O texto descreve um episódio bíblico em que Jesus acalma uma tempestade no Mar da Galileia. Ele também faz uma comparação entre as dificuldades da vida e as tempestades no mar, argumentando que a fé em Deus, mesmo pequena como um grão de mostarda, pode ajudar a superar os obstáculos da vida. Por fim, enfatiza a importância de desenvolver a fé através do estudo, da oração e da prática do bem.
2. A tarde caía. Jesus decidiu atravessar o lago de Genesaré com os
discípulos. Buscando repousar, recostou-se na popa, enquanto o
barco singrava as águas serenas do grande lago. De súbito, como
ocorre com frequência naquela região, o vento soprou forte,
levantando ondas ameaçadoras.
Jesus dormia tranquilo. Os discípulos, não. Estavam apreensivos. O
barco jogava muito, parecia prestes a virar. À distância da praia,
corriam sério risco! E porque a situação ficasse cada vez pior,
trataram de acordar Jesus:
– Salva-nos, Senhor, que perecemos!
Fitando-os com a tranquilidade de sempre, ele respondeu:
– Por que temeis, homens de pouca fé?
3. Então ergueu-se, ordenou ao vento que parasse de soprar e ao mar
que se acalmasse. Imediatamente a Natureza o atendeu. O vento fez-
se brisa suave... As ondas reduziram-se a leves ondulações que
beijavam a embarcação. Os discípulos ficaram pasmos.
– Quem é esse que até os ventos e o mar lhe obedecem?
O episódio no lago de Genesaré tem notável conteúdo simbólico.
Podemos situar a jornada terrestre como longa viagem por mares
ignotos. Às vezes, o oceano está belo e calmo. Seguimos saudáveis e
bem dispostos... Finanças em ordem... Estabilidade no emprego...
Família em paz... Sentimo-nos ajustados e felizes...
4. De repente, sopram os ventos, com ameaçadoras ondas. Uma doença
inspira cuidados; Somos demitidos do emprego; Surge a crise
familiar. Temos dificuldade para lidar com essas situações. Há
momentos na vida em que ficamos desesperados, pois parece não
haver saída. Os caminhos se encontram fechados, e nós nos sentimos
muito fragilizados. Vai-se a coragem; Chega o pessimismo; Nasce o
medo; Falece a esperança. Em casos extremos, há quem resvale para
o álcool, para as drogas, para o desatino, e até o suicídio, essa falsa
porta de fuga que apenas nos precipita em sofrimentos mil vezes
acentuados. Por quê? Falta a fé.
5. Então, é a hora de fazermos uma oração, para acionarmos a chave da
fé. A fé representa a confiança do ser em algo. A fé é um grande
alimento da alma, que ajuda na conquista de novos empreendimentos
evolutivos. Quem tem fé avança. Entretanto, a fé não pode ser
confundida com a presunção, e muito menos com o fanatismo. Para
ser proveitosa, a fé tem que ser ativa, não deve entorpecer-se. Então,
o que é ter fé? Ter fé é ter confiança; é o crédito que a criatura dá
àquilo em que confia; estudando, examinado, pesquisando. É guardar
no coração a certeza em Deus; certeza que ultrapassa o âmbito da
crença religiosa, crescendo sempre no conhecimento e na vivência do
Evangelho de Jesus.
6. Ter fé é estabelecer uma sintonia harmoniosa entre o espírito humano
e o espírito divino. Se o espírito humano não está sintonizado com o
espírito de Deus, ele não tem fé, embora talvez creia. Conseguir a fé
então é alcançar a possibilidade de não mais dizer “Eu creio”, mas
afirmar “Eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do
sentimento. Portanto, a conquista da fé não é tarefa tão simples, nem
tão fácil. São necessários, muito esforço e muita compreensão. E essa
fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida. Jesus disse
aos judeus que criam nele: “Se vós permanecerdes na minha palavra,
verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará”. (João, cap.VIII,vv.31 e 32).
7. O Mestre ressaltou que, se nós tivéssemos fé apenas do tamanho de
um grão de mostarda, convém lembrar que a mostarda é o menor
grão que existe, já seria uma fé suficiente para movimentarmos uma
montanha daí para ali. É claro que o objetivo de Jesus com essa
alegoria era nos mostrar que a fé tem um poder imenso, se bem
sentida e bem desenvolvida. E ao usar a palavra montanha se referia
a todas as dificuldades, todo o entrave que as provas e os desafios da
vida material nos confere. A fé remove a montanha da má vontade, a
montanha do egoísmo, a montanha do orgulho, a montanha do
interesse material, a montanha da cegueira do fanatismo, a montanha
da resistência aos ensinamentos do Cristo, que devemos transpor.
