O documento descreve a expedição do explorador português Pedro Teixeira no século XVII que mapeou grande parte da Amazônia e estabeleceu a soberania portuguesa sobre a região. O Senado brasileiro realizará hoje uma sessão de homenagem a Pedro Teixeira para celebrar os 370 anos de sua expedição e sua importante contribuição para a história do Brasil. O explorador é conhecido pelos índios como "Curiua-Catu", o Homem Branco Bom e Amigo.
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ID: 27932041 10-12-2009 | P2 Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 4
Os índios chamavam-lhe
o Homem Branco Bom
No sábado festeja-se o fim da expedição de Pedro Teixeira, o explorador português que
subiu o rio Amazonas no século XVII. Mas “Curiua-Catu”, o Homem Branco Bom e Amigo,
é homenageado já hoje no Senado brasileiro. Para que ninguém esqueça o que fez por
Portugal e pelo Brasil
O “chamamento da Amazónia” é lembrado nestes
dias em que o mundo discute o aquecimento global
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esquecido que precisa de ser “A Pedro Teixeira se trajecto”, explica a investigadora. ou oitocentos casais” cada: “Aqui
Isabel Coutinho
recuperado”, diz ao P2 por telefone Incluindo os canibais. acabam-se as flechas furadas
a Pedro Teixeira: sabe quem é? Aloizio Mercadante, o senador deve quase metade do Nessa grande expedição, perigosas e, ainda que as haja por
Provavelmente não. Mas na Ajuda, brasileiro que está a lançar um Pedro Teixeira fixou uma série de todo o rio, não matam como as do
em Lisboa, há uma estrada com o movimento para “resgatar a nosso território actual. territórios até então desconhecidos, Sul”, escreve.
seu nome. Em Cantanhede, onde memória, reconhecer e valorizar Mais de 62 por cento como as ilhas das Areias ou Santa A documentação sobre este
nasceu, há uma estátua. No Brasil, a imensa contribuição” que este Luzia. Na viagem de regresso a conquistador do Brasil é esparsa.
onde morreu a 6 de Junho de 1641, português de Cantanhede, no da Amazónia está em Belém do Pará descobre o rio Negro “Em Portugal pouca coisa há”, diz
o seu rosto foi estampado nas notas distrito de Coimbra, teve na História território brasileiro (onde mais tarde se ergueu a cidade Anete Costa Ferreira, lembrando
de cinco cruzeiros; e quando o do Brasil. A sessão de homenagem de Manaus) e o rio Madeira, um que o historiador Jaime Cortesão
Papa João Paulo II, em 1980, fez que se realiza hoje, às 10h00, por causa dele” grande afluente do Amazonas. (também de Cantanhede)
uma viagem entre Belém do Pará e no Senado Federal, em Brasília, Um dos feitos mais importantes da apresentou no IV Congresso de
Manaus viajou num navio de guerra para comemorar os 370 anos da expedição é a fundação do povoado História Nacional no Brasil, em
que tinha o seu nome. expedição de Pedro Teixeira, o de Franciscana, oficializada a 16 1949, O significado da expedição
Os índios brasileiros chamavam- “desbravador” português, partiu de Agosto de 1939. Obedecendo de Pedro Teixeira à luz de novos
lhe “Curiua-Catu”, o Homem Branco de uma proposta sua. Para o às ordem do governador, Pedro documentos. Em 2002 foi realizado
Bom e Amigo, e quase no final da sua senador, a contribuição daquele Teixeira toma posse desse o documentário Curiua-Catu: A
vida foi nomeado capitão-mor do a quem chamam o conquistador território, mas diz que o faz para Grande Expedição de Pedro Teixeira
Grão Pará. Fez-se acompanhar por da Amazónia no processo de a Coroa portuguesa (e não para a 1637-1639, realizado por Carlos
índios numa expedição que partiu constituição e afirmação da espanhola). Com a nova povoação, Barreto.
de Gurupá, a 28 de Outubro de 1637, soberania territorial foi decisiva e o navegador quis homenagear todos Para contrariar a dispersão de
com duas mil pessoas. Subiram os deve ser celebrada por portugueses os missionários franciscanos. documentos e mesmo a falta de
rios Amazonas e Negro e chegaram e brasileiros. informação ainda mais detalhada,
à cidade de Quito, actual capital do “A Pedro Teixeira se deve quase Sem amazonas Anete Ferreira vai começar dentro
Equador, voltando a Belém do Pará metade do nosso território actual. No documento que se encontra na de dias uma investigação no Museu
26 meses depois da partida (a 12 de Mais de 62 por cento da Amazónia Biblioteca da Ajuda, Teixeira conta Naval e no Arquivo Público de Belém
Dezembro de 1639). O rio Amazonas está em território brasileiro por ainda que, tanto na ida como na do Pará, e em São Luís do Maranhão.
passava, assim, a pertencer na causa dele”, explica, lembrando volta da expedição do rio Amazonas, Passará também pela Catedral de
sua totalidade a Portugal (que que a região, além de património não viu as amazonas descritas Belém, onde está sepultado.
