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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
                INSTITUTO DE ARTES E DESIGN
                      DESIGN GRÁFICO




                 Trabalho de Conclusão de Curso




              Desenvolvimento Sustentável
Uma abordagem social do design gráfico no Programa Vizinhança




                   HELEN PINHO DE SOUZA




                        PELOTAS / 2010
HELEN PINHO DE SOUZA




              Desenvolvimento Sustentável
Uma abordagem social do design gráfico no Programa Vizinhança




                              Monografia apresentada ao Instituto de Artes e
                              Design ao Curso de Artes Visuais Bacharelado em
                              Design Gráfico da Universidade Federal de
                              Pelotas, como requisito parcial à obtenção do
                              título de Bacharel em Design Gráfico.




                Orientadora: Mônica Lima de Faria




                        PELOTAS / 2010
3




Banca examinadora

_____________________________________
Profª. Drª. Lúcia Bergamaschi Costa Weymar

_____________________________________
Profª. Drª. Maria de Lourdes Valente Reyes

_____________________________________
Profª. Me. Mônica de Lima Faria

_____________________________________
Profª. Me. Roberta Barros
4




                             Para
               todos que pensam
          seis coisas impossíveis
         antes do café da manhã
(adaptado de alice in wonderland)
5




Agradecimentos


        Mãe, me orgulho te ser tua filha, tua força é uma inspiração
constante. Te ofereço a minha graduação como uma pequena retribuição por
toda a dedicação que tens por mim. Amo-te com todo meu coração.
        Mana, tu és a estrela da minha vida, tua luz me ilumina e me guia, o
caminho que trilho é marcado pelos teus passos. Amo-te eternamente,
obrigada por me amar da mesma forma e saber tão bem o demonstrar.
        Pai, a tua simplicidade é invejável, tu consegues encontrar a
felicidade no mais trivial acontecimento. Obrigada, amo-te.
        Marcel, agradeço pelos bons momentos que tu me concedeu, pelas
risadas e pelos sorrisos e por compartilhar comigo o Wesley e a Joana,
tornaste os meus dias mais fáceis e leves.
        À roda de chimarrão da Administração – Édila, Talita, Cátia, André,
Aline, Renan, Max – minhas saudações por compartilharem momentos
agradáveis, tornar as aulas mais atrativas e aumentarem minha capacidade
de fazer um bom mate.
        Aos colegas que foram amigos – Copiador, Henrique, Anta, Rafita,
Pi, Carol, Dani, Ana, Cintia, Barbi – todos vocês foram fundamentais para a
minha formação, sou grata pelos os momentos que compartilhamos.
Sucesso.
        À Ana, tu és a minha mala querida, obrigada pela amizade leve e
sincera, pela tua risada (ela me faz rir) e por cantar comigo “Não dá para
controlar Não dá! Não dá prá planejar Eu ligo o rádio E blá, blá Blá, blá, blá, blá
Eu te amo!” (Lobão).
        À Dani, por compartilhar os ideais, por colaborar com o meu trabalho
e me incentivar. Por entrar na maior fria – literalmente – do ano comigo,
incomodar bastante, me lembrar das aulas e ser tão perdida quanto eu.
6



       À Universidade Federal de Pelotas e seus funcionários, que
proporcionaram a mim mais do que apenas uma graduação.
       Aos professores que se dedicaram ao ensino com seriedade, que
dividiram seus conhecimentos, e fizeram a diferença.
       Ao professor Fernando Igansi, por crer na capacidade de seus
alunos, nos oferecer oportunidades maravilhosas e pensar mil coisas ao
mesmo tempo. A minha homenagem a ti.
       À professora Lucia Weymar, obrigada por crer na minha capacidade,
por me orientar em diversas situações e se mostrar sempre carinhosa.
       Ao professor Marcio Rodrigues, sou grata por nos dizer “o mundo é
um moinho / vai triturar teus sonhos tão mesquinhos / vai reduzir as ilusões a
pó” (Cartola), meu querido a minha graduação foi transformada pela tua
chegada, obrigada. Desejo que os nossos sonhos possam ser sempre
renovados.
       Á banca, por me tratar com tanto carinho, colaborar para o
engrandecimento da minha pesquisa, foi gratificante a experiência. Obrigada.
       Ao Estúdio Sul Design e ao Programa Vizinhança pelo estágio e a
oportunidade de exercer o meu trabalho de acordo com as minhas convicções,
por auxiliar no meu amadurecimento sou grata.
       À querida orientadora Mônica Faria, minha gratidão por ti é imensa, é
surpreendente tua dedicação, preocupação e apoio constante. Tu fizeste
toda a diferença, muito obrigada.
7




