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O NÍVEL MAÇÔNICO: UMA MISSÃO DE
NIVELAÇÃO OU DE UNIÃO?
John Deyme de Villedieu
PortoVelho-Rondônia-Brasil-AnoI-N.º0-EdiçãodoVerãode2013
EdiçãoInauguraldaPrimeiraRevistadeEstudosMaçônicosdaGrandeLojaMaçônicadoEstadodeRondônia
A MAÇONARIA EM EVOLUÇÃO
Cláudio Santini
ASPECTOS SIMBÓLICOS DO
TRABALHO EM CANTARIA
Roger Avis
AS ORIGENS DO RITO YORK
Hugo Borges e Sérgio Cavalcante
ORIGEM E FONTES DO
RITUAL SCHRÖDER
Hans Heinrich Solf
À G.·. D.·. G.·. A.·. D.·. U.·.
PODER EXECUTIVO DA GLOMARON
Grão-Mestre:
Juscelino Moraes do Amaral
Grão-Mestre Adjunto:
Antônio Alves Pereira
DELEGADOSDOGRÃO-MESTRADOPORJURISDIÇÃO
Delegado da 1ª Região:
Mário Leme da Rocha Junior
Delegado da 2ª Região:
Nilton Edgard Mattos Morena
Delegado da 3ª Região:
Edson Vinicius Alves
Delegado da 4ª Região:
João Carlos Veris
Delegado da 5ª Região:
Edson Aleotti
Delegado da 6ª Região:
Jaime Clemente Oberdoerfer
Delegado da 7ª Região:
Lourival Da Lamarta
Delegado da 8ª Região:
Pedro José Bertelli
Delegado da 9ª Região:
João Carlos Volpato
Delegado da 10ª Região:
Afonso Soares de Albuquerque
GRANDES SECRETARIAS EXECUTIVAS
Relações Interiores:
Deivison Russi
Relações Exteriores:
Edson Ramos
Finanças:
Claudio Aparecido Pinto
Coordenação e Planejamento:
Wladmir José Carranza
Publicação e Divulgação:
Luiz Carlos Araújo dos Santos
Relações Publicas:
Noilson Neviton de Souza
Bibliotecário:
Carlos Alberto da R. Nogueira
Historiador:
Gilberto Carlos Cantarelli
Informática:
Jairo Tschurtschenthaler Costa
Relações Para-Maçônicas:
Antônio Porphirio P. dos Santos
Administração e Patrimônio:
Itamar José Ferreira
Ritualística:
Aldino Brasil de Souza
ÍNDICE
PALAVRA DO GRÃO-MESTRE 3
EDITORIAL4
O NÍVEL MAÇÔNICO: UMA MISSÃO DE
NIVELAÇÃO OU DE UNIÃO? 5
A vertical, garante da horizontalidade  5
O estabelecimento da horizontal 7
O aplainamento como matrimônio unificador 10
Maçonaria Operativa e Maçonaria Especulativa 13
ASPECTOS SIMBÓLICOS DO TRABALHO EM
CANTARIA13
As ferramentas do Canteiro 14
Relações analógicas entre a cantaria e o trabalho interno 15
Aspectos práticos de como trabalhar literalmente à pedra
bruta 17
Conclusão: Iniciações nos mistérios menores e maiores19
ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRÖDER 21
AS ORIGENS DO RITO YORK41
A Grande Loja de Londres 41
Os primeiros maçons da américa do Norte 43
Saint John’s Lodge - a primeira Loja das Américas 44
Os maçons Ingleses e Americanos na Independência dos
Estados Unidos 46
O Rito York no Brasil 50
Os membros Fundadores 51
As Lojas Posteriores à Washington Lodge 53
A MAÇONARIA EM EVOLUÇÃO 55
Bibliografia 60
E-Mail para contato: lapideias@gmail.com
Salientamos que as matérias aqui publicadas foram
examinadas e não encontramos qualquer sinal de cópia
não referida ou plágio. Caso haja alguma reclamação
sobre este motivo, favor entrar em contato com o Editor
desta revista, através do e-mail acima mencionado,
inserindo material probatório, que nos comprometemos
a fazer a retificação possível. Cabe lembrar que esta
revista é de distribuição gratuita, e que não se aufere
nenhum lucro com sua distribuição, e que não temos
intuito de inserir propagandas comerciais objetivando
com isto conseguir numerário para sua edição. Todos
os que nela trabalharam o fizeram gratuitamente, sem
o intuito de constituir, com isso, alguma renda. Caso
se interesse em colaborar com a revista, através de
matérias -dentro da proposta acima apresentada, ou de
perguntas, entre em contato conosco para examinarmos
o material proposto.
O Editor
Grande Loja se manifesta sobre o 7 de
setembro: Independência do Brasil
13/09/2013
Mais de 200 maçons e jovens das ordens
“Demolay” e “Filhas de Jó” participaram na noite
do último sábado, do desfile de 7 de setembro,
em Porto Velho. Os maçons desfilaram com
seus paramentos utilizados nas sessões, e
levaram para o desfile um pouco da história
da participação da Maçonaria no processo que
culminou com a independência do Brasil.
O desfile dos maçons no dia 7 de setembro
faz parte da proposta da Grande Loja Maçônica
do Estado de Rondônia de aproximar a Maçonaria
das comunidades e também serve para mostrar
que a instituição tem uma participação importante
na construção de uma sociedade mais justa e
mais humana.
A Maçonaria esteve presente nos
grandes acontecimentos da história brasileira,
especialmente naqueles que buscavam garantir
ao povo brasileiro a liberdade inexistente no
período colonial. Desde então, inúmeros projetos
sociaisvêmsendodesenvolvidospelaMaçonaria,
sempre contribuindo com o desenvolvimento
humano e a melhoria da sociedade.
A independência do Brasil tem um
significado especial para nós, maçons, pois
a Maçonaria teve participação decisiva no
movimento, quando propôs, em uma sessão,
que se conferisse ao Príncipe D. Pedro I, o título
de “Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil”.
D. Pedro aceitou o título, propondo apenas a
supressão do termo “Protetor”.
Os maçons, habilmente, arquitetaram o
desenrolar do 7 de setembro de 1822, lançando
a idéia da convocação de uma Constituinte, cujo
projeto foi redigido por Gonçalves Ledo e José
Bonifácio, o patriarca da Independência.
Na tarde de 7 de setembro de 1822,
às margens do Ipiranga, D. Pedro atendeu
às recomendações através do Manifesto de
Gonçalves Ledo, e o grito, “Independência ou
Morte”, foi a denominação de uma das “palavras”
da sociedade secreta.
No desfile de 7 de setembro, em Porto
Velho, os maçons, bem como os jovens
Demolays e Filhas de Jó, são saudados pelas
autoridades e aplaudidos pela população que
reconhece a história de nossa instituição e luta
pela construção de uma Sociedade mais justa
e perfeita com a trilogia Liberdade, Igualdade e
Fraternidade entre os povos e nações.
JUSCELINO AMARAL
GRÃO- MESTRE DA GLOMARON
PALAVRA DO GRÃO-MESTRE
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 4
EDITORIAL
Já se disse que João Batista vivia pregando no deserto... no deserto do coração dos homens.
Nós, tendo João Batista como nosso exemplo, mentor da Maçonaria Simbólica, devemos nos per-
guntar o quanto de deserto carregamos em nossos corações.
A partir deste momento é racional que se faça uma pergunta para que nós todos meditemos
sinceramente: quem afinal é isento de uma missão espiritual? Estabeleçamos, desde já que a reli-
gião não monopoliza a espiritualidade, que há aspectos espirituais não religiosos, não mistificado-
res, não ocultistas ou fantasiosos, que a maçonaria faz por bem estudar e praticar, ainda que os
indique através de outros nomes, como caridade, ou amor fraternal, não importa.
No entanto, na atualidade, quase infértil de oásis a fertilizarem as areias deste mundo, perce-
bemos muitas vezes que os sonhos e ideais dos homens são castigados pelos ventos do materialis-
mo, e o cotidiano vai martelando implacável, até levar grande parte da humanidade, inclusive muitos
filhos da viúva, à mais completa afasia.
No entanto, há o conhecimento... eis a chave! A chave que abre o cofre onde está guardado um
novo universo, cujo aroma rescende à primeira terra molhada pela chuva que lembramos da infân-
cia. E tal qual descascar uma cebola, ou se guiar por um fio através de um labirinto aparentemente
inextricável, pouco a pouco podemos retornar ao núcleo e despertarmos para o que somos e o que
devemos fazer. Eis o conhecimento.
O amor... eis a ferramenta! Qual Irmão se sente isento de uma missão espiritual? Qual maçom
estaria isento, após receber a Luz, de trabalhar para um mundo melhor? Será que não temos com-
promissos com o nosso próximo e podemos deixá-lo sem nosso zelo constante, pois sabemos que
outros se encarregarão dele e de seu bem?
Esta Revista não foi criada para aqueles que buscam se encher das coisas mundanas, achan-
do-as suficientes para sua existência. Esta pequena revista existe para aqueles que têm sede de
conhecimento. Foi construída sobre o alicerce do estudo; e se sua débil aparência material possa
impressionar desfavoravelmente aos olhos de alguns, ainda assim ela foi construída sobre o caráter
daqueles que também consideraram uma missão expressar uma mensagem de conhecimento para
estas paragens e –por que não dizer?- para humanidade.
Você, que nos lê, é também o artífice desta obra. E caso ainda não tenha colaborado direta-
mente, ou indiretamente -o que poderá acontecer num futuro próximo- ainda assim, só o fato dessa
mensagem chegar a um emissor, você, isso o torna o maior colaborador que temos!
Portanto, queremos que você, leitor, saiba que esta revista existe tal qual uma Loja, onde reno-
vamos nosso compromisso com um mundo melhor, a começar de nosso mundo interior, bastião de
qualquer outra mudança que queiramos proceder.
Esta revista foi criada para este raro tipo de homem, que está em extinção na atualidade, mas
que ainda encontramos em nossos trabalhos: O homem que tem um ideal! Que não se conforma
com a existência mesquinha, onde números, cifrões e preocupações são o mais importante, mas
que busca uma solução, através do estudo de si mesmo, para galgar os degraus da do autoconhe-
cimento, que costumamos chamar “escada de Jacó”.
Boa leitura, e muito grato!
O Editor
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 5
A vertical, garante da horizontalidade
O
Nível, na Franco-Maçonaria, parece-nos
sobretudo conhecido como o instaurador
da horizontal e, por isso, como o símbolo
complementar da Perpendicular, ou Prumo, que,
do mesmo modo, determina a vertical. Pode
[ser] que isto explique o que as significações
que com freqüência se evocam, até hoje em
dia, a propósito do Nível, sejam uma lembrança
daquilo que o século XVIII em seus últimos anos
via, com uma predileção sincera ou oportunista,
na horizontalidade.
Desta maneira, segundo um “catecismo”
dado por um ilustre Maçom antes da guerra,
o Nível “tende a nivelar as desigualdades
arbitrárias” (1). E o Simbolismo é em nossos dias
unanimemente desconhecido (2), até o ponto em
que outro autor, em seu Dicionário, consagra ao
Nível uma linha e meia para nos dizer que esta
ferramenta “simboliza a igualdade”. É curta, e,
sobretudo, em razão de certos hábitos mentais
de nossa época, um pouco equivocada.
O nivelamento tem tanto êxito depois de vá-
rios séculos, que fez perder de vista, em sua fú-
ria por achatar tudo, [inclusive] a própria origem
da palavra, quando esta origem, como se verá,
revela muito bem a significação e, além da le-
tra, o espírito. Mas não só a linguagem esclarece
coisas. O próprio instrumento, que serviu de mo-
delo ao símbolo (3), parece-nos igualmente mui-
to revelador caso se preste atenção à maneira
como está constituído. Efetivamente, ele se com-
põe de um esquadro cujos braços estão unidos
por uma barra transversal, e de um prumo que
desce do ápice de tal esquadro: é no momen-
to em que o prumo se situa defronte à “linha de
fé”, marcada na barra, que o Nível certifica a ho-
rizontalidade que tem como missão assegurar.
Desta maneira, se esta ferramenta permite obter
a horizontal, ela facilita, além disso -e acima de
tudo, a vertical, parecendo assim mais comple-
ta que o Prumo, como por outra parte numero-
sos autores o têm feito observar. Mas, então, o
que poderia surpreender é que, até admitindo
O NÍVEL
MAÇÔNICO: UMA
MISSÃO DE NIVELAÇÃO OU DE UNIÃO?
JOHN DEYME DE VILLEDIEU
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 6
esta superioridade, considera-se que a vanta-
gem dada ao Nível, com relação ao Prumo (4),
é devida tão somente ao fato de que estabelece
a horizontalidade, enquanto que o Prumo dá a
vertical. Perguntamo-nos qual pôde ser o motivo
que faz com que se atribua esta preeminência
a uma mais que a outra destas direções, o que
vai contra à ordem hierárquica habitualmente re-
conhecida? Deve-se a esta ânsia “democrática”
de nivelar indiferenciadamente tudo, segundo o
método confusionista, antes da subversão total?
Entretanto, os mesmos dicionários “profa-
nos”, que são pouco suspeitos de preocupações
esotéricas, deixam entrever a verdadeira signi-
ficação do Nível e, portanto, o mistério de sua
função.
Sem dúvida, num certo sentido, que parece
predominante para muitos hoje em dia, nivelar é
igualar; trata-se de por tudo no mesmo plano; é
fazer tábula rasa do excepcional; em suma, nive-
lar por baixo. Em qualquer caso, isto é o que se
faz com os trabalhos de nivelamento das terras
com toda a brutalidade ininteligente e antiestéti-
ca da técnica moderna, e não é surpreendente
que nossos contemporâneos, muito mais pene-
trados de materialismo do que geralmente se
imaginam, retenham do nivelamento, sobretudo,
o ato aplanador de algo.
Na realidade, nivelar não só é aplainar, mas
também, como diz o [dicionário] Robert, “medir
as alturas comparativas dos diferentes pontos de
um terreno com relação a um plano horizontal
dado”. Não se pode atuar sobre as coisas pas-
sando sobre elas ou as esmagando, mas sim
observando o mundo ao redor, assinalando as
linhas características e o relevo. Também, no
sentido de aplainar, é unificar, quer dizer unir,
embora o dicionário reconheça que este último
termo, no sentido de aplainar, tornou-se estra-
nho [N.T. - o autor se refere ao sentido encontra-
do na língua francesa]. Unir é realizar a unidade,
com o qual fica manifesto tudo aquilo que separa
esta significação de terreno aplanador do qual
partimos (5).
Quando se trata do Nível, as definições es-
tão de acordo em reconhecer que seu papel con-
siste em verificar a horizontalidade de um plano;
e é para isto que serve na prática da maçonaria.
Mas, caso se deseje aprofundar na significação
simbólica, é conveniente entrar em certos deta-
lhes cuja evidência é inegável sem dúvida, em-
bora os espíritos distraídos e enfastiados de nos-
sa época tenham perdido o costume de tomá-los
em consideração.
Na realidade o Nível tão somente permite
estabelecer se dois pontos de uma superfície
se encontram à mesma altura, ou se não se en-
contram; e o importante é que isto se faz graças
a seu prumo que, como dizíamos mais acima,
coincide ou não, sobre sua barra transversal,
com a marca chamada “linha de fé”. Quer dizer
que a verificação da horizontalidade se opera
obrigatoriamente [em relação] à vertical.
Há aqui um ponto que quereríamos estabe-
lecer e que não recordamos havê-lo visto assi-
nalado com a insistência necessária, apesar de
ampliar e elevar singularmente as significações
da “ferramenta” que estamos estudando. O Ní-
vel, efetivamente, em seu domínio próprio, é o
equivalente da Balança, como o indicam noto-
riamente seus nomes latinos respectivos libella
(6) e libra, onde o primeiro não é mais que o di-
minutivo do segundo. Por outra parte, a palavra
“nível” (7) provém da raiz libr-, que comporta a
ideia de pesagem, com o que a “ferramenta” ma-
çônica, em sua significação simbólica, tem proxi-
midade com a Balança.
O que é interessante, no que se refere ao
Nível maçônico e à Balança tradicional, é que no
caso de se tratar de estabelecer a horizontal, é
[somente] com a ajuda da vertical que poderá fa-
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 7
zê-lo, o que assinala com nitidez a preeminência
desta vertical. Deste modo, é no mínimo curio-
so constatar que é o inverso o que ocorre nas
balanças modernas, porque neste último caso
o rigor da pesagem depende -acima de tudo-
da exata horizontalidade do plano sobre o qual
estão colocados estes aparelhos, como se, até
“aleatoriamente”, a produção de nossa moder-
na civilização estivesse destinada à subversão.
Pelo contrário, a preeminência da vertical sobre
a horizontal ainda era respeitada nas antigas ba-
lanças, como a que se encontra pendurada na
parede da Melancolia de Dürer. Efetivamente, a
horizontalidade do braço se verificava pela ver-
ticalidade da agulha que se encontra fixada em
ângulo reto e que, para ser vertical, devia tomar
a mesma direção que o suporte onde repousava
o braço, ele próprio suspenso em um ponto fixo
e que, como o prumo do Nível, é o garante da
verticalidade e, consequentemente, de uma justa
horizontalidade.
Melancolia - Dürer
Estando bem estabelecida a preeminên-
cia da vertical quanto a sua necessidade para [a
existência] de uma justa “pesagem” da horizon-
tal, é interessante recordar que, tradicionalmen-
te, esta vertical é o símbolo da Vontade do Céu.
Esta, para o entendimento humano, pode to-
mar o aspecto de uma força descendente e que
“pesa” sobre o destino humano, mas também -e
ao mesmo tempo, o aspecto de uma força as-
cendente por sua atração; estas forças, que se
exercem simultaneamente, representariam bas-
tante bem a Justiça rigorosa e a Misericórdia da
Árvore Sefirótica, respectivamente. A Vontade
de que se trata é por outra parte conforme a “Ati-
vidade do Céu”, que parece descender, como a
Graça, mas que na realidade incita à elevação
(8).
Conviria agora estudar o que do ponto de
vista simbólico significa a verificação e, de fato,
a instituição efetiva (9) da horizontal pela graça
da vertical (10). Resulta, efetivamente, que o ver-
dadeiro papel do Nível, na arte maçônica, não se
limita a constatar uma diferença de altura entre
dois pontos, mas sim consiste em reduzi-la, até
fazê-la desaparecer.
O estabelecimento da horizontal
Partindo do fato já estabelecido de que a
finalidade do Nível não é nem uniformizar nem
achatar, mas sim aplainar, unificar, e, portanto,
de unir, existe um meio para tentar compreender
no que consiste verdadeiramente a instituição da
horizontalidade. Para isso é suficiente ater-se às
significações da pesagem levada a termo pela
Balança, vocábulo de que vimos em latim sua
equivalência etimológica com o Nível.
No comércio, para realizar uma pesagem,
antigamente ficava em um prato da balança cer-
to peso estabelecido pelo pedido do cliente, e no
outro prato fragmentos da mercadoria desejada
até que esta “fazia o peso”. O ideal que a mer-
cadoria escolhida devia alcançar era, em conse-
qüência, da ordem quantitativa. No entanto, isso
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 8
Os antigos arquitetos e artesãos egípcios usaram o nível triangular e prumo nível para
garantir que todas as superfícies de construção eram niveladas e perfeitamente aprumadas. Do
túmulo de Sennedjem veio um conjunto dessas ferramentas, incluindo uma haste com a me-
dida do côvado real, um nível de triângulo, dois prumos de chumbo, dois esquadros, e várias
outras peças. Sennedjem pode ter usado esses instrumentos para a construção e decoração
dos túmulos de Seti I e Ramsés II no Vale dos Reis, bem como do próprio lugar onde ocorreu
seu esplêndido enterro.
Este nível de triângulo é construído de dois pedaços diagonais de madeira unidas em
ângulo reto, com um pedaço horizontal entre os dois. O prumo na forma de um coração é
suspenso por um fio a partir do topo do ângulo recto, quando o nível está colocado sobre uma
superfície plana, a corda do prumo iria ficar exatamente no meio das marcas de incisão no
centro da peça horizontal. Se a superfície não fosse devidamente nivelada, o prumo, então,
indicaria as correções necessárias. A inscrição, que gira em torno do triângulo pede ao deus
Ptah e Re-Horakhty-Atum-Hemiunu para o enterro e benefícios em vida após a morte para o
ba de Sennedjem. (O Museu Egípcio, no Cairo)
go Egito, e a prova está na arte da Idade Média
cristã, onde algumas iluminuras [imagens ilu-
minadas] testemunham que a Europa, naquele
tempo, conhecia o simbolismo da psicostasia.
Observamos então que a Balança, consi-
derada em seu sentido material ou em seu sen-
tido espiritual, tem por função medir a adequa-
ção de uma coisa a seu modelo, caso se trate
da adequação de certa quantidade de farinha ao
peso exigido, ou da adequação de uma alma à
exigência da Justiça equilibrante.
Compreendendo agora o que é exatamen-
te, do ponto de vista simbólico, a pesagem da
Balança, não é difícil deduzir a significação que
tem, com o Nível, ou “pequena Balança” (libella),
a instituição da horizontalidade. Não se trata de
elevar os operários ao nível social dos patrões,
delírio utópico ou hipócrita demagogia. Não é
tampouco questão de rebaixar os patrões ao
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 9
nível dos operários, pura especulação de ódio
social. O fim do Nível é promover um aplaina-
mento suscetível de resolver as dificuldades, que
elas provenham de uma superfície desigual, de
uma incompreensão nas relações sociais abrup-
tas, ou, no plano espiritual, de uma opacidade
rugosa que oculta ao homem suas sumidades
luminosas. Aplainar, dissemo-lo anteriormente, é
unir, mas é esta uma significação que se tentou
suprimir das memórias humanas. Preferiram re-
ter as ideias de acordo com um ideal de simpli-
ficação e facilidade, ideias que seduzem muito
especialmente o mundo moderno, porque elas
são a negação de toda vida (12).
Dado que o Nível é uma das ferramentas-
símbolos utilizadas em uma das raras Organiza-
ções iniciáticas que ainda existem no Ocidente,
é sobretudo em sua acepção espiritual que aqui
nos interessa. Como proceder então ao “aplaina-
mento”, à unificação, à união da qual antes falá-
vamos? A única maneira de unir irreversivelmen-
te os homens entre si é pô-los em situação de
intuir e posteriormente descobrir neles mesmos
aquilo que os tornam verdadeiramente “iguais” e
cuja aparência social e de caráter é tão somente
o reflexo mais ou menos fiel, se não a caricatura
mais ou menos enganosa. Queremos falar deste
elemento que Mestre Eckhart chamava “incriado
e incriável”, e que, em cada homem, é o único
elemento que o torna não só “igual”, mas tam-
bém realmente idêntico a seu “próximo”. Uma
das utopias mais perigosas e daninhas do mun-
do moderno é querer “igualar” tudo, reunir tudo,
unir tudo do exterior, mas negando a única coisa
que, no centro de cada homem, faz possível esta
união (13). O único e verdadeiro “ecumenismo” é
tão velho como o mundo e não é outra coisa que
o resultado do conhecimento esotérico que per-
mite perceber, sob a variação dos diversos “cli-
mas” religiosos, a unidade essencial que trans-
cende as expressões particulares para fundi-las
na mesma Identidade.
Se a união entre os homens passa pelo re-
conhecimento prévio daquilo que é o único que
pode uni-los, é evidente que o primeiro passo
consiste em reconhecer no mais profundo de al-
guém aquilo que o converte em verdadeiramen-
te idêntico a todos os outros, sem distinção de
sexo, raça ou religião. Uma vez reconhecido este
elemento, e tendo em conta que se trata de algo
eminentemente senhorial, todas as inumeráveis
aspirações individuais produtoras de caos têm
que se subordinar a tudo que ele suscita de as-
piração central. Isto quer dizer que corresponde
a cada um realizar em primeiro lugar a unidade
em si mesmo.
Assinalemos aqui algo que poderia passar
por uma simples coincidência, mas que nós con-
sideramos como uma confirmação do que esta-
mos dizendo. Trata-se de uma semelhança con-
sonantal parcial que, por intermédio da raiz LB,
opera uma aproximação entre o latim libra, que
designa a balança, e o hebraico leb, que designa
o coração, o único “lugar” que, por sua posição
central, permite ao homem realizar o equilíbrio
harmonioso do qual falamos. A raiz hebraica de
que se trata evoca por outra parte a audácia e
qualquer atividade produtora interior. Quer dizer
que ela expressa com bastante exatidão a orien-
tação da consciência e das aspirações humanas
para seu centro espiritual (14).
Esta aproximação lingüística, curiosa pelo
menos, parece-nos digna de certa atenção, pois
deixando à parte qualquer questão de etimolo-
gia, sempre permanece o fato de que tanto a Ba-
lança quanto o Nível se mostram perfeitamente
capazes de velar pela transmutação espiritual de
que estamos falando, podendo aparecer por isso
como os instrumentos de uma conversão unifi-
cadora da qual só pode sugerir-se sua profundi-
dade.