8. Quer dizer, a fé remove as montanhas dos desafios que todos nós
temos que superar. Na verdade, cada desafio superado é uma prova
vencida, ultrapassada. É uma montanha que trocamos de lugar.
Jesus nos orienta a buscarmos a verdadeira fé, pois, com ela podemos
superar todos esses obstáculos. Uma vez compreendido e
conquistado, de uma forma profunda, o ensinamento da fé dentro de
nós, agregamos uma virtude, traduzida na certeza da assistência de
Deus. Exprimindo a confiança de quem sabe enfrentar todas as lutas
e problemas sob a luz divina. A fé pode ser alcançada por todas as
criaturas. Bastando para isso que ela inicie o fortalecimento dessa fé
no seu interior. Já dissemos que para isso é necessário um trabalho
diário, com esforço e sacrifício.
9. É comum dizermos que temos fé, que acreditamos que Deus virá nos
ajudar, e que tudo será resolvido, todos nós acreditamos nisso,
quando a nossa vida transcorre dentro de uma normalidade, mas
diante do primeiro obstáculo, da primeira dificuldade, ou seja, da
primeira montanha, ficamos desequilibrados, girando em torno de
nós mesmos procurando algo para nos apoiar, e não encontrando. Às
vezes, simplesmente, determinamos pra Deus o que é melhor para
nós. Aí nós pedimos: Senhor, faça com que eu consiga isso ou aquilo,
ou então começamos a reclamar dizendo que Deus nos abandonou na
pior hora. Onde está a nossa fé que dissemos outrora que tínhamos?
Com uma pequena reflexão, a criatura descobre que a sua fé ainda é
pequena, é uma fé vacilante.
10. É claro que temos o direito de usar o nosso livre-arbítrio. Somos
consciências livres e podemos pedir o que quisermos. Porém, nós não
sabemos de fato o que é melhor para a nossa evolução.
Feliz daquele que descobriu que aquilo que parece uma tragédia, na
realidade não o é, apenas algo para o nosso adiantamento espiritual, e
sabe que entregando o problema na mão do Pai, Ele resolverá da
melhor maneira. É preciso que se tenha fidelidade e confiança em
Deus e em suas leis, para aceitar resignado as dificuldades. Porém,
essa resignação diante das dificuldades não significa ficar sentado,
com os braços cruzados, achando que merece o sofrimento,
aguardando uma grande virada na situação.
11. Aquele que possui a fé verdadeira é sempre auxiliado pelos bons
Espíritos, e terá forças para lutar e transportar as montanhas que
encontrar no caminho. O espiritismo nos ensina e nos esclarece
sempre; esta é a finalidade da doutrina, mas cabe a cada um de nós
buscar esses ensinamentos e nos aprimorarmos. Dentro da luz do
espiritismo, a fé é o discernimento conquistado pelo Espírito ao
longo de sua jornada evolutiva, contínua, ascendente e infinita. A fé
pode ser desenvolvida por vários fatores. E quem quiser ser forte em
termos espirituais, com naturais consequências na vida material, deve
procurar desenvolver essa potencialidade que dormita em nosso
coração. Alguns procedimentos podem ser tomados para que a fé seja
fortalecida.
12. O primeiro deles, é ter paciência, saber esperar. Sim, pois a fé não se
conquista do dia para a noite. Outro procedimento indispensável é a
oração. Com ela, protegemo-nos da influência dos maus Espíritos e
abrimos nosso coração para a inspiração dos nossos guardiões
invisíveis. A fé, quando desenvolvida, pode ser um grande
instrumento da prática do bem. Com ela, podemos estender as mãos
abençoando os que sofrem, doentes, obsedados, perdidos. Com a fé,
e orando, podemos limpar o ambiente onde vivemos, onde
trabalhamos. Com ela, se está salvo a qualquer instante. Por ela, se
recebe de Deus o socorro, a inspiração, a solução para todos os
males.
13. Daí nós concluirmos que:
A fé se traduz pela confiança que se tem em Deus e em si próprio,
com vistas à realização de alguma coisa; confiança essa que dá a
certeza de se atingir o objetivo. A fé, para ser poderosa, tem que ser
sincera, verdadeira e humilde, virtudes que são conquistadas através
do estudo e vivência do Evangelho. Fé, essa chama divina, arde em
todas as almas, aguardando o combustível do esforço de cada um
para agigantar-se e clarear o espírito como mensagem de Deus.
Assim, devemos aproveitar este estudo para fortalecer a nossa fé,
colocando em prática as lições aprendidas como bons alunos. Não
vamos assimilar pelo sofrimento e sim pelo esclarecimento. E que,
cada vez mais, possamos ampliar a nossa fé.
14. Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho
Segundo o Espiritismo.