SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 12
O menino da
sua Mãe
Fernando Pessoa
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
No plano abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
No plano abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Ensanguentado
Sem
força
Pequeno saco
Estojo para
cigarros
Oração
ꬽ Análise Temática do Poema
O título expressa aquilo que o poema quer transmitir, um
soldado que morre pela pátria mas que, para sempre será o
‘’menino da sua mãe‘’. O título relaciona-se à vida de Fernando
Pessoa que sabe ser impossível o regresso ao conforto maternal,
devido à infância perdida. Esta ideia relaciona-se com a
temática pessoana “a nostalgia da infância”.
Tema: A nostalgia da infância
Estrutura Interna:
No/ pla/no a/ban/do/na/ do
Que a/ mor/na/ bri/sa a /que/ ce,
De/ ba/las/ tres/pas/sa/ do
— Du/as /,de / la/do a/ la/do —,
Jaz /mor/to /e a/rre/fe/ce.
Rai/a-/lhe a /far/da o /san /gue.
De/ bra/ços/ es/ten/di/dos,
Al/vo/, lou/ro/, e/xan/gue,
Fi/ta/ com/ o/lhar/ lan/gue
E/ ce/go os/ céus /per/di/dos.
Tão/ jo/vem!/ que /jo/vem era/!
(A/go/ra/ que i/da/de tem/?)
Fi/lho ú/ni/co,/ a mãe /lhe de/ra
Um /no/me e o /man/ti/ve/ra:
«O/ me/ni/no da/ su/a mãe».
Ca/iu/-lhe/ da al/gi/bei/ra
A /ci/gar/rei/ra/ bre/ve.
De/ra/-lhe a mãe/. Es/tá in/tei/ra
E /bo/a a/ ci/gar/rei/ra.
Ele/ é/ que /já /não/ ser/ve.
De/ ou/tra al/gi/bei/ra /, a/lada
Pon/ta a/ ro/çar/ o /so/lo,
A/ bran/cu/ra em /bai/nha/da
De um/ len/ço/... Deu/-lho a/ cria/da
Ve/lha/ que o/ trou/xe ao/ co/lo.
Lá/ lon/ge/, em ca/sa/, há a/pre /ce:
«Que/ vol /te/ ce/do/, e bem/!»
(Ma/lhas/ que o im/pé/rio te/ce!)
Jaz/ mor/to/, e a/po/dre /ce,
O/ me/ni/no/ da / sua mãe.
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
No plano abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
A
B
A
A
B
C
D
C
C
D
E
F
E
E
F
G
H
G
G
H
I
J
I
I
J
K
L
K
K
L
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
No plano abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Antítese
Hipálage
Hipálage
Exclamação
HipálageAdjetivação
Hipérbato
ꬽ Relação com outros poemas analisados
Podemos relacionar este poema com a própria vida de Fernando Pessoa. Desta forma, o tema
da infância enquanto idade perfeita e feliz, um paraíso perdido e irrecuperável, poderá relacionar-se com
os seus primeiros cinco anos de vida, marcados pela felicidade, amor, bem-estar e proteção que a família
lhe proporcionava: vivia com a presença do pai, da mãe, das duas velhas criadas e da avó.
No entanto, o seu pai morre. Mais tarde morre o irmão, o que o faz sentir novamente o amor e o
carinho maternos. Apesar disso, esses sentimentos acabam por ser efémeros visto que a sua mãe se
apaixona por outro homem e ele terá que abandonar Portugal e ir viver para a África do Sul.
Assim sendo, a morte do soldado poderá relacionar-se com a morte do pai ou do irmão, e a
angústia de querer voltar ao passado poderá relacionar-se com a mesma angústia que ele sente ao
desejar voltar a ter a sua família unida e feliz como antigamente.
Fim
Guilherme Néri
Nº12
12ºC
Português 2015/2016
• Seis quintilhas;
• Versos hexassilábicos (seis sílabas métricas);
• Esquema rimático: a b a a b;
Rima cruzada entre os 1.º e 3.º versos de cada estrofe;
Rima interpolada entre os 2.º e 5º versos de cada estrofe;
Rima emparelhada entre os 3.º e 4.º versos de cada estrofe;
Rima pobre entre os versos 1 e 3 (“abandonado” e “trespassado”), por
exemplo;
Rima rica entre os versos 6 e 8 (“sangue” e “exangue”), por exemplo.
• Trata-se de um poema de base narrativa, com:
Narrador: o sujeito poético (subjetivo; emite juízos de valor);
Ação: a morte do soldado;
Personagens: soldado, mãe, criada e Império;
Espaço: “plaino abandonado” (verso 1) / “lá longe, em casa” (verso 26).