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 10
O aplainamento como matrimônio uni-
ficador
Contribuiremos agora algumas conside-
rações complementares sobre o sentido desta
“síntese” equilibrante a se realizar pelo homem
e, em primeiro lugar, conviria não se deixar en-
ganar pelas significações que os hábitos men-
tais do Ocidente moderno acabaram por impor
a determinadas palavras. Por isso, é necessário
guardar na memória o princípio da pesagem es-
piritual que o antigo Egito, por exemplo, deixou-
nos como modelo. Entre o coração humano em
um lado da Balança e, no outro, a Verdade e a
Lei divina, não existe, entenda-se bem, nenhum
ponto de comparação salvo o que possa haver
entre a Luz e um de seus brilhos. Não se tra-
ta de fazer uma boa mescla de suas aspirações
individuais e de sua aspiração central. A união
de que estamos falando aqui não é um coque-
tel. Trata-se do matrimônio do indivíduo com o
Si universal, e, em tal matrimônio, o indivíduo se
funde no Si, até o ponto em que suas aspirações
não tenham mais nada de individual nem de múl-
tiplo, mas apenas se reduzam a sua aspiração
essencial, que não é outra que o reflexo do Que-
rer divino.
Assinalemos que no matrimônio do Si tudo
está, por fim, aplainado, tudo está perfeitamente
unido, liso e sem rugas. Entretanto, na relação
de adequação do símbolo àquilo que ele simbo-
liza, alguns poderiam opor uma objeção. Se o
Nível permite elevar as coisas à mesma altura,
o que está em concordância com o matrimônio
de que estamos falando, também serve para ni-
velar, e é aqui onde se pôde deslizar o sentido
forçado (15) que com tanta freqüência se utiliza
hoje em dia, seja de uma maneira simplesmen-
te pejorativa, ou de forma reivindicativa e mais
ou menos rancorosa. Agora, caso se rechacem
todas as utilizações desta palavra com fins po-
líticos ou sociais que, tal e como se entendem
atualmente não saberíamos no que poderia nos
interessar, é evidente que suas significações não
têm nada de pejorativo nem de rancoroso, como
Nível-Amuleto de
pedreiros egípcios
(Williams Colle-
ge Museum
of Art)
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 11
testemunhava o primeiro dicionário consultado.
Além do mais, caso se considere a utilização do
Nível para fazer descer um elemento à altura de
outro, encontramos uma aplicação imediata dis-
so no próprio processo do matrimônio simbóli-
co -mas real- considerado anteriormente. Se a
consciência individual nos aparecer em pleno
impulso para a sumidade, onde se fará possível
a união tão desejada, existe também outra ima-
gem que no âmbito espiritual se cita com bas-
tante freqüência: o homem não faz o caminho só
porque Deus vem a seu encontro (16) e, por isso,
deve necessariamente consentir em “descer” de
suas alturas. Entenda-se, estas não são senão
imagens que tentam traduzir o melhor possível,
em uma linguagem muito inadequada, a espera
divina e a esperança humana que acabarão por
reunir-se cedo ou tarde. Há aqui uma convergên-
cia onde seria difícil dizer qual é o primeiro insti-
gador se não se soubesse sempre que tudo se
submete, de bom grau ou não, à Vontade divina.
A pesagem que mais acima evocávamos é,
por outra parte, uma imagem expressiva dos mo-
vimentos de elevação e descida de que estamos
falando. Como em qualquer deliberação (17)
onde se pesam os elementos em questão, existe
uma oscilação característica da Balança. Entre-
tanto, não terei que acreditar que esta alternân-
cia de movimentos inversos sempre se resolva
finalmente por uma conclusão favorável ao que
é pesado. Quando Maat desce em seu prato, o
coração do defunto se eleva no seu, mas quando
Maat se faz muito leve, tênue, inacessível, então
o coração humano cai e sucumbe a seu peso.
Isto não nega tudo que dissemos do equilí-
brio essencial da Balança e do Nível. Certamen-
te, na economia universal, existem elementos a
depurar e outros a eliminar, mas isto jamais se
faz em um ambiente denegritório e de ódio. Só
importa a euritmia e, para nos limitar ao simbo-
lismo da pesagem, embora lhe dando uma di-
mensão universal, caso se desça em um ponto
do cosmo, eleva-se em outro ponto, de tal forma
que sempre se preserve a harmonia geral das
coisas. É o que a tradição chinesa denomina as
“ações e reações concordantes”, cujo equilíbrio
está situado no “Invariável Meio”, equilíbrio que
não é outro que o reflexo da “Atividade do Céu”
evocada anteriormente (18).
Vemos como o Nível, na ordem simbólica
e espiritual, é perfeitamente apto para cumprir a
missão que aqui lhe reconhecemos, esteja, por
outro lado, na mão do Maçom ou na do Grande
Arquiteto, o qual, do ponto de vista em que con-
sideramos as coisas, deve ser o mesmo, pois é
sempre o Grande Arquiteto o que guia a mão do
Maçom, ao menos na medida em que este reali-
za uma obra de Mestre.
É a este dever espiritual de elevação cor-
retora e de condescendência misericordiosa (19)
ao qual deveria estar consagrado o Nível maçô-
nico em sua acepção mais alta, e é assim com
toda certeza como o entendiam antigamente os
melhores de nossos construtores de catedrais.
Sempre há “templos” a “elevar”, como há “mas-
morras” a “cavar”, e aqueles que reclamam das
exigências interiores em nada cedem às prodi-
giosas construções medievais. Desta maneira,
quando se provê de seu Nível, o Maçom terá
“aplainado” em si mesmo os obstáculos que o
separam da única Realidade resplandecente,
quando se acha desembaraçado de todas suas
travas egocêntricas, quando, livre enfim, verda-
deiramente será uno com seus Irmãos e com to-
dos os homens que, como ele, caminham pelo
mundo (20).
A coisa não é fácil de realizar, pois, como
dissemos, facilidade e simplificação, embora
satisfaçam à preguiça moderna, entretanto con-
duzem para um beco sem saída. Pelo contrário,
“não é necessário esperar para empreender,
nem obter para perseverar”, e se a via espiritual
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 12
pode ser larga às vezes, não faltam flores para
balizá-la e compensar assim os rigores. Além
disso, como escrevia René Guénon, “quem esti-
vesse tentado a ceder ao desespero deve pensar
que nada do que é realizado nesta ordem pode
perder-se, que a desordem, o engano e a escu-
ridão só podem dominar na aparência e momen-
taneamente, que todos os desequilíbrios parciais
devem convergir necessariamente no grande
equilíbrio total e que nada poderá prevalecer fi-
nalmente contra o poder da verdade; sua divisa
deve ser a que adotaram antigamente certas or-
ganizações iniciáticas do Ocidente: Vincit Omnia
Veritas [a “Verdade Sempre Vencerá”]. (21)
Notas
(1) Sem dúvida, isto hoje em dia seria um pleonasmo, pois devido ao
progresso uma opinião “se” foi forjando pouco a pouco, para a qual
qualquer desigualdade é arbitrária.
(2) O desdém para com o Simbolismo é a conseqüência lógica da igno-
rância de nossa época com tudo o que tem relação com a Metafísica.
(3) E não o nível moderno, com borbulha de ar, o qual se chama “nivela”.
(4) efetivamente, na Franco-Maçonaria, é ao primeiro Vigilante a quem
se atribui o Nível, enquanto que o Prumo corresponde ao segundo Vi-
gilante.
(5) Unificar não é uniformizar, como pensa o estúpido modernista: é
justamente o contrário, pois para unificar é necessário sair do mundo
das formas.
(6) Libellus em latim popular.
(7) Derivado do francês antigo livel, e inclusive do inglês level.
(8) Tal é, por exemplo, a Graça que desce sobre aqueles que, no Islã,
seguem o “caminho reto”, bem conhecido por sua verticalidade e por
propor uma direção ascendente.
(9) Esta consideração é necessária, já que no curso de suas numero-
sas verificações o que o Nível constata é o fato de que a horizontali-
dade nunca está estabelecida, e consequentemente fica por realizar.
(10) Poderia ser que isto mesmo não esteja muito longe daquilo que
dizia João, o Batista, quando recomendava “aplainar os caminhos do
Senhor” (Mateus III, 3).
(11) Esta idéia de elevação, que é o contrário da de nivelamento, en-
contra-se no latim aequare: efetivamente, além das significações de
“aplainar”, ou de “unificar”, de “pôr ao nível de”, de “comparar”, também
comporta as de “igualar” e “obter”.
(12) Os promotores do mundo moderno não são acaso os inimigos de
toda via, de toda verdade e de toda vida? Esperam triunfar expandindo
sua desordem libertária, seu pensamento falacioso e os venenos de
suas sujas indústrias.
(13) Não se trata de uma simples utopia nascida dos cérebros mais
ingênuos, mas sim de um cálculo premeditado, retorcido e criminoso,
que parte daqueles que conduzem “este” mundo e que, nos fazendo
ver que procuram a paz, não perdem ocasião de promover todas as
fricções, ódios e mortes.
(14) A palavra árabe lubb, que designa o núcleo, o coração, a essência
de uma coisa, parece estar formado de uma raiz semítica comum com
o hebreu leb da qual estamos falando. Evoca a mesma centralidade
e a mesma espiritualidade interior: por isso se diz que o sufismo é o
“núcleo” ou o “coração” do Islã.
(15) Foi forçada “esquerdizando-a”. Mas esta simultaneidade na ação
de maneira nenhuma exclui uma sucessão lógica de dois fatos: é a
vontade do esquerdismo a que torna inevitável violar a significação.
(16) Desta maneira o Cristo se fez homem para salvar aos homens: ele
desce para que estes possam elevar-se.
(17) As duas palavras “deliberação” e “nível” derivam da mesma raiz
libr.
(18) R. Guénon aborda este assunto nos Principes du Calcul infinitési-
mal, P. 105, 108.
(19) Utilizamos o termo de condescendência no sentido, desgraçada-
mente em desuso, de uma espécie de benevolência para aqueles que
estão menos avançados no Caminho do Conhecimento. Curiosamente,
o [dicionário] Pequeno Robert, na mesma ordem de ideias, cita a “con-
descendência de um iniciado para com um profano”. E é também no
mesmo sentido de “compaixão” e de “compartilhar” como nós entende-
mos aqui a misericórdia.
(20) Se diz que o Maçom deve ser um homem “livre e de bons costu-
mes”, e vimos que sua autêntica liberação, que é uma elevação, não
poderia encontrar uma origem melhor que na utilização judiciosa do Ní-
vel. Seria então interessante operar uma aproximação lingüística entre
o termo “nível” e o de “liberdade”, que, pelo que parece, nunca se ten-
tou. O francês “niveau”, o inglês level e o francês antigo livel, que têm a
mesma significação, pertencem à mesma família lingüística que o latim
libra (= balança, peso de 12 onças) e o grego litra, com igual sentido.
Grandsaignes d’Hauterive não vai além das raízes libr- e litr- que de-
signam, segundo ele, um “objeto que serve para pesar”. Anteriormente
vimos como a pesagem exercida pela Balança e pelo Nível pode ser
tomada em relação com a liberdade da alma e também com sua Libe-
ração. Agora, as palavras francesas liberação e liberdade, o latim liber
e o grego eleutheros (= livre), Grandsaignes d’Hauterive os relaciona
com a raiz indo-europea leudh-, à qual dá por significação a “ideia de
elevar-se”. Não deixa de ser interessante observar que se a etimologia
renunciar aparentemente a relacionar entre si as ideias de nível, de
pesagem, de elevação e de liberdade, pelo contrário o simbolismo não
deixa de fazê-lo, como corresponde a sua missão unificadora.
(21) La crise du monde moderne, pág. 134 [final].
Tradução: Roger Avis
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 13
Maçonaria Operativa e Maçonaria Espe-
culativa
Na passagem da maçonaria operativa
para a maçonaria especulativa, muitos
dos detalhes da nobre arte da cantaria
foram deixados de lado em prol da adaptação
realizada. Os livres pensadores que adotaram
os ensinos maçónicos não estavam interessa-
dos na prática manual do canteiro, que era um
serviço pesado e, portanto, buscaram simplificar
no simbolismo.
Esta simplificação simbólica trouxe um re-
lativo “empobrecimento” no sentido do conheci-
mento da arte, onde diversos detalhes do traba-
lho nos canteiros, ao serem deixados de lado,
obscureceram facilitações teóricas no caminho
do auto-conhecimento.
Para se adentrar mais nestes aspectos,
e verificar sua real importância, devemos dizer
que a palavra “cantaria” vem, etimologicamen-
te, do latim “canthus”, que significa “aresta” (1).
Desta forma, o conceito de cantaria se refere ao
trabalho em pedras objetivando seu esquadreja-
mento, ou a sua formatação no sentido de servir
ao projeto construtivo. Na maçonaria especula-
tiva, simplificamos: “tornar a pedra bruta em pe-
dra cúbica”.
O que é do desconhecimento da maioria
dos maçons é o fato de que o conhecimento tra-
dicional sobre o trabalho operativo era transmi-
tido através de técnicas que sempre buscavam
um sentido efetivo de aperfeiçoamento não só
do trabalho, mas também do profissional, pois
se entendia que a perfeição daquele passava
pela perfeição deste, em todos os aspectos,
dentre eles o prático, o psíquico e o intelectual.
Quanto mais aperfeiçoado internamente, mais
Aspectos Simbólicos do Trabalho em
Cantaria
Ir. Roger Avis
Se o eterno não edificar a casa, em vão trabalham aqueles que a edificam.
Salmo 127:1
(Cântico das peregrinações de Salomão)
Aplicai-vos, pois, de todo o vosso coração e vossa alma a buscar o Senhor vosso
Deus. Construí o santuário do Senhor Deus, para trazer a arca da aliança do Senhor
e os utensílios sagrados de Deus ao templo que será edificado ao nome do Senhor.
1 Crônicas 22:19
O Eu é o mestre do eu. Cada um é o seu próprio mestre e refúgio, quem outro poderia
ser? O completo domínio de si mesmo é o único refúgio, difícil de alcançar.
Sidarta Gautama (Buda)
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 14
perfeita será a habilidade do obreiro e, conse-
quentemente, da obra.
Aqueles que estudam os textos antigos
percebem que a utilização metafórica do traba-
lho comum, analogicamente relacionado à es-
piritualidade, é algo constante nas civilizações
do passado - egípcia, caldaica ou medieval, ou
por aqueles que, nos sertões mais afastados
dos grandes centros urbanos, ainda empregam
aquelas técnicas artesanais tradicionais.
No Oriente, por exemplo, existia toda uma
explicação simbólica para a prática do ofício da
tecelagem, onde os fios paralelos, presos ao tear,
são os influxos espirituais manifestados através
das leis universais, enquanto que os fios hori-
zontais, adicionados ao serem tecidos, são as
atividades nos planos manifestados. Assim, sim-
bolicamente, nossas ações, quando levando em
conta os influxos espirituais do “Grande
Tecelão do Universo” (2), só poderão ser
realmente profícuas a partir do momento
em que com estas sejam harmônicas. A
falha de um ponto na tecelagem poderia
deitar fora todo o trabalho.
Da mesma forma, no ocidente, te-
mos exemplos de diversas profissões
-senão todas as que existiam na antigui-
dade ou idade média- que se utilizavam
desta espécie de simbolismo para ensi-
nar que, ao se trabalhar o material, tam-
bém se trabalhava em outros aspectos
do ser, e que era necessário ter atenção
para isto. A matéria-prima artesanalmen-
te trabalhada pelo obreiro era o espelho onde
ele poderia apreciar seu próprio caráter.
Outra coisa que é geralmente menospre-
zada pelos estudiosos é o fato da maçonaria
operativa ter em seu bojo aspectos filosóficos
profundos, e que a maçonaria especulativa so-
mente pôde frutificar em seus estudos porque
isto já era uma realidade à época de seu nasci-
mento. Alguns estudiosos, inclusive, desprezam
esta espécie de abordagem, entendendo que
apenas com a maçonaria especulativa é que se
obteve um aprofundamento no conhecimento,
tendo em vista o advento no seio daquela ordem
de pessoas letradas, pensamento com o qual,
respeitosamente, não nos alinhamos.
Essa espécie de perspectiva toma por base
um preconceito cultural, onde se estende o olhar
de nossa época para medir todas as épocas an-
teriores. E este preconceito, que não sabe en-
xergar seu próprio anacronismo, faz com que os
sábios de nosso tempo se limitem a uma forma
de pensar estreita, sem realmente aproveitar o
conhecimento oriundo da antiguidade. Mas, isto
já seria a matéria de um outro trabalho. Apenas
mencionamos para que o leitor possa levar em
conta, também, que se quisermos extrair a es-
sência de qualquer coisa, devemos conhecê-la
sem preconceitos, conforme é propalado pelos
mesmos ensinos maçônicos (3).
As ferramentas do Canteiro (4)
Como são desconhecidas pelos maçons
atuais muitas das ferramentas dos canteiros,
abaixo vão exemplos de algumas poucas ferra-
mentas modernas utilizadas atualmen-te no tra-
balho de cantaria artesanal, fabricadas pela em-
presa americana Trow  Holden Company (5):
Como se pode perceber, existe uma infini-
dade de ferramentas utilizadas no trabalho do
canteiro além daquelas mencionadas na maço-
naria especulativa. É óbvio que os processos de
formatação da pedra bruta atravessavam uma
série muito maior de detalhes, hoje desconhe-
cidos na maçonaria especulativa, que levavam
os mestres obreiros a situações reflexivas não
encontradas na especulação.
A figura do camartelo (ferramenta pareci-
da com um martelo pontiagudo, que é utilizada
para o primeiro trabalho, mais grosseiro, na pe-
dra bruta), por exemplo, utilizada no Rito Schrö-
der, provém da mais antiga tradição dos maçons
operativos, não absorvida pelos outros ritos em
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 15
geral. Numa miniatura do séc. XV, do artista fran-
cês Jean Fouquet, mostra-se a utilização desta
ferramenta para o desbaste da pedra bruta.
O “buril” (6), no caso do trabalho em pedra,
trata-se de uma espécie de cinzel pontiagudo
[conforme o Hou-aiss, “ferramenta de aço com
ponta oblíqua cortante (... ) para lavrar pedra”],
que vai dar um trato rústico na pedra, podendo
ser usada após o “camartelo”, ou já direta-mente
(dependendo do tipo da pedra). Também pode
ser utilizada para o início do acabamento no
caso de figuras escultóricas.
A abordagem que efetuamos neste título
serve apenas para demonstrar que os conheci-
mentos relativos ao trabalho maçónico operativo
tinham detalhes muito maiores do que os apre-
sentados atualmente, e que a riqueza destes de-
talhes poderia levar a aspectos desconhecidos
de um simbolismo mais claro e preciso, objeti-
vando, também, maior precisão no processo de
autoconhecimento e aperfeiçoamento.
Ativemo-nos em considerar apenas o tra-
balho em pedra porque era a perspectiva do tra-
balho dos canteiros, da qual a maçonaria surgiu.
Outras profissões tradicionais vão conter simila-
ridades com o que aqui foi descrito.
Relações analógicas entre a cantaria e o
trabalho interno
A Extração da pedra-bruta diretamente da
pedreira é muito similar à escolha efetuada do
profano apto a entrar na maçonaria. Afinal, a
sociedade profana muito se assemelha a uma
pedreira, onde a multidão sufoca o talento indivi-
dual, fazendo com que muitas vezes o indivíduo
não encontre seu caminho.
É necessário acrescentar que, seguindo
a tradição da maçonaria brasileira, os profanos
são escolhidos para integrarem a sublime or-
dem. Isto faz-nos considerar a maçonaria como
o artífice que visita a pedreira em busca do ma-
terial necessário para cumprir a sua obra, en-
tendendo, queremos deixar claro, a ordem como
um canal que veicula forças superiores a este
estado de manifestação.
Sobre este fato, podemos considerá-lo ain-
da de duas formas: de maneira macro-cósmica
ou microcósmica. No primeiro aspecto, o artífice
seria o GADU que escolheria os aptos a veicu-
larem seus desígnios na consubstanciação do
Templo Universal. Micro-cosmicamente, o pró-
prio iniciado, em seu trabalho meditativo, identi-
ficaria os aspectos de seu ser que deverão ser
pinçados de seu interior e trabalhados conforme
estes mesmos desígnios, para que a verdade
seja expressa.
O maçom deve aprender a reconhecer no
emaranhado informe de sua existência cotidiana
os aspectos sublimes de seu ser, e seu trabalho
é reconhecer quais deles deverá trabalhar du-
rante sua vida para melhor expressar sua des-
treza, ou sua sintonia com o Todo. A isto as pes-
soas costumam chamar, talvez impropriamente,
de “missão”. Na atualidade, o maçom pode ter
em sua frente uma quantidade enorme de pers-
pectivas onde expressar sua vida. Contudo,
somente aquelas que coadunam com seu cará-
ter é que lhe trarão a verdadeira realização. As
outras deverão ser desprezadas, porque quem
tudo quer, nada consegue.
Se o iniciado escolheu a matéria prima
correta onde trabalhar, ou seja, escolheu os as-
pectos de si mesmo que deverão receber sua
atenção de agora em diante, e que serão traba-
lhados com suas virtudes, seu trabalho não será
em vão. Contudo, se há falhas na matéria prima,
ou seja, se não escolheu corretamente o aspec-
to que deverá ser trabalhado, deverá retornar à
pedreira de si mesmo e, através de um estudo
mais aprofundado e orientado, encontrar o ma-
terial correto para seus objetivos (7).
Após um exame acurado, enxergam-se
as matérias primas interiores misturadas com
outros agregados psíquicos, frutos estes de di-
versas origens, principalmente dos preconceitos
e erros que nos habituamos a aceitar e conti-
nuamos a engendrar, seja da criação, seja da
influência da sociedade. A origem pode ser gros-
seira (agressões, vícios, luxúria, etc.) ou mais
imperceptível (costumes, sofismas, paradigmas,
etc.).
Logo após de escolhida a matéria prima,
o maçom deverá fazer um desbaste acentua-
do, onde as maiores imperfeições são retiradas.
Podemos, simplificando, encontrar três pontos
a serem trabalhados em primeiro lugar: físico,
psíquico e mental. É claro que não existem fron-
teiras estanques entre eles, e que os aspectos a
serem trabalhados podem conter características
de todos estes: um pouco mais de um, um pou-
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 16
co menos de outro.
Por exemplo, a glutonaria: existe a ne-
cessidade de se encontrar a raiz psicológica que
induziu o indivíduo a tal situação para extirpá-la
completamente; contudo, em determinados ca-
sos, se não houver uma modificação radical no
jeito de se alimentar talvez a base material onde
trabalhamos, que é o próprio corpo, pode deixar
de existir e o indivíduo simplesmente morrer, an-
tes de encontrar essa raiz psicológica e extirpá-la.
Logo a seguir, fazemos um pequeno esboço
destas considerações acima, trazendo, de ma-
neira superficial, algumas analogias necessárias
Cantaria Aspecto Físico Aspecto Psíquico Aspecto Mental (8)
Burilar (9)
Extirpação de hábitos ex-
tremamente danosos à
saúde: fumo e drogas.
Eliminação de sentimen-
tos extremamente gros-
seiros como ódio ou ira.
Considerar-se como um
receptor, estando pronto
ao aprendizado.
Dentear
Aperfeiçoamento dos há-
bitos tendo como meta
melhor saúde: alimenta-
ção.
Cultivo da paciência e da
conformação (10).
Estudar os ensinamen-
tos maçônicos, buscando
compreender e memori-
zar o relevante.
Cinzelar
Domínio de sua vida se-
xual.
Cultivo do amor fraternal.
Meditar sobre os ensina-
mentos e excluir o supér-
fluo.
Esmerilar
Domínio sobre a respira-
ção.
Cultivo do Amor incondi-
cional.
Compreender a verdadei-
ra natureza do Homem.
Polir
Domínio sobre todos as-
pectos fisiológicos.
Superação da individuali-
dade.
Libertação dos conceitos,
em busca da Suprema
Identidade.
dos trabalhos da cantaria com os trabalhos que
o maçom deve perpetrar em si mesmo para seu
crescimento e aperfeiçoamento:
Nos exemplos acima demonstrados na ta-
bela, devemos levar em conta que esta relação
não é finalista, apenas exemplificativa. Cada um
deve aprender a conhecer seu próprio caráter
e, através do estudo sincero e objetivo, levando
em conta os ensinos tradicionais, reconhecer a
graduação com que deve ser efetuado do tra-
balho interior. Cada um, dentro de suas carac-
terísticas próprias, deve saber encontrar quais
aspectos deverá trabalhar dentro de si mesmo.
O que devemos entender é que, dentro da
perspectiva maçônica, em todos os aspectos
está envolvido um caráter gradual de crescimen-
to (veja o simbolismo da escada), que deve ser
levado em conta a partir do momento em que se
decide trabalhar sobre si mesmo. Não se pas-
sa para o próximo degrau enquanto o anterior
não estiver trabalhado. Da mesma forma não se
cinzelará enquanto o denteamento não estiver
totalmente pronto.
Ao se transportar à perspectiva da maço-
naria especulativa o trabalho de cantaria, per-
cebe-se que houve uma grande simplificação,
tendo em vista que já não se tratavam mais de
operários da pedra, mas de livres pensadores,
que desconheciam a espécie de trabalho efetua-
do, ou não queriam se ater a este.
