É com imenso prazer orgásmico que compartilho este livro primeiro, de forma livre em pdf, para que possamos circular, também por vias digitais esta produção, sendo assim, peço aos amigos e irmãos do mundo da poesia e das narrativas outras nos ajudem a circular esta obra por onde for...
2. Salvador, março de 2013
Projeto Gráfico: Tiago Ribeiro
Capa: Flávio Oliveira - Flos
Revisão: Laura Castro e Lucas Bronzato
Impressão: Gráfica do João Pará
7. Ser artista é ter concessão pra loucura,
sem ser estigmatizado como louco na
sociedade contemporânea...
8. Prefácio
“Tu é aquele que vê a miragem e gosta de
acreditar no que vê”.
Começo assim recorrendo à poesia mineira pra
falar desse mineiro amigo-poeta.
Me diz onde encontrar o equilíbrio para falar
desse amigo sem poder exagerar, como o afeto
permite; e também não deixar faltar porque tua
modéstia exige?
Há alguns anos fui convidado por um amigo
poeta pernambucano para fazer a capa do seu
primeiro livro de poesia, e hoje menos jovem
sinto a mesma emoção em fazer o prefácio do
seu primeiro livro.
Assim, caro leitor, de antemão quero te prevenir
pra não prevenir-se, é necessário apenas querer
estar apto a receber uma enxurrada de vontades, uma tempestade de desejos e um chamado
para um universo de possibilidades. Mas, neste
caminho de flores e cores, cabe espinhos, e
quem costuma ferir pode ser ferido com essas
palavras acessas e pulsantes.
9. Então, cada um no seu recanto, receba esse
grito-canto de algo que mesmo que não lhe
caiba, foi feito na medida pra você.
E tantos quanto, outros títulos caberiam como
título dessa obra. Exemplo: “desnudando”, pois
esses versos que tu trás te trazem nu, transparente, nítido. E, se o título fosse “testamento”,
também o contemplaria! Ainda se escolhesse
“canto dos livres” traduziria teus versos sussurrando, gritando, tramando por liberdade!
Assim, somos presenteados com cada letra, com
cada palavra, com cada verso silencioso,como
toda palavra escrita é. Mas, que ecoará no mais
profundo de cada um de nós. Sendo necessário
e urgente termos corações férteis para que essa
semente de sentimento e sonhos germine em
cada um de nós e se torne frutos e sementes
novamente.
Helder Gonçalves Beserra
10.
11. Referências e Agradecimentos
Sempre pensei num dia possível de lançar um livro,
que minhas referências, des-com-nexas, viriam antes de mim ou junto ao meu tempo presente, e é
por isso que decidi colocá-las em primeira página.
Seguem então, não em ordem de importância, mas
apenas pela desordem da memória:
Aos meus geradores e criadores Lúcio e Tita, a meu
irmão Lucas, familiares e amigos consanguíneos, da
terra de origem, que me sustentam em princípios de
vida e cuidado com o outro... às montanhas gerais
com seu povo terno e gentil...
Aos novos familiares, amigos, irmãos reconhecidos
nos encontros das caminhadas e dos caminhos, em
especial a família do Santo Antônio e vezeiros do
bairro, a Salvador e a nossa Bahia, ao Nordeste, África
e América Latina...
Em especial aos irmãos Helder Bezerra (prefácio e
revisão) e Vielka Lins, Lucas Bronzato (revisão e crítica), Laura Castro (revisão e crítica), , Flávio Flos,
Tiago Fulano (diagramação e arte visual) e Rafael
Alemão (arte em movimento-lançamento), Orlando
Pinho, Ana Lú, Ênio,Tuca, Carlos Silvan, Tiago Parada,
Patrícia, Ademir, Dora e aos que por hora não lembrei de digitar.
