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Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003


Indentificação da modalidade: Comunicação de pesquisa
Título Uma nova musicologia para uma nova sociedade
Anais do II Encontro de Música. Universidade Estadual de Maringá, PR. outubro 2003. Ed. Massoni, 2004.
          118 p.: 99-110 ISBN 85-88905-24-8 (capítulo em livro)
Nome da autora: Maria Alice Volpe
Instituição: Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Palavras-chave: Musicologia; Transdiciplinaridade; Crítica Cultural
Área de concentração: Musicologia
Endereço: Rua Conde de Baependi no. 13 apto 404 – Laranjeiras – Rio de Janeiro RJ CEP 22231-240
Tel/ fax: (21) 2225-9459
e-mail: mavolpe@mail.utexas.edu
       malicevolpe@ig.com.br


Título: Uma nova musicologia para uma nova sociedade
Autora: Maria Alice Volpe
Resumo: O presente trabalho propõe o diálogo da musicologia com outras áreas de
conhecimento, bem como com as tendências mais recentes da musicologia internacional,
visando a superação do isolamento em que vive a disciplina, de modo que ela cumpra o
seu compromisso de integração entre o conhecimento produzido na universidade e a
sociedade. Propõe uma reflexão sobre os problemas teórico-conceituais levantados pela
musicologia internacional nos últimos 40 anos e suas possíveis contribuições para a
musicologia brasileira, colocada à luz dos paradigmas de disciplinas nas quais a prática
musicológica tem se respaldado, sobretudo a história cultural, a nouvelle histoire, a
antropologia cultural, a sociologia, a crítica literária, a crítica ideológica derivada da
Escola de Frankfurt, o pensamento crítico pós-moderno e a hermenêutica. Propõe,
portanto, uma reflexão conceitual da musicologia tout court, levantando aspectos
relevantes para a identidade e expansão dos programa de pós-graduação em música, bem
como contribuir mais amplamente para o debate sobre a musicologia na universidade
brasileira,visando maior diálogo e representatividade na sociedade mais ampla.




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Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003



        Uma nova musicologia para uma nova sociedade
        Maria Alice Volpe*



        A relevância da musicologia como disciplina se justifica em grande parte pelo seu

potencial de se integrar no concerto das outras áreas de conhecimento. Para tanto, é

necessário um constante re-equacionamento de seus paradigmas, propósitos e impacto

social. Tais considerações se fazem extremamente oportunas numa época de crescente

institucionalização da música na universidade brasileira, sobretudo com a disseminação

dos estudos pós-graduados por todo o país.

        Os resultados da pesquisa musicológica brasileira não têm gerado na comunidade

acadêmica ou na sociedade mais ampla o mesmo nível de interesse de outras disciplinas,

como a história, os estudos literários e as artes plásticas. A história cultural tem sido

protagonista de disseminação significativa de estudos acadêmicos entre um público mais

amplo. Trabalhos inovadores sobre a história do Brasil, como, por exemplo, A formação

das almas (1990), de José Murilo de Carvalho, As barbas do imperador (1998), de Lilia

Moritz Schwarcz, a série História da vida privada no Brasil (1997-99), organizada por

Fernando Novais, os estudos literários que se formaram em torno da figura maior de

Antonio Candido, O Cinematógrafo das Letras (1987), de Flora Sussekind, Estilo

Tropical (1991), de Roberto Ventura, a série sobre a arte brasileira Mostra do

Redescobrimento – Fundação Bienal de São Paulo (2000), organizada por Nelson

Aguilar, e a coletânea de estudos Paisagem e Arte, a invenção da natureza, a evolução

do olhar (2000), têm colocado a produção mais recente da pesquisa e reflexão acadêmica

para além dos muros da própria disciplina.

        Cabe indagar aqui, quais seriam os motivos para o relativo isolamento da

musicologia brasileira, seu diálogo precário com as outras disciplinas e a limitação de seu

*
 Maria Alice Volpe, Ph.D. em Musicologia/ Etnomusicologia pela University of Texas at Austin, E.U.A., é
Professora Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Música, cadeira de Musicologia.


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impacto social à disponibilização de produtos sonoros (sobretudo, concertos e CDs). A

musicologia brasileira deveria estar integrada no conjunto das reflexões da história e

crítica cultural e suas contribuições deveriam transcender a sua própria província.

       Suspeitamos que o relativo isolamento da musicologia brasileira se deva menos

aos obstáculos que o conhecimento técnico da linguagem musical coloca aos especialistas

de outras áreas e ao público em geral, mas sobretudo à sua desatualização teórico-

conceitual. Todos os estudos históricos, literários e das artes visuais mencionados

anteriormente se alinham com as abordagens mais atualizadas de suas disciplinas e, em

sua maioria, manifestam substantiva transdisciplinaridade. A pesquisa musicológica

brasileira tem permanecido, em grande medida, e com distinguidas ressalvas que

aflorarão no decorrer desta pesquisa, alheia às questões que têm promovido a renovação

contínua nas outras disciplinas. Os poucos trabalhos que têm trazido novas abordagens e

ampliado o campo teórico-conceitual sobre a música e o discurso historiográfico-musical

no Brasil são muitas vezes oriundos de pesquisadores alocados em outras disciplinas,

como é o caso de “A música brasileira no séc. XIX: a construção do mito da

nacionalidade” (1977), Música e ideologia no Brasil (1985) e “Música no Brasil: história

e interdisciplinaridade, algumas interpretações” (1991), de Arnaldo Daraya Contier e,

mais recentemente, do excelente estudo O Brilho da Supernova: A Morte Bela de Carlos

Gomes (1995), de Geraldo Mártires Coelho, ambos historiadores.

