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Conceitos<br />·   Texto: é um elemento do processo comunicativo. É uma palavra derivada do latim textus, -us que significa tecer, enlaçar ou entrelaçar. Portanto, trata-se de um entrelaçamento de ideias, as quais são costuradas através de palavras. Todo texto é portador de um sentido, de um significado próprio, singular. Pode ser falado ou escrito.<br />·   Denotação: é a linguagem informativa, comum a todos. Objetiva um conhecimento prático, científico. É a palavra empregada no seu sentido real.<br />·   Conotação: é a linguagem afetiva, individual e subjetiva. Objetiva uma apreciação estética. É a palavra empregada no seu sentido figurado, poético.<br />·   Discurso: é um elemento que compõe o processo comunicativo. É uma articulação de palavras que comportam uma intenção. Quando lemos um texto e percebemos as intenções do autor, é sinal de que compreendemos o seu discurso, ou melhor, é sinal de que o discurso está se realizando. Quando o receptor decifra o que está por trás do escrito ou do dito, o texto se transforma em discurso. Trata-se de algo dinâmico, pois um texto pode ser lido em diferentes épocas, por diferentes pessoas e estar sujeito a uma plurissignificação. O discurso que trafega entre emissor e receptor põe em jogo as vivências de cada um. No momento de leitura, entram em jogo as vivências reais ou imaginárias, isto é, experiências que podem ter sido vividas ou adquiridas através de outras leituras.<br /> <br />·   Discurso Literário: elaborado como criação artística, funciona através de duas operações essenciais: seleção e combinação. Neste processo de escolha, as opções assumidas, os valores expostos delineiam a ideologia que preside sua produção. A ideologia do meio que o gerou. É fundamental o leitor perceber no texto quem fala e para quem fala. É um ponto de encontro de diversos fenômenos de linguagem, diversos procedimentos linguísticos e diversas influências histórico-sociais da sociedade que o produz.<br /> <br />·   Literatura: é considerada a arte da palavra. É um tipo de discurso que conta a história. É uma das formas de escrever a nossa história. Seu processo de produção é movido por uma consciência estética.<br /> <br />·   Relações Dialógicas: nascem do confronto estabelecido entre posições assumidas por diferentes sujeitos e expressas na linguagem. A palavra é sempre dialógica, pois a vida social é uma discussão permanente. O discurso só se realiza no contexto social, estando sempre direcionado ao outro. Em todo texto, é possível ser ouvida a voz do seu autor. As relações dialógicas só existem quando se escuta a voz do outro.<br />“Homem disfarçado de Papai Noel tenta matar publicitária em SP.” <br />(Caderno Cotidiano - Folha de S. Paulo)<br />Primeira coisa que ele fez, ao chegar à casa, foi tirar a roupa de Papai Noel: estava muito quente, suava em bicas. Também se queixou de dor na coluna. Isso é por causa do saco que você carrega, observou a mulher. De fato pesava bastante, o tal saco. A razão ficou óbvia quando ele esvaziou o conteúdo sobre a mesa: revólveres, granadas, submetralhadoras, vários pentes de munição. Já não dá para sair de casa sem um arsenal, resmungou. O seu mau humor era tão óbvio que ela tentou amenizá-lo, puxando conversa. Como foi o seu dia, perguntou.<br />- Um desastre foi a azeda resposta. - Mais uma vez errei a pontaria. Já é a segunda vez nesta semana.<br />- Isto é o cansaço - disse ela.<br />- Você precisa de um repouso. Amanhã você vai ficar em casa, não vai?<br />- De que jeito? Tenho trabalho.<br />- Amanhã? No dia de Natal?<br />- O que é que você quer? É a minha última chance de usar a fantasia de Papai Noel Tenho de aproveitar.<br />Suspirou:<br />- Vida de pistoleiro de aluguel é assim mesmo, mulher. Natal, Ano Novo, essas coisas para nós não existem. Primeiro a obrigação. Depois a celebração.<br />Ela ficou pensando um instante. - Neste caso - disse -, vamos antecipar a nossa festinha de Natal. Vou lhe dar o seu presente.<br />Abriu um armário e de lá tirou um caprichado embrulho. Surpreso, o homem o abriu com mãos trêmulas. E aí o seu rosto se iluminou:<br />- Um colete à prova de balas! Exatamente o que eu queria! Como é que você adivinhou?<br />- Ora - disse ela, modesta, afinal de contas eu conheço você há um bocado de tempo.<br />Ele examinava o colete, maravilhado. E aí notou que ele era todo enfeitado com minúsculos desenhos.<br />- O que é isto? Perguntou intrigado.<br />Ela explicou: eram pequenas árvores de Natal e desenhos do Papai Noel, trabalho de uma habilidosa bordadeira nordestina:<br />- Para você lembrar de mim quando estiver trabalhando.<br />Ele começou a chorar baixinho. Em silêncio, ela o abraçou. Compreendia perfeitamente o que se passava com ele. Ninguém é imune ao espírito natalino. (Moacyr Sciliar)<br />Como é possível notar, o texto acima foi escrito a partir de uma notícia de jornal, notícia que, inclusive, lhe serve de epígrafe: quot;
Homem disfarçado de Papai Noel tenta matar publicitária em SPquot;
. Publicados num mesmo jornal, de grande circulação em São Paulo, embora ambos os textos sejam narrativos, cada um tem características específicas, bem como propósitos distintos. <br />A notícia da Folha de S. Paulo, que se resume a uma única linha, é uma narrativa, também conhecida como relato, que não tem função  literária. Sua finalidade é apenas informar. <br />Texto literário<br />Todavia, apenas a crônica quot;
Espírito natalinoquot;
, de Moacyr Scliar, se presta aos interesses estético-literários. Partindo do texto jornalístico (que é um simples relato), tem-se a criação, por Moacyr Scliar, de uma narrativa ficcional, na qual se encontram certos elementos estéticos que a compõem e a distinguem do relato. <br />Como exemplo, tem-se o recurso da descrição quase cinematográfica das personagens. Outra grande quot;
sacadaquot;
 do autor é, digamos, mostrar (criando de forma imaginativa) como os fatos poderiam ter ocorrido, pela ótica do matador de aluguel, disfarçado de Papai Noel.<br />A cana-de-açúcar <br />Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI. A região que durante séculos foi a grande produtora de cana-de-açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina, onde os férteis solos de massapé, além da menor distância em relação ao mercado europeu, propiciaram condições favoráveis a esse cultivo. Atualmente, o maior produtor nacional de cana-de-açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açúcar, que em parte é exportado e em parte abastece o mercado interno, a cana serve também para a produção de álcool, importante nos dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imensa expansão dos canaviais no Brasil, especialmente em São Paulo, está ligada ao uso do álcool como combustível. <br />quot;
O açúcarquot;
 (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980, pp.227-228) <br />O açúcar <br />O branco açúcar que adoçará meu café <br />nesta manhã de Ipanema <br />não foi produzido por mim <br />nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. <br />Vejo-o puro <br />e afável ao paladar <br />como beijo de moça, água <br />na pele, flor <br />que se dissolve na boca. Mas este açúcar <br />não foi feito por mim. <br />Este açúcar veio <br />da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia. <br />Este açúcar veio <br />de uma usina de açúcar em Pernambuco <br />ou no Estado do Rio <br />e tampouco o fez o dono da usina. <br />Este açúcar era cana <br />e veio dos canaviais extensos <br />que não nascem por acaso <br />no regaço do vale. <br />Em lugares distantes, onde não há hospital <br />nem escola, <br />homens que não sabem ler e morrem de fome <br />aos 27 anos <br />plantaram e colheram a cana <br />que viraria açúcar. <br />Em usinas escuras, <br />homens de vida amarga <br />e dura <br />produziram este açúcar <br />branco e puro <br />com que adoço meu café esta manhã em Ipanema. <br />quot;
A cana-de-açúcarquot;
 (Vesentini, J.W. Brasil, sociedade e espaço. São Paulo, Ática, 1992, p.106) <br />O texto quot;
O açúcarquot;
 parte de uma palavra do domínio comum - açúcar - e vai ampliando seu potencial significativo, explorando recursos formais para estabelecer um paralelo entre o açúcar - branco, doce, puro - e a vida do trabalhador que o produz - dura, amarga, triste. <br />a) associações lexicais entre vocábulos do mesmo campo semântico: <br />açúcar açucareiro adoçar<br />dissolver <br />cana<br />canavial<br />plantar<br />colher <br />mercearia<br />comprar<br />vender <br />b) relações antitéticas: vida amarga e dura x açúcar branco e puro.<br />c) comparações: a comparação é o confronto de idéias por meio de conectivos, de palavras que explicitam o que está sendo comparado. Na comparação, um termo se define em função do que sabemos de outro: <br />quot;
Vejo-o [o açúcar]  puro e afável como beijo de moça<br />                                 (como) água na pele<br />                                 (como) flor que se dissolve na boca<br />No texto quot;
A cana-de-açúcarquot;
, de expressão não-literária, o autor informa o leitor sobre a origem da cana-de-açúcar, os lugares onde é produzida, como tiveram início seu cultivo no Brasil, etc. <br />Conceitos<br />·   Cultura: complexo de normas, símbolos, mitos e imagens absorvido pelo homem. Tal complexo determina os seus instintos e move as suas emoções. Segundo o pensamento católico, é tudo aquilo que aperfeiçoa e desenvolve a alma e o corpo, tornando a vida social mais humana. De acordo com a antropologia, é o conjunto e a integração dos modos de pensar, sentir e fazer de uma comunidade, na tentativa de solucionar os problemas vivenciados no seu interior.<br /> <br />·   Mimésis: termo grego traduzido como imitação. Trata-se de um conceito filosófico para explicar a arte. É imitação, mas não cópia. É uma relação do signo com o real. Para os pitagóricos, é a representação de estados de alma. Para Platão, é a imitação da aparência da realidade, ou seja, imagem de imagem ou simulacro da realidade. Para Aristóteles, é imitação das essências. É o conhecimento da natureza profunda do ser humano e do mundo. É a revelação da plenitude do real. É a imitação da natureza no que ela tem de capacidade criadora.<br /> <br />·   Catársis: termo grego que significa purgação. Na linguagem religiosa, era sinônimo de expiação ou purificação. Em sentido psíquico, está relacionado à purgação das paixões ou tensões da alma. Faz parte do fenômeno literário. É a libertação promovida pela criação artística. Toda arte opera a catársis, pois desperta no homem prazer, plenitude.<br /> <br />·   Universalidade: Trata-se de um redimensionamento de fatos ou situações através da literatura.  <br />·   Linguagem: pode ser considerada como uma das formas de apreensão do real. É, também, qualquer sistema de comunicação que utiliza signos organizados de maneira particular. É, ainda, a capacidade que o homem tem de expressar seus estados mentais por meio da língua, representando o mundo interior e exterior.<br />O Cortiço, de Aluísio de Azevedo<br /> O Cortiço foi publicado em 1890, e nesse livro Aluísio pôs em prática os princípios naturalistas, em que acreditava, e toda a sua capacidade artística.<br />Narrado em 3ª pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou descrito. Há um total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional. Há o predomínio na narrativa do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das personagens. A visão do narrador é fatalista, pois as camadas populares são vistas como animais condenados ao meio social que habitam, homens fadados a viverem como animais selvagens.<br />O cenário é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço: quot;
Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras... o prazer animal de existir,... E naquela terra... naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco.quot;
<br />Uma história envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo Império que tem como tema a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, a quot;
gentalhaquot;
, caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome. Todas as existências se entrelaçam e repercutem umas nas outras. O cortiço é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão.<br />No século XIX, os cortiços eram galpões de madeira habitados por trabalhadores não-qualificados. Esses galpões eram subdivididos internamente. O proprietário era geralmente português, dono de armazém próximo. Mas havia outros interessados: o Conde D'Eu, marido da princesa Isabel, foi dono de um imenso cortiço, o quot;
Cabeça-de-porcoquot;
, onde viviam mais de 4 mil pessoas. <br />O romance é de nítido recorte sociológico, representando as relações entre o elemento português, que explora o Brasil em sua ânsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro, apresentado como inferior e vilmente explorado pelo português. A obra revela a aceitação de idéias filosóficas e científicas do tempo: a redução das criaturas ao nível animal (zoomorfismo) é característica do Naturalismo e revela a influência das teorias da Biologia do século XIX (darwinismo, lamarquismo) e o Determinismo (raça, meio, momento).<br />O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica de determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de quot;
patologiaquot;
 sexual: quot;
acanalhamentoquot;
 das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc.<br />Na elaboração de O Cortiço, Aluísio Azevedo seguiu a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas do Rio, interrogou lavadeiras, sapoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços, sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente, segundo um processo criado pelos naturalistas), viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em torno de um problema social que se tomava mais e mais grave, com a formação de massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos primórdios da industrialização do país.<br />Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O Cortiço: uma é a grande capacidade de representação visual do autor, e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, legando-se, deprimindo-se ou irando-se — e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam­se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir urna individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura brasileira. Deve se notar que no romance, as mulheres são reduzidas a três condições: de objeto, usadas e aviltadas pelo homem: Bertoleza e Piedade; de objeto e sujeito, simultaneamente: Rita Baiana; e de sujeito, são as que se independem do homem, prostituindo-se: Leonie e Pombinha.<br />Veja exemplos de descrição realista e objetiva dos tipos humanos na obra: <br />João Romão: E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se logo com as unhas.<br />...possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava, resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha.<br />Albino: Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado, fraco, cor de aspargo cozido e com um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole e fino.<br />Botelho: Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-lhe ainda todos os dentes mas, tão gastos, que pareciam 1imados até ao meio. (...) Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina.<br />Enredo<br />O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o primeiro, o avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava a qual ele mente liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos rico, mas mais fino, com um casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se refine e mais tarde tente devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata antes de perder a liberdade). A outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro, um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e vai se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, pára de pagar a escola da filha e mata o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias histórias secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim como a do próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem. Vejamos.<br />A área suburbana do Rio de Janeiro do século XIX é o cenário da história de um esperto e pão-duro comerciante português chamado João Romão. Comprando um pequeno estabelecimento comercial, este consegue se aliar a uma negra escrava fugida de nome Bertoleza, proprietária de uma pequena quitanda. Para agradá-la, falsifica uma carta de alforria que asseguraria à negra a tão desejada liberdade. O pequeno estabelecimento, mantido pela esperteza de João Romão e o trabalho árduo de Bertoleza, começa a crescer. Aos poucos o português começa a construir e alugar pequenas casas, o que leva a edificação de um grande cortiço: a quot;
Estalagem São Romão.quot;
 Logo se ergueriam novas pendências, como a pedreira (que servia emprego aos moradores) e o armazém (onde os mesmos compravam seus artigos de necessidade). O crescimento só não agrada ao Senhor Miranda, dono de um sobrado vizinho.<br />Nas casas do cortiço, figuras das mais variadas caracterizações podem ser vistas e apreciadas: entre eles o negro Alexandre, a lavadeira Machona, a moça Pombinha, Jerônimo e Piedade (casal de portugueses), e a sensual Rita Baiana, que desfilava toda a sua sensualidade dançando nas festas. Num desses encontros feitos de música e gritos, Jerônimo se encanta com a dança de Rita Baiana, o que provoca ciúmes em Firmo, amante da moça. Há uma violenta briga, e Firmo fere o jovem português com uma navalha, fugindo logo depois. Jerônimo vai parar num hospital.<br />Forma-se um novo cortiço perto dali, recebendo o apelido de quot;
Cabeça-de-gatoquot;
 pelos moradores do cortiço de João Romão. Estes, por sua vez, os apelidam de quot;
Carapicusquot;
, o que já indica a competição e a rincha entre eles. Enquanto isso, Jerônimo volta do hospital e, numa emboscada, mata Firmo, agora morador do cortiço rival. Enquanto o jovem português abandona a mulher para viver com Rita Baiana, o pessoal do quot;
Cabeça-de-gatoquot;
 entra em guerra com os moradores do cortiço de João Romão para vingar a morte de Firmo. Um incêndio misterioso acaba com o conflito e destrói grande parte do cortiço do velho comerciante português.<br />João Romão reconstrói sua estalagem, que fica ainda mais próspera, e se alia a Miranda, com a intenção de freqüentar rodas mais finas e elegantes e se casar com uma moça de boa educação. O verdadeiro intento do esperto comerciante é a mão de Zulmira, filha do novo amigo. Concretizando seu sonho, só resta agora se livrar do incômodo de sua companheira Bertoleza. Isso se dá através de uma carta enviada aos proprietários da negra fugida, revelando seu esconderijo. Estes não demoram a aparecer no cortiço com o intuito de levá-la de volta. Bertoleza, percebendo a traição, suicida-se com a mesma faca de limpar peixes que usou a vida inteira para preparar as refeições de João Romão e os clientes do seu armazém.<br />Personagens<br />As personagens em O Cortiço não podem ser tratadas como entidades independentes, podendo ser vistas preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem ser separados em grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão apresentados a seguir.<br />O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios na pessoas de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de homem desprovido de livre-arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa para Romão, criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens.<br />João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: de acordo com o crítico literário Rui Mourão, os elementos conflitantes na obra quot;
não se isolam em planos equidistantes. Ao contrário, o que existe [...] é um estado de permanente tensão e mútua agressãoquot;
. Afirma, em outra ocasião, que dessas lutas ninguém sairá vencedor ou vencido. Miranda e João Romão, apesar de aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são essencialmente influenciados pelos mesmos elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Seus rumos se tornam entrelaçados similarmente aos laços existentes entre sobrado e cortiço: vizinhos, porém distantes; diferentes, porém iguais sob olhar mais minucioso, Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D. Estela são, sob todas as óticas, o oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Não há relação de complementação nesse caso, apenas uma forma de acentuação do abismo de inveja que une João e Miranda. Enquanto um deseja a independência, a prosperidade e a fidelidade conjugal do outro, o outro almeja os contatos, a nobreza e a capacidade de esbanjamento do um. Zulmira e Botelho têm aqui papéis de meros instrumentos do autor para dar andamento à história.<br />Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nas relações entre essas personagens é demonstrado mais claramente o princípio naturalista que rege a obra de Azevedo. Suas interações são baseadas puramente no instinto, no desejo sexual, no ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo são, como Romão e Miranda, complementos um do outro. Um era quot;