Aos poetas e poetisas que me inspiram e inspiraram,
lembrando alguns: Damário da Cruz, Jorge Conceição, Carlos Drummond Andrade, Neruda, Fernando
Pessoa, Cecília Meireles, Florbela Espanca, José Martí, Tiago de Melo, Tiago do Sto Antônio, Tolstói, Dei,
Ray Lima, Lutgarde, Jocélia, Clécia, Irmão Helder, Lu-
12. cas Braga, Alberto Lima, dentre outros tantos poetas
e poetisas vivos, mortos e latentes...
Aos amig@s do Bloco De Hoje a Oit8, aos poetas e
poetisas do universo do samba e outras manifestações da cultura popular brasileira, como Nelson
Cavaquinho, Cartola, Catoni, Paulo César Pinheiro,
Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Walmir Lima,
Ederaldo Gentil, Reginaldo de Itapuã, Cacau do Pandeiro, Batatinha, Lia de Itamaracá, Gonzaguinha, Luiz
Gonzaga, Belchior...
A teóricos/escritores/filósofos/figuras históricas/artistas como Paulo Freire, Milton Santos, Guimarães
Rosa, Amedeo Modigliani, Joseph Beuys, Espinoza,
Eduardo Galeano, Marx, Fucoalt, Henry Toreau, Eduardo Galeano, Margarida Maria Alves, Rosa de Luxemburgo, Frida Kallo, Jesus Cristo, Emiliano Zapata,
Ernesto Guevara, Mahatma Gandhi, Martin Luther
King, Antônio Conselheiro...
Ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra
(MST), ao Exercito Zapatista de Libertação Nacional
(EZLN-Chiapas, México), aos movimentos de luta
anti-manicomial, aos movimentos de luta por moradia, a todos movimentos em defesa da dignidade e
libertação dos sujeitos individuais e coletivos e pela
justiça social...
As mulheres com quem vivi e as que convivo, minha
sincera gratidão por me ensinarem a ser mais...
As crianças, aos chamados loucos, ou seja, aos livres,
aos artistas arteiros, aos ancestrais, a arte livre, a potência criativa libertária e a vida/natureza pra além
dos humanos...
13. As mulheres e homens simples do cotidiano de vida,
que a cada conversa/encontro me ensinam...
Aos mistérios da vida,
Aos deuses e deusas presentes em cada um de nós,
As cores,
Cheiros,
Sensações,
Aos elementos da vida,
Dores, afetos e sabores,
As espiritualidades,
Presença do todo em nós e de nós no todo...
Como uma “amálgama caótica” como um “ser rizomático”, “sem início, meio ou fim”, como imagens
oníricas, estes escritos “desorganizando-se, organizam-se” em conflitos e desejos de “sonhos possíveis”
e “inéditos viáveis”, um emaranhado de denúncias,
renúncias e anúncios a partir do “tempo presente” e
de encontros com “homens e mulheres e outros seres presentes”. E como versa o amigo Luís Parras “poesia é o desenho de quem não sabe escrever”, sendo
assim, seguem os rabiscos, boa leitura, ou melhor,
boa viajem conjunta.
Guilherme Salgado
Salvador, 25 de fevereiro, 2013.
17. GENTE
Gente,
Quero ser gente,
Somente gente,
Ser.
Não quero mais me vender,
Quero me doar.
Não quero mais ter que ir,
Somente rir.
Não quero muito pensar
Quero viver, sentir,
Cuidar, semear,colher,
Amar, construir,
Ser, gente
Gente, ser.
18.
19. CONSUMO
Consuma consumidor,
Consuma sem parar,
Sem parar pra pensar,
Sem parar pra agir,
Sem parar pra viver.
Consuma tudo o que puder,
Consuma a matéria,
Consuma o corpo,
Consuma a mente
Consuma o outro.
Consuma de acordo:
com tua necessidade,
Com teu direito,
Com tua coragem, audácia...
Consuma de acordo com teus “desejos”.
Consuma rápido,
Consuma logo,
Antes que te consumam,
Ou antes mesmo que você se consuma...
09 de maio, 2009.
20.
21. DESACELERAÇÃO
Ao me distanciar do corrido “presente”,
Consigo, desacelerando, me aproximar dos
sentidos...
Assim, sinto a existência no simples, no belo, no
poético
Enxergando os simples movimentos que
compõem as relações e o mundo...
Tenho conseguido admirar a suavidade desta
tarde chuvosa,
O gosto leve da janela entreaberta,
A confortável sensação do lento caminhar da vida!
28 de abril, 2011.
22.
23. PRESSA NA HORA
A hora que nasce
Que cresce
Que tinge e remexe
A hora que urge,
Que pede, anuncia,
Vira, acontece.
Tem hora de nascer,
Por que não de morrer?
De renovar,
De se reintegrar?
Viva a hora
Que vem chegando
Hora do futuro,
Futuro este
Vivido no presente
No hoje, no agora
E pra não perder mais tempo
Bem devagar, sem pressa,
No passo necessário pra cada qual...
Salvador, manhã, 14 de agosto, 2010.
24.
25. SERES, COISAS E PESSOAS
O que será o Ser dos Seres?
Por que muitas vezes deixamos de ser e viramos
pessoas?
Pessoas são?
Coisas são pessoas?
Já vi coisas virar pessoas, mas nunca as vi serem...
Sei que algumas vezes, mesmo sem querer
acreditar,
Pessoas, que nascem pra serem, virarem coisas...
Espero testemunhar ou imaginar que, num dia
em que as coisas sejam apenas coisas,
E que as pessoas, possam seguir o caminho de
serem seres...
18 de abril, 2011.
26.
27. E OLHA LÁ
Sem tempo pra respirar
Com pressa pra trabalhar
Tá na hora de dormir
Acorda que já vai começar
Correria pra lá
Cansaço prá cá
Bora comer logo
Não se pode parar
Sem tempo pro amor,
Sem tempo pra cuidar,
Lazer?
Quanto mais brincar.
Tomar umas com os amigos?
Só quando o fim de semana chegar
E olha lá
Sentar e distraidamente conversar?
Só quando de férias se está,
E olha lá...
Como drogas,
Prazeres da vida
Preenchem as brechas de nossos “compromissos”,
Como se fossem prêmios,
Por nossos sacrifícios e penitências cotidianas.
Viver,
29. SOU... ... O QUE PRECISA SER?
Sou o que precisa ser
Sou operário
Sou pedreiro
Camponês e jardineiro.
Sou o que precisa ser,
Do que precisamos hoje?
Educador, palhaço ou cantor?
Quem sabe?
Sapateiro, curandeiro e agricultor?
Quem sabe?
Sou o que precisa ser,
Sou folclorista,
Contador de casos,
Tocador de côco, equilibrista e animador.
Sou o que está sendo,
O oco do mundo,
O canto do beija-flor...
Trovador...
13 de outubro, 2011.
30.
31. DESCANSO PRODUTIVO
Quero mais fim de semana,
Quero mais tempo livre,
Quero mais sábado na segunda-feira,
E domingo na quarta,
Feriado, férias, aposentadoria hoje, na plena
idade,
Na verdade, não quero mais é segunda-feira,
Nem relógio capataz,
Quero folga, espaço, ócio...
Pra me integrar à vida e produzir amorosamente,
Encontros, desejos, necessidades, alegrias e
generosidades.
26 de abril, 2011.
35. LINHA TÊNUE
Caminho sobre a estreita fronteira
Entre a sanidade e a loucura.
Uma linha imaginária
Realmente fina, frouxa e bamba.
Não sei se são dois lados.
Acredito que tenha
Um pouco em cada lugar
E um pouco de lugar em cada uma.
Só sei que lá a gente é livre,
A gente é da gente.
36.
37. DE, SOBRE CRISES ...
Do Caos pode se ver a luz,
Das amarras lembro-me ruptura,
Como as águas do mar no arrebento das barreiras.
A crise que nos rodeia,
Talvez seja a chance de pensar,
Qual seria mesmo o caminho?
