Campanhas querem tirar o estigma de que doente fica incapacitado. Companhias discutem apoio a funcionários com câncer. Projeto de lei em tramitação na Câmara quer estabilidade de um ano para funcionários afastados pela doença.
Companhias discutem apoio a funcionários com câncer
1. Campanhas querem tirar o estigma de que doente fica incapacitado
Companhias discutem apoio
a funcionrios com cncer
Vvian Soares
Em junho do ano passado, o
analista de processos Alexandre
Malfatti foi demitido de uma em-
presa de tecnologia de grande
porte. Cinco anos aps o seu pri-
meiro diagnstico de cncer de
pele, e um ano aps ter encon-
trado um novo foco da doena,
desta vez no pulmo, o profis-
sional comeou a ter problemas
com os horrios em que fazia os
tratamentos, que prejudicavam
o seu turno de trabalho.
No primeiro diagnstico,
usei minhas frias para fazer a
cirurgia e quase no faltei por-
que fiz imunoterapia, que tinha
poucos efeitos colaterais, conta
Malfatti, que no chegou a tirar
licena mdica. Ao receber a no-
tcia da recidiva da doena, po-
rm, ele precisou adaptar seu
ritmo de trabalho ao do trata-
mento. Tive um apoio muito
grande da chefia e dos colegas,
mas o dono da empresa se inco-
modou com os atrasos. Alguns
meses depois, fui demitido. Ho-
je, ele continua a trabalhar co-
mo autnomo enquanto faz a
imunoterapia. Tenho um dia a
dia normal, afirma.
Casos como o de Malfatti no
so incomuns, segundo Tiago
Farina Matos, diretor jurdico do
Instituto Oncoguia, ONG que
trabalha com qualidade de vida
do paciente de cncer. Segundo
ele, as demisses de funcion-
rios diagnosticados com a
doena so frequentemente
causadas pela falta de informa-
o de empregadores, que tm
receio de que o profissional fal-
te muito ou no tenha condi-
es de trabalhar. H muitos
casos de pessoas que se afastam
e, quando retornam, so demi-
tidos porque foram substitu-
dos ou porque so vistos como
inaptos para o trabalho, diz.
Em junho deste ano, um pro-
jeto de lei que concede garantia
de emprego de um ano a pacien-
tes que foram afastados por cn-
cer foi aprovado pelo Senado e
encaminhado Cmara dos De-
putados. O PLS 14, de 2017, ain-
da est em tramitao e, se apro-
vado, traz esperanas para pro-
fissionais que hoje se sentem
condenados pelo mercado de
trabalho, mesmo antes de con-
seguirem comprovar que se re-
cuperaram. A estabilidade faz
sentido ao trazer oportunidades
para que o paciente supere o es-
tigma de incapacitado, e, ao
mesmo tempo, a empresa possa
encarar seu funcionrio como
um profissional, no como pes-
soa doente, afirma Matos.
A mudana regulatria, se-
gundo ele, tambm um incen-
tivo para que as empresas reve-
jam suas culturas corporativas.
O mesmo aconteceu com as
pessoas com deficincia, que ho-
je tm uma legislao especfica
e so alvo de polticas de contra-
tao, afirma. Alm disso, ele
alerta para o aumento da inci-
dncia de doenas crnicas, co-
mo o cncer, em populaes ati-
vas e cada vez mais longevas o
que torna mais desafiador ex-
clu-las do mercado de trabalho.
Segundo o mdico oncologis-
ta do Hospital Israelita Albert
Einstein, Rafael Kaliks, o trata-
mento do cncer permite que a
grande maioria dos pacientes
continue a trabalhar, mesmo fa-
zendo sesses de quimioterapia
ou radioterapia. O ritmo e a in-
tensidade podem no ser os
mesmos, e a pessoa vai precisar
de algum descanso durante o
dia, diz. Mas as tarefas cotidia-
nas, desde que no sejam muito
extenuantes fisicamente, podem
ser feitas normalmente e costu-
mam trazer efeitos positivos na
reabilitao. O tratamento efi-
caz no envolve s a cirurgia ou
a droga, mas um conjunto de
fatores profissionais, sociais e
familiares, afirma.
A diretora adjunta de TI da
HDI Seguros, Ana Paula Soares,
contou com uma rede de apoio
aps um diagnstico de cncer
de mama em 2014. A doena foi
descoberta de forma abrupta
aps uma trombose cerebral e 15
dias na UTI, exames investigaram
a causa e encontraram o tumor.
Depois que sa do hospital, tive
que tomar medicao pesada e
fazer reabilitao para recupe-
rar movimentos, conta. Duran-
te a recuperao, ela recebia visi-
tas constantes do chefe no hos-
pital e contou com um esquema
Notícias do Dia | Bristol-Myers Squibb - 28.08.2017 1
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dFonte: Valor Econômico | Data: 28.08.2017 | Jornalista: Vívian Soares | Página: B2
Companhias discutem apoio a funcionários com câncer
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2. especial de trabalho quando
manifestou a vontade de retor-
nar atividade profissional.
Eu quis voltar porque o tra-
balho era um grande motivador
para a minha mente. Mas tive
que fazer um horrio flexvel,
de no mximo seis horas por
dia, diz. Ela afirma que conta
com a solidariedade de sua
equipe, que hoje tem aproxi-
madamente cem pessoas, e que
evita que o tratamento, ainda
em curso, prejudique o seu dia
a dia. Vou ao hospital aos fins
de semana, ou depois do traba-
lho. Como lder, tambm quero
mostrar aos funcionrios que
estou motivada, que a vida se-
gue e que estou bem, afirma.