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Álvaro de Campos
Álvaro de CamposÁlvaro de Campos
Álvaro de CamposAna Isabel
 
Características poéticas de Ricardo Reis
Características poéticas de Ricardo ReisCaracterísticas poéticas de Ricardo Reis
Características poéticas de Ricardo ReisDina Baptista
 
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando PessoaResumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando PessoaRaffaella Ergün
 
Antero de Quental
Antero de QuentalAntero de Quental
Antero de Quental010693
 
Resumos de Português: Os Lusíadas
Resumos de Português: Os LusíadasResumos de Português: Os Lusíadas
Resumos de Português: Os LusíadasRaffaella Ergün
 
O heteronimo Alberto Caeiro
O heteronimo Alberto CaeiroO heteronimo Alberto Caeiro
O heteronimo Alberto Caeiroguest155834
 
Síntese fernando pessoa
Síntese fernando pessoaSíntese fernando pessoa
Síntese fernando pessoalenaeira
 
Corrida De Cavalos - Os Maias
Corrida De Cavalos - Os MaiasCorrida De Cavalos - Os Maias
Corrida De Cavalos - Os Maiasmauro dinis
 
Análise do episódio "Inês de Castro"
Análise do episódio "Inês de Castro"Análise do episódio "Inês de Castro"
Análise do episódio "Inês de Castro"Inês Moreira
 
Despedidas em belém
Despedidas em belémDespedidas em belém
Despedidas em belémLurdes
 
A nostalgia da infância
A nostalgia da infânciaA nostalgia da infância
A nostalgia da infânciaPaulo Portelada
 
Episódio de inês de castro
Episódio de inês de castroEpisódio de inês de castro
Episódio de inês de castroQuezia Neves
 
áLvaro de campos
áLvaro de camposáLvaro de campos
áLvaro de camposAna Teresa
 
Características de Álvaro de Campos
Características de Álvaro de CamposCaracterísticas de Álvaro de Campos
Características de Álvaro de CamposAline Araújo
 
Características Poéticas de Álvaro de Campos
Características Poéticas de Álvaro de CamposCaracterísticas Poéticas de Álvaro de Campos
Características Poéticas de Álvaro de CamposDina Baptista
 
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaOs Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaDina Baptista
 
"Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade""Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade"MiguelavRodrigues
 

Was ist angesagt? (20)

Álvaro de Campos
Álvaro de CamposÁlvaro de Campos
Álvaro de Campos
 
Características poéticas de Ricardo Reis
Características poéticas de Ricardo ReisCaracterísticas poéticas de Ricardo Reis
Características poéticas de Ricardo Reis
 
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando PessoaResumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
Resumos de Português: Heterónimos De Fernando Pessoa
 
Fernando Pessoa-Ortónimo
Fernando Pessoa-OrtónimoFernando Pessoa-Ortónimo
Fernando Pessoa-Ortónimo
 
Autopsicografia e Isto
Autopsicografia e IstoAutopsicografia e Isto
Autopsicografia e Isto
 
Antero de Quental
Antero de QuentalAntero de Quental
Antero de Quental
 
Resumos de Português: Os Lusíadas
Resumos de Português: Os LusíadasResumos de Português: Os Lusíadas
Resumos de Português: Os Lusíadas
 
O heteronimo Alberto Caeiro
O heteronimo Alberto CaeiroO heteronimo Alberto Caeiro
O heteronimo Alberto Caeiro
 
Síntese fernando pessoa
Síntese fernando pessoaSíntese fernando pessoa
Síntese fernando pessoa
 
Viriato
ViriatoViriato
Viriato
 
Corrida De Cavalos - Os Maias
Corrida De Cavalos - Os MaiasCorrida De Cavalos - Os Maias
Corrida De Cavalos - Os Maias
 
Análise do episódio "Inês de Castro"
Análise do episódio "Inês de Castro"Análise do episódio "Inês de Castro"
Análise do episódio "Inês de Castro"
 
Despedidas em belém
Despedidas em belémDespedidas em belém
Despedidas em belém
 
A nostalgia da infância
A nostalgia da infânciaA nostalgia da infância
A nostalgia da infância
 