Oportunidade de repensar no agir!
Opa crise querida,
Venha com todo o vapor,
Tão temida, não sei porquê?
Ou melhor, talvez saiba por quens...
Éhhh vida, vida, vidinha,
Melhor que remediar,
É rever o que queremos,
No ser com no mundo.
Mundo este feito de Joãos, Marias e Fernandos,
De Joséfas, Carlitos e Solanges,
Tantos nomes, tantas vidas, tantas horas
Lá pelas tantas, o que temos de sustento, ou
melhor,
O que temos sustentado?
38.
39. MORTE
Caminhando doce e suave ao meu lado,
No vai e vem de uma vida sem sentido,
Com a dor que corta a alma,
Pela falta dos teus seios,
Pela falta do sentido de continuidade da vida,
Pela tristeza de um caminhar solitário.
Quantos motivos temos pra morrer?
É preciso ter motivo pra isso?
Talvez sem motivo tenhamos vontade,
Uma súbita vontade de morrer,
Nem que se for aos poucos,
Pelo consumo livre e destemido de drogas,
Pelo alvorecer da madrugada lisa,
Sem sentido de criar e recriar,
Nas miudezas DO COTIDIANO “SELVAGEM”,
Éhhh morte, venha me buscar quando eu estiver
pronto,
Mas não demore a chegar,
Pois acho que não agüento mais de dor,
Dor da alma, dor da vida, dor da humanidade,
Dor da natureza, dor do social,
Dor da ignorância, dor da competição,
Dor da disputa, dor da loucura que nos cerca e que
nós cercamos,
Puta dor, dor de puta, puta da dor, que nos
emputece pela vida prostituída...
19 de outubro, 2008.
23h51.
40.
41. TRANSFORMAÇÕES DE ENERGIAS
Na noite quente e seca,
Vejo meus olhos no reflexo do visor,
Vagando frio e paciente,
Pelos fluxos inimagináveis.
De onde é?
De onde é que é?
Esta menina de três cores,
Que de presente eu recebi!
De onde é, não “há” como saber
Mas de quem veio posso afirmar,
Ela veio de muito perto,
Mas um perto que não dá pra ver.
Opa, cadê ela? Já estás pela metade,
Onde serás que ela foi?
Pra dentro deste poema? – Talvez,
Creio que prá vários outros lugares...
Não tem hora nem lugar,
Nem agito, ou menos solidão,
Onde ela não possa transformar,
Fluidos negativos, em brisa do mar...
Santa Bárbara do Oeste, 02 de maio, 2009.
42.
43. O LOUCO EM MIM
Louco por vocação
Louco de amor,
Louco de emoção,
Louco a produzir.
De duas, uma,
Ou explodo comigo mesmo,
Com as pessoas e com o mundo,
Ou liberto o louco que há em mim...
44.
45. QUEDA LIVRE
Meu ser cai num abismo
Como as letras caem neste poema
Meu corpo despenca a uma velocidade
nunca alcançada
Me perco de mim
Nasço, morro e renasço
A cada instante um novo suspiro
Parece ser uma queda com poucos
obstáculos
Um alto despencar de um pico
Mas é isso,pelo menos é queda livre
Ou me parece ser
Uma queda somada a fantasia
De fingir não sofrer
De Livremente amar a liberdade minha
no outro.
49. ESTADO
Estado de estabilidade
Estado histórico de dominação
Estado de massacre ao novo
Estado de aprisionamento da liberdade
Tudo em nome do Estado
Quem é o Estado se não o Controle, a Polícia?
Quem escreve a Lei, quem executa, quem julga?
Quantos falam em nome do povo sem nunca
terem sido povo?
Pela revolução dos pensares e agires de
indivíduos e suas coletividades...
Ex-tado,
Estando,
Sendo...
06 de dezembro, 2010.
Após ver o filme: Danton, o processo da revolução.
50.
51. MONTANHAS, O CAMPO
Eu vejo um nordeste
Querer ser sudeste.
