Este documento discute a educação ambiental e como ela é tradicionalmente abordada de forma reducionista, ignorando as causas primárias dos problemas ambientais e perpetuando a dominação ocidental. Os autores propõem uma nova abordagem de educação ambiental que leve em conta as dimensões físicas, biológicas, sociais, econômicas, políticas, históricas e culturais do meio ambiente.
O que todo "cucaracha" precisa saber sobre Educação Ambiental
1. XXVIII CONGRESSO INTERNACIONAL DA ALAS
6 a 11 de setembro de 2011, UFPE, Recife-PE
Grupo de Trabalho:
Meio Ambiente, sociedade e desenvolvimento sustentável
O QUE TODO “CUCARACHA” DEVE SABER SOBRE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Vantuil BARROSO FILHO, professor da UFPE,
vantuilbarroso@gmail.com
Filipe Reis MELO, professor da UEPB, freismelo@yahoo.com
Geraldo Medeiros de AGUIAR, professor da FBA,
gmaguiar@yahoo.com.br
1
2. O QUE TODO “CUCARACHA” DEVE SABER SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Vantuil BARROSO FILHO, professor da UFPE, vantuilbarroso@gmail.com
Filipe Reis MELO, professor da UEPB, freismelo@yahoo.com
Geraldo Medeiros de AGUIAR, professor da FBA, gmaguiar@yahoo.com.br
Resumo
Este artigo faz uma rápida análise sobre os temas centrais da chamada “questão ambiental” e da
Educação Ambiental tratados atualmente pelo mainstream. Primeiramente, os autores tratam de
explicar o termo periferia, depois analisam o fenômeno da ocidentalização do mundo e a forma
como a questão ambiental é tratada pelos meios hegemônicos e, finalmente, propõem uma nova
forma de abordagem dos problemas ambientais e da Educação Ambiental. Defende-se aqui que os
problemas ambientais, bem como a Educação Ambiental são tratados de forma reducionista cuja
consequência imediata é, por um lado, a impossibilidade de se entender as causas primárias dos
problemas ambientais e, por outro, a continuidade das relações de dominação da cultura ocidental
sobre os países menos desenvolvidos. Para finalizar, os autores propõem uma nova abordagem de
Educação Ambiental.
Palavras-chave
Educação ambiental. Ocidentalização. Neocolonialismo.
Introdução
Tradicionalmente, o termo ambiente é definido como o conjunto de elementos bióticos e abióticos
que permite a vida de uma espécie. No caso dos seres humanos, o meio é o suporte da humanidade
constituído por todos os seus componentes, como o ar, a água, as rochas, os animais, os vegetais,
etc. Esta concepção é reducionista ao considerar de maneira explícita ou implícita, apenas as
dimensões físicas e biológicas como constitutivas do ambiente ou do meio ambiente. A literatura
dominante enfatiza apenas a história ecológica da Terra, deixando de lado o papel crescente da
reinvenção social do natural (FLORIT, 2004), os seja, uma natureza que estaria sendo recriada por
alguns seres humanos para a acumulação privada de capital, a partir da tecnociência.
O termo ambiente, neste trabalho, vai buscar em Castro (1957) os fundamentos filosóficos de sua
definição, ao afirmar que o meio globalmente considerado é constituído tanto por elementos
materiais de ordem física ou biológica, quanto econômicos e culturais, incluídas as estruturas
mentais dos grupos humanos que participam das diferentes civilizações, regiões, países, classes
sociais, gêneros e idades. As recomendações emanadas da Conferência Intergovernamental sobre
2
3. Educação Ambiental realizada em 1977, em Tbilisi, Geórgia, estão de acordo com essa concepção.
Em seus princípios básicos, a recomendação nº2 de Tbilisi considera o meio ambiente em sua
totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e criados pelos seres humanos abrangendo as
dimensões econômicas, sociais, políticas, histórico-culturais, moral e estética. Assim, ambiente
representa uma totalidade constituída pela interação de quatro dimensões da realidade: física,
biológica, social e psicológica. Ou seja, uma realidade constituída por elementos visíveis e
invisíveis em interação constante entre si estabelecendo uma dinâmica de extrema complexidade.
Esta definição ainda pode ser considerada como redutora, pois não leva em conta uma dimensão
real para milhões de seres humanos: a dimensão espiritual de grande impacto sobre a realidade
concreta, material. Assim, além do relevo, clima, vegetação, fauna e solo, por exemplo, a família, a
escola, a igreja, as empresas e outras instituições e organizações fazem parte do ambiente e têm
cada vez mais uma ação condicionante ou mesmo determinante sobre o corpo, sobre a consciência e
sobre a práxis dos seres humanos, componentes privilegiados dessa realidade.
