer do país, quer da sua capital, Lisboa, sendo esta uma metonímia daquele. Metrópole, Metropolização, Intermediação Sócio-Cultural e Criatividade Urbana Propomos que a reflexividade sobre a relação en- tre urbanismo e globalização em Portugal ao longo dos últimos 25 anos pode ser compreendida em fun- ção de quatro modelos, englobando cada um deles propostas conceptuais muitos diversas. Não obstante o facto de, em cada momento histórico de tal reflexi- vidade, os conceitos surgidos terem sido entendidos como contrapostos e legitimando mesmo interven- ções territoriais diferenciadas, é possível à distância do tempo concebermos tais propostas conceptuais como fazendo parte dos mesmos modelos em cons- trução. Os quatro grandes modelos propostos, o da Metrópole, o da Metropolização, o da Intermediação Sócio-Cultural e o da Criatividade Urbana, constituem não só perspectivas (como um olhar geral sobre uma paisagem em construção), mas mesmo quadros de intervenção no âmbito da relação entre urbanismo e globalização em Portugal. A focalização na Metrópole foi a primeira e centrou-se em conceitos como o de metrópo- le (FERREIRA, 1986a, b, 1997); cidade primacial (BAPTISTA, 1994; GAMA, 1993); urbanismo difuso (GAMA, 1993; GASPAR, 1987; FAUP, 2002) e pola- rização limite (FERRÃO, 1997). A focalização na Metropolização seguiu-se-lhe, com conceitos como os de metropolização (FERREIRA, 1992; BRITO, 1997; SEIXAS, 1999) ou região urbana (FERRÃO, 2007), estabelecendo alguma relação com o de- senvolvimento local (FERRÃO, 2000; SILVA, 2000). Depois, a focalização na Intermediação Sócio-Cul- tural, com conceitos como os de destradicionaliza- ção (FORTUNA, 1997, 2006), formatação cultural (FERREIRA, 2002b), oportunidades mobilizadoras (FERREIRA, 2007), redesenvolvimento das cidades (FORTUNA; SILVA, 2001), zonas e profissionais de Intermediação Sócio-Cultural (FERREIRA, 2009; FORTUNA; SILVA, 2001). Por fim, a focalização na Criatividade Urbana centra-se, exactamente, nos lu- gares da criatividade urbana e espaços e processo ⁴ A Expo’98 ou Exposição Internacional de Lisboa de 1998, realizou-se entre 22 de maio e 30 de setembro de desse ano. A parte oriental da cidade, escolhida para acolher o evento, era uma zona de estaleiros com contentores, uma zona de depósitos de com- bustíveis e uma zona periurbana pouco valorizada. A Expo’98 realizou uma intervenção integrada, cultural, social, arquitectónica e urbanística, teve mais de 10 milhões de visitantes (a população portuguesa) e foi considerada pela BIE (Bureau International des Expositions) como a melhor exposição de sempre. A exposição serviu para a reconversão urbana completa de uma vasta zona (330 hectares com 5 km de frente ribeirinha) que se tornou no actual ‘Parque das Nações’, uma nova centralidade em Lisboa de elevada qualidade de vida. Alguns trabalhos têm sido feitos sobre este novo espaço urbano (por exemplo, GATO, 2009).
  • 5. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 59 Quadro 1 - Tipos de urbanização no Centro e na Periferia Centro Periferia Urbanização antiga Sobre-urbanização recente Taxas altas de urbanização Taxas baixas de urbanização Curvas de ordem-tamanho log-normais Estrutura primacial da rede urbana Urbanização como desenvolvimento Urbanização como dependência Fonte: Dados da pesquisa. contraurbanização e pode ser de tipo metropolitano ou não metropolitano. É, no entanto, mais uma vez António Gama que procura fazer uma relação entre a urbanização difusa e os processos mais globais, afirmando que tal urbanização é a evidência da si- tuação semiperiférica e de dependência do centro em que Portugal se encontra em termos históricos. Gama parte de um quadro de diferenças entre ur- banização nos países do Centro e urbanização nos países da Periferia (GAMA, 1993, p. 443-444): A focalização na primacialidade de Lisboa é uma derivação desta ideologia. Diversos autores descre- veram o carácter de cidade primacial de Lisboa face ao resto do país. Luís Vicente Baptista (1994) refere a excepcionalidade demográfica de Lisboa em 127 anos de Censos em relação ao conjunto da popula- ção e Álvaro Silva (1997) refere a relação primacial da maior cidade com o conjunto do sistema urbano.⁵ É, no entanto, António Gama (1993) que estabelece uma relação entre a primacialidade de Lisboa no sis- tema urbano e a globalização ao afirmar que o Mode- lo Primacial se associa à periferia do sistema mundo ou/e a países que foram centros de Impérios. A dé- cada de 2000 evidenciou mudanças no sistema ur- bano português com consequências para o indicador da Primacialidade. De facto, com o Censo de 2001 deixa de se poder falar em primacialidade urbana stricto sensu,⁶ ainda que se possa falar de macrocefa- lia de Lisboa (não já no sentido demográfico) versus uma satelização nacional – em função da possibili- dade de um ‘cenário de médio prazo’ de ‘Neocentra- lismo’ (FERRÃO; MARQUES, 2003) ou, substituindo a comparação entre cidades por uma comparação entre áreas metropolitanas, se possa aplicar de novo o conceito de primacialidade,⁷ ou referindo-se, ainda, à bipolarização-macrocefalia das áreas metropoli- tanas (VALENTE, 2004). Uma outra visão da relação entre urbanismo e globalização no quadro do modelo da Metrópole, cons- truída no início da década de 90, centra-se no concei- to de urbanismo difuso. Jorge Gaspar (1987) caracte- riza dois grandes tipos de urbanização em Portugal: a urbanização com concentração e a urbanização di- fusa (Quadro 1). Assim, o urbanismo difuso é a con- traparte da Metrópole ou da primacialidade. É neste sentido que o conceito de urbanização difusa serve a explicação da relação entre urbanismo e globalização segundo o modelo da Metrópole. A urbanização difu- sa pode ser o resultado da urbanização in situ ou da ⁵ O conceito de primacialidade é, assim, usado com diferentes acepções, de forma mais generalista como um ratio entre a população da maior cidade face à população do país e, de forma específica, como quando o ratio entre a população residente da primeira cidade face à população residente da segunda maior cidade é igual ou superior a 2. ⁶ No Censo de 1991, Loures – uma cidade da Área Metropolitana de Lisboa, com 322 mil habitantes – tinha ultrapassado em popula- ção a cidade do Porto (302 mil). No entanto, Lisboa (com 663.034) mantinha a primacialidade. Mas em 2001, Lisboa tem 564.657 habitantes, Sintra (não sendo cidade) passa a estar em segundo lugar, com 363.749, Vila Nova de Gaia em terceiro, com 288.749 e o Porto em quarto, com 263.131. ⁷ Curiosamente, a relação entre a região correspondente às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto entre 1950 e 1970 não implicavam uma primacialidade da primeira. No entanto, o Censo de 1981, 1991 e 2001 denotam tal primacialidade, ou seja, a Área Metropolitana de Lisboa tem mais do dobro de população residente que a Área Metropolitana do Porto (FERRÃO; MARQUES, 2003, p. 61). A urbanização difusa é, assim, função de uma de- terminada relação capital/trabalho que nos coloca na semiperiferia, enfatizada pela situação pós-colonial (GAMA, 1993). No entanto, e para além do urbanis- mo difuso ser explicado em função de uma determi- nada situação portuguesa no sistema mundo, Gama considera que a urbanização in situ é uma singulari- dade portuguesa, não tanto explicável por factores globais mas mais pela evidência da importância so- cial da comunidade local. Esta teoria da urbanização difusa acabou por ser adoptada posteriormente por outros autores vários. Foi o caso de Fernandes de Sá, Álvaro Domingues, Nuno Portas e outros que tra- balharam a urbanização difusa no Noroeste Penin- sular, propondo mesmo o conceito de cidade difusa,
