No século V a.C., com o estabelecimento da democracia em Atenas, surgiu a necessidade de preparar os cidadãos para a vida política através da retórica. Os sofistas ensinavam técnicas de argumentação e persuasão para influenciar as assembleias, embora privilegiassem a forma sobre o conteúdo. Posteriormente, Sócrates e Platão rejeitaram o relativismo sofista, buscando a verdade através da filosofia e do uso responsável da linguagem.
1. 3. ARGUMENTAÇÃO E FILOSOFIA
3.1. Filosofia, retórica e democracia
Agrupamento de Escolas Aurélia de Sousa
Ano letivo 2015-16
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2.
3. Meados do Século V. a.C.
Atenas começa a instituir a ordem democrática, abrindo a vida política à participação
dos cidadãos.
A investigação racional sobre a physis (a natureza) é secundarizada pela preocupação
de preparar os jovens para a vida pública.
O ensino tradicional torna-se insuficiente. Assiste-se à necessidade de uma formação
específica para a conquista do poder, uma formação que conferisse capacidade de
discursar nas assembleias de cidadãos, para persuadir e convencer o auditório.
Passagem de uma reflexão mais cosmocêntrica para uma mais antropocêntrica
4. Contexto histórico-cultural (analisar texto 1 da fot.)
“Pelo meado do século V [a.C.], a situação de Atenas modificou-se profundamente. Vitoriosa
na guerra contra a Pérsia, na qual estivera à cabeça da independência helénica, Atenas alcançou
a hegemonia no campo político, económico e intelectual. Designa-se comummente este
período de «Século de Péricles», singularizando-o o facto do génio helénico ter atingido por
então o ponto mais alto da sua actividade criadora, de influência decisiva não só na cultura
ulterior, como na cultura europeia, pois, como pensava Werner Jaegar, é neste século V a.C.
que «tem a sua origem a ideia ocidental de cultura». O plano educativo tradicional tornou-se
insuficiente, tanto mais que o regime da democracia direta, por então o regime político
ateniense, assente na intervenção direta dos cidadãos e na competição das ideias e das correntes
de interesses, deu ensejo ao espírito iluminista, isto é, ao convencimento de que as «luzes» da
razão podem esclarecer e guiar os diversos aspetos da vida social.”
Joaquim de Carvalho, História das Instituições e Pensamento Político, F. C. Gulbenkian
5. Os Sofistas:
Professores itinerantes que se dedicavam ao ensino dos
jovens cidadãos mediante uma remuneração. Assim:
Dominavam a arte de persuadir pela palavra;
Eram dotados de habilidades linguísticas e de estilo eloquente;
Surpreendiam pela sua vasta erudição;
Centravam o ensino mais na forma do que no conteúdo;
Ensinavam a técnica do discurso, visando a arte de fazer
triunfar um determinado discurso.
6. “Os sofistas foram os primeiros a reconhecerem o
valor formativo do saber e elaboraram o conceito de
cultura (Paideia) que não é a soma de noções, nem
tão pouco apenas o processo da sua aquisição, mas
formação do homem no seu ser concreto, como
membro de um povo ou de um ambiente social. Os
sofistas foram mestres da cultura.”
ABBAGNANO, História da Filosofia, vol. I, p. 98
7. Paideia ao longo dos tempos
Inicialmente Paideia (de Paidos – criança) significava “criação de menino”;
Mais tarde significa a própria cultura construída a partir da educação,
construíndo o homem como homem e como cidadão;
Platão define-a como: “a essência de toda a verdadeira educação ou paideia é
a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o
ensina a mandar e a obdecer, tendo a justiça como fundamento”;
Consagrada como ideal educativo da Grécia Clássica: passando a ser o
resultado do processo que se prolonga por toda a vida.
8. Principais Sofistas :
Protágoras (490-420 a.C.)
“O homem é a medida de todas as
coisas”.
Górgias (480-380 a.C.)
“Nada existe; Se algo existe, esse
algo era impossível conhecer; e
ainda que a sua existência fosse
possível, o seu conhecimento
tornava-se incomunicável”.
