2. Quando nós analisamos a prática de Jesus, observamos que Ele falava para
o ser integral, destinado a desenvolver a plenitude. Ele consolava o coração
aflito e, logo depois, Ele instruía. Nós vemos isso na estrutura do Sermão
da Montanha, que está apresentado no início do Evangelho de Mateus. A
primeira fala de Jesus, quando sobe ao Monte, são as Bem-aventuranças. E
o que são essas Bem-aventuranças? Elas são uma fala de consolo e de
socorro, para um povo sofrido, porque aquele povo que estava no Monte,
junto do Mestre, esperava há anos o Messias prometido e, por isso, estava
cheio de sofrimento, estava cheio da angústia do peso que vinha de séculos
de herança desde a escravidão do Egito, até as novas gerações na terra
prometida, e de repente chega Jesus, para ser o Messias prometido no Velho
Testamento, para libertar o povo do jugo.
3. Não do jugo da nação romana, mas, sim, do jugo da escravidão interna, das
ilusões da vida. E o primeiro movimento de Jesus é as Bem-aventuranças,
uma consolação. Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados;
Bem-aventurados os que choram; Bem-aventurados os mansos e puros de
coração... Então, naquele momento o Mestre consolava e, depois do
consolo, dava uma orientação precisa, para que cada indivíduo que ali
estava desenvolvesse as suas potencialidades da alma. Logo depois, o Rabi
da Galileia passa a falar das potencialidades de cada um. Vós sois o sal da
terra. Se o sal for insípido como há de salgar? Vós sois a luz do mundo; vós
sois deuses, falava Jesus, repetindo as palavras do profeta Oseias.
4. Então, naquele momento, Jesus resgatava a força da potencialidade da alma
para educar aquele povo para o despertamento das virtudes, para o
despertamento do bem e do belo dentro do coração e, com esse
despertamento, encaminhá-los para a conquista da plenitude da realização,
que é fruto dessa entrega consciente à vida, à lei de Deus, dentro daquilo
que cada um de nós deve cumprir na encarnação. Então, Jesus falava para o
coração. Ele não dava atenção à personalidade. E nas suas pregações, nós
vemos uma prática de saúde integral. Por isso, vamos seguir algumas curas
do Mestre, buscando com essas curas fazer uma imagem geral do processo
de cura que Jesus incentivava a conquistar.
5. Narra o Evangelho, que Jesus, certo dia, passava pela cidade de Jericó. Esta
cidade era o símbolo das questões materiais. E o Mestre passando por ela é
seguido por uma grande multidão de aflitos, que se acotovelava ao seu
redor. Todos queriam um pouquinho do Rabi, mas, nem todos tinham a Sua
atenção. É que Jesus não perdia tempo com aquelas pessoas que não
estavam prontas para receberem a cura. Ele não jogava a pérola aos porcos.
É certo que fazia pregações públicas, e todos tinham acesso. Porém, dava
atenção individualizada somente àqueles que se capacitavam pelo seu
trabalho interno ao novo estado de consciência, que cada um se colocava,
na condição exata para a cura. Tanto era assim que, quando curava, Ele
dizia: Vá, a tua fé te curou.
6. Ou seja, aquela pessoa conseguiu se capacitar a um outro patamar. E o que
foi fornecido por Ele (Jesus), foi o recurso adequado para que aquele ser se
conectasse com aquilo que estava pronto dentro dele. E, nessa cidade, havia
um cego por nome Bartimeu, filho de Timeu, que estava sentado junto do
caminho, mendigando. Ouvindo que era Jesus quem passava, começou a
clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim! E clamou
cada vez mais alto. Bartimeu é um símbolo da mendicância da alma. E o
que é um mendigo? O mendigo é aquele que, em qualquer esfera, necessita
do auxílio alheio. Não consegue subsistir, não consegue prover as suas
necessidades, não consegue um espaço de dignidade na vida, enquanto
oportunidade, e, portanto, necessita depender da compaixão alheia.
7. Então, o mendigo Bartimeu, que é um cego espiritual, é um cego na sua
capacidade de enxergar as suas potencialidades, é uma representação das
nossas mendicâncias, aquelas que nós trazemos no íntimo; a carência
afetiva, que é a mendicância do afeto do outro; a carência da compreensão
e do entendimento da vida; tudo aquilo que nos coloca num estado de
dependência do outro. O interessante é que Jesus ouve Bartimeu, embora
estivesse no meio da multidão. E, por que o Mestre ouve Bartimeu? Porque
a vibração que Bartimeu emitiu tocou o coração de Jesus, mostrando que
aquele ali estava pronto para receber algo. Então, Jesus, parando, disse que
o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe; levanta-te, que ele te
chama. E Bartimeu lançando de si a sua capa, levantou-se, e foi ter com o
Mestre.
8. E, Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? Esta pergunta,
aparentemente estranha, representa a divina pedagogia do Cristo, que disse
assim para Bartimeu, em outras palavras; Eu sei o que tenho para oferecer;
Eu sei o que você precisa; mas, entre o que Eu tenho para oferecer e o que
você precisa, o que você quer receber? Porque você só vai receber na
medida daquilo que você estiver capacitado. Você precisa saber aquilo que
quer. Então, naquele momento, o Mestre desperta a consciência de
Bartimeu; chama-o à responsabilidade. Assim, naquele momento, Bartimeu
olhando para si, numa introspecção muito grande, diz para Jesus: que eu
veja! Foi uma resposta sábia. Porque enxergar é patrimônio fisiológico.
9. Então, Bartimeu pediu o que era essencial naquele momento, e os seus
olhos foram reabilitados, e a sua alma recebe um impulso autocurativo.
Logo depois, nós vamos ver Jesus subindo para Jerusalém e entrando num
templo, o qual tinha cinco pórticos, que ficavam ao lado de um tanque,
chamado de piscina de Betesda, que em hebraico significa casa das graças
ou misericórdia. É um local referido na Bíblia, mencionado somente no
Novo Testamento. Alguns manuscritos antigos utilizam a designação
Betsaida. E neste local, jazia grande multidão de enfermos, de cegos, de
coxos, de paralíticos, esperando o movimento da água, que tinha
propriedades miraculosas, assim se acreditava. E o primeiro que descesse à
piscina, depois do movimento da água, ficava curado de qualquer doença
que tivesse.
10. De tal maneira, que uma enormidade de enfermos ficava nos alpendres ao
redor desse tanque, aguardando a oportunidade de ser curado. Podemos
dizer, que esses representam aqueles que esperam a cura exterior; acham
que dependem de algo, e que disputam uns com os outros a oportunidade
da cura. Então Jesus, numa nova postura terapêutica, adianta-se, e vai ter
com um homem que há muitos anos encontrava-se enfermo, e diz a ele:
queres ficar são? Vejam a postura do Mestre. Bartimeu tem que clamar no
meio da multidão; esse homem do tanque é procurado pessoalmente por
Jesus. Cada hora um processo terapêutico distinto. Então o enfermo
respondeu: Senhor, não tenho uma pessoa que me lance na piscina quando
a água é agitada; enquanto vou, outro desce primeiro do que eu.
11. Então, Jesus, ignorando aquela fala pessimista do homem, disse-lhe:
levanta-te, toma o teu leito e anda. E no mesmo instante ficou curado
aquele homem. Imediatamente ele tomou sua cama e começou a andar.
Jesus, então, segue o seu caminho. E, depois de uma experiência no mar da
Galileia, aonde os discípulos, com Jesus no barco, passaram por uma
grande tempestade, e com este episódio Jesus lhes ensinou uma grande
lição de fé, chega à cidade de Gadara, para encontrar um homem que
precisava de muita ajuda, e que ficou conhecido como o endemoniado
gadareno. Era um homem que estava sob um processo de subjugação; e o
que é isto? É um processo em que a vontade do indivíduo vai sendo cedida
para outrem, de tal maneira que aquela vontade externa passa a dominar e a
conduzir a vontade do próprio indivíduo;
12. Finalmente, vamos ver Jesus entrando na sinagoga, num dia de sábado,
para ensinar. Segundo tradição histórica judaica, qualquer um que nascesse
com alguma deficiência, era mal visto pela sociedade na época, pois
afirmavam que a deficiência de alguém era fruto de um pecado seu ou de
seus pais, portanto, eram considerados impuros por todos. Eles não podiam
entrar no Templo de Jerusalém, devido a serem considerados impuros,
restando-lhes somente as sinagogas, que como lugar de ensinamento da
Toráh, as quais eram abertas a todos, portanto, o único lugar onde alguém
em tais condições podia mesmo que por um pouco tempo, ouvir e aprender
a Palavra de Deus. Ficavam dentro da sinagoga porém em cantos
específicos e reservados para pessoas consideradas impuras, não podendo
em momento algum, se encontrar junto aos demais que ali estavam.
13. Mas esse dia era um Sábado e algo muito diferente aconteceu na sinagoga
em que aquele homem da mão mirrada sempre visitava. Neste dia a
sinagoga estava cheia, quase não se podia entrar, mas ele, sendo impuro
perante a sociedade, tinha lá na sinagoga seu espaço garantido pelos
demais. Então ele começa a percebe que ali estavam várias autoridades do
Templo de Jerusalém, meio que escondidas por detrás dos pilares
observando aquele que tinha a palavra. Uma grande quantidade de pessoas
diferentes das quais ele nunca tinha visto ali, estavam agora, ouvindo
atentamente o que o homem chamado Jesus, lhe ensinava. Em certo
momento de seu ensinamento, Jesus, sabendo que os fariseus estavam ali, e
que buscavam saber se ele de alguma forma transgrediria a lei do Sábado,
...
14. ... resolve confrontar a religiosidade dos fariseus com a verdade libertadora
de seu Evangelho. Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao
homem da mão ressequida: Levanta-te e vem para o meio; e ele,
levantando-se, permaneceu de pé. Nesse momento o homem da mão
mirrada, deve ter entrado em certo conflito, pois sabia que aquilo que Jesus
pedira era contra a lei, e que seu lugar não era ali no meio juntamente com
os demais, porem o silêncio de todos com olhares fixos nele, e a fala segura
e de autoridade de Jesus, o levaram a obedecer a seu pedido, e levantando-
se de onde estava, seguiu em direção ao meio da sinagoga, todos que
estavam a sua frente lhe davam passagem, pois não queriam encostar nele,
pois ainda assim era impuro, e deste modo chegou diante de Jesus como lhe
havia pedido.
15. Neste momento de silêncio e buchichos e murmúrios de alguns perante
algo completamente estranho e para muitos algo abusivo, Jesus sabendo o
que seus corações intentavam sobre aquela situação, lhe disse em alta voz:
Que vos parece? É lícito, no sábado, fazer o bem ou o mal? Salvar a vida
ou deixá-la perecer? E, fitando todos ao redor, disse ao homem: Estende a
tua mão. Ele assim o fez, e a mão lhe foi restaurada. Jesus tirou o homem
da marginalidade social, o chamando para o meio da sociedade a qual o
excluí-a.
Jesus mostrou aos fariseus (religiosos em geral) que sua religiosidade os
impedia de cumprir o verdadeiro mandamento de amor ao próximo.
16. Curou por completo o homem da mão mirrada, tirando dele aquilo que o
marginalizava perante os demais, tornando-o agora um homem livre
perante todos.
Muita Paz!
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A serviço da Doutrina Espírita; com estudo comentado de O Livro dos
Espíritos. Em breve, estudo comentado de o livro A Gênese.
O amanhã é sempre um dia a ser conquistado. Pense nisso!
Leia Kardec! Estude Kardec! Pratique Kardec! Divulgue Kardec!