Contudo, dentro do conhecimento tradicio-
nal, os trabalhos operativos tinham o objetivo
meditativo, onde o artesão utilizava seu trabalho
com o sentido de se aperfeiçoar.
Como já foi descrito, havia no trabalho de
transformação da pedra bruta em cúbica uma
dedicação de dias, variando conforme a comple-
xidade do trabalho e da dureza do material, onde
uma falha poderia fazer perder todo o processo.
Por este motivo, havia a necessidade de se ter,
em primeiro lugar, paciência. Este trabalho de
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 17
Aspectos práticos de como trabalhar literalmente à pedra bruta
Em primeiro lugar, antes da existência da matéria prima para o trabalho do canteiro, há a necessidade da sua ex-
tração na pedreira. Neste momento, o artífice escolhe na fonte de qual lugar quererá extrair o material que deseja.
Deve levar em conta para que propósito se utilizará a pedra, pois a escolha do lugar da pedreira já influi na espécie
de matéria prima que se obterá.
Após a extração da fonte, ou seja, o nascimento da pedra-bruta em sua forma individual, traça-se todo um plano em
que são considerados os métodos de trabalho no sentido de buscar como resultado a adaptação da matéria-prima
ao lugar em que ela está destinada. Podemos chamar de aperfeiçoamento, neste caso, o caminho que se faz da
pedra bruta até chegar à pedra polida. Este trabalho, didaticamente, poderia ser classificado em cinco partes:
1)	 Punçoar ou burilar - neste momento, fazemos com que as grandes diferenças existentes sejam atingidas pelo
buril até que fiquem pequenas. Neste trabalho, conforme mostra a figura a seguir, deixam-se normalmente estrias
em diagonal;
2)	 Dentear - depois do burilamento, utilizamos o cinzel denteado para diminuir ainda mais as diferenças, buscando
eliminar as estrias do trabalho anterior, deixando as marcas dos dentes desta ferramenta. O cinzel denteado deve
ser utilizado de forma reta, no mesmo sentido das laterais da pedra utilizada. Utilizam-se para isto diversos cinzéis
denteados, dos de dentes maiores aos de dentes menores, até ser utilizado, finalmente, o cinzel sem dentes, mais
conhecido na maçonaria especulativa. Alguns chamam o cinzel denteado de buril, também;
3)	 Cinzelar - o cinzel, propriamente dito, conforme demonstrado na maçonaria, é utilizado neste momento. Neste
caso, começa um trabalho de alisamento da pedra, eliminando a maior parte das marcas anteriores;
4)	 Esmerilar - a pedra de esmeril é utilizada, suavizando o máximo possível as marcas do cinzel. Na maçonaria
operativa, observava-se um movimento manual contínuo e circular e, aos poucos, e adicionando constantemente
a água para eliminar obstruções (escorregar), a superfície ia ficando lisa;
5)	 Polir - para finalizar o serviço, e a superfície ficar totalmente lisa e espelhada, utilizam-se lixas de diversas gra-
naturas (de 150, 220, 300 e 600), gradualmente da mais grossa para a mais fina.
mos concluir que se tratam de processos em
que a força é fundamental, sendo caracterís-
tico da passagem de uma fase para a outra a
diminuição da força e o aumento da destreza.
Poderíamos identificar desta forma: a) Burilar -
mais força e menos destreza; b) Dentear - força
e destreza na mesma medida; c) Cinzelar - mais
destreza do que força.
Isso demonstra que os próprios proces-
sos de trabalho no caráter também apresentam
aspectos em que determinados pontos de vista
devem ser abordados. A princípio, a força é ex-
tremamente necessária para excluir os defeitos
mais evidentes. Dentro da maçonaria especula-
transformação está muito ligado, neste caso, à
paciência que temos ao abordar uma determi-
nada matéria-prima. Se vamos impetuosamente
sobre ela, podemos errar. Se utilizarmos força
minúscula, podemos demorar além do necessá-
rio.
Neste caso, as virtudes seguintes que se
ligavam ao processo de transformação eram o
equilíbrio e a firmeza. Podemos, assim, já neste
momento, encontrar similaridades entre o traba-
lho externo, na pedra, e o trabalho interno, no
caráter.
Sobre o burilar, dentear e cinzelar pode-
Figura adaptada do livro “The Complete Book of Self-Sufficiency”, de John Seymour.
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 18
tiva, os aprendizes sentam-se no lado norte, sob
a égide do Irmão 1.° Vigilante, que é o respon-
sável pela veiculação da força numa Loja. Este
fato é bastante característico, tendo em vista o
trabalho mais forte que se deve ter quanto aos
aprendizes, ainda eivados de profanidades.
No entanto, com a sequencia do trabalho,
já a experiência (que na maçonaria é o conheci-
mento teórico adquirido e praticado) aliada com
a destreza vem se tornando muito mais impor-
tante, chegando ao ponto de ser quase a única
determinante. A experiência, ou a perícia, são o
aprimoramento do conhecimento do artífice em
sua própria arte. O maçom, no hábito de traba-
lhar sobre si mesmo, encontra a própria arte que
o conduz ao aperfeiçoamento cada vez mais re-
finado.
Quando falamos nos trabalhos que efe-
tuamos sobre o nosso próprio caráter, sobre o
cinzel e o malho, temos que levar em considera-
ção, também, os ensinamentos que a maçonaria
especulativa transmite aos obreiros. Abordá-los,
neste momento, é necessário no sentido de nos
conduzirmos a um aprofundamento ainda maior
sobre este trabalho.
Lavagnini diz o seguinte:
(... ) o malho e o cinzel, como instrumentos
propriamente ati-vos, representam exatamente os
esforços que, por meio da Vontade e da Inteligência,
temos de fazer para nos aproximarmos da realização
efetiva desses Ideais, que representam e expressam
a perfeição latente de nosso Ser Espiritual. O
malho, que utiliza a força da gravidade de nossa
natureza subconsciente, de nossos instintos, hábitos
e tendências, é pois, representativo da Vontade, que
constitui a primeira condição de todo progresso e é
ao mesmo tempo o meio indispensável para realizá-
lo. (11)
Isto que Lavagnini diz é simplesmente
o básico a ser mencionado sobre os aspectos
da utilização do buril e dos cinzéis, juntamente
com o malho. Encontraremos em diversos auto-
res poucas variações, nada substanciais. Todos
eles funcionam simbolicamente da mesma for-
ma (seja o buril ou os cinzéis), tendo, contudo,
cada um, suas características próprias, já men-
cionadas.
O que geralmente não se fala é quem, ou
o que, é o responsável pela movimentação des-
sas ferramentas supra mencionadas. Guénon
nos fala da Divina Personalidade, que é quem
Pedreiros trabalhando (miniatura do séc. XIII)
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 19
fala atrás da máscara - a persona, que é a nossa
individualidade.
É esta Divina Personalidade a verdadei-
ra responsável pelo manejo dos instrumentos.
E no caso do trabalho operativo sobre o nosso
próprio caráter, a matéria prima, que somos nós
mesmos, é a desculpa (grosso modo) necessá-
ria para que esta essência real de nosso ser se
manifeste. E este é o verdadeiro trabalho do ini-
ciado: não é olhar os instrumentos vibrando na
frente de seus olhos, mas perceber quem olha.
Não é se prender à vontade e à inteligência, mas
suprimir esta atenção aos instrumentos, e voltá-
-la ao verdadeiro artífice interno (12).
Falar mais sobre o simbolismo dos cinzéis
e do malho seria supérfluo neste momento. Di-
versos manuais sobre o assunto já discorreram
o suficiente para que necessitemos continuar
aqui. Somente queremos alertar que o simbo-
lismo deve ser visto no coração, e presenciado
também no coração para que seja realmente
efetivo.
Quanto ao esmerilar e polir, que são traba-
lhos onde a força já não é tão importante, mas
principalmente a destreza, carregam consigo
um aspecto fundamental: o movimento circular.
Ao movimentar a mão com o esmeril, ou com
a lixa, o obreiro segue compassadamente uma
ordem, onde toda a superfície é atingida para se
chegar ao obje-tivo.
Sabemos que o círculo é o símbolo do infi-
nito e da perfeição. A circularidade do movimen-
to da lixa na face quadrada do cubo nos parece
carregado de reminiscência no tocante à qua-
dratura do círculo. O círculo vem aperfeiçoando
a face quadrada da pedra cúbica.
A utilização da água é revestida, também,
de seu caráter simbólico. A água, sendo utiliza-
da como é, torna-se o veículo para a perfeição.
E dentro do simbolismo esotérico encontramos
na alma a referência da água. A água, batizando
a pedra, torna-a capaz de receber a perfeição
do artífice, bem como de chegar à realização
do trabalho. Somente através da alma o espírito
pode realizar a obra.
O obreiro, neste ponto do trabalho, ao
passar a mão pela superfície completa da pe-
dra, deve demonstrar a sensibilidade necessária
para compreender que já extraiu da pedra bruta
a pedra cúbica.
Conclusão: Iniciações nos mistérios
menores e maiores
Especificamente quanto ao trabalho de cantaria,
da formatação da pedra, ele se relaciona ao que
os gregos antigos chamavam de “mistérios me-
nores”. A iniciação nos mistérios menores bus-
cava com que o homem expressasse o máximo
de sua perfeição enquanto homem. Na maço-
naria simbólica atual, estas considerações esta-
riam demonstradas principalmente nos graus de
companheiro e aprendiz.
As iniciações nos mistérios maiores busca-
vam com que o homem superasse sua condição
individual e se unisse à divindade. Enquanto as
iniciações dos mistérios menores apontavam o
caminho à perfeição humana, as dos mistérios
maiores apontavam para uma perfeição divina,
a do homem transcendente.
Seria, neste caso, a segunda morte, apre-
sentada na maçonaria no magistério maçônico.
A iniciação nos mistérios maiores estaria
simbolicamente relacionada mais diretamente
ao ofício da arquitetura e da efetiva construção,
o que pode ser tema de outro trabalho.
Este trabalho apenas pincelou algumas
considerações superficiais sobre o ofício de can-
teiro, que poderão ser aprofundadas na no estu-
do, pesquisa e meditação de cada obreiro. Cum-
pre destacar que o ensinamento maçônico tem
sido habitualmente utilizado em limites aquém
de seus objetivos, e cabe a nós, maçons, co-
maçons operativos
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 20
meçar a mudar esses limites e parâmetros esta-
belecidos, sob pena de contribuirmos cada vez
mais para o desaparecimento virtual e, após,
efetivo de nossa Augusta Ordem.
Assim, os estudos elaborados na atuali-
dade devem procurar resgatar, conforme bus-
camos fazer aqui, os fundamentos do ensino,
estabelecendo e renovando as conexões com a
origem prístina do legado maçónico.
E também, com este mesmo objetivo,
àqueles capazes de uma obra mais abrangente
e hercúlea, recriar as possibilidades iniciáticas
para as mulheres, tendo em vista que, no Oci-
dente tais sociedades desapareceram, ou delas
não se tem mais notícia. Mas para isso, tanto
para o reavivamento do conhecimento maçóni-
co, tanto para possibilitar uma iniciação femini-
na, de acordo com as características próprias
das mulheres (13), é necessário o mergulho na
matéria prima iniciática do ocidente, e buscar
trazer à tona aquilo que se ocultou em nossa
época.
Notas
(1) Desde a origem, podemos perceber que a tônica dos trabalhos efe-
tuados pelos maçons operativos sempre foi no sentido de “tirar as ares-
tas”, e encontrar a pedra lavrada que já habita o interior da pedra bruta.
(2) Usamos este nome para a divindade dos tecelões apenas para fa-
zer um paralelo entre este e o GADU. Este termo é fictício. Contudo, o
simbolismo da tecelagem existiu na antiguidade e, até, na idade média.
É bem significativo notar sobre isso a informação de Guénon: “(...) os
livros tradicionais são freqüentemente designados por termos que, em
seu sentido geral, referem-se à tecelagem. Assim, em sânscrito, sûtra
significa propriamente “fio”: um livro pode ser formado por um conjun-
to de sûtras, como um tecido é formado por um conjunto de fios; tan-
tra possui também o significado de “fio” e de “tecido”, e designa mais
particularmente o urdume de um tecido. Da mesma forma, em chinês,
king é o urdume de um pano, e wei sua trama; o primeiro destes dois
termos designa ao mesmo tempo um livro fundamental, e o segundo
seus comentários. Esta distinção entre urdume e trama no conjunto das
escrituras tradicionais corresponde, segundo a terminologia hindu, à que
existe entre a Shruti, que é o fruto da inspiração direta, e a Smriti, que é
o produto da reflexão que se exerce sobre os dados da Shruti .” (René
Guénon, O Simbolismo do Tecido – XIV capítulo do livro “O Simbolismo
da Cruz”).
(3) Algo que é deve ser levado em consideração para meditarmos sobre
este assunto posteriormente, é a apreciação de uma catedral gótica, que
é uma verdadeira enciclopédia de conhecimento, onde o coração huma-
no se expressou de formas sublimes. Cremos que ignorantes de mente
estreita seriam incapazes de dar cabo de tal tarefa. E somente um ideal
refinado poderia impulsionar pessoas a participarem da construção de
um edifício como este durante séculos a fio, sem preocupações imedia-
tistas, tão características de nossa época.
(4) Os maçons operativos reuniam toda uma série de procedimentos,
que não se atinham apenas ao trabalho de cantaria, tais como a arquite-
tura e a carpintaria. No entanto, todos os aspectos abordados mais abai-
xo também poderão ser aplicados analogicamente à carpintaria. Quanto
à arquitetura propriamente dita, faremos algumas considerações mais
ao final do trabalho.
(5) Citamos a empresa por termos utilizado de figura existente em sua
página eletrônica.
(6) Outras ferramentas são chamadas “buril”, utilizáveis em outros mate-
riais (madeira e metal, por exemplo) e com funções diversas. Contudo,
em se tratando da maçonaria, o buril que deve ser levado em conta é o
mencionado. É claro que, com a decadência dos trabalhos em pedra, o
buril para gravação em metal ficou mais conhecido.
(7) Podemos exemplificar esta situação da seguinte forma: alguns têm
uma inclinação para determinado tipo de comportamento mais carac-
terístico que seria, para ilustrar, o orgulho. Se ele não buscar trabalhar
sobre este aspecto psicológico negativo de imediato, e não procurar su-
blimá-lo e, em vez disso, escolher um outro, tal como a inveja, que não
seria tão importante em seu caráter, pode acontecer de não conseguir
se livrar nem de um, nem da outra. Por isso, a escolha sobre o que deve
se trabalhar deve ser tomada criteriosamente, levando sempre em conta
as virtudes e os defeitos que se têm. Virtus = força.
(8) Estes aspectos podem ser estudados dentro da mesma perspectiva
do Yoga: Hatha, Karma e Jnana.
(9) O burilamento é a extração das diferenças mais grosseiras, que tor-
nariam o maçom incapaz de aproveitar os ensinamentos a ele dirigidos.
O burilado não busca a eliminação imediata das imperfeições,
mas sim a formatação destas de uma forma que não impeçam o apren-
dizado.
(10) Os primeiros resultados ainda não são o objetivo buscado, que se
realiza com o tempo. Por isso a necessidade de paciência (a famosa
tolerância maçônica) consigo mesmo e com os outros.
(11) Manual do Aprendiz Maçom – Aldo Lavagnini
(12) Os Upanixades oferecem um texto interessante, mostrando a im-
portância deste aspecto simbólico, que muitas vezes é desconsiderado
na maçonaria:
“Tendo compreendido que os sentidos são distintos da alma, e que sua
ascensão e declive a eles pertence, o sábio deixa de sofrer. (...)Além
dos sentidos está a mente, além da mente está o Ser supremo, além do
Ser supremo está o Grande Ser, além do Grande, o Oculto. (...)Além do
Oculto está a Personalidade, o onipresente, completamente imperceptí-
vel. As criaturas que lhe conhecem são liberadas e obtêm a imortalidade.
(...) Sua forma não pode ser vista, pois ninguém pode lhe contemplar
com os olhos. Só pode ser conhecido com o coração, que se acha além
da sabedoria e a mente. Só aqueles que sabem isto são imortais. (...)
Quando todos os sentidos e a mente são submetidos, o sábio alcança o
estado supremo. (Kata Upanishad, Segundo Adhyaya, Sexto Valli)
(13) Segundo nosso entendimento, é necessário possibilidades de or-
dem iniciática para as mulheres, devidamente embasadas na tradição.
Tais possibilidades se estendem apenas no Oriente, enquanto que no
Ocidente estão adormecidas, até o momento de serem reavivadas. En-
tendemos que a maçonaria não seria o lugar deste processo pelas pró-
prias características da ordem. Em se conhecendo os fundamentos da
ordem, fica bem claro que seus ensinamentos não serviriam para uma
espécie de iniciação feminina. Tratar desiguais de forma igual é um dos
absurdos que grassa em nossa época.
Existem, dessa forma, ofícios femininos que poderiam servir de base a
toda uma simbólica de uma organização iniciática. O cuidado que uma
organização iniciática pré-existente, tal como a maçonaria, deveria ter é
o de proporcionar uma adaptação simbólica monumental, sem escorre-
gar para o campo da fantasia. Trabalho muito árduo.
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 21
N
a Grande Loja dos Maçons Antigos Livres
e Aceitos (que é uma das mais importan-
tes compo­nentes da Potência Maçônica
denominada Grandes Lojas Unidas da Alema-
nha) estão em uso dois rituais oficiais e o uso
de mais dois é permitido. A maioria das Lojas tra-
balha no Rito Schröder na versão realizada em
1960.
A Grande Loja também publicou um ritual
da Arte Real baseado na tradição Francesa, com
ambos os vigilantes colocados no Oeste e com
a Acácia figurando no grau de Mestre. As Lojas
que pertenciam a hoje extinta Grande Loja Royal
York foram autorizadas a trabalhar com seus an-
tigos rituais baseados no texto reformado por
Fessler. Algumas Lojas da igualmente extinta
Grande Loja “Zur Sonne” (“Ao Sol”) continuam
trabalhando pelos seus velhos rituais. Como na
Inglaterra, não há nenhuma diferença fundamen-
ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRÖDER
Hans Heinrich Solf
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 22
tal entre estes trabalhos, porquanto todos eles
derivam de Prichard’s “Masonry Dissected” (Ma-
çonaria Dissecada, de Prichard) ou do “Three
Distinct Knocks” (Três Batidas Diferentes) tendo
sido introduzidos certos elementos de algu­mas
exposições e ainda adicionados embelezamen-
tos de origem Francesa.
Capa do “Masonry Dissected”, de
Samuel Pritchard (1831)
A cerimônia “Passing the Chair” (Passan-
do pela Cadeira) nunca foi introduzida e nem
o “Real Arco” tem-lhe dado apoio. A Grande
Loja Nacional dos Maçons da Alemanha (outra
componen­te das Grandes Lojas Unidas da Ale-
manha) ainda trabalha pelo sistema Sueco, que
consiste de 10 (dez) graus com um fundo pro-
nunciadamente Cristão.
O Rito York Americano, trabalhado prin-
cipalmente pelas Lojas Militares (Nas Grandes
Lojas Unidas da Alemanha existem ainda uma
Grande Loja Américo-Canadense e uma Grande
Loja dos Maçons Ingleses, cujos componentes
em quase sua totalidade são membros das tro-
pas militares estacionadas na Alemanha) intro-
duziu na Alemanha os graus Crypticos e Tem-
plários. O Supremo Conselho do 33º
para a Ale-
manha trabalha pelo Rito Antigo e Aceito, usual-
mente conhecido como Rito Escocês, parecido
com o Rito Escocês Retificado na França, que
está se tornando popular de novo.
O que inspirou o Irmão em dar um novo Ri-
tual a Maçonaria Germânica e como ele atacou
esta tarefa que impôs a si mesmo? Estas são
as questões que serão agora investigadas. Pri-
meiramente algumas palavras sobre o homem,
Schröder. Ele foi como seus pais, um ator pro-
dutor, que naquele tempo significava que ele
era proprietário de teatro em Hamburgo. Ele co-
nhecia muito bem na Europa as regiões onde
dominava a língua alemã e nunca esteve na In-
glaterra, França ou Itália. Suas habilidades lin-
güísticas eram limitadas em­bora ele fosse capaz
de adaptar peças de teatro dos originais Fran-
ceses e Ingleses. Sem conhecer Latim e Grego,
ele adquiriu, entretanto um grande cabedal de
conhecimento pelo auto-estudo. Acima de tudo
se destacava nele o seu caráter forte e sincero.
O estado da Fran­co-Maçonaria na Alemanha no
tempo em que ele foi iniciado com a idade de 29
anos, era caótico. Seu proponente foi Johann J.
Christoph Bode, seu amigo, e sem escrutínio foi
aceito na Loja “Emanuel”. O Rito Estrita Obser-
vância era dominante naquela época e o caráter
da Fran­co-Maçonaria Inglesa, como original-
mente introduzida em Hamburgo, se tinha perdi-
do. As Lo­jas foram dominadas pelo misticismo,
alquimia, Rosa-Cruzes e Iluminados, sendo que
os últi­mos introduziram formas de cavalheirismo
e “Altos Graus” importados da França. Mesmo
os sóbrios e democráticos Irmãos de Hamburgo
não se abstiveram de desfilar como “Muito exce-
lente Cavaleiro Templário”.
Não é de estranhar que um homem sério
e despretensioso como Schröder fosse radical-
mente contrário a estas excentricidades. Ele es-
perava da Maçonaria, educação e verdadeira mo-
ralidade. Com o declínio do Rito Estrita Obser-
vância, depois da Convenção de Wilhelmsbad
em 1782, a hora de Schröder tinha chegado.
Segundo seus desejos os Irmãos de Hamburgo
decidiram:
l.º) Restaurar a verdadeira e antiga Maçonaria,
como nos foi trazida pelos nos­sos antepassados
e espalhada daqui por quase toda Alemanha, e
que existiu em Hamburgo até a reforma de 1765.
Esforçar-se zelosamente para elevar seus propó-
sitos a um nível mais alto e fazer com que cada
um dos seus ramos sejam mais úteis; isto deverá
ser alcançado, com amor pela pesquisa da Ver­
dade, seguindo com a máxima sinceridade os
ensinamentos da sagrada reli­gião Cristã e pondo
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 23
fielmente em prática seus deveres.
2º) Melhorar a harmonia entre os Irmãos, pro-
curando concentrar as quatro Lojas unidas em
duas, sendo uma Loja Alemã e outra Francesa, e
permitir a seus membros elegerem seus Mestres
no Festival de São João.
3º) Trabalhar nos três graus da Arte Real de acor-
do com o Antigo Ritual Esco­cês dos nossos an-
tepassados, até que os Rituais organizados na
Convenção Geral nos sejam comunicados.
Para se ter uma idéia dos problemas que
envolviam uma tal decisão, aqui estão alguns
exem­plos das dificuldades com o Ritual que
existiu em Hamburgo e em outras partes. Estes
eram tirados na sua maior parte da primeira
edição do livro “Materialien zur Geschichte
der Freimaurerei” (Matéria para a História da
Franco-Maçonaria), um tratado composto do
1.400 páginas. Este trabalho é ainda uma mina
de informações para o historiador principalmen-
te por causa dos documentos mencionados e
cujos originais agora não são mais acessíveis.
Schröder relata, por exemplo, sobre uma
Loja da cidade de Dresden que se compunha
de membros da alta aristocracia, mas, entre os
oficiais da Loja havia um “Cozinheiro-Chefe” e
um “Porta Caneco” e em 1743 bebidas eram ser-
vidas enquanto a Loja estava aberta. Em 1744
dois Diáconos foram nomeados pela primeira
vez na Loja “Absalom” em Hamburgo, presumi-
velmente por causa das exposições que haviam
aparecido na Inglaterra e na França. Naquela
época era ainda costume pagar ao Secretário
um salário especial pelos seus discursos, que
apareciam depois impressos. O oficio de Orador
veio para a Alemanha da França. Naquele tem-
po, o pri­meiro e o segundo grau não eram mais
conferidos juntos em Hamburgo, por causa dos
regula­mentos que requeriam um período entre
eles de nove meses. O compromisso de Apren-
diz incluía a seguinte exigência: “Que ele devia
amar seus Irmãos e ainda promover seus melho-
res interesses por todos os modos”. Esta frase
podia muito bem ter sido idealizada pela própria
Loja e se acha no Ritual até hoje.
fac-símile de “L’Ordre
des Francs-Maçons Trahi”
(1745)
A publicação da exposição “L’ Ordre des
Franc Maçons Trahi” (1745) fez a Loja “Aos três
Glo­bos”, trabalhando num Ritual Francês, in-
troduzir uma mudança que não foi, entretanto,
mantida por muito tempo: a palavra “Tecton” e o
sinal de “Harpócrates” (dedo indicador sobre os
lábios) deveriam ser usados como uma palavra
e sinal adicional.
Havia uma completa incerteza acerca da
colocação da venda nos olhos. O candidato
geral­mente era trazido para o interior da Loja
com os seus olhos não vendados; o procedi-
mento correto aprenderam de Londres somente
em 1763. Além do mais, ninguém estava certo
se as espadas eram para ser usadas dentro da
Loja (na França elas eram consideradas como
um símbolo de igualdade) ou se “fogo” (ordem
para beber) deveria ser dado nos banquetes. O
processo de escrutínio também não era compre-
endido. Foi somente em l763 que a Grande Loja
Provincial de Hamburgo decidiu que cada Irmão
que colocasse uma bola preta na caixa do escru-
tínio, devia informar o Mestre dos motivos de as-
sim ter procedido no prazo de 3 (três) dias. Isto
é habitual na Alemanha até hoje, se até 3 (três)
bolas pretas aparecerem. Painéis da Loja dese-
nhados em oleados somente apareceram no fim
do século 18; em 1765 o Cobridor ou um Irmão
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 24
ou formato “quarto” por ser mais prático para o
Ritual e este está em uso ainda hoje. Ele achou
que era preferível ter um Ritual organizado pelos
principais Maçons do seu Tempo e aprovado pela
Grande Loja Provincial de Hamburgo e que deve-
riam estar disponíveis para as Lojas, em vez de
suas cerimônias serem baseadas em uma dúzia
de exposições.
Schröder fez uma observação ao pé da
página: “isto se refere ao Ritual usado antes de
1765”; isto é, antes da introdução da Estrita Ob-
servância. Entretanto como não havia então Ri-
tual escrito, tornava-se impossível relembrá-lo
depois de 17 anos. De qualquer maneira aque-
le Ritual não seria apropriado para o fim atual.
Os balaústres da Loja “Absalom” mostram que
o Ritual inglês não era acuradamente conheci-
do mesmo antes de 1763. Em 14 de março de
1764, uma iniciação e elevação na mesma noite
-como era então praticado na Inglaterra- tiveram
que ser adiadas por causa da ausência do Irmão
Bode, que era o único capaz de dar uma expla-
nação do Painel da Loja. Esta era a situação,
quando Schröder começou sua tarefa. É impor-
tante mencionar que o trabalho em certas Lojas,
era ainda em língua Francesa.
Mas havia mais um obstáculo no caminho
de um começo decidido e enérgico: o Grão-Mes-
tre von Exter. Embora ainda mantivesse uma
nomeação Inglesa como Grão-Mestre Provincial
para a Baixa Saxônia e Hamburgo, ele estava
profundamente envolvido com a Ordem Rosa-
Cruz e os graus cavalheirescos e também in-
fluenciado com idéias místicas, desde a intro-
dução do Rito da Estrita Observância em 1765.
A Grande Loja Provincial de Hamburgo há
muito havia negligenciado suas obrigações para
com a Grande Loja Mãe em Londres. Finalmente
o então Grande Secretário, Irmão Heseltine, em
uma carta de 30 de maio de 1773 (UGL MS.26/
B/B/1) pediu a devolução da Carta Constitutiva
ao Grão-Mestre Provincial. Não tendo recebido
resposta dentro de poucos meses, o Irmão He-
seltine enviou uma cópia de sua primeira carta
acrescentando que a Carta Constitutiva de­veria
se entregue ao Irmão Sudthausen que por aca-
so se achava em Hamburgo. A Grande Loja Pro-
vincial de Hamburgo reagiu com diversas cartas
iradas, mas, mesmo assim não enviou relatórios,
nem saldou as devidas contribuições.
servente ainda tinha
de fazer o desenho com giz
no chão. Um Diretor de Ce-
rimônias foi pela primeira
vez nomeado em 1774,
embora na Alemanha
e na França o seu ti-
tulo era de “Mestre
de Cerimônias”.
Mais ou menos
nesta época os
Diáconos foram
r e n o m e a d o s
de “Stewards”
(mordomos).
É bem co-
nhecido pelos ba-
laústres de uma pe-
quena Loja no Castelo
Kniphausen na Frísia
Oriental, que um soldado
da guarda do Conde foi
empregado como Co-
bridor e pago pelos
membros da
Loja. O traba-
lho desta Loja
era baseado
no de Prichard
embora o Ta-
pete (Painel)
tenha sido co-
piado de um de-
senho do livro “L’
Ordre des Fran-
c-Maçons Trahi”. É
também co­nhecido pe-
las muitas averiguações
emanando de todas as partes
da Alemanha, que as Lojas de
Hamburgo e a Loja Provincial
Inglesa, eram consideradas au-
toridades em todos os assun­tos
ritualísticos. Esta foi provavel-
mente a razão porque Schröder ti-
nha seu Ritual impresso clara-
mente sem abreviação ou
código. Ele sabia que isto
não estava de acordo com
a pratica Inglesa. Ele tam-
bém selecionou o tamanho
Busto de Johann Joachim
Christian Bode (Düsseldorf,
Goethe-Museum)
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 25
Uma vez que Schröder tomou as rédeas
em suas mãos esta situação mudou imediata-
mente. De agosto de 1786 em diante, a Grande
Loja Provincial de Hamburgo enviou regularmen-
te os balaústres de suas reuniões para Londres.
A intervenção do Irmão von Gräfe certamente ti-
nha sido de grande ajuda nesta mudança. (UGL
Ms.26/B/B/7-27). Ele tinha ditado o Ritual Inglês
para o Grande Secretário Provincial, Irmão Be-
ckmann. Em seu comentário, Schröder, faz a se-
guinte anotação:
....e assim temos agora um antigo Ritual comu-
nicado para nós, exceto por algumas alterações
introduzidas pelo tempo e o desejo de melhorar.
De acor­do com este texto, o 2ª Vigilante tem seu
lugar no Sul; não havia nenhuma Estrela Fla-
mígera e nem mais espadas dentro da Loja. O
Diretor Regional von Exter, pois ele ainda deti-
nha este cargo na Estrita Observância, não tra-
balharia sem as duas Colunas (Vigilantes) no
Ocidente, sem a Estrela Flamígera, sem o monte
de terra e o galho de Acácia, sem as alusões e
promessas de uma Luz Superior e sem os vinte
e mais itens muito preciosos para ele. Assim veio
a Luz um Ritual até mesmo mais místico e mais
pomposo do que esse da Estrita Observância.
Estas observações contêm uma importan-
te indicação. O texto Gräfe não era bem o mes-
mo que o bem conhecido texto do Prichard, que
havia sido publicado em uma edição Alemã em
1736, e que foi largamente utilizado pelas Lojas
Alemãs e na França com a versão Francesa. O
Irmão N. B. Spencer já apontou isto no volume
Ars Quatuor Coronatorum n.º
74: “O apareci-
mento regular de traduções de uma ou de ou-
tras exposições bem conhecidas em Alemão ou
Francês, encadernadas, com quase todas as có-
pias dos livros Alemães da Constituição do Sé-
culo 18, sugere de uma maneira taxativa, que os
Alemães estavam usando-os como guia para as
suas cerimônias, assim como nós usamos um
moderno Ritual ou Monitor”.
Schröder escreveu para seu amigo Meyer:
“Eu estou surpreso que você não achou nenhu-
ma Loja em Londres na qual o 2º Vigilante senta-
se no Sul ou a tal conhecida Loja dos Antigos.
Durante este ano já tivemos quatro Irmãos de
tais Lojas como visitantes.”
Na verdade os Vigilantes estavam coloca-
dos no Noroeste e Sudoeste respectivamente
nos trabalhos da maior parte dos Rituais Con-
tinentais derivados de Prichard ou das versões
Fran­cesas baseado no “Masonry Dissected”.
Quando Schröder tornou-se membro da comis-
são para elaborar uma nova Constituição, ele
devotou-se a esta tarefa de maneira metódica e
diligentemente e com uma considerável despe-
sa pessoal. Assim ele imprimiu as suas próprias
custas numa tipografia secreta em Rudolstadt,
todos os Rituais disponíveis para ele, bem como
uma História da Maçonaria em quatro volumes
e uma exata análise da Constituição Inglesa.
Este empreendimento é algo fora do comum na
História da Franco-Maçonaria e, lançar-se um
pouco de luz sobre isto somente poderá ser de
proveito.
Modelo de Tapete utilizado no Rito Schröder
Schröder via a necessidade de abraçar a
pesquisa maçônica dentro da obrigação de um
segre­do contido nos Rituais. Investigando entre
os seus “Irmãos de confiança” verificou que a
Loja Amália, em Weimar, (Goethe e Herder eram
ambos membros dela) podia ajudar. Um dos
seus membros era o Irmão Wesselhöft que mo-
rava em Jena e que tinha o seu negócio de Im-
pressão e Publicações em Rudolstadt, cidades
estas próximas a Weimar. O Irmão Wesselhöft
fez o juramento, como também todos os mem-
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 26
bros de suas empresa, para manter o sigilo; sen-
do que alguns deles foram simplesmente convi-
dados a se unirem a Loja de Rudolstadt. O Irmão
Conta, que era alto oficial da Policia Alemã, foi
nomeado para exercer a função de supervisor e
censor. As detalhadas instruções anotadas pelo
Mestre da Loja, provas que Schröder forneceu o
ne­cessário material e capital de trabalho, ainda
existem. Este estabelecimento começou a tra-
balhar na ultima década do século 18 e parece
ter encerrado suas atividades depois da morte
de Schröder. Uma de suas publicações foi a co-
leção de Rituais em 21 volumes, dos quais, a úni-
ca cópia conhecida nos dias atuais, encontra-se
na Biblioteca da Grande Loja Nacional da Dina­
marca. Este trabalho, cerca de trinta Rituais dos
então conhecidos e dos “Altos Graus”, incluin­do
um texto do “Three Distinct Knocks”, que é sem
dúvida considerado como o “mais velho e genu-
íno Ritual Inglês”, sem entretanto mencionar sua
origem. O texto de Prichard é identificado e a ra-
zão para o anonimato do “Three Distinct Knocks”
pode se achar na correspondência de Schröder
com Meyer, onde escreve:
Pelo amor de Deus, “Three Distinct Knocks” (Ja-
chim e Boaz é só uma reimpressão da anterior)
não deve se tornar conhecido porque o nosso
ritual está baseado nele. Portanto eu removi es-
tes dois livros do catálogo de nossa biblioteca.
É muito raro na Alemanha e provavelmente na
Inglaterra também.
Mas seu amigo sabia melhor; “Jachim e
Boaz” é sempre reimpresso sem alteração, ele
tinha uma edição de 1800. No prefacio da edição
de 1815 do seu livro “Materialien zur Geschich-
te der Freimaurerei” (Materiais para a História da
Franco-Maçonaria), Schröder aponta que “Three
Distinct Knocks” é o ritual que é trabalhado até
hoje em dia por todas as velhas Lojas Inglesas
na Grã Bretanha, Ásia, África e América. Acer-
ca de Prichard ele diz que este foi o primeiro
desvio do mais velho, isto é do “Three Distinct
Knocks”, mas que tinha sido usado pela maio-
Frontispícios dos Livros “Three Distinct Knocks” e “Jachin and Boaz” (1865). Os dois livros foram duas
exposições muito famosas da maçonaria à época.
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 27
ria das Lojas Alemãs. Os Rituais Franceses, a
maioria deles baseados em Prichard, foram as
fontes dos Rituais de Zinnendorf e Sueco, cujos
sistemas haviam aceitado os “Altos Graus” da
França, também eram conhecidos por Schröder.
Os “Altos Graus” reproduzidos nesta coleção,
não são de nenhum interesse aqui, mas deve-se
dizer que o trabalho total é até hoje uma rara fon-
te de pesquisa ritualística. Como este trabalho
foi destinado somente aos membros do “Cir­culo
Interno”, a edição não podia consistir de mais
de cem cópias e por isto é que se trata de uma
Obra rara e que não foi totalmente registrada
por Taute e Wolfstieg que produziram uma Bi-
bliografia Maçônica. Assim há muita razão em
ser grato a Grande Loja Nacional da Dinamar­
ca por ter liberado sua cópia para fazer-se uma
reprodução fotográfica em 1976, que foi limita­
da a uma edição de trezentas cópias e não está
disponível comercialmente. Com isto chega­mos
a uma certa conclusão: quando o trabalho come-
çou em Hamburgo em 1790 para um novo Ritual,
a Grande Loja Provincial subordinada a Primeira
Grande Loja da Inglaterra, não possuía em Ri-
tual escrito em Inglês com um texto autêntico.
Schröder estava absolutamente convenci­do de
que “Three Distinct Knocks” não era apenas ge-
nuíno, mas era efetivamente o mais velho Ritual
existente. Como podemos ver, ele baseou todo
o seu trabalho sobre este texto, tanto quanto diz
respeito a estrutura ritualística. Nas instruções do
Grau de Aprendiz datado de 1801 Schröder diz:
Não pretendemos absolutamente proteger todas
as partes do velho catecis­mo. Embora estejamos
inclinados a preferi-lo - no todo – a qualquer coi-
sa nova, entretanto reconhecemos que o que foi
dito em uma Fraternidade Inglesa, que consistia
principalmente de artesões, não pode ser inteira-
mente adequado para maçons educados de ou-
tro país. Portanto corrigimos ou omitimos o que
está fora do espírito ou circunstâncias do nosso
tempo.
Ele sentia profundamente que princípios
éticos e morais eram a essência da Maçonaria e
ele os formulava com grande cuidado e em cola-
boração com os mais educados Maçons do seu
tem­po. Isto dá ao seu Ritual um caráter particular
próprio, expressando as tendências espirituais
da Alemanha por volta do século 18. A tendência
para a Maçonaria Cavalheiresca ou Templária,
com um forte conteúdo Cristão e até mesmo Ca-
tólico Romano, tinha desaparecido. Fortaleceu­-
-se a tendência de que, moral elevada e princí-
pios éticos, deveriam ser as essenciais caracte­
rísticas da Arte Real.
Ignaz Aurelius Feßler (1756-1839)
Schröder, bem conhecido e respeitado
como era, tanto profissionalmente como Diretor
de um teatro de alta reputação e, também como
Maçom, estava em contato com Irmãos proemi-
nentes e os familiarizava com os seus planos.
Sua correspondência com seus “Muitos confian-
tes Ir­mãos” por todo o norte da Alemanha. era
parcialmente escrita em um código que foi tirado
da Estrita Observância e usado com sua própria
frase chave, a qual foi descoberta recentemen-
te. Os princípios básicos seguidos pelos dois re-
formadores da Arte Real na Alemanha, por uma
iniciativa paralela, foram lançados por Fessler
em Berlim e sua linha de ação será menciona-
da mais tarde - pode melhor ser compreendida
estudando-se a introdução do “COMPACT” da
Grande Associação Maçônica de 1801 entre a
Grande Loja Provincial de Hamburgo e a Grande
Loja Royal York de Berlim a qual Fessler perten-
cia. Embora este texto tenha sido traçado por
Fessler e não por Schröder, o conteúdo reflete
fielmente as idéias do último:
1º) Franco-Maçonaria e fraternidade maçônica,
são dois conceitos bem dife­rentes, como as pa-
lavras “ciência e escola”, “religião e igreja”. Isto
nos leva para:
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 28
2º) Franco-Maçonaria, independente de tempo
e condições locais, (ouvimos a voz de Lessing)
sempre una e a mesma, é sempre aquilo que en-
volve e coloca firmemente o homem interno entre
o esquadro e o compasso, seu modo de pensar
e agir e que fixa a posição moral do homem na
Sociedade, embora a Franco-Maçonaria possa
ocasionalmente ter-se desenvolvido em direções
di­ferentes.
3º) As Grandes Lojas Provinciais Unidas não
reconhecem na Fraternidade Maçônica o tal
chamado propósito ou desígnio secreto que se
diz possuir e além dos três graus de São João.
Para elas o objetivo da Fraternidade Maçônica
é o mesmo: prática, manutenção e crescimento
comum da Arte; tudo isto visto pela luz de sua
pura tendência moral. Isto os mais esclarecidos
Irmãos tem em todos os tempos reconhecido.
4º) Como não mais se pode deixar aos caprichos
de Maçons isolados ou Lojas em particular, a
decisão e definição da natureza e tendência da
Maçonaria, as Grandes Lojas Provinciais Unidas
estão convencidas de que o mais velho Ri­tual In-
glês dos três graus é o único em que podemos
confiar como fonte histó­rica e para compreensão
da natureza e evolução da franco-Maçonaria.
A razão da curta vivência da Grande Asso-
ciação Maçônica pode se achar na conturbada
situa­ção política existente naqueles dias na Ale-
manha, entretanto estes princípios ainda são vá-
lidos hoje em dia para a Maçonaria Antiga Livre
e Aceita na Alemanha.
Pode nesta conjuntura ser de interesse
mencionar uma opinião não favorável a Schrö-
der; é a de um Pastor Protestante ortodoxo e
ex-membro da Loja de Leipzig. De acordo com
Taute este ex-Irmão, Professor Lindner deixou a
Loja por causa de sua ambição não satisfeita e
publicou um trabalho no qual apresentava Maço-
naria e Religião num falso relacionamento ainda
que um pouco melhor do que fez o Reverendo
Walton Hannah em nosso dias. Assim o Profes-
sor e ex-Irmão Lindner escreve:
Eu tenho... impressão que o melhor do “Iluminati”
foi aceito em sua (de Schröder) forma de Maço-
naria, mas é ainda necessário mostrar-se que a
forma de Schröder não se enquadra na dominan-
te cultura do tempo atual, embora seja mais pro-
funda que outras. Ele nos mostra uma espécie
de ecletismo enfeitado com alguma filosofia de
Kant, mas não há realmente nada de original ou
genu­íno. Sua secretividade sobre assuntos pu-
blicamente conhecidos é bem desorientadora.
Tudo isto se pode chamar uma filosofia de rigo-
rismo moral, tendo nela disseminado algumas
demonstrações de caridade.
Mais tarde, Lindner arrependido retratou-se.
A insinuação sobre “Iluminati” se refere ao “Círculo
Interno” de Schröder que era para ser, não uma
outra “Ordem”, mas somente uma Loja de Instru-
ção Histórica.
Antes de iniciar a elaboração de novos Ritu-
ais a Franco-Maçonaria em Hamburgo tinha que
se organizar e isto não poderia se realizar sem
surgirem animosidades pessoais. Só em 1790 tor-
nou-se possível nomear uma pequena comissão
sobre a presidência de Schröder e com­posta de
representantes de todas as Lojas. Antes de tudo ele
viajou para consultar seus amigos nas Lojas sobre
jurisdição de Hamburgo, que haviam se espalhado
além de Hamburgo e até na Alta Saxônia.u inte-
resse particular era para consultar com o Irmão
Bode, que tinha se mudado de Hamburgo para
Weimar de forma a estabelecer contato mais fre-
qüente com o Ir­mão Herder, um alto Clérigo no Du-
cado de Weimar. Isto tornou-se somente possível
porque Schröder tinha abandonado a direção do
seu teatro em Hamburgo e agora estava vivendo
como fazendeiro em sua propriedade em Rellingen
perto de Hamburgo. Os próximos anos de sua vida
foram dedicados integralmente ao trabalho da refor-
ma que deixou uma forte marca na Arte Maçônica
da Alemanha até hoje.
Uma importante contribuição para o trabalho
de Schröder, veio de seu amigo de longos anos,
Professor Friedrich Ludwig Wilhelm Meyer (1759-
1840). Ele era um gentil-homem de vida inde­
pendente tendo muito viajado por toda Europa e In-
glaterra. Na Universidade de Göttingen ele foi tutor
dos Duques de Sussex, Cumberland e Cambridge.
Existem evidências de que seus talentos e habili-
dades lingüísticas foram usados muitas vezes pelo
Rei da Prússia e seus minis­tros, que o empregaram
como agente político secreto. Meyer era Franco-
Maçom e foi membro da Loja “Pilgrim” em Londres
de 1789 a 1791. Felizmente pode ser consulta-
da sua enorme correspondência, particularmente
com Schröder. Quando ele não estava viajando
vivia numa pequena cidade na então parte dina-
marquesa de Holsatia e só recentemente cerca
de 700 cartas foram descobertas nos arquivos do
Estado de Hamburgo. Destas, agora sabemos que
Meyer traduziu a maior parte dos textos Ingleses e
Franceses que seu amigo Schröder usou. Schrö-
der aceitava os argumentos e sugestões de Meyer
de bom grado.
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 29
Levaria muito tempo para examinar mais de
perto o relacionamento entre Schröder e o Irmão
Ignaz Aurelius Fessler (1756-1839). Fessler nasce-
ra na Hungria. Educado pelos Dominicanos ele tor-
nou-se professor de História e Línguas antigas, o
que lhe deu grande reputação. Em seguida a uma
crise pessoal e espiritual na meia idade, tornou-se
Franco-Maçom, converteu-­se ao protestantismo e
morreu velho como Chefe da Igreja Protestante
Russa. Durante sua estada em Berlim, empreen-
deu a Reforma dos Rituais da Grande Loja Royal
York de forma a restabelecer a pura Arte Maçônica
ou pelo menos separá-la dos “Altos Graus”. Neste
contexto deve ser lembrado que os sistemas então
existentes eram baseados nos sistemas hierárqui­
cos; as Lojas eram totalmente subservientes a um
corpo mais alto e não tinham autonomia, nem ao
menos para a eleição de seus oficiais. Fessler es-
tava muito bem informado sobre os diferentes sis-
temas, porquanto ele tinha, ao contrario de Schrö-
der, sido admitido à maioria dos “Altos Graus”.
Numa carta a um amigo ele declara que possuía
uma tradução do “Three Distinct Knocks” que ele
pensava que era o Ritual de velha Loja Ingle-
sa em York; esta confusão entre os Antigos e a
efêmera Grande Loja de York é freqüentemente
encontrada na Literatura Maçônica Alemã do pe-
ríodo de Fessler. Entretanto, ele não usou este
texto para os seus Rituais reforma­dos, mas ba-
seou seu trabalho parcialmente sobre o tal cha-
mado “Ritual de Praga”, verificando que sua ori-
gem vinha dos textos Franceses baseados em
Prichard. Como este Ritual desem­penhou um
importante papel na reforma da Arte Maçônica
Alemã, vale a pena considerá-lo rapidamente.
Seus integrantes eram membros de uma Loja de
Praga chamada “Zur Wahrheit und Einigkeit zu
den drei gekrönten Säulen” (A Verdade e União
das três Colunas coroadas) fundada ao redor
de 1784 da fusão de duas Lojas mais antigas
como o nome indica. Em 1794, a Loja publicou
um Livro contendo a Constituição e os Rituais da
Arte, um volume de mais de 400 páginas, que
não faz referência a Constituição Inglesa, mas
a concepção dela, da própria Loja. De início é
afirmado que a Loja é uma “República Democrá-
tica”. A conexão com eventos na França é óbvia
(1794), mas é surpreendente que este livro foi
impresso na Áustria Imperial e não na França. O
Ritual introduzido em 1788 está baseado no sis-
tema Zinnendorf (Sueco), mas “com mudanças
nas explanações morais dos símbolos numa
linguagem mais concisa”. Não era para haver
nenhuma influência, ou seja lá o que for, dos
tais chamados “Altos Graus” nas Lojas da Arte e
o “Iluminati” é apontado como sendo totalmente
uma organização não-maçônica. “De tempo ime-
morial” é dito que os “não Cristãos” não pode-
riam ser admitidos, mas uma inte­ressante exce-
ção foi feita no caso de membros da “Seita Soci-
niana” que foram exilados da Polônia. Esta seita
era definitivamente Cristã, mas seguia a doutrina
Unitária. Um interessante fato no Ritual é que a
velha obrigação não era mais mencionada. Ou-
tro texto que Fessler usou foi o chamado “Ritu-
al Essinger”. Não foi possível achar uma cópia
do mesmo, mas da corres­pondência Schröder/
Meyer e das publicações de Fessler sabemos
que um médico chamado Gasser, havia trazido
o texto da Inglaterra mais ou menos no ano de
1784. Na verdade este Ritual era uma cópia do
“Three Distinct Knocks” que passou nas mãos
de Fessler, havia sido publicado na Saxônia em
1804. Foi usado na Loja que o Barão Dalberg
fundou em sua residên­cia de verão em Essingen
perto de Mannheim onde ele era Diretor de um
então famoso Teatro. Seu irmão mais velho foi
o último Eleitor e Arcebispo de Mainz e Grande
Aventais do Rito Schröder utilizados pela GLOMARON
Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 30
Chanceler do Santo Império Romano, enquanto
seu irmão mais novo era um conhecido músico e
compositor. Todos os três eram franco-maçons e
personalidades de destaque de sua época. Fes-
sler pretendeu que este Ritual era pelo menos o
mais velho, porquanto já havia sido usado antes
de 1717 na Loja de York. Isto aumentou a ira de
Schröder e numa carta a Meyer ele escreve:
Não deveria ele (Fessler) e seu tão meticuloso
amigo Mossdorf, saber que o lugar Essingen não
existe? Somente uma coisa em todo o livro me
chamou atenção – The Old Charges da Cons-
tituição de York. Seu estilo e conteúdo são ob-
viamente mais novos que o texto de Anderson,
que por si é mais novo que aquele publicado por
Preston na sua “Ilustrations”.
Isto é de grande interesse porque demons-
tra a extrema confusão causada pela publicação
do Irmão Dr. Krause (como hoje sabemos) do
texto complemente apócrifo da Constituição de
York de 926.