Em síntese, a matéria pode não sofrer de um finalismo universal específico, isto é dependendo da
interferência de alguns fatores externos, naturais ou humanos, sobre a categoria de comando ou
informação original que a caracteriza - os desdobramentos poderão resultar em x ou y. Esta
capacidade de interferência caracteriza a virtualidade da matéria estelar original, ou seja, sua
possibilidade de evolução em mais de uma direção. No caso de organismos, poderão ocorrer
variações fenotípicas oriunda de um mesmo genótipo, ocorrendo a mesma flexibilidade no que se
refere à matéria inorgânica quanto ao seu padrão de transformações. Ambiente ou meio ambiente
pode ser aqui definido como o conjunto formado pelas relações dialéticas, isto é, de confronto e
colaboração, de ação e retroação, de antagonismo e complementação, estabelecidas entre dois
componentes do ambiente: o ser humano individual (e suas dimensões constitutivas, físicas,
emocionais, intelectuais, religiosas etc.) e o outro constituído pela natureza e a sociedade também
em todas as suas dimensões e sistemas, visíveis e invisíveis.
Periferia
O termo periferia pode ser analisado em três dimensões. Em sociologia, a expressão periferia, hoje
em desuso, é herdeira da Teoria da Dependência da década de 1960, que significou uma crítica
radical às nações ocidentais desenvolvidas em suas relações com o então Terceiro Mundo. Derivada
da Teoria do Imperialismo, a ideia básica da Teoria da Dependência é que as nações ocidentais
desenvolvidas não abandonaram seu poder colonial após a independência formal da maioria dos
3
4. países da América Latina, da Ásia e da África, após a Segunda Guerra Mundial. Em psicologia, o
termo dependência como sinônimo de periferia indica o estado de submissão de um indivíduo a
figuras protetoras ou idealizadas. O indivíduo dependente revela-se incapaz de tomar decisões sem
a aprovação e o alento dos protetores, dirigindo-se constantemente a outros para que o ajudem.
Também pode ser interpretado como uma estratégia do sujeito destinada a assegurar a estima dos
que o rodeiam, por exemplo, fazendo o que se espera dele e sendo útil aos demais. De fato, o
neocolonialismo implantado a partir do final do século XX, exerce um controle ainda maior sobre
as nações periféricas através de uma nova metodologia e de instrumentos de dominação. Até
recentemente, o controle se exercia, sobretudo, pela guerra, pelo uso da pressão econômica e pela
exploração de sua posição superior no mercado para extrair vantagens do comércio internacional.
Como a maior parte dos financiamentos para o desenvolvimento industrial e agrícola dos países em
desenvolvimento vem dos mercados financeiros controlados pelas nações ocidentais desenvolvidas,
o desenvolvimento dos países periféricos está vinculado ou determinado pelos interesses das elites
dessas nações em associações diversas com as elites das nações periféricas. A Teoria Crítica da
Escola de Frankfurt acrescenta alguns elementos importantes a esse processo de dominação, ao
ressaltar a importância recente da indústria cultural, tanto econômica como ideológica. A cultura se
transformou em indústria e tem na escola, além da mídia e de outros elementos, um de seus
principais focos produtores de renda e de difusão da ideologia dominante, ou seja, aquele modo de
pensar (e de agir) que interessa às camadas sociais privilegiadas, a superclasse, que rege o mundo
(ROTHKOPF, 2008) e que habita um estado virtual, o Riquistão (FRANK, 2008). Ao se
transformar em mercadoria, a cultura está ajudando a criar uma nova realidade, um novo meio
natural e um novo ser humano, tanto na dimensão física quanto na psicológica, uma mudança
antropológica, como denunciam Dufour (2005; 2009) e Santos (2003).
Tudo isso é dito para ajudar a compreender como funciona o sistema capitalista na atualidade,
principalmente o impacto da crescente concentração mundial da riqueza nas empresas e do poder
político dos governos das nações ocidentais desenvolvidas sobre as populações periféricas pobres
que formam a maioria da população mundial. Periferia é uma expressão de grande carga ideológica,
pois requer um complemento para lhe dar sentido, um centro emissor de ordens, sugestões,
modelos, teorias, paradigmas e decisões. A periferia tem capacidade de tomar iniciativas no campo
econômico, pedagógico, político ou legal. Ela tem liberdade operacional desde que as iniciativas se
ajustem às tendências dominantes que são as de acumulação privada de capital, ditadas pelo
mercado controlado pelos grandes empresários e políticos ocidentais. Ideias e práticas contrárias
4
5. serão combatidas por todos os meios, inclusive os mais selvagens, como ensina Lofland (1996) e
Chomsky (2003; 2005a; 2005b; 2006; 2008; 2009), em sua vasta obra, entre outros.