       A desatualização teórico-conceitual da musicologia brasileira deve ser analisada

também à luz dos desenvolvimentos da musicologia internacional nos últimos 40 anos,

período de intenso questionamento dos paradigmas da prática musicológica. A década de

1960 foi um período decisivo na musicologia internacional. Críticas à musicologia

histórica surgem de dentro e de fora dessa disciplina. Por um lado, a própria musicologia

histórica procedeu a uma auto-crítica de sua postura predominantemente positivista e, a

partir de então, foram questionados todos os paradigmas que guiaram a disciplina,

incluindo o organicismo, o historicismo, a idéia de Zeitgeist, a idéia de “estilo musical”, a


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idéia de “música absoluta”, o formalismo, o nacionalismo e a construção do canon

musical que marcou profundamente a conceituação histórica que tem guiado os estudos

musicológicos até décadas bastante recentes. Por outro lado, a etnomusicologia engajou-

se numa crítica crescentemente acirrada ao etnocentrismo da musicologia que se dedicava

ao estudo da música culta ocidental e, confundindo-a com a postura predominante entre

os especialistas de teoria e análise musical, acusou-a (a musicologia histórica) de abordar

o seu objeto de estudo (a música) fora de seu contexto sócio-histórico-cultural.

       Essa crítica contínua da musicologia levou à valorização de abordagens alinhadas

com uma história sócio-cultural da música. Manfred Bukofzer, por exemplo, teve papel

importante nesse sentido, e seu trabalho The Place of Musicology (1957) refletiu

profundamente sobre a relação da musicologia com as outras disciplinas. A velha guarda

da musicologia histórica ofereceu modelos expressivos de história sócio-cultural, entre os

quais podemos citar, Curt Sachs, Paul Henry Lang, Friedrich Smend, Edward Lowinsky,

Leo Schrade, Manfred Bukofzer, Iain Fenlon e William Crosten. Depois disso, Carl

Dahlhaus, Theodor Adorno, Joseph Kerman e Leo Treitler, figuras decisivas para o

desenvolvimento da musicologia das décadas de 1970 e 1980, colocaram em primeiro

plano discussões frutíferas sobre o historicismo, a história da recepção, a crítica musical,

a crítica cultural, a sociologia da música e a hermenêutica na musicologia.

       Durante esse período desenvolveu-se também uma relação paradoxal entre a

musicologia histórica e a etnomusicologia. Por um lado, acentuou-se um antagonismo

entre essas sub-áreas, expressos em artigos como os de Frank Harrison e Mantle Hood

(respectivamente, “American Musicology and the European Tradition” e “Music, the

Unknown”, in Palisca, Harrison & Hood 1963), que tocaram em problemas que vieram a

ser a linha de frente das batalhas entre a musicologia e a etnomusicologia. Por outro lado,

defendeu-se a unificação da musicologia e da etnomusicologia. Charles Seeger, pioneiro

em tal postura, afirmou em seu artigo de 1961 que “não se deve mais tolerar o costume de

ver a musicologia e a etnomusicologia como duas disciplinas separadas, praticadas por


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dois tipos diferentes de especialistas, os quais têm objetivos totalmente diferente e

mutuamente antagônicos” (p. 80). Tal unificação foi vista, sobretudo, como uma

aplicação das técnicas da etnomusicologia ao estudo da música popular e folclórica do

ocidente, bem como da música culta ou artística do ocidente. O termo “musicologia

cultural” foi proposto por Gilbert Chase (“American Musicology and the Social

Sciences”, in Brook, Downes & Solkema, 1972), por analogia à “antropologia cultural”,

ou seja, uma espécie de etnomusicologia da música ocidental, uma abordagem sócio-

cultural na musicologia.

       As críticas à musicologia pela etnomusicologia tiveram bastante repercussão e, de

fato, resultados bastante concretos, a partir da década de 1980, sobretudo com um grupo

bastante polêmico que levantou a bandeira da New Musicology. Esse período foi

protagonizado por trabalhos como os de Rose Rosengard Subotnik, Catherine Clément,

Katherine Bergeron, Philip Bohlman, Susan McClary, Gary Tomlinson e Lawrence

Kramer. O artigo de Tomlinson, “The web of culture: a context for musicology” (1984),

onde o autor evoca Clifford Geertz, constituiu um marco no percurso da musicologia

histórica em direção a uma abordagem mais etnográfico-antropológica. Mais tarde em

Music and the Renaissance Magic (1993), Tomlinson propõe uma “historiografia do

outro”, cujo componente teórico-conceitual central reside em considerar o passado como

o “outro”. Nesse livro, Tomlinson se utiliza de autores como Gadamer, Ricouer e

Foucault, além de citar James Clifford, Bakhtin, Lyotard, etc. Lawrence Kramer faz

como que um contraponto à postura de Tomlinson, defendendo um outro tipo de nova

musicologia, o que ele chama de musicologia pós-moderna, e cujas posturas principais

estão consubstanciadas em Music as Cultural Practice: 1800-1900 (1990) e Classical

Music and Post-Modern Knowledge (1995).

       Nota-se, portanto, a influência da postura da etnomusicologia perante o discurso

historiográfico sobre a música européia, e sobretudo as contribuições teóricas da

antropologia, da hermenêutica, do pensamento crítico pós-estruturalista e pós-moderno.


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Esse grupo polêmico se caracterizou também por introduzir temas tabus na musicologia,

como a crítica feminista, a sexualidade, a homossexualidade, e posturas revisionistas da

relação entre música e historiografia musical e a política.

        Outros musicólogos menos polêmicos, embora extremamente representativos das

novas tendências da musicologia internacional, têm se engajado em abordagens

extremamente enriquecedoras para o alinhamento da musicologia com a história cultural,

entre os quais podemos citar Jim Samson, Lary Todd, Leon Botstein, John Roselli,

Richard Leppert, Carolyn Abbate, Ralph Locke, John Daverio e Jeffrey Kallberg. Tais

autores se apegaram mais à história institucional, a história das idéias, a história social e a

sociologia da música, a história da recepção, as teorias do orientalismo e do

nacionalismo, a teoria dos gêneros, a história da sexualidade e a uma abordagem

revisionista aos estudos estilísticos.

        Esses desenvolvimentos da musicologia internacional das últimas décadas estão

praticamente ausentes nas posturas teórico-conceituais da produção musicológica

brasileira atual, com exceção dos estudos sobre a mulher na música brasileira. Entre os

poucos musicólogos brasileiros preocupados com os problemas teórico-conceituais da

área, figuram Regis Duprat, cujo artigo “Análise, musicologia, positivismo” (1996,

originalmente apresentado no Encontro Nacional da ANPPOM em 1992) pode ser

considerado um divisor de águas nas discussões sobre o assunto no Brasil, e que pela

primeira vez discutiu o estruturalismo à luz da hermenêutica moderna. Outro texto

importante é o de Ricardo Tacuchian (1992), que abordou o problema do pós-

modernismo com a preocupação central de entender a criação musical brasileira recente.