  • 6. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. SEIXAS, P. C.60 se deu senão em relação a Lisboa. Ferreira (1986a, p. 37) afirma: Como veremos melhor, seguidamente, a aborda- gem diacrónica será, então, desenvolvida em condi- ções de maior «proximidade» da realidade visada, isto é, em relação ao caso que tem vindo a ilustrar a presente formulação conceptual, através da concre- tização analítica do processo de metropolização do território, estruturado e diferenciado em função do «centro urbano» da Metrópole de Lisboa. Tal centralidade das Ciências Sociais na análise da capital levava a uma identificação entre Metrópole e Metropolização, servindo a análise do território apenas para reforçar o modelo da Metrópole e não desenvolvendo, de facto, a proposta epistemológica e metodológica de Matias Ferreira. Assim, foi preciso esperar-se pelo final dos anos 90 para que o modelo da Metropolização começasse a desenhar-se. Em 1997, o texto de João Ferrão já referido inau- gura o tema da rede, como metodologia de análise e desenvolvimento territorial, face à hierarquia, en- quanto tema até então dominante. No mesmo ano, Soeiro de Brito (BRITO, 1997, p. 228) analisa a in- fluência da globalização na mudança territorial e ur- bana. Especificamente refere que a mudança na “fi- sionomia interna das cidades”, na “sua articulação no sistema urbano” e na sua articulação “no sistema regional” são consequência da globalização da eco- nomia, da globalização da divisão do trabalho e da nova economia da informação e dos serviços. Em 1999, o autor deste mesmo texto (SEIXAS, 1999, 2008) analisa a cidade do Porto segundo uma lógica de transição de socioespacialidade urbana para so- cioespacialidade metropolitana, caracterizando-as como modelos transnacionais. A análise da cidade do Porto numa lógica metropolitana era aceite por muitos com uma certa ironia, tanto mais que a re- presentação cultural ‘O Porto é uma nação’, as for- mas de relacionamento social entendidas como de proximidade e a periferização política e, ao longo dos anos 90, económica remetiam o Porto para um estatuto de uma certa pequenez (Quadro 2). Sustentando-se em Gottdiener, Martinotti, Asher e outros, Seixas considera que se está perante uma nova forma de espaço urbano em que a metropo- lização substitui a urbanização e a região urbana substitui a cidade (SEIXAS, 1999, 2008, p. 56-59). o qual nos coloca já num outro momento e que abor- daremos no modelo seguinte. Uma última focalização, no âmbito do modelo da Metrópole, mas que apresenta já uma transição clara e abertura ao modelo seguinte, evidencia-se em função da noção de polarização limite (FERRÃO, 1997). Ferrão enquadra o problema que pretende tratar (rede urbana, instrumento de equidade, co- esão e desenvolvimento?) logo à partida em função de um quadro global. Ferrão considera que a globa- lização causou um aumento da especialização e da mobilidade e que tal implicou, em termos territo- riais e urbanos, uma remetropolização e polariza- ção. Diz ainda que a mudança territorial e urbana evidencia dois modelos de sistemas urbanos – o mo- delo da hierarquia funcional por um lado, e o mode- lo de rede por outro –, e este é o grande contributo de Ferrão, ao afastar-se de uma análise meramente centro-periferia, como fez Gama. E a proposta de Ferrão, em termos de gestão e política territorial, é a de conjugação dos dois modelos. Ou seja, o desafio é o de gerir o sistema urbano português no máximo de vantagens sociais da equidade e no máximo das vantagens económicas da polarização. Em resumo, o modelo da Metrópole baseia-se na descrição e análise dos sistemas urbanos segundo a valorização da hierarquia funcionalista (demográfi- ca e económica) e, portanto, do centralismo. Quer os trabalhos histórico-demográficos tendo como âmbi- to o país, quer os trabalhos mais comparativos aca- bam sempre por justificar um modelo territorial e ur- bano hierárquico funcionalista de base demográfica e económica. A identificação da urbanização difusa e a sua caracterização como ‘singularidade portugue- sa’, associada à ‘importância da comunidade local’, é a contraparte etnográfica-folclorista que confirma a importância da concentração urbana, principalmen- te no quadro de competição global e, por isso, a defe- sa de tal estratégia como política pública. O modelo da Metropolização Se é verdade que Matias Ferreira já em 1986 ti- nha referido a importância da passagem da escala analítica de cidade e de urbano à escala do território e, portanto, a metropolização estava já aqui delinea- da como território de análise e de intervenção, a verdade também é que tal empreendimento nunca
  • 7. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 61 Quadro 2 - Socioespacialidade urbana e socioespacialidade metropolitana Socioespacialidade urbana Socioespacialidade metropolitana Nó comprimido e contínuo Região desconcentrada e descontínua Urbanismo compacto Urbanismo portátil Cidade pedestre e de localidades (walking city) Des-localização auto-mobilizada e de glocalidades (car-city) Cidade habitacional e de trabalhadores Entreposto de consumidores Zonamento económico-social Zonamento narrativo e temático Fonte: Dados da pesquisa. sócio-económicos. Encontramo-nos, portanto, pe- rante a manifestação de um novo fenómeno real que reclama alguma nova elaboração conceptual (INDOVINA, 1990, p. 50). Indovina caracteriza de forma intensiva esta nova forma urbana nas diversas variáveis em jogo (INDOVINA, 1990, p. 58), evidenciando-se que o re- latório da FAUP (2002) segue este quadro. No en- tanto, sublinhando um dos aspectos fulcrais para a nossa argumentação, é de referir a substituição de conexões verticais, hierárquicas, típicas de um me- trópole e sua influência sobre um território, por co- nexões horizontais, não hierárquicas. Tais conexões horizontais, caracterizando-se por uma muldirecio- nalidade de fluxos é o que identifica a cidade difusa. Indovina frisa, no entanto, que tal situação não colo- ca o território em autarcia uma vez que ele está co- nectado hierarquicamente com os territórios mais abrangentes (INDOVINA, 1990, p. 56). Sá et al. no relatório FAUP (2002, p. 2) apresen- tam a urbanização difusa como um dos processos (ao lado da suburbanização, da periurbanização, da rururbanização) que leva à transformação dos sis- temas urbanos. A relação estabelecida é a de que a urbanização difusa dá lugar à cidade difusa, que esta é predominante em Portugal e que o Noroeste Peninsular é um laboratório por excelência para o seu estudo. Os autores afirmam, então, que um dos processos por meio dos quais se chega à cidade di- fusa é a urbanização difusa. Pela “urbanização di- fusa [...] as redes de relação abarcam a totalidade do território e fazem deste território uma cidade” (FAUP, 2002, p. 2). Parece haver uma certa sobrepo- sição entre o conceito de cidade difusa e o de cida- de região, concebendo-se que se está perante “uma nova ordem urbana, compósita, hetrógenea, polinu- cleada, produzida por múltiplos agentes e lógicas, em que cada uma das partes ou elementos (como decorre da teoria dos sistemas) só é descernivel a partir de lógicas de estruturação do sistema a que pertence” (FAUP, 2002, p. 8, grifo no original). De facto, apesar do relatório referir cidade difusa no título, o conceito é substituído por cidade região a partir das primeiras páginas. De qualquer forma, ainda que não refiram uma relação com a globaliza- ção clara, os autores consideram que uma nova for- ma urbana emerge quer de um como de outro lado do Atlântico (FAUP, 2002, p. 8) e que tal Defende, ainda, que tal transição se relaciona com paradigmas sócio-espaciais e políticas da diferença globais que influenciam as estruturas antropológi- cas urbanas. No entanto, uma ênfase no modelo da Metrópole e a (consequente) tardia criação do concei- to administrativo de Área Metropolitana em Portugal (Lei n. 10/2003 – revogada pelas Leis n. 45/2008 e n. 46/2008 – que possibilita a cristalização das as- sociações de municípios criada pela Lei n. 172/99), assim como a recusa da regionalização, levou a que os conceitos de cidade região e região urbana na acepção sociológica demorassem a atingir um pata- mar de conceito analítico. A pesquisa sobre cidade difusa, por um lado (FAUP, 2002), e a pesquisa sobre as regiões metropolitanas (FERRÃO et al., 2002), por outro, evidenciam esta nova perspectiva. O conceito cidade difusa foi usado, em princípio, por Franco Indovina (1990) para a análise da região de Venetto Central, em Itália. Tal como neste texto consideramos que urbanização difusa é tão diferente de cidade difusa que incluímos em dois modelos de análise e desenvolvimento urbano e territorial, tam- bém Indovina refere: Se anteriormente o adjectivo “difuso” qualificava a urbanização (Urbanização difusa), hoje torna-se ne- cessário encontrar uma nova terminologia e, numa primeira tentativa, definimos esta nova estrutura territorial como Cidade Difusa. Em certo sentido, a “cidade difusa” tem às suas costas a “urbaniza- ção difusa” mas os dois fenómenos apresentam-se como completamente distintos, tanto na matriz territorial como no âmbito económico social e cons- tituem estádios distintos de organização do espaço como consequência da reorganização dos processos