A ocidentalização e a recriação do meio ambiente: centro e periferia
As transformações da matéria, antes comandadas pela força natural, própria da potencialidade da
matéria estelar originária, são, cada vez mais, conduzidas pelas decisões tomadas pelas elites da
humanidade, notadamente ocidentais. Elas utilizam novos e mais eficazes conhecimentos capazes
de alterar o agenciamento de informações típico de cada unidade de matéria bruta ou viva.
Diariamente aparecem novos materiais e novas recombinações orgânicas, que são incorporados ao
conjunto de elementos do meio, alterando a evolução dita natural, privilegiando algumas camadas
sociais que detêm o saber em detrimento de outras. Essas novas ferramentas de alteração da
realidade não são neutras. Estão a serviço de uma política de ocidentalização do mundo que cobre
praticamente todos os espectros da realidade de todas as civilizações.
A ocidentalização, processo de expansão da cultura ocidental para o resto do mundo é o principal
mecanismo de recriação do ambiente incluindo as pessoas que dele participam. Historicamente,
constituiu-se um modelo dicotômico, um ambiente central e outro periférico. A partir do século
XVI, metrópole e colônia. No século XX, países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Hoje, países
centrais e periféricos. As consequências desses arranjos projetam-se no nível físico, biológico,
social e psicológico, embora haja manchas cinzentas de interpenetração.
O colonialismo, o imperialismo e a globalização são etapas da recriação do meio ambiente mundial,
principalmente americano, a partir de decisões tomadas nos sucessivos centros hegemônicos do
sistema-mundo capitalista, inicialmente ibérico, posteriormente europeu ocidental e atualmente
norte-americano. No entanto, a expansão do modelo ocidental de sociedade é muito antiga e dirige a
recriação de acordo com os interesses e possibilidades das elites de cada época.
Culturalmente o Ocidente é uma amálgama constituída por três dimensões principais: judaica,
helênica e cristã. Os contornos de seu espaço geográfico são mais ou menos precisos, conforme as
épocas. Segundo Latouche (1996, p.45), “se aceitarmos a pertinência desse conceito de Ocidente
como unidade fundamental subjacente a toda uma série de fenômenos que se desdobrou na história,
não podemos captá-la senão em seu movimento”. Assim, a essência do Ocidente tem a ver com uma
entidade geográfica, a Europa, com uma religião, a cristandade, com uma filosofia, o iluminismo,
com uma raça, a branca, com um sistema econômico, o capitalismo, mas o todo é maior do que a
soma das partes. Trata-se de uma cultura, a mais guerreira da história, que deve ser identificada em
5
6. sua singularidade e permanente superação. Face às transformações sofridas, hoje é mais uma noção
ideológica, geo, bio e noopolítica do que geográfica. Suas colunas principais podem ser
identificadas às margens do Atlântico Norte, ou seja, a Europa Ocidental e a América do Norte.
Atualmente o comando está nas elites anglo-saxãs, mas contam com contribuições diversas dos
latinos, dos germanos, dos eslavos, dos judeus, de brancos honorários como os japoneses e coreanos
do sul, por exemplo, e de elites enxameadas e subalternas de todas as demais civilizações
(HUNTINGTON, 1997).
A história da recriação do meio ambiente
O colonizador faz a história e sabe que a faz. E porque se refere constantemente à história
de sua metrópole, indica de modo claro que ele é aqui o prolongamento dessa metrópole. A
história que escreve não é, portanto, a história da região por ele saqueada, mas a história de
sua nação no território explorado, violado. A imobilidade a que está condenado o
colonizado só pode ter fim se o colonizado se dispuser a pôr termo à história da
colonização, a história da pilhagem, para criar a história da nação, a história da
descolonização (FANON, 1979, p.38).
De acordo com o enfoque da ocidentalização do mundo e a consequente recriação do meio
ambiente, a história da América Latina pode ser dividida em três etapas: colonialismo, imperialismo
e globalização. Cada etapa amplia a dominação ocidental para todos os setores da natureza e da
sociedade através do uso crescente do saber, instrumento da produção econômica, do poder político
e militar e do significado cultural, hoje a forma mais expressiva de dominação.
O colonialismo
A organização do espaço periférico físico e social, ou desorganização se vista do ângulo das
populações nativas, inclui a cada dia novos setores da realidade. A partir do extrativismo vegetal,
animal e mineral, os colonizadores passaram a produzir riqueza para exportação como o açúcar e
outras culturas. Segundo Latouche (1996), esta etapa da recriação do ambiente, de cerca de três
séculos, teve como característica os três M: mercadores, militares e missionários, cujas atividades se
projetaram na paisagem através das feitorias, dos fortes e das missões, cada um atuando em sua área
e reforçando o projeto de dominação. Assim, desde os primórdios da colonização, os ambientes de
todos os continentes passaram a ser crescentemente alterados em graus diferenciados em todas as
dimensões, física, biológica e social. Novas espécies vegetais, animais e de microorganismos foram
introduzidas e novas organizações sociais e objetivos econômicos determinados para os nativos.
O imperialismo
6
7. A partir do século XVIII, na Europa uma nova organização da produção estabeleceu um padrão de
organização do ambiente que se expandiu para o resto do mundo. A industrialização gerou a
urbanização. A expulsão dos camponeses para as cidades provocou novas demandas que o ambiente
europeu não tinha condições de satisfazer. Novas matérias-primas foram solicitadas pelo voraz
sistema produtivo industrial e o crescimento demográfico europeu decorrente de avanços noutras
dimensões da sociedade necessitou de crescentes fontes de alimentos que passaram a ser
desenvolvidos noutros continentes. Três formas principais de relacionamento da Europa com os
povos de outros continentes podem ser identificadas a partir de então. A conquista territorial pura e
simples, o sistema de concessões e o protetorado. Cada uma de acordo com a realidade encontrada
pelos ocidentais em seu processo de expansão mundial. A conquista territorial para extração de
recursos naturais pela mão de obra local foi empregada principalmente na África, pois tratava-se de
um continente subpovoado e dividido, incapaz de oferecer maior resistência aos invasores.
As necessidades econômicas europeias geraram uma nova geografia do mundo, vigente em suas
linhas básicas até hoje. Dimensões menos visíveis, mas não menos importantes, como concepções
filosóficas e modelos teóricos também foram geradas nessa época e não pararam de se aperfeiçoar e
de transformar o mundo para atender às novas e crescentes necessidades. O embate da renovada
cultura europeia com as culturas nativas gerou paisagens diferenciadas e, por conseguinte, padrões
de vida diferenciados de acordo com a maior ou menor permanência dos frutos do progresso
material nessas áreas.
A globalização
Laffont (1985 apud LATOUCHE,1996, p.12) ajuda a definir o conceito de neocolonialismo:
Se escrevemos a história das batalhas, o colonialismo é um fracasso. Basta, porém escrever
a história das mentalidades para percebemos que ele é a maior conquista de todos os
tempos. A obra-prima do colonialismo é a farsa da descolonização... Os brancos passaram
para os bastidores, mas continuam sendo os produtores do espetáculo.
A expressão neocolonialismo baseia-se na concepção de que o colonialismo nunca acabou. Pelo
contrário, está em permanentemente aperfeiçoamento. No século XXI, adota uma forma seletiva de
dominação que consiste em monopolizar “apenas” o controle das dimensões estratégicas da
sociedade, como os ramos econômicos mais lucrativos, as altas finanças, os meios de comunicação
social, as tecnologias bélicas e, sobretudo, o saber, que é o principal insumo do poder (AMIN,
2000; GRAZIANO, 2005).
7
8. Simbolicamente, a partir de agosto de 1945, o mundo passou a obedecer a dois centros de poder, a
dois projetos de recriação do espaço. De um lado, o capitalista sob domínio dos Estados Unidos e
do outro o socialista comandado pela URSS. Este artigo trata apenas da estratégia dos Estados
Unidos enfim vitorioso em 1991 com a desintegração da URSS.
Essa estratégia pode ser dividida em duas partes. Uma interna, dedicada à recriação do ambiente
interno dos Estados Unidos e outra externa, cujo intuito foi assegurar a expansão de seus valores
pelo mundo. Inicialmente é preciso considerar que essa divisão não deve ser considerada como
absoluta. Muitas das providências tomadas abrangeram as duas partes com ênfases e resultados
diferentes.
Sumariamente, podemos enumerar diferentes iniciativas, conforme a área principal de atuação. Na
área econômico-financeira estão as instituições que nasceram nos acordos de Bretton Woods, em
1944, como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Posteriormente,
surgiu o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) que foi substituído em 1995 pela
Organização Mundial do Comércio (OMC). As políticas ditadas por essas instituições criaram um
modelo de produção com profundas repercussões sobre a natureza e sociedade dos países que as
adotaram ou que seguem seus ditames.
Na área militar (hard power), houve a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), braço armado do Ocidente que muitas vezes trabalha em conjunto com a Agência Central
de Informações (CIA), órgão do governo estadunidense encarregado de promover as mudanças
políticas desejadas no exterior. Os Estados Unidos, como líderes do Ocidente, encarregaram-se de
desenvolver um potencial militar superior a qualquer outro país.