permanecia sob o domínio da Coroa da humanidade, tem a maior durante a viagem de Francisco de Para ajudar a resgatar a memória
espanhola). Um feito extraordinário concentração de água doce do Orellana, explorador espanhol que do explorador, a Portugal Telecom
para a época. planeta e é a mais importante antes navegara parte do Amazonas. associa-se à homenagem de hoje
“Pedro Teixeira é um herói floresta tropical. As ditas amazonas foram descritas no Senado, lançando o Prémio
GERD LUDWIG/CORBIS
Agora que o Brasil “deixou por Carvajal, frade que acompanhou Pedro Teixeira para estudantes
de ser um problema na agenda um projecto de lei para que o nome Orellana, como “mulheres sem portugueses e brasileiros, dos 12 aos
internacional e passou a ser parte da de Pedro Teixeira seja inscrito neste peito, guerreiras, e que não 18 anos. Os três melhores trabalhos
solução”, é possível que o país olhe Livro de Aço. Propõe também que a aceitavam o homem no seu habitat”, sobre a vida e o impacto dos feitos
para a sua história com “orgulho e história da expedição do navegador conta Anete Costa Ferreira. de Teixeira na história de Portugal e
auto-estima”. E à medida que isso português passe a fazer parte dos Apesar de nunca se ter cruzado do Brasil irão ter como prémio uma
acontecer, acrescenta Mercadante, currículos escolares no Brasil. com elas, Teixeira relata que lhe viagem cultural ao Brasil (se forem
o Brasil terá obrigatoriamente de A expedição de Pedro Teixeira chegaram muitas notícias das portugueses) ou a Portugal (se forem
reconhecer a imensa contribuição era composta por 70 canoas (45 amazonas. Diz mesmo que estariam brasileiros). Será ainda lançado um
de Portugal. de grandes dimensões, com vinte “a seis jornadas” do sítio em que site em português e inglês dedicado a
“No momento em que o mundo remadores cada). Acompanhavam se encontravam e que teriam 300 perpetuar a memória do explorador
está discutindo o efeito de estufa, o explorador 70 soldados aldeias ou mais, com “quinhentos português “Curiua-Catu”.
em que há uma grande preocupação portugueses e 1200 índios, muitos
com o aquecimento global, sinto deles “flecheiros” (arqueiros), que
que esse chamamento da Amazónia levaram as suas mulheres e filhos.
é muito importante para o debate”, Teixeira (cuja data de nascimento
diz o popular Mercadante, líder da se situa entre 1570 e 1585) era de
bancada do PT e vice-presidente ascendência nobre e foi para o Brasil
do Parlamento do Mercosul, que é em 1607, conta a autora do livro
ainda cronista do jornal O Globo e A Expedição de Pedro Teixeira – A
tem mais de 30 mil seguidores no Sua Importância para Portugal e o
Twitter. Futuro da Amazónia (ed. Ésquilo).
Esta brasileira, Anete Costa Ferreira,
O pedido do governador é investigadora de ciências sociais
Pedro Teixeira era um militar que e história luso-amazónica e estará
participou na fundação da cidade hoje na sessão de homenagem em
de Belém, a capital do estado do Brasília.
Pará, e que depois se destacou O navegador falava o tupi – língua
em várias missões militares, com origem no povo tupinambá
combatendo holandeses, ingleses – e essa era uma das razões pelas
e franceses. Quando dois padres quais era tão acarinhado pelos
e quatro soldados espanhóis índios. “Sempre fez amizade com os
chegaram perdidos a Belém, com a índios, o que lhe valeu de muito”,
novidade de que o rio Amazonas era explica ao telefone a partir do Brasil
navegável, o governador do estado esta especialista, que hoje vive em
do Grão-Pará e Maranhão pediu Portugal.
a Pedro Teixeira para organizar a Os índios que embarcaram com o
expedição até Quito (na época parte português nesta expedição iam em
do vice-reinado do Peru). busca da Terra sem Mal, a morada
No regresso, com testemunhas dos antepassados, segundo os índios
espanholas, Teixeira vai registando tupi e guarani, um território onde
a posse das terras para o reino de as pessoas não envelheciam. “A
Portugal. “Como naquela época tribo Tupinambá acreditava nisso e
Portugal estava subordinado à à medida que a expedição decorria
Coroa espanhola, o livro que foi ficando decepcionada. Os índios
relata essa epopeia, em 1641 achavam que iam chegar à Terra
[Novo Descobrimento do Grande sem Mal e, como a viagem não era
Rio Amazonas e a Viagem de Pedro aquilo que pensavam, começaram
Teixeira Águas Arribas, de Frei a enfraquecer”, diz Anete Costa
Cristobal d’Acuña] acaba sendo Ferreira.
queimado e isso não foi valorizado A descrição desta expedição
nem pela historiografia portuguesa chega até nós através de um
nem brasileira”, explica o senador, documento que está na Biblioteca
que quer chamar a atenção para este da Ajuda (Relazion del General Pedro
“vulto histórico” que parece estar Teixeira de el rio de las Amazonas
condenado ao esquecimento. para el Senhor Príncipe, 1639). “É o
O seu nome não consta do Livro diário de bordo que Pedro Teixeira
dos Heróis da Pátria (ou Livro de Aço) fez durante a viagem. Esse é o grande
que está no Panteão da Liberdade e documento que o celebrizou, é um
da Democracia Tancredo Neves, em levantamento geral da fauna, da
Brasília, e nem sequer figura na lista flora, do minério, dos costumes...
de candidatos. Mercadante preparou Entra tudo o que ele foi vendo no seu
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Brasil homenageia
hoje português
que “conquistou”
a Amazónia
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Pedro Teixeira
Brasil recupera
português que
“conquistou”
a Amazónia P2