Havia ainda um outro eminente Franco-
Maçom com quem Schröder mantinha contato
e cujos conselhos freqüentemente seguia. Este
era Johann Gottfried Herder (l744-1803) cujas
corres­pondências com Schröder dos anos de
1799 a 1802 estão parcialmente acessíveis em
uma publicação do Irmão Wiebe de Hamburgo e
em um certo número de cartas não publicadas
existentes nos arquivos do Estado da Prússia
em Berlim. Quando o exército Francês ocupou
Hamburgo no ano de 1808, Schröder infelizmen-
te destruiu a maior parte de seus papéis. Sabe-
se, por intermédio de outras fontes, que a pri-
meira versão do Ritual de Schröder introduzida
em 1801, continha um certo número de canções
escritas ou pelo menos trabalhadas por Herder.
A maior parte delas não foram incluídas na ver-
são de 1816, pois que a prática de cantar em
Loja havia se tornado menos popular. Os textos
disponíveis de hoje são em prosa somente, mas
eles tem o espírito do gênio de Herder.
Johann Gottfried Herder (1744-1803)
Schröder e Fessler trocaram cópias de
seus Rituais, porém o último comentou, que os
Irmãos de Berlim acostumados ao Ritual Fran-
cês não apreciariam a simplicidade do texto de
Schröder. Ambas as versões foram enviadas por
Schröder aos seus outros amigos e conselhei-
ros e os mesmos preferiram o seu (de Schrö-
der). Depois de certas pequenas modificações,
Schröder submeteu seu texto aos Mestres de
Hamburgo em 29 de junho de 1801 que o ado-
taram por unanimidade. Depois de mais uma
revisão de certas passagens, que não tinham
concordância com a cerimônia, foi impressa
uma edição limitada para as Lojas de Hambur-
go e uma edição maior foi editada em 1816 para
todas as Lojas Alemãs. Desta edição existe so-
mente uma cópia pertencente a uma Loja na ci-
dade de Celle, cujo exemplar felizmente tem sido
possível estudar. Este texto não contém nada de
místico ou oculto, mas retém a simplicidade do
original Inglês. Incluído o pensamento alemão
da época, expressa um texto de alto fervor mo-
ral aliado a um generoso espírito de princípios
Humanitários.
Voltando as atividades de Schröder, es-
tas podemos descrever utilizando suas próprias
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Revista Lapideias (Estudos Maçônicos)

  • 1. O NÍVEL MAÇÔNICO: UMA MISSÃO DE NIVELAÇÃO OU DE UNIÃO? John Deyme de Villedieu PortoVelho-Rondônia-Brasil-AnoI-N.º0-EdiçãodoVerãode2013 EdiçãoInauguraldaPrimeiraRevistadeEstudosMaçônicosdaGrandeLojaMaçônicadoEstadodeRondônia A MAÇONARIA EM EVOLUÇÃO Cláudio Santini ASPECTOS SIMBÓLICOS DO TRABALHO EM CANTARIA Roger Avis AS ORIGENS DO RITO YORK Hugo Borges e Sérgio Cavalcante ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRÖDER Hans Heinrich Solf À G.·. D.·. G.·. A.·. D.·. U.·.
  • 2. PODER EXECUTIVO DA GLOMARON Grão-Mestre: Juscelino Moraes do Amaral Grão-Mestre Adjunto: Antônio Alves Pereira DELEGADOSDOGRÃO-MESTRADOPORJURISDIÇÃO Delegado da 1ª Região: Mário Leme da Rocha Junior Delegado da 2ª Região: Nilton Edgard Mattos Morena Delegado da 3ª Região: Edson Vinicius Alves Delegado da 4ª Região: João Carlos Veris Delegado da 5ª Região: Edson Aleotti Delegado da 6ª Região: Jaime Clemente Oberdoerfer Delegado da 7ª Região: Lourival Da Lamarta Delegado da 8ª Região: Pedro José Bertelli Delegado da 9ª Região: João Carlos Volpato Delegado da 10ª Região: Afonso Soares de Albuquerque GRANDES SECRETARIAS EXECUTIVAS Relações Interiores: Deivison Russi Relações Exteriores: Edson Ramos Finanças: Claudio Aparecido Pinto Coordenação e Planejamento: Wladmir José Carranza Publicação e Divulgação: Luiz Carlos Araújo dos Santos Relações Publicas: Noilson Neviton de Souza Bibliotecário: Carlos Alberto da R. Nogueira Historiador: Gilberto Carlos Cantarelli Informática: Jairo Tschurtschenthaler Costa Relações Para-Maçônicas: Antônio Porphirio P. dos Santos Administração e Patrimônio: Itamar José Ferreira Ritualística: Aldino Brasil de Souza ÍNDICE PALAVRA DO GRÃO-MESTRE 3 EDITORIAL4 O NÍVEL MAÇÔNICO: UMA MISSÃO DE NIVELAÇÃO OU DE UNIÃO? 5 A vertical, garante da horizontalidade 5 O estabelecimento da horizontal 7 O aplainamento como matrimônio unificador 10 Maçonaria Operativa e Maçonaria Especulativa 13 ASPECTOS SIMBÓLICOS DO TRABALHO EM CANTARIA13 As ferramentas do Canteiro 14 Relações analógicas entre a cantaria e o trabalho interno 15 Aspectos práticos de como trabalhar literalmente à pedra bruta 17 Conclusão: Iniciações nos mistérios menores e maiores19 ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRÖDER 21 AS ORIGENS DO RITO YORK41 A Grande Loja de Londres 41 Os primeiros maçons da américa do Norte 43 Saint John’s Lodge - a primeira Loja das Américas 44 Os maçons Ingleses e Americanos na Independência dos Estados Unidos 46 O Rito York no Brasil 50 Os membros Fundadores 51 As Lojas Posteriores à Washington Lodge 53 A MAÇONARIA EM EVOLUÇÃO 55 Bibliografia 60 E-Mail para contato: lapideias@gmail.com Salientamos que as matérias aqui publicadas foram examinadas e não encontramos qualquer sinal de cópia não referida ou plágio. Caso haja alguma reclamação sobre este motivo, favor entrar em contato com o Editor desta revista, através do e-mail acima mencionado, inserindo material probatório, que nos comprometemos a fazer a retificação possível. Cabe lembrar que esta revista é de distribuição gratuita, e que não se aufere nenhum lucro com sua distribuição, e que não temos intuito de inserir propagandas comerciais objetivando com isto conseguir numerário para sua edição. Todos os que nela trabalharam o fizeram gratuitamente, sem o intuito de constituir, com isso, alguma renda. Caso se interesse em colaborar com a revista, através de matérias -dentro da proposta acima apresentada, ou de perguntas, entre em contato conosco para examinarmos o material proposto. O Editor
  • 3. Grande Loja se manifesta sobre o 7 de setembro: Independência do Brasil 13/09/2013 Mais de 200 maçons e jovens das ordens “Demolay” e “Filhas de Jó” participaram na noite do último sábado, do desfile de 7 de setembro, em Porto Velho. Os maçons desfilaram com seus paramentos utilizados nas sessões, e levaram para o desfile um pouco da história da participação da Maçonaria no processo que culminou com a independência do Brasil. O desfile dos maçons no dia 7 de setembro faz parte da proposta da Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia de aproximar a Maçonaria das comunidades e também serve para mostrar que a instituição tem uma participação importante na construção de uma sociedade mais justa e mais humana. A Maçonaria esteve presente nos grandes acontecimentos da história brasileira, especialmente naqueles que buscavam garantir ao povo brasileiro a liberdade inexistente no período colonial. Desde então, inúmeros projetos sociaisvêmsendodesenvolvidospelaMaçonaria, sempre contribuindo com o desenvolvimento humano e a melhoria da sociedade. A independência do Brasil tem um significado especial para nós, maçons, pois a Maçonaria teve participação decisiva no movimento, quando propôs, em uma sessão, que se conferisse ao Príncipe D. Pedro I, o título de “Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil”. D. Pedro aceitou o título, propondo apenas a supressão do termo “Protetor”. Os maçons, habilmente, arquitetaram o desenrolar do 7 de setembro de 1822, lançando a idéia da convocação de uma Constituinte, cujo projeto foi redigido por Gonçalves Ledo e José Bonifácio, o patriarca da Independência. Na tarde de 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga, D. Pedro atendeu às recomendações através do Manifesto de Gonçalves Ledo, e o grito, “Independência ou Morte”, foi a denominação de uma das “palavras” da sociedade secreta. No desfile de 7 de setembro, em Porto Velho, os maçons, bem como os jovens Demolays e Filhas de Jó, são saudados pelas autoridades e aplaudidos pela população que reconhece a história de nossa instituição e luta pela construção de uma Sociedade mais justa e perfeita com a trilogia Liberdade, Igualdade e Fraternidade entre os povos e nações. JUSCELINO AMARAL GRÃO- MESTRE DA GLOMARON PALAVRA DO GRÃO-MESTRE
  • 4. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 4 EDITORIAL Já se disse que João Batista vivia pregando no deserto... no deserto do coração dos homens. Nós, tendo João Batista como nosso exemplo, mentor da Maçonaria Simbólica, devemos nos per- guntar o quanto de deserto carregamos em nossos corações. A partir deste momento é racional que se faça uma pergunta para que nós todos meditemos sinceramente: quem afinal é isento de uma missão espiritual? Estabeleçamos, desde já que a reli- gião não monopoliza a espiritualidade, que há aspectos espirituais não religiosos, não mistificado- res, não ocultistas ou fantasiosos, que a maçonaria faz por bem estudar e praticar, ainda que os indique através de outros nomes, como caridade, ou amor fraternal, não importa. No entanto, na atualidade, quase infértil de oásis a fertilizarem as areias deste mundo, perce- bemos muitas vezes que os sonhos e ideais dos homens são castigados pelos ventos do materialis- mo, e o cotidiano vai martelando implacável, até levar grande parte da humanidade, inclusive muitos filhos da viúva, à mais completa afasia. No entanto, há o conhecimento... eis a chave! A chave que abre o cofre onde está guardado um novo universo, cujo aroma rescende à primeira terra molhada pela chuva que lembramos da infân- cia. E tal qual descascar uma cebola, ou se guiar por um fio através de um labirinto aparentemente inextricável, pouco a pouco podemos retornar ao núcleo e despertarmos para o que somos e o que devemos fazer. Eis o conhecimento. O amor... eis a ferramenta! Qual Irmão se sente isento de uma missão espiritual? Qual maçom estaria isento, após receber a Luz, de trabalhar para um mundo melhor? Será que não temos com- promissos com o nosso próximo e podemos deixá-lo sem nosso zelo constante, pois sabemos que outros se encarregarão dele e de seu bem? Esta Revista não foi criada para aqueles que buscam se encher das coisas mundanas, achan- do-as suficientes para sua existência. Esta pequena revista existe para aqueles que têm sede de conhecimento. Foi construída sobre o alicerce do estudo; e se sua débil aparência material possa impressionar desfavoravelmente aos olhos de alguns, ainda assim ela foi construída sobre o caráter daqueles que também consideraram uma missão expressar uma mensagem de conhecimento para estas paragens e –por que não dizer?- para humanidade. Você, que nos lê, é também o artífice desta obra. E caso ainda não tenha colaborado direta- mente, ou indiretamente -o que poderá acontecer num futuro próximo- ainda assim, só o fato dessa mensagem chegar a um emissor, você, isso o torna o maior colaborador que temos! Portanto, queremos que você, leitor, saiba que esta revista existe tal qual uma Loja, onde reno- vamos nosso compromisso com um mundo melhor, a começar de nosso mundo interior, bastião de qualquer outra mudança que queiramos proceder. Esta revista foi criada para este raro tipo de homem, que está em extinção na atualidade, mas que ainda encontramos em nossos trabalhos: O homem que tem um ideal! Que não se conforma com a existência mesquinha, onde números, cifrões e preocupações são o mais importante, mas que busca uma solução, através do estudo de si mesmo, para galgar os degraus da do autoconhe- cimento, que costumamos chamar “escada de Jacó”. Boa leitura, e muito grato! O Editor
  • 5. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 5 A vertical, garante da horizontalidade O Nível, na Franco-Maçonaria, parece-nos sobretudo conhecido como o instaurador da horizontal e, por isso, como o símbolo complementar da Perpendicular, ou Prumo, que, do mesmo modo, determina a vertical. Pode [ser] que isto explique o que as significações que com freqüência se evocam, até hoje em dia, a propósito do Nível, sejam uma lembrança daquilo que o século XVIII em seus últimos anos via, com uma predileção sincera ou oportunista, na horizontalidade. Desta maneira, segundo um “catecismo” dado por um ilustre Maçom antes da guerra, o Nível “tende a nivelar as desigualdades arbitrárias” (1). E o Simbolismo é em nossos dias unanimemente desconhecido (2), até o ponto em que outro autor, em seu Dicionário, consagra ao Nível uma linha e meia para nos dizer que esta ferramenta “simboliza a igualdade”. É curta, e, sobretudo, em razão de certos hábitos mentais de nossa época, um pouco equivocada. O nivelamento tem tanto êxito depois de vá- rios séculos, que fez perder de vista, em sua fú- ria por achatar tudo, [inclusive] a própria origem da palavra, quando esta origem, como se verá, revela muito bem a significação e, além da le- tra, o espírito. Mas não só a linguagem esclarece coisas. O próprio instrumento, que serviu de mo- delo ao símbolo (3), parece-nos igualmente mui- to revelador caso se preste atenção à maneira como está constituído. Efetivamente, ele se com- põe de um esquadro cujos braços estão unidos por uma barra transversal, e de um prumo que desce do ápice de tal esquadro: é no momen- to em que o prumo se situa defronte à “linha de fé”, marcada na barra, que o Nível certifica a ho- rizontalidade que tem como missão assegurar. Desta maneira, se esta ferramenta permite obter a horizontal, ela facilita, além disso -e acima de tudo, a vertical, parecendo assim mais comple- ta que o Prumo, como por outra parte numero- sos autores o têm feito observar. Mas, então, o que poderia surpreender é que, até admitindo O NÍVEL MAÇÔNICO: UMA MISSÃO DE NIVELAÇÃO OU DE UNIÃO? JOHN DEYME DE VILLEDIEU
  • 6. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 6 esta superioridade, considera-se que a vanta- gem dada ao Nível, com relação ao Prumo (4), é devida tão somente ao fato de que estabelece a horizontalidade, enquanto que o Prumo dá a vertical. Perguntamo-nos qual pôde ser o motivo que faz com que se atribua esta preeminência a uma mais que a outra destas direções, o que vai contra à ordem hierárquica habitualmente re- conhecida? Deve-se a esta ânsia “democrática” de nivelar indiferenciadamente tudo, segundo o método confusionista, antes da subversão total? Entretanto, os mesmos dicionários “profa- nos”, que são pouco suspeitos de preocupações esotéricas, deixam entrever a verdadeira signi- ficação do Nível e, portanto, o mistério de sua função. Sem dúvida, num certo sentido, que parece predominante para muitos hoje em dia, nivelar é igualar; trata-se de por tudo no mesmo plano; é fazer tábula rasa do excepcional; em suma, nive- lar por baixo. Em qualquer caso, isto é o que se faz com os trabalhos de nivelamento das terras com toda a brutalidade ininteligente e antiestéti- ca da técnica moderna, e não é surpreendente que nossos contemporâneos, muito mais pene- trados de materialismo do que geralmente se imaginam, retenham do nivelamento, sobretudo, o ato aplanador de algo. Na realidade, nivelar não só é aplainar, mas também, como diz o [dicionário] Robert, “medir as alturas comparativas dos diferentes pontos de um terreno com relação a um plano horizontal dado”. Não se pode atuar sobre as coisas pas- sando sobre elas ou as esmagando, mas sim observando o mundo ao redor, assinalando as linhas características e o relevo. Também, no sentido de aplainar, é unificar, quer dizer unir, embora o dicionário reconheça que este último termo, no sentido de aplainar, tornou-se estra- nho [N.T. - o autor se refere ao sentido encontra- do na língua francesa]. Unir é realizar a unidade, com o qual fica manifesto tudo aquilo que separa esta significação de terreno aplanador do qual partimos (5). Quando se trata do Nível, as definições es- tão de acordo em reconhecer que seu papel con- siste em verificar a horizontalidade de um plano; e é para isto que serve na prática da maçonaria. Mas, caso se deseje aprofundar na significação simbólica, é conveniente entrar em certos deta- lhes cuja evidência é inegável sem dúvida, em- bora os espíritos distraídos e enfastiados de nos- sa época tenham perdido o costume de tomá-los em consideração. Na realidade o Nível tão somente permite estabelecer se dois pontos de uma superfície se encontram à mesma altura, ou se não se en- contram; e o importante é que isto se faz graças a seu prumo que, como dizíamos mais acima, coincide ou não, sobre sua barra transversal, com a marca chamada “linha de fé”. Quer dizer que a verificação da horizontalidade se opera obrigatoriamente [em relação] à vertical. Há aqui um ponto que quereríamos estabe- lecer e que não recordamos havê-lo visto assi- nalado com a insistência necessária, apesar de ampliar e elevar singularmente as significações da “ferramenta” que estamos estudando. O Ní- vel, efetivamente, em seu domínio próprio, é o equivalente da Balança, como o indicam noto- riamente seus nomes latinos respectivos libella (6) e libra, onde o primeiro não é mais que o di- minutivo do segundo. Por outra parte, a palavra “nível” (7) provém da raiz libr-, que comporta a ideia de pesagem, com o que a “ferramenta” ma- çônica, em sua significação simbólica, tem proxi- midade com a Balança. O que é interessante, no que se refere ao Nível maçônico e à Balança tradicional, é que no caso de se tratar de estabelecer a horizontal, é [somente] com a ajuda da vertical que poderá fa-
  • 7. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 7 zê-lo, o que assinala com nitidez a preeminência desta vertical. Deste modo, é no mínimo curio- so constatar que é o inverso o que ocorre nas balanças modernas, porque neste último caso o rigor da pesagem depende -acima de tudo- da exata horizontalidade do plano sobre o qual estão colocados estes aparelhos, como se, até “aleatoriamente”, a produção de nossa moder- na civilização estivesse destinada à subversão. Pelo contrário, a preeminência da vertical sobre a horizontal ainda era respeitada nas antigas ba- lanças, como a que se encontra pendurada na parede da Melancolia de Dürer. Efetivamente, a horizontalidade do braço se verificava pela ver- ticalidade da agulha que se encontra fixada em ângulo reto e que, para ser vertical, devia tomar a mesma direção que o suporte onde repousava o braço, ele próprio suspenso em um ponto fixo e que, como o prumo do Nível, é o garante da verticalidade e, consequentemente, de uma justa horizontalidade. Melancolia - Dürer Estando bem estabelecida a preeminên- cia da vertical quanto a sua necessidade para [a existência] de uma justa “pesagem” da horizon- tal, é interessante recordar que, tradicionalmen- te, esta vertical é o símbolo da Vontade do Céu. Esta, para o entendimento humano, pode to- mar o aspecto de uma força descendente e que “pesa” sobre o destino humano, mas também -e ao mesmo tempo, o aspecto de uma força as- cendente por sua atração; estas forças, que se exercem simultaneamente, representariam bas- tante bem a Justiça rigorosa e a Misericórdia da Árvore Sefirótica, respectivamente. A Vontade de que se trata é por outra parte conforme a “Ati- vidade do Céu”, que parece descender, como a Graça, mas que na realidade incita à elevação (8). Conviria agora estudar o que do ponto de vista simbólico significa a verificação e, de fato, a instituição efetiva (9) da horizontal pela graça da vertical (10). Resulta, efetivamente, que o ver- dadeiro papel do Nível, na arte maçônica, não se limita a constatar uma diferença de altura entre dois pontos, mas sim consiste em reduzi-la, até fazê-la desaparecer. O estabelecimento da horizontal Partindo do fato já estabelecido de que a finalidade do Nível não é nem uniformizar nem achatar, mas sim aplainar, unificar, e, portanto, de unir, existe um meio para tentar compreender no que consiste verdadeiramente a instituição da horizontalidade. Para isso é suficiente ater-se às significações da pesagem levada a termo pela Balança, vocábulo de que vimos em latim sua equivalência etimológica com o Nível. No comércio, para realizar uma pesagem, antigamente ficava em um prato da balança cer- to peso estabelecido pelo pedido do cliente, e no outro prato fragmentos da mercadoria desejada até que esta “fazia o peso”. O ideal que a mer- cadoria escolhida devia alcançar era, em conse- qüência, da ordem quantitativa. No entanto, isso
  • 8. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 8 Os antigos arquitetos e artesãos egípcios usaram o nível triangular e prumo nível para garantir que todas as superfícies de construção eram niveladas e perfeitamente aprumadas. Do túmulo de Sennedjem veio um conjunto dessas ferramentas, incluindo uma haste com a me- dida do côvado real, um nível de triângulo, dois prumos de chumbo, dois esquadros, e várias outras peças. Sennedjem pode ter usado esses instrumentos para a construção e decoração dos túmulos de Seti I e Ramsés II no Vale dos Reis, bem como do próprio lugar onde ocorreu seu esplêndido enterro. Este nível de triângulo é construído de dois pedaços diagonais de madeira unidas em ângulo reto, com um pedaço horizontal entre os dois. O prumo na forma de um coração é suspenso por um fio a partir do topo do ângulo recto, quando o nível está colocado sobre uma superfície plana, a corda do prumo iria ficar exatamente no meio das marcas de incisão no centro da peça horizontal. Se a superfície não fosse devidamente nivelada, o prumo, então, indicaria as correções necessárias. A inscrição, que gira em torno do triângulo pede ao deus Ptah e Re-Horakhty-Atum-Hemiunu para o enterro e benefícios em vida após a morte para o ba de Sennedjem. (O Museu Egípcio, no Cairo) go Egito, e a prova está na arte da Idade Média cristã, onde algumas iluminuras [imagens ilu- minadas] testemunham que a Europa, naquele tempo, conhecia o simbolismo da psicostasia. Observamos então que a Balança, consi- derada em seu sentido material ou em seu sen- tido espiritual, tem por função medir a adequa- ção de uma coisa a seu modelo, caso se trate da adequação de certa quantidade de farinha ao peso exigido, ou da adequação de uma alma à exigência da Justiça equilibrante. Compreendendo agora o que é exatamen- te, do ponto de vista simbólico, a pesagem da Balança, não é difícil deduzir a significação que tem, com o Nível, ou “pequena Balança” (libella), a instituição da horizontalidade. Não se trata de elevar os operários ao nível social dos patrões, delírio utópico ou hipócrita demagogia. Não é tampouco questão de rebaixar os patrões ao
  • 9. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 9 nível dos operários, pura especulação de ódio social. O fim do Nível é promover um aplaina- mento suscetível de resolver as dificuldades, que elas provenham de uma superfície desigual, de uma incompreensão nas relações sociais abrup- tas, ou, no plano espiritual, de uma opacidade rugosa que oculta ao homem suas sumidades luminosas. Aplainar, dissemo-lo anteriormente, é unir, mas é esta uma significação que se tentou suprimir das memórias humanas. Preferiram re- ter as ideias de acordo com um ideal de simpli- ficação e facilidade, ideias que seduzem muito especialmente o mundo moderno, porque elas são a negação de toda vida (12). Dado que o Nível é uma das ferramentas- símbolos utilizadas em uma das raras Organiza- ções iniciáticas que ainda existem no Ocidente, é sobretudo em sua acepção espiritual que aqui nos interessa. Como proceder então ao “aplaina- mento”, à unificação, à união da qual antes falá- vamos? A única maneira de unir irreversivelmen- te os homens entre si é pô-los em situação de intuir e posteriormente descobrir neles mesmos aquilo que os tornam verdadeiramente “iguais” e cuja aparência social e de caráter é tão somente o reflexo mais ou menos fiel, se não a caricatura mais ou menos enganosa. Queremos falar deste elemento que Mestre Eckhart chamava “incriado e incriável”, e que, em cada homem, é o único elemento que o torna não só “igual”, mas tam- bém realmente idêntico a seu “próximo”. Uma das utopias mais perigosas e daninhas do mun- do moderno é querer “igualar” tudo, reunir tudo, unir tudo do exterior, mas negando a única coisa que, no centro de cada homem, faz possível esta união (13). O único e verdadeiro “ecumenismo” é tão velho como o mundo e não é outra coisa que o resultado do conhecimento esotérico que per- mite perceber, sob a variação dos diversos “cli- mas” religiosos, a unidade essencial que trans- cende as expressões particulares para fundi-las na mesma Identidade. Se a união entre os homens passa pelo re- conhecimento prévio daquilo que é o único que pode uni-los, é evidente que o primeiro passo consiste em reconhecer no mais profundo de al- guém aquilo que o converte em verdadeiramen- te idêntico a todos os outros, sem distinção de sexo, raça ou religião. Uma vez reconhecido este elemento, e tendo em conta que se trata de algo eminentemente senhorial, todas as inumeráveis aspirações individuais produtoras de caos têm que se subordinar a tudo que ele suscita de as- piração central. Isto quer dizer que corresponde a cada um realizar em primeiro lugar a unidade em si mesmo. Assinalemos aqui algo que poderia passar por uma simples coincidência, mas que nós con- sideramos como uma confirmação do que esta- mos dizendo. Trata-se de uma semelhança con- sonantal parcial que, por intermédio da raiz LB, opera uma aproximação entre o latim libra, que designa a balança, e o hebraico leb, que designa o coração, o único “lugar” que, por sua posição central, permite ao homem realizar o equilíbrio harmonioso do qual falamos. A raiz hebraica de que se trata evoca por outra parte a audácia e qualquer atividade produtora interior. Quer dizer que ela expressa com bastante exatidão a orien- tação da consciência e das aspirações humanas para seu centro espiritual (14). Esta aproximação lingüística, curiosa pelo menos, parece-nos digna de certa atenção, pois deixando à parte qualquer questão de etimolo- gia, sempre permanece o fato de que tanto a Ba- lança quanto o Nível se mostram perfeitamente capazes de velar pela transmutação espiritual de que estamos falando, podendo aparecer por isso como os instrumentos de uma conversão unifi- cadora da qual só pode sugerir-se sua profundi- dade.