Mais recentemente, o trabalho apresentado por Duprat no I Encontro de Musicologia de

Ribeirão Preto (2003) trouxe uma nova perspectiva a questões que raramente são

refletidas como um conjunto interdependente, como o problema da linguagem na música

contemporânea, sua recepção e formação de público e mercado, em estreita relação com

os problemas da análise, musicologia e hermenêutica. O diálogo entre a musicologia


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histórica e a etnomusicologia tem sido a preocupação de diversos estudiosos, como

Gerard Béhague, Regis Duprat, Maria Elisabeth Lucas, Samuel Araújo, Martha Ulhôa, eu

mesma e muitos outros, embora tal vertente ainda não tenha se constituído num

movimento que articule as diversas propostas dentro de um quadro teórico mais amplo e

esteja, portanto, aguardando discussões mais sistemáticas sobre seus problemas

conceituais.
       New Musicology e Musicologia Brasileira

       As     soluções    encontradas     pela    New     Musicology       americana     não    são

necessariamente a panacéia para a musicologia brasileira. Mais do que uma mudança
conceitual, trata-se de uma mudança ideológica na qual está implicada a política

institucional da disciplina bem como a ação política de um grupo, de uma comunidade,

que quer se legitimar socialmente. Trata-se de musicólogos/as engajados/as em causas

das “minorias” da sociedade americana – por exemplo, os homossexuais definidos como

gays e lesbians (curiosamente, a moral americana não advoga outras formas de

sexualidade na sua agenda política, pelo menos não ostensivamente). Aliás, não apenas

engajados, mas que fazem parte efetiva dessas minorias e têm adotado como estratégia

um discurso demolidor, agressivo, polêmico. Certamente, é a parcela da New Musicology

que faz mais barulho. Quando digo que a New Musicology americana não deve ser

tomada como a panacéia da musicologia brasileira, não estou querendo com isso

deslegitimizar suas reivindicações. Me preocupo com nossas especificidades culturais, de

modo que possamos estabelecer prioridades que tenham representatividade na sociedade

brasileira mais ampla. As causas das "minorias" estão atualmente entre os problemas

sociais mais graves, ou pelo menos assim se quer fazer crer, da sociedade americana. Há

que se estudar o caso brasileiro. Sem desconhecer que tais causas encontrem eco no

Brasil, não ousaria afirmar que as causas que têm chamado mais atenção para a New

Musicology americana – ou seja, gay & lesbian studies – estariam entre os problemas que

mais afligem a sociedade brasileira no momento. No entanto, há que se reconhecer que a


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causa dos “transgêneros”, termo cunhado por Belisa Ribeiro em seu artigo no Jornal do

Brasil (2003), esteja associada a outras causas de grande alcance como a questão

ambiental, AIDS, patentes de medicamentos etc., e que no fundo fazem parte do mesmo

pacote, de um mesmo movimento, de uma mesma postura político-social. Mas há que se

salientar também que nossas "minorias" – que na verdade são maiorias do ponto de vista

estatístico pois perfazem mais de 70% da população – são étnicas. Aliás, adotar tal

nomenclatura, “minorias”, denota colonialismo cultural pois tal termo, além de não

definir com propriedade a realidade brasileira, pode ser substituído por expressões já

consagradas pelo dito político-popular brasileiro, como os “sem-teto”, os “sem-terra”, os

“sem-camisa”, os “meninos de rua”, enfim, os desprivilegiados, os marginalizados da

sociedade, ou para ser mais atual e abrangente, os “excluídos”. Parece ser consenso que a

prioridade entre as questões sociais do Brasil atual seja a exclusão social, e este termo

engloba tanto fatores sócio-econômicos, conseqüências de um longo processo histórico,

como também preconceito racial, religioso, sexual, e também falta de acesso à educação,

alimentação, moradia, bens de consumo, bens culturais etc.. Fica então a questão que não

quer calar. De que maneira a musicologia brasileira poderia responder à questão da

exclusão, seja ela de que natureza for? De que maneira a musicologia brasileira pode

responder às questões atuais da cidadania? E finalmente, em que medida as questões

urgentes da cidadania no Brasil podem se beneficiar das questões sociais referentes aos

direitos de cidadania dos E.U.A.? Em que medida as questões eleitas pela New

Musicology americana podem contribuir para a musicologia brasileira atual?

       Claro que a New Musicology americana não se resume em gay & lesbian studies.

Olhemos então para outros discursos dessa comunidade que está na vanguarda da

musicologia internacional da atualidade. Um dos artigos mais provocativos foi

“Musicologia como ato político” (1993), de Philip Bohlman, que constituiu um

verdadeiro manifesto, exortando a que a musicologia assuma responsabilidade moral

sobre a atual crise intelectual e social. A disciplina costuma equivocadamente se colocar


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numa posição apolítica, respaldada em grande parte pela suposta “autonomia” de seu

objeto de estudo. No entanto, a musicologia, quer se reconheça ou não, é agente

importante numa dada política cultural, e mais amplamente na construção do saber, e

seus quadros metodológicos, ideológicos e institucionais têm grande impacto na

historiografia musical.

       Outras correntes, como as teorias do exotismo e do nacionalismo, a etnografia

histórica, a formação do canon ou do museu musical, a crítica ideológica, a desconstrução

– e até mesmo a história da recepção, a história institucional, a história das idéias, a

história social, a sociologia da música e as abordagens revisionistas dos estudos

estilísticos – têm como denominador comum a crítica cultural, levando na maior parte das

vezes ao questionamento de valores e visões tradicionais, com maior ou menor ênfase no

reconhecimento da natureza política da interpretação e do conhecimento como poder

(Foucault).

       A crítica cultural concebida de uma maneira mais ampla nos parece ser a proposta

da musicologia internacional mais frutífera e de maiores conseqüências para o caso

brasileiro, pois nos instiga a buscar novos quadros interpretativos para a nossa história e o

nosso presente musical. Acima de tudo, decidir sobre o tipo de musicologia que

queremos implica em decidirmos que tipo de sociedade queremos, o que nos lança

portanto para horizontes que visam o futuro.


       Proposições finais

       Nessa linha de reflexão visamos contribuir para a integração da musicologia

brasileira nos problemas discutidos pela musicologia internacional mais recente,

colocando ambas sob a luz do desenvolvimento das outras áreas de conhecimento,

sobretudo a história, a antropologia, a sociologia, a crítica literária, o pensamento crítico

e a hermenêutica. Para tanto, faz-se extremamente necessário um estudo crítico do

pensamento musicológico brasileiro em seus diversos quadros interpretativos, no qual as


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críticas e propostas mais recentes sejam contempladas vis a vis da tradição historiográfico

musical brasileira, bem como das tendências mais recentes da musicologia internacional e

da potencial contribuição da transdisciplinaridade.

       O conteúdo das reflexões aqui propostas mantém estreito vínculo com o programa

de pós-graduação em música, pois além de propor uma revisão crítica da musicologia

internacional, contempla as novas tendências e seu potencial impacto na musicologia

brasileira. As questões abordadas são fundamentais não apenas para o conteúdo das

disciplinas oferecidas, como também para a filosofia do programa de pós-graduação.

Visamos, primeiramente, contribuir para o avanço qualitativo dos cursos de mestrado, e

sobretudo debater a identidade dos programas de pós-graduação, sua inserção na

universidade e na sociedade, bem como os caminhos para integração entre musicologia e

outros campos de conhecimento. Consideramos, portanto, abordar aspectos relevantes

para a identidade e expansão dos programas de pós-graduação em música, bem como

contribuir mais amplamente para o debate sobre a musicologia na universidade brasileira.

       Visamos um acessamento crítico sobre o papel da musicologia na universidade

brasileira. Além de refletir sobre a potencial contribuição das novas tendências da

musicologia internacional e da transdisciplinaridade, nos guiamos pela constante

preocupação por alternativas que permitam a elaboração de um discurso musicológico

que transcenda as fronteiras da própria disciplina, sem abandonar suas especificidades

técnicas, e que venha a atender aos interesses e expectativas de um público mais amplo

de leitores. Nossas reflexões sobre as novas musicologias e o programa de pós-graduação

têm como horizonte a possibilidade de que a musicologia se torne efetivamente uma

interlocutora com relação às outras áreas de conhecimento e, sobretudo, de que ela

cumpra o seu compromisso de integração entre o conhecimento produzido na

universidade e a sociedade.




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                                                    12
Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003


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Maria alice volpe uma nova musicologia para uma nova sociedade

  • 1. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 Indentificação da modalidade: Comunicação de pesquisa Título Uma nova musicologia para uma nova sociedade Anais do II Encontro de Música. Universidade Estadual de Maringá, PR. outubro 2003. Ed. Massoni, 2004. 118 p.: 99-110 ISBN 85-88905-24-8 (capítulo em livro) Nome da autora: Maria Alice Volpe Instituição: Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro Palavras-chave: Musicologia; Transdiciplinaridade; Crítica Cultural Área de concentração: Musicologia Endereço: Rua Conde de Baependi no. 13 apto 404 – Laranjeiras – Rio de Janeiro RJ CEP 22231-240 Tel/ fax: (21) 2225-9459 e-mail: mavolpe@mail.utexas.edu malicevolpe@ig.com.br Título: Uma nova musicologia para uma nova sociedade Autora: Maria Alice Volpe Resumo: O presente trabalho propõe o diálogo da musicologia com outras áreas de conhecimento, bem como com as tendências mais recentes da musicologia internacional, visando a superação do isolamento em que vive a disciplina, de modo que ela cumpra o seu compromisso de integração entre o conhecimento produzido na universidade e a sociedade. Propõe uma reflexão sobre os problemas teórico-conceituais levantados pela musicologia internacional nos últimos 40 anos e suas possíveis contribuições para a musicologia brasileira, colocada à luz dos paradigmas de disciplinas nas quais a prática musicológica tem se respaldado, sobretudo a história cultural, a nouvelle histoire, a antropologia cultural, a sociologia, a crítica literária, a crítica ideológica derivada da Escola de Frankfurt, o pensamento crítico pós-moderno e a hermenêutica. Propõe, portanto, uma reflexão conceitual da musicologia tout court, levantando aspectos relevantes para a identidade e expansão dos programa de pós-graduação em música, bem como contribuir mais amplamente para o debate sobre a musicologia na universidade brasileira,visando maior diálogo e representatividade na sociedade mais ampla. 1
  • 2. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 Uma nova musicologia para uma nova sociedade Maria Alice Volpe* A relevância da musicologia como disciplina se justifica em grande parte pelo seu potencial de se integrar no concerto das outras áreas de conhecimento. Para tanto, é necessário um constante re-equacionamento de seus paradigmas, propósitos e impacto social. Tais considerações se fazem extremamente oportunas numa época de crescente institucionalização da música na universidade brasileira, sobretudo com a disseminação dos estudos pós-graduados por todo o país. Os resultados da pesquisa musicológica brasileira não têm gerado na comunidade acadêmica ou na sociedade mais ampla o mesmo nível de interesse de outras disciplinas, como a história, os estudos literários e as artes plásticas. A história cultural tem sido protagonista de disseminação significativa de estudos acadêmicos entre um público mais amplo. Trabalhos inovadores sobre a história do Brasil, como, por exemplo, A formação das almas (1990), de José Murilo de Carvalho, As barbas do imperador (1998), de Lilia Moritz Schwarcz, a série História da vida privada no Brasil (1997-99), organizada por Fernando Novais, os estudos literários que se formaram em torno da figura maior de Antonio Candido, O Cinematógrafo das Letras (1987), de Flora Sussekind, Estilo Tropical (1991), de Roberto Ventura, a série sobre a arte brasileira Mostra do Redescobrimento – Fundação Bienal de São Paulo (2000), organizada por Nelson Aguilar, e a coletânea de estudos Paisagem e Arte, a invenção da natureza, a evolução do olhar (2000), têm colocado a produção mais recente da pesquisa e reflexão acadêmica para além dos muros da própria disciplina. Cabe indagar aqui, quais seriam os motivos para o relativo isolamento da musicologia brasileira, seu diálogo precário com as outras disciplinas e a limitação de seu * Maria Alice Volpe, Ph.D. em Musicologia/ Etnomusicologia pela University of Texas at Austin, E.U.A., é Professora Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Música, cadeira de Musicologia. 2
  • 3. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 impacto social à disponibilização de produtos sonoros (sobretudo, concertos e CDs). A musicologia brasileira deveria estar integrada no conjunto das reflexões da história e crítica cultural e suas contribuições deveriam transcender a sua própria província. Suspeitamos que o relativo isolamento da musicologia brasileira se deva menos aos obstáculos que o conhecimento técnico da linguagem musical coloca aos especialistas de outras áreas e ao público em geral, mas sobretudo à sua desatualização teórico- conceitual. Todos os estudos históricos, literários e das artes visuais mencionados anteriormente se alinham com as abordagens mais atualizadas de suas disciplinas e, em sua maioria, manifestam substantiva transdisciplinaridade. A pesquisa musicológica brasileira tem permanecido, em grande medida, e com distinguidas ressalvas que aflorarão no decorrer desta pesquisa, alheia às questões que têm promovido a renovação contínua nas outras disciplinas. Os poucos trabalhos que têm trazido novas abordagens e ampliado o campo teórico-conceitual sobre a música e o discurso historiográfico-musical no Brasil são muitas vezes oriundos de pesquisadores alocados em outras disciplinas, como é o caso de “A música brasileira no séc. XIX: a construção do mito da nacionalidade” (1977), Música e ideologia no Brasil (1985) e “Música no Brasil: história e interdisciplinaridade, algumas interpretações” (1991), de Arnaldo Daraya Contier e, mais recentemente, do excelente estudo O Brilho da Supernova: A Morte Bela de Carlos Gomes (1995), de Geraldo Mártires Coelho, ambos historiadores. A desatualização teórico-conceitual da musicologia brasileira deve ser analisada também à luz dos desenvolvimentos da musicologia internacional nos últimos 40 anos, período de intenso questionamento dos paradigmas da prática musicológica. A década de 1960 foi um período decisivo na musicologia internacional. Críticas à musicologia histórica surgem de dentro e de fora dessa disciplina. Por um lado, a própria musicologia histórica procedeu a uma auto-crítica de sua postura predominantemente positivista e, a partir de então, foram questionados todos os paradigmas que guiaram a disciplina, incluindo o organicismo, o historicismo, a idéia de Zeitgeist, a idéia de “estilo musical”, a 3
  • 4. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 idéia de “música absoluta”, o formalismo, o nacionalismo e a construção do canon musical que marcou profundamente a conceituação histórica que tem guiado os estudos musicológicos até décadas bastante recentes. Por outro lado, a etnomusicologia engajou- se numa crítica crescentemente acirrada ao etnocentrismo da musicologia que se dedicava ao estudo da música culta ocidental e, confundindo-a com a postura predominante entre os especialistas de teoria e análise musical, acusou-a (a musicologia histórica) de abordar o seu objeto de estudo (a música) fora de seu contexto sócio-histórico-cultural. Essa crítica contínua da musicologia levou à valorização de abordagens alinhadas com uma história sócio-cultural da música. Manfred Bukofzer, por exemplo, teve papel importante nesse sentido, e seu trabalho The Place of Musicology (1957) refletiu profundamente sobre a relação da musicologia com as outras disciplinas. A velha guarda da musicologia histórica ofereceu modelos expressivos de história sócio-cultural, entre os quais podemos citar, Curt Sachs, Paul Henry Lang, Friedrich Smend, Edward Lowinsky, Leo Schrade, Manfred Bukofzer, Iain Fenlon e William Crosten. Depois disso, Carl Dahlhaus, Theodor Adorno, Joseph Kerman e Leo Treitler, figuras decisivas para o desenvolvimento da musicologia das décadas de 1970 e 1980, colocaram em primeiro plano discussões frutíferas sobre o historicismo, a história da recepção, a crítica musical, a crítica cultural, a sociologia da música e a hermenêutica na musicologia. Durante esse período desenvolveu-se também uma relação paradoxal entre a musicologia histórica e a etnomusicologia. Por um lado, acentuou-se um antagonismo entre essas sub-áreas, expressos em artigos como os de Frank Harrison e Mantle Hood (respectivamente, “American Musicology and the European Tradition” e “Music, the Unknown”, in Palisca, Harrison & Hood 1963), que tocaram em problemas que vieram a ser a linha de frente das batalhas entre a musicologia e a etnomusicologia. Por outro lado, defendeu-se a unificação da musicologia e da etnomusicologia. Charles Seeger, pioneiro em tal postura, afirmou em seu artigo de 1961 que “não se deve mais tolerar o costume de ver a musicologia e a etnomusicologia como duas disciplinas separadas, praticadas por 4
  • 5. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 dois tipos diferentes de especialistas, os quais têm objetivos totalmente diferente e mutuamente antagônicos” (p. 80). Tal unificação foi vista, sobretudo, como uma aplicação das técnicas da etnomusicologia ao estudo da música popular e folclórica do ocidente, bem como da música culta ou artística do ocidente. O termo “musicologia cultural” foi proposto por Gilbert Chase (“American Musicology and the Social Sciences”, in Brook, Downes & Solkema, 1972), por analogia à “antropologia cultural”, ou seja, uma espécie de etnomusicologia da música ocidental, uma abordagem sócio- cultural na musicologia. As críticas à musicologia pela etnomusicologia tiveram bastante repercussão e, de fato, resultados bastante concretos, a partir da década de 1980, sobretudo com um grupo bastante polêmico que levantou a bandeira da New Musicology. Esse período foi protagonizado por trabalhos como os de Rose Rosengard Subotnik, Catherine Clément, Katherine Bergeron, Philip Bohlman, Susan McClary, Gary Tomlinson e Lawrence Kramer. O artigo de Tomlinson, “The web of culture: a context for musicology” (1984), onde o autor evoca Clifford Geertz, constituiu um marco no percurso da musicologia histórica em direção a uma abordagem mais etnográfico-antropológica. Mais tarde em Music and the Renaissance Magic (1993), Tomlinson propõe uma “historiografia do outro”, cujo componente teórico-conceitual central reside em considerar o passado como o “outro”. Nesse livro, Tomlinson se utiliza de autores como Gadamer, Ricouer e Foucault, além de citar James Clifford, Bakhtin, Lyotard, etc. Lawrence Kramer faz como que um contraponto à postura de Tomlinson, defendendo um outro tipo de nova musicologia, o que ele chama de musicologia pós-moderna, e cujas posturas principais estão consubstanciadas em Music as Cultural Practice: 1800-1900 (1990) e Classical Music and Post-Modern Knowledge (1995). Nota-se, portanto, a influência da postura da etnomusicologia perante o discurso historiográfico sobre a música européia, e sobretudo as contribuições teóricas da antropologia, da hermenêutica, do pensamento crítico pós-estruturalista e pós-moderno. 5
  • 6. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 Esse grupo polêmico se caracterizou também por introduzir temas tabus na musicologia, como a crítica feminista, a sexualidade, a homossexualidade, e posturas revisionistas da relação entre música e historiografia musical e a política. Outros musicólogos menos polêmicos, embora extremamente representativos das novas tendências da musicologia internacional, têm se engajado em abordagens extremamente enriquecedoras para o alinhamento da musicologia com a história cultural, entre os quais podemos citar Jim Samson, Lary Todd, Leon Botstein, John Roselli, Richard Leppert, Carolyn Abbate, Ralph Locke, John Daverio e Jeffrey Kallberg. Tais autores se apegaram mais à história institucional, a história das idéias, a história social e a sociologia da música, a história da recepção, as teorias do orientalismo e do nacionalismo, a teoria dos gêneros, a história da sexualidade e a uma abordagem revisionista aos estudos estilísticos. Esses desenvolvimentos da musicologia internacional das últimas décadas estão praticamente ausentes nas posturas teórico-conceituais da produção musicológica brasileira atual, com exceção dos estudos sobre a mulher na música brasileira. Entre os poucos musicólogos brasileiros preocupados com os problemas teórico-conceituais da área, figuram Regis Duprat, cujo artigo “Análise, musicologia, positivismo” (1996, originalmente apresentado no Encontro Nacional da ANPPOM em 1992) pode ser considerado um divisor de águas nas discussões sobre o assunto no Brasil, e que pela primeira vez discutiu o estruturalismo à luz da hermenêutica moderna. Outro texto importante é o de Ricardo Tacuchian (1992), que abordou o problema do pós- modernismo com a preocupação central de entender a criação musical brasileira recente. Mais recentemente, o trabalho apresentado por Duprat no I Encontro de Musicologia de Ribeirão Preto (2003) trouxe uma nova perspectiva a questões que raramente são refletidas como um conjunto interdependente, como o problema da linguagem na música contemporânea, sua recepção e formação de público e mercado, em estreita relação com os problemas da análise, musicologia e hermenêutica. O diálogo entre a musicologia 6
  • 7. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 histórica e a etnomusicologia tem sido a preocupação de diversos estudiosos, como Gerard Béhague, Regis Duprat, Maria Elisabeth Lucas, Samuel Araújo, Martha Ulhôa, eu mesma e muitos outros, embora tal vertente ainda não tenha se constituído num movimento que articule as diversas propostas dentro de um quadro teórico mais amplo e esteja, portanto, aguardando discussões mais sistemáticas sobre seus problemas conceituais. New Musicology e Musicologia Brasileira As soluções encontradas pela New Musicology americana não são necessariamente a panacéia para a musicologia brasileira. Mais do que uma mudança conceitual, trata-se de uma mudança ideológica na qual está implicada a política institucional da disciplina bem como a ação política de um grupo, de uma comunidade, que quer se legitimar socialmente. Trata-se de musicólogos/as engajados/as em causas das “minorias” da sociedade americana – por exemplo, os homossexuais definidos como gays e lesbians (curiosamente, a moral americana não advoga outras formas de sexualidade na sua agenda política, pelo menos não ostensivamente). Aliás, não apenas engajados, mas que fazem parte efetiva dessas minorias e têm adotado como estratégia um discurso demolidor, agressivo, polêmico. Certamente, é a parcela da New Musicology que faz mais barulho. Quando digo que a New Musicology americana não deve ser tomada como a panacéia da musicologia brasileira, não estou querendo com isso deslegitimizar suas reivindicações. Me preocupo com nossas especificidades culturais, de modo que possamos estabelecer prioridades que tenham representatividade na sociedade brasileira mais ampla. As causas das "minorias" estão atualmente entre os problemas sociais mais graves, ou pelo menos assim se quer fazer crer, da sociedade americana. Há que se estudar o caso brasileiro. Sem desconhecer que tais causas encontrem eco no Brasil, não ousaria afirmar que as causas que têm chamado mais atenção para a New Musicology americana – ou seja, gay & lesbian studies – estariam entre os problemas que mais afligem a sociedade brasileira no momento. No entanto, há que se reconhecer que a 7
  • 8. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 causa dos “transgêneros”, termo cunhado por Belisa Ribeiro em seu artigo no Jornal do Brasil (2003), esteja associada a outras causas de grande alcance como a questão ambiental, AIDS, patentes de medicamentos etc., e que no fundo fazem parte do mesmo pacote, de um mesmo movimento, de uma mesma postura político-social. Mas há que se salientar também que nossas "minorias" – que na verdade são maiorias do ponto de vista estatístico pois perfazem mais de 70% da população – são étnicas. Aliás, adotar tal nomenclatura, “minorias”, denota colonialismo cultural pois tal termo, além de não definir com propriedade a realidade brasileira, pode ser substituído por expressões já consagradas pelo dito político-popular brasileiro, como os “sem-teto”, os “sem-terra”, os “sem-camisa”, os “meninos de rua”, enfim, os desprivilegiados, os marginalizados da sociedade, ou para ser mais atual e abrangente, os “excluídos”. Parece ser consenso que a prioridade entre as questões sociais do Brasil atual seja a exclusão social, e este termo engloba tanto fatores sócio-econômicos, conseqüências de um longo processo histórico, como também preconceito racial, religioso, sexual, e também falta de acesso à educação, alimentação, moradia, bens de consumo, bens culturais etc.. Fica então a questão que não quer calar. De que maneira a musicologia brasileira poderia responder à questão da exclusão, seja ela de que natureza for? De que maneira a musicologia brasileira pode responder às questões atuais da cidadania? E finalmente, em que medida as questões urgentes da cidadania no Brasil podem se beneficiar das questões sociais referentes aos direitos de cidadania dos E.U.A.? Em que medida as questões eleitas pela New Musicology americana podem contribuir para a musicologia brasileira atual? Claro que a New Musicology americana não se resume em gay & lesbian studies. Olhemos então para outros discursos dessa comunidade que está na vanguarda da musicologia internacional da atualidade. Um dos artigos mais provocativos foi “Musicologia como ato político” (1993), de Philip Bohlman, que constituiu um verdadeiro manifesto, exortando a que a musicologia assuma responsabilidade moral sobre a atual crise intelectual e social. A disciplina costuma equivocadamente se colocar 8
  • 9. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 numa posição apolítica, respaldada em grande parte pela suposta “autonomia” de seu objeto de estudo. No entanto, a musicologia, quer se reconheça ou não, é agente importante numa dada política cultural, e mais amplamente na construção do saber, e seus quadros metodológicos, ideológicos e institucionais têm grande impacto na historiografia musical. Outras correntes, como as teorias do exotismo e do nacionalismo, a etnografia histórica, a formação do canon ou do museu musical, a crítica ideológica, a desconstrução – e até mesmo a história da recepção, a história institucional, a história das idéias, a história social, a sociologia da música e as abordagens revisionistas dos estudos estilísticos – têm como denominador comum a crítica cultural, levando na maior parte das vezes ao questionamento de valores e visões tradicionais, com maior ou menor ênfase no reconhecimento da natureza política da interpretação e do conhecimento como poder (Foucault). A crítica cultural concebida de uma maneira mais ampla nos parece ser a proposta da musicologia internacional mais frutífera e de maiores conseqüências para o caso brasileiro, pois nos instiga a buscar novos quadros interpretativos para a nossa história e o nosso presente musical. Acima de tudo, decidir sobre o tipo de musicologia que queremos implica em decidirmos que tipo de sociedade queremos, o que nos lança portanto para horizontes que visam o futuro. Proposições finais Nessa linha de reflexão visamos contribuir para a integração da musicologia brasileira nos problemas discutidos pela musicologia internacional mais recente, colocando ambas sob a luz do desenvolvimento das outras áreas de conhecimento, sobretudo a história, a antropologia, a sociologia, a crítica literária, o pensamento crítico e a hermenêutica. Para tanto, faz-se extremamente necessário um estudo crítico do pensamento musicológico brasileiro em seus diversos quadros interpretativos, no qual as 9
  • 10. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 críticas e propostas mais recentes sejam contempladas vis a vis da tradição historiográfico musical brasileira, bem como das tendências mais recentes da musicologia internacional e da potencial contribuição da transdisciplinaridade. O conteúdo das reflexões aqui propostas mantém estreito vínculo com o programa de pós-graduação em música, pois além de propor uma revisão crítica da musicologia internacional, contempla as novas tendências e seu potencial impacto na musicologia brasileira. As questões abordadas são fundamentais não apenas para o conteúdo das disciplinas oferecidas, como também para a filosofia do programa de pós-graduação. Visamos, primeiramente, contribuir para o avanço qualitativo dos cursos de mestrado, e sobretudo debater a identidade dos programas de pós-graduação, sua inserção na universidade e na sociedade, bem como os caminhos para integração entre musicologia e outros campos de conhecimento. Consideramos, portanto, abordar aspectos relevantes para a identidade e expansão dos programas de pós-graduação em música, bem como contribuir mais amplamente para o debate sobre a musicologia na universidade brasileira. Visamos um acessamento crítico sobre o papel da musicologia na universidade brasileira. Além de refletir sobre a potencial contribuição das novas tendências da musicologia internacional e da transdisciplinaridade, nos guiamos pela constante preocupação por alternativas que permitam a elaboração de um discurso musicológico que transcenda as fronteiras da própria disciplina, sem abandonar suas especificidades técnicas, e que venha a atender aos interesses e expectativas de um público mais amplo de leitores. Nossas reflexões sobre as novas musicologias e o programa de pós-graduação têm como horizonte a possibilidade de que a musicologia se torne efetivamente uma interlocutora com relação às outras áreas de conhecimento e, sobretudo, de que ela cumpra o seu compromisso de integração entre o conhecimento produzido na universidade e a sociedade. 10
  • 11. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 Referências Bibliográficas Abbate, Carolyn. Unsung Voices: Opera and Musical Narrative in the Nineteenth Century. Princeton: Princeton University Press, 1991. Aguilar Nelson & Fundação Bienal de São Paulo. Mostra do Redescobrimento: o olhar distante. São Paulo: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais: 2000. Araújo, Samuel. “Identidades brasileiras e representações musicais: músicas e ideologias da nacionalidade”, Brasiliana: Revista da Academina Brasileira de Música 4 (Janeiro 2000): 40-48. Béhague, Gerard. “National style versus nationalism: Villa-Lobos’s eclecticism”, in Heitor Villa-Lobos: The Search for Brazil’s Musical Soul. University of Texas at Austin: Institute of Latin American Studies, 1994. Béhague, Gerard. “Reflections on the Ideological History of Latin American Ethnomusicology”. In Comparative Musicology and Anthropology of Music: Essays on the History of Ethnomusicology. Bruno Nettl & Philp Bholman (eds.). Chicago: The University of Chicago Press, 1991. Bergeron, Katherine & Philip Bohlman. Disciplining Music: Musicology and Its Canons. Chicago e London: University of Chicago Press,1992. Bohlman, Philip. “Musicology as a political act”, Journal of Musicology 11/ 4 (1993): 411-436. Botstein, Leon. “Out of Hungary: Bartók, Modernism, and the Cultural Politics of Twentieth-Century Music”, in Peter Larki (ed.), Bartók and His World. Princeton: Princeton University Press, 1995: 3-63. Brett, Philip; Wood, Elisabeth & Thomas, Gary C. (eds.). Queering the Pitch: The New Gay and Lesbian Musicology. New York and London: Routledge, 1994. Brook, Barry; Edward Downes & Sherman van Solkema (eds.). Perspectives in Musicology. New York: Norton, 1972. Bukofzer, Manfred. The Place of Musicology in American Institutions of Higher Learning. New York, 1957. Candido, Antonio. Literatura e sociedade; estudos de teoria e história literária. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1965. Carvalho, José Murilo. A formação das almas: o imaginário da República do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. Clément, Catherine. L’opera ou la défaite des femmes. Paris: Editions Grasset & Fasquelle, 1979. Coelho, Geraldo Martires. O brilho da supernova: a morte bela de Carlos Gomes. Rio de Janeiro: Agir; Belém: Universidade Federal do Pará, 1995. Contier, Arnaldo Daraya. “A música brasileira no séc. XIX: a construção do mito da nacionalidade.” In As Artes no Brasil do século XIX. São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1977. Contier, Arnaldo Daraya. Música e ideologia no Brasil. 2nd. ed., São Paulo: Editora Novas Metas, 1985. Contier, Arnaldo Daraya. “Música no Brasil: história e interdisciplinaridade, algumas interpretações”, Anais do XVI Simpósio da Associação Nacional de Professores de História; História em Debate: problemas, temas e perspectivas (Rio de Janeiro, 1991). São Paulo: InFour/ CNPq, 1991: 151-189. Dahlhaus, Carl. Foundations of Music History. 1977. Cambridge: Cambridge University Press, 1983. Daverio, John. Nineteenth-Century Music and the German Romantic Ideology. New York: Schirmer Books, 1993. Duprat, Regis. “Análise, musicologia, positivismo”, Revista Música (Departamento de Música/ ECA-USP) 7/ 1 e 2 (1996): 47-58. 11
  • 12. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 Duprat, Regis. “Linguagem musical e criação”, Anais do I Encontro de Musicologia de Ribeirão Preto (Setembro 2003). Kallberg, Jeffrey. “Hearing Poland: Chopin and Nationalism”, in Larry Todd, ed. Nineteenth-Century Piano Music. New York: Schirmer Books, 1990. Kallberg, Jeffrey. Chopin at the Boundaries: Sex, History and Musical Genre. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1996. Kerman, Joseph. Contemplating Music: Challenges to musicology. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1985. Kerman, Joseph. “American Musicology in the 1990s”, Journal of Musicology 9/ 2 (1991): Kramer, Lawrence. Music as Cultural Practice: 1800-1900. Berkeley, Los Angeles e London: University of California Press, 1990. Kramer, Lawrence. Classical Music and Post-Modern Knowledge. Berkeley, Los Angeles e London: University of California Press, 1995. Leppert, Richard & McClary, Susan. Music and Society: the Politics of Composition, Performance, and Reception. 1987 Locke, Ralph. “Reflections on orientalism in opera and musical theater”, The Opera Quarterly 10/1 (1993): 48-64. Lucas, Maria Elisabeth. “Wonderland Musical: notas sobre as representações da música brasileira na mídia americana”, TRANS (Transcultural Music Review), 1995. Disponível em: http://www.2.uji.es/trans/trans2/LUCAS.html Lucas, Maria Elisabeth. “Rio de Janeiro 1670-1720: musicologia de fragmentos a partir de fontes inquisitoriais”, A Música no Brasil Colonial, I Colóquio Internacional/ Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 2000 (2001): 35-71. McClary, Susan. Feminine endings: Music, Gender and Sexuality. University of Minnesota Press, 1991. Novais, Fernando A. (org.). História da vida privada no Brasil. 4 vols. Companhia das Letras, 1997-99. Palisca, Claude; Frank Harrison & Mantle Hood. Musicology. (The Princeton Studies: Humanistic Scholarship in America). Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1963. Ribeiro, Belisa. “Em defesa dos transgêneros”, Jornal do Brasil, 9 outubro 2003, A6. Salgueiro, Heliana Angotti, ed. Paisagem e arte: a invenção da natureza, a evolução do olhar. São Paulo: CBHA, CNPq and FAPESP, 2000. Schwarcz, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 1998. 2ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1999. Seeger, Charles. “Semantic, logical, and political considerations bearing upon research in ethnomusicology”, Ethnomusicology 5 (1961): 77-89. Solie, Ruth (ed.). Musicology and diference: gender and sexuality in music scholarship. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1993. Subotnik, Rose Rosengard. Developing Variations: Style and Ideology in Western Music. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1991. Sussekind, Flora. O Cinematógrafo das Letras. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. Tacuchian, Ricardo. “Pós-moderno e a música”, Em Pauta (Revista do Curso de Pós-Graduação em Música UFRGS) 5 (1992): 24-31. Tomlinson, Gary. “The web of culture: a context for musicology”, 19th-Century Music 7 (1984): 350-362. Tomlinson, Gary. Music in the Renaissance Magic: Toward a Historiography of Others. Chicago e London: The University of Chicago Press, 1993. 12
  • 13. Maria Alice Volpe – II Encontro de Pesquisa em Música da Universidade Estadual de Maringá 2003 Treitler, Leo. Music and the Historical Imagination. Cambridge: Cambridge University Press, 1989. Treitler, Leo. “History and the Ontology of the Musical Work”, The Journal of Aesthetics and Art Criticism 51/ 3 (1993): 483-497. Ulhôa, Martha Tupinambá. “Representação: paralelos entre a nova história cultural e a etnomusicologia”, ART - Revista da Escola de Música da UFBA 22 (dez.1995): 121-128. Ventura, Roberto. Estilo tropical, história cultural e polêmicas literárias no Brasil, 1870-1914. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. Volpe, Maria Alice. “Irmandades e Ritual em Minas Gerais durante o Período Colonial – O Triunfo Eucarístico de 1733”, Revista Música (Departamento de Música da ECA-USP) 8/ 1 e 2 (1997): 5- 55. Volpe, Maria Alice. Indianismo and Landscape in the Brazilian Age of Progress: Art Music from Carlos Gomes to Villa-Lobos, 1870s-1930s. Ann Arbor, Michigan: UMI Research Press/ UT-Austin, 2001. Volpe, Maria Alice. “Remaking the Brazilian myth of national foundation: Il Guarany”, Latin American Music Review/ University of Texas Press, 24/ 2 (2002): 179-194. Wisnik, José Miguel. O Coro dos Contrários: a música em torno da semana de 22. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1977. 13