Episódio de inês de castro
Episódio de inês de castroEpisódio de inês de castro
Episódio de inês de castro
 
áLvaro de campos
áLvaro de camposáLvaro de campos
áLvaro de campos
 
Características de Álvaro de Campos
Características de Álvaro de CamposCaracterísticas de Álvaro de Campos
Características de Álvaro de Campos
 
Características Poéticas de Álvaro de Campos
Características Poéticas de Álvaro de CamposCaracterísticas Poéticas de Álvaro de Campos
Características Poéticas de Álvaro de Campos
 
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do PoetaOs Lusíadas - Reflexões do Poeta
Os Lusíadas - Reflexões do Poeta
 
"Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade""Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade"
 

Ähnlich wie O menino da sua mãe

"O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe""O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe"guest432a8f
 
"O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe""O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe"guest432a8f
 
"O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe""O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe"guest40b640
 
PrelúDio, Alda Lara
PrelúDio, Alda LaraPrelúDio, Alda Lara
PrelúDio, Alda Laracatiasgs
 
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de AndradeA Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andradevestibular
 
Carlos drumond de andrade
Carlos drumond de andradeCarlos drumond de andrade
Carlos drumond de andradeRita Santana
 
Modernismo poesia - 2.a fase - Ose
Modernismo   poesia - 2.a fase - OseModernismo   poesia - 2.a fase - Ose
Modernismo poesia - 2.a fase - OseAndré Damázio
 
Conceito generos-e-poetica
Conceito generos-e-poeticaConceito generos-e-poetica
Conceito generos-e-poeticaLudmiilaa
 
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesMonteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesTânia Sampaio
 
Alvares de Azevedo Poemas Malditos
Alvares de Azevedo   Poemas MalditosAlvares de Azevedo   Poemas Malditos
Alvares de Azevedo Poemas MalditosMay Araújo
 
Ebook "COM O PERDÃO DA PALAVRA TIRA DE MIM"
Ebook "COM O PERDÃO DA PALAVRA TIRA DE MIM"Ebook "COM O PERDÃO DA PALAVRA TIRA DE MIM"
Ebook "COM O PERDÃO DA PALAVRA TIRA DE MIM"AMEOPOEMA Editora
 
Redigir: Aula 1 - Apresentação
Redigir: Aula 1 - ApresentaçãoRedigir: Aula 1 - Apresentação
Redigir: Aula 1 - Apresentaçãoyasminabdalla
 
Romantismo no brasil segunda geração
Romantismo no brasil   segunda geraçãoRomantismo no brasil   segunda geração
Romantismo no brasil segunda geraçãoVilmar Vilaça
 
Apresentação poesia1
Apresentação poesia1Apresentação poesia1
Apresentação poesia1Soleducador1
 
Academia ENEM - Aulão de Véspera ENEM 2020.pptx
Academia ENEM - Aulão de Véspera ENEM 2020.pptxAcademia ENEM - Aulão de Véspera ENEM 2020.pptx
Academia ENEM - Aulão de Véspera ENEM 2020.pptxClaudioMarcio34
 

Ähnlich wie O menino da sua mãe (20)

Menino Da Sua MãE
Menino Da Sua MãEMenino Da Sua MãE
Menino Da Sua MãE
 
"O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe""O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe"
 
"O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe""O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe"
 
"O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe""O menino da sua mãe"
"O menino da sua mãe"
 
PrelúDio, Alda Lara
PrelúDio, Alda LaraPrelúDio, Alda Lara
PrelúDio, Alda Lara
 
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de AndradeA Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
 
Carlos drumond de andrade
Carlos drumond de andradeCarlos drumond de andrade
Carlos drumond de andrade
 
Modernismo poesia - 2.a fase - Ose
Modernismo   poesia - 2.a fase - OseModernismo   poesia - 2.a fase - Ose
Modernismo poesia - 2.a fase - Ose
 
Conceito generos-e-poetica
Conceito generos-e-poeticaConceito generos-e-poetica
Conceito generos-e-poetica
 
Como um Estalo
Como um EstaloComo um Estalo
Como um Estalo
 
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesMonteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Alvares de Azevedo Poemas Malditos
Alvares de Azevedo   Poemas MalditosAlvares de Azevedo   Poemas Malditos
Alvares de Azevedo Poemas Malditos
 
