Uma figura é um recurso estilístico que permite ao enunciador expressar-se de modo diferente do habitual. Nas escolas, é comum o estudo de figuras de linguagem (de palavras, sentido, pensamento e construção) através da leitura de textos poéticos; elas são apresentadas como um meio de se obter ornamento na língua. Muitos alunos, portanto, acabam alimentando a ideia de que as figuras de linguagem somente são utilizadas em textos literários. Nossa proposta é propor o ensino delas através da leitura de textos argumentativos, levando o aluno a refletir sobre a importância das figuras retóricas na argumentação. Nem todas as figuras podem ser consideradas retóricas; só aquelas que desempenharem papel persuasivo. Segundo REBOUL (1998:114), “A figura só é de retórica quando desempenha papel persuasivo”, e, “se o argumento é o prego, a figura é o modo de pregá-lo”. Enquanto os argumentos correspondem ao logos da argumentação, estas seduzem o leitor pelo prazer da leitura (pathos), além de também servirem para tornar o argumento aceito. As figuras retóricas, portanto, são recursos linguísticos que podem ser utilizados a serviço da persuasão já que são responsáveis por provocar emoções. As premissas de abordagem teórica deste trabalho tiveram como base as referências presentes na Retórica Clássica, tendo como referência os escritos de Aristóteles e Olivier Reboul. Espera-se, com esta pesquisa, propor que os professores de Produção Textual das escolas de Ensino Médio no Brasil valorizem o estudo destas figuras a fim de que os alunos tornem-se preparados para utilizá-las em suas argumentações.
2. RETÓRICA
Na prática pedagógica, o estudo da Retórica
pode ser um meio eficiente de tornar os sujeitos
bem preparados para a compreensão de um
texto argumentativo, já que possibilita o
conhecimento de recursos que tornam possível a
adaptação do discurso aos objetivos visados por
seu enunciador.
3. EM ARTE RETÓRICA,
ARISTÓTELES DECLARA:
(...) sua finalidade não é tanto persuadir,
quanto descobrir o que há de persuasivo
em cada caso (...) sua tarefa não consiste
em persuadir, mas discernir os meios de
persuadir a propósito de cada questão,
como sucede com todas as demais artes
e (...) o papel da Retórica se ocupa em
distinguir o que é verdadeiramente
suscetível de persuadir do que só é na
aparência.
4. RETÓRICA NA ANTIGUIDADE
Abrangia tanto a arte de bem falar
(eloquência) como o estudo de técnicas de
persuasão e até de manipulação.
Caráter pragmático: convencer o interlocutor
da verdade de sua fala.
Sofistas: “a arte de persuasão”.
Aristóteles - ciência: técnica rigorosa de
argumentação e arte do estilo.
5. TÉCNICA RETÓRICA DE
ARISTÓTELES
Meios não técnicos; leis, tratados,etc.
Meios de prova técnicos : aqueles derivados do
caráter do próprio orador, que empresta sua
credibilidade à causa (etos); aqueles em que o
orador procura lidar com as emoções do
auditório e, por isso, o discurso causa paixão
(pathos); e aqueles derivados da razão do
discurso, do que ele demonstra ou parece
demonstrar (logos).
6. IDADE MÉDIA
A Retórica é representada, nas ilustrações
da época, como uma bela mulher, de
vestes ornadas com figuras. Na boca,
ostenta uma flor (retórica ornamental) e
uma arma (retórica persuasiva).
7.
8. IDADE MÉDIA ATÉ O SÉCULO XIX
Perdeu o seu objetivo pragmático
imediato, deixando de ensinar como
persuadir para passar a ensinar como
fazer “belos discursos” e limitando-se,
dos séculos XVI a XIX, ao tratamento
das “figuras”.
Relegada ao plano de mera prática
mundana composta de artifícios
estilísticos.
9. NA DÉCADA DE 60 (SÉC. XX)
Nova retórica puramente literária, sem relação
com a persuasão- grupo MU (Gerard Genette,
Henri Morrier e Jean Cohen) e por Roland
Barthes que abordavam a retórica como
estudo do estilo das figuras cujo objetivo era
tornar o texto poético.
Reboul (1998:88) afirma que “essa ‘nova
retórica’ limita-se, pois, à elocução e desta só
fica com as figuras. Em suma, uma retórica
sem finalidade alguma”.