Relativismo da verdade
9. “O próprio nome de «sofistas», que significa «sábio», desviado do seu sentido original, tornou-se
sinónimo de possuidor de um falso saber, não procurando senão enganar, e fazendo, para isso, um
considerável uso do paralogismo. Aristóteles, seguindo o veredicto do seu mestre Platão, chamará
sofista «ao que tem da sabedoria a aparência, não a realidade», e o «sofisma» será sinónimo de
falso raciocínio. Não só o próprio nome de «sofista» foi desacreditado, mas ainda demasiadas
vezes se expuseram teses mestras dos Sofistas apenas de acordo com a refutação operada pelo
platonismo; deste modo, a imagem da sofística apareceu-nos através de uma distorção, em que os
Sofistas figuram como os eternos vencidos de antemão, que, se existem, é por terem errado. Os
Sofistas possuem (...) personalidade e doutrinas muito diferentes. Quais são, portanto, os traços
comuns que lhes proporcionam uma denominação semelhante? Talvez um determinado número de
temas, como o interesse prestado a problemas sobre a linguagem, à problemática das relações entre
natureza e lei, por exemplo.”
Gilbert Romeyer-Dherbey, Os Sofistas, Edições 70
(analisar texto 2 da fot. + texto 3, p. 113)
10. Rutura com o relativismo sofista
Sócrates, Platão e seus discípulos
Não podiam aceitar o relativismo da
verdade, a valorização da retórica em
detrimento da sabedoria
Isto aliado ao facto de os sofistas se
fazerem pagar pelos seus
ensinamentos
Para os sofistas, o discurso só pode ser eficaz,
convincente – a retórica a dominar pelo poder da
palavra (algo com o qual Sócrates e Platão não
concordam)
Uma boa
argumentação,
uma retórica
digna: é aquela
que serve o
filósofo na busca
da verdade.
11. A partir de Sócrates e Platão, o termo sofista é associado ao falso saber.
Todavia, convém realçar o indubitável contributo positivo dos sofistas
(entre os quais Protágoras e Górgias) para o desenvolvimento do ensino em
geral e do pensamento filosófico em particular:
Promoveram a viragem, na história da filosofia, dos temas ligados à
Natureza (aos quais se dedicaram os filósofos pré-socráticos) para o tema
do Homem (antropologia) e com eles levantaram-se as primeiras
questões da filosofia da linguagem;
Contribuíram para a fundação da Paideia, fonte da formação e cultura
ocidentais;
Inauguraram o estatuto social e profissional do saber: ensinavam, de terra
em terra, diversas matérias (da gramática às matemáticas), cobrando
honorários, motivo pelo qual foram fortemente criticados;
Impulsionaram o ensino da retórica, nomeadamente, da areté política: ela
constitui a base da preparação dos jovens cidadãos para a vida pública e
política. Os sofistas ensinam a argumentar, a discursar, a persuadir e
convencer, por forma a que os jovens possam cumprir as exigências da
cidadania e enveredar pela carreira política.
12. ESQUEMA SÍNTESE
Objetivos práticos (praxis);
Preparar os jovens para a vida
política;
Privilégio da forma sobre o
conteúdo;
Captar a atenção do auditório
sobrepunha-se à transmissão de um
saber;
Desenvolveu o que se chama de
retórica (arma de conquista de poder
na cidade, feita pela linguagem);
Fez da retórica uma técnica para
melhor alcançar a finalidade única
de convencer;
Visava a manipulação;
Privilegia a opinião (doxa).
Objetivos de investigação
(contemplação);
Meio para procurar a verdade e o
aperfeiçoamento do Homem;
Centrado no conteúdo do discurso;
Utilização da linguagem como
instrumento fundamental mas não
como finalidade;
Defendia um uso da linguagem
descomprometido com os interesses
mundanos, promovendo a procura
da verdade, saber e conhecimento
do Bem;
Desenvolveu a dialética;
Visava o esclarecimento e a
compreensão (exercício da razão);
Privilegia o cohecimento verdadeiro
(episteme) e a sabedoria (sophya).
Sofista
Filósofo (principalmente, Sócrates e
Platão)
13. Relação entre os conceitos: filosofia, retórica e
democracia
Filosofia
DemocraciaRetórica