a força tranquila, o pulso de chumbo, em constante tensão com a força nervosa (...) o arrebatamento que tudo desbarata no sobressalto do primeiro instantequot;
. Mas, nas palavras de Azevedo, ambos corajosos. O autor deixa claro que nenhum deles pode fugir ao que lhes está destinado. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava fadado à perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de Firmo, e a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade. A metamorfose de Jerônimo se dá como tentativa de se tornar Firmo antes de tirar o que lhe pertence não só Rita, mas tudo o que ela implicava: a beleza, os encantos da terra, a vida feliz do malandro sem preocupações. Cada um reage mais ou menos de acordo como suas características pessoais, notoriamente a raça (a submissão da portuguesa e a belicosidade do mulato capoeira), mas se faz presente em todos a conformação, a inércia. Com a morte de Firmo, Jerônimo assimila o papel de seu rival, mantendo um fantasma do que era no passado, que a bebida e a Rita contribuem para esmaecer. Os elementos naturais e as circunstâncias estão sempre a sufocar qualquer manifestação psicológica independente, carregando os personagens numa correnteza inevitável e irreversível.<br />Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie, madrinha de uma das filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles que têm vida honesta não conseguem alcançar. Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores do cortiço, que não tem as cínicas restrições sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D. Isabel, era uma garota de 18 anos que ainda não havia se tornado mulher. Após anos esperando o momento de se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para seguir num relacionamento homossexual com Leónie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Ao atiçar a sexualidade de Pombinha, fazendo com que ela atinja a puberdade, Leónie põe em funcionamento uma dinâmica de acontecimentos que passam a independer da vontade dos personagens. Pombinha possuía um desenvolvimento intelectual maior que a maioria dos personagens do cortiço, talvez por não se ter visto envolvida tão cedo nas tramas de sexo e ciúme que os consumiam. Ao ter que começar uma vida como mulher casada, não conseguiu se adaptar à falta de liberdade e foi viver com Leónie, aprendendo seu ofício. Ironicamente, a comercialização do sexo protagonizada por Leónie e Pombinha se contrapõe à vulgarização do sexo pelos moradores do Cortiço enquanto esses são escravos de seus impulsos, Leónie e Pombinha se tornam mais senhoras de si através do desejo alheio. Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada num cortiço, substituindo Pombinha para seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da mãe de forma constante, termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve.<br />A homossexualidade retratada em O Cortiço<br />No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da homossexualidade é tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios. O naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a realidade de forma objetiva, descrevendo grupos marginalizados. <br />O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes, com teor denunciativo, rompimento com o romance convencional.<br />Na época em que foi publicado o romance causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava através do ficcional o factual, como, por exemplo,  a homossexualidade de Léonie e Pombinha. Léonie configura-se como a pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais. O autor descreve as personagens com instinto animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder, culminados nos processos deterministas do cientificismo/ evolucionismo. Os furtos, estupros, homicídios ocorrem sem justificativa.<br />A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam relacionados a fatores internos e externos. O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para satisfazer-se:<br />(...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente loiro. <br />Utiliza faceta para seduzir, abocanhar sua presa, um jogo de interesse, dava-lhe presente, premiando-a constantemente:<br />O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda (...).<br />Leónie entregou á Pombinha uma medalha de prata (...).<br />(...) tomou a mão de Pombinha e meteu-lhe um anel cercado de pérolas. <br />Quando sua presa caía na armadilha, ela saciava sua sede, devorando-a ferozmente toda.<br />-Vem cá, minha flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si (...). Sabes? Eu te quero cada vez mais!...Estou louca por ti<br />No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga as vontades da afilhada utilizando discurso sedutor: <br />Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. <br />Pombinha - Na segunda análise da personagem vale ressaltar seu estereótipo de fraca, nervosa, doente, enfermiça, doente, loira, muito pálida, sua sensualidade associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada.<br />A relação homossexual entre Pombina e sua madrinha Léonie se dá em consequência de um estupro. Pombinha rompe drasticamente com os padrões impostos por sociedade preconceituosa, desigual, desumana. A moral cristã do naturalismo aniquila com os padrões qualquer possibilidade do quot;
patólogicoquot;
, defeituoso, se dar bem.<br />A personagem tem a figura da mãe, que a protege e a figura do pai, um homem que fracassa e comete suicídio. Talvez essa figura do pai seja substituída pelas carícias e mimos de sua madrinha Léonie. O que conta muito  para a formação da personalidade de Pombinha.<br />Léonie perverteu Pombinha desviando-a para uma vida de prostituição, sexo e embriagues. Pombinha toma Léonie como espelho, modelo de vida a ser seguido.<br />Observemos à afilhada, antes da relação homoérotica:<br />quot;
A folha era a flor do cortiço (...)quot;
. <br />quot;
As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço e a sombrinha(...) é mesmo uma flor(...)orçando pelos dezoito anos, não tinha pagado à natureza o cruento tributo da puberdadequot;
. <br />Este assunto não era segredo para ninguém, porém quando mênstruo, todos ficaram sabendo, houve comemoração, é como se as janelas da liberdade fossem abertas e pássaro pudesse finalmente voar.<br />quot;
E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo de espanto e de um instinto temor (...)quot;
 <br />A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua sagacidade, conquistava todos os homens.<br />Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie. <br />quot;
A cadeia continuava e continuaria interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre menina desamparada, que se fazia mulherquot;
  <br />Fonte: http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/o/o_cortico.<br />
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  • 1. Conceitos<br />·   Texto: é um elemento do processo comunicativo. É uma palavra derivada do latim textus, -us que significa tecer, enlaçar ou entrelaçar. Portanto, trata-se de um entrelaçamento de ideias, as quais são costuradas através de palavras. Todo texto é portador de um sentido, de um significado próprio, singular. Pode ser falado ou escrito.<br />·   Denotação: é a linguagem informativa, comum a todos. Objetiva um conhecimento prático, científico. É a palavra empregada no seu sentido real.<br />·   Conotação: é a linguagem afetiva, individual e subjetiva. Objetiva uma apreciação estética. É a palavra empregada no seu sentido figurado, poético.<br />·   Discurso: é um elemento que compõe o processo comunicativo. É uma articulação de palavras que comportam uma intenção. Quando lemos um texto e percebemos as intenções do autor, é sinal de que compreendemos o seu discurso, ou melhor, é sinal de que o discurso está se realizando. Quando o receptor decifra o que está por trás do escrito ou do dito, o texto se transforma em discurso. Trata-se de algo dinâmico, pois um texto pode ser lido em diferentes épocas, por diferentes pessoas e estar sujeito a uma plurissignificação. O discurso que trafega entre emissor e receptor põe em jogo as vivências de cada um. No momento de leitura, entram em jogo as vivências reais ou imaginárias, isto é, experiências que podem ter sido vividas ou adquiridas através de outras leituras.<br /> <br />·   Discurso Literário: elaborado como criação artística, funciona através de duas operações essenciais: seleção e combinação. Neste processo de escolha, as opções assumidas, os valores expostos delineiam a ideologia que preside sua produção. A ideologia do meio que o gerou. É fundamental o leitor perceber no texto quem fala e para quem fala. É um ponto de encontro de diversos fenômenos de linguagem, diversos procedimentos linguísticos e diversas influências histórico-sociais da sociedade que o produz.<br /> <br />·   Literatura: é considerada a arte da palavra. É um tipo de discurso que conta a história. É uma das formas de escrever a nossa história. Seu processo de produção é movido por uma consciência estética.<br /> <br />·   Relações Dialógicas: nascem do confronto estabelecido entre posições assumidas por diferentes sujeitos e expressas na linguagem. A palavra é sempre dialógica, pois a vida social é uma discussão permanente. O discurso só se realiza no contexto social, estando sempre direcionado ao outro. Em todo texto, é possível ser ouvida a voz do seu autor. As relações dialógicas só existem quando se escuta a voz do outro.<br />“Homem disfarçado de Papai Noel tenta matar publicitária em SP.” <br />(Caderno Cotidiano - Folha de S. Paulo)<br />Primeira coisa que ele fez, ao chegar à casa, foi tirar a roupa de Papai Noel: estava muito quente, suava em bicas. Também se queixou de dor na coluna. Isso é por causa do saco que você carrega, observou a mulher. De fato pesava bastante, o tal saco. A razão ficou óbvia quando ele esvaziou o conteúdo sobre a mesa: revólveres, granadas, submetralhadoras, vários pentes de munição. Já não dá para sair de casa sem um arsenal, resmungou. O seu mau humor era tão óbvio que ela tentou amenizá-lo, puxando conversa. Como foi o seu dia, perguntou.<br />- Um desastre foi a azeda resposta. - Mais uma vez errei a pontaria. Já é a segunda vez nesta semana.<br />- Isto é o cansaço - disse ela.<br />- Você precisa de um repouso. Amanhã você vai ficar em casa, não vai?<br />- De que jeito? Tenho trabalho.<br />- Amanhã? No dia de Natal?<br />- O que é que você quer? É a minha última chance de usar a fantasia de Papai Noel Tenho de aproveitar.<br />Suspirou:<br />- Vida de pistoleiro de aluguel é assim mesmo, mulher. Natal, Ano Novo, essas coisas para nós não existem. Primeiro a obrigação. Depois a celebração.<br />Ela ficou pensando um instante. - Neste caso - disse -, vamos antecipar a nossa festinha de Natal. Vou lhe dar o seu presente.<br />Abriu um armário e de lá tirou um caprichado embrulho. Surpreso, o homem o abriu com mãos trêmulas. E aí o seu rosto se iluminou:<br />- Um colete à prova de balas! Exatamente o que eu queria! Como é que você adivinhou?<br />- Ora - disse ela, modesta, afinal de contas eu conheço você há um bocado de tempo.<br />Ele examinava o colete, maravilhado. E aí notou que ele era todo enfeitado com minúsculos desenhos.<br />- O que é isto? Perguntou intrigado.<br />Ela explicou: eram pequenas árvores de Natal e desenhos do Papai Noel, trabalho de uma habilidosa bordadeira nordestina:<br />- Para você lembrar de mim quando estiver trabalhando.<br />Ele começou a chorar baixinho. Em silêncio, ela o abraçou. Compreendia perfeitamente o que se passava com ele. Ninguém é imune ao espírito natalino. (Moacyr Sciliar)<br />Como é possível notar, o texto acima foi escrito a partir de uma notícia de jornal, notícia que, inclusive, lhe serve de epígrafe: quot; Homem disfarçado de Papai Noel tenta matar publicitária em SPquot; . Publicados num mesmo jornal, de grande circulação em São Paulo, embora ambos os textos sejam narrativos, cada um tem características específicas, bem como propósitos distintos. <br />A notícia da Folha de S. Paulo, que se resume a uma única linha, é uma narrativa, também conhecida como relato, que não tem função literária. Sua finalidade é apenas informar. <br />Texto literário<br />Todavia, apenas a crônica quot; Espírito natalinoquot; , de Moacyr Scliar, se presta aos interesses estético-literários. Partindo do texto jornalístico (que é um simples relato), tem-se a criação, por Moacyr Scliar, de uma narrativa ficcional, na qual se encontram certos elementos estéticos que a compõem e a distinguem do relato. <br />Como exemplo, tem-se o recurso da descrição quase cinematográfica das personagens. Outra grande quot; sacadaquot; do autor é, digamos, mostrar (criando de forma imaginativa) como os fatos poderiam ter ocorrido, pela ótica do matador de aluguel, disfarçado de Papai Noel.