  • 10. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 10 O aplainamento como matrimônio uni- ficador Contribuiremos agora algumas conside- rações complementares sobre o sentido desta “síntese” equilibrante a se realizar pelo homem e, em primeiro lugar, conviria não se deixar en- ganar pelas significações que os hábitos men- tais do Ocidente moderno acabaram por impor a determinadas palavras. Por isso, é necessário guardar na memória o princípio da pesagem es- piritual que o antigo Egito, por exemplo, deixou- nos como modelo. Entre o coração humano em um lado da Balança e, no outro, a Verdade e a Lei divina, não existe, entenda-se bem, nenhum ponto de comparação salvo o que possa haver entre a Luz e um de seus brilhos. Não se tra- ta de fazer uma boa mescla de suas aspirações individuais e de sua aspiração central. A união de que estamos falando aqui não é um coque- tel. Trata-se do matrimônio do indivíduo com o Si universal, e, em tal matrimônio, o indivíduo se funde no Si, até o ponto em que suas aspirações não tenham mais nada de individual nem de múl- tiplo, mas apenas se reduzam a sua aspiração essencial, que não é outra que o reflexo do Que- rer divino. Assinalemos que no matrimônio do Si tudo está, por fim, aplainado, tudo está perfeitamente unido, liso e sem rugas. Entretanto, na relação de adequação do símbolo àquilo que ele simbo- liza, alguns poderiam opor uma objeção. Se o Nível permite elevar as coisas à mesma altura, o que está em concordância com o matrimônio de que estamos falando, também serve para ni- velar, e é aqui onde se pôde deslizar o sentido forçado (15) que com tanta freqüência se utiliza hoje em dia, seja de uma maneira simplesmen- te pejorativa, ou de forma reivindicativa e mais ou menos rancorosa. Agora, caso se rechacem todas as utilizações desta palavra com fins po- líticos ou sociais que, tal e como se entendem atualmente não saberíamos no que poderia nos interessar, é evidente que suas significações não têm nada de pejorativo nem de rancoroso, como Nível-Amuleto de pedreiros egípcios (Williams Colle- ge Museum of Art)
  • 11. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 11 testemunhava o primeiro dicionário consultado. Além do mais, caso se considere a utilização do Nível para fazer descer um elemento à altura de outro, encontramos uma aplicação imediata dis- so no próprio processo do matrimônio simbóli- co -mas real- considerado anteriormente. Se a consciência individual nos aparecer em pleno impulso para a sumidade, onde se fará possível a união tão desejada, existe também outra ima- gem que no âmbito espiritual se cita com bas- tante freqüência: o homem não faz o caminho só porque Deus vem a seu encontro (16) e, por isso, deve necessariamente consentir em “descer” de suas alturas. Entenda-se, estas não são senão imagens que tentam traduzir o melhor possível, em uma linguagem muito inadequada, a espera divina e a esperança humana que acabarão por reunir-se cedo ou tarde. Há aqui uma convergên- cia onde seria difícil dizer qual é o primeiro insti- gador se não se soubesse sempre que tudo se submete, de bom grau ou não, à Vontade divina. A pesagem que mais acima evocávamos é, por outra parte, uma imagem expressiva dos mo- vimentos de elevação e descida de que estamos falando. Como em qualquer deliberação (17) onde se pesam os elementos em questão, existe uma oscilação característica da Balança. Entre- tanto, não terei que acreditar que esta alternân- cia de movimentos inversos sempre se resolva finalmente por uma conclusão favorável ao que é pesado. Quando Maat desce em seu prato, o coração do defunto se eleva no seu, mas quando Maat se faz muito leve, tênue, inacessível, então o coração humano cai e sucumbe a seu peso. Isto não nega tudo que dissemos do equilí- brio essencial da Balança e do Nível. Certamen- te, na economia universal, existem elementos a depurar e outros a eliminar, mas isto jamais se faz em um ambiente denegritório e de ódio. Só importa a euritmia e, para nos limitar ao simbo- lismo da pesagem, embora lhe dando uma di- mensão universal, caso se desça em um ponto do cosmo, eleva-se em outro ponto, de tal forma que sempre se preserve a harmonia geral das coisas. É o que a tradição chinesa denomina as “ações e reações concordantes”, cujo equilíbrio está situado no “Invariável Meio”, equilíbrio que não é outro que o reflexo da “Atividade do Céu” evocada anteriormente (18). Vemos como o Nível, na ordem simbólica e espiritual, é perfeitamente apto para cumprir a missão que aqui lhe reconhecemos, esteja, por outro lado, na mão do Maçom ou na do Grande Arquiteto, o qual, do ponto de vista em que con- sideramos as coisas, deve ser o mesmo, pois é sempre o Grande Arquiteto o que guia a mão do Maçom, ao menos na medida em que este reali- za uma obra de Mestre. É a este dever espiritual de elevação cor- retora e de condescendência misericordiosa (19) ao qual deveria estar consagrado o Nível maçô- nico em sua acepção mais alta, e é assim com toda certeza como o entendiam antigamente os melhores de nossos construtores de catedrais. Sempre há “templos” a “elevar”, como há “mas- morras” a “cavar”, e aqueles que reclamam das exigências interiores em nada cedem às prodi- giosas construções medievais. Desta maneira, quando se provê de seu Nível, o Maçom terá “aplainado” em si mesmo os obstáculos que o separam da única Realidade resplandecente, quando se acha desembaraçado de todas suas travas egocêntricas, quando, livre enfim, verda- deiramente será uno com seus Irmãos e com to- dos os homens que, como ele, caminham pelo mundo (20). A coisa não é fácil de realizar, pois, como dissemos, facilidade e simplificação, embora satisfaçam à preguiça moderna, entretanto con- duzem para um beco sem saída. Pelo contrário, “não é necessário esperar para empreender, nem obter para perseverar”, e se a via espiritual
  • 12. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 12 pode ser larga às vezes, não faltam flores para balizá-la e compensar assim os rigores. Além disso, como escrevia René Guénon, “quem esti- vesse tentado a ceder ao desespero deve pensar que nada do que é realizado nesta ordem pode perder-se, que a desordem, o engano e a escu- ridão só podem dominar na aparência e momen- taneamente, que todos os desequilíbrios parciais devem convergir necessariamente no grande equilíbrio total e que nada poderá prevalecer fi- nalmente contra o poder da verdade; sua divisa deve ser a que adotaram antigamente certas or- ganizações iniciáticas do Ocidente: Vincit Omnia Veritas [a “Verdade Sempre Vencerá”]. (21) Notas (1) Sem dúvida, isto hoje em dia seria um pleonasmo, pois devido ao progresso uma opinião “se” foi forjando pouco a pouco, para a qual qualquer desigualdade é arbitrária. (2) O desdém para com o Simbolismo é a conseqüência lógica da igno- rância de nossa época com tudo o que tem relação com a Metafísica. (3) E não o nível moderno, com borbulha de ar, o qual se chama “nivela”. (4) efetivamente, na Franco-Maçonaria, é ao primeiro Vigilante a quem se atribui o Nível, enquanto que o Prumo corresponde ao segundo Vi- gilante. (5) Unificar não é uniformizar, como pensa o estúpido modernista: é justamente o contrário, pois para unificar é necessário sair do mundo das formas. (6) Libellus em latim popular. (7) Derivado do francês antigo livel, e inclusive do inglês level. (8) Tal é, por exemplo, a Graça que desce sobre aqueles que, no Islã, seguem o “caminho reto”, bem conhecido por sua verticalidade e por propor uma direção ascendente. (9) Esta consideração é necessária, já que no curso de suas numero- sas verificações o que o Nível constata é o fato de que a horizontali- dade nunca está estabelecida, e consequentemente fica por realizar. (10) Poderia ser que isto mesmo não esteja muito longe daquilo que dizia João, o Batista, quando recomendava “aplainar os caminhos do Senhor” (Mateus III, 3). (11) Esta idéia de elevação, que é o contrário da de nivelamento, en- contra-se no latim aequare: efetivamente, além das significações de “aplainar”, ou de “unificar”, de “pôr ao nível de”, de “comparar”, também comporta as de “igualar” e “obter”. (12) Os promotores do mundo moderno não são acaso os inimigos de toda via, de toda verdade e de toda vida? Esperam triunfar expandindo sua desordem libertária, seu pensamento falacioso e os venenos de suas sujas indústrias. (13) Não se trata de uma simples utopia nascida dos cérebros mais ingênuos, mas sim de um cálculo premeditado, retorcido e criminoso, que parte daqueles que conduzem “este” mundo e que, nos fazendo ver que procuram a paz, não perdem ocasião de promover todas as fricções, ódios e mortes. (14) A palavra árabe lubb, que designa o núcleo, o coração, a essência de uma coisa, parece estar formado de uma raiz semítica comum com o hebreu leb da qual estamos falando. Evoca a mesma centralidade e a mesma espiritualidade interior: por isso se diz que o sufismo é o “núcleo” ou o “coração” do Islã. (15) Foi forçada “esquerdizando-a”. Mas esta simultaneidade na ação de maneira nenhuma exclui uma sucessão lógica de dois fatos: é a vontade do esquerdismo a que torna inevitável violar a significação. (16) Desta maneira o Cristo se fez homem para salvar aos homens: ele desce para que estes possam elevar-se. (17) As duas palavras “deliberação” e “nível” derivam da mesma raiz libr. (18) R. Guénon aborda este assunto nos Principes du Calcul infinitési- mal, P. 105, 108. (19) Utilizamos o termo de condescendência no sentido, desgraçada- mente em desuso, de uma espécie de benevolência para aqueles que estão menos avançados no Caminho do Conhecimento. Curiosamente, o [dicionário] Pequeno Robert, na mesma ordem de ideias, cita a “con- descendência de um iniciado para com um profano”. E é também no mesmo sentido de “compaixão” e de “compartilhar” como nós entende- mos aqui a misericórdia. (20) Se diz que o Maçom deve ser um homem “livre e de bons costu- mes”, e vimos que sua autêntica liberação, que é uma elevação, não poderia encontrar uma origem melhor que na utilização judiciosa do Ní- vel. Seria então interessante operar uma aproximação lingüística entre o termo “nível” e o de “liberdade”, que, pelo que parece, nunca se ten- tou. O francês “niveau”, o inglês level e o francês antigo livel, que têm a mesma significação, pertencem à mesma família lingüística que o latim libra (= balança, peso de 12 onças) e o grego litra, com igual sentido. Grandsaignes d’Hauterive não vai além das raízes libr- e litr- que de- signam, segundo ele, um “objeto que serve para pesar”. Anteriormente vimos como a pesagem exercida pela Balança e pelo Nível pode ser tomada em relação com a liberdade da alma e também com sua Libe- ração. Agora, as palavras francesas liberação e liberdade, o latim liber e o grego eleutheros (= livre), Grandsaignes d’Hauterive os relaciona com a raiz indo-europea leudh-, à qual dá por significação a “ideia de elevar-se”. Não deixa de ser interessante observar que se a etimologia renunciar aparentemente a relacionar entre si as ideias de nível, de pesagem, de elevação e de liberdade, pelo contrário o simbolismo não deixa de fazê-lo, como corresponde a sua missão unificadora. (21) La crise du monde moderne, pág. 134 [final]. Tradução: Roger Avis
  • 13. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 13 Maçonaria Operativa e Maçonaria Espe- culativa Na passagem da maçonaria operativa para a maçonaria especulativa, muitos dos detalhes da nobre arte da cantaria foram deixados de lado em prol da adaptação realizada. Os livres pensadores que adotaram os ensinos maçónicos não estavam interessa- dos na prática manual do canteiro, que era um serviço pesado e, portanto, buscaram simplificar no simbolismo. Esta simplificação simbólica trouxe um re- lativo “empobrecimento” no sentido do conheci- mento da arte, onde diversos detalhes do traba- lho nos canteiros, ao serem deixados de lado, obscureceram facilitações teóricas no caminho do auto-conhecimento. Para se adentrar mais nestes aspectos, e verificar sua real importância, devemos dizer que a palavra “cantaria” vem, etimologicamen- te, do latim “canthus”, que significa “aresta” (1). Desta forma, o conceito de cantaria se refere ao trabalho em pedras objetivando seu esquadreja- mento, ou a sua formatação no sentido de servir ao projeto construtivo. Na maçonaria especula- tiva, simplificamos: “tornar a pedra bruta em pe- dra cúbica”. O que é do desconhecimento da maioria dos maçons é o fato de que o conhecimento tra- dicional sobre o trabalho operativo era transmi- tido através de técnicas que sempre buscavam um sentido efetivo de aperfeiçoamento não só do trabalho, mas também do profissional, pois se entendia que a perfeição daquele passava pela perfeição deste, em todos os aspectos, dentre eles o prático, o psíquico e o intelectual. Quanto mais aperfeiçoado internamente, mais Aspectos Simbólicos do Trabalho em Cantaria Ir. Roger Avis Se o eterno não edificar a casa, em vão trabalham aqueles que a edificam. Salmo 127:1 (Cântico das peregrinações de Salomão) Aplicai-vos, pois, de todo o vosso coração e vossa alma a buscar o Senhor vosso Deus. Construí o santuário do Senhor Deus, para trazer a arca da aliança do Senhor e os utensílios sagrados de Deus ao templo que será edificado ao nome do Senhor. 1 Crônicas 22:19 O Eu é o mestre do eu. Cada um é o seu próprio mestre e refúgio, quem outro poderia ser? O completo domínio de si mesmo é o único refúgio, difícil de alcançar. Sidarta Gautama (Buda)
  • 14. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 14 perfeita será a habilidade do obreiro e, conse- quentemente, da obra. Aqueles que estudam os textos antigos percebem que a utilização metafórica do traba- lho comum, analogicamente relacionado à es- piritualidade, é algo constante nas civilizações do passado - egípcia, caldaica ou medieval, ou por aqueles que, nos sertões mais afastados dos grandes centros urbanos, ainda empregam aquelas técnicas artesanais tradicionais. No Oriente, por exemplo, existia toda uma explicação simbólica para a prática do ofício da tecelagem, onde os fios paralelos, presos ao tear, são os influxos espirituais manifestados através das leis universais, enquanto que os fios hori- zontais, adicionados ao serem tecidos, são as atividades nos planos manifestados. Assim, sim- bolicamente, nossas ações, quando levando em conta os influxos espirituais do “Grande Tecelão do Universo” (2), só poderão ser realmente profícuas a partir do momento em que com estas sejam harmônicas. A falha de um ponto na tecelagem poderia deitar fora todo o trabalho. Da mesma forma, no ocidente, te- mos exemplos de diversas profissões -senão todas as que existiam na antigui- dade ou idade média- que se utilizavam desta espécie de simbolismo para ensi- nar que, ao se trabalhar o material, tam- bém se trabalhava em outros aspectos do ser, e que era necessário ter atenção para isto. A matéria-prima artesanalmen- te trabalhada pelo obreiro era o espelho onde ele poderia apreciar seu próprio caráter. Outra coisa que é geralmente menospre- zada pelos estudiosos é o fato da maçonaria operativa ter em seu bojo aspectos filosóficos profundos, e que a maçonaria especulativa so- mente pôde frutificar em seus estudos porque isto já era uma realidade à época de seu nasci- mento. Alguns estudiosos, inclusive, desprezam esta espécie de abordagem, entendendo que apenas com a maçonaria especulativa é que se obteve um aprofundamento no conhecimento, tendo em vista o advento no seio daquela ordem de pessoas letradas, pensamento com o qual, respeitosamente, não nos alinhamos. Essa espécie de perspectiva toma por base um preconceito cultural, onde se estende o olhar de nossa época para medir todas as épocas an- teriores. E este preconceito, que não sabe en- xergar seu próprio anacronismo, faz com que os sábios de nosso tempo se limitem a uma forma de pensar estreita, sem realmente aproveitar o conhecimento oriundo da antiguidade. Mas, isto já seria a matéria de um outro trabalho. Apenas mencionamos para que o leitor possa levar em conta, também, que se quisermos extrair a es- sência de qualquer coisa, devemos conhecê-la sem preconceitos, conforme é propalado pelos mesmos ensinos maçônicos (3). As ferramentas do Canteiro (4) Como são desconhecidas pelos maçons atuais muitas das ferramentas dos canteiros, abaixo vão exemplos de algumas poucas ferra- mentas modernas utilizadas atualmen-te no tra- balho de cantaria artesanal, fabricadas pela em- presa americana Trow Holden Company (5): Como se pode perceber, existe uma infini- dade de ferramentas utilizadas no trabalho do canteiro além daquelas mencionadas na maço- naria especulativa. É óbvio que os processos de formatação da pedra bruta atravessavam uma série muito maior de detalhes, hoje desconhe- cidos na maçonaria especulativa, que levavam os mestres obreiros a situações reflexivas não encontradas na especulação. A figura do camartelo (ferramenta pareci- da com um martelo pontiagudo, que é utilizada para o primeiro trabalho, mais grosseiro, na pe- dra bruta), por exemplo, utilizada no Rito Schrö- der, provém da mais antiga tradição dos maçons operativos, não absorvida pelos outros ritos em
  • 15. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 15 geral. Numa miniatura do séc. XV, do artista fran- cês Jean Fouquet, mostra-se a utilização desta ferramenta para o desbaste da pedra bruta. O “buril” (6), no caso do trabalho em pedra, trata-se de uma espécie de cinzel pontiagudo [conforme o Hou-aiss, “ferramenta de aço com ponta oblíqua cortante (... ) para lavrar pedra”], que vai dar um trato rústico na pedra, podendo ser usada após o “camartelo”, ou já direta-mente (dependendo do tipo da pedra). Também pode ser utilizada para o início do acabamento no caso de figuras escultóricas. A abordagem que efetuamos neste título serve apenas para demonstrar que os conheci- mentos relativos ao trabalho maçónico operativo tinham detalhes muito maiores do que os apre- sentados atualmente, e que a riqueza destes de- talhes poderia levar a aspectos desconhecidos de um simbolismo mais claro e preciso, objeti- vando, também, maior precisão no processo de autoconhecimento e aperfeiçoamento. Ativemo-nos em considerar apenas o tra- balho em pedra porque era a perspectiva do tra- balho dos canteiros, da qual a maçonaria surgiu. Outras profissões tradicionais vão conter simila- ridades com o que aqui foi descrito. Relações analógicas entre a cantaria e o trabalho interno A Extração da pedra-bruta diretamente da pedreira é muito similar à escolha efetuada do profano apto a entrar na maçonaria. Afinal, a sociedade profana muito se assemelha a uma pedreira, onde a multidão sufoca o talento indivi- dual, fazendo com que muitas vezes o indivíduo não encontre seu caminho. É necessário acrescentar que, seguindo a tradição da maçonaria brasileira, os profanos são escolhidos para integrarem a sublime or- dem. Isto faz-nos considerar a maçonaria como o artífice que visita a pedreira em busca do ma- terial necessário para cumprir a sua obra, en- tendendo, queremos deixar claro, a ordem como um canal que veicula forças superiores a este estado de manifestação. Sobre este fato, podemos considerá-lo ain- da de duas formas: de maneira macro-cósmica ou microcósmica. No primeiro aspecto, o artífice seria o GADU que escolheria os aptos a veicu- larem seus desígnios na consubstanciação do Templo Universal. Micro-cosmicamente, o pró- prio iniciado, em seu trabalho meditativo, identi- ficaria os aspectos de seu ser que deverão ser pinçados de seu interior e trabalhados conforme estes mesmos desígnios, para que a verdade seja expressa. O maçom deve aprender a reconhecer no emaranhado informe de sua existência cotidiana os aspectos sublimes de seu ser, e seu trabalho é reconhecer quais deles deverá trabalhar du- rante sua vida para melhor expressar sua des- treza, ou sua sintonia com o Todo. A isto as pes- soas costumam chamar, talvez impropriamente, de “missão”. Na atualidade, o maçom pode ter em sua frente uma quantidade enorme de pers- pectivas onde expressar sua vida. Contudo, somente aquelas que coadunam com seu cará- ter é que lhe trarão a verdadeira realização. As outras deverão ser desprezadas, porque quem tudo quer, nada consegue. Se o iniciado escolheu a matéria prima correta onde trabalhar, ou seja, escolheu os as- pectos de si mesmo que deverão receber sua atenção de agora em diante, e que serão traba- lhados com suas virtudes, seu trabalho não será em vão. Contudo, se há falhas na matéria prima, ou seja, se não escolheu corretamente o aspec- to que deverá ser trabalhado, deverá retornar à pedreira de si mesmo e, através de um estudo mais aprofundado e orientado, encontrar o ma- terial correto para seus objetivos (7). Após um exame acurado, enxergam-se as matérias primas interiores misturadas com outros agregados psíquicos, frutos estes de di- versas origens, principalmente dos preconceitos e erros que nos habituamos a aceitar e conti- nuamos a engendrar, seja da criação, seja da influência da sociedade. A origem pode ser gros- seira (agressões, vícios, luxúria, etc.) ou mais imperceptível (costumes, sofismas, paradigmas, etc.). Logo após de escolhida a matéria prima, o maçom deverá fazer um desbaste acentua- do, onde as maiores imperfeições são retiradas. Podemos, simplificando, encontrar três pontos a serem trabalhados em primeiro lugar: físico, psíquico e mental. É claro que não existem fron- teiras estanques entre eles, e que os aspectos a serem trabalhados podem conter características de todos estes: um pouco mais de um, um pou-
  • 16. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 16 co menos de outro. Por exemplo, a glutonaria: existe a ne- cessidade de se encontrar a raiz psicológica que induziu o indivíduo a tal situação para extirpá-la completamente; contudo, em determinados ca- sos, se não houver uma modificação radical no jeito de se alimentar talvez a base material onde trabalhamos, que é o próprio corpo, pode deixar de existir e o indivíduo simplesmente morrer, an- tes de encontrar essa raiz psicológica e extirpá-la. Logo a seguir, fazemos um pequeno esboço destas considerações acima, trazendo, de ma- neira superficial, algumas analogias necessárias Cantaria Aspecto Físico Aspecto Psíquico Aspecto Mental (8) Burilar (9) Extirpação de hábitos ex- tremamente danosos à saúde: fumo e drogas. Eliminação de sentimen- tos extremamente gros- seiros como ódio ou ira. Considerar-se como um receptor, estando pronto ao aprendizado. Dentear Aperfeiçoamento dos há- bitos tendo como meta melhor saúde: alimenta- ção. Cultivo da paciência e da conformação (10). Estudar os ensinamen- tos maçônicos, buscando compreender e memori- zar o relevante. Cinzelar Domínio de sua vida se- xual. Cultivo do amor fraternal. Meditar sobre os ensina- mentos e excluir o supér- fluo. Esmerilar Domínio sobre a respira- ção. Cultivo do Amor incondi- cional. Compreender a verdadei- ra natureza do Homem. Polir Domínio sobre todos as- pectos fisiológicos. Superação da individuali- dade. Libertação dos conceitos, em busca da Suprema Identidade. dos trabalhos da cantaria com os trabalhos que o maçom deve perpetrar em si mesmo para seu crescimento e aperfeiçoamento: Nos exemplos acima demonstrados na ta- bela, devemos levar em conta que esta relação não é finalista, apenas exemplificativa. Cada um deve aprender a conhecer seu próprio caráter e, através do estudo sincero e objetivo, levando em conta os ensinos tradicionais, reconhecer a graduação com que deve ser efetuado do tra- balho interior. Cada um, dentro de suas carac- terísticas próprias, deve saber encontrar quais aspectos deverá trabalhar dentro de si mesmo. O que devemos entender é que, dentro da perspectiva maçônica, em todos os aspectos está envolvido um caráter gradual de crescimen- to (veja o simbolismo da escada), que deve ser levado em conta a partir do momento em que se decide trabalhar sobre si mesmo. Não se pas- sa para o próximo degrau enquanto o anterior não estiver trabalhado. Da mesma forma não se cinzelará enquanto o denteamento não estiver totalmente pronto. Ao se transportar à perspectiva da maço- naria especulativa o trabalho de cantaria, per- cebe-se que houve uma grande simplificação, tendo em vista que já não se tratavam mais de operários da pedra, mas de livres pensadores, que desconheciam a espécie de trabalho efetua- do, ou não queriam se ater a este. Contudo, dentro do conhecimento tradicio- nal, os trabalhos operativos tinham o objetivo meditativo, onde o artesão utilizava seu trabalho com o sentido de se aperfeiçoar. Como já foi descrito, havia no trabalho de transformação da pedra bruta em cúbica uma dedicação de dias, variando conforme a comple- xidade do trabalho e da dureza do material, onde uma falha poderia fazer perder todo o processo. Por este motivo, havia a necessidade de se ter, em primeiro lugar, paciência. Este trabalho de
  • 17. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 17 Aspectos práticos de como trabalhar literalmente à pedra bruta Em primeiro lugar, antes da existência da matéria prima para o trabalho do canteiro, há a necessidade da sua ex- tração na pedreira. Neste momento, o artífice escolhe na fonte de qual lugar quererá extrair o material que deseja. Deve levar em conta para que propósito se utilizará a pedra, pois a escolha do lugar da pedreira já influi na espécie de matéria prima que se obterá. Após a extração da fonte, ou seja, o nascimento da pedra-bruta em sua forma individual, traça-se todo um plano em que são considerados os métodos de trabalho no sentido de buscar como resultado a adaptação da matéria-prima ao lugar em que ela está destinada. Podemos chamar de aperfeiçoamento, neste caso, o caminho que se faz da pedra bruta até chegar à pedra polida. Este trabalho, didaticamente, poderia ser classificado em cinco partes: 1) Punçoar ou burilar - neste momento, fazemos com que as grandes diferenças existentes sejam atingidas pelo buril até que fiquem pequenas. Neste trabalho, conforme mostra a figura a seguir, deixam-se normalmente estrias em diagonal; 2) Dentear - depois do burilamento, utilizamos o cinzel denteado para diminuir ainda mais as diferenças, buscando eliminar as estrias do trabalho anterior, deixando as marcas dos dentes desta ferramenta. O cinzel denteado deve ser utilizado de forma reta, no mesmo sentido das laterais da pedra utilizada. Utilizam-se para isto diversos cinzéis denteados, dos de dentes maiores aos de dentes menores, até ser utilizado, finalmente, o cinzel sem dentes, mais conhecido na maçonaria especulativa. Alguns chamam o cinzel denteado de buril, também; 3) Cinzelar - o cinzel, propriamente dito, conforme demonstrado na maçonaria, é utilizado neste momento. Neste caso, começa um trabalho de alisamento da pedra, eliminando a maior parte das marcas anteriores; 4) Esmerilar - a pedra de esmeril é utilizada, suavizando o máximo possível as marcas do cinzel. Na maçonaria operativa, observava-se um movimento manual contínuo e circular e, aos poucos, e adicionando constantemente a água para eliminar obstruções (escorregar), a superfície ia ficando lisa; 5) Polir - para finalizar o serviço, e a superfície ficar totalmente lisa e espelhada, utilizam-se lixas de diversas gra- naturas (de 150, 220, 300 e 600), gradualmente da mais grossa para a mais fina. mos concluir que se tratam de processos em que a força é fundamental, sendo caracterís- tico da passagem de uma fase para a outra a diminuição da força e o aumento da destreza. Poderíamos identificar desta forma: a) Burilar - mais força e menos destreza; b) Dentear - força e destreza na mesma medida; c) Cinzelar - mais destreza do que força. Isso demonstra que os próprios proces- sos de trabalho no caráter também apresentam aspectos em que determinados pontos de vista devem ser abordados. A princípio, a força é ex- tremamente necessária para excluir os defeitos mais evidentes. Dentro da maçonaria especula- transformação está muito ligado, neste caso, à paciência que temos ao abordar uma determi- nada matéria-prima. Se vamos impetuosamente sobre ela, podemos errar. Se utilizarmos força minúscula, podemos demorar além do necessá- rio. Neste caso, as virtudes seguintes que se ligavam ao processo de transformação eram o equilíbrio e a firmeza. Podemos, assim, já neste momento, encontrar similaridades entre o traba- lho externo, na pedra, e o trabalho interno, no caráter. Sobre o burilar, dentear e cinzelar pode- Figura adaptada do livro “The Complete Book of Self-Sufficiency”, de John Seymour.
