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E STA D O D E M I N A S    ●     T E R Ç A - F E I R A ,        1 3    D E   M A R Ç O      D E       2 0 0 7



  4                                                                                               CULTURA

        MATÉRIA DE CAPA

Com show em ginásio e festival ao ar livre, os Mutantes marcam a história da cultura
pop em Minas Gerais. Apresentação em BH terá os irmãos Dias Baptista e Zélia Duncan



Bons tempos de volta
             DANIEL CAMARGOS
                                                                                                                                                                                                               O CRUZEIRO/ARQUIVO EM




Conhecido pelo som potente, a parafer-
nália de equipamentos dos Mutantes
assustava. Pelo menos os administra-
dores das casas de espetáculo. O músico
Túlio Mourão conta que quando eram
marcados shows dos Mutantes no Tea-
tro Bandeirantes, em São Paulo, o pes-
soal da casa encomendava novas cadei-
ras e vidraças de antemão. Foi por isso
que o show Como nos velhos tempos,
última apresentação da banda em Belo
Horizonte, foi realizado no Ginásio do
Mackenzie e não em um teatro. O pro-
dutor do show, dono da Maravilha Pro-
duções na época e hoje radialista, Tutti
Maravilha, tem a cópia do release que o
produtor da banda em São Paulo, Mário
Buonfiglio, enviou para ele promover o
concerto em Minas.


   O argumento de Buonfiglio coincide
com a história do tecladista: “Pensando
no grande público que ficou de fora,
quando milhares de pessoas não conse-
guiram ver o show, porque a lotação já
estava esgotada; centenas de jovens for-
çando as majestosas portas do Munici-
pal, tentando pelo menos ouvir o Som
(grafado com caixa alta) e ainda, os casos
de ‘repressão’, ‘Não fumar’ – ‘Não dançar’
– etc. etc. , nos motivaram a levar este es-
petáculo para um lugar mais amplo, e
nada melhor do que o Ginásio da Portu-
guesa, lá no Canindé”.
                                               Os irreverentes Sérgio e Arnaldo Baptista e Rita Lee criaram os Mutantes, no final dos anos 60, mas se separaram antes mesmo que a década de 70 chegasse
PELA EUROPA O show foi preparado pa-
ra teatros – e chegou a ser realizado no
Municipal de São Paulo –, mas o ímpeto
                                                                                                                                                                                             PRODUÇÃO
roqueiro da juventude não combinou
com o ambiente. Tutti explica que quan-
do a banda saiu em turnê o melhor foi
fazer o tributo aos Beatles em ginásios.
                                               Loucura, carrapatos e rock’n roll
“A repercussão foi ótima e os shows lo-           O público da capital mineira nun-      era muito louca. Todo mundo de cal-       ausente é Liminha, antigo baixista e                Além do tributo aos Beatles, a
taram”, lembra Tutti. Tanto que a maté-        ca assistiu a um show com a forma-        ça boca-de-sino e cabeludo. O festi-      hoje produtor de discos de sucesso.                 grande atração do show de 1977
ria publicada pelo Estado de Minas no          ção clássica dos Mutantes, com Ar-        val ainda teve Raul Seixas e a Rita Lee   Junto com eles estará Zélia Duncan e                era o equipamento de som. Como
dia do espetáculo salientava logo no iní-      naldo, Sérgio e Rita. Entretanto, an-     com Tutti Frutti”.                        um time imenso de músicos novos                     noticiado antes da apresentação,
cio que a apresentação começaria às 20h,       tes do show de abril de 1977, no Ma-         No próximo mês será a primeira         em um sem-fim de instrumentos,                      foi “necessário um pequeno
mas que os portões estariam abertos            ckenzie, os Mutantes chegaram a se        vez que o público poderá ver os ir-       que nada lembra a crueza simples,                   batalhão de pessoas para que
desde as 18h.                                  apresentar em Belo Horizonte. Túlio       mãos Dias Baptista tocando e can-         sincera e boa da banda de rock dos                  tudo saia a contento”. O arsenal
   Depois dessa turnê conjunta com O           Mourão lembra de um show no               tando juntos. Porém, no lugar de Ri-      anos 1960 e 1970.                                   incluía oito amplificadores, três
Terço cantando Beatles, os Mutantes fo-        Camping Pop, em 1974. Adriano Fa-         ta Lee a voz feminina terá os graves          O som produzido por essa turma                  mesas de som e duas equipes de
ram para a Itália e ficaram quatro meses       labela, conhecido como Enciclopé-         de Zélia Duncan. Quando a banda           resultou em um CD duplo e em um                     iluminação. No show de 21 de abril
na Europa. Sérgio conheceu L. Shankar e        dia do Rock, pelo quadro que apre-        retomou as atividades para a apre-        DVD gravado na apresentação do
John McLaughlin, que depois ajudaram                                                                                                                                                   deste ano, a produção irá dividir a
                                               senta no programa Alto-Falante na         sentação no Barbican Theatre, em          Barbican. O repertório conta com os
o guitarrista mutante a se fixar nos Esta-     Rede Minas, tinha 21 anos na época e      Londres, em junho do no ano pas-          principais sucessos da fase áurea da                pista do Chevrolet Hall em dois
dos Unidos, onde ficou boa parte da dé-        justifica o apelido com alguns deta-      sado, Rita foi convidada, mas decli-      banda e serve de base para os shows                 lances de cadeiras, além dos
cada de 1980. Porém, a banda ainda vol-        lhes do show: “Foi no Serra Verde e       nou. Depois chegou a classificar o        que eles têm feito. Até agora foram                 ingressos de arquibancada e do
tou ao Brasil e com mais alterações ten-       todo mundo voltou cheio de carra-         retorno como uma volta de velhos          seis nos Estados Unidos, um no ani-                 que sobrar da pista. O que mostra
tou tocar novamente, mas não teve su-          pato. Naquela época só ia maluco e a      atrás de dinheiro.                        versário da cidade de São Paulo, em                 que o rock’n roll está mudado.
cesso, em 6 de junho de 1978 realizou o        maioria era macho. Os pais não dei-          “Os velhos” em questão são Ar-         janeiro, e outro na capital fluminen-               Ou alguém quer ver um show
último show, para apenas 200 pessoas,          xavam as mulheres saírem de casa.         naldo, Sérgio e Dinho, o baterista ori-   se, no mês passado, além do primei-                 dos Mutantes sentado após
em Ribeirão Preto (SP).                        A ditadura era brava e a rapaziada        ginal da banda. Do passado, outro         ro de Londres.                                      esperar 30 anos?
                                                                                                                                                   JUAREZ RODRIGUES/EM - 15/2/05



                                                                                                                                                                                   Um gênio
                                                                                                                                                                                   em ação
                                                                                                                                                                                       Desde que pulou do terceiro andar do
                                                                                                                                                                                   setor de psiquiatria de um hospital pau-
                                                                                                                                                                                   lista, em janeiro de 1982, Arnaldo esco-
                                                                                                                                                                                   lheu Minas Gerais como refúgio. Primei-
                                                                                                                                                                                   ro Juiz de Fora, onde se recuperou das se-
                                                                                                                                                                                   qüelas graves da queda, e depois um
                                                                                                                                                                                   apartamento no Bairro Funcionários, on-
                                                                                                                                                                                   de vive quando cumpre a agenda da vi-
                                                                                                                                                                                   da de artista, que retomou com a grava-
                                                                                                                                                                                   ção do o disco Let it bed (2004).
                                                                                                                                                                                       Para Túlio Mourão, é por Arnaldo que
                                                                                                                                                                                   a volta dos Mutantes se justifica: “Só de
                                                                                                                                                                                   ter criado o clima e as condições para que
                                                                                                                                                                                   o Arnaldo voltasse a se apresentar já va-
                                                                                                                                                                                   leu. É muito importante que essas gera-
                                                                                                                                                                                   ções que tiveram acesso aos Mutantes
                                                                                                                                                                                   apenas em discos e internet vejam a ban-
                                                                                                                                                                                   da ao vivo”. Túlio considera o Arnaldo
                                                                                                                                                                                   um gênio e foi por meio dele que conse-
                                                                                                                                                                                   guiu o reconhecimento do próprio filho,
                                                                                                                                                                                   hoje com 20 anos.
                                                                                                                                                                                       Quando Kurt Cobain veio ao Brasil,
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                                                                                                                                                                                   que eu toquei, pegou meus discos para
                                                                                                                 Túlio Mourão tocou piano no disco de 1974 dos Mutantes            escutar”, conta.