<br />A cana-de-açúcar <br />Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI. A região que durante séculos foi a grande produtora de cana-de-açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina, onde os férteis solos de massapé, além da menor distância em relação ao mercado europeu, propiciaram condições favoráveis a esse cultivo. Atualmente, o maior produtor nacional de cana-de-açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açúcar, que em parte é exportado e em parte abastece o mercado interno, a cana serve também para a produção de álcool, importante nos dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imensa expansão dos canaviais no Brasil, especialmente em São Paulo, está ligada ao uso do álcool como combustível. <br />quot; O açúcarquot; (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980, pp.227-228) <br />O açúcar <br />O branco açúcar que adoçará meu café <br />nesta manhã de Ipanema <br />não foi produzido por mim <br />nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. <br />Vejo-o puro <br />e afável ao paladar <br />como beijo de moça, água <br />na pele, flor <br />que se dissolve na boca. Mas este açúcar <br />não foi feito por mim. <br />Este açúcar veio <br />da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia. <br />Este açúcar veio <br />de uma usina de açúcar em Pernambuco <br />ou no Estado do Rio <br />e tampouco o fez o dono da usina. <br />Este açúcar era cana <br />e veio dos canaviais extensos <br />que não nascem por acaso <br />no regaço do vale. <br />Em lugares distantes, onde não há hospital <br />nem escola, <br />homens que não sabem ler e morrem de fome <br />aos 27 anos <br />plantaram e colheram a cana <br />que viraria açúcar. <br />Em usinas escuras, <br />homens de vida amarga <br />e dura <br />produziram este açúcar <br />branco e puro <br />com que adoço meu café esta manhã em Ipanema. <br />quot; A cana-de-açúcarquot; (Vesentini, J.W. Brasil, sociedade e espaço. São Paulo, Ática, 1992, p.106) <br />O texto quot; O açúcarquot; parte de uma palavra do domínio comum - açúcar - e vai ampliando seu potencial significativo, explorando recursos formais para estabelecer um paralelo entre o açúcar - branco, doce, puro - e a vida do trabalhador que o produz - dura, amarga, triste. <br />a) associações lexicais entre vocábulos do mesmo campo semântico: <br />açúcar açucareiro adoçar<br />dissolver <br />cana<br />canavial<br />plantar<br />colher <br />mercearia<br />comprar<br />vender <br />b) relações antitéticas: vida amarga e dura x açúcar branco e puro.<br />c) comparações: a comparação é o confronto de idéias por meio de conectivos, de palavras que explicitam o que está sendo comparado. Na comparação, um termo se define em função do que sabemos de outro: <br />quot; Vejo-o [o açúcar] puro e afável como beijo de moça<br /> (como) água na pele<br /> (como) flor que se dissolve na boca<br />No texto quot; A cana-de-açúcarquot; , de expressão não-literária, o autor informa o leitor sobre a origem da cana-de-açúcar, os lugares onde é produzida, como tiveram início seu cultivo no Brasil, etc. <br />Conceitos<br />·   Cultura: complexo de normas, símbolos, mitos e imagens absorvido pelo homem. Tal complexo determina os seus instintos e move as suas emoções. Segundo o pensamento católico, é tudo aquilo que aperfeiçoa e desenvolve a alma e o corpo, tornando a vida social mais humana. De acordo com a antropologia, é o conjunto e a integração dos modos de pensar, sentir e fazer de uma comunidade, na tentativa de solucionar os problemas vivenciados no seu interior.<br /> <br />·   Mimésis: termo grego traduzido como imitação. Trata-se de um conceito filosófico para explicar a arte. É imitação, mas não cópia. É uma relação do signo com o real. Para os pitagóricos, é a representação de estados de alma. Para Platão, é a imitação da aparência da realidade, ou seja, imagem de imagem ou simulacro da realidade. Para Aristóteles, é imitação das essências. É o conhecimento da natureza profunda do ser humano e do mundo. É a revelação da plenitude do real. É a imitação da natureza no que ela tem de capacidade criadora.<br /> <br />·   Catársis: termo grego que significa purgação. Na linguagem religiosa, era sinônimo de expiação ou purificação. Em sentido psíquico, está relacionado à purgação das paixões ou tensões da alma. Faz parte do fenômeno literário. É a libertação promovida pela criação artística. Toda arte opera a catársis, pois desperta no homem prazer, plenitude.<br /> <br />·   Universalidade: Trata-se de um redimensionamento de fatos ou situações através da literatura.  <br />·   Linguagem: pode ser considerada como uma das formas de apreensão do real. É, também, qualquer sistema de comunicação que utiliza signos organizados de maneira particular. É, ainda, a capacidade que o homem tem de expressar seus estados mentais por meio da língua, representando o mundo interior e exterior.<br />O Cortiço, de Aluísio de Azevedo<br /> O Cortiço foi publicado em 1890, e nesse livro Aluísio pôs em prática os princípios naturalistas, em que acreditava, e toda a sua capacidade artística.<br />Narrado em 3ª pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou descrito. Há um total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional. Há o predomínio na narrativa do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das personagens. A visão do narrador é fatalista, pois as camadas populares são vistas como animais condenados ao meio social que habitam, homens fadados a viverem como animais selvagens.<br />O cenário é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço: quot; Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras... o prazer animal de existir,... E naquela terra... naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco.quot; <br />Uma história envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo Império que tem como tema a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, a quot; gentalhaquot; , caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome. Todas as existências se entrelaçam e repercutem umas nas outras. O cortiço é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão.<br />No século XIX, os cortiços eram galpões de madeira habitados por trabalhadores não-qualificados. Esses galpões eram subdivididos internamente. O proprietário era geralmente português, dono de armazém próximo. Mas havia outros interessados: o Conde D'Eu, marido da princesa Isabel, foi dono de um imenso cortiço, o quot; Cabeça-de-porcoquot; , onde viviam mais de 4 mil pessoas. <br />O romance é de nítido recorte sociológico, representando as relações entre o elemento português, que explora o Brasil em sua ânsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro, apresentado como inferior e vilmente explorado pelo português. A obra revela a aceitação de idéias filosóficas e científicas do tempo: a redução das criaturas ao nível animal (zoomorfismo) é característica do Naturalismo e revela a influência das teorias da Biologia do século XIX (darwinismo, lamarquismo) e o Determinismo (raça, meio, momento).<br />O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica de determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de quot; patologiaquot; sexual: quot; acanalhamentoquot; das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc.<br />Na elaboração de O Cortiço, Aluísio Azevedo seguiu a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas do Rio, interrogou lavadeiras, sapoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços, sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente, segundo um processo criado pelos naturalistas), viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em torno de um problema social que se tomava mais e mais grave, com a formação de massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos primórdios da industrialização do país.