1. ue
nao MA/S NOS/TE
Caminhos da Educação
Infantil, planos de
trabalho e seqüências
de atividades.
www.novaescola.org.br
atar
Para que as turmas de creche
e pré-escola se desenvolvam
plenamente, é preciso conhecer
as características de cada faixa
etária e garantir que algumas
experiências essenciais façam
parte do planejamento.
I Saiba como trabalhá-Ias e
'por que são tão importantes
BEATRIZ SANTOMAURO, de Vitória, ES,
e LUIZA ANDRADE bsantomauro@abril.com.br
Colaboraram Bianca Bibiano; Denise Pellegrini, de Curitiba,
PR; julía Browne, de Belo Horizonte, MG; Marina Simeoni,
de Poços de Caldas, MG; Thais Gurgel,
de Sobra I, CE; e Vilmar Oliveira, MA/S NOS/TE
No Ponto de Encontro
de São José dos Campos, SP comunidades sobre '
Educação Infantil.
www.novaescola.org.br/
POntodeencontro
---
2. r------------, I
I REPORTAGEM
A té há pouco tempo, os pequenos das
creches passavam o dia alimentados
e limpos, cada um seguro em seu berço.
mente disponíveis (leia entrevista com a anos e de 80% para a : SUGERIDA PELOS
psicopedagoga Denise Argolo Estill no qua- faixa de 4 a 6. "Por en-
dro da página 51 e com o psicólogo Lino de quanto, não há planos
I LEITORES
Sara Alves de Souza,
São Paulo, SP
Teresa Cristina
I
I
I
I
I
I
I
E só. Já aos maiores, da pré-escola, eram Macedo no da 55). Existem boas práticas de universalizar a Serejo Pinto, I
São Luís, MA I
propostas atividades, como colar bolinhas que respeitam o modo de ser e de pensar Educação Infantil ou I
Adriana Santos Silva, I
de papel em figuras mimeografadas. Hoje específico de cada idade. "Forçar os bebês um grande aumento Camaragibe, PE I
Maria Aparecida I
já não se admite uma Educação Infantil a ficar sentados e quietos o tempo todo é de vagas. O maior de- I
Braga de Campos, I
hesses moldes e o motivo é simples: exis- inadequado, pois está provado que usar safio atualmente é São Paulo, SP I
tem referências de práticas pedagógicas o corpo em movimento é'um dos meios buscar a igualdade de Fabiana Bartholomeu, :
Guarulhos, SP I
que respeitam as características das faixas que eles têm de aprender", afirma Cisele estrutura e qualidade L ..1
etárias e, assim, promovem o desenvolvi- Ortiz, coordenadora do Instituto Avisa oferecidas", diz Rita
mento das turmas de até 6 anos. Lá, em São Paulo. Da mesma forma, pe- Coelho, coordenadora geral da Educação
"É comum encol1trarmos alguns mo- dir que uma classe de pré-escola apenas Infantil do Ministério da Educação. Nes-
delos mais próximos do Ensino Funda- pinte ou complete uma figura pronta, se sentido, estão sendo preparados para
mental adaptados para as crianças meno- por exemplo, não leva a nada. Hoje já se 2009 os Indicadores de Qualidade da
res ou outros, que ~ubestimam a inteli- sabe que é preciso desenvolver as diversas Educação Infantil, documento para auto-
gência e a capacidade delas", afirma Regi- linguagens da criança para que se am- avaliação de cada instituição, que trará
na Scarpa, coordenadora pedagógica da pliem suas capacidades cognitivas, e o referências sobre o que é necessário ser
Fundação Victor Civita (FVq. Essa situ- desenho é uma delas. oferecido nesse nível.