De acordo com Eloir Simm,
presidente da Associao Brasi-
leira de Qualidade de Vida
(ABQV), o envolvimento da lide-
rana nesses casos essencial pa-
ra que a organizao promova
uma cultura de incluso, que vai
muito alm da diversidade racial
e de gnero. preciso integrar
tambm as pessoas com doenas
crnicas como o cncer, diz.
Oferecer horrios flexveis e di-
minuir temporariamente as res-
ponsabilidades do cargo, por
exemplo, ajuda a pessoa a se sen-
tir produtiva durante o trata-
mento e previne um afastamento
das atividades, que muitas vezes
no desejado pelo paciente.
Na construo de uma cultura
de promoo da sade, Simm
afirma que preciso combater
algumas crenas a de que a as-
sistncia a um funcionrio
doente um custo para a em-
presa e a de que o cncer uma
condenao morte. Apoiar
funcionrios nesse momento
crtico gera dois efeitos impor-
tantes: a criao de vnculos pro-
fundos dessa pessoa com a em-
presa aps o tratamento e o re-
foro de urna cultura corporati-
va tica, que preserva a dignida-
de humana, afirma.
Ao lidar com casos sensveis
como o do cncer, Simm reco-
menda a comunicao simples e
clara. As reas de recursos hu-
manos e sade ocupacional po-
dem intervir como mediadores,
mas importante que a lideran-
a esteja diretamente envolvi-
da, diz. O dilogo aberto com
funcionrios tambm faz com
que eles fiquem mais informa-
dos sobre os efeitos da doena e
que busquem preveni-la.
Na Nexxera, empresa de tec-
nologia com sede em Florian-
polis, a preveno assunto de
campanhas nos meses de outu-
bro e novembro, quando os fun-
cionrios so convidados para se
informar sobre cncer de mama
e de prstata, respectivamente.
Mdicos, nutricionistas e outros
especialistas atuam em parceria
com a rea de marketing para
esclarecer dvidas sobre o tema.
J tivemos funcionrios com a
doena, e os casos normalmente
ficam em sigilo por pedido da
pessoa. Mas no ano passado, um
deles se identificou em uma das
apresentaes dizendo que esta-
va em tratamento e reforou
ainda mais a mensagem de pre-
veno e de combate do estigma
da doena, afirma Sarah Silva,
diretora de marketing.
O cncer assusta, mas tem um
alto ndice de sobrevivncia em
muitos casos um estudo do
perfil dos paciente da doena
realizado pela farmacutica BMS
no Brasil mostra que o cncer de
mama e o de prstata, os dois
tipos mais comuns, tm uma
chance de sobrevida acima de
85% (mama) e 96% (prstata). A
pesquisa mostra tambm que,
apesar de ter incidncia maior
sobre pessoas acima de 75
anos, uma porcentagem signi-
ficativa dos pacientes tem entre
15 e 69 anos. Em 2015, mais de
360 mil pessoas nessa faixa et-
ria foram acometidas pela
doena e estima-se que um em
cada quatro homens e uma em
cada cinco mulheres vo en-
frentar alguma de suas varieda-
des antes dos 75 anos de idade.
Conhecer o cncer de perto,
afirma Kaliks, do Hospital Israe-
lita Albert Einstein, gera um
efeito humanizador, que vai
alm da desconstruo de mitos.
Ele conta que alguns de seus pa-
cientes, donos de empresas, de-
cidiram mudar o convnio de
sade dos funcionrios para ofe-
recer uma cobertura melhor
aps passar pelo tratamento. Na
outra ponta da escala do poder,
Kaliks tambm j teve pacientes
demitidos em pleno processo te-
raputico
e afirma que as con-
sequncias so catastrficas.
A pessoa que lida com o diag-
nstico j est em situao de fra-
gilidade, e a demisso agrava do
ponto de vista psicolgico e fi-
nanceiro, uma vez que muitas
perdem o plano de sade, diz.
H, tambm, casos de pacientes
que escondem um histrico de
cncer para o futuro empregador
por medo de serem preteridos
em um processo de seleo.
O receio dos profissionais
justificado. Os programas cor-
porativos de apoio ao paciente
com cncer ainda so assunto
tabu no Brasil e se concentram
em situaes pontuais, nego-
ciadas caso a caso. Durante se-
manas, o Valor tentou falar
com empresas de todos os por-
tes e perfis sobre suas polticas
de apoio ou de preveno
doena, mas mesmo compa-
nhias conhecidas por seus pro-
gramas de qualidade de vida se
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3. disseram temerosas em abor-
dar um tema to sensvel.
O avano da discusso no pas
ainda tmido, afirmam os espe-
cialistas. Infelizmente, no Brasil
preciso que uma legislao en-
tre em vigor para regular esse as-
pecto, porque falta bom senso e
uma verdadeira cultura de qua-
lidade de vida no trabalho, afir-
ma Eloir Simm, da ABQV.
Projeto de lei em
tramitao na Cmara
quer estabilidade de um
ano para funcionrios
afastados pela doena
A demisso agrava a
situao da pessoa, do
ponto de vista psicolgico
e financeiro, diz o mdico
oncologista Rafael Kaliks
Ana Paula Soares, diretora da HDI Seguros, teve apoio da empresa durante a doena
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