<br />Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O Cortiço: uma é a grande capacidade de representação visual do autor, e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, legando-se, deprimindo-se ou irando-se — e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam­se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir urna individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura brasileira. Deve se notar que no romance, as mulheres são reduzidas a três condições: de objeto, usadas e aviltadas pelo homem: Bertoleza e Piedade; de objeto e sujeito, simultaneamente: Rita Baiana; e de sujeito, são as que se independem do homem, prostituindo-se: Leonie e Pombinha.<br />Veja exemplos de descrição realista e objetiva dos tipos humanos na obra: <br />João Romão: E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se logo com as unhas.<br />...possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava, resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha.<br />Albino: Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado, fraco, cor de aspargo cozido e com um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole e fino.<br />Botelho: Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-lhe ainda todos os dentes mas, tão gastos, que pareciam 1imados até ao meio. (...) Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina.<br />Enredo<br />O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o primeiro, o avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava a qual ele mente liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos rico, mas mais fino, com um casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se refine e mais tarde tente devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata antes de perder a liberdade). A outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro, um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e vai se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, pára de pagar a escola da filha e mata o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias histórias secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim como a do próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem. Vejamos.<br />A área suburbana do Rio de Janeiro do século XIX é o cenário da história de um esperto e pão-duro comerciante português chamado João Romão. Comprando um pequeno estabelecimento comercial, este consegue se aliar a uma negra escrava fugida de nome Bertoleza, proprietária de uma pequena quitanda. Para agradá-la, falsifica uma carta de alforria que asseguraria à negra a tão desejada liberdade. O pequeno estabelecimento, mantido pela esperteza de João Romão e o trabalho árduo de Bertoleza, começa a crescer. Aos poucos o português começa a construir e alugar pequenas casas, o que leva a edificação de um grande cortiço: a quot; Estalagem São Romão.quot; Logo se ergueriam novas pendências, como a pedreira (que servia emprego aos moradores) e o armazém (onde os mesmos compravam seus artigos de necessidade). O crescimento só não agrada ao Senhor Miranda, dono de um sobrado vizinho.<br />Nas casas do cortiço, figuras das mais variadas caracterizações podem ser vistas e apreciadas: entre eles o negro Alexandre, a lavadeira Machona, a moça Pombinha, Jerônimo e Piedade (casal de portugueses), e a sensual Rita Baiana, que desfilava toda a sua sensualidade dançando nas festas. Num desses encontros feitos de música e gritos, Jerônimo se encanta com a dança de Rita Baiana, o que provoca ciúmes em Firmo, amante da moça. Há uma violenta briga, e Firmo fere o jovem português com uma navalha, fugindo logo depois. Jerônimo vai parar num hospital.<br />Forma-se um novo cortiço perto dali, recebendo o apelido de quot; Cabeça-de-gatoquot; pelos moradores do cortiço de João Romão. Estes, por sua vez, os apelidam de quot; Carapicusquot; , o que já indica a competição e a rincha entre eles. Enquanto isso, Jerônimo volta do hospital e, numa emboscada, mata Firmo, agora morador do cortiço rival. Enquanto o jovem português abandona a mulher para viver com Rita Baiana, o pessoal do quot; Cabeça-de-gatoquot; entra em guerra com os moradores do cortiço de João Romão para vingar a morte de Firmo. Um incêndio misterioso acaba com o conflito e destrói grande parte do cortiço do velho comerciante português.<br />João Romão reconstrói sua estalagem, que fica ainda mais próspera, e se alia a Miranda, com a intenção de freqüentar rodas mais finas e elegantes e se casar com uma moça de boa educação. O verdadeiro intento do esperto comerciante é a mão de Zulmira, filha do novo amigo. Concretizando seu sonho, só resta agora se livrar do incômodo de sua companheira Bertoleza. Isso se dá através de uma carta enviada aos proprietários da negra fugida, revelando seu esconderijo. Estes não demoram a aparecer no cortiço com o intuito de levá-la de volta. Bertoleza, percebendo a traição, suicida-se com a mesma faca de limpar peixes que usou a vida inteira para preparar as refeições de João Romão e os clientes do seu armazém.<br />Personagens<br />As personagens em O Cortiço não podem ser tratadas como entidades independentes, podendo ser vistas preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem ser separados em grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão apresentados a seguir.<br />O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios na pessoas de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de homem desprovido de livre-arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa para Romão, criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens.<br />João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: de acordo com o crítico literário Rui Mourão, os elementos conflitantes na obra quot; não se isolam em planos equidistantes. Ao contrário, o que existe [...] é um estado de permanente tensão e mútua agressãoquot; . Afirma, em outra ocasião, que dessas lutas ninguém sairá vencedor ou vencido. Miranda e João Romão, apesar de aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são essencialmente influenciados pelos mesmos elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Seus rumos se tornam entrelaçados similarmente aos laços existentes entre sobrado e cortiço: vizinhos, porém distantes; diferentes, porém iguais sob olhar mais minucioso, Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D. Estela são, sob todas as óticas, o oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Não há relação de complementação nesse caso, apenas uma forma de acentuação do abismo de inveja que une João e Miranda. Enquanto um deseja a independência, a prosperidade e a fidelidade conjugal do outro, o outro almeja os contatos, a nobreza e a capacidade de esbanjamento do um. Zulmira e Botelho têm aqui papéis de meros instrumentos do autor para dar andamento à história.