Na área cultural (soft power), a hegemonia dos Estados Unidos é absoluta. A indústria
cinematográfica e de entretenimento difunde os valores e a ideologia capitalista através dos filmes,
dos seriados de televisão, dos desenhos animados para crianças, dos jogos eletrônicos. As mais
famosas universidades definem as linhas de pesquisa consideradas mais importantes, definem o
mainstream. Milhares de universidades ao redor do mundo utilizam manuais em seus cursos de
graduação cujos autores são professores das mais prestigiosas universidades das nações
desenvolvidas ocidentais, em especial dos Estados Unidos. As agências de notícias internacionais e
os grandes meios de comunicação se encarregam de difundir as notícias com o olhar e a
interpretação dos fatos em consonância com os interesses hegemônicos.
8
9. Fluxos culturais de mão única partem dos países do centro e inundam o planeta. Imagens, palavras,
valores morais, normas jurídicas, critérios de competência, modelos, padrões, ordens, teorias
transbordam das unidades criadoras para o Terceiro Mundo, através dos meios de comunicação,
jornais, rádios, televisões, filmes, livros, discos, vídeos. O essencial da produção mundial de signos
se concentra no Norte, onde são fabricados nas suas indústrias ou produzidos segundo sua norma e
seu modo.
O crescimento exponencial das tecnologias da informação facilitou a imposição de uma política
cultural lato e stricto sensu pelo Ocidente à Periferia. As demais periferias podem ser deixadas a
sua própria sorte enquanto o sistema de monitoramento permanente não indicar a necessidade de
alguma intervenção para correção de rumos. O monopólio dos meios de comunicação social,
incluindo a escola, cumpre um papel insubstituível nos atuais processos de neocolonialismo.
Enriques é insubstituível, para o entendimento das novas formas de dominação:
As instituições (e os homens que as dirigem) só existem por sua vontade operatória. Se não
fizessem nada elas desapareceriam. É natural, desse modo, pensar que terão como
finalidade a dominação de tudo o que dominável. Se seu domínio se exerceu, inicialmente,
sobre as ferramentas, os instrumentos e os animais, as instituições rapidamente encontraram
seu alvo mais importante, isto é, o único susceptível de manejar, as ditas ferramentas,
instrumentos, utensílios e animais: o homem. O controle do ser humano como ser social é a
preocupação constante dos homens de poder. Dizer controlar é dizer: como impedi-los de
perceber o que lhes acontece, como submetê-los, tornando-os satisfeitos em sua submissão,
ou pelo menos, prontos a aceitá-la. Aqueles que detêm o poder compreenderam muito
rapidamente que não poderiam fazê-lo (sabendo que o medo e o temor suscitados pela
utilização massiva da coerção só duram certo tempo), senão oferecendo aos homens um
conhecimento deturpado e, sobretudo, jogando com os mecanismos íntimos do psiquismo
(ENRIQUEZ, 2007, p.68).
No mesmo sentido, Chomsky (2004), diz que o controle da população em geral sempre foi a grande
preocupação dos detentores do poder, principalmente a partir da primeira revolução democrática
moderna, na Inglaterra do século XVII. Fazendo referência aos Estados Unidos, diz Chomsky que
na época de Woodrow Wilson (1856-1924), os setores elitistas tanto nos Estados Unidos quanto na
Inglaterra reconheciam que em suas sociedades a coação era uma ferramenta de utilidade cada vez
menor e que seria necessário descobrir novos meios para domar a “grande besta”, como Alexander
Hamilton chamava o povo. Desde então, a indústria do conformismo e da produção da subjetividade
nunca deixou de se aperfeiçoar. Considerando que o controle da opinião é a base de sustentação de
qualquer governo, Chomsky (2004) acrescenta que esta prática é muito mais importante nas
sociedades mais liberais nas quais a obediência não deriva do cabresto.
A questão ambiental
9
10. Muitos consideram que o movimento ambientalista é o maior e mais influente fenômeno social da
atualidade. Em cerca de duas a três décadas passou de um tema irrelevante pouco presente na
sociedade e nos trabalhos científicos, para um tema dominante que reúne a preocupação de milhões
de pessoas em todo o mundo gerando conflitos de interesses entre grupos organizados. A temática
ambiental tem sido objeto de eventos nacionais e internacionais e referência obrigatória nas
campanhas políticas, além de contribuir para a expansão do mercado de atividades muito lucrativas.
No entanto, ao contrário do que sugere a propaganda, o ambientalismo não é um fenômeno
espontâneo. É produto de um sofisticado processo de formação da opinião pública mundial.