  • 18. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 18 tiva, os aprendizes sentam-se no lado norte, sob a égide do Irmão 1.° Vigilante, que é o respon- sável pela veiculação da força numa Loja. Este fato é bastante característico, tendo em vista o trabalho mais forte que se deve ter quanto aos aprendizes, ainda eivados de profanidades. No entanto, com a sequencia do trabalho, já a experiência (que na maçonaria é o conheci- mento teórico adquirido e praticado) aliada com a destreza vem se tornando muito mais impor- tante, chegando ao ponto de ser quase a única determinante. A experiência, ou a perícia, são o aprimoramento do conhecimento do artífice em sua própria arte. O maçom, no hábito de traba- lhar sobre si mesmo, encontra a própria arte que o conduz ao aperfeiçoamento cada vez mais re- finado. Quando falamos nos trabalhos que efe- tuamos sobre o nosso próprio caráter, sobre o cinzel e o malho, temos que levar em considera- ção, também, os ensinamentos que a maçonaria especulativa transmite aos obreiros. Abordá-los, neste momento, é necessário no sentido de nos conduzirmos a um aprofundamento ainda maior sobre este trabalho. Lavagnini diz o seguinte: (... ) o malho e o cinzel, como instrumentos propriamente ati-vos, representam exatamente os esforços que, por meio da Vontade e da Inteligência, temos de fazer para nos aproximarmos da realização efetiva desses Ideais, que representam e expressam a perfeição latente de nosso Ser Espiritual. O malho, que utiliza a força da gravidade de nossa natureza subconsciente, de nossos instintos, hábitos e tendências, é pois, representativo da Vontade, que constitui a primeira condição de todo progresso e é ao mesmo tempo o meio indispensável para realizá- lo. (11) Isto que Lavagnini diz é simplesmente o básico a ser mencionado sobre os aspectos da utilização do buril e dos cinzéis, juntamente com o malho. Encontraremos em diversos auto- res poucas variações, nada substanciais. Todos eles funcionam simbolicamente da mesma for- ma (seja o buril ou os cinzéis), tendo, contudo, cada um, suas características próprias, já men- cionadas. O que geralmente não se fala é quem, ou o que, é o responsável pela movimentação des- sas ferramentas supra mencionadas. Guénon nos fala da Divina Personalidade, que é quem Pedreiros trabalhando (miniatura do séc. XIII)
  • 19. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 19 fala atrás da máscara - a persona, que é a nossa individualidade. É esta Divina Personalidade a verdadei- ra responsável pelo manejo dos instrumentos. E no caso do trabalho operativo sobre o nosso próprio caráter, a matéria prima, que somos nós mesmos, é a desculpa (grosso modo) necessá- ria para que esta essência real de nosso ser se manifeste. E este é o verdadeiro trabalho do ini- ciado: não é olhar os instrumentos vibrando na frente de seus olhos, mas perceber quem olha. Não é se prender à vontade e à inteligência, mas suprimir esta atenção aos instrumentos, e voltá- -la ao verdadeiro artífice interno (12). Falar mais sobre o simbolismo dos cinzéis e do malho seria supérfluo neste momento. Di- versos manuais sobre o assunto já discorreram o suficiente para que necessitemos continuar aqui. Somente queremos alertar que o simbo- lismo deve ser visto no coração, e presenciado também no coração para que seja realmente efetivo. Quanto ao esmerilar e polir, que são traba- lhos onde a força já não é tão importante, mas principalmente a destreza, carregam consigo um aspecto fundamental: o movimento circular. Ao movimentar a mão com o esmeril, ou com a lixa, o obreiro segue compassadamente uma ordem, onde toda a superfície é atingida para se chegar ao obje-tivo. Sabemos que o círculo é o símbolo do infi- nito e da perfeição. A circularidade do movimen- to da lixa na face quadrada do cubo nos parece carregado de reminiscência no tocante à qua- dratura do círculo. O círculo vem aperfeiçoando a face quadrada da pedra cúbica. A utilização da água é revestida, também, de seu caráter simbólico. A água, sendo utiliza- da como é, torna-se o veículo para a perfeição. E dentro do simbolismo esotérico encontramos na alma a referência da água. A água, batizando a pedra, torna-a capaz de receber a perfeição do artífice, bem como de chegar à realização do trabalho. Somente através da alma o espírito pode realizar a obra. O obreiro, neste ponto do trabalho, ao passar a mão pela superfície completa da pe- dra, deve demonstrar a sensibilidade necessária para compreender que já extraiu da pedra bruta a pedra cúbica. Conclusão: Iniciações nos mistérios menores e maiores Especificamente quanto ao trabalho de cantaria, da formatação da pedra, ele se relaciona ao que os gregos antigos chamavam de “mistérios me- nores”. A iniciação nos mistérios menores bus- cava com que o homem expressasse o máximo de sua perfeição enquanto homem. Na maço- naria simbólica atual, estas considerações esta- riam demonstradas principalmente nos graus de companheiro e aprendiz. As iniciações nos mistérios maiores busca- vam com que o homem superasse sua condição individual e se unisse à divindade. Enquanto as iniciações dos mistérios menores apontavam o caminho à perfeição humana, as dos mistérios maiores apontavam para uma perfeição divina, a do homem transcendente. Seria, neste caso, a segunda morte, apre- sentada na maçonaria no magistério maçônico. A iniciação nos mistérios maiores estaria simbolicamente relacionada mais diretamente ao ofício da arquitetura e da efetiva construção, o que pode ser tema de outro trabalho. Este trabalho apenas pincelou algumas considerações superficiais sobre o ofício de can- teiro, que poderão ser aprofundadas na no estu- do, pesquisa e meditação de cada obreiro. Cum- pre destacar que o ensinamento maçônico tem sido habitualmente utilizado em limites aquém de seus objetivos, e cabe a nós, maçons, co- maçons operativos
  • 20. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 20 meçar a mudar esses limites e parâmetros esta- belecidos, sob pena de contribuirmos cada vez mais para o desaparecimento virtual e, após, efetivo de nossa Augusta Ordem. Assim, os estudos elaborados na atuali- dade devem procurar resgatar, conforme bus- camos fazer aqui, os fundamentos do ensino, estabelecendo e renovando as conexões com a origem prístina do legado maçónico. E também, com este mesmo objetivo, àqueles capazes de uma obra mais abrangente e hercúlea, recriar as possibilidades iniciáticas para as mulheres, tendo em vista que, no Oci- dente tais sociedades desapareceram, ou delas não se tem mais notícia. Mas para isso, tanto para o reavivamento do conhecimento maçóni- co, tanto para possibilitar uma iniciação femini- na, de acordo com as características próprias das mulheres (13), é necessário o mergulho na matéria prima iniciática do ocidente, e buscar trazer à tona aquilo que se ocultou em nossa época. Notas (1) Desde a origem, podemos perceber que a tônica dos trabalhos efe- tuados pelos maçons operativos sempre foi no sentido de “tirar as ares- tas”, e encontrar a pedra lavrada que já habita o interior da pedra bruta. (2) Usamos este nome para a divindade dos tecelões apenas para fa- zer um paralelo entre este e o GADU. Este termo é fictício. Contudo, o simbolismo da tecelagem existiu na antiguidade e, até, na idade média. É bem significativo notar sobre isso a informação de Guénon: “(...) os livros tradicionais são freqüentemente designados por termos que, em seu sentido geral, referem-se à tecelagem. Assim, em sânscrito, sûtra significa propriamente “fio”: um livro pode ser formado por um conjun- to de sûtras, como um tecido é formado por um conjunto de fios; tan- tra possui também o significado de “fio” e de “tecido”, e designa mais particularmente o urdume de um tecido. Da mesma forma, em chinês, king é o urdume de um pano, e wei sua trama; o primeiro destes dois termos designa ao mesmo tempo um livro fundamental, e o segundo seus comentários. Esta distinção entre urdume e trama no conjunto das escrituras tradicionais corresponde, segundo a terminologia hindu, à que existe entre a Shruti, que é o fruto da inspiração direta, e a Smriti, que é o produto da reflexão que se exerce sobre os dados da Shruti .” (René Guénon, O Simbolismo do Tecido – XIV capítulo do livro “O Simbolismo da Cruz”). (3) Algo que é deve ser levado em consideração para meditarmos sobre este assunto posteriormente, é a apreciação de uma catedral gótica, que é uma verdadeira enciclopédia de conhecimento, onde o coração huma- no se expressou de formas sublimes. Cremos que ignorantes de mente estreita seriam incapazes de dar cabo de tal tarefa. E somente um ideal refinado poderia impulsionar pessoas a participarem da construção de um edifício como este durante séculos a fio, sem preocupações imedia- tistas, tão características de nossa época. (4) Os maçons operativos reuniam toda uma série de procedimentos, que não se atinham apenas ao trabalho de cantaria, tais como a arquite- tura e a carpintaria. No entanto, todos os aspectos abordados mais abai- xo também poderão ser aplicados analogicamente à carpintaria. Quanto à arquitetura propriamente dita, faremos algumas considerações mais ao final do trabalho. (5) Citamos a empresa por termos utilizado de figura existente em sua página eletrônica. (6) Outras ferramentas são chamadas “buril”, utilizáveis em outros mate- riais (madeira e metal, por exemplo) e com funções diversas. Contudo, em se tratando da maçonaria, o buril que deve ser levado em conta é o mencionado. É claro que, com a decadência dos trabalhos em pedra, o buril para gravação em metal ficou mais conhecido. (7) Podemos exemplificar esta situação da seguinte forma: alguns têm uma inclinação para determinado tipo de comportamento mais carac- terístico que seria, para ilustrar, o orgulho. Se ele não buscar trabalhar sobre este aspecto psicológico negativo de imediato, e não procurar su- blimá-lo e, em vez disso, escolher um outro, tal como a inveja, que não seria tão importante em seu caráter, pode acontecer de não conseguir se livrar nem de um, nem da outra. Por isso, a escolha sobre o que deve se trabalhar deve ser tomada criteriosamente, levando sempre em conta as virtudes e os defeitos que se têm. Virtus = força. (8) Estes aspectos podem ser estudados dentro da mesma perspectiva do Yoga: Hatha, Karma e Jnana. (9) O burilamento é a extração das diferenças mais grosseiras, que tor- nariam o maçom incapaz de aproveitar os ensinamentos a ele dirigidos. O burilado não busca a eliminação imediata das imperfeições, mas sim a formatação destas de uma forma que não impeçam o apren- dizado. (10) Os primeiros resultados ainda não são o objetivo buscado, que se realiza com o tempo. Por isso a necessidade de paciência (a famosa tolerância maçônica) consigo mesmo e com os outros. (11) Manual do Aprendiz Maçom – Aldo Lavagnini (12) Os Upanixades oferecem um texto interessante, mostrando a im- portância deste aspecto simbólico, que muitas vezes é desconsiderado na maçonaria: “Tendo compreendido que os sentidos são distintos da alma, e que sua ascensão e declive a eles pertence, o sábio deixa de sofrer. (...)Além dos sentidos está a mente, além da mente está o Ser supremo, além do Ser supremo está o Grande Ser, além do Grande, o Oculto. (...)Além do Oculto está a Personalidade, o onipresente, completamente imperceptí- vel. As criaturas que lhe conhecem são liberadas e obtêm a imortalidade. (...) Sua forma não pode ser vista, pois ninguém pode lhe contemplar com os olhos. Só pode ser conhecido com o coração, que se acha além da sabedoria e a mente. Só aqueles que sabem isto são imortais. (...) Quando todos os sentidos e a mente são submetidos, o sábio alcança o estado supremo. (Kata Upanishad, Segundo Adhyaya, Sexto Valli) (13) Segundo nosso entendimento, é necessário possibilidades de or- dem iniciática para as mulheres, devidamente embasadas na tradição. Tais possibilidades se estendem apenas no Oriente, enquanto que no Ocidente estão adormecidas, até o momento de serem reavivadas. En- tendemos que a maçonaria não seria o lugar deste processo pelas pró- prias características da ordem. Em se conhecendo os fundamentos da ordem, fica bem claro que seus ensinamentos não serviriam para uma espécie de iniciação feminina. Tratar desiguais de forma igual é um dos absurdos que grassa em nossa época. Existem, dessa forma, ofícios femininos que poderiam servir de base a toda uma simbólica de uma organização iniciática. O cuidado que uma organização iniciática pré-existente, tal como a maçonaria, deveria ter é o de proporcionar uma adaptação simbólica monumental, sem escorre- gar para o campo da fantasia. Trabalho muito árduo.
  • 21. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 21 N a Grande Loja dos Maçons Antigos Livres e Aceitos (que é uma das mais importan- tes compo­nentes da Potência Maçônica denominada Grandes Lojas Unidas da Alema- nha) estão em uso dois rituais oficiais e o uso de mais dois é permitido. A maioria das Lojas tra- balha no Rito Schröder na versão realizada em 1960. A Grande Loja também publicou um ritual da Arte Real baseado na tradição Francesa, com ambos os vigilantes colocados no Oeste e com a Acácia figurando no grau de Mestre. As Lojas que pertenciam a hoje extinta Grande Loja Royal York foram autorizadas a trabalhar com seus an- tigos rituais baseados no texto reformado por Fessler. Algumas Lojas da igualmente extinta Grande Loja “Zur Sonne” (“Ao Sol”) continuam trabalhando pelos seus velhos rituais. Como na Inglaterra, não há nenhuma diferença fundamen- ORIGEM E FONTES DO RITUAL SCHRÖDER Hans Heinrich Solf
  • 22. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 22 tal entre estes trabalhos, porquanto todos eles derivam de Prichard’s “Masonry Dissected” (Ma- çonaria Dissecada, de Prichard) ou do “Three Distinct Knocks” (Três Batidas Diferentes) tendo sido introduzidos certos elementos de algu­mas exposições e ainda adicionados embelezamen- tos de origem Francesa. Capa do “Masonry Dissected”, de Samuel Pritchard (1831) A cerimônia “Passing the Chair” (Passan- do pela Cadeira) nunca foi introduzida e nem o “Real Arco” tem-lhe dado apoio. A Grande Loja Nacional dos Maçons da Alemanha (outra componen­te das Grandes Lojas Unidas da Ale- manha) ainda trabalha pelo sistema Sueco, que consiste de 10 (dez) graus com um fundo pro- nunciadamente Cristão. O Rito York Americano, trabalhado prin- cipalmente pelas Lojas Militares (Nas Grandes Lojas Unidas da Alemanha existem ainda uma Grande Loja Américo-Canadense e uma Grande Loja dos Maçons Ingleses, cujos componentes em quase sua totalidade são membros das tro- pas militares estacionadas na Alemanha) intro- duziu na Alemanha os graus Crypticos e Tem- plários. O Supremo Conselho do 33º para a Ale- manha trabalha pelo Rito Antigo e Aceito, usual- mente conhecido como Rito Escocês, parecido com o Rito Escocês Retificado na França, que está se tornando popular de novo. O que inspirou o Irmão em dar um novo Ri- tual a Maçonaria Germânica e como ele atacou esta tarefa que impôs a si mesmo? Estas são as questões que serão agora investigadas. Pri- meiramente algumas palavras sobre o homem, Schröder. Ele foi como seus pais, um ator pro- dutor, que naquele tempo significava que ele era proprietário de teatro em Hamburgo. Ele co- nhecia muito bem na Europa as regiões onde dominava a língua alemã e nunca esteve na In- glaterra, França ou Itália. Suas habilidades lin- güísticas eram limitadas em­bora ele fosse capaz de adaptar peças de teatro dos originais Fran- ceses e Ingleses. Sem conhecer Latim e Grego, ele adquiriu, entretanto um grande cabedal de conhecimento pelo auto-estudo. Acima de tudo se destacava nele o seu caráter forte e sincero. O estado da Fran­co-Maçonaria na Alemanha no tempo em que ele foi iniciado com a idade de 29 anos, era caótico. Seu proponente foi Johann J. Christoph Bode, seu amigo, e sem escrutínio foi aceito na Loja “Emanuel”. O Rito Estrita Obser- vância era dominante naquela época e o caráter da Fran­co-Maçonaria Inglesa, como original- mente introduzida em Hamburgo, se tinha perdi- do. As Lo­jas foram dominadas pelo misticismo, alquimia, Rosa-Cruzes e Iluminados, sendo que os últi­mos introduziram formas de cavalheirismo e “Altos Graus” importados da França. Mesmo os sóbrios e democráticos Irmãos de Hamburgo não se abstiveram de desfilar como “Muito exce- lente Cavaleiro Templário”. Não é de estranhar que um homem sério e despretensioso como Schröder fosse radical- mente contrário a estas excentricidades. Ele es- perava da Maçonaria, educação e verdadeira mo- ralidade. Com o declínio do Rito Estrita Obser- vância, depois da Convenção de Wilhelmsbad em 1782, a hora de Schröder tinha chegado. Segundo seus desejos os Irmãos de Hamburgo decidiram: l.º) Restaurar a verdadeira e antiga Maçonaria, como nos foi trazida pelos nos­sos antepassados e espalhada daqui por quase toda Alemanha, e que existiu em Hamburgo até a reforma de 1765. Esforçar-se zelosamente para elevar seus propó- sitos a um nível mais alto e fazer com que cada um dos seus ramos sejam mais úteis; isto deverá ser alcançado, com amor pela pesquisa da Ver­ dade, seguindo com a máxima sinceridade os ensinamentos da sagrada reli­gião Cristã e pondo
  • 23. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 23 fielmente em prática seus deveres. 2º) Melhorar a harmonia entre os Irmãos, pro- curando concentrar as quatro Lojas unidas em duas, sendo uma Loja Alemã e outra Francesa, e permitir a seus membros elegerem seus Mestres no Festival de São João. 3º) Trabalhar nos três graus da Arte Real de acor- do com o Antigo Ritual Esco­cês dos nossos an- tepassados, até que os Rituais organizados na Convenção Geral nos sejam comunicados. Para se ter uma idéia dos problemas que envolviam uma tal decisão, aqui estão alguns exem­plos das dificuldades com o Ritual que existiu em Hamburgo e em outras partes. Estes eram tirados na sua maior parte da primeira edição do livro “Materialien zur Geschichte der Freimaurerei” (Matéria para a História da Franco-Maçonaria), um tratado composto do 1.400 páginas. Este trabalho é ainda uma mina de informações para o historiador principalmen- te por causa dos documentos mencionados e cujos originais agora não são mais acessíveis. Schröder relata, por exemplo, sobre uma Loja da cidade de Dresden que se compunha de membros da alta aristocracia, mas, entre os oficiais da Loja havia um “Cozinheiro-Chefe” e um “Porta Caneco” e em 1743 bebidas eram ser- vidas enquanto a Loja estava aberta. Em 1744 dois Diáconos foram nomeados pela primeira vez na Loja “Absalom” em Hamburgo, presumi- velmente por causa das exposições que haviam aparecido na Inglaterra e na França. Naquela época era ainda costume pagar ao Secretário um salário especial pelos seus discursos, que apareciam depois impressos. O oficio de Orador veio para a Alemanha da França. Naquele tem- po, o pri­meiro e o segundo grau não eram mais conferidos juntos em Hamburgo, por causa dos regula­mentos que requeriam um período entre eles de nove meses. O compromisso de Apren- diz incluía a seguinte exigência: “Que ele devia amar seus Irmãos e ainda promover seus melho- res interesses por todos os modos”. Esta frase podia muito bem ter sido idealizada pela própria Loja e se acha no Ritual até hoje. fac-símile de “L’Ordre des Francs-Maçons Trahi” (1745) A publicação da exposição “L’ Ordre des Franc Maçons Trahi” (1745) fez a Loja “Aos três Glo­bos”, trabalhando num Ritual Francês, in- troduzir uma mudança que não foi, entretanto, mantida por muito tempo: a palavra “Tecton” e o sinal de “Harpócrates” (dedo indicador sobre os lábios) deveriam ser usados como uma palavra e sinal adicional. Havia uma completa incerteza acerca da colocação da venda nos olhos. O candidato geral­mente era trazido para o interior da Loja com os seus olhos não vendados; o procedi- mento correto aprenderam de Londres somente em 1763. Além do mais, ninguém estava certo se as espadas eram para ser usadas dentro da Loja (na França elas eram consideradas como um símbolo de igualdade) ou se “fogo” (ordem para beber) deveria ser dado nos banquetes. O processo de escrutínio também não era compre- endido. Foi somente em l763 que a Grande Loja Provincial de Hamburgo decidiu que cada Irmão que colocasse uma bola preta na caixa do escru- tínio, devia informar o Mestre dos motivos de as- sim ter procedido no prazo de 3 (três) dias. Isto é habitual na Alemanha até hoje, se até 3 (três) bolas pretas aparecerem. Painéis da Loja dese- nhados em oleados somente apareceram no fim do século 18; em 1765 o Cobridor ou um Irmão
  • 24. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 24 ou formato “quarto” por ser mais prático para o Ritual e este está em uso ainda hoje. Ele achou que era preferível ter um Ritual organizado pelos principais Maçons do seu Tempo e aprovado pela Grande Loja Provincial de Hamburgo e que deve- riam estar disponíveis para as Lojas, em vez de suas cerimônias serem baseadas em uma dúzia de exposições. Schröder fez uma observação ao pé da página: “isto se refere ao Ritual usado antes de 1765”; isto é, antes da introdução da Estrita Ob- servância. Entretanto como não havia então Ri- tual escrito, tornava-se impossível relembrá-lo depois de 17 anos. De qualquer maneira aque- le Ritual não seria apropriado para o fim atual. Os balaústres da Loja “Absalom” mostram que o Ritual inglês não era acuradamente conheci- do mesmo antes de 1763. Em 14 de março de 1764, uma iniciação e elevação na mesma noite -como era então praticado na Inglaterra- tiveram que ser adiadas por causa da ausência do Irmão Bode, que era o único capaz de dar uma expla- nação do Painel da Loja. Esta era a situação, quando Schröder começou sua tarefa. É impor- tante mencionar que o trabalho em certas Lojas, era ainda em língua Francesa. Mas havia mais um obstáculo no caminho de um começo decidido e enérgico: o Grão-Mes- tre von Exter. Embora ainda mantivesse uma nomeação Inglesa como Grão-Mestre Provincial para a Baixa Saxônia e Hamburgo, ele estava profundamente envolvido com a Ordem Rosa- Cruz e os graus cavalheirescos e também in- fluenciado com idéias místicas, desde a intro- dução do Rito da Estrita Observância em 1765. A Grande Loja Provincial de Hamburgo há muito havia negligenciado suas obrigações para com a Grande Loja Mãe em Londres. Finalmente o então Grande Secretário, Irmão Heseltine, em uma carta de 30 de maio de 1773 (UGL MS.26/ B/B/1) pediu a devolução da Carta Constitutiva ao Grão-Mestre Provincial. Não tendo recebido resposta dentro de poucos meses, o Irmão He- seltine enviou uma cópia de sua primeira carta acrescentando que a Carta Constitutiva de­veria se entregue ao Irmão Sudthausen que por aca- so se achava em Hamburgo. A Grande Loja Pro- vincial de Hamburgo reagiu com diversas cartas iradas, mas, mesmo assim não enviou relatórios, nem saldou as devidas contribuições. servente ainda tinha de fazer o desenho com giz no chão. Um Diretor de Ce- rimônias foi pela primeira vez nomeado em 1774, embora na Alemanha e na França o seu ti- tulo era de “Mestre de Cerimônias”. Mais ou menos nesta época os Diáconos foram r e n o m e a d o s de “Stewards” (mordomos). É bem co- nhecido pelos ba- laústres de uma pe- quena Loja no Castelo Kniphausen na Frísia Oriental, que um soldado da guarda do Conde foi empregado como Co- bridor e pago pelos membros da Loja. O traba- lho desta Loja era baseado no de Prichard embora o Ta- pete (Painel) tenha sido co- piado de um de- senho do livro “L’ Ordre des Fran- c-Maçons Trahi”. É também co­nhecido pe- las muitas averiguações emanando de todas as partes da Alemanha, que as Lojas de Hamburgo e a Loja Provincial Inglesa, eram consideradas au- toridades em todos os assun­tos ritualísticos. Esta foi provavel- mente a razão porque Schröder ti- nha seu Ritual impresso clara- mente sem abreviação ou código. Ele sabia que isto não estava de acordo com a pratica Inglesa. Ele tam- bém selecionou o tamanho Busto de Johann Joachim Christian Bode (Düsseldorf, Goethe-Museum)