Uma Bahia almejando
Ser São Paulo.
Uma São Paulo sonhando
Em ser Nova York.
Um Brasil operando
Em direção à Europa.
Eis o brinde da globalização.
O caminho do “desenvolvimento”.
Cada vez mais modernidade.
Juntos, estresse e depressão.
Ficar nestes lugares e resistir?
Lutar contra?
Se adaptar?
Cada vez mais tem tocado o sino nostálgico,
Da paisagem bucólica,
Das montanhas calmas e simples,
Do leste de Minas Gerais...
Vida pacata,
Tempo no tempo,
Dia e noite,
Cachoeira, fogueira
Prosa, mato e violão.
Mortes de morte morrida.
Vidas de vida sentida, vivida.
Feira de Santana, outono de 2010.
52.
53. JOÃO PESSOAS
João, pessoas
Pessoas como Joãos.
Tantos Joãos , nesta João Pessoa.
Que fortemente, de Marias,
Margaridas, Alves,
Compõe o cenário deste belo,
Esquecido, forte
Nordeste.
Belo por sua gente,
Esquecido pela “história” dos que exploraram,
Forte como raiz profunda,
Que fortalece seu ser no diálogo com o sol.
Para além de temores,
Prá lá de Histórico,
Pra sem fim de bonito,
Paraíba,
Paradigmas,
Paraíso,
Para o mundo.
João Pessoa, junho de 2011.
54.
55. BURGUESIA
Assim como:
“miséria é miséria, em qualquer lugar”
Burguesia e comportamentos burgueses
São podres,
Patéticos,
Necrófilos,
Sem “brilho”
Em qualquer lugar.
Uma vez morta,
Ainda se torna necessário o “extermínio”,
Te todo o seu lócus ideológicus...
Pra que ninguém mais,
Possa chegar onde
Já mais, não existe.
56.
57. PARA DRUMMOND, NERUDA, MARTÍR,
FREIRE E AFINS
Entre poetas, vidas,
Poesias, sentidos
América-latina, unidade.
Fronteiras abaixo,
Força e comunhão,
Enfrentamento ao imperialismo.
Nos nacionalistas críticos,
Internacionalistas solidários.
Na aliança com nossa mãe África
Nosso sul, nossa multicultura.
Índios, negros e caboclos
Sujeitos que extraem da histórica opressão,
Belezas amorosas para o grito de libertação.
58.
59. PRA SEMPRE, SEM TERRA
Na luta, nos campos
Na cidade adormecida
Pelas estradas e caminhos
Entre lonas e caminhões
Seguem, homens e mulheres
Crianças , adultos e idosos
Gente como a-gente,
Com sentimentos, sensações, sentidos.
Procurando terra pra plantar,
A semear amor
Nestes solos marcados pela dor.
A cultivar solidariedade
Nos latifúndios desmantelados.
A acompanhar com cuidado
O crescer e florescer da ternura,
Pra enfim colher liberdade.
Terra mãe,
Terra pátria,
Terra latino-américa.
Que de ninguém ela seja,
Pra que de todos, ela possa cuidar,
Que um dia todos possam ser sem-terra.
Onde tudo seja para todos
E nada somente para nós
Que assim seja,
Serás.
60.
61. CUBA CORAÇÃO
Ainda não estive em Cuba
Mas ouso versar esta soberana e crítica nação
Tão criticada pelo império
Tão amada pelos que lutam pela dignidade
mundana.
Da resistência ao evangelho do consumo
A solidariedade internacional exemplar
Educação, arte, saúde e ternura são teus rostos
Liberdade és teu codinome.
Quanto mais embargo
Mais saídas alternativas ao capital
Respeito à mãe terra
Que pariu, cuidou, acompanhou
Ernesto, Fidel, Sienfuegos, Martír
E mais tantos e tantas...
E há de multiplicar novos homens e mulheres
Que formam e formarão nossa nova sociedade:
comunhão.
62.
