1. O documento descreve a situação de jovens portugueses recém-formados que enfrentam incertezas sobre seu futuro profissional e financeiro.
2. Ele conta a história de Mafalda Ferreira Santos, uma estudante de 24 anos que está completando sua licenciatura e está estagiando na Assembleia da República, apesar de ter medo das dificuldades que pode enfrentar.
3. Mafalda acredita que é necessário investir mais na educação ao longo da vida e no empreendedorismo, mas que o gover
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Têm 19, 24, 26 anos, a idade não
importa. Reféns de um ciclo lento,
esperam na incerteza do amanhã.
Estudam, trabalham, sonham num
caminho feito de etapas que se faz
caminhando. Assim vivem ou
Por: Andreia Montez
sobrevivem os jovens dos nossos
dias. Estudantes Universitários,
recém - licenciados, sonham e
aguardam pela estabilidade de
uma vida guardada no seu
interior.
REPORTAGEM
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Mafalda Ferreira Santos 24 anos
“ […] tenho receio do que me
espera…não nego…contudo,
também sei que existem
mecanismos que ajudam os
jovens licenciados […] que é um
pequeno alento para um cenário
nada agradável.
Sei que parece uma perspectiva
muito pessimista, mas prefiro
chamar de realismo…assim posso
estar sempre alerta para todas as
dificuldades o que pode
aumentar a minha probabilidade
de sucesso porque estou a criar
anti-corpos para essas
adversidades.”
palavra é “receio”. Perante um
mundo em permanente
mudança. Mafalda Ferreira Santos
encontra – se no processo de conclusão
da sua licenciatura em Politica Social.
Estágio
O inicio do sonho parece despoletar.
Sempre ansiou por um estágio na
Assembleia da República, “a minha
faculdade, o Instituto Superior de Ciências
Sociais e Políticas da Universidade Técnica
de Lisboa, no que diz respeito à escolha
dos estágios dá-nos bastante autonomia, o
que origina uma luta intensa para
conseguirmos um estágio numa entidade
que queiramos…por vezes não é possível,
contudo e felizmente no meu caso foi
possível.” Actualmente, Mafalda
Ferreira Santos está a frequentar um
estágio curricular na Assembleia da
República no âmbito da XIª Comissão –
Trabalho, Segurança Social e Administração
Pública. O brilho no olhar é incontornável e
confessa com um sorriso nos lábios
“sempre fui uma pessoa fascinada pela
política e acredito (talvez utopicamente)
que deve ser uma forma primária de
intervenção social […] ”. É crucial a carga
representativa que um estágio possui na
vida de um estagiário, afinal desempenha
um momento de aprendizagem e
enriquecimento.
Pró – actividade
Com espírito pró – activo, esta jovem
estagiária sabe que o primeiro passo para o
sucesso é saber exactamente o que se quer
e canalizar esforços e energias nesse
sentido. “Acredito que cada vez mais se
exige mais e mais dos jovens e quem não
tiver uma postura pró-activa terá sérios
problemas de futuro, de âmbito
profissional e claro que isso terá
consequências nefastas em todos os
parâmetros das nossas vidas”.
A
Mafalda Ferreira Santos com o Primeiro-Ministro, José Sócrates, 25
de Abril de 2010, Escola Prática de Cavalaria - Santarém
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“ […] Na minha perspectiva, o
segredo está na crescente aposta
na Educação ao longo da vida e
se possível complementar uma
formação de base com outras
áreas. […] Por outro lado,
enquanto indivíduos instruídos
acredito que existe uma maior
tendência para o
empreendedorismo e da criação
do próprio emprego, mas aí o
Estado tem de criar mecanismos
de maior apoio aos
empreendedores. Não é
suficiente a atribuição de crédito
e de micro crédito
.”
Receio
Consciente das dificuldades inerentes ao
mundo actual, Mafalda assume “tenho
receio do que me espera…não
nego…contudo, também sei que existem
mecanismos que ajudam os jovens
licenciados como por exemplo o Programa
de Estágios Profissionais, o Inov Jovem e
outros programas de estágios profissionais
como o Inov Social e Inov Export…digamos
que é um pequeno alento para um cenário
nada agradável.
Sei que parece uma perspectiva muito
pessimista, mas prefiro chamar de
realismo…assim posso estar sempre alerta
para todas as dificuldades o que pode
aumentar a minha probabilidade de
sucesso porque estou a criar anti-corpos
para essas adversidades.”.