                    “Têm coisas que tem seu valor
              Avaliado em quilates, em cifras e fins
                        E outras não têm o apreço
           Nem pagam o preço que valem pra mim”.
                                     Guto Teixeira

“Todos têm ideias diferentes sobre o que seja design.
             Alguns pensam que é a gravata do pai,
          outros pensam que é a camisola da mãe”.
                                          Paul Rand
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Resumo

Vivemos em uma sociedade capitalista, centrada no mercado,
extremamente desigual que acaba por marginalizar parte de seu
população. Assim esta pesquisa propõe uma reflexão sobre o design e o
papel dos designers para a formação da estrutura social, investigamos a
capacidade do design se configurar em uma ferramenta de
desenvolvimento social, tendo como base os cinco princípios
sustentáveis de Sachs – social, ambiental, econômico, territorial e
político –. Metodologicamente operacionamos a pesquisa através da
abordagem qualitativa e do método hermenêutica de profundidade
(THOMPSON, 1995), assim na fase de análise sócio-histórica
apresentamos uma pesquisa bibliográfica sobre design gráfico,
sustentabilidade e as relações entre os temas, na fase da análise formal
avaliamos a Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do Sul
sob a ótica do desenvolvimento sustentável e na terceira e última fase
do método, interpretação/re-interpretação, apresentaremos a prática
desenvolvida no Programa Vizinhança – projeto de extensão de cunho
social da Universidade Federal de Pelotas –. Desde modo concluímos
que o design pode ser uma ferramenta em prol do desenvolvimento
social e que o designer, a partir de um posicionamento crítico, possui a
capacidade de colaborar a transformação da estrutura social atual.

Palavras-Chaves: design gráfico, sustentabilidade, desenvolvimento
social, Programa Vizinhança.
9




Resumen


Vivimos en una sociedad capitalista, orientada al mercado, muy al contrario que
en última instancia, marginar a parte de su población. Por lo tanto, propone una
reflexión sobre el papel del diseño y los diseñadores para la formación de la
estructura social, se determinó la capacidad del diseño se encuentra en una
herramienta de desarrollo social, basado en los cinco principios del desarrollo
sostenible Sachs (2204) - sociales, ambientales, económicos, territorial y
política -. Metodologías operacionales para buscar a través del enfoque
cualitativo y el método de la hermenéutica de profundidad (Thompson, 1995)
sólo en la fase de análisis socio-histórico se presenta una búsqueda en la
literatura sobre diseño gráfico, la sostenibilidad y las relaciones entre los temas
en la etapa de análisis formal de evaluación Campaña de Invierno del Gobierno
de Rio Grande do Sul, desde la perspectiva del desarrollo sostenible y la
tercera y última etapa del método, interpretación y reinterpretación-, se
presenta la práctica de sarrollada en el Programa Vizinhança - Proyecto de
Extensión social de la Universidad Federal de Pelotas -. De esta manera
llegamos a la conclusión de que el diseño puede ser una herramienta para el
desarrollo social y diseñador que, desde una posición crítica, tiene la capacidad
de colaborar para transformar la estructura social actual.


Palabras clave: diseño gráfico, la sostenibilidad, el desarrollo social, Programa
Vizinhança.
10




Lista de Figuras



Figura 1: Áreas do design ............................................................................................ 21

Figura 2: Evento Nazista ............................................................................................. 23

Figura 3: Redesign do semáforo ................................................................................... 25

Figura 4: Cartaz Campanha do Agasalho (2010) .............................................................. 35

Figura 5: Reportagem do Diário Popular, dezembro de 1913 ............................................... 41

Figura 6: Panorama da região ...................................................................................... 42

Figura 7: Logotipo em construção .................................................................................. 46

Figura 8: Prédios do campus Anglo ................................................................................ 48
11




Lista de Quadros



Quadro 1: Análise sustentável Campanha do Agasalho (2010) ............................................ 37