63. POVO DAS SELVAS
Entre matas e montanhas
Perseguidos por vilões da ganância,
Cerceados por especuladores banais
Protegidos por “pachamama”.
Por negarem este Estado
E resistirem aos demônios neoliberais
Se forjam enquanto povo
Povo das selvas.
Facões, milho e fuzis
Solidariedade, negação de poderes sobre e
dignidade
Princípios de vida
Práticas de respeito.
Povos das montanhas,
Estamos com vocês
E sabemos que estão com a humanidade,
Universal, ser natural.
Pelas almas indígenas,
Por Zapata, Viva Chiapas!
Pelo México vivo,viva latino-américa livre,
Por “pachamama”, viva o cuidar de quem nos cuida.
64.
65. JESUS
Não quero o Jesus da cruz
Quero o Jesus da vida
O Jesus do dia
O Jesus radical, da raiz.
Quero o Jesus da prática:
Solidária,
Terna,
Cuidadora,
Anti-capitalista,
Libertária.
Quero o Jesus sujeito,
Sujeito histórico,
Amoroso, crítico, belo
O “senhor” da comunhão.
Desejo ver/sentir Jesus
No pensar/agir de cada humano,
Cotidianamente, no cuidado com o outro,
No cuidado com o mundo.
66.
67. DAS IDENTIDADES
Quando me perguntam se Marxista,
Respondo que considero o materialismo dialético
histórico,
Como referência,
Principalmente no que diz respeito,
A tua matriz analítica de sociedade.
Se me questionam, Comunista?
Digo que acredito sim,
Numa comunhão,
No banquete da vida, onde todos possam sentar-se.
Então, Socialista?
Digo que, Estado?
Talvez enquanto meio,
Mas, por análise histórica e vivências
Desconfio das instituições há um bom tempo.
- Ahh, então só podes ser Anarquista!
Respondo:
- Por favor, não tente me delimitar,
- Confesso ser um amante da liberdade, ternura e
solidariedade,
- Acredito nestas enquanto princípios de uma
sociedade.
Mas ultimamente, tenho pensado:
68. - onde existam sujeitos individuais e coletivos
abrindo fendas no tecido do sistema capitalista e/
ou produzindo alternativas na produção da vida
e na sua relação com o mundo,
- Ali estou...
Salvador, março de 2009.
73. AMOR DA CABEÇA AOS PÉS
Por ser o amor
Quero amar
Desejar, gozar
Ser amado.
Lançar charme
Como as flores lançam perfumes
Ser cortejado
Encantar, dengar, aninhar.
Amor, experiência própria
Doada, cedida, emprestada
A quem dele precise
A quem ele deseje
Às várias “não formas” de amar,
Amares.
Salvador, outono de 2011.
74.
75. ARTE LIVRE
Vamos fazer arte...
- Olha a arte menino!
Arte, safadeza,
Bagunça boa!
Arte simples,
Aquela mesmo,
Lembremos, vamo lá,
É só sentir,
Colocar pra fora o sincero...
Arte não pede licença,
Arte ocupa,
Subverte,
Não obedece, ingere,
Incomoda, liberta...
Goiânia, primavera de 2010.
79. MUNDO
Hoje vivo num mundo de poucos,
Privilégios de uma vida condenada.
Já não quero viver entre estes poucos,
Nem mesmo como muitos
Que trabalham para sustentar
Os privilégios destes.
Não é possível que todos vivam como estes
poucos acima,
Quero mesmo é adentrar pelo mundo dos
poucos loucos
Que vivem e creem
De maneira livre e consciente
Artística, mística e solidária,
Poética e generosa.
Como um ser natural,
Com “razão animal”.
80.
81. OCIOSIDADE POÉTICA
Sempre suspeitei,
Que poesia fosse coisa de “preguiçoso”.
E hoje constato,
Sem “ócio”, sem tempo “livre”,
Impossível cantá-la a florir.
A partir da mente “vazia”
Emergem,
Sentires, pensares e agires
Do diálogo com o mundo.