  • 25. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 25 Uma vez que Schröder tomou as rédeas em suas mãos esta situação mudou imediata- mente. De agosto de 1786 em diante, a Grande Loja Provincial de Hamburgo enviou regularmen- te os balaústres de suas reuniões para Londres. A intervenção do Irmão von Gräfe certamente ti- nha sido de grande ajuda nesta mudança. (UGL Ms.26/B/B/7-27). Ele tinha ditado o Ritual Inglês para o Grande Secretário Provincial, Irmão Be- ckmann. Em seu comentário, Schröder, faz a se- guinte anotação: ....e assim temos agora um antigo Ritual comu- nicado para nós, exceto por algumas alterações introduzidas pelo tempo e o desejo de melhorar. De acor­do com este texto, o 2ª Vigilante tem seu lugar no Sul; não havia nenhuma Estrela Fla- mígera e nem mais espadas dentro da Loja. O Diretor Regional von Exter, pois ele ainda deti- nha este cargo na Estrita Observância, não tra- balharia sem as duas Colunas (Vigilantes) no Ocidente, sem a Estrela Flamígera, sem o monte de terra e o galho de Acácia, sem as alusões e promessas de uma Luz Superior e sem os vinte e mais itens muito preciosos para ele. Assim veio a Luz um Ritual até mesmo mais místico e mais pomposo do que esse da Estrita Observância. Estas observações contêm uma importan- te indicação. O texto Gräfe não era bem o mes- mo que o bem conhecido texto do Prichard, que havia sido publicado em uma edição Alemã em 1736, e que foi largamente utilizado pelas Lojas Alemãs e na França com a versão Francesa. O Irmão N. B. Spencer já apontou isto no volume Ars Quatuor Coronatorum n.º 74: “O apareci- mento regular de traduções de uma ou de ou- tras exposições bem conhecidas em Alemão ou Francês, encadernadas, com quase todas as có- pias dos livros Alemães da Constituição do Sé- culo 18, sugere de uma maneira taxativa, que os Alemães estavam usando-os como guia para as suas cerimônias, assim como nós usamos um moderno Ritual ou Monitor”. Schröder escreveu para seu amigo Meyer: “Eu estou surpreso que você não achou nenhu- ma Loja em Londres na qual o 2º Vigilante senta- se no Sul ou a tal conhecida Loja dos Antigos. Durante este ano já tivemos quatro Irmãos de tais Lojas como visitantes.” Na verdade os Vigilantes estavam coloca- dos no Noroeste e Sudoeste respectivamente nos trabalhos da maior parte dos Rituais Con- tinentais derivados de Prichard ou das versões Fran­cesas baseado no “Masonry Dissected”. Quando Schröder tornou-se membro da comis- são para elaborar uma nova Constituição, ele devotou-se a esta tarefa de maneira metódica e diligentemente e com uma considerável despe- sa pessoal. Assim ele imprimiu as suas próprias custas numa tipografia secreta em Rudolstadt, todos os Rituais disponíveis para ele, bem como uma História da Maçonaria em quatro volumes e uma exata análise da Constituição Inglesa. Este empreendimento é algo fora do comum na História da Franco-Maçonaria e, lançar-se um pouco de luz sobre isto somente poderá ser de proveito. Modelo de Tapete utilizado no Rito Schröder Schröder via a necessidade de abraçar a pesquisa maçônica dentro da obrigação de um segre­do contido nos Rituais. Investigando entre os seus “Irmãos de confiança” verificou que a Loja Amália, em Weimar, (Goethe e Herder eram ambos membros dela) podia ajudar. Um dos seus membros era o Irmão Wesselhöft que mo- rava em Jena e que tinha o seu negócio de Im- pressão e Publicações em Rudolstadt, cidades estas próximas a Weimar. O Irmão Wesselhöft fez o juramento, como também todos os mem-
  • 26. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 26 bros de suas empresa, para manter o sigilo; sen- do que alguns deles foram simplesmente convi- dados a se unirem a Loja de Rudolstadt. O Irmão Conta, que era alto oficial da Policia Alemã, foi nomeado para exercer a função de supervisor e censor. As detalhadas instruções anotadas pelo Mestre da Loja, provas que Schröder forneceu o ne­cessário material e capital de trabalho, ainda existem. Este estabelecimento começou a tra- balhar na ultima década do século 18 e parece ter encerrado suas atividades depois da morte de Schröder. Uma de suas publicações foi a co- leção de Rituais em 21 volumes, dos quais, a úni- ca cópia conhecida nos dias atuais, encontra-se na Biblioteca da Grande Loja Nacional da Dina­ marca. Este trabalho, cerca de trinta Rituais dos então conhecidos e dos “Altos Graus”, incluin­do um texto do “Three Distinct Knocks”, que é sem dúvida considerado como o “mais velho e genu- íno Ritual Inglês”, sem entretanto mencionar sua origem. O texto de Prichard é identificado e a ra- zão para o anonimato do “Three Distinct Knocks” pode se achar na correspondência de Schröder com Meyer, onde escreve: Pelo amor de Deus, “Three Distinct Knocks” (Ja- chim e Boaz é só uma reimpressão da anterior) não deve se tornar conhecido porque o nosso ritual está baseado nele. Portanto eu removi es- tes dois livros do catálogo de nossa biblioteca. É muito raro na Alemanha e provavelmente na Inglaterra também. Mas seu amigo sabia melhor; “Jachim e Boaz” é sempre reimpresso sem alteração, ele tinha uma edição de 1800. No prefacio da edição de 1815 do seu livro “Materialien zur Geschich- te der Freimaurerei” (Materiais para a História da Franco-Maçonaria), Schröder aponta que “Three Distinct Knocks” é o ritual que é trabalhado até hoje em dia por todas as velhas Lojas Inglesas na Grã Bretanha, Ásia, África e América. Acer- ca de Prichard ele diz que este foi o primeiro desvio do mais velho, isto é do “Three Distinct Knocks”, mas que tinha sido usado pela maio- Frontispícios dos Livros “Three Distinct Knocks” e “Jachin and Boaz” (1865). Os dois livros foram duas exposições muito famosas da maçonaria à época.
  • 27. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 27 ria das Lojas Alemãs. Os Rituais Franceses, a maioria deles baseados em Prichard, foram as fontes dos Rituais de Zinnendorf e Sueco, cujos sistemas haviam aceitado os “Altos Graus” da França, também eram conhecidos por Schröder. Os “Altos Graus” reproduzidos nesta coleção, não são de nenhum interesse aqui, mas deve-se dizer que o trabalho total é até hoje uma rara fon- te de pesquisa ritualística. Como este trabalho foi destinado somente aos membros do “Cir­culo Interno”, a edição não podia consistir de mais de cem cópias e por isto é que se trata de uma Obra rara e que não foi totalmente registrada por Taute e Wolfstieg que produziram uma Bi- bliografia Maçônica. Assim há muita razão em ser grato a Grande Loja Nacional da Dinamar­ ca por ter liberado sua cópia para fazer-se uma reprodução fotográfica em 1976, que foi limita­ da a uma edição de trezentas cópias e não está disponível comercialmente. Com isto chega­mos a uma certa conclusão: quando o trabalho come- çou em Hamburgo em 1790 para um novo Ritual, a Grande Loja Provincial subordinada a Primeira Grande Loja da Inglaterra, não possuía em Ri- tual escrito em Inglês com um texto autêntico. Schröder estava absolutamente convenci­do de que “Three Distinct Knocks” não era apenas ge- nuíno, mas era efetivamente o mais velho Ritual existente. Como podemos ver, ele baseou todo o seu trabalho sobre este texto, tanto quanto diz respeito a estrutura ritualística. Nas instruções do Grau de Aprendiz datado de 1801 Schröder diz: Não pretendemos absolutamente proteger todas as partes do velho catecis­mo. Embora estejamos inclinados a preferi-lo - no todo – a qualquer coi- sa nova, entretanto reconhecemos que o que foi dito em uma Fraternidade Inglesa, que consistia principalmente de artesões, não pode ser inteira- mente adequado para maçons educados de ou- tro país. Portanto corrigimos ou omitimos o que está fora do espírito ou circunstâncias do nosso tempo. Ele sentia profundamente que princípios éticos e morais eram a essência da Maçonaria e ele os formulava com grande cuidado e em cola- boração com os mais educados Maçons do seu tem­po. Isto dá ao seu Ritual um caráter particular próprio, expressando as tendências espirituais da Alemanha por volta do século 18. A tendência para a Maçonaria Cavalheiresca ou Templária, com um forte conteúdo Cristão e até mesmo Ca- tólico Romano, tinha desaparecido. Fortaleceu­- -se a tendência de que, moral elevada e princí- pios éticos, deveriam ser as essenciais caracte­ rísticas da Arte Real. Ignaz Aurelius Feßler (1756-1839) Schröder, bem conhecido e respeitado como era, tanto profissionalmente como Diretor de um teatro de alta reputação e, também como Maçom, estava em contato com Irmãos proemi- nentes e os familiarizava com os seus planos. Sua correspondência com seus “Muitos confian- tes Ir­mãos” por todo o norte da Alemanha. era parcialmente escrita em um código que foi tirado da Estrita Observância e usado com sua própria frase chave, a qual foi descoberta recentemen- te. Os princípios básicos seguidos pelos dois re- formadores da Arte Real na Alemanha, por uma iniciativa paralela, foram lançados por Fessler em Berlim e sua linha de ação será menciona- da mais tarde - pode melhor ser compreendida estudando-se a introdução do “COMPACT” da Grande Associação Maçônica de 1801 entre a Grande Loja Provincial de Hamburgo e a Grande Loja Royal York de Berlim a qual Fessler perten- cia. Embora este texto tenha sido traçado por Fessler e não por Schröder, o conteúdo reflete fielmente as idéias do último: 1º) Franco-Maçonaria e fraternidade maçônica, são dois conceitos bem dife­rentes, como as pa- lavras “ciência e escola”, “religião e igreja”. Isto nos leva para:
  • 28. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 28 2º) Franco-Maçonaria, independente de tempo e condições locais, (ouvimos a voz de Lessing) sempre una e a mesma, é sempre aquilo que en- volve e coloca firmemente o homem interno entre o esquadro e o compasso, seu modo de pensar e agir e que fixa a posição moral do homem na Sociedade, embora a Franco-Maçonaria possa ocasionalmente ter-se desenvolvido em direções di­ferentes. 3º) As Grandes Lojas Provinciais Unidas não reconhecem na Fraternidade Maçônica o tal chamado propósito ou desígnio secreto que se diz possuir e além dos três graus de São João. Para elas o objetivo da Fraternidade Maçônica é o mesmo: prática, manutenção e crescimento comum da Arte; tudo isto visto pela luz de sua pura tendência moral. Isto os mais esclarecidos Irmãos tem em todos os tempos reconhecido. 4º) Como não mais se pode deixar aos caprichos de Maçons isolados ou Lojas em particular, a decisão e definição da natureza e tendência da Maçonaria, as Grandes Lojas Provinciais Unidas estão convencidas de que o mais velho Ri­tual In- glês dos três graus é o único em que podemos confiar como fonte histó­rica e para compreensão da natureza e evolução da franco-Maçonaria. A razão da curta vivência da Grande Asso- ciação Maçônica pode se achar na conturbada situa­ção política existente naqueles dias na Ale- manha, entretanto estes princípios ainda são vá- lidos hoje em dia para a Maçonaria Antiga Livre e Aceita na Alemanha. Pode nesta conjuntura ser de interesse mencionar uma opinião não favorável a Schrö- der; é a de um Pastor Protestante ortodoxo e ex-membro da Loja de Leipzig. De acordo com Taute este ex-Irmão, Professor Lindner deixou a Loja por causa de sua ambição não satisfeita e publicou um trabalho no qual apresentava Maço- naria e Religião num falso relacionamento ainda que um pouco melhor do que fez o Reverendo Walton Hannah em nosso dias. Assim o Profes- sor e ex-Irmão Lindner escreve: Eu tenho... impressão que o melhor do “Iluminati” foi aceito em sua (de Schröder) forma de Maço- naria, mas é ainda necessário mostrar-se que a forma de Schröder não se enquadra na dominan- te cultura do tempo atual, embora seja mais pro- funda que outras. Ele nos mostra uma espécie de ecletismo enfeitado com alguma filosofia de Kant, mas não há realmente nada de original ou genu­íno. Sua secretividade sobre assuntos pu- blicamente conhecidos é bem desorientadora. Tudo isto se pode chamar uma filosofia de rigo- rismo moral, tendo nela disseminado algumas demonstrações de caridade. Mais tarde, Lindner arrependido retratou-se. A insinuação sobre “Iluminati” se refere ao “Círculo Interno” de Schröder que era para ser, não uma outra “Ordem”, mas somente uma Loja de Instru- ção Histórica. Antes de iniciar a elaboração de novos Ritu- ais a Franco-Maçonaria em Hamburgo tinha que se organizar e isto não poderia se realizar sem surgirem animosidades pessoais. Só em 1790 tor- nou-se possível nomear uma pequena comissão sobre a presidência de Schröder e com­posta de representantes de todas as Lojas. Antes de tudo ele viajou para consultar seus amigos nas Lojas sobre jurisdição de Hamburgo, que haviam se espalhado além de Hamburgo e até na Alta Saxônia.u inte- resse particular era para consultar com o Irmão Bode, que tinha se mudado de Hamburgo para Weimar de forma a estabelecer contato mais fre- qüente com o Ir­mão Herder, um alto Clérigo no Du- cado de Weimar. Isto tornou-se somente possível porque Schröder tinha abandonado a direção do seu teatro em Hamburgo e agora estava vivendo como fazendeiro em sua propriedade em Rellingen perto de Hamburgo. Os próximos anos de sua vida foram dedicados integralmente ao trabalho da refor- ma que deixou uma forte marca na Arte Maçônica da Alemanha até hoje. Uma importante contribuição para o trabalho de Schröder, veio de seu amigo de longos anos, Professor Friedrich Ludwig Wilhelm Meyer (1759- 1840). Ele era um gentil-homem de vida inde­ pendente tendo muito viajado por toda Europa e In- glaterra. Na Universidade de Göttingen ele foi tutor dos Duques de Sussex, Cumberland e Cambridge. Existem evidências de que seus talentos e habili- dades lingüísticas foram usados muitas vezes pelo Rei da Prússia e seus minis­tros, que o empregaram como agente político secreto. Meyer era Franco- Maçom e foi membro da Loja “Pilgrim” em Londres de 1789 a 1791. Felizmente pode ser consulta- da sua enorme correspondência, particularmente com Schröder. Quando ele não estava viajando vivia numa pequena cidade na então parte dina- marquesa de Holsatia e só recentemente cerca de 700 cartas foram descobertas nos arquivos do Estado de Hamburgo. Destas, agora sabemos que Meyer traduziu a maior parte dos textos Ingleses e Franceses que seu amigo Schröder usou. Schrö- der aceitava os argumentos e sugestões de Meyer de bom grado.
  • 29. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 29 Levaria muito tempo para examinar mais de perto o relacionamento entre Schröder e o Irmão Ignaz Aurelius Fessler (1756-1839). Fessler nasce- ra na Hungria. Educado pelos Dominicanos ele tor- nou-se professor de História e Línguas antigas, o que lhe deu grande reputação. Em seguida a uma crise pessoal e espiritual na meia idade, tornou-se Franco-Maçom, converteu-­se ao protestantismo e morreu velho como Chefe da Igreja Protestante Russa. Durante sua estada em Berlim, empreen- deu a Reforma dos Rituais da Grande Loja Royal York de forma a restabelecer a pura Arte Maçônica ou pelo menos separá-la dos “Altos Graus”. Neste contexto deve ser lembrado que os sistemas então existentes eram baseados nos sistemas hierárqui­ cos; as Lojas eram totalmente subservientes a um corpo mais alto e não tinham autonomia, nem ao menos para a eleição de seus oficiais. Fessler es- tava muito bem informado sobre os diferentes sis- temas, porquanto ele tinha, ao contrario de Schrö- der, sido admitido à maioria dos “Altos Graus”. Numa carta a um amigo ele declara que possuía uma tradução do “Three Distinct Knocks” que ele pensava que era o Ritual de velha Loja Ingle- sa em York; esta confusão entre os Antigos e a efêmera Grande Loja de York é freqüentemente encontrada na Literatura Maçônica Alemã do pe- ríodo de Fessler. Entretanto, ele não usou este texto para os seus Rituais reforma­dos, mas ba- seou seu trabalho parcialmente sobre o tal cha- mado “Ritual de Praga”, verificando que sua ori- gem vinha dos textos Franceses baseados em Prichard. Como este Ritual desem­penhou um importante papel na reforma da Arte Maçônica Alemã, vale a pena considerá-lo rapidamente. Seus integrantes eram membros de uma Loja de Praga chamada “Zur Wahrheit und Einigkeit zu den drei gekrönten Säulen” (A Verdade e União das três Colunas coroadas) fundada ao redor de 1784 da fusão de duas Lojas mais antigas como o nome indica. Em 1794, a Loja publicou um Livro contendo a Constituição e os Rituais da Arte, um volume de mais de 400 páginas, que não faz referência a Constituição Inglesa, mas a concepção dela, da própria Loja. De início é afirmado que a Loja é uma “República Democrá- tica”. A conexão com eventos na França é óbvia (1794), mas é surpreendente que este livro foi impresso na Áustria Imperial e não na França. O Ritual introduzido em 1788 está baseado no sis- tema Zinnendorf (Sueco), mas “com mudanças nas explanações morais dos símbolos numa linguagem mais concisa”. Não era para haver nenhuma influência, ou seja lá o que for, dos tais chamados “Altos Graus” nas Lojas da Arte e o “Iluminati” é apontado como sendo totalmente uma organização não-maçônica. “De tempo ime- morial” é dito que os “não Cristãos” não pode- riam ser admitidos, mas uma inte­ressante exce- ção foi feita no caso de membros da “Seita Soci- niana” que foram exilados da Polônia. Esta seita era definitivamente Cristã, mas seguia a doutrina Unitária. Um interessante fato no Ritual é que a velha obrigação não era mais mencionada. Ou- tro texto que Fessler usou foi o chamado “Ritu- al Essinger”. Não foi possível achar uma cópia do mesmo, mas da corres­pondência Schröder/ Meyer e das publicações de Fessler sabemos que um médico chamado Gasser, havia trazido o texto da Inglaterra mais ou menos no ano de 1784. Na verdade este Ritual era uma cópia do “Three Distinct Knocks” que passou nas mãos de Fessler, havia sido publicado na Saxônia em 1804. Foi usado na Loja que o Barão Dalberg fundou em sua residên­cia de verão em Essingen perto de Mannheim onde ele era Diretor de um então famoso Teatro. Seu irmão mais velho foi o último Eleitor e Arcebispo de Mainz e Grande Aventais do Rito Schröder utilizados pela GLOMARON
  • 30. Revista de Estudos Maçônicos da Glomaron - Ano I - N.º 0 30 Chanceler do Santo Império Romano, enquanto seu irmão mais novo era um conhecido músico e compositor. Todos os três eram franco-maçons e personalidades de destaque de sua época. Fes- sler pretendeu que este Ritual era pelo menos o mais velho, porquanto já havia sido usado antes de 1717 na Loja de York. Isto aumentou a ira de Schröder e numa carta a Meyer ele escreve: Não deveria ele (Fessler) e seu tão meticuloso amigo Mossdorf, saber que o lugar Essingen não existe? Somente uma coisa em todo o livro me chamou atenção – The Old Charges da Cons- tituição de York. Seu estilo e conteúdo são ob- viamente mais novos que o texto de Anderson, que por si é mais novo que aquele publicado por Preston na sua “Ilustrations”. Isto é de grande interesse porque demons- tra a extrema confusão causada pela publicação do Irmão Dr. Krause (como hoje sabemos) do texto complemente apócrifo da Constituição de York de 926. Havia ainda um outro eminente Franco- Maçom com quem Schröder mantinha contato e cujos conselhos freqüentemente seguia. Este era Johann Gottfried Herder (l744-1803) cujas corres­pondências com Schröder dos anos de 1799 a 1802 estão parcialmente acessíveis em uma publicação do Irmão Wiebe de Hamburgo e em um certo número de cartas não publicadas existentes nos arquivos do Estado da Prússia em Berlim. Quando o exército Francês ocupou Hamburgo no ano de 1808, Schröder infelizmen- te destruiu a maior parte de seus papéis. Sabe- se, por intermédio de outras fontes, que a pri- meira versão do Ritual de Schröder introduzida em 1801, continha um certo número de canções escritas ou pelo menos trabalhadas por Herder. A maior parte delas não foram incluídas na ver- são de 1816, pois que a prática de cantar em Loja havia se tornado menos popular. Os textos disponíveis de hoje são em prosa somente, mas eles tem o espírito do gênio de Herder. Johann Gottfried Herder (1744-1803) Schröder e Fessler trocaram cópias de seus Rituais, porém o último comentou, que os Irmãos de Berlim acostumados ao Ritual Fran- cês não apreciariam a simplicidade do texto de Schröder. Ambas as versões foram enviadas por Schröder aos seus outros amigos e conselhei- ros e os mesmos preferiram o seu (de Schrö- der). Depois de certas pequenas modificações, Schröder submeteu seu texto aos Mestres de Hamburgo em 29 de junho de 1801 que o ado- taram por unanimidade. Depois de mais uma revisão de certas passagens, que não tinham concordância com a cerimônia, foi impressa uma edição limitada para as Lojas de Hambur- go e uma edição maior foi editada em 1816 para todas as Lojas Alemãs. Desta edição existe so- mente uma cópia pertencente a uma Loja na ci- dade de Celle, cujo exemplar felizmente tem sido possível estudar. Este texto não contém nada de místico ou oculto, mas retém a simplicidade do original Inglês. Incluído o pensamento alemão da época, expressa um texto de alto fervor mo- ral aliado a um generoso espírito de princípios Humanitários. Voltando as atividades de Schröder, es- tas podemos descrever utilizando suas próprias