Artigo onde enfatiza a relação entre a violência exposta na televisão e o comportamento agressivo das pessoas atualmente, principalmente o público infanto-juvenil.
Violência e meios de comunicação na sociedade contemporânea
1. VIOLÊNCIA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA NA SOCIEDADE
CONTEPORÂNEA E O COMPORTAMENTO INFANTO-JUVENIL.
Diogo Mendes1
Ávila de Casio2
Roger Machado3
Lívia4
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Resumo
Este artigo tem por objetivo analisar a influência da mídia televisiva na formação e
desenvolvimento comportamental das pessoas, principalmente da criança. Procuramos
analisar até que ponto a mídia televisiva tem impacto na formação da identidade da
criança na sociedade contemporânea.
Palavras-chave: violência, televisão e desenvolvimento humano.
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Introdução
Neste artigo propõe-se uma reflexão sobre um tema extremamente complexo e
polêmico: a relação entre a violência exposta na televisão e o comportamento agressivo
das pessoas atualmente. Enfatizou-se na estruturação do trabalho e do comportamento
infantil.
Para tal análise torna-se necessário procurar respostas para perguntas como: A
exposição de crianças à uma mídia violenta gera um comportamento agressivo nelas?
Por que há tanta violência no conteúdo televisivo? Quem lucra com esta violência
exposta? Quem comanda a mídia?
Certamente não serão colocadas aqui respostas certas ou verdadeiras. A idéia da
pesquisa é apresentar argumentos e posicionamentos que nos auxilie a compreender um
1 – Graduando em Pedagogia da UnB.
2 – Graduando em Pedagogia da UnB.
3 – Graduando em Pedagogia da UnB.
4 – Graduada em Geografia pela UnB.
2. pouco da relação da sociedade com o meio de comunicação mais presente e influente
nas nossas vidas: a televisão.
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A televisão e a sociedade contemporânea
A televisão tem desenvolvido um papel fundamental na sociedade
contemporânea, tanto na transmissão de informação como na construção social da
realidade. A televisão tem hoje, quase que de forma imediata e global, transmitido fatos
ocorridos de um lado e outro do mundo. É consenso, principalmente entre o público
consumidor de notícias, que os jornais refletem a realidade. A mídia tem um papel
fundamental na forma como as pessoas absorvem a realidade, e ela tem feito isso de
forma bem convincente. MOSCOVICI (2003) afirma que nenhuma mente está livre dos
efeitos dos condicionamentos anteriores que lhe são impostos por suas representações,
linguagem ou cultura. Só que essa construção da realidade social se dá de forma
inconsciente. Talvez por isso consideremos essa transmissão como sendo uma realidade
que está acima de qualquer suspeita e distante de questionamentos.
É fácil perceber que quanto maior é o grau de credibilidade das emissoras, mais
a sua informação é aceita como verdade. Essa credibilidade é reforçada pelo fato de
sempre aprendermos que a verdade é transmitida de quem sabe mais para aquele que
sabe menos. A mídia pode ainda ditar regras, estabelecer padrões, e dizer no que as
pessoas devem ou não pensar.
“As pessoas tendem a incluir ou excluir dos próprios conhecimentos o que a
mídia inclui ou exclui do próprio conteúdo. Além disso, o público tende a
conferir ao que ele inclui uma importância que reflete de perto a ênfase
atribuída pelos meios de comunicação de massa aos acontecimentos, aos
problemas, às pessoas” (WOLF, 2003)
A grande questão a ser discutida é: qual a intencionalidade de quem produz a
informação e qual o grau de conformidade de quem recebe essa informação.
Mídia e infância
3. Em artigo escrito por MUNARIN (2003), é abordada a violência na
programação infantil e a influência dela nas brincadeiras das crianças durante a
educação física, ou seja, no seu horário de atividade extraclasse. Segundo a autora:
“[...] muito do que é assistido pelas crianças passa despercebido, sem
mediação adulta ou conduta crítica por parte do telespectador, sendo que
grande parte da programação é constituída por violência ou apelação
sexual.”
O trecho citado acima nos leva a importantes reflexões. Será que uma criança
consegue identificar os problemas decorrentes de uma exposição constante à violência?
Provavelmente, não. A televisão é recheada de atrativos, que em certos casos geram
uma enorme dependência. Este poderoso meio de comunicação muitas vezes enxerga a
criança apenas como um depósito de informações e mensagens, e não como um ser em
pleno processo de desenvolvimento e formação.