Poesia é respiração,
Poesia é rede
Poesia é madrugada
Poesia é ternura
Poesia é o que se sente
Não o que se fala,
Não o que se pensa,
Poesia é o que se vive...
82.
83. SAMBA
Samba é assim,
Está em todo lugar,
Com vários nomes,
Sotaques e não definições.
Samba de roda,
De breque, Chula
E de partido alto.
Samba enredo,
De gafieira, maxixado
E de terreiro.
Samba de coco,
Choro, caboclo
E com o que quisermos...
Amor e Denúncia
Desespero e ironia
Prantos, dores e alegrias
Samba é assim,
Pra cantar, pra sorrir, pra chorar,
Pra sambar.
84. Samba Canção,
Samba de crioulo,
Segura a marcação...
Na verdade,
Samba é assim,
Sem preconceito, designo de raça ou definição,
Pronto pra acolher,
Ateu, budista e cristão...
85. SEXUALIDADES, SEXO, SER
Ser homem,
Ser mulher,
Ser híbrido,
Ser mais.
Nascer masculino,
Sentir feminino,
Gozar com meninos,
Deleitar-se com meninas.
De dia homem,
Pela noite mulher.
Transcender a norma,
Romper a moral
Tra, Trans, Bi, Pan,
Quantas qualificações,
Por quê tudo isso?
Quantos rótulos.
Talvez, melhor mesmo,
É ser sexual,
Ser amor,
Poder ser.
86.
87. AMANTE AMADA
Mulher, moça, menina, mulher
Tua graça não sabias
Tua presença devagar fui notando
A celeridade nos passos
O sorriso no rosto
A firmeza no olhar
Que somado a uma tremenda sensibilidade
Vem nesse emaranhar de adjetividades
Desenhar esta pessoa, gente, mulher
Desejante, desejada, amante, amada ...
88.
89. VIVACIDADE
Adentro às veias e artérias ele “corre”
Sangue quente e úmido,
Vermelho como uma rosa
Pulsante, vivo e agitado ele segue...
Sintam o sangue,
Passando por diversos caminhos,
Nutrindo células íntimas,
Num trajeto delicado e complexo.
Sangue com história,
Sangue do sangue de outrem,
Outrem que vem carregado de histórias,
Histórias de outras diversas histórias.
Percorrendo estes canais,
Em forma de rede,
Ele vem impulsionando o corpo,
Impulsionado pelo Coração.
Órgão indispensável, essencial, básico...
Parte vital de uma rede comunicante,
Com encontros sistêmicos difusos
Numa complexa relação de funcionamento.
90. Coração este que odeia, ama e goza,
Que sente prazeres e desconfortos,
Coração que, vivaz, num emaranhado de relações
Se une a outros corações para perpetuar a vida...
Vida a ser vivida intensamente,
Nos desejos e interesses,
Que dialoguem permanentemente,
Entre o ser sujeito individual e coletivo!
Santa Bárbara d’ Oeste, 29 de abril, 2009.
91.
92. Este livro foi impresso em papel jornal e papel AG,
nas fontes Museo e Museo Slab (miolo) e Papel
Paraná (capa), em formato de bolso (11x15cm), na
gráfica do João Pará, no outono de 2013.
93. Guilherme Salgado – sujeito... procurando
ser... buscando na alegria do viver emanar
e aprender com os sujeitos, seres, relações
e com o mundo, a permanente busca de
ser mais com os outros.
Atualmente Guilherme reside no bairro do
Santo Antônio, centro histórico de Salvador
–BA e produz sua vida através da música,
aprendiz de poeta, pesquisador autônomo
viajante, facilitação de oficinas e de processos educativos no campo da percussão
popular brasileira, arte e cultura popular,
permacultura, educação popular, organização comunitária, produções autônomas
da vida por sujeitos individuais e coletivos,
comunidades alternativas e saúde.
Contatos e críticas – guieduca@gmail.com