Se no passado uma ou outra publicação denunciava algum problema ambiental, depois da Segunda
Guerra Mundial o tema ganhou expressão dentro de um enfoque diferenciado. A partir de agosto de
1945 as bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre as cidades japonesas de Hiroxima e
Nagasaki fizeram o mundo entrar na era atômica. Posteriormente, as experiências com bombas
nucleares nos atóis de Bikini e Mururoa por estadunidenses e franceses, alarmaram a comunidade
intelectualizada mais consciente e descomprometida com as estruturas de poder. Simultaneamente,
a grande expansão da indústria, principalmente a petroquímica e seus desdobramentos sócio-
econômicos sobre a agricultura, pecuária e atividades industriais e urbanas, provocaram uma
mudança qualitativa no meio ambiente, primeiro nos países industrializados e hoje em todo o
mundo.
A tomada de consciência dos problemas ambientais, denominada a questão ambiental e o
movimento ambientalista dela decorrente é um fenômeno recente na história, típico do pós-Segunda
Guerra Mundial. Uma das primeiras publicações a denunciar os problemas ambientais atuais foi o
livro Primavera Silenciosa de Rachel Carson, publicado nos Estados Unidos em 1962. Outras
publicações críticas começaram a surgir, mas foram rapidamente capturadas pela superestrutura do
sistema que passou a tratar do tema de acordo com os interesses dos grandes empresários. Como
consequência, a questão ambiental deu lugar a um poderoso movimento ambientalista que
praticamente monopoliza a simpatia de todos os habitantes do planeta e que está se transformando
num grande negócio no século XXI. O advento da Educação Ambiental (EA) pode ser visto como
um coadjuvante importante do processo de legitimação do sistema pela maneira como os principais
temas ambientais são selecionados e tratados no sistema educacional.
Em 1972 foi realizada em Estocolmo, a Conferência da ONU sobre o ambiente humano, sob o
impacto da publicação do primeiro informe ao Clube de Roma, intitulado Limites do Crescimento.
10
11. Nesse documento se advoga, entre outras providências, a necessidade do controle da natalidade para
impedir o agravamento dos problemas ambientais. Foi recomendado na conclusão do evento que a
EA destinada ao público em geral deveria se tornar em um elemento crítico para combater a crise
ambiental de acordo com a visão das grandes empresas que financiaram a pesquisa elaborada pelo
Clube de Roma. Em 1975 foi realizado o Encontro de Belgrado promovido pela UNESCO que
estabeleceu as bases para um programa internacional de EA. A Carta de Belgrado preconizava uma
nova ética global, capaz de promover a erradicação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da
poluição, da exploração e dominação humanas, e censurava o desenvolvimento de uma nação à
custa de outras, acentuando a premência de formas de desenvolvimento que beneficiassem toda a
humanidade. Em 1977 foi realizada em Tbilisi, Geórgia, a Conferência Intergovernamental sobre
Educação Ambiental, promovida pela UNESCO-PNUMA, que detalhou as estratégias a serem
seguidas para a implantação da EA pelos países membros. As recomendações de Tbilisi
representaram um momento histórico na evolução da EA em termos mundiais. Em 1984 foi criada a
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento para avaliar o grau de degradação
ambiental a adoção de políticas públicas para mitigá-los. Após três anos de trabalhos foi publicado
o relatório dos trabalhos intitulado Nosso Futuro Comum, mais conhecido como Informe
Brundtland. Em 1988, por iniciativa dos governos estadunidense e britânico, foi criado o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), subordinado ao Programa Ambiental da
ONU e à Organização Meteorológica Mundial (OMM). A realização no Rio de Janeiro da
Conferência da ONU sobre o meio ambiente em 1992 contribuiu para que os temas ambientais se
difundissem no Brasil e no mundo, haja vista a participação de 170 países no evento e a realização
paralela do encontro das organizações não governamentais (ONG). No entanto, reunidos em
Johannnesburgo, África do Sul, dez anos depois, as autoridades internacionais chegaram à
conclusão de que os progressos na área ambiental eram incompatíveis com as expectativas geradas.
Para atender a demanda crescente, as empresas ampliam e diversificam o processo produtivo. A
indústria madeireira e a mineração, por exemplo, utilizam cada vez mais recursos naturais que, por
definição, são limitados e esgotáveis. A atividade econômica provoca necessariamente a poluição
do ambiente com destaque para o efeito estufa proveniente da queima de minerais fósseis, que
provocaria o aquecimento global e a mudança climática, que por sua vez, incrementa os desastres
naturais.
Diante da dimensão e urgência do tema, materializou-se a “crise ambiental”. Os governos nacionais
foram sensibilizados, novas instituições oficiais e ONG foram criadas, e a ciência e a tecnologia
11
12. produziram novos instrumentos, estando hoje a Terra e seus habitantes monitorados em quase todas
as suas dimensões por organismos ditos internacionais que encarnam o saber oficial. As estatísticas
se multiplicam indicando o desempenho de praticamente todas as variáveis físicas e sociais. Nesses
eventos internacionais, a EA foi sugerida como antídoto aos males da degradação ambiental,
devendo ser estruturada e aplicada em cada país de acordo com suas características específicas.