Ebook "COM O PERDÃO DA PALAVRA TIRA DE MIM"
Ebook "COM O PERDÃO DA PALAVRA TIRA DE MIM"Ebook "COM O PERDÃO DA PALAVRA TIRA DE MIM"
Ebook "COM O PERDÃO DA PALAVRA TIRA DE MIM"
 
Biografia 4º C
Biografia 4º CBiografia 4º C
Biografia 4º C
 
Redigir: Aula 1 - Apresentação
Redigir: Aula 1 - ApresentaçãoRedigir: Aula 1 - Apresentação
Redigir: Aula 1 - Apresentação
 
Romantismo no brasil segunda geração
Romantismo no brasil   segunda geraçãoRomantismo no brasil   segunda geração
Romantismo no brasil segunda geração
 
Apresentação poesia1
Apresentação poesia1Apresentação poesia1
Apresentação poesia1
 
Ameopoema 067 junho 2020
Ameopoema 067 junho 2020Ameopoema 067 junho 2020
Ameopoema 067 junho 2020
 
Academia ENEM - Aulão de Véspera ENEM 2020.pptx
Academia ENEM - Aulão de Véspera ENEM 2020.pptxAcademia ENEM - Aulão de Véspera ENEM 2020.pptx
Academia ENEM - Aulão de Véspera ENEM 2020.pptx
 

Kürzlich hochgeladen

19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdfmarlene54545
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfHELENO FAVACHO
 
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretaçãoLENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretaçãoLidianePaulaValezi
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxLeonardoGabriel65
 
Texto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.pptTexto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.pptjricardo76
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*Viviane Moreiras
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxFlviaGomes64
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxMarcosLemes28
 
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.denisecompasso2
 
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxMarcosLemes28
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmicolourivalcaburite
 
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxReinaldoMuller1
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosLucianoPrado15
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º anoRachel Facundo
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfHELENO FAVACHO
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 

Kürzlich hochgeladen (20)

19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
 
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretaçãoLENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptxProdução de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
Produção de Texto - 5º ano - CRÔNICA.pptx
 
Texto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.pptTexto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
Texto dramático com Estrutura e exemplos.ppt
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
 