Alterações do Mercado de Trabalho
Nos últimos 20 anos, tem – se verificado
acentuadas mudanças nos mercados de
trabalho europeus, mudanças essas que
resultam de transformações estruturais nas
quais as sociedades estão inseridas, a que
alguns autores chamam de transição para
um pós-industrialismo, para a Sociedade de
Informação ou para uma Sociedade do
Conhecimento. Tudo isto, levou à
emergência de novos serviços
nomeadamente as tecnologias de
informação, o que veio exigir mão-de-obra
muito qualificada. Mediante tal facto,
Mafalda não se coíbe de afirmar “no
Ocidente a Educação tornou-se num factor
de competitividade e o Modelo Social
Europeu, numa visão de cidadania e de
promoção de igualdade de oportunidades
reforça ainda mais essa competitividade
que constringe o “mundo globalizado”.
Existe claramente uma necessidade de
manter o Modelo Social Europeu para
promover a inclusão social.”
Implementação da flexigurança em
Portugal
Imbuída no seu espírito crítico, esta jovem
de 24 anos, natural de Santarém, acredita
que Portugal à imagem de países do norte
da Europa como é o caso da Dinamarca,
poderá vir a implementar modelos de
flexigurança, “acredito que estamos a
caminhar nesse sentido, nomeadamente,
quando nos deparamos com programas de
formação a indivíduos que vivam em
situação de desemprego e também nos
esforçamos, embora com alguma
dificuldade, em garantir uma protecção
social aceitável, para isso temos como
exemplo o Subsidio de Desemprego, do
Subsidio Social de Desemprego e até o
Rendimento Social de Inserção, embora o
último seja mais susceptível de diferentes
opiniões…mas acredito que é possível que
a médio prazo possamos adaptar com
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“ […] acredito que tenho de dar
muito mais de mim para alcançar
os meus objectivos mas também
sei que o cenário é preocupante e
realmente podem ser
consideradas outras
possibilidades fora de Portugal.”
alguma eficácia o modelo dinamarquês a
Portugal.”. Mafalda é peremptória quando
afirma que a seu ver “o segredo está na
crescente aposta na Educação ao longo da
vida e se possível complementar uma
formação de base com outras áreas.”
Empreendadorismo
Vivemos numa sociedade onde impera
uma “cultura de medo/receio” na criação
de próprio emprego. Este cenário faz
Mafalda olhar de solaio o horizonte e
afirmar,“[…]enquanto indivíduos instruídos
acredito que existe uma maior tendência
para o empreendedorismo e da criação do
próprio emprego, mas aí o Estado tem de
criar mecanismos de maior apoio aos
empreendedores. Não é suficiente a
atribuição de crédito e de micro crédito
para a criação de micro e pequenas
empresas porque esse investimento inicial
não garante a sustentabilidade dessas
empresas…é necessário um maior apoio
inicial numa perspectiva logística e até
gestionária e também criarem-se
estruturas do ponto de vista da protecção
social aos empresários, porque
actualmente em Portugal não têm
qualquer tipo de protecção social em caso
de dissolução da empresa.”
Expectativas futuras
No querer, na força e no empenho que
deposita em todos os seus objectivos,
Mafalda segue os seus princípios de
integridade e luta por um futuro capaz de
lhe proporcionar um nível de vida
satisfatório mediante os seus índices
individuais. Na realidade, o amanhã é uma
incógnita que permanece na obscuridade
no aparentemente vazio. “acredito que
tenho de dar muito mais de mim para
alcançar os meus objectivos mas também
sei que o cenário é preocupante e
realmente podem ser consideradas outras
possibilidades fora de Portugal.”. A paixão
pela política fervilha em si, mas mostra – se
reticente perante uma possível
oportunidade futura de emprego no
exterior, “[…]a ideia de sair de Portugal por
tempo indeterminado, não me agrada, e
acredito que se o tiver de fazer será porque
não conseguirei de todo garantir a minha
sustentabilidade no meu país.”. Com um
espírito nacionalista e de orgulho pela
Pátria, Mafalda Ferreira Santos afirma,
ainda, “terei de dar o meu melhor para
oferecer o meu contributo ao país e no
limite, somente no limite tentar
reorganizar a minha vida num outro país.
Penso que devemos ainda acreditar em
Portugal.”.
Mafalda, é o espelho de tantos jovens que
se empenham, acreditam e não perdem a
motivação, lutando incomensuravelmente
por um país e consequentemente por um
mundo melhor. Estes são jovens guerreiros
que vivem no impasse de um futuro
[des]emprego.
Por: Andreia Montez