Hoje, a abordagem dominante da questão ambiental se centra em torno de poucos temas com
destaque para as mudanças climáticas de origem antrópica, suas consequências como o
aquecimento global e o efeito estufa, o buraco de ozônio, escassez dos recursos naturais com ênfase
na futura carência de água, desertificação, elevação do nível do mar, ameaça à biodiversidade,
chuvas ácidas e a poluição do ar, água e solo. Essa abordagem atribui ao crescimento demográfico,
concebido como variável independente, a responsabilidade última por todos os males ambientais
que afligem o planeta. Em síntese, a ladainha dominante, como questiona Lomborg (2002), reflete a
realidade ou tende a criar uma realidade que interessa aos grupos dominantes? Seriam esses os
temas ambientais mais importantes que afetam as relações entre todos os seres humanos e o seu
ambiente? A maneira como está sendo tratada esta agenda verde atende às reais necessidades do
povo periférico (latino-americano, africano, asiático), especialmente de suas camadas mais
carentes? O que se esconde atrás de toda essa parafernália publicitária em torno do ambiente e do
destino do planeta, incluindo os seres humanos?
A visão atomística, reducionista e monodimensional, como a dominante nos meios pedagógicos e
midiáticos não tem condições de captar a complexidade da questão ambiental. Ou seja, o setor
hegemônico do movimento ambientalista internacional faz parte de uma política maior de
ocidentalização do mundo conduzido pela oligarquia anglo-americana cujas estruturas de produção
do saber são tidas como universalizantes e aceitas de forma generalizada pelos povos.
Por uma educação ambiental para a periferia
Entende-se por agenda verde oficial (AVO) o conjunto de temas considerados como os mais
importantes sobre a situação do planeta e a maneira como são estudados. A AVO diz que a raiz de
todos os problemas ambientais reside no crescimento desenfreado da população mundial,
principalmente a dos países pobres e emergentes. Como resultado da ação antrópica (crescimento
demográfico e atividade econômica), pandemias deverão ocorrer com mais frequência, os
ecossistemas estarão cada vez mais ameaçados pela extinção de espécies e a capacidade de
resiliência do meio poderá ser rompida ameaçando a sobrevivência da humanidade. Outra
12
13. consequência não desprezível é a da possibilidade de aumento da pobreza, pois a riqueza que é
produzida terá que ser repartida entre um número maior de pessoas.
Alguns autores como Lomborg (2002), Blüchel (2008) e Molion (2008) afirmam que não há
comprovação científica confiável que dê respaldo a AVO, cuja mensagem o primeiro autor chama
litania. Blüchel (2008) acredita que os seres humanos não têm capacidade de barrar as
transformações naturais sempre em curso e Molion (2008) admite que o planeta esteja resfriando e
não aquecendo.
O objetivo duma proposta pedagógica a ser feita a partir de uma visão periférica (esboço que aqui
se alinhava) é o de produzir uma consciência crítica da ação redutora do Ocidente sobre a
humanização das massas e, a partir daí, tentar uma práxis descolonizadora, ciente das restrições que
o meio estabelece.
A ação conscientizadora deve ser interpretada no sentido freireano, isto é, um ato de conhecimento,
uma aproximação crítica da realidade em que se vive. Ao enfatizar fazer e refazer o mundo, Freire
(2011) indica uma metodologia que consiste em trabalhar os temas locais sem esquecer suas
ramificações globais, centralizadas pelas elites dos países desenvolvidos, hoje cada vez mais
determinantes dos arranjos espaciais regionais, periféricos, físicos e sociais. Uma EA crítica
buscará, em contraponto à metodologia dominante que é atomística e reducionista, uma
metodologia contextualizadora e holística, multidimensional com ênfase no estudo do poder.
Outra proposta metodológica de uma EA crítica consiste em tratar os temas hoje dominantes de
maneira sistêmica e em múltiplas dimensões, sobretudo sob o viés político-ideológico. A nova
proposta se compõe de três etapas. Primeiro, o da seleção dos principais conceitos básicos que deve
iniciar a construção de uma base teórico-filosófica; segundo, o da escolha dos temas mais
importantes do interesse das populações periféricas; e, terceiro, a maneira como devem ser
estudados.