  • 8. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. SEIXAS, P. C.62 Nestas novas regiões cognitivas são relevantes a rede de cidades médias e o desenvolvimento local, que surgem nos textos de outros autores, vários de facto, os quais procuram articular a importância de tais redes territoriais com os constrangimentos reais e rei- ficados pela perspectiva hegemónica, mesmo quando crítica, da hierarquia funcional internacional. Em re- lação ao desenvolvimento local, José Portela (1998), Cris Gerry (1999) e Manuel Carlos Silva (2000) de- ram alguns contributos pertinentes. Gerry (1999, p. 7, grifo do autor) contrapõe-se à perspectiva hierárqui- ca e considera que “a realidade da globalização é muito mais complexa, fragmentada, vacilante, intermitente, parcial e desigual”. Gerry identifica três conceitos como fundamentais: a fronteira entre espaços globalizados e não globalizados, a cadeia de valor e as estratégias de adaptação local. Manuel Carlos Silva (2000, p. 303) propõe o conceito de con- trapontos (2000, p. 294), os quais se podem expressar, pelo que entendemos, por “iniciativas locais contra- hegemónicas participadas e decididas a partir de baixo, quer a nível das pequenas e médias cidades, quer a nível das zonas rurais”. João Ferrão (2000) faz, de certo modo, um ponto da situação entre a de- fesa de iniciativas do “desenvolvimento local” que procuram a criação nos mundos rurais de ‘territó- rios inteligentes’ e de “cadeias de valor” “a partir de baixo” e os constrangimentos do ‘centro’ ou do ‘alto’. Ferrão afirma que “o futuro dos ‘mundos ru- rais’ decide-se, no essencial, em sede urbana”, sen- do, assim, necessário estimular a representação de “bio-região” e de “região cognitiva” como rede capaz de se articular em torno de uma cidade grande para ser capaz de uma promoção face a mercados abran- gentes (FERRÃO, 2000, p. 49-52). Mais recentemente, já na década de 2000, a cria- ção dos Agrupamentos Europeus de Cooperação Transfronteiriça – AECT (UNIÃO EUROPEIA, 2006) evidencia o caminho que a lógica das redes está a tomar (MEDEIROS, 2010). A partir do modelo da pri- meira Euroregio, criada em 1958 na fronteira entre a Alemanha e a Holanda, os AECT constituem-se como redes cada vez mais abrangentes para criarem esca- la, quer para a sustentabilidade interna, quer para adquirir vantagens competitivas na relação externa, deixando as noções de interno e externo de coinci- dir com fronteiras dos Estados, ainda que as sedes desses AECT num Estado ou noutro não seja dispi- cienda e de ignorar. De facto, o caminho dos AECT traduz não só a falência do modelo canónico de ci- dade ou da metrópole, mas, sobretudo, a necessi- dade de encontrar novas abordagens teóricas para captar a complexidade e a extensão territorial das conurbações (simultaneamente, resultado e pro- cesso) que se vão expandindo geograficamente, compactando-se ou diluindo-se em formas incer- tas, de limites imprecisos e em contínua transfor- mação (FAUP, 2002, p. 8). Toda a caracterização, ao longo do trabalho, da ‘cidade região’, e suas conurbações metropolitanas, não metropolitanas e cidades médias, é a demons- tração de tais ideias. Ferrão, Rodrigues e Vala (2002, p. 194) afirmam que “as regiões metropolitanas portuguesas consti- tuem peças chave do processo de inserção interna- cional do país, tanto numa óptica de contiguidade espacial (Peninsula Ibérica) como em termos de co- nexão com redes supranacionais de circulação de pessoas, informação, conhecimentos, produtos e ser- viços”. É tendo em conta este quadro que utilizaram diversas metodologias de forma a ter uma compreen- são das ‘regiões metropolitanas’ (do Porto e Lisboa) que ultrapassasse uma visão impressionista, territo- rialista ou meramente administrativa. Basicamente foram usadas três metodologias: a Nurec (Network on Urban Research in the European Union) desenvol- vida por esta rede de investigação em 1994; a Gemaca (Group for European Metropolitan Area Comparaive Analysis) desenvolvida em 1996 e a desenvolvida pelo CPSV (Centre de Política de Sol i Valoacions) de Barcelona e que segue de perto critérios dos censos americanos. O que é pertinente neste estu- do é a procura de novos mapas que possibilitem uma consciência cognitiva das regiões metropo- litanas, as quais são, de facto, espaços de fluxos e vivências. Os autores referem a complexidade das realidades metropolitanas e o facto de qualquer delimitação destas ser sempre arbitrária e tenden- cial (FERRÃO; RODRIGUES; VALA, 2002, p. 193). No entanto, o facto das regiões metropolitanas serem “peças centrais de qualquer estratégia de desen- volvimento” (FERRÃO, RODRIGUES E VALA, 2002, p. 195), implicando critérios diferentes dos que se usam para delimitar as cidades e as próprias áreas metropolitanas, resulta em novas “geografias cogni- tivas”. É, assim, para uma nova cognição de regiões que esta obra contribuiu.
  • 9. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 63 Figura 1 - O Sistema Urbano Nacional segundo o PNOPT Fonte: DGOTDU, 2007. Figura 2 - Os Agrupamentos Europeus de Cooperação Transfronteiriça (AECT) Fonte: EUROPEAN COMMISSION, 2007. População das cidades em 2001 564 657 100 000 10 000 Capitais Sistema Metropolitano Outros Sistemas Urbanos 0 50 km Algarve Huelva Baixo Alentejo Alto Alentejo Alentejo Litoral Alentejo Central Badajoz Cáceres Beira Interior Sul Beira Interior Norte Cova da Beira Serra da Estrela Dão-Lafões Douro Alto Trás-os-Montes Tâmega Grande Porto Cávado Minho-Lima Ourense Pontevedra Ave Salamanca Zamora Lugo León Valladolid Ávila ESPAÑA PORTUGAL Pinhal Interior Sul Sevilla Córdoba parece ser o de colocar em causa a lógica económica hierárquica, de tipo estrutural, em função da escala ganha pela concretização de redes urbanas e terri- toriais transestatais. De certo modo, a mesma lógi- ca que impulsionou a CEE e a sua continuação em UE, ou seja, através da ‘rede’ ganhar dimensão para adquirir um lugar na hierarquia. Esta perspectiva evidencia como relações sócio-políticas e institucio- nais, em rede, bem sucedidas podem fazer a dife- rença nas hierarquias materiais e económicas tidas como seguras.⁸ Nesta nova lógica urbano-territorial de desenvolvimento de redes, a não concretização da regionalização em Portugal⁹ e a subsequente in- cipiência das próprias regiões urbanas (a função li- mitada das Comissões de Coordenação Regional e a governação das Áreas Metropolitanas que só surgiu com a Lei 46/2008) levou a que nas AECT o papel de Espanha seja, de facto, mais activo. Não deixa de ser interessante comparar o mapa de metropolizações nacionais, identificadas no PNPOT, e o mapa corres- pondente à área de AECTS, metropolizações transna- cionais, e como cada um parece o negativo do outro (Figuras 1 e 2). Resumindo este segundo modelo, um primeiro aspecto fundamental é que a passagem de um mode- lo de Metrópole para um modelo de Metropolização possibilitou a entrada na análise de investigadores com sede noutros pontos do país e que podiam, ago- ra, ter uma perspectiva do desenvolvimento terri- torial e urbano que não passava apenas por Lisboa. É em função disso que temos produção de investi- gadores de universidades do Porto, do Minho e de Trás-os-Montes, ou seja, uma pluralidade de visões acerca do urbano e territorial. O que se evidencia no modelo da Metropolização face ao da Metrópole é, antes de mais, uma complexificação em que à hie- rarquia funcional (de base económica e demográfi- ca) se acrescenta e sobrepõe (sem se substituir) um sistema de redes de construção sócio-política mais do que meramente administrativa. ⁸ Exemplo desta lógica é a criação da primeira macrorregião da Peninsula Ibérica, designada como Sudoeste Europeu, cujo primeiro passo foi dado a 17 de Setembro de 2010 com um memorando de entendimento, assinado em Valladolid, entre os representantes das três regiões do Noroeste Peninsular, o Governo da Galiza, o Governo da Castela e Leão e a CCRN de Portugal. O objectivo é apre- sentar candidatura aos fundos comunitários de 2014-2020 para a concretização de tal macrorregião cuja apresentação formal está marcada para dezembro de 2010 na Cimeira Ibérica de Elvas (GOMES, 2010). ⁹ O referendo de 1998 à Regionalização que resultou na sua recusa.
  • 10. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. SEIXAS, P. C.64 tradition-maintenance, re-tradicionalization and the construction of new traditions.” (HEELAS, 1996, p. 2). E é sobre exemplos relativos a esta tese da coexis- tência que o livro de Heelas, Lash e Morris (1996) se focaliza. A proposta de Carlos Fortuna de utilização do conceito de destradicionalização é também com- preensível no quadro desta definição. Raciocinando já numa lógica de fluxos, Fortuna apresenta a possi- bilidade de globalizar a partir de baixo, utilizando a cultura, e especificamente o património, ou seja, a representação presente do passado, como factor de produção. Fortuna opõe uma globalização mate- rial (económica) mais tendencialmente hierárquica a “outras possibilidades, nomeadamente de ordem cultural, que podem ‘globalizar’ a cidade e torná-la dinâmica” (FORTUNA, 1997b, p. 15). Distinguindo dois tipos de relações Local-Global – a) Globalização Passiva: ausência de recursos ou da sua potenciação e inclusão passiva na globalização, e b) Redinamiza- ção Global: utilização de recursos locais potencial- mente globalizantes¹⁰ –, Fortuna considera que a Re- dinamização Global pode ser levada a cabo por: a) globalização parcelar ou subglobalização ou b) glo- balização temporária. A destradicionalização defi- ne-se como um processo de redinamização global pelo potenciar dos aspectos inovadores da tradição e pela rejeição dos aspectos atávicos desta. Este con- ceito é utilizado por Fortuna para descrever alguns dos processos de patrimonialização e de classifica- ção como o Património Comum da Humanidade (“Património Mundial”) em curso, centrando-se no caso de estudo de Évora,¹¹ e atribui um valor posi- tivo a tais processos de globalização de baixo para cima. Aliás, mais recentemente, Fortuna insistia na sua tese, num artigo sobre a recomposição do Centro Histórico de Coimbra, agora num tom mais pedagó- gico e político do que analítico: “Noutra ocasião e noutro lugar, atrevi-me a caracterizar esta situação como tratando-se de um esforço de destradicionali- zação da tradição (FORTUNA, 2001, p. 231-257).¹² Mantive-me fiel à ideia. Temos que saber moderni- zar a história e a memória dos lugares, sem as des- caracterizar, mas mobilizando-as para o projecto de O modelo da Intermediação Sócio-Cultural Se a grande mudança de um modelo da Metrópole para um modelo da Metropolização foi o da tran- sição de uma perspectiva sobre a forma, a infraes- trutura ou o hardware da globalização, passando de um modelo hierárquico de análise e intervenção para um modelo de redes, a grande mudança de um modelo da Metrópole e da Metropolização para um modelo de Intermediação Sócio-Cultural é, antes, relativa aos conteúdos, aos factores globalizantes, ao software da globalização, passando de uma foca- lização analítica e interventiva material e económi- ca para uma focalização social, cultural e criativa, mormente imaterial. Se o modelo hierárquico leva- va a uma impotência, ainda que analisada de forma crítica, o modelo da rede constituiu-se, muitas ve- zes, como uma forma sem conteúdo. O modelo da Intermediação Sócio-Cultural constitui-se, em par- te, como resposta a tais constrangimentos. Em 1997, no livro cujo título é paradigmático, Cidade, cultura e globalização, Carlos Fortuna pro- põe o conceito de destradicionalização. Paul Heelas, Scott Lash e Paul Morris (1996, p. 2) consagraram um livro a tal conceito. Paul Heelas, na introdução, define assim o conceito: As a working definition detraditionalization in- volves a shift of authority: from ‘without’ to ‘within’. It entails the decline of the belief in the pre-given or natural orders of the things. Individual subjects are themselves called upon to exercise authority in the face of the disorder and contingency which is thereby generated. ‘Voice’ is displaced from estab- lished sources come to rest with the self. Heelas refere duas formas de teorizar acerca da destradicionalização: a tese radical (radical thesis) e a tese da coexistência (the coexistence thesis). A tese radical sustenta a ideia de uma quebra com a tradi- ção e um declinio desta face à modernidade triun- fante; a tese da coexistência “sees detraditionaliza- tion taking its place along-side or together with, ¹⁰ A Globalização Passiva e a Redinamização Global são, de certo modo, sinónimos de Localismos Globalizados e de Globalismos Localizados, conceitos propostos por Boaventura de Sousa Santos (2001), incluídos na globalização hegemónica e à qual opõe a globalização contra hegemónica (Património Comum da Humanidade e Cosmopolitismo). ¹¹ O Centro Histórico de Évora tornou-se Património Mundial da Unesco em 1986. ¹² Refere-se a uma edição da obra Cidade, Cultura e Globalização (FORTUNA, 1997a).
  • 11. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 65 Se o passado, por reconfiguração discursiva e/ou por destradicionalização, foi o material sobre o qual se trabalhou o urbanismo e o território, desde o fim dos anos 80 e durante a década de 90, em função de um contexto global, o presente-e-futuro era, em últi- ma análise, o alvo. Os grandes eventos do fim da dé- cada de 90 e início da década de 2000 em Portugal (Expo’98 e Euro 2004) constituiram, como refere António Ferreira (2007, p. 170), “Oportunidades Mo- bilizadoras”, ou seja “a realização de grandes even- tos (eventos ‘marcantes’) constitui – quando devida- mente programada e integrada numa estratégia am- biciosa – uma oportunidade para desencadear pro- fundas transformações nas cidades e nos sistemas territoriais”. É neste quadro que nos parece pertinen- te a pesquisa de Claudino Ferreira (2002a, 2002b) que se focaliza na formatação cultural da Expo’98. Para o autor a “formatação cultural” resulta num “modelo culturalmente hibrido” (FERREIRA, 2002a, p. 294) que conjuga “três modalidades distintas de acção e de organização cultural”: a que se reporta aos “fluxos globais hegemonizados”, a das “obras e dos produtores que integram os circuitos interna- cionais da arte e da cultura” e, finalmente, os “produ- tores culturais que operam habitualmente às escalas local e nacional” (FERREIRA, 2002a, p. 305-306). O que nos interessa aqui, especificamente, é que a formatação cultural dos grandes eventos tem resul- tados arquitectónicos, urbanísticos e territoriais que propomos aqui conceber como um urbanismo por formatação. Ao invés da destradicionalização, o ur- banismo por formatação é uma intervenção, tipica- mente arquitectónica ou/e urbanística, que não ne- cessita de um qualquer passado/património de base local, utilizando antes um pesente-futuro associado a um qualquer movimento global, mobilizador de imaginários, para o desencadear de uma produção arquitectónico-urbanística para o consumo local de âmbito potencialmente global. O caso da Expo/Parque das Nações é, em Portugal, o exemplo por excelência e, a uma escala completamente diferente, a Casa da Música no Porto.¹⁴ A destradicionalização, o urbanismo por forma- tação e as suas inerentes estratégias discursivas renovação urbano-cultural das cidades e dos seus velhos centros” (FORTUNA, 2006, p. 12). A questão da destradicionalização foi abordada, de forma mais problematizada ou não, por diversos autores. Carlos Fortuna e Paulo Peixoto (2002) problematizam a re- lação entre destradicionalização e cidades médias e Claudino Ferreira (2002a) refere o caso da Expo’98 e a mudança processada face à primeira proposta pela comissão das Comemorações dos Descobrimentos para celebrar a chegada à Índia de Vasco da Gama em função de um ‘Mercado do Oriente’ em Lisboa, a qual foi substituída pelo conceito “Os oceanos, um património para o futuro”, título com o qual a candida- tura foi submetida ao BIE (FERREIRA, 2002a, p. 289), revelando o típico processo de destradicionalização (ainda que não referido) descrito por Fortuna. Vários outros autores centraram-se, especifica- mente, no que podemos chamar reconfigurações dis- cursivas, ou seja, no uso de estratégias discursivas ou narrativas, factor fundamental de facto em toda a ges- tão imaterial da relação entre cidade, cultura e globali- zação, capaz de reconfigurações ou reconversões terri- toriais (figuras, lugares, paisagens) e urbanas (centros históricos, áreas metropolitanas) que inventam tradi- ções e novas comunidades imaginárias, enfim, novas identidades, normalmente função de um consumo turístico que se tem como expectativa. Referindo ape- nas alguns autores, um para cada escala, Luís Vicente Baptista (1999) analisou a reconfiguração positiva do imaginário saloio¹³ na relação entre cultura, política do património e turismo, Paula Mota Santos (2005) anali- sou as ‘narrativas’ que possibilitam compreender a (re) configuração identitária do Centro histórico do Porto e Filomena Silvano (2003) analisou as estratégias dis- cursivas relacionadas com o património na área metro- politana de Lisboa. Todas estas estratégias discursivas, criadas por determinados intermediários culturais, im- plicam revelações e ocultações específicas, as quais em vários casos evidenciam verdadeiras inversões dianbte de identidades territoriais e urbanas anteriores. Um dos aspectos mais importantes destas análises é que as pró- prias narrativas científicas (históricas, sociológicas, etc) passam a ser elementos essenciais de todo o processo de reconfiguração urbana e territorial. ¹³ ‘Saloio’ é um estereótipo que categoriza os habitantes dos arredores de Lisboa. ¹⁴ O caso da Casa da Música a este nível é interessante porque ao ter sido construída num centro de recolha de eléctricos implicou a recusa de um passado com potencial investimento de destradicionalização por reconfiguração discursiva, tendo-se preferido um urbanismo por formatação.