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  • 1. E STA D O D E M I N A S ● T E R Ç A - F E I R A , 1 3 D E M A R Ç O D E 2 0 0 7 4 CULTURA MATÉRIA DE CAPA Com show em ginásio e festival ao ar livre, os Mutantes marcam a história da cultura pop em Minas Gerais. Apresentação em BH terá os irmãos Dias Baptista e Zélia Duncan Bons tempos de volta DANIEL CAMARGOS O CRUZEIRO/ARQUIVO EM Conhecido pelo som potente, a parafer- nália de equipamentos dos Mutantes assustava. Pelo menos os administra- dores das casas de espetáculo. O músico Túlio Mourão conta que quando eram marcados shows dos Mutantes no Tea- tro Bandeirantes, em São Paulo, o pes- soal da casa encomendava novas cadei- ras e vidraças de antemão. Foi por isso que o show Como nos velhos tempos, última apresentação da banda em Belo Horizonte, foi realizado no Ginásio do Mackenzie e não em um teatro. O pro- dutor do show, dono da Maravilha Pro- duções na época e hoje radialista, Tutti Maravilha, tem a cópia do release que o produtor da banda em São Paulo, Mário Buonfiglio, enviou para ele promover o concerto em Minas. O argumento de Buonfiglio coincide com a história do tecladista: “Pensando no grande público que ficou de fora, quando milhares de pessoas não conse- guiram ver o show, porque a lotação já estava esgotada; centenas de jovens for- çando as majestosas portas do Munici- pal, tentando pelo menos ouvir o Som (grafado com caixa alta) e ainda, os casos de ‘repressão’, ‘Não fumar’ – ‘Não dançar’ – etc. etc. , nos motivaram a levar este es- petáculo para um lugar mais amplo, e nada melhor do que o Ginásio da Portu- guesa, lá no Canindé”. Os irreverentes Sérgio e Arnaldo Baptista e Rita Lee criaram os Mutantes, no final dos anos 60, mas se separaram antes mesmo que a década de 70 chegasse PELA EUROPA O show foi preparado pa- ra teatros – e chegou a ser realizado no Municipal de São Paulo –, mas o ímpeto PRODUÇÃO roqueiro da juventude não combinou com o ambiente. Tutti explica que quan- do a banda saiu em turnê o melhor foi fazer o tributo aos Beatles em ginásios. Loucura, carrapatos e rock’n roll “A repercussão foi ótima e os shows lo- O público da capital mineira nun- era muito louca. Todo mundo de cal- ausente é Liminha, antigo baixista e Além do tributo aos Beatles, a taram”, lembra Tutti. Tanto que a maté- ca assistiu a um show com a forma- ça boca-de-sino e cabeludo. O festi- hoje produtor de discos de sucesso. grande atração do show de 1977 ria publicada pelo Estado de Minas no ção clássica dos Mutantes, com Ar- val ainda teve Raul Seixas e a Rita Lee Junto com eles estará Zélia Duncan e era o equipamento de som. Como dia do espetáculo salientava logo no iní- naldo, Sérgio e Rita. Entretanto, an- com Tutti Frutti”. um time imenso de músicos novos noticiado antes da apresentação, cio que a apresentação começaria às 20h, tes do show de abril de 1977, no Ma- No próximo mês será a primeira em um sem-fim de instrumentos, foi “necessário um pequeno mas que os portões estariam abertos ckenzie, os Mutantes chegaram a se vez que o público poderá ver os ir- que nada lembra a crueza simples, batalhão de pessoas para que desde as 18h. apresentar em Belo Horizonte. Túlio mãos Dias Baptista tocando e can- sincera e boa da banda de rock dos tudo saia a contento”. O arsenal Depois dessa turnê conjunta com O Mourão lembra de um show