<br />Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nas relações entre essas personagens é demonstrado mais claramente o princípio naturalista que rege a obra de Azevedo. Suas interações são baseadas puramente no instinto, no desejo sexual, no ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo são, como Romão e Miranda, complementos um do outro. Um era quot; a força tranquila, o pulso de chumbo, em constante tensão com a força nervosa (...) o arrebatamento que tudo desbarata no sobressalto do primeiro instantequot; . Mas, nas palavras de Azevedo, ambos corajosos. O autor deixa claro que nenhum deles pode fugir ao que lhes está destinado. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava fadado à perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de Firmo, e a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade. A metamorfose de Jerônimo se dá como tentativa de se tornar Firmo antes de tirar o que lhe pertence não só Rita, mas tudo o que ela implicava: a beleza, os encantos da terra, a vida feliz do malandro sem preocupações. Cada um reage mais ou menos de acordo como suas características pessoais, notoriamente a raça (a submissão da portuguesa e a belicosidade do mulato capoeira), mas se faz presente em todos a conformação, a inércia. Com a morte de Firmo, Jerônimo assimila o papel de seu rival, mantendo um fantasma do que era no passado, que a bebida e a Rita contribuem para esmaecer. Os elementos naturais e as circunstâncias estão sempre a sufocar qualquer manifestação psicológica independente, carregando os personagens numa correnteza inevitável e irreversível.<br />Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie, madrinha de uma das filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles que têm vida honesta não conseguem alcançar. Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores do cortiço, que não tem as cínicas restrições sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D. Isabel, era uma garota de 18 anos que ainda não havia se tornado mulher. Após anos esperando o momento de se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para seguir num relacionamento homossexual com Leónie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Ao atiçar a sexualidade de Pombinha, fazendo com que ela atinja a puberdade, Leónie põe em funcionamento uma dinâmica de acontecimentos que passam a independer da vontade dos personagens. Pombinha possuía um desenvolvimento intelectual maior que a maioria dos personagens do cortiço, talvez por não se ter visto envolvida tão cedo nas tramas de sexo e ciúme que os consumiam. Ao ter que começar uma vida como mulher casada, não conseguiu se adaptar à falta de liberdade e foi viver com Leónie, aprendendo seu ofício. Ironicamente, a comercialização do sexo protagonizada por Leónie e Pombinha se contrapõe à vulgarização do sexo pelos moradores do Cortiço enquanto esses são escravos de seus impulsos, Leónie e Pombinha se tornam mais senhoras de si através do desejo alheio. Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada num cortiço, substituindo Pombinha para seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da mãe de forma constante, termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve.<br />A homossexualidade retratada em O Cortiço<br />No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da homossexualidade é tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios. O naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a realidade de forma objetiva, descrevendo grupos marginalizados. <br />O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes, com teor denunciativo, rompimento com o romance convencional.<br />Na época em que foi publicado o romance causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava através do ficcional o factual, como, por exemplo, a homossexualidade de Léonie e Pombinha. Léonie configura-se como a pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais. O autor descreve as personagens com instinto animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder, culminados nos processos deterministas do cientificismo/ evolucionismo. Os furtos, estupros, homicídios ocorrem sem justificativa.<br />A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam relacionados a fatores internos e externos. O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para satisfazer-se:<br />(...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente loiro. <br />Utiliza faceta para seduzir, abocanhar sua presa, um jogo de interesse, dava-lhe presente, premiando-a constantemente:<br />O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda (...).<br />Leónie entregou á Pombinha uma medalha de prata (...).<br />(...) tomou a mão de Pombinha e meteu-lhe um anel cercado de pérolas. <br />Quando sua presa caía na armadilha, ela saciava sua sede, devorando-a ferozmente toda.<br />-Vem cá, minha flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si (...). Sabes? Eu te quero cada vez mais!...Estou louca por ti<br />No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga as vontades da afilhada utilizando discurso sedutor: <br />Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. <br />Pombinha - Na segunda análise da personagem vale ressaltar seu estereótipo de fraca, nervosa, doente, enfermiça, doente, loira, muito pálida, sua sensualidade associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada.<br />A relação homossexual entre Pombina e sua madrinha Léonie se dá em consequência de um estupro. Pombinha rompe drasticamente com os padrões impostos por sociedade preconceituosa, desigual, desumana. A moral cristã do naturalismo aniquila com os padrões qualquer possibilidade do quot; patólogicoquot; , defeituoso, se dar bem.<br />A personagem tem a figura da mãe, que a protege e a figura do pai, um homem que fracassa e comete suicídio. Talvez essa figura do pai seja substituída pelas carícias e mimos de sua madrinha Léonie. O que conta muito para a formação da personalidade de Pombinha.<br />Léonie perverteu Pombinha desviando-a para uma vida de prostituição, sexo e embriagues. Pombinha toma Léonie como espelho, modelo de vida a ser seguido.<br />Observemos à afilhada, antes da relação homoérotica:<br />quot; A folha era a flor do cortiço (...)quot; . <br />quot; As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço e a sombrinha(...) é mesmo uma flor(...)orçando pelos dezoito anos, não tinha pagado à natureza o cruento tributo da puberdadequot; . <br />Este assunto não era segredo para ninguém, porém quando mênstruo, todos ficaram sabendo, houve comemoração, é como se as janelas da liberdade fossem abertas e pássaro pudesse finalmente voar.<br />quot; E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo de espanto e de um instinto temor (...)quot; <br />A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua sagacidade, conquistava todos os homens.<br />Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie. <br />quot; A cadeia continuava e continuaria interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre menina desamparada, que se fazia mulherquot; <br />Fonte: http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/o/o_cortico.<br />