Apresentação utilizada na banca de defesa de tese de doutorado de Rodrigo Freese Gonzatto, em 28 de setembro de 2018. Trata sobre a história e características do conceito de usuário em Interação Humano-Computador e Design de Interação. A noção de usuário é analisada criticamente perante a ideia de produção da existência, dos filósofos brasileiros Vieira Pinto e Paulo Freire.
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Usuários e Produção da Existência: contribuições de Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire à IHC
1. Usuários e
Produção da
Existência:
contribuições de
Álvaro Vieira Pinto
e Paulo Freire à IHC
Rodrigo Freese Gonzatto
Orientador: Luiz Ernesto Merkle
PPGTE
UTFPR
Lygia Clark e Hélio Oiticica.
"Diálogo de mãos”. Fotografia (1966)
7. Apresentação1.
Problema de pesquisa:
“Como usuários produzem suas existências por meio
da produção de artefatos computacionais”?
Objetivo geral:
Caracterizar, analisar e tensionar as implicações da
categoria “usuário” em IHC, por meio de perspectivas
CTS, embasadas na noção de “produção da existência”
de Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire.
8. Objetivos específicos:
I. Delinear a “produção da existência” como fundamento teórico em IHC,
tendo como base o viés CTS do pensamento de Álvaro Vieira Pinto e
de Paulo Freire;
II. Problematizar usos e desdobramentos de concepções de “usuário” em
estudos e práticas de IHC, a partir do viés dialético-existencial da
“produção da existência”;
III. Recomendar elementos para propostas que auxiliem o debate sobre a
produção da existência, realizada por “usuários”, em pesquisas e
projetos de IHC.
Objetivo geral:
Caracterizar, analisar e tensionar as implicações da
categoria “usuário” em IHC, por meio de perspectivas
CTS, embasadas na noção de “produção da existência”
de Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire.
9. Capítulos da tese:
2. Tecnologia e Produção da existência: viés CTS em IHC por Vieira Pinto
e Paulo Freire
3. O conceito de “usuário" em Interação Humano-Computador
4. Propostas para projeto e pesquisa em IHC: produção da existência por
"usuário"
Objetivos específicos:
I. Delinear a “produção da existência” como fundamento teórico em IHC,
tendo como base o viés CTS do pensamento de Álvaro Vieira Pinto e
de Paulo Freire;
II. Problematizar usos e desdobramentos de concepções de “usuário” em
estudos e práticas de IHC, a partir do viés dialético-existencial da
“produção da existência”;
III. Recomendar elementos para propostas que auxiliem o debate sobre a
produção da existência, realizada por “usuários”, em pesquisas e
projetos de IHC.
10. Metodologia:
• Pesquisa exploratória de orientação teórica
• Levantamento bibliográfico não-sistemático
• Opção por sulear fundamentos em IHC em viés CTS
Freire
A máquina está a serviço
de quem?
Conscientização
Professora sim, tia não
Pedagogia do Oprimido
Pedagogia da Esperança
Extensão ou
Comunicação?
…
Usuários
COOPER; BOWERS, 1995
GRINT; WOOLGAR, 1997
KERSSENS, 2016
SPINUZZI, 2002
KUUTTI, 2001
GRUDIN, 2012
GRUDIN, 1990
AGRE, 1995
BANNON, 1991
…
Vieira Pinto
Conceito de Tecnologia
Consciência e Realidade
nacional
Ciência e Existência
El pensamiento crítico
en Demografia
Sete lições sobre
educação para adultos
Por que os ricos não
fazem greve?
…
IHC
MERKLE, 2001
ROGERS, 2012
EHN, 1988
BØDKER, 1991
BANNON; BOKER, 1991
SUCHMAN, 1987
WINOGRAD; FLORES, 1987
DOURISH, 2001
…
11. Tecnologia e Produção da Existência:
viés CTS por Vieira Pinto e Paulo Freire
• Revisão de concepções teóricas sobre “usuários” em IHC
• Possibilidade de interpretar
"usuários" como produtores de suas existências
• Delineamento da categoria Produção da Existência:
• Ser humano é existente que precisa produzir sua existência
• O faz pela transformação da sua realidade:
trabalhando sua amanualidade
• O ser humano é tecnologia.
Mudar a tecnologia é mudar o ser humano
• Produzir o ser humano passa
pela produção de tecnologias computacionais
2.