no tando juntos. Porém, no lugar de Ri- anos 1960 e 1970. incluía oito amplificadores, três Terço cantando Beatles, os Mutantes fo- Camping Pop, em 1974. Adriano Fa- ta Lee a voz feminina terá os graves O som produzido por essa turma mesas de som e duas equipes de ram para a Itália e ficaram quatro meses labela, conhecido como Enciclopé- de Zélia Duncan. Quando a banda resultou em um CD duplo e em um iluminação. No show de 21 de abril na Europa. Sérgio conheceu L. Shankar e dia do Rock, pelo quadro que apre- retomou as atividades para a apre- DVD gravado na apresentação do John McLaughlin, que depois ajudaram deste ano, a produção irá dividir a senta no programa Alto-Falante na sentação no Barbican Theatre, em Barbican. O repertório conta com os o guitarrista mutante a se fixar nos Esta- Rede Minas, tinha 21 anos na época e Londres, em junho do no ano pas- principais sucessos da fase áurea da pista do Chevrolet Hall em dois dos Unidos, onde ficou boa parte da dé- justifica o apelido com alguns deta- sado, Rita foi convidada, mas decli- banda e serve de base para os shows lances de cadeiras, além dos cada de 1980. Porém, a banda ainda vol- lhes do show: “Foi no Serra Verde e nou. Depois chegou a classificar o que eles têm feito. Até agora foram ingressos de arquibancada e do tou ao Brasil e com mais alterações ten- todo mundo voltou cheio de carra- retorno como uma volta de velhos seis nos Estados Unidos, um no ani- que sobrar da pista. O que mostra tou tocar novamente, mas não teve su- pato. Naquela época só ia maluco e a atrás de dinheiro. versário da cidade de São Paulo, em que o rock’n roll está mudado. cesso, em 6 de junho de 1978 realizou o maioria era macho. Os pais não dei- “Os velhos” em questão são Ar- janeiro, e outro na capital fluminen- Ou alguém quer ver um show último show, para apenas 200 pessoas, xavam as mulheres saírem de casa. naldo, Sérgio e Dinho, o baterista ori- se, no mês passado, além do primei- dos Mutantes sentado após em Ribeirão Preto (SP). A ditadura era brava e a rapaziada ginal da banda. Do passado, outro ro de Londres. esperar 30 anos? JUAREZ RODRIGUES/EM - 15/2/05 Um gênio em ação Desde que pulou do terceiro andar do setor de psiquiatria de um hospital pau- lista, em janeiro de 1982, Arnaldo esco- lheu Minas Gerais como refúgio. Primei- ro Juiz de Fora, onde se recuperou das se- qüelas graves da queda, e depois um apartamento no Bairro Funcionários, on- de vive quando cumpre a agenda da vi- da de artista, que retomou com a grava- ção do o disco Let it bed (2004). Para Túlio Mourão, é por Arnaldo que a volta dos Mutantes se justifica: “Só de ter criado o clima e as condições para que o Arnaldo voltasse a se apresentar já va- leu. É muito importante que essas gera- ções que tiveram acesso aos Mutantes apenas em discos e internet vejam a ban- da ao vivo”. Túlio considera o Arnaldo um gênio e foi por meio dele que conse- guiu o reconhecimento do próprio filho, hoje com 20 anos. Quando Kurt Cobain veio ao Brasil, no início da década de 1990, e venerou os Mutantes, em especial Arnaldo, publica- mente, o filho de Túlio então deu o devi- do valor à obra do pai. “Ele não ligava pa- ra nada que eu fazia, mas quando viu o vocalista do Nirvana falando da banda que eu toquei, pegou meus discos para Túlio Mourão tocou piano no disco de 1974 dos Mutantes escutar”, conta.