10. CHAÏM PERELMAN
Abordou a Retórica enquanto argumentação e
convivência humana, apresentando técnicas
argumentativas e a necessidade de
observarmos o “auditório”
Segundo Reboul (ibid.88), “essa obra, que se
insere na grande tradição retórica de
Aristóteles, Isócrates e Quintiliano, é realmente
a teoria do discurso persuasivo”.
11. CHAÏM PERELMAN
Perelman, ao apresentar em sua obra uma
tipologia de esquemas argumentativos, reduziu o
espaço para as figuras. Reboul (1998:89)
comenta essa “falha” da nova retórica de
Perelman, dizendo que “é uma retórica centrada
na invenção e não na elocução (...). Se o tratado
descreve maravilhosamente as estratégias da
argumentação, deixa de reconhecer os aspectos
afetivos da Retórica, o delectare e o movere, o
encanto e a emoção, essenciais, contudo, à
persuasão”.
12. Reboul (ibid.90) afirma que “é preciso
negar-se à opção mortal entre retórica da
argumentação e retórica do estilo. Uma
não está sem a outra”.
Hoje, a Retórica ressurge, não apenas
com o uso de muitas técnicas
argumentativas, mas com o uso de figuras
com um único objetivo: persuadir o
auditório.
13. FIGURAS RETÓRICAS
“A figura só é de retórica quando
desempenha papel persuasivo”, diz
Reboul (1998:114) e, segundo Perelman
(1999:195), as figuras poderiam ser
agrupadas em três: de escolha, de
presença e de comunhão.
14. FIGURAS RETÓRICAS NAS
AULAS DE LEITURA
Através do conhecimento das figuras retóricas
que podem ser usadas em textos argumentativos
, o leitor terá mais possibilidades de refletir sobre
os objetivos do enunciador nos textos que lê e
poderá sair do plano superficial de leitura.
15. FIGURAS DE PALAVRAS
Dizem respeito à matéria sonora do
discurso e sua força persuasiva se dá
devido ao fato de “facilitarem a atenção e
a lembrança”, além de “instaurarem uma
harmonia aparente, porém incisiva,
sugerindo que, se os sons se
assemelham não é por acaso. A harmonia
é comprovada pelo prazer”. O trocadilho,
a derivação são exemplos destas figuras.
16. FIGURAS DE SENTIDO
Dizem respeito à significação das palavras ou
dos grupos de palavras. Consistem no emprego
de um termo (ou vários) com um sentido que não
lhe é habitual. Segundo Reboul (1998:120), “a
figura de sentido desempenha papel lexical; não
que acrescente palavras ao léxico, mas
enriquece o sentido das palavras”. Dentre as
figuras de sentido, há a metáfora, a metonímia, a
hipérbole, lítotes, paradoxo, sinestesia.
17. FIGURAS DE CONSTRUÇÃO
Como a elipse ou a antítese, dizem
respeito à estrutura da frase, por vezes do
discurso. Algumas procedem por
subtração (elipse, assíndeto, reticência);
outras por repetição (antítese, anáfora,
pleonasmo, gradação).
18. FIGURAS DE PENSAMENTO ,
ENUNCIAÇÃO E ARGUMENTO
Figuras do pensamento (alegoria, ironia),
de enunciação (personificação, apóstrofe)
e de argumento (prolepse, pergunta
retórica): dizem respeito à relação do
discurso com seu sujeito (o orador) ou
com seu objeto.
29. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES Arte Retórica e Arte Poética. Trad. Antonio Pinto de Carvalho. Rio de
Janeiro: Tecnoprint, 19--? .
GEHRINGER, Max. O que é ... empregabilidade. Revista VOCEs.a. São Paulo: Ed.
Abril. , ano 3, n.32, p. 198, agosto 2000.
GIRAUD, Pierre. A Estilística. 2.ed. trad. Miguel Maillet. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
HALLIDAY, Tereza Lúcia.O Que é Retórica, São Paulo: Brasiliense, 1999 (Coleção
Primeiros Passos: 232).
PERELMAN, Chaïm & OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da Argumentação - A
Nova Retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
REBOUL, Olivier. Introdução à Retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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Hélia Coelho Mello Cunha
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