A ausência dos pais, ou daqueles que acompanham o desenvolvimento da
criança gera um enorme vazio que, geralmente é preenchido pela televisão. Este objeto
passa, então, a ser a principal referência para aquele ser em formação. A criança passa a
reproduzir os valores e as idéias impostas por um número pequeno de pessoas que
controlam a programação das televisões.
Um fato interessante de se observar é que as famílias com maior poder
aquisitivo, geralmente, possuem TV à cabo em suas residências, que tem canais com
uma programação que não apresenta nenhuma cena de violência, como é o caso dos
desenhos e programas do Discovery Kids. Formam-se, assim, mais um sistema de
exclusão na sociedade. As crianças mais pobres só têm acesso a uma programação com
um alto grau de violência e as de famílias com melhores condições financeiras oferecem
às crianças uma programação que pode despertar sentimentos de solidariedade,
coletividade e harmonia.
Se considerarmos que 89% das casas brasileiras têm a televisão como sendo sua
principal fonte de informação e entretenimento, e que o público infantil e juvenil passa,
em média, três horas e meia diante de uma televisão todos os dias (BARBOSA, 2003),
podemos então afirmar que a televisão tem sido utilizada como transmissora de valores.
Em observações com crianças no cotidiano percebemos o quanto os desenhos animados
4. influenciam nas suas brincadeiras. A maioria delas querem representar, imitar, algum
dos seus personagens favoritos. Os movimentos retomam os mesmos movimentos
desempenhados pelos personagens, retratando assim cenas de lutas, que são sempre
violentas.
Qual é o problema de expor uma criança a cenas violentas? Segundo SETZER
(2000):
“... além da deseducação dos sentidos e dos sentimentos, o problema é que o
ser humano grava tudo o que vivencia, a maior parte em seu subconsciente...
Assim, todas as milhões de imagens de violência assistidas ficam também
gravadas para sempre, em sua quase totalidade em seu subconsciente. Em
uma situação de “stress” de emergência ou de ação inconsciente, elas podem
influir na atitude, nas ações, nos pensamentos e nos sentimentos.
Poder e controle da mídia
Quem comanda a mídia televisiva? Quais os principais beneficiários? Quem está
por traz de toda a manipulação presente, porém não perceptível facilmente pela
sociedade?
Grande parte do que é exposto na televisão tem uma manipulação de opinião
implícita em sua concepção. Analisemos a cobertura do acidente do vôo 3054 da TAM
ocorrido há alguns meses atrás. A televisão associou a tragédia à uma crise no setor
aéreo. Evidenciou-se a precariedade da infra-estrutura dos aeroportos e do controle
aéreo brasileiro. Isso foi feito com o intuito de responsabilizar o governo Lula pela
tragédia. Porém, nenhum jornalista produziu uma evidência ligando de fato o acidente
ao governo atual. A tragédia parece ter resultado da relação pilotos-aeronave. A única
evidência que contribuiu para o ocorrido foi a ausência de uma área de escape no
aeroporto de Congonhas, que é um problema que data da construção do aeroporto, algo
que aconteceu no passado, nos governos anteriores. Portanto o Lula não é o único
culpado, como demonstrou os telejornais. O curioso é que a rede globo, emissora de
grande poder, apoiou a reeleição do presidente Lula e agora faz um trabalho explícito de
retaliação à imagem do petista.
5. Outro exemplo importante é o das propagandas. As empresas gastam milhões
nesta atividade. O objetivo da propaganda é alcançado por meio da manipulação do
subconsciente das pessoas e do poder de persuasão presente no universo televisivo.
A mídia dita o grau de importância de um fato ocorrido, quando em sua
programação dá mais ou menos ênfase a este fato. Seria o caso de nos perguntarmos o
porquê de tantos ataques a alguns governos e a outros não. Por que se fala, por exemplo,
tão pouco das atrocidades cometidas pelo governo Bush e do seu enorme potencial
bélico enquanto se dá grande visibilidade aos armamentos produzidos no Iran? E o caso
da invasão do Iraque? A invasão foi legitimada pela mídia com diversos argumentos
como a suposta presença de armas químicas no país e a também suposta presença de
uma ditadura. Os Estados Unidos, portanto libertou o país. Segundo CURRAN (1996):
“os meio de difusão não só promovem um ‘sentimento comum’ (nós),
como também favorece a integração dentro da ordem normativa dos
valores morais da sociedade, dentro do seu sentido do que é correto e
do que é incorreto. Por isso os meios de difusão remarcam, de forma
regular, os limites do que é aceitável e do que não é.”
É interessante perceber como se dá uma enorme visibilidade na mídia quando
alguém de um bairro nobre é vítima de violência e como se naturaliza as violências
diárias ocorridos nas periferias , nos locais mais pobres. Para DELGADO (1998):
“...impõe-se uma economia do signo midiático do crime, onde por
exemplo, uma vítima com uniforme ocupa três parágrafos mais que
um moleque de chinelos; ou um crime contra uma criança capturada
e violentada em um Shopping Center por outra criança na Inglaterra
ocupa, no Brasil e na Espanha, mais tempo e espaço na mídia do que
a exploração, maltrato ou prostituição infantil existentes nos dois
países.”
O poder da mídia pode ser muito maior do que imaginamos. Segundo
RONDELLI (2000):
“pelo procedimento da ampla visibilização, os meios de comunicação
agem como construtores privilegiados de representações sociais e,
mais especificamente, de representações sociais sobre o crime, a
violência e sobre aquelas pessoas envolvidas em suas práticas e em
6. sua coibição. Estas representações sociais se realizam através da
produção de significados que não só nomeiam e classificam a prática
social, mas, a partir dessa nomeação, passam mesmo a organizá-la
de modo que se proponham ações concertas em relação a ela.”
Considerações Finais
A televisão retrata o cotidiano de forma tendenciosa e regrada. Faz do consumo
um projeto de vida e da opinião algo que tem de ser construído por ela. Este meio de
comunicação não é autônomo. Está sempre aliado a interesses políticos, financeiros ou
de outra natureza. Por isso, devemos sempre duvidar da informação, questionando,
sempre, qual o real interesse por de trás dela.
Quando é estabelecida uma relação entre um meio de comunicação de massa tão
forte como a televisão e imagens violentas são inúmeros os problemas que podem surgir
na sociedade como fruto desta associação.Torna-se então, necessária uma inversão de
prioridades na lógica televisiva, colocando o bem estar da população antes de qualquer
outro interesse.
Não é admissível que diante de tantas tragédias geradas pela extrema violência
presente na sociedade contemporânea, o meio de comunicação mais poderoso e mais
difuso apresente constantemente para os espectadores cenas violentas. A maioria das
pessoas assiste televisão todos os dias. Formam opiniões e pensamentos altamente
influenciados por este instrumento. Como as crianças não terão atitudes agressivas se
estão sendo formadas por uma mídia descompromissada e desinteressada, que invade os
lares brasileiros com uma programação que estimula sentimentos de raiva, competição,
inveja e ódio?
7. Referência Bibliográfica:
BARBOSA, B. TV brasileira faz mal ao público infanto-juvenil. 14/12/2003.
Disponível em www.aurora.ufsc.br . apud MUNARIM, Iracema. A violência na
programação infantil da TV e as brincadeiras das crianças. Florianópolis (SC). 2003.
CURRAN, James. Repensar lá comunicación de massa. In: CURRAN, James et
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CORDEIRO, Tânia, VICTOR, Sampedro. Bahia Análise & Dados. Salvador (BA): SEI.
2001.
DELGADO, M. O discurso da violência: la fastamización mediatica de la
fuerza. In: Tripodos. Facultat de Ciências de la Comunicación. Barcelona. 1998. apud
CORDEIRO, Tânia, VICTOR, Sampedro. Bahia Análise & Dados. Salvador (BA): SEI.
2001.
MOSCOVICI, Serge. O fenômeno das representações sociais. In: MOSCOVICI,
Serge. Representações sociais: Investigações em psicologia social. Petropolis (RJ):
Vozes. 2003. apud AMARAL, Renata. Representações sociais e discurso midiático:
como os meios de comunicação de massa fabricam a realidade. Recife (PE). 2005.
MUNARIM, Iracema. A violência na programação infantil da TV e as
brincadeiras das crianças. Florianópolis (SC). 2003.
RONDELLI, Elizabeth. Imagem violência e práticas discursivas. In: PEREIRA,
Carlos Alberto M. et al. (Org). Linguagens da violência. Rio de Janeiro: Rocco. 2000.
apud CORDEIRO, Tânia, VICTOR, Sampedro. Bahia análise & Dados. Salvador
(BA): SEI, 2001.
SETZER, Valdemar W. TV e violência: Um casamento perfeito. 09/01/2000.
Disponível em www.ime.usp.br/~vwsetzer.
WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes.
2003. apud AMARAL, Renata. Representações sociais e discurso midiático: como os
meios de comunicação de massa fabricam a realidade. Recife (PE). 2005.