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
 
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 

O menino da sua mãe

  • 1. O menino da sua Mãe Fernando Pessoa
  • 2. Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve. Dera-lha a mãe. Está inteira E boa a cigarreira. Ele é que já não serve. De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço... Deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo. Lá longe, em casa, há a prece: «Que volte cedo, e bem!» (Malhas que o império tece!) Jaz morto, e apodrece, O menino da sua mãe. No plano abandonado Que a morna brisa aquece, De balas trespassado — Duas, de lado a lado —, Jaz morto e arrefece. Raia-lhe a farda o sangue. De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos. Tão jovem! que jovem era! (Agora que idade tem?) Filho único, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: «O menino da sua mãe».
  • 3. Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve. Dera-lha a mãe. Está inteira E boa a cigarreira. Ele é que já não serve. De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço... Deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo. Lá longe, em casa, há a prece: «Que volte cedo, e bem!» (Malhas que o império tece!) Jaz morto, e apodrece, O menino da sua mãe. No plano abandonado Que a morna brisa aquece, De balas trespassado — Duas, de lado a lado —, Jaz morto e arrefece. Raia-lhe a farda o sangue. De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos. Tão jovem! que jovem era! (Agora que idade tem?) Filho único, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: «O menino da sua mãe». Ensanguentado Sem força Pequeno saco Estojo para cigarros Oração
  • 5. O título expressa aquilo que o poema quer transmitir, um soldado que morre pela pátria mas que, para sempre será o ‘’menino da sua mãe‘’. O título relaciona-se à vida de Fernando Pessoa que sabe ser impossível o regresso ao conforto maternal, devido à infância perdida. Esta ideia relaciona-se com a temática pessoana “a nostalgia da infância”. Tema: A nostalgia da infância
  • 7. No/ pla/no a/ban/do/na/ do Que a/ mor/na/ bri/sa a /que/ ce, De/ ba/las/ tres/pas/sa/ do — Du/as /,de / la/do a/ la/do —, Jaz /mor/to /e a/rre/fe/ce. Rai/a-/lhe a /far/da o /san /gue. De/ bra/ços/ es/ten/di/dos, Al/vo/, lou/ro/, e/xan/gue, Fi/ta/ com/ o/lhar/ lan/gue E/ ce/go os/ céus /per/di/dos. Tão/ jo/vem!/ que /jo/vem era/! (A/go/ra/ que i/da/de tem/?) Fi/lho ú/ni/co,/ a mãe /lhe de/ra Um /no/me e o /man/ti/ve/ra: «O/ me/ni/no da/ su/a mãe». Ca/iu/-lhe/ da al/gi/bei/ra A /ci/gar/rei/ra/ bre/ve. De/ra/-lhe a mãe/. Es/tá in/tei/ra E /bo/a a/ ci/gar/rei/ra. Ele/ é/ que /já /não/ ser/ve. De/ ou/tra al/gi/bei/ra /, a/lada Pon/ta a/ ro/çar/ o /so/lo, A/ bran/cu/ra em /bai/nha/da De um/ len/ço/... Deu/-lho a/ cria/da Ve/lha/ que o/ trou/xe ao/ co/lo. Lá/ lon/ge/, em ca/sa/, há a/pre /ce: «Que/ vol /te/ ce/do/, e bem/!» (Ma/lhas/ que o im/pé/rio te/ce!) Jaz/ mor/to/, e a/po/dre /ce, O/ me/ni/no/ da / sua mãe.
  • 8. Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve. Dera-lha a mãe. Está inteira E boa a cigarreira. Ele é que já não serve. De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço... Deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo. Lá longe, em casa, há a prece: «Que volte cedo, e bem!» (Malhas que o império tece!) Jaz morto, e apodrece, O menino da sua mãe. No plano abandonado Que a morna brisa aquece, De balas trespassado — Duas, de lado a lado —, Jaz morto e arrefece. Raia-lhe a farda o sangue. De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos. Tão jovem! que jovem era! (Agora que idade tem?) Filho único, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: «O menino da sua mãe». A B A A B C D C C D E F E E F G H G G H I J I I J K L K K L
  • 9. Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve. Dera-lha a mãe. Está inteira E boa a cigarreira. Ele é que já não serve. De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço... Deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo. Lá longe, em casa, há a prece: «Que volte cedo, e bem!» (Malhas que o império tece!) Jaz morto, e apodrece, O menino da sua mãe. No plano abandonado Que a morna brisa aquece, De balas trespassado — Duas, de lado a lado —, Jaz morto e arrefece. Raia-lhe a farda o sangue. De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos. Tão jovem! que jovem era! (Agora que idade tem?) Filho único, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: «O menino da sua mãe». Antítese Hipálage Hipálage Exclamação HipálageAdjetivação Hipérbato
  • 10. ꬽ Relação com outros poemas analisados Podemos relacionar este poema com a própria vida de Fernando Pessoa. Desta forma, o tema da infância enquanto idade perfeita e feliz, um paraíso perdido e irrecuperável, poderá relacionar-se com os seus primeiros cinco anos de vida, marcados pela felicidade, amor, bem-estar e proteção que a família lhe proporcionava: vivia com a presença do pai, da mãe, das duas velhas criadas e da avó. No entanto, o seu pai morre. Mais tarde morre o irmão, o que o faz sentir novamente o amor e o carinho maternos. Apesar disso, esses sentimentos acabam por ser efémeros visto que a sua mãe se apaixona por outro homem e ele terá que abandonar Portugal e ir viver para a África do Sul. Assim sendo, a morte do soldado poderá relacionar-se com a morte do pai ou do irmão, e a angústia de querer voltar ao passado poderá relacionar-se com a mesma angústia que ele sente ao desejar voltar a ter a sua família unida e feliz como antigamente.
  • 12. • Seis quintilhas; • Versos hexassilábicos (seis sílabas métricas); • Esquema rimático: a b a a b; Rima cruzada entre os 1.º e 3.º versos de cada estrofe; Rima interpolada entre os 2.º e 5º versos de cada estrofe; Rima emparelhada entre os 3.º e 4.º versos de cada estrofe; Rima pobre entre os versos 1 e 3 (“abandonado” e “trespassado”), por exemplo; Rima rica entre os versos 6 e 8 (“sangue” e “exangue”), por exemplo. • Trata-se de um poema de base narrativa, com: Narrador: o sujeito poético (subjetivo; emite juízos de valor); Ação: a morte do soldado; Personagens: soldado, mãe, criada e Império; Espaço: “plaino abandonado” (verso 1) / “lá longe, em casa” (verso 26).