  • 12. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. SEIXAS, P. C.66 Assim, e abrindo já ao modelo seguinte, enquanto que os modelos anteriores procuravam gerir o es- paço em função de recursos existentes, a mudança para a cultura como factor de produção do espaço possibilita que se considere a criatividade como re- levante. Enquanto num primeiro momento a cultu- ra, entendida como factor de produção, implicava sempre uma objectificação arquitectónica ou/e ur- banística (mesmo assim evidenciando-se sempre a tensão entre patrimonialização e criação arquitec- tónico-urbanística), num segundo momento, o ca- minho da Intermediação Sócio-Cultural tende mais facilmente a objectificar-se no imaterial, passe o pa- radoxo, e na criatividade. O modelo da criatividade urbana A passagem de um modelo de Intermediação Só- cio-Cultural (e seus profissionais) para a criativida- de não é menosprezável ideologicamente e o atraso na sua recepção em Portugal também não o é. A fo- calização na criatividade, apesar de alguma conti- nuidade, evidencia um corte com a Intermediação Sócio-Cultural. Não se trata já de intermediar entre um qualquer movimento global e a (re)construção local mas antes de potenciar a criatividade local que, em rede, poderá – em alguns casos – atingir âmbitos cada vez mais abrangentes. O projecto de investigação CreatCity (2007-2010), coordenado por João Seixas e que compara a criativi- dade urbana em três áreas metropolitanas (Lisboa, Barcelona e São Paulo), vai estabelecendo relações entre ‘vitalidade’, ‘competitividade’ e ‘criatividade’ como conceitos fundamentais na emergência de ‘lugares da criatividade urbana’ ou ‘espaços e pro- cessos da criatividade urbana’, procurando atingir tipologias (SEIXAS; COSTA, 2009). Identificam-se ‘bairros criativos’; ‘espaços alternativos emergen- tes’; ‘territórios e instituições sócio-culturais e de conhecimento’; ‘investimentos urbanos de larga es- cala’; ‘projectos sociais culturais de génese local’ e ‘classes sociais e/ou profissionais’ (COSTA; SEIXAS; OLIVEIRA, 2009). Outras referências à cidade cria- tiva e à relação entre cultura, arte e cidade têm sur- gido nos últimos anos (ANDRADE, 2008; MARTINS, 2009; MILES et al., 2010). Assim, basicamente nos últimos anos, começa a haver uma consciência em torno da criatividade e das chamadas ICC, indústrias associadas a uma cidade de eventos ou/e de estru- turas em que processos globais servem à (re)cons- trução urbana local (Património Mundial em Évora, Porto, Guimarães; capitais da cultura; Expo’98; Euro 2004; etc) o que denotam é que a cidade se constrói cada vez mais em função de intermediações e inter- mediários culturais. Uma clarificação conceptual da intermediação cultural e de intermediários culturais é feita por Claudino Ferreira (2009). O autor remete a principal origem conceptual destes últimos para a definição dada por Bourdieu na obra A Distinção, as- sociada a profissionais que estabeleciam o quadro da recepção dos ‘gostos’ pela pequena burguesia em ascenção e propõe Intermediação Cultural, de forma geral, como as funções que medeiam entre a produção e a recepção de cultura (FERREIRA, 2009, p. 323-324). Uma proposta de análise da interme- diação cultural relacionada com o urbanismo tinha já sido sistematizada conceptualmente por Carlos Fortuna e Augusto Santos Silva (2001, p. 419). Fortuna e Silva chamam “redesenvolvimento das cidades” ao facto de que em redor da cultura e de algumas das suas expres- sões materiais nas cidades [...] estamos a assistir à criação de novas centralidades urbanas, com re- novadas funções [...], associadas a novas modali- dades de comunicação e ao surgimento de novos agentes culturais especializados e novos campos de acção de que está a resultar uma profunda re- configuração fisica e também estética e simbólica da cena urbana portuguesa e, em particular, dos seus espaços públicos. Este redesenvolvimento das cidades faz-se em função de zonas de intermediação e de intermedi- ários culturais que possibilitam “os reajustamentos sociais e culturais decorrentes da globalização e actuantes sobre os modos de organização da cultu- ra urbana e a relação entre espaços públicos e pri- vados” (FORTUNA; SILVA, 2001, p. 436). Fortuna e Silva identificam quatro zonas de intermediação: terceiras culturas, relações sociais de estranhamen- to e tolerância, domesticidade e práticas sócio-cul- turais e espaço social de proximidade relacional. Trata-se, de certo modo, de uma estratégia de cate- gorização em função de tipos de relações e de espa- ços e em que o macro e o micro se inter-relacionam de formas diferenciadas.
  • 13. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 67 públicas a vários níveis, quer nas análises das ciên- cias sociais. As zonas de intermediação e os intermediá- rios culturais acabam por relacionar-se directamente com a noção de criatividade urbana. Os processos de intervenção urbana que seguiram o modelo da Inter- mediação Sócio-Cultural, como no caso do Porto, ca- pital europeia da cultura (2001), acabaram por desen- cadear processos na sociedade civil que deram origem ao que se pode definir como centros cosmopolitas de cultura urbana (Maus Hábitos e Contagiarte), lugares de hibridismo na distribuição e recepção de cultura, criando novas zonas de intermediação nas cidades e, especificamente, de criatividade urbana. Por outro lado, uma situação de crise imobiliária, criando uma infraestrutura disponível, associada à disponibilida- de de artístas e produtores culturais em sentido lato se reunirem em rede,¹⁵ terão sido factores importan- tes para a emergência em Lisboa da LxFactory, talvez o maior exemplo português de um cluster de criati- vidade. Outros exemplos relativos à sociedade civil são pertinentes, como seja o novo movimento de no- matismo estudantil internacional, criando todos os anos cidades erasmus com um público contínuo de mais de mil jovens na cidade do Porto e mais de 2 mil na cidade de Lisboa. Ao mesmo tempo surgiram organizações da sociedade civil centradas na relação entre criatividade e cidade, como sejam a ADDICT (no Porto) ou a Inteli e a Induscria (em Lisboa). Ao nível das políticas públicas temos quer po- sições da União Europeia, quer posições desenvol- vidas em âmbito governamental, de várias formas. A Estratégia de Lisboa (2000), implicando um desen- volvimento económico da Europa centrado na Socie- dade Digital, não teve o sucesso previsto. É nesse quadro que começa a identificar-se a necessidade de agregar as ICC (indústrias culturais e criativas) a tal mo- delo de desenvolvimento. Tal consciência, no entanto, parece ter sido mais evidente e rápida em Inglaterra (DCMS, 1998), pois o documento da União Europeia no sentido de tal inflexão data de 2006 (EUROPEAN COMMISSION, 2006). Outros momentos charneira em âmbito internacional foram a criação da The Creative Cities Network, lançada em 2004 pela Global Alliance for Cultural Diversity, uma organização da Unesco e, em 2008, a apresentação, pela UNCTAD, de um relatório sobre a importância das indústrias cul- turais e criativas. Em julho de 2008, numa parceria culturais e criativas, e que leva, por um lado, à foca- lização no presente, pela gestão das indústrias cul- turais existentes e, por outro, uma focalização no fu- turo, pelo investimento em centros (hubs, clusters) de criatividade. De facto, a pergunta cada vez mais pertinente é: que futuro é possível imaginar e que futuro imaginável é possível? Este novo modelo de desenvolvimento urbano, centrado na criatividade tende a ser relacionado com conceitos como os de nova economia, cidades criativas, classe criativa etc, os quais desde fins da década de 90 têm feito o seu caminho, principal- mente nos Estados Unidos e Inglaterra. Apesar do conceito de cidade criativa ter sido, em princípio, criado por Charles Landry e Franco Bianchini (1995), tais ideias vinham sendo desenvolvidas já anterior- mente. Gunnar Tornqvist, em 1983, desenvolveu a noção de creative milieu, caracterizando-o por qua- tro aspectos: informação transmitida entre pessoas; conhecimento (baseado, em parte, no acumular de informação); competência em certas actividades re- levantes; e criatividade (a criação de algo novo como produto das três actividades anteriores) (LANDRY, 2008, p. 133). Para além disso, a grande questão da relação entre a cultura mercadoria e espectáculo (criador do situacionismo passivo), por um lado, e, por outro, as “pessoas vivas”, capazes de “construir situações” num urbanismo unitário propiciador da “criação global da existência” no qual “os urbanistas do século XX deverão construir aventuras”, é uma questão colocada em 1957 pelos situacionistas, a par- tir de Guy Debord (HENRIQUES, 1997, p. 23-33, 51- 56). Por sua vez, esta posição artístico-social prag- mática dos situacionistas remete para o conceito de indústria cultural criado por Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt, em 1947, na Dialéctica do Esclarecimento e em que a cultura, pela via da in- dustrialização passava a ter que ser encarada como mercadoria. Por outro lado, o conceito de acunpuc- tura urbana de Jaime Lerner, utilizado desde 1971 na cidade brasileira de Curitiba, considerando que “a cidade é um sonho colectivo” (LERNER, 2004), é um exemplo prático de planeamento cultural e de cidade criativa. O modelo da criatividade é, em Portugal, ainda um modelo em emergência que se vai evidenciando, quer ao nível da sociedade civil, quer nas políticas ¹⁵ Interpretação da comunicação efectuada por Leonel Moura no encontro BragaCreative em junho de 2010, em Braga.
  • 14. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. SEIXAS, P. C.68 de mudanças cumulativas, portanto pouco percep- tíveis, de ocorrência em períodos mais longos” ou “sobreposição de pequenas intervenções, atreladas a um projeto maior, mas que não se revela em uma única intervenção, mas sim pelo acúmulo gradual de projetos menores”. Segundo Duarte e Ultramari (2009) estas infle- xões estabelecem, inequivocamente, a diferença entre dois momentos na história de uma cidade. Ora, a cul- tura de mudança, associada à criatividade urbana, que se vai instituindo em algumas cidades portu- guesas pode bem constituir-se como o desencadear de inflexões urbanas.¹⁶ Vai-se, assim, constituindo um novo modelo de desenvolvimento territorial e urbano, assim como de análise urbana. Se a transição de um modelo da Metrópole para um modelo da Metropolização re- velou a abertura multisituada em termos de análise e se a transição para o modelo da Intermediação re- velou uma abertura do análise e intervenção urba- na e territorial às áreas sócio-culturais, na transição para o modelo da Criatividade um dos aspectos a ter em conta é que a análise neste caso parece estar a ser feita para além das universidades, em função de parcerias na sociedade civil ou entre a sociedade civil e os municípios. Conclusão As relações locais-globais tiveram duas grandes inflexões, uma relativa à infra-estrutura, contexto, conexões ou hardware que determinam tais rela- ções e outra relativa às práticas, conteúdos, gatilhos ou software em que essas relações se dão. De for- ma breve e simplista por um lado passou-se de uma perspectiva hierárquica para uma perspectiva de redes e até de fluxos; por outro lado passou-se de uma perspectiva económica, de escala e materialis- ta para uma perspectiva sócio-cultural e, finalmen- te, para uma de criatividade (Gráfico 1). Este texto apresentou quatro modelos que ser- viram nos últimos 25 anos, em Portugal, à análise e intervenção urbanas e territoriais no novo quadro criado pela globalização. O modelo da Metrópole, ao afirmar de forma clara que o país se divide entre público-privada, é apresentado o “Estudo macroe- conómico: desenvolvimento de um cluster de indús- trias criativas na região do Norte”, e em março de 2010 é apresentado o relatório (encomendado pelo Ministério da Cultura/GPEARI) de Augusto Mateus, “O sector cultural e criativo em Portugal”. Em âmbi- to municipal, foram emergindo e caracterizando-se ‘Bairros criativos’, quer em Lisboa (Bairro Alto e Bica-Chiado) quer no Porto (eixo das ruas Miguel Bombarda e Rosário por um lado e galerias Paris e Cândido dos Reis por outro). O município de Braga, por meio da Inteli, desenvolveu o primeiro estudo português de potencial criativo de uma cidade, apre- sentado em junho de 2010. No território português, como um todo, dois exemplos são de referência, o de Óbidos e o de Paredes. Óbidos é já um caso de estudo europeu ao apostar na criatividade e ao coordenar a rede Creative Clusters in Low Density Urban Areas (2011). Desde 2002 que Óbitos tem implementado uma estratégia de desenvolvimento baseada no tu- rismo, cultura e economia procurando transformar Óbitos numa escolha para viver, trabalhar e diver- tir-se em âmbito nacional e internacional . Paredes lançou, com o apoio da Inteli, em maio de 2010 um concurso para um programa de acção “Paredes: Ci- dade Criativa para o Design de Mobiliário – Design Hub”. Esta estratégia desenvolve-se numa relação di- recta com a criatividade urbana, como está, aliás, re- ferido no site: Criatividade urbana – regeneração urbana: o design como âncora do desenvolvimento urbano, reflectindo-se em toda a estratégia de regeneração urbana da cidade, por meio da inclusão de elemen- tos criativos nos espaços, lugares e edificado de Paredes. Assim como o design urbano como su- porte à captação de talentos e empresas criativas, induzindo um ambiente vibrante e diversificado na cidade (PAREDES CIDADE CRIATIVA, 2011, grifo do autor). É provavel que a criatividade urbana esteja na base de ‘inflexões urbanas’, na acepção de Duarte e Ultramari (2009), ou seja, tipicamente “mudanças bruscas e ostensivas, e ocorrem em curto intervalo temporal (e por isso mesmo visíveis), ao contrário ¹⁶ É esta hipótese que está em desenvolvimento num projecto de investigação de colegas portugueses (Paulo Castro Seixas e Luís Pinto de Faria) com colegas brasileiros (Fábio Duarte e Clovis Ultramari).
  • 15. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 69 Gráfico 1 - Hardware e software do desenvolvimento urbano e territorial Fonte: Dados da pesquisa. Software Hardware Economia Modelo da Metrópole Modelo da Metrópolização Modelo da Intermediação Sócio-Cultural Modelo da Criatividade Urbana Sócio-Cultural Criatividade HierarquiaRedesFluxos que a região urbana é um modelo transnacional pos- -industrial e pós-moderno tal qual a cidade foi um modelo industrial e moderno. Um segundo caminho (FERRÃO et al., 2002; FAUP, 2002) foi o de tentar encontrar os indicadores que possam caracterizar territorialmente e sociologicamente a região urbana face à mera demografia administrativista caracteri- zadora das áreas metropolitanas. Um terceiro cami- nho foi o de olhar o desenvolvimento local (Portela, Gerry, Silva) e os AECT (Medeiros) e relacioná-los com a rede urbana e territorial interna e externa. O mo- delo da Metropolização possibilitou uma sobreposi- ção do modelo hierárquico com o modelo de redes, levando ao começo da saída de uma certa impotên- cia que o modelo hierárquico centro-periferia tinha criado. Vários dos textos que incorporam este mo- delo, e porventura muitas das intervenções realizadas (por exemplo geminações de cidades, inclusão em re- des, criação de regiões europeias, etc) constituem-se, em si mesmos, como uma procura, como a tentativa de perspectivar os possíveis bypass (de desvios ou ca- minhos secundários) entre o local e o global na expec- tativa de identificação e criação de novos nichos de mercado... e novas formas de vida. O própio PNPOT, Programa Nacional de Planeamento e Ordenamento do Território, é devedor desta nova perspectiva. O modelo da Intermediação Sócio-Cultural susten- ta-se em fluxos glocais e na sua intermediação num quadro de hierarquias e redes. Enquanto modelo de análise, desenvolveu-se desde o fim da década de 90, ainda que as políticas públicas, especificamente de patrimonialização (os centros históricos de Angra do Heroísmo e de Évora tornaram-se ‘património mun- dial’ nos anos 80 e a candidatura do centro histórico do Porto inicia-se em 1993), parecem ter neste caso ante- cidido o próprio modelo de análise. Este modelo tem um primeiro momento com o conceito de ‘destradi- cionalização’ (FORTUNA, 1997a) e, num segundo mo- mento, centra-se na ‘formatação cultural’ (FERREIRA; 2002a, b) urbanística, seja arquitectónica, seja dis- cursiva. As intervenções nos centros históricos reve- lam basicamente a objectificação da cultura pela arquitectura, ainda que sustentada por estratégias discursivas coconstrutoras da destradicionalização. Já as grandes intervenções do fim dos anos 90 e início da década de 2000 (Expo’98 e Porto Capital da Cultura, especificamente a Casa da Música) são exemplos de políticas que evidenciam este modelo mas, especifica- mente, em função de um urbanismo por formatação. cidade metrópole e primacial e uma urbanização difusa, é o reflexo científico da afirmação de senso comum dita tantas vezes de forma crítica: “Portugal é Lisboa, o resto é paisagem”. Neste modelo, a rela- ção do sistema urbano português com a globalização passa por três momentos: um pós-colonial, um que remete para o sistema mundo e um último que reme- te para redes. Os textos de Matias Ferreira (do fim dos anos 80, dez anos depois da descolonização) e textos ainda da década de 90 sobre Lisboa têm uma referência iminentemente pós-colonial. Lisboa é ana- lisada no seu importante papel, havendo mesmo uma ‘monumentalização’ da capital, privilegiando-se aná- lises histórico-demográficas, como que justificando a sua importância e primacialidade presente, e tal não deixa de se poder analisar como uma forma de fazer o luto do Império. Quanto à referência ao siste- ma mundo e à lógica centro-periferia, ela surge com o texto de António Gama em 1993, enquanto que o de João Ferrão, de 1997, nos remete já para a com- plexificação de tal lógica ao propor a relação entre a hierarquia funcional e as redes. Quanto ao modelo da Metropolização, a relação entre urbanismo e globalização seguiu aqui, basica- mente, três caminhos. Um primeiro caminho (SEIXAS, 1999) identifica a metropolização (rede de cidades em rede com uma nova infraestrutura, novos tipos de re- lações sociais e novas ideologias) como a nova forma urbana característica da globalização, significando tal
