Auto de Fé de Barcelona: queima de 300 livros espíritas
1.
2. O que foi o Auto de Fé de Barcelona? Foi uma expressão notabilizada por
Allan Kardec para se referir à queima, em praça pública, de trezentos
livros espíritas.
A Espanha viu apagarem-se as últimas fogueiras da Inquisição (Antigo
tribunal eclesiástico instituído pela Igreja Católica, no começo do século
XII, para julgar e punir severamente crimes contra a fé). Os últimos
baluartes da Inquisição permaneceram nesse país. Os espanhóis tiveram
alguma dificuldade para travar contato com o Espiritismo. Mauricio
Lachâtre foi, por vontade própria e/ou imposição dos fatos, o contestador
espírita por excelência. Intelectual e editor francês, achava-se estabelecido
em Barcelona com uma livraria.
3. Solicitou a Kardec seus livros para divulgá-los na Espanha. Encomendou
uma quantidade de O Livro dos Espíritos, O livro dos Médiuns, as
Coleções da Revista Espírita, e diversas obras e brochuras espíritas,
formando um total em torno de trezentos volumes. Lachâtre só não
contava com a intolerância do bispo da cidade. O material chegou à
Espanha através de tramitação legal, com impostos e taxas devidamente
pagos e com a documentação correta. O destinatário pagou direitos de
entrada dos volumes, mas antes que os mesmos fossem entregues, uma
relação dos títulos foi entregue ao bispo de Barcelona, Antônio Palau
Termes, pois, a liberação de livros e ou sua censura, competia à autoridade
eclesiástica.
4. O bispo tomando conhecimento da natureza dos livros ordenou que fossem
apreendidos e queimados em praça pública pela mão do carrasco. Os livros
deveriam em tal situação ser devolvidos ao remetente em seu país de
origem, a França, contudo tal não aconteceu e o espetáculo, só assim pode-
se classificar tal ato de intolerância e intransigência, foi marcado para o
dia 09 de outubro de 1861 às 10h30min, sob alegação de que a Igreja
Católica sendo universal, e os livros, em contradição à fé católica, o
governo não podia consentir que eles pervertessem a moral e a religião de
outros países. Os volumes foram queimados como se fossem réus da
Inquisição.
5. Assistiram o evento: um padre, com roupas sacerdotais, trazendo a cruz
numa mão e a tocha na outra; um notário encarregado de redigir a ata do
Auto de Fé; o escrevente do notário; um funcionário superior da
administração da alfândega; três serventes da alfândega, encarregados de
manter o fogo; um agente da alfândega representando o proprietário das
obras condenadas pelo bispo, e uma multidão inumerável encobria os
passeios e cobria a imensa esplanada onde se elevava a fogueira. Quando o
fogo consumiu os trezentos volumes, o padre e seus ajudantes se retiraram,
cobertos pelas vaias e as maldições dos numerosos assistentes que
gritavam: “Abaixo a inquisição”.
6. Um grande número de pessoas, em seguida, se aproximou da fogueira, e
recolheu cinzas dos livros e fragmentos que não foram consumidos pelas
chamas, e levaram para suas casas. Um exemplar de O Livro dos Espíritos,
carbonizado pela metade, junto com parte dessas cinzas foram enviados a
Kardec, que os colocou em uma urna de cristal. Lamentavelmente, a
intransigência que ainda perdurou na primeira metade do século XX, fez
com que os nazistas durante a segunda grande guerra destruíssem a urna.
Esse episódio de Barcelona contribuiu enormemente para a propaganda da
doutrina. A perseguição ao Espiritismo prosseguiu dissimulada, mas
acirradamente, por muito tempo. O clero nunca escondeu seu desagrado
com relação à mensagem espírita.
7. Kardec, em decorrência deste episódio, comentou: “Graças a esse zelo
imprudente , todo o mundo, na Espanha, vai ouvir falar do Espiritismo e
quererá saber o que é; é tudo o que desejamos. Podem-se queimar as
ideias; as chamas das fogueiras as superexcitam em lugar de abafá-las. As
ideias, aliás, estão no ar, e não há Pirineus bastante para detê-las; e quando
uma ideia é grande e generosa, ela encontra milhares de peitos prontos
para aspirá-las”. Diante desse fato, Kardec, pela Revista Espírita, que já
tinha assinantes em quase todo o mundo, proclamou: “Espíritas de todos
os países! Não esqueçais a data de 09 de outubro de 1861. Será marcada
nos anais do Espiritismo.
8. Que ela seja para vós um dia de festa e não de luta, porque é o penhor de
vosso próximo triunfo”.
Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho
Segundo o Espiritismo. Agora, com uma página revisada e ilustrada:
Espiritismo para iniciantes.