12. Ler Vieira Pinto e Paulo Freire me ajudou a
visualizar um viés dialético-existencial para
uma IHC via CTS, na qual:
• Uso e produção não são opostos. Diáletica:
Produção contém uso, uso também produz
• “Usuários” são pessoas concretas, em um
tempo histórico, em um sociedade: em
amanualidade e em meio a opressões
• Todo “usuário" possui saberes e fazeres:
projetam, produzem e tem tecnologia
porquê precisam sobreviver em seu mundo
Tecnologia e Produção da Existência:
viés CTS por Vieira Pinto e Paulo Freire
2.
13. Conceito de "usuário"
em Interação Humano-Computador
• “Usuário” = pessoa usando computador?
• Nem sempre pessoas usando computadores foram“usuárias”:
operadoras e hands on/hands off (direto/delegado)
• “Usuário" é uma construção social. Não é “natural”, nem “dado”
• O termo já existia antes da IHC. Mas certos discursos em IHC lhe
conferem significados particulares
• Dicotomia: "usuário" posto como um "não-projetista"
Se projetistas projetam; usuários não projetam: usam
Se projetistas são especialistas; usuários são leigos; não-especialistas
Se projetistas estão "dentro"do espaço projetal; usuários,“fora”
3.
14. Conceito de "usuário"
em Interação Humano-Computador
• “Usuário" é categoria central na IHC e serviu ao seu
reconhecimento disciplinar: se para projetar sistemas é
preciso entender os “usuários”, então o projeto precisa de IHC,
pois ela representará os interesses dos usuários
• Usuários são representados como “ignorantes” e “leigos”.
Patologizados como “frustrados”, “estressados” e“ansiosos”.
Desconfia-se: “Não sabem o que querem”!?
• Um conceito abstrato/genérico de "usuário"é de interesse
para manter uma IHC “indispensável”, na qual “usuários”
precisam ser continuamente pesquisados e representados
3.
15. Conceito de "usuário"
em Interação Humano-Computador
• Concepções estereotipadas de “usuários"
possuem um viés ideológico: favorecem a
alienação da produção da existência pelo
uso de tecnologias computacionais.
• Apesar da IHC afirmar trabalhar centrada
nas necessidades dos “usuários”…
• É uma imagem conveniente para tentar
legitimar uma divisão do trabalho que
oculta que computadores são produzidos
primariamente como mercadorias, não
para as finalidades de quem as usa
3.
Busca no Google por “usuário” →
16. Conceito de "usuário"
em Interação Humano-Computador
Além de uma concepção, temos uma uma condição de opressão em
que pessoas (chamadas de “usuárias”) foram e são postas:
• Utentes não são ignorantes: lhes foi negado a especialização em
tecnologias computacionais. As pessoas foram desespecializadas
de sua relação com essas tecnologias
• Utentes projetam, nos espaços que lhes são possíveis (ex.: cotidiano)
Mas esses não são espaços de projeto privilegiados pelo modo de
produção capitalista. Utentes são afastados dos espaços projetuais
propícios para transformar computadores (fábrica, indústria, estúdio),
e por suas finalidades voltadas à produção da existência
3.
17. Conceito de "usuário"
em Interação Humano-Computador
Entendidos como não-projetistas e não-especialistas…
• "Usuários" são representados como indivíduos desempoderados:
• Para “empoderar”, projetam-se interfaces fáceis de usar, que
desespecializam, gerando dependência de alguém lá “dentro”.
• Pessoas não se empoderam por tecnologias alienígenas
• "Usuários" são representados como receptores de interfaces:
• Usuários vistos como sem poder de transformar as interfaces.
• Mas nenhum artefato chega “pronto”, nem atende todas as demandas.
Utentes produzem computar. Precisam fazê-lo pra produzir existência.
• Quando “usuários" se especializam e projeta costumam receber outro
nome: hackers, designers amadores, etc. Porque não "usuário"?
3.
18. Propostas para pesquisa e projeto em IHC:
produção da existência por "usuários"
• “Usuários” como sujeitos na pesquisa e projeto em IHC:
• Usuários não devem ser só “objetos" da IHC
(a quem o objeto se destina)
• Utentes" tem tecnologia, projetam e produzem computadores,
mesmo que em condições desprivilegiadas
• Utentes produzem a IHC, e esta deveria reconhecer a produção por
utentes. Que IHC utentes produzem?
4.
19. Propostas para pesquisa e projeto em IHC:
produção da existência por "usuários"
• Projetar para si:
Orientações para projeto de artefatos computacionais
• “A quem servem as finalidades do projeto”? Para si e para um “outro"?
• Projetistas e utentes como grupo social interessado no projeto “para si”
4.
manifesto fabless
projeto para si, empoderamento emancipatório
libertação, partindo da manualidade,
não aceitação de ser apenas “usuário”
20. Propostas para pesquisa e projeto em IHC:
produção da existência por "usuários"
• Interfaces amanuais: Produções por técnicas de utentes
• Noção de interfaces é fundamental em IHC
• Legitimar a produção por utentes (simbólica e literal):
identificar modos de fazer, práticas e usos de computadores,
que não correspondem com as intenções prévias de projetistas
4.
dual SIM
interface amanual
caso de comunidades rurais no Quênia
uso de mais de um SIM no mesmo celular
21. Propostas para pesquisa e projeto em IHC:
produção da existência por "usuários"
Se o termo “usuário” é envolto de diversas problemáticas,
como denominar “usuários”?
• Autores propõem só mudar o termo “usuário" por “pessoas”:
Risco de mudar o termo e manter um significado objetificante
• “Usuário”, indica suspensão e dúvida de seu significado tradicional:
Útil para denunciar o uso alienado de seu conceito ingênuo.
• Além de termos e conceitos, mudar as condições materiais:
projetar para usos que possam produzir de formas mais elaboradas
4.
24. Parece ser próprio do animal simbólico valer-se de uma parte do seu organismo
para exercer funções diversíssimas. A mão sirva de exemplo. A mão arranca da
terra a raiz e a erva, colhe o fruto, descasca-o, leva-o à boca. A mão apanha o
objeto, remove-o, achega-o ao corpo, lança-o. A mão puxa e empurra, junta e
espalha, afrouxa, contrai e distende; roça, toca, apalpa, acaricia, belisca, unha,
aperta, esbofeteia, esmurra; depois, massageia o músculo dorido. Acusa com o
índex, aplaude com as palmas, protege com a concha. As mãos postas oram. É
voz do mudo, voz do surdo, leitura do cego. Faz viver alçando o polegar; baixando-
o, manda matar. Traz a criança ao mundo, esgana o inimigo. Saúda o amigo, lança-
se um adeus. Mede com o palmo, sopesa com a palma. Aponta com gestos o eu, o
tu, o ele; o aqui, o aí, o ali; o hoje, o ontem, o amanhã. O ser humano, com a mão,
lavra a terra. Com as mãos, semeia, poda e colhe. Empunhando o machado e a
foice, desbasta a floresta; com a enxada revolve a terra, limpa o mato, abre covas.
Com a picareta, escava e desenterroa. Com a pá, estruma. Com o regador, água.
Risca o pano, enfia a agulha, costura, alinhava. Para perfazer tantíssimas ações
basta-lhe uma breve mas dúctil anatomia: oito ossinhos no pulso, cinco no
metacarpo e os dedos com as suas falanges, falanginhas e falangetas. Na Idade
da Máquina, a mão teria, por acaso, perdido as finíssimas articulações com que se
casava às saliências e reetrâncias da matéria? O artesanato, por força, recua ou
decai, e as mãos manobram nas linhas de montagem à distância dos seus
produtos. Pressionam botões, acionam manivelas, ligam e desligam chaves, puxam
e empurram alavancas, controlam painéis, cedendo à máquina tarefas que outrora
lhes cabiam. A máquina, dócil e por isso violenta, cumpre exata o que lhe mandam
fazer; mas, se poupa o músculo do operário, também sabe cobrar exigindo que
vele junto a ela sem cessar: se não, decepa dedos distraídos. Foram 8 milhões os
acidentes de trabalho só no Brasil de 1975.
Os trabalhos da mão
Alfredo Bosi
(adaptado)
1977
25. • No viés dialético-existencial, vemos “usuários" tem tecnologia, projeta
e produzem computadores. Porque isso não é reconhecido?
• Mas não é apenas um jogo de palavras:
Imagem de divulgação do software Axure
• Mesmo em condições opressivas (ex.: subdesenvolvimento)
pessoas estão projetando tecnologias
26. • Aprofundamento da
amanualidade em Vieira Pinto,
no viés marxista:
trabalho, desenvolvimento
e grau zero
Tecnologia e Produção da Existência:
viés CTS por Vieira Pinto e Paulo Freire
2.
• Identificação do conceito de
amanualidade em Freire:
ad-mirar, para a liberdade, saber
de experiência feito, opressão,
empoderamento emancipatório
27. manifesto fabless
projeto para si, empoderamento emancipatório
libertação, partindo da manualidade,
não aceitação de ser apenas “usuário”
XPrize
projeto para o outro, empoderamento individual
opressão, não vinculo com amanualidade,
faz do “outro" um dependente, usuário
dual SIM
interface amanual
caso de comunidades rurais no Quênia
uso de mais de um SIM no mesmo celular
Mesmo em condições opressivas,
como a de subdesenvolvimento,
pessoas estão criando interfaces
e tecnologias computacionais