  • 16. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. SEIXAS, P. C.70 Figura 3 - Sistema articulado de formações de desenvolvimento espacial Fonte: Dados da pesquisa. Intermediação Sócio-Cultural Metropolização Metrópole Criatividade urbana particular, as grandes infraestruturas, porventura, reflectem-se mais num sistema centro-periferia. No entanto, outras infraestruturas (transportes/tele- comunicações) constituiem o próprio sistema de redes que vai alterando a relação centro-periferia. Já o capital social desenvolveu-se mesmo em fun- ção da sobreposição de lógicas de centro-periferia e redes. No entanto, o capital simbólico gerido em tais processos implica fluxos apropriados e (re)dis- tribuídos segundo lógicas próprias que alteram as relações territoriais e sociais prévias. Qualquer fo- tografia teritorial é, assim, tão só a consciência pos- sível de um movimento. Tendo em conta o que foi dito, as políticas pú- blicas devem articular um sistema coerente de for- mações de desenvolvimento espacial. Ou seja, todos os sistemas urbanos devem-se constituir em função de uma coerente relação entre criatividade, metro- polização e intermediação sócio-cultural (Figura 3). Esta é uma forma de articular uma sociedade civil criativa (hubs e clusters de criatividade) numa ma- lha urbanístico-espacial alargada e relacionada com centros de intermediação sócio-cultural que possi- bilitem a articulação a níveis hierárquicos mais ele- vados. No caso português, o sistema parece incluir um único sistema urbano, a Área Metropolitana de Lisboa, com os quatro níveis discutidos neste texto (Metrópole, Intermediação Sócio-Cultural, Metropo- lização e Criatividade Urbana), constituindo este sis- Finalmente,quantoaomodelodaCriatividade,de certo modo a Criatividade está para a Intermediação Sócio-Cultural como as redes na Metropolização se propunham como alternativa face à hierarquia no modelo da Metrópole. A identificação de uma de- terminada ‘ecologia criativa’ fortemente articulada e uma cultura de mudança pode possibilitar a escala necessária para possibilitar uma oporunidade mo- bilizadora capaz de desencadear processos de in- termediação sócio-cultural local-global. As políticas públicas, desencadeadas basicamente em âmbito municipal (Porto, Óbidos, Braga, Paredes), eviden- ciam o diagnóstico e implementação de tais proces- sos. Sendo um processo serendipitista, contingen- cial e que é função de hubs (emergências criativas) e das suas ecologias, a governância de tais processos é, sem dúvida, um dos aspectos fundamentais e a construção do modelo tem seguido tal preocupação (SEIXAS; COSTA, 2009). Uma visão global dos quatro modelos enuncia- dos ao longo deste texto é apresentada no Quadro 1. No entanto tal quadro, elaborado de forma a pos- sibilitar uma síntese científica com intuítos peda- gógicos, não deve ser entendido de forma simplista segundo uma lógica gradual em que cada modelo substitui o anterior, quer como perspectiva analí- tica, quer como modelo de intervenção. De facto, o que antes parece poder dizer-se é que os quatro modelos coexistem e sobrepõem-se, sendo que os dois modelos mais recentes vieram complexificar e tornar mais possibilistas as relações locais-globais. Por exemplo, a potenciação do modelo da rede pode levar a que esta adquira uma escala que, para além dos nichos de mercado, ponha mesmo em causa a hierarquia do modelo centro-periferia. Um outro exemplo, talvez mais dificil para já de visualizar, é que a cultura ao projectar-se na economia, e cons- tituir uma economia das imaterialidades regional e global, pode implicar mudanças na própria cultura da economia, ou seja na infraestrutura material e económica e no mundo capitalista segundo o qual regulamos a nossa existência. De qualquer forma, os quatro modelos apresen- tados coexistem e criam formações de desenvolvi- mento espacial e urbanístico complexas. É provavel que se possam identificar campos e, porventura, graus de desenvolvimento destes (económico, so- cial, simbólico) que se adequam mais a um tipo de modelo do que a outro. O capital económico e, em
  • 17. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 71 Figura 4 - Relação entre os diversos circuitos de capital Fonte: Dados da pesquisa. Quadro 3 - Síntese dos modelos analíticos e de desenvolvimento territorial em Portugal Modelo da Metrópole Modelo da Metropolização Modelo da Intermediação Sócio-Cultural Modelo da Criatividade Urbana Concepção antropológica Homo económico Capital económico Homo politico Capital social Homo comunicante Capital social e capital simbólico Homo criativo Capital de oportunidade Principais variáveis Demográficas e económicas Administrativo-sócio-politicas Sócio-culturais Criatividade Circuitos de Capital Primário - secundário Secundário - terciário Terciário - quaternário Terciário - quaternário Sector da economia Secundário/terciário Terciário Terciário - quaternário Quaternário como activador Estrutura Hierárquica Centro-periferia Redes Parcerias/contractualização Fluxos Parcerias/contractualização Redes e fluxos Processo de mudança Por mudança histórica/Lento - dependente de revoluções Por parcerias; criação-inserção nas redes/conjuntural - politicamente dependente Por movimentos globais - politicamente dependente Por saltos - dependente de uma cultura de mudança Âmbito Cidade/urbano Metropolitano/região urbana/ região transfronteiriça Programático/Plano Arquitectónico ou Urbanístico Contingencial multi-escala Principais conceitos Metrópole; cidade primacial; urbanismo difuso; polarização limite Metropolização; cidade difusa; região urbana; redes; desenvolvimento local Destradicionalização; urbanismo por formatação; reconfiguração discursiva; zonas de intermediação sócio-cultural; redesenvolvimento urbano Criatividade urbana; lugares de criatividade; espaços e processos de criatividade (Continua) Circuito quaternário Sistema de necessidades Produção do sistema de necessidades: novos conceitos e desejos Produzir services e bens de forma regular Produzir uma mão de obra e uma acréscimo da procura Produzir - readaptar espaços Circuito terciário Formação de especialistas Circuito primário Industrial Circuito secundário Imobiliário tema urbano o centro orbital dos demais ainda que, sempre, com alguma competição-cooperação com o segundo sistema urbano, o da Área Metropolitana do Porto. Tal implica, no que diz respeito a políticas públicas, tendencialmente, que a cooperação seja maior do que a competição, pelo menos a alguns ní- veis – governância do sistema como um todo e cir- cuito terciário e quaternário –, de forma a que a ar- ticulação Lisboa-Porto possa ser uma mais-valia na competição em ordens hierárquicas superiores (eu- ropeia e mundial). Ou seja, o sistema orbital que ca- racteriza uma articulação que se pretende coerente entre as diversas formações espaciais que incluem, em desenhos específicos, os quatro modelos aborda- dos, funciona em função da relação entre os diversos circuitos de capital: o circuito primário, industrial, o circuito secundário, imobiliário (caracterizados por Marx e Lefebvre), o circuito terciário, de formação (caracterizado por Harvey) e o circuito quaternário ou a produção do sistema de necessidades (caracte- rizado por Braudillard) (Figura 4). Assim, as políti- cas públicas devem articular o mais possível tais cir- cuitos, tendo em conta que a governância do sistema requer atenção específica ao sistema terciário e ao sistema quaternário e à sua forte interdependência.
  • 18. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. SEIXAS, P. C.72 Quadro 3 - Síntese dos modelos analíticos e de desenvolvimento territorial em Portugal Modelo da Metrópole Modelo da Metropolização Modelo da Intermediação Sócio-Cultural Modelo da Criatividade Urbana Interacções Locais-Globais Restritas e dependentes Múltiplas mas selectivas Múltiplas mas selectivas serendipitistas Factores de benchmarking Vantagens comparativas na escala e relação capital-trabalho Potenciação em escala de recursos da região como rede. Identificação de nichos glocais Potenciação em escala de recursos culturais (Património). Identificação de nichos glocais Projecção glocal de capabilities. invenções culturais, científicas, tecnológicas ou/e artísticas Caracterização do território e geometrias Cidade central Eixos Região cognitiva Malhas Arquitectura/urbanismo de autor; arquitectura/urbanismo de referência Pontos/áreas Ecologias criativas Pontos/áreas Actores Institucionais (Estado) e empresas multinacionais Parcerias publico-privadas Parcerias publico-privadas; profissionais das terceiras culturas; criativos Classe criativa; criativos; cidadãos associados Fonte: Dados da pesquisa. (Conclusão) DIRECÇÃO-GERAL DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E DESENVOLVIMENTO URBANO – DGOTDU. Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território. Relatório e Plano de Acção (PNPOT). Lisboa: DGOTDU, 2007. DUARTE, F.; ULTRAMARI, C. Inflexões urbanas. Curitiba: Champagat, 2009. EUROPEAN COMMISSION. The economy of culture in Europe. Cidade: European Commission, 2006. EUROPEAN COMMISSION. España - Portugal: Cross- border co-operation programme. 2007. Disponível em: <http://ec.europa.eu/regional_policy/atlas2007/spain/ crossborder/es02_en.htm>. Acesso em: 10 set. 2010. FACULDADE DE ARQUITECTURA DA UNIVERSIDADE DO PORTO – FAUP. Cidade difusa do noroeste peninsular. Porto: [s.n.], 2002. v. 2. Trabalho não publicado. FERRÃO, J. Rede urbana, instrumento de equidade, coe- são e desenvolvimento? Conselho Económico e Social. In: COLÓQUIO ‘A POLÍTICA DAS CIDADES’, 1., 1997, Lisboa. Anais... Lisboa: Conselho Económico e Social, 1997. p. 21-58. FERRÃO, J. Relações entre mundo rural e mundo urbano. evolução histórica, situação actual e pistas para o futuro. Sociologia, Problemas e Práticas, n. 33, p. 45-54, 2000. FERRÃO, J. Intervir na cidade: complexidade, visão e rumo. In: PORTAS, N.; DOMINGUES, Á.; CABRAL, J. Políticas urba- nas: tendências, estratégias e oportunidades. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007. p. 218-225. Referências ANDRADE, P. Cidadania cultural e literacia artística: laze- res e saberes em museus e cibermuseus da cidade criativa. Revista de Comunicação, n. 14, p. 51-62, 2008. BAPTISTA, L. V. Dominação demográfica no contexto do século xx português: Lisboa, a capital. Sociologia Proble- mas e Práticas, Braga, n. 15, p. 53-77, 1994. BAPTISTA, L. V. Território e cultura saloia: a construção de (uma) identidade local. OBS, Lisboa, n. 6, p. 11-16, 1999. BRITO, R. S. Painel Áreas Metropolitanas: funções e organi- zação. In: COLÓQUIO ‘A POLÍTICA DAS CIDADES’, 1., 1997, Lisboa. Anais... Lisboa: Conselho Económico e Social, 1997. p. 191-230. COSTA, P.; SEIXAS, J.; OLIVEIRA, A. R. Das cidades criati- vas à criatividade urbana? Espaço, criatividade e gover- nança na cidade contemporânea. In: CONGRESSO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL DE CABO VERDE, 1., 2009, Cabo Verde. Comunicação... Cabo Verde: Congresso de De- senvolvimento Regional de Cabo Verde, 2009. CREATIVE CLUSTERS IN LOW DENSITY URBAN AREAS. From creative industries to the creative place. Dis- ponível em: <http://urbact.eu/en/projects/innovation- creativity/creative-clusters/homepage/>. Acesso em: 20 mar. 2011. DEPARTMENT FOR CULTURE, MEDIA AND SPORT (DCMS). Creative Industries Task Force Document 1998 - 2001. United Kingdom: DCMS, 1998.