Pode-se citar alguns dos temas na área da EA de maior relevância política e social para as
sociedades periféricas hoje: a biopirataria, sócio-pirataria e socio-diversidade; as guerras; o lixo
atômico e tóxico em geral; o papel social das religiões, da mídia, da escola e da tecnologia; a
explosão e a implosão demográfica; a teoria da transição demográfica; a taxa de reposição,
envelhecimento, sex ratio, capacidade de carga das regiões e desigualdades; as minorias como as
comunidades indígenas, quilombolas, ciganos e outras; a alimentação, obesidade, saúde, moradia,
saneamento, trânsito urbano; as doenças esquecidas como a tuberculose, malária e doença de
13
14. Chagas; as doenças profissionais e a informalidade laboral; a prostituição; o contrabando; a
homossexualidade; as drogas incluindo a produção, a distribuição e o consumo; a repressão policial;
as características das populações que vivem nos e dos estuários no Nordeste, ameaçadas pelos
criatórios de camarão e pela especulação imobiliária; as migrações; a reforma agrária e as favelas.
Considerações finais
A questão ambiental e a Educação Ambiental como é trabalhada hoje em dia são, em geral, tratadas
de forma reducionista, pois são consideradas apenas as dimensões físicas e biológicas como
constitutivas do ambiente. A literatura dominante se centra em torno de poucos temas, com
destaque para as mudanças climáticas de origem antrópica, o aquecimento global, a ameaça à
biodiversidade, a poluição, e ignora o papel crescente da reinvenção social do natural. Essa visão
dominante impede o entendimento das causas primárias dos problemas ambientais, atribui ao
crescimento demográfico a responsabilidade última por todos os males ambientais e permite a
continuidade das relações de dominação da cultura ocidental sobre os países menos desenvolvidos.
Hoje o mundo experimenta a recriação do meio ambiente através do avanço tecnológico. Essa
recriação configura-se através da ocidentalização do mundo, escondendo um processo de
neocolonialismo. A tomada de consciência dos problemas ambientais é incentivada pela elite
mundial ocidental para que seja pensada nos moldes que lhe são convenientes. O advento da
Educação Ambiental pode ser visto como um coadjuvante importante do processo de legitimação
do sistema pela maneira como os principais temas ambientais são selecionados e tratados no sistema
educacional.
Em contraposição à visão dominante, propomos uma abordagem holística constituída pelas
dimensões física, biológica, social e psicológica. Ou seja, uma realidade constituída por elementos
visíveis e invisíveis em interação constante entre si estabelecendo uma dinâmica de extrema
complexidade. Uma Educação Ambiental crítica e libertadora precisa incluir temas ambientais que
tratem dos principais problemas que afligem as populações dos países periféricos.
Referências
BLÜCHEL, Kurt G. A fraude do efeito estufa. São Paulo: Publishing House Lob, 2008.
CASTRO, Josué de. Ensaios de biologia social. São Paulo: Brasiliense, 1957.
CHOMSKY, Noam. A democracia e os estados na nova ordem mundial. São Paulo: Bertrand
Brasil, 2009.
14
15. CHOMSKY, Noam. Ambições imperiais. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
CHOMSKY, Noam. Chomsky on miseducation. Lanham: National Book Network, 2004.
CHOMSKY, Noam. Contendo a democracia. São Paulo: Record, 2003.
CHOMSKY, Noam. Para entender o poder: o melhor de Noam Chomsky. São Paulo: Bertrand
Brasil, 2005a.
CHOMSKY, Noam. Poder e terrorismo. São Paulo: Record, 2005b.
CHOMSKY, Noam. Razões de Estado. São Paulo: Record, 2008.
DUFOUR, Dany-Robert. A arte de reduzir as cabeças. São Paulo: Companhia de Freud, 2005.
DUFOUR, Dany-Robert. O divino mercado: a revolução cultural liberal. São Paulo: Companhia de
Freud, 2009.
FANON, Frantz. Os condenados da Terra. São Paulo: Civilização Brasileira, 1979.
FLORIT, Luciano. Reinvenção social do natural. Blumenau: EDIFURB, 2004.
FRANK, Robert. Riquistão: como vivem os novos-ricos e como construíram suas megafortunas.
São Paulo: Manole, 2008.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
GRAZIANO, Valter. Hitler ganhou a guerra. São Paulo: Palíndromo, 2005.
HUNTINGTON, Samuel P. O choque de civilizações. São Paulo: Objetiva, 1997.
LATOUCHE, Serge. A ocidentalização do mundo. São Paulo: Vozes, 1996.
LOFLAND, John. Social movement organizations: guide to research on insurgent realities. New
Jersey: Transaction Publishers, 1996.
LOMBORG, Bjorn. O ambientalista cético. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
MOLION, Luiz Carlos Baldicero. Mitos do aquecimento global. Revista Plenarium, n.5, p.48-65,
2008.
ROTHKOPF, David. Superclasse. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
SANTOS, Laymert Garcia dos. Politizar as novas tecnologias: o impacto sócio-técnico da
informação digital e genética. São Paulo: Editora 34, 2003.
15