Este documento fornece informações biográficas sobre os artistas Frida Kahlo e Augusto dos Anjos e analisa paralelos entre suas obras e vidas marcadas pela dor e solidão. Ambos perderam filhos e lidaram com problemas de saúde. As obras de Frida e as poesias de Augusto expressam sofrimento através de imagens sombrias e um vocabulário que denota dor. Frida e outros artistas como Picasso e Dalí chocaram o público com obras influenciadas por suas experiências pessoais difíce
2. Biografia de Augusto dos AnjosBiografia de Augusto dos Anjos
• No Engenho Pau d’Arco, município de Cruz do Espírito Santo,
Estado da Paraíba, a 20 de abril de 1884, nasce Augusto de
Carvalho Rodrigues dos Anjos, terceiro filho de Alexandre
Rodrigues dos Anjos e D. Córdula de Carvalho Rodrigues dos
Anjos (Sinhá Mocinha).
• Em julho de 1914 é nomeado diretor do Grupo Escolar Ribeiro
Junqueira, de Leopoldina, em Minas Gerais. Toma posse, mas
vai exercer por pouco tempo esta nova função: acometido de
forte gripe, que vira pneumonia, falece em novembro desse
mesmo ano. Estava doente desde 30 de outubro e falece as
quatro horas da madrugada de 12 de novembro.
• Augusto dos Anjos também não foi reconhecido em vida por
seu trabalho. Os poemas e sonetos deste autor tinham uma
aura lúgubre, sombria, que sempre denotava dor, sofrimento e
morte. Com um vocabulário muito evoluído, conquistava as
mulheres, que acreditavam estar sendo lisonjeadas com
“palavras de amor”.
3. A obra do poetaA obra do poeta
• A poesia de Augusto dos Anjos é classificada como pré-
modernista pela época em que foi lançada (1912) misturam-se
componentes do:
• PARNASIANISMO: nos sonetos e poemas longos, destaca-se a
perfeição formal na composição de versos decassílabos,
sempre rigorosamente rimados.
• SIMBOLISMO exploração da camada fônica do verso, através
de aliterações, assonâncias e onomatopéias. O registro de
imagens pânicas (são freqüentes as cenas de pesadelos e
terrores noturnos), associado à concepção de que certos
mistérios não conseguem explicação científica satisfatória, são
outros traços simbolistas presentes nos textos do poeta.
• EXPRESSIONISMO: transfiguração da realidade através de
imagens bárbaras, cruéis, grotescas, permanentemente
angustiadas. Caracteriza-se pela deformação, pela violência
com que desenha as situações
4. Alguns poemas de Augusto dos AnjosAlguns poemas de Augusto dos Anjos
• “Budismo Moderno”
• “O Meu Nirvana”
• “Caixão Fantástico”
• “Versos a um Coveiro”
• “Versos Íntimos” (o poeta revela o que se passa
no íntimo do “eu-lírico”)
• “A Peste” (a peste: doença contagiosa, epidêmica
que acarreta grande mortandade)
• “Vandalismo” (destruição do que é respeitável
pelas suas tradições, antigüidade ou beleza)
5.
6. Contexto Histórico de Augusto dos
Anjos e Frida Kahlo
• Assim como Frida, que sofreu quatro abortos (1930,
1932, 1934 e 1947), Augusto dos Anjos sofreu com a
perda de um filho. Este teria nascido morto com 07
meses incompletos ao dia 02 de fevereiro de 1911.
Augusto sentia também como Frida muito dor. Sua
doença o levou a ser descrito como tendo “magreza
esquálida, faces reentrantes, olhos fundos, olheiras
violáceas e testa descalvada”. A forte gripe que
evoluiu para uma pneumonia o levou muito jovem,
com 30 anos, apenas. De modo semelhante, Frida
Kahlo, teve muitos problemas de saúde, sendo
obrigada a conviver com a dor, uma constante em
sua vida.
7. Analogia entre artistas
• Pablo Picasso, Salvador Dalí, Augusto
dos Anjos e Frida Kahlo chocaram o
público com suas obras. Todos esses
artistas tiveram fases de extrema
solidão e melancolia em suas vidas.
8. PABLO PICASSO
• Picasso perdeu seu melhor amigo e estava quase
passando fome numa fase que os estudiosos
denominam “fase azul”.