ação deve - e pode - ser diferente. Para Essesconhecimentos vêm sendo divul- NOVA ESCOLA conversou com 12 es-
tanto, é necessário que a Educação Infan- gados desde que a Educação Infantil co- pecialistas e listou dez experiências a se-
til seja baseada em uma proposta pedagó- meçou a ganhar importância, com a Lei rem propostas diariamente para que as
gica consistente. Além disso, quem lecio- de Diretrizes e Base? da Educação Nacio- .turmas de creche e pré-escola se desenvol-
na nesse nível de ensino precisa ter como nal, de 1996, que considérou essa etapa vam. Quatro delas - brincar, linguagem
parte de sua rotina o planejamento e a do ensino parte da Educação Básica. Mas oral, movimento e arte - são indicadas
avaliação das atividades. Tudo sempre falta muito para que esses saberes sejam para as duas faixas etárias, porém com
levando em consideração a organização incorporados à rotina de todas as escolas enfoques diferentes. O início do trabalho
do tempo, do espaço e dos materiais em e, mais ainda, para que toda criança de com identidade e autonomia foi ressalta-
função das características da turma. até 6 anos tenha garantida sua vaga. do como fundamental com as classes de
Muitas das condições para um traba- O Plano Nacional de Educação tem até 3 anos e orienta as atividades pedagó-
lho desse tipo são dadas pelos estudos como meta para o início de 2011 o aten- gicas e de cuidados. Leitura e escrita ga-
sobre o desenvolvimento infantil atual- dimento de 50% dos pequenos de até 3 nham destaque com os maiores. .,
3. MAIS NOSITE
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para com as no- wWw.novaescola.org.br
vidades do espa-
ço, sente cheiros
e percebe texturas, tamanhos e formas",
explica Ana Paula Yasbek, coordenadora
pedagógica da Escola Espaço da Vila, em
São Paulo.
Alguns brinquedos também fazem su-
cesso nessa fase. Os mais adequados são
os de peças de montar, encaixar, jogar e
empilhar, além dos que fazem barulho. É
preciso ter cuidado com a segurança e só
usar objetos maiores do que o tamanho
da boca do bebê quando aberta.
Para um trabalho eficiente, uma boa
estrutura é essencial. Isso inclui ter mate-
rial suficiente para que todos consigam
compartilhar e um bom espaço de cria-
ção. "Os ambientes devem ser convidati-
vos e contextualizados com a história que
se quer construir", diz Ana Pau Ia. Uma
área ao ar livre, mesmo que com poucas
árvores, vira uma grande floresta. Uma
Brincar • O que propor Uma das primeiras brin-
cadeiras do bebê é imitar os adultos: ele
sala bem cuidada, rica em cores e com
variedade de brinquedos e estímulos
observa e reproduz gestos e caretas no igualmente possibilita momentos criati-
•.• Por que trabalhar Embora a brin- mesmo momento em que acontecem. vos, prazerosos e produtivos.
cadeira seja uma atividade livre e espon- Com cerca de 2 anos, continua repetindo
tânea, ela não é natural, mas uma criação o que vê e também os gestos que guarda • Esta creche faz Em Vitória, capital ca-
da cultura. O aprendizado dela se dá por na memória de situações anteriores, ten- pixaba, a brincadeira é parte da rotina
meio das interações e do convívio com os tando encaixá-los no contexto que acha diária da CMEI João Pedro de Aguiar. As
outros. Por isso, a importância de prever adequado. Tão importante quanto valo- salas das turmas de 2 anos, por exemplo,
muito tempo e espaço para ela. "Temos a rizar essas imitações é propor ações físicas são divididas em cantos. Num deles ficam
capacidade de desenvolver a imaginação que possibilitam sensações e desafios mo- os brinquedos de madeira para montar.
- e é essa habilidade que o brincar traz", tores. "É pela experi- Noutro, bichos de pelúcia e bonecas.
diz Zilma de Oliveira, da Universidade de mentação que a Num terceiro, livros. Tudo ~m uma altu-
São Paulo (USP). criança se de- ra que permita a todos pegar o que que-
4. -----------------~-------------------------------------;"-1·
r-------------------------,
I
rem sem ajuda. Diariamente, a classe idéia de manter a sala em silêncio, com
passa um bom tempo no pátio, em que aparência que está tudo 'sob controle"',
urna área é forrada de areia e outra aco- diz Regina Scarpa, da FVC. I'
moda brinquedos de plástico, como es- As rodas de conversa, feitas diariamen-
corregador e cavalinho de balanço. "Ali, te, são uma oportunidade de praticar a Denise
os pequenos correm e encontram amigos
de outras turmas para que tenham a
fala, comentar preferências próprias e
trocar informações sobre a família. Nessa
Argolo Esti 11
oportunidade de viver novas situações", situação, há a interação com os colegas e
diz a coordenadora pedagógica Wanusa aprende-se a escutar, discutir regras e ar-
Lopes da Silva Zambon. gumentar, Quanto menor for a faixa etá-
ria do grupo, mais necessária será a inter-
ferência do educador como propositor e
Linguagem oral dinamizador dos diálogos .