  • 19. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 73 FORTUNA, C. A internacionalização da Sociologia. Notas sobre a globalização e a disciplina sociológica. Oficina do CES, n. 274, 2007. Disponível em: <http://www.ces. uc.pt/publicacoes/oficina/274/274.pdf>. Acesso em: 15 set. 2010. FORTUNA, C.; PEIXOTO, P. A recriação e reprodução de re- presentações no processo de transformação das paisagens urbanas de algumas cidades portuguesas. In: FORTUNA, C.; SILVA. A. S. (Org.). Projecto e circunstância. Culturas urbanas em Portugal. Porto: Afrontamento, 2002. cap. 1, p. 17-63. FORTUNA, C.; SILVA, A. S. A cidade do lado da cultura: espacialidades sociais e modalidades de intermediação cultural. In: SANTOS, B. S. (Org.). Globalização. Fatali- dade ou Utopia? Porto: Afrontamento, 2001. cap. 11, p. 409-462. GAMA, A. Espaço e sociedade numa situação de crescimento urbano difuso. In: SANTOS, B. de S. (Org.). Portugal: um retrato singular. Porto: Afrontamento, 1993. p. 440-473. GASPAR, J. Portugal: os próximos 20 anos, ocupação e or- ganização do espaço - retrospectiva e Tendências. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987. GATO, M. A. B. Viver no parque das nações: espaços, con- sumos e identidades. 2009. 339 f. Tese (Doutoramento em Antropologia Cultural e Social) – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2009. GOMES, M. Norte, Galiza e Castela e Leão criam “macro- região”. Jornal Público, Lisboa, ano 21, n. 7499, p. 28, 18 set. 2010. GERRY, C. O impacto da globalização no meio rural. Três conceitos chave. In: COLÓQUIO DE SOCIOLOGIA DAS ORGA- NIZAÇÕES/II COLÓQUIO DE SOCIOLOGIA SOBRE PORTUGAL: PRÉ/PÓS MODERNO E GLOBALIZAÇÃO, 6., 1999, Braga. Anais... Braga: Universidade do Minho, 1999. HEELAS, P. Introduction: detraditionalization and its ri- vals. In: HEELAS, P.; LASH, S.; MORRIS, P. (Ed.). Detradi- tionalization: critical reflections on authority and identity at a time of uncertainty. Oxford: Blackwell, 1996. p. 1-20. HEELAS, P.; LASH, S.; MORRIS, P. (Ed.). Detraditionaliza- tion: critical reflections on authority and identity at a time of uncertainty. Oxford: Blackwell, 1996. HENRIQUES, J. (Org.). Internacional situacionista: An- tologia. Lisboa: Antígona, 1997. FERRÃO, J.; MARQUES, T. S. Sistema Urbano Nacional: síntese. Lisboa: Direcção-Geral do Ordenamento do terri- tório e Desenvolvimento Urbano, 2003. FERRÃO, J.; RODRIGUES, D.; VALA, F. As regiões metro- politanas portuguesas no contexto ibérico. Lisboa: DGOTDU; ICS, 2002. FERREIRA, C. Processos culturais e políticos de formata- ção de um mega-evento: do movimento das exposições internacionais à Expo’98 de Lisboa. In: FORTUNA, C.; SILVA, A. S. (Org.). Projecto e circunstância. Culturas ur- banas em Portugal. Porto: Afrontamento, 2002a. cap. 6, p. 255-313. FERREIRA, C. Intermediação cultural e grandes eventos. notas para um programa de investigação sobre a difusão das culturas urbanas. Oficina do CES, n. 167, 2002b. FERREIRA, C. Intermediários culturais e cidade. In: FORTUNA, C.; LEITE, R. P. (Org.). Plural de cidade: novos léxicos ur- banos. Coimbra: Almedina; CES, 2009. FERREIRA, V. M. A cidade de Lisboa: de capital do Im- pério a centro da Metrópole. 1986. 512 f. Dissertação (Dou- torado em Sociologia) – Universidade Técnica de Lisboa, 1986a. FERREIRA, V. M. O processo de metropolização de Lisboa. Estruturação territorial e ordenamento urbano. Sociolo- gia, Problemas e Práticas, Lisboa, n. 1, p. 23-54, 1986b. Disponível em: <http://repositorio.iscte.pt/handle/10071/ 948>. Acesso em: 15 set. 2010. FERREIRA, V. M. Problematização e pedagogia do territó- rio. Quatro percursos para uma problematização do ter- ritório. Sociologia, Problemas e Práticas, Lisboa, n. 212, p. 109-121, 1992. FERREIRA, V. M. A Expo’98 e a Metróple de Lisboa. Socio- logia, Problemas e Práticas, n. 24, p. 189-195, 1997. FORTUNA, C. Destradicionalização e imagem da cidade. In: FORTUNA, C. (Org.). Cidade, cultura e globalização. Oeiras: Celta, 1997a. p. 231-257. FORTUNA, C. Introdução. In: FORTUNA, C. (Org.). Cidade, cultura e globalização. Oeiras: Celta, 1997b. p. 1-28. FORTUNA, C. Centros Históricos e Patrimónios Culturais Urbanos. Uma avaliação e duas propostas para Coimbra. Oficina do CES, n. 254, 2006. Disponível em: <http://www. ces.uc.pt/publicacoes/oficina/254/254.pdf>. Acesso em: 15 set. 2010.
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  • 21. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), v. 3, n. 1, p. 55-75, jan./jun. 2011. Urbanismo, cultura e globalização em Portugal 75 UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CUL- TURAL ORGANIZATION (UNESCO). Convention for the Safeguarding of the Intangible Cultural Heritage. Paris, UNESCO, 2003. VALENTE, S. Áreas metropolitanas: vivências, mobili- dades e qualidade de vida. ISCTE, Relatório final. 2004. Disponível em: <http://observa.iscte.pt/docs/relatorio% 20AM.pdf>. Acesso em: 15 set. 2010. Recebido: 19/10/2010 Received: 10/19/2010 Aprovado: 08/04/2011 Approved: 04/08/2011 SILVA, Á. F. A evolução da rede urbana portuguesa (1801- 1940). Análise Social, v. 32, n. 143/144, p. 779-814, 1997. SILVA, M. C. Globalização hegemónica e globalização con- trahegemónica. notas para um debate. In: VIEGAS, J. L.; DIAS, E. C. (Org.). Cidadania, integração, globalização. Oeiras: Celta, 2000. SILVANO, F. Cartografar um passado para uma identidade metropolitana. Atlas da Área Metropolitana de Lisboa, 2003. Disponível em: <http://www.aml.pt/webstatic/ actividades/smig/atlas/_docs/atlas_11.pdf>. Acesso em: 15 set. 2010. UNIÃO EUROPEIA – UE. Regulamento (CE) n. 1082/2006, de 5 de Julho de 2006. Relativo ao agrupamentos euro- peus de cooperação territorial (AECT). Jornal Oficial da União Européia, Estrasburgo, p. 19-24, 31 julho 2006. UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVEL- OPMENT (UNCTAD). Creative Economy - UNCTAD Report. Switzerland: UNCTAD, 2008.