• A “fase rosa” de Picasso marca sua paixão por uma
moça chamada Fernanda. Porém, foi com o Cubismo
que Picasso mais impressionou as pessoas.
9. SALVADOR DALÍ
• Salvador Dalí também pintava imagens difíceis de ser
entendidas. O estilo mais presente nas obras de Dalí é
o Surrealismo, mesmo não fazendo parte dele
inteiramente.
• Seus pais o tratavam como se fosse o seu primeiro
irmão, que havia falecido, também chamado Salvador.
Como era super protegido, sentia muito medo e fazia
tudo para chamar a atenção, como por exemplo, depois
de adulto, chegou a um evento numa limusine cheias
de couves-flores, ou quando falou sobre sua arte
usando um escafandro.
10. Frida kahlo
• Frida Kahlo, outra incompreendida em sua época,
retratou com profunda sensibilidade a dor e a solidão
que sentia. Sofre muito com a paixão por Diego Riviera,
adúltero confesso.
• Fez muitos auto-retratos na época de seu acidente, pois
olhava no espelho e pintava deitada, utilizando um
cavalete especial e as tintas e os pincéis do pai,
Guilhermo Wilhelm Kahlo.
11. • Pinta “La columna rota” em que faz referências
explícitas à sua coluna e aos problemas que trazia
consigo. A obra é permeada de dor e transmite por
seus “poros” a profunda solidão da pintora.
• E, também como Dali, Frida tem sua obra
caracterizada como surrealista, apesar de ambos
não acharem o mesmo. Frida disse:
• “-Pensaram que eu era surrealista, mas
eu não era. Pintava a minha própria
realidade”.
12. • Assim como Dali, Frida não se prende durante a vida
na obra pictórica a priori. A artista também produz um
poema entregue ao casal amigo Lina e Arcady Boytler,
que arcam com as despesas de uma cirurgia.
• O poema foi anexado à obra “La Venadita” ou “El
venado herido”, na qual é retratados um veado com a
cabeça coroada por uma enorme galhada, em alusão a
São Sebastião e seu martírio.
13. “El venado herido”
• Solito andaba el venado
• rete, triste, y muy herido,
• hasta que en Arcady y Lina
• Encontró calor y nido.
• Cuando el venado regrese
• fuerte, alegre y aliviado,
• las heridas que ahora lleva
• todas se le habrán borrado.
• Gracias, niños de mi vida,
• Gracias por tanto consuelo,
• en el bosque del venado
• ya se está aclarando el cielo.
• Ahi les dejo mi retrato
• pa’ que me tengam presente,
• todos los dias y las noches,
• que de ustedes yo me
ausente.
• La tristeza se retrata
• en todita mi pintura
• pero asi es mi pintura
• pero asi es mi condición
• ya no tengo compostura.
• Sin embargo, la alegria
• la llevo en mi corazón
• sabiendo que Arcady y Lina
• me quieren tal como soy.
• Acepten este cuadrito
• Pintado con mi ternura
• A cambio de su cariño
• Y de su inmensa dulzura.
14. • Augusto dos Anjos também não foi
reconhecido em vida por seu trabalho. Os
poemas e sonetos deste autor tinham uma
aura lúgubre, sombria, que sempre denotava
dor, sofrimento e morte. Com um vocabulário
muito evoluído, conquistava as mulheres,
que acreditavam estar sendo lisonjeadas
com “palavras de amor”.
• O mais interessante a ser observado é que,
tanto Frida quanto Salvador Dali,
conheceram Pablo Picasso. Dali o conheceu
numa de suas muitas viagens à Paris,
França.
15. • E Frida, quando pinta o “Autorretrato com colar
de espinas” para Dr. Eloesser, que tratou de sua
infestação de fungos em sua mão direita, retrata
seu brinco em forma de mão, dado por Picasso e
que, de acordo com Lígia Assumpção Amaral,
pode ser visto como componente de um ‘milagro’,
oferenda votiva concretizada em objeto de cera ou
outro material, oferecida em agradecimento por
um milagre.
• “Os espinhos, na cultura mexicana pré-
colombiana, simbolizam dor e libertação”.