• Esta creche faz Todos os dias, a turma
• Por que trabalhar Quando o bebê se de 2 anos da EMEB Valderez Avelino de Psicóloga e psicopedagoga do In-
expressa com gritos ou gestos, ele tem Souza, em São Bernardo do Campo, na fans - Unidade de Atendimento ao
uma intenção. "Mesmo os que têm pouco Grande São Paulo, participa de rodas de Bebê, de São Paulo, fala sobre o I
vocabulário ou que ainda não falam com conversa. Nessa fase, acontecem relatos que caracteriza o desenvolvimento
desenvoltura estão participando da ativi-
dade comunicativa de forma competente
de experiências pessoais no bate-papo, das crianças da creche. 'I:
além da invenção de outros elementos.
e correta", diz Maria Virgínia Gastaldi, Foi o que aconteceu no dia em que um o que distingue os três primei- I I:
Editora de Educação Infantil, da Editora dos pequenos contou que tinha visto um ros anos de vida?
Moderna. Para que a linguagem oral se tubarão. "Outro completou dizendo que Esse é o período sensório-motor,
desenvolva, cabe ao professor reconhecer
a intenção comunicativa dos gestos e bal-
bucios dos bebês, respondendo a eles, e
aquilo tinha sido na praia e um terceiro
falou que nadava como o bicho", conta a
coordenadora pedagógica Pétria Ângela
caracterizado pela inteligência prá-
tica. O mundo é algo a experimen-
tar e conhecer por meio dos órgãos
11
promover a interação no grupo. de Jesus Rodrigues Ruy dos Santos. A pro- dos sentidos e das ações corporais.
fessora foi puxando o assunto e encami-
• O que propor Desde muito cedo, canti- nhando a conversa. Um garoto, que até Como a criança aprende?
gas de roda, parlendas e outras canções então estava quieto, saiu-se com esta: Presa à experiência imediata, ela
são meios riquíssimos de propiciar o con- "Meu pai pescou um tubarão. Ele era necessita da presença dos objetos
tato e a brincadeira com as palavras e de enorme. Professora, quer ir pescar com concretos. Seus esquemas de ação
estimular a atenção a sua sonoridade. "O meu pai?" Sabendo que é muito comum são olhar, agarrar, ouvir, alcançar
burburinho das conversas entre os pe- nessa fase mesclar informações reais com com a boca ou sentir com a pele.
quenos, falando sozinhos ou com os ou- . outras tiradas da imaginação, ela, é claro,
tros, é riquíssimo, Não se admite mais a aceitou o convite. ., Quais os procedimentos para
potencializar o desenvolvimen-
to nessa faixa etária?
A primeira coisa a fazer é incenti-
var o uso da ferramenta mais pode-
rosa, que é o corpo. Por meio dele,
a criança entra em contato com
texturas, temperaturas e gostos. Ou-
tras ações são estimúlar a lingua-
gem verbal - por meio de histórias
e músicas - e a imitação, entenden-
do a necessidade de reproduzir ges-
tos e falas e procurando valorizar a
expressão individual de cada um. Ir
www.novaescola.org.br NOVEMBR02008 51
5. mexe para lá e para cá, não se perde. um
lance. Um educador atento sabe quando
um suspiro revela cansaço ou uma careta
demonstra algum desagrado.
• Esta creche fazBrincar, dormir, mamar,
almoçar e dançar acompanhando o rit-
mo da música. A turma de 1 ano da CEI
Cidade de Genebra, em São Paulo, não
pára quieta. "Logo que acordam, os bebês
tomam mamadeira e saem dos colchone-
tes quando querem. Como não há berços, .
eles têm liberdade para se movimentar",
diz a professora Anali Pereira dos Reis.
No solário, com brinquedos de plástico e
espaço para correr, eles escorregam, se
balançam na gangorra e andam no cava-
linho. Mesmo tão novinhos, já são cra-
ques no sobe-e-desce e no equilíbrio. Faz
pouco tempo que aprenderam a andar,
mas já entram nos carrinhos de plástico
e saem dele sem ajuda e se divertem pas-
sando por dentro de bambolês, dando
cambalhotas e rolando nos colchões.
Arte
• Por que trabalhar A música e as artes
visuais são dois meios de os pequenos
entrarem em contato com o que ainda
não conhecem. Nessa fase, as linguagens
Movimento • O que propor O bebê precisa participar
de atividades que ampliem o repertório
se misturam e um mesmo objeto, como
um giz de cera, pode ser usado para dese-
corporal para que percorra um caminho . nhar ou batucar. "Aqueles que têm opor-
.,. Por que trabalhar O movimento é de gradativo controle dos movimentos tunidade de participar de atividades nes-
a linguagem dos pequenos que ainda não até conseguir se levantar e andar. Aos sas áreas certamente desenvolvem mais a
falam e continua sendo a maneira de se poucos, ele passa a ter consciência dos capacidade cognitiva", diz Silvana Augus-
expressar daqueles que já se comunicam limites do corpo e da conseqüência de to, formadora do Instituto Avisa Lá.
~ com palavras. "O,pensamento é simultâ- seus movimentos. São situações indicadas
neo ao movimento e, por isso, não se para o amadurecimento motor passar • O que propor Quanto mais variadas as
pede que eles fiquem sentados ou quietos por obstáculos como túneis, correr e brin- experiências apresentadas, maior a garan-
por muito tempo. Evitar que se mexam car no escorregador. tia de qualidade no desenvolvimento do
é o mesmo que impedi-los de pensar", Os espaços da creche devem ser desa- grupo. 'Escutar sons, como os produzidos
explica Maria Paula Zurawski, assessora' fiadores e, ao mesmo tempo, seguros. São por batidas em várias partes do próprio
de Educação Infantil da Secretaria Muni- ambientes propícios para as atividades corpo e pela manipulação de objetos, ou-
cipal de Educação de São Paulo. Portan- desse tipo tanto o pátio como a sala. Ali, vir canções de roda, parlendas, músicas
to, quanto mais o professor incentivar o são colocados bancos ou caixas que sir- instrumentais ou as consideradas "de
movimento, maior será o aprendizado de vam de apoio para os que estão começan- adulto" faz a diferença nessa fase. Além
cada um sobre si mesmo e o desenvolvi- do a andar e ficam distribuídos brinque- de ouvir e repetir um repertório já conhe-
mento da capacidade de expressão. dos de equilíbrio. Enquanto a turma se cido, a turma deve ser orientada a impro-
52 NOVEMBR02008 www.novaescola.org.br
6. visar e criar canções, brincar com a voz, se desenvolvem simultaneamente e, mes-
imitar sons de animais e confeccionar mo num ambiente coletivo, é preciso dar
instrumentos. "A música contribui para atenção individualizada às crianças.
um desenvolvimento pleno e harmônico,
já que incide diretamente na sensibilida- • O que propor As melhores experiências
de, na expressão e na reflexão", afirma são as pautadas pelo relacionamento com
Teca Alencar de Brito, co-autora do Refe- os outros e pela demonstração de prefe-
rencial Curricular Nacional para a Edu- rências. "Se a criança não tem opção, co-
cação Infantil. mo vai decidir?", diz Cisele, do Avisa Lá.
Da mesma maneira, o ideal são ativi- É essencial oferecer possibilidades - na
dades de artes visuais diversificadas. Uma hora da brincadeira ou da merenda, por
boa prática inclui desenhos - e não o pre- exemplo - para que os pequenos sejam
.enchimento de modelos prontos -, pin- incentivados a se conhecer melhor e a
turas ou esculturas usando diversos ma- optar. Ao servir os alimentos sem mistu-
teriais e possibilitar o;contato com novos rá-los, o educador permite a cada um
recursos visuais para ampliar as referên- identificar aquilo de que mais gosta. Ofe-
cias artísticas. As produções da classe fi- recer a colher para que todos comam
cam à disposição para que sejam observa- sozinhos também é primordial. Por meio
das e comentadas e para que cada um da observação, uns aprendem com os ou-
reconheça o que é de sua autoria. tros. Mesmo que no começo façam sujei-
ra e demorem para se alimentar, aos pou-
• Esta creche faz No EMI ]osefina Cipre cos adquirem a destreza do movimento.
Russo, em São Caetano do Sul, na Grande A organização do ambiente em cantos
São Paulo, artes visuais e música fazem de atividades é outro meio de favorecer
.parte do cotidiano dos pequenos de 3 o exercício de escolha, já que cada um
anos. Eles criam instrumentos com ma- define onde brincar, com quem e por
teriais reciclados e acompanham as mú- quanto tempo. Para ajudar na construção
sicas dançando e cantando. No dia-a-dia, da identidade, cabe ao educador chamar
eles desenham com giz, lápis, guache e cada um pelo nome e ressaltar a observa-
aquarela, fazem esculturas e mexem com ção dos aspectos físicos individuais. "Co-
massinha e tintas comestíveis. Assim, a locar grandes espelhos nas salas, ter fotos
turma sente cheiros e texturas e aprecia de cada um junto dos cabides em que
cores diferentes. "As tintas são caseiras e penduram as mochilas, identificar as pas-
dá para limpá-Ias facilmente. Colocar na tas com o nome e um desenho, por exem-
boca ou deixar cair na roupa não é pro- plo, são ótimas maneiras de estimular a
blema", diz a diretora, Eliane Migliorini. atenção para as próprias características e
fazê-los perceber a diferença e semelhan-
ça em relação aos colegas", diz Cisele.
Identidade • Esta creche faz Na turma de 2 anos da
e autonomia CEI ]acyra Pimentel Gomes, em Sobral,
a 248 quilômetros de Fortaleza, cada
• Por que trabalhar O bebê nasce em criança vê o nome escrito, reconhece a
uma situação de total dependência e, própria foto e aprecia imagens da família
pouco a pouco, necessita se tornar autô- nas paredes da sala. A coordenadora pe-
nomo. "Enquanto adquirem condições dagógica Carlinda Maria Lopes Barbosa
para realizar ações, as crianças começam diz: "Cada um entende que é diferente do
a saber das conseqüências de suas esco- amigo por ser identificado de outra ma-
lhas", explica Beatriz Ferraz, coordenado- neira". Para reforçar esse aprendizado,
ra pedagógica do Centro de Educação e explica-se que existem objetos que são
Documentação para Ação Comunitária, compartilhados e outros individuais, co-
em São Paulo. Autonomia e identidade mo a mochila e as roupas. •.
www.novaescola.org.br NOVEMBR02008 53
7. Educação Infantil- Pré-escola
Brincar _ íntimo que não se deve atropelar. O pro-
fessor contribui com um gesto, uma pa-
linguagem oral
lavra ou um brinquedo, mas a turma é
•.• Por que trabalhar Essa é uma fase livre para aceitar ou não", explica Zilma. • Por que trabalhar No início da pré-es-
de ampliação do universo de informa- Uma boa estratégia para enriquecer o cola, coloca-se um importante desafio em
ções: a mamãe é vendedora, o papai é brincar ~ atrair a garotada para espaços linguagem oral: não apenas falar, mas
motorista, o herói preferido voa, o livro diferenciados, corno o canto da-casinha, antecipar e planejar o que se quer dizer.
de histórias fala de uma princesa bonita do salão de maquiagem, da mecânica ou "Para que isso aconteça, ou seja, para que
e corajosa. O meio de processar e assimi- da biblioteca. O cenário, por si só, avisa a a oralidade seja usada cada vez mais e de
lar tantos assuntos - enfim, entender o proposta da brincadeira e pressupõe pa- melhor forma, é preciso trabalhá-Ia dia-
mundo - é brincar de faz-de-conta. "A péis. Depois, com o tempo, o grupo mes- riamente com base em diferentes temas,
complexidade da fantasia criada depende mo produzirá outros. contextos e interlocutores", diz Maria
das experiências já vividas. Por isso, é fun- Virgínia, da Editora Moderna.
damental oferecer ambientes ricos em • Esta pré-escola faz Na CMEI Patrícia
possibilidades", afirma Zilma, da USP. Galvão, em Guarulhos, na Grande São • O que propor A escola deve oferecer um
Paulo, o brincar é encarado como uma ambiente que estimule a.comunicação
• O que propor As crianças ainda se di- situação cotidiana e um direito das crian- verbal- não apenas em sala mas também
vertem com os brinquedos de encaixar ças. Em todas as salas ficam fantoches, no refeitório, no pátio, na brinquedoteca,
ou no parque, mas na pré-escola ganham fantasias e cenários para as atividades nos corredores. Para conversar, ali estão
destaque os jogos de regras - que exigem simbólicas, bastante apreciadas. Quando amigos, educadores, merendeiros, portei-
cumprimento de normas, concentração e enjoam, os pequenos vão à brinquedote- ros e diretores. Oportunidades tão distin-
raciocínio - e, principalmente, os simbó- ca e os trocam por outros. Não são raras tas tornam as situações de fala mais ricas,
licos, em que se assumem papéis. Elas se as vezes em que a turma de 4 anos se em- elaboradas e complexas.
apropriam dos elementos da realidade e polga com um livro lido em sala, corre Os momentos são divididos em dois
dão a eles novos significados. Por meio da . para o canto em que ficam as fantasias e tipos: formais e informais. Os informais
fantasia, aprendem sobre cultura. Ao dar assume o papel dos personagens. Segun- são, por exemplo, as rodas de conversa.
I bronca em uma boneca; por exemplo, os 'do a diretora Djenane Martins Oliveira, Nelas, o professor faz uma proposição,
pequenos usam frases ouvidas de diálo- para garantir e melhorar as possibilida- por exemplo, a respeito de uma notícia
gos dos adultos, da TV e, em especial, de des de experimentação lúdica, os peque- da comunidade ou de algo que será feito
livros, de histórias. A literatura traz ele- nos têm acesso diário a brinquedos de depois, como uma receita culinária. Nes-
mentos ausentes do cotidiano. variados materiais, como tecido, plástico, se momento, cada um ouve o que os ou-
A meninada vai se tornando capaz de madeira e espuma. Há também aqueles tros têm a dizer, coloca sua opinião e
interagir com as brinca- que não parecem, mas são brinquedos inicia os próprios relatos.
MA/S NOS/TE deiras por um tempo também, como pedrinhas, grama e areia. Situações formais são aquelas em que
Quer ganhar 4 livros maior e considerar que "Sempre temos à disposição das crianças as crianças se dirigem a outros interlocu-
e um CD? Participe
do concurso de os outros podem parti- caixas de papelão, que elas usam para tores que não os próprios colegas de clas-
29/10 a 30/11. cipar também. "No faz- produzir objetos que são incluídos nas se, como outra turma, para quem vão
www.novaescola.org.br
. de-conta, acontece algo atividades por elas mesmas;' contar uma história, ou um adulto a ser
S4 NOVEMBR02008 www.novaescola.org.br
8. r-------------------------,
I
Lino de Macedo·
I
I·
I
Professor do Instituto de Psicologia I
I
da USP fala sobre o desenvolvi- I
I
mento dos 4 aos 6 anos. I
I
I
I
Como se caracteriza o pensa- I
I
mento da criança pré-escolar?
Ele é principalmente substitutivo e
imitativo. Substitutivo porque ela
descobre que objetos, pessoas e
ações podem ser trocados ou evo-
.'
cados por outros. Imitativo porque
ela entra no universo da ficção:
imagina e faz correspondências.
De que maneira o faz-de-conta
desenvolve as linguagens?
No faz-de-conta, a criança realiza
um esforço de tradução. Ela não é
velha, mas representa esse papel no
jogo simbólico. Também não é um
bicho, mas pode imitá-lo. Esse fin-
gimento aumenta o repertório das
diversas linguagens, como o dese-
entrevistado. Assim, ao longo de toda a • Esta pré-escola faz São diversas as ex- nho, a fala, a música e a dança .
pré-escola, são desenvolvidas e aperfeiço- periências de desenvolvimento da lin-
adas competências como a de recontar guagem oral na UMEI Mangueiras, em Como aproveitar a capacidade
histórias e elaborar pergurttas.fíêclarnar Belo Horizonte. Lá, as rodas de conversa de representação?
poesias e relatar acontecimentos do pró- sobre o planejamento do dia abrem as A criança descobre simbolicamen-
prio cotidiano ou de outras pessoas. De atividades, mas outros temas também te a importância do adulto em sua
acordo com Maria Virgínia, "o resultado fazem parte do bate-papo. Na sala ou no vida e as diferenças entre ambos.
é que os pequenos aprendem linguagem pátio, elas recontam histórias e apresen- Isso ocorre, por exemplo, quando
e com a linguagem". tam músicas e dramatizações. "Os mais ela faz de conta que é mãe e repre-
Essa competência também é potencia- velhos ajudam no desenvolvimento da ende o filho. Cabe ao professor,
lizada por meio das brincadeiras com as lin~agem dos menores durante ativida- portanto, possibilitar que ela en-
palavras presentes na tradição oral, nos des corporais. Eles criam canções e gritos tenda essa assimetria e, ainda que
textos poéticos e nas parlendas, por exem- de guerra e os pequenos se juntam a eles, intuitivamente, o valor do adulto.
plo - que já contribuem para o aumento cantando também", conta a vice-diretora,
do repertório verbal desde a creche. Mônica Freitas Moi de Andrade. .,
www.novaescola.org.br NOVEMBR02008 55
----- --------
9. ricas. Para se divertir num escorregador,
as crianças conseguem observar os de-
Arte
graus onde pisar e calcular o que fazer
para chegar ao topo e depois deslizar. • Por que trabalhar As experiências de-
senvolvidas em música e artes plásticas,
• Esta pré-escola faz A professora Magda de acordo com Silvana, do Avisa Lá, têm
Carvalho Aranda, da CEI Maria do Rosá- papel primordial na formação do pensa-
rio Bastos, em Poços de Caldas, a 465 qui- mento simbólico. "Ambas exercem forte
lômetros de Belo Horizonte, propõe jo- influência no desenvolvimento da cria-
gos corporais para as crianças de 5 anos. tividade e da imaginação:' Nessa fase, as
Em um deles, elas batem palmas, levam duas linguagens já são trabalhadas de
as mãos aos pés e também à cabeça. Após forma separada.
uma seqüência simples, a turma combina
movimentos mais elaborados; como le- • O que propor É essencial ampliar o re-
vantar a mão esquerda e se manter ape- pertório de canções, promover o contato
nas sobre o pé direito, favorecendo' o com instrumentos variadós e explorar os
equilíbrio. A mesma atividade pode se sons da natureza e dos feitos com o cor-
tornar mais divertida se acompanhada de po, além do silêncio. O bom projeto é o
música com ritmos cada vez mais rápidos. que permite conhecer e criar.
Outra brincadeira qu~ os pequenos cur- Em artes visuais, é importante apre-
tem é a da maria-fumaça. "Conforme o sentar obras de pintores famosos - para
ritmo de um chocalho acelera, o corpo ampliar o repertório e trazer riqueza ao
entra no embalo, com movimentos de trabalho dos pequenos -, mas não como
Movimento braços e pernas", explica Magda. pretexto para propor cópias. Nessa fase,
•.• Por que trabalhar Na pré-escola, a
criança já tem desenvoltura para se co-
municar verbalmente. Mesmo assim, o
movimento ainda é um meio de expres-
sar o que ela quer. Por isso, eles continu-
am a ser valorizados na pré-escola. Nessa
fase, ela se torna mais ciente de si, conhe-
ce mais o corpo e ganha competência
para atuar no mundo. "Por isso, é preciso
. evitar a tendência de deixar atividades
desse tipo de lado com turmas a partir
dos 4 anos", diz Maria Paula, da Secretaria
Municipal de Educação de São Paulo .
..•.
" ~.r-
.0 que propor Atividades como danças,
jogos esportivos e teatro aumentam e fa-
zem evoluir as possibilidades com o cor-
po. Ações como segurar o talher e o lápis
e usar a tesoura se aprimoram, mas não
adianta promover "treinos". "Ashabilida-
des se consolidam apenas diante das ne-
cessidades reais", explica Maria Paula:.
Em especial entre os maiores, de 5 e 6
anos, a capacidade de planejar as ações de
movimento se amplia. Por isso, ativida-
des ao ar livre, no parque, se tornam mais
56 NOVEMBR02008 www.novaescola.org.br
10. o ideal é desenvolver cada vez mais o de- mento", diz Débora Rana, coordenadora QUER SABER MAIS ?I----,
senho e a pintura, em atividades diárias. pedagógica de Educação Infantil da Esco-
Contatos
Não é necessário usar grande variedade la Projeto Vida, na capital paulista .. CEI Cidade de Genebra, R. Cachoeira
de materiais. poraquê, 100, 05576-600, São Paulo, Sp, tel.
(11) 3781-1290
• O que propor Durante as rodas de his- CEI jacyra Pimentel Gomes, R. Rio
Negro, s/no, 62100.000, Sobral, CE, ,
• Esta pré-escola faz Nas salas de pré- tórias, o grupo é capaz de escolher os li-
escola do CMEI Dr. Arnaldo Carnasciali, vros prediletos, acompanhar a obra de um
tel. (88) 3614-4352
CEI Maria do Rosário Bastos, R.
d
I
em Curitiba, sempre há nas paredes uma autor, opinar e fazer relatos. Quanto Coronel Virgílio Silva, 1675, 37701-103,
Poços de Caldas, MG, tel. (35) 3697-2172
pintura, gravura ou fotografia para am- maior a vari~dade de gêneros, melhor: CMEI Dr. Arnaldo Carnasclall.R. São
pliar o repertório dos pequenos. Durante contos, poesias, parlendas, quadrinhas, José dos Pinhais, 900, 81920-250, Curitiba,
PR, tel. (41) 3289-4241
um projeto sobre identidade, as turmas gibis, lendas, fábulas, bilhetes, crônicas, CMEI João Pedro de Aguiar, R.Julia
fizeram retratos. Olhando no espelho, textos informativos e instrucionais. Lacorte Pena, s/no, 290.90-210, Vitória, ES,
tel. (27) 3337-3316
cada um pr:oduziu o seu, usando lã e bar- A leitura diária de diferentes gêneros CMEI Patrícia Galvão, R. 113, s/no,
bante para compor os cabelos, por exem- pelo professor aumenta cada vez mais a 07085-330, Guarulhos, Sp' tel. (11)
2456-7844
plo. Todos desenharam também o amigo, curiosidade e o conhecimento sobre a lin- Creche Conveniada lírios do Campo,
aprimorando a percepção sobre o outro. guagem escrita. "Aos 4 anos, já é possível R.João Gomes da Silva, 121, 12248-674,
São José dos Campos, Sp' tel. (12)
A experimentação musical inclui a ex- recontar textos e aos 5 produzir as pró- 3929-6741
ploração de estilos diferentes, como can- prias histórias, ditando o texto a um escri- EMEB Valderez Avelino de Souza,
R. Lázaro Zamenhof, 110,09861-670,
tigas de roda, músicas clássicas e canções ba", afirma Débora. São Bernardo do Campo, Sp'
do folclore brasileiro. "Essas situações tel. (11) 4351-4600
EMI joseflna Cipre Russo,
ampliam o repertório, favorecem acon- • Esta pré-escola faz Na Creche Con~e- R. Pernambuco, 100, '09520-170, São
centração e permitem o desenvolvimen- niada Lírios do Campo, em São José dos Caetano do Sul, Sp' tel. (11) 4224-1170
UMEI Mangueiras, R. Coroa de Freitas,
to de habilidades como o ritmo", diz a Campos, a 97 quilômetros de São Paulo, 328,30666-230, Belo Horizonte, MG,
diretora, Vanessa de Sousa Martinez. a pré-escola tem acesso a textos de diferen- tel. (31) 3277-9189
tes gêneros, desenvolve atividades de re- Bibliografia
conto de histórias, leva livros para casa A Formação do Símbolo na Criança,
jean Piaget, 376 págs., Ed. LTC,
Leitura e escrita nos fins de semana, cria poesias e é esti-
mulada a escrever. Mesmo durante as
tel. (21) 3970-9450, 83 reais
Bem-Vindo, Mundo! Criança, Cultura
e Formação de Educadores, Silvia
brincadeiras, surgem oportunidades de Pereira de Carvalho e outros, 208 págs.,
• Por que trabalhar É um adulto leitor enriquecer a escrita. "Quando inaugura- Ed. Peirópolis, tel. (11) 3816-0699, 40 reais
Educação Infantil: Fundamentos e
que mostra às crianças o significado da mos o canto do cabeleireiro, visitamos um Métodos, Zilma de Oliveira, 258 págs.,
escrita que está nos livros. Ao escutar salão de beleza. Depois, foi produzido um Ed. Cortez, tel. (11) 3611-9616, 36 reais
Henri Wallon: Uma Concepção
uma história, as turmas entram na narra- texto sobre o encontro com os profissio- Dialética do Desenvolvimento
tiva e compartilham as sensações dos nais e elaborada uma tabela de preços", tnfanttt, Izabel Galvão, 136 págs.,
Ed. Vozes, tel. (11) 2081-7944,20 reais
personagens. "É hora de ampliar o reper- relata a coordenadora pedagógica Ana
tório e dar maior organização ao pensa- Lúcia Rodrigues da Silva Ferreira. C;
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