Quadro 2: Quadro semântico ........................................................................................ 45

Quadro 3: Análise sustentável do Programa Vizinhança ..................................................... 54
12




SUMÁRIO



1 Introdução ............................................................................................................ 13

2 Design e Design Gráfico ...................................................................................... 18

2.1 Função Social do Design ................................................................................. 22

3 Noções sobre sustentabilidade ......................................................................... 27

3. 1 Design e sustentabilidade .............................................................................. 28

4 Análise .................................................................................................................. 33

4.1 Análise sustentável .......................................................................................... 35

5 Prática .................................................................................................................. 40

5.1 Briefing .............................................................................................................. 44

5.2 Identidade Visual .............................................................................................. 45

5.3 Aplicativos ........................................................................................................ 49

5.4 Avaliação sustentável ...................................................................................... 54

6 Finalizações ......................................................................................................... 56

6.1 Considerações .................................................................................................. 56

6.2 Limitações ......................................................................................................... 57

6.3 Sequência ......................................................................................................... 58

Referências ............................................................................................................. 59

Anexos .................................................................................................................... 61
13
14




1. Introdução


         A evolução do sistema econômico mundial marcou a história da
humanidade de diversas maneiras e uma das mais impressionantes foi a
retirada do poder das mãos do Estado para as mãos das empresas. Podemos
citar a Revolução Industrial como um marco definitivo desta transição, porém é
necessário entender que apenas com o desenvolvimento da sociedade
moderna e de sua ideologia racionalista foi possível a criação e o
desenvolvimento do sistema econômico vigente e, consequentemente, da
estrutura social ocidental. Para tanto, citamos alguns fatos históricos como
momentos ímpares para a disseminação e desenvolvimento dos princípios
capitalistas, são eles: reforma protestante e movimento iluminista, a já citada
revolução industrial e a revolução francesa (RODRIGUES, 2009a).
         A reestruturação do sistema produtivo e da estrutura social foi
fundamental para o desenvolvimento do mundo capitalista e para a mudança
na forma de dominação dos indivíduos, que deixa de ser pela força e passa a
ser estabelecida pela ideologia1, divulgada na forma de discurso. Como
exposto por Rodrigues (2009b), a mídia estabelece uma relação restrita com o
discurso, pois é um meio de propagação com abrangência mundial:

                        Com efeito, para que a ideologia possa ganhar generalidade
                        suficiente para homogeneizar a sociedade no seu todo é preciso que
                        a mídia cumpra seu papel de veicular a informação não de um pólo
                        particular a outro pólo particular, mas de um foco central circunscrito
                        que se dirige ao todo indeterminado da sociedade (RODRIGUES,
                        2009b, p. 04)

         O discurso é efetivo, pois é realizado de forma pacífica (em oposição,
por exemplo, às guerras), gradual e contínua, assim não distinguimos nossos
desejos da política vigente de comportamento e encaramos a estrutura social
atual como um fato social (Durkheim, 2001).

1
  Definição do Aurélio: s.f. Ciência que trata da formação das idéias. / Conjunto de idéias
próprias de um grupo, de uma época, e que traduzem uma situação histórica: a ideologia
burguesa dicionário.
15



        Porém, o sistema capitalista não faz parte da natureza, tampouco as
estruturas empresariais. Estes conceitos foram criados, desenvolvidos e
sustentados por homens e podem ser modificados pelos homens e para os
homens, Kazazian (2005) explicita este pensamento:

                      [...] a empresa poderia estar na origem de uma profunda mutação e
                      passagem de uma sociedade de consumo baseada no produto para
                      uma sociedade de utilização cuja principal modalidade seria o
                      serviço, e que teria por finalidade uma economia leve (KAZAZIAN,
                      2005, p. 27).

        Assim sendo, acreditamos que é possível o estabelecimento de uma
nova ordem e, principalmente, que a academia tem possibilidades de alavancá-
la, através da formação de profissionais qualificados e socialmente críticos.
Para tanto, é importante o fomento da pesquisa com caráter transdisciplinar e
no desenvolvimento de uma postura profissional responsável.
        Pensando em um futuro desenvolvido a partir da estrutura vigente, os
designers ocupam uma posição de fundamental importância nesta transição.
Como afirma Victor Papanek “a única importância, no design, é sua relação
com as pessoas” (PAPANEK, 1971 apud KAZAZIAN, 2005, p. 21). Assim suas
bases necessariamente têm de estar na ecologia, no homem e na ética:

                      O desenvolvimento sustentável obedece ao duplo imperativo ético da
                      solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exige a
                      explicitação de critérios de sustentabilidades social e ambiental e de
                      viabilidade econômica. Estritamente falando, apenas as soluções que
                      considerem estes três elementos, isto é, que promovam o
                      crescimento econômico com impactos positivos em termos sociais e
                      ambientais, merecem a dominação de desenvolvimento [...] (SACHS,
                      2004, p. 36).

        Insere-se aqui um conceito base para o trabalho que se segue, a
sustentabilidade possui um escopo maior que a questão ambiental,
teoricamente difundida. Para Sachs (2004), há cinco pilares fundadores: o
econômico, o social, o ambiental, o territorial e o político.
        Assim, apesar da questão da sustentabilidade não ser novidade, ainda
vemos de modo simplista sua problemática e nossas ações são igualmente
parciais. Prova disso é o aumento dos problemas ambientais, o fortalecimento
da desigualdade social e o fato de o desenvolvimento ocorrer apenas nos
16



países já denominados desenvolvidos. Deixando claro que, neste trajeto,
discurso e ação, existem desconexões, falhas, inverdades:

                      [...] fundamentalistas de mercado, eles implicitamente consideram o
                      desenvolvimento como um conceito redundante. O desenvolvimento
                      virá como resultado natural do crescimento econômico, graças ao
                      “efeito cascata” (trickle down effect). [...] A teoria do “efeito cascata”
                      seria totalmente inaceitável em termos éticos, mesmo se funcionasse,
                      o que não é o caso. Num mundo de desigualdades abismais, é um
                      absurdo pretender que os ricos devam ficar mais ricos ainda, para
                      que os destituídos possam ser um pouco menos destituídos (SACHS,
                      2004, p. 26).

        A presente investigação pretende que, a partir da perspectiva
sustentável, seja possível instituir o desenvolvimento social em busca de uma
estrutura social digna e justa – no presente e no futuro – bem como,
demonstrar que o design pode se configurar em uma ferramenta para o
alcance deste objetivo.
        Assim sendo, a questão problema geradora desta pesquisa é: “Como o
design pode configurar-se em instrumento promovedor do desenvolvimento
social a partir da perspectiva sustentável?”.
        Para responder esta questão, temos como objetivo geral analisar o
design como instrumento promovedor do desenvolvimento social a partir da
perspectiva sustentável. Para alcançar o objetivo geral nos utilizamos dos
seguintes objetivos específicos: compreender as noções sustentáveis,
apresentar o campo do design e do design gráfico, salientar a relevância social
do design gráfico, realizar a análise da campanha do agasalho do Rio Grande
do Sul através da perspectiva sustentável, aplicar na prática do Programa
Vizinhança o design social a partir da perspectiva sustentável.
        Metodologicamente, pretendemos alcançar o objetivo geral e os
específicos fazendo uso da abordagem qualitativa:

                      Quando se fala de pesquisa quantitativa ou qualitativa, e mesmo
                      quando se fala de metodologia quantitativa e qualitativa, apesar da
                      liberdade de linguagem consagrada pelo uso acadêmico, não se está
                      referindo a uma modalidade de metodologia particular. Daí ser
                      preferível falar-se de abordagem quantitativa, de abordagem
                      qualitativa, pois como essas designações, cabe referir-se a conjuntos
                      de metodologias, envolvendo, eventualmente, diversas referências
                      epistemológicas. São várias metodologias de pesquisa que podem
                      adotar uma abordagem qualitativa, modo de dizer que faz referência
17



                       mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a
                       especificidades metodológicas (SEVERINO, p. 119, 2007).

        Especificamente, usamos o método proposto por John B. Thompson
(1995) denominado hermenêutica de profundidade (HP). Este método possui
um caráter cíclico de reflexão teórica e prática, sendo especialmente indicado
para estudos na área das ciências sociais e em estudos em que se pretende
avaliar de maneira prática a teoria pesquisada e desenvolvida.
        A HP apresenta-se dividida em três fases: análise sócio-histórica,
análise formal ou discursiva e interpretação/re-interpretação:

                       Como eu entendo, a HP é um referencial metodológico amplo que
                       compreende três fases ou procedimentos principais. Essas fases
                       devem ser vistas não tanto como estágios separados de um método
                       seqüencial, mas antes como dimensões analiticamente distintas de
                       um processo interpretativo complexo (THOMPSON, 1995, p. 365).