16. Análise e paralelo das obras de Frida Kahlo com o poemaAnálise e paralelo das obras de Frida Kahlo com o poema
“Budismo Moderno” de Augusto dos Anjos“Budismo Moderno” de Augusto dos Anjos
Tome, Dr., esta tesoura e... corte[1]
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa[2]
Todo o meu coração depois da morte?![3]
Ah! Um urubu pousou na minha sorte![4]
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama* cápsula se esbroa**
Ao contrato de bronca destra forte![5]
Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;[6]
Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo![7]
17. • [1] várias cirurgias
• [2] autofagia
• [3] Augusto diferente de Frida. Ela foi cremada a seu
pedido. (vide obra e comentário “Anjo em Chamas”- 1951,
de Herrera em 14/07/1954).
• [4] associação ao que é sórdido, ou as vivências
desagradáveis de Frida (abortos; caso de Diego com
Cristina, sua irmã mais nova; cirurgias; dor; amputações e
outros).
• * diatomáceas: microorganismos que têm capacidade de
sintetizar substâncias orgânicas com base em ignorâncias.
São providos de uma rígida carapaça silicosa formada por
duas valvas que se encaixam. Vivem tanto em água doce,
como salgada.
• ** criptógama: vegetal que não se reproduz por meio de
flores e que, para tanto, utiliza-se de órgãos difíceis de
serem vistos a olho nu. Plantas criptógamas são algas, ou
fungos, os líquens, os musgos.
• *** esbroa: se reduz a pó.
18. • [5] para Augusto, “bronca destra forte” faz
referência à desagregação do vegetal para sugerir a
dissolução humana.
• [6] Frida: 04 abortos / Augusto dos Anjos: natimorto,
e mais tarde o nascimento de dois filhos.
• [7] Exposição individual de Frida: mesmo acamada,
ela comparece à Galeria de Arte Contemporânea, no
México, dirigida por Lola Alvarez Bravo, em abril de
1953, o que demonstrou o peso do reconhecimento
de sua competência. Para Augusto dos Anjos:
expressão do anseio profundo da umidade, pureza e
inocência que se perderam num mundo de “cara
quebrada”, numa época tão sufocante que os
homens não conseguem mais suportar o
apodrecimento que exala uma civilização decadente,
da qual eles mesmos fazem parte.
19. O desmame do móvel alimento”, 1934 – Salvador DalíO desmame do móvel alimento”, 1934 – Salvador Dalí
Nesta obra, podemos vislumbrar uma Frida Kahlo,
só, tendo tronco amparado por um cavalete, em
alusão aos seus constantes problemas na coluna
vertebral.
20. • No extremo canto direito, sobre uma mesinha, pode-
se ver uma garrafa que poderia nos levar a lembrar
da fase, “pós-divórcio de Diego Rivera”, em que
Frida alcooliza-se com freqüência e mantêm
relações sexuais com pessoas de ambos os sexos.
21. ““Prazeres Iluminados”, 1929 – Salvador DalíPrazeres Iluminados”, 1929 – Salvador Dalí
• Há, nessa obra, uma mulher que
aparenta estar sendo “presa” sob as
mãos de um homem. Esta mulher daí
de algo que lembra uma poça d’ água.
Ela parece desejar subir à superfície. O
homem, por conseguinte, a segura,
empurrando-a na direção contrária.
22. • À direita, homens de terno e barba
andam de bicicleta, equilibrando o
que parecem ser ovos sobre suas
cabeças. Frida, de descendência
alemã por parte de pai, se judia,
poderíamos traçar um paralelo entre
a fragilidade dos ovos na cabeça
destas pessoas e a fragilidade dos
judeus nos campos de concentração,
como é o exemplo de Olga Benário,
esposa de Luís Carlos Prestes, que
foi extraditada para a Alemanha. Se
Frida não é judia, é possível
pensarmos que ela sentia repulsa
pelos crimes hediondos cometidos
pelo líder nazista Adolf Hitler.
23. “Mulher no Espelho”, 1932 – Pablo Picasso
• Esta obra de Picasso, “pai do Cubismo”, retrata uma
mulher olhando-se no espelho. A mulher tem os dois
lados do rosto diferentes, nos levando a pensar das
duas faces que uma mesma pessoa pode apresentar,
como Frida Kahlo, Vicent Van Gogh e Mark Rothko, que
sofriam do chamado “transtorno bipolar”.
• A Psicologia denomina “transtorno bipolar” as
oscilações constantes de humor que uma pessoa muito
depressiva pode sofrer. Este aspecto depressivo, se
não tratado, leva a tentativas de suicídio, como a
provável de Frida Kahlo, ocorrida em fevereiro de 1954,
seis meses após a amputação de sua perna direita até
o joelho.
24. • Frida Kahlo, de modo semelhante a Picasso, faz
muitos auto-retratos em que pinta “duas Fridas”
antagônicas. Esse dualismo cartesiano presente nas
obras de Frida fica muito evidente nos seguintes
quadros: “Arbol de la esperanza mantente firme” e
“Las dos Fridas”.
25. Relação dos abortos de Frida Kahlo com Augusto
dos Anjos.
Augusto dos Anjos escreve em homenagem ao
seu primeiro filho, nascido morto com sete
meses incompletos em 02 de fevereiro de 1911,
um poema intitulado “Soneto”.
Neste soneto podemos facilmente visualizar a
dor sentida por Augusto dos Anjos e o que
significa para mulher vivenciar a perda de um
filho. É doloroso em duplo sentido – no sentido
da dor literal e na dor da tristeza, e da
impotência, conforme vimos no filme “Frida”.
26. Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,
Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
Em tua morfogênese de infante
A minha morfogênese ancestral?!
Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!
Ah! Possas tu dormir, feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na noumenalidade do NÃO SER!
27.
28. Adriana Calcanhoto e Frida
Kahlo
• A cantora de MPB, Adriana Calcanhoto cita, em
sua música “Esquadros”, o nome de Frida
Kahlo. E, com uma melodia forte e marcante,
podemos analisar a música “Senhas” e
compará-la com a vida de Frida.
29. •
ESQUADROS
• Eu ando pelo mundo
prestando atenção
• Em cores que eu não
sei o nome
• Cores de Almodóvar
• Cores de Frida Kahlo,
cores
• Passeio pelo escuro
• Eu presto muita
atenção no que meu
irmão ouve
• E como uma segunda
pele, um calo, uma
casca
• Uma cápsula protetora
• Eu quero chegar antes
• Pra sinalizar o estar de
cada coisa
• Filtrar seus graus
• Eu ando pelo mundo
divertindo gente
• Chorando ao telefone
• E vendo doer a fome nos
meninos que têm fome
• Pela janela do quarto
• Pela janela do carro
• Pela tela, pela janela
• (Quem é ela, quem é ela?)
• Eu vejo tudo enquadrado
• Remoto controle
30. • Eu ando pelo mundo
• E nos automóveis
correm pra quê?
• As crianças correm
para onde?
• Transito entre dois
lados de um lado
• Eu gosto de opostos
• Exponho o meu modo,
me mostro
• Eu canto para quem?
• Pela janela do quarto
• Pela janela do carro
• Pela tela, pela janela...
• Eu ando pelo mundo e
• meus amigos, cadê?
• Minha alegria, meu
cansaço?
• Meu amor, cadê você?
• Eu acordei
• Não tem ninguém ao lado
• Pela janela o quarto...
• Pela janela do carro
• Pela tela, pela janela
• (Quem é ela, quem é ela?)
• Eu vejo tudo enquadrado
• Remoto controle
31. SENHAS
• Eu não gosto do bom gosto
• Eu não gosto de bom senso
• Eu não gosto dos bons modos
• Não gosto
• Eu agüento até rigores
• Eu não tenho pena dos traídos
• Eu hospedo infratores e banidos
• Eu respeito conveniências
• Eu não ligo pra conchavos
• Eu suporto aparências
• Eu não gosto de maus tratos
• Mas o que eu não gosto é do bom
gosto
• Eu não gosto do bom senso
• Eu não gosto dos bons modos
• Não gosto
• Eu agüento até os modernos
• E seus segundos cadernos
• Eu agüento até os caretas
• E suas verdades perfeitas
• O que eu não gosto é do bom
gosto
• Eu não gosto do bom senso
• Eu não gosto dos bons modos
• Não gosto
• Eu agüento até os estetas
• Eu não julgo competência
• Eu não ligo pra etiqueta
• Eu aplaudo rebeldias
• Eu respeito tiranias
• E compreendo piedades
• Eu não condeno mentiras
• Eu não condeno vaidades
• O que eu não gosto é do bom
gosto
• Eu não gosto de bom senso
• Não, não gosto dos bons modos
• Não gosto
• Eu gosto dos que têm fome
• Dos que morrem de vontade
• Dos que secam de desejo
• Dos que ardem...
32. “Viva la Vida” – Frida Kahlo
“Espero alegre la
salida y
espero no volver
jamás”