        Para a execução da pesquisa, usamos ferramentas que possibilitam a
caminhada por todas as fases da hermenêutica e o entrelaçamento entre as
mesmas.
        Na análise sócio-histórica, trabalhamos com a pesquisa bibliográfica, a
fim de construir uma base teórica sobre o design, sustentabilidade e
desenvolvimento. Na análise formal nos utilizaremos do estudo de caso e da
interpretação semiótica. Para a interpretação/re-interpretação, analisamos a
prática desenvolvida e sua relação com as etapas anteriores.
        Explicitamos ainda, sucintamente, como se dá o encaminhamento do
leitor por este trabalho.
        No primeiro capítulo, apresentamos nossa questão problema, objetivos
e motivações para a realização da investigação, assim como o processo
metodológico utilizado.
        No capítulo dois, “Design e Design Gráfico”, tratamos das questões
formais e conceituais da área, demonstrando a capacidade de aplicação dos
conhecimentos teóricos a fim de promover empresas, marcas, ações e
especificamente o desenvolvimento social.
        No capítulo terceiro, “Noções sobre Sustentabilidade”, explanamos
sobre o complexo campo do sustentável, seus objetivos, conceitos em
18



construção e abrangência de sua atuação. Trataremos, também, da relação
com o design e, consequentemente, com o profissional da área.
        No capítulo quarto, realizamos a análise sustentável de uma campanha
social que objetiva promover o desenvolvimento igualitário. Escolhemos uma
ação com abrangência regional, com o intuito de identificar e inferir a relação
do design com as mesmas e os resultados identificados.
        No capítulo quinto, apresentamos a prática realizada no Programa
Vizinhança – projeto de extensão da Universidade Federal de Pelotas – local
em que a graduanda realiza estágio. O programa visa o estreitamento das
relações entre a instituição e a comunidade situada no entorno do campus
porto. Desenvolvemos aplicativos gráficos para a criação de uma identidade
visual do grupo e analisamos essa prática de acordo com a análise sustentável,
utilizada no estudo de caso.
        Finalizamos   com      a   apresentação   das considerações finais   e
discussões sugeridas ao longo da realização da pesquisa, a fim de fomentar a
continuação de estudos na área e do desenvolvimento de práticas que
colaborem para o desenvolvimento social e para a criação de uma sociedade
justa e includente.
19




2. Design e Design Gráfico



         O marco histórico do advento do design no mundo é motivo de
discussões. Enquanto alguns autores defendem expressões de elementos de
design já nas sociedades primitivas, outros só aceitam o surgimento da área
após a Revolução Industrial, mas “toda versão histórica é uma construção e,
portanto, nenhuma delas é definitiva” (CARDOSO, 2008, p. 17).
         Contudo, acreditamos que apenas com a transformação da estrutura
social, dos meios de produção e do sistema econômico houve a necessidade
do design. Cardoso afirma que “o design é fruto de três grandes processos
históricos que ocorreram de modo interligado e concomitantemente, em escala
mundial, entre os séculos 19 e 20” (CARDOSO, 2008, p. 22), que são: a
industrialização, a urbanização moderna e a globalização.
         Até então, o modo de produção artesanal e de manufatura era
suficiente para atender a demanda da sociedade e, segundo Villas-Boas
(2003), este tipo de produção não caracteriza um produto de design. Este
necessariamente deve ser produzido em escala e especialmente desenvolvido
para a sociedade de massas. Outro ponto importante para caracterizar o
design é a separação entre o processo produtivo e o projeto (CARDOSO,
2008).
         Villas-Boas (2003) ainda ressalta a importância do fenômeno da
fetichização de Marx para o processo:

                    No mundo da sociedade de massas, uma música não é uma música;
                    um tapete não é um tapete; uma camisa não é uma camisa: são
                    produtos de trabalhos individuais que, pelo trabalho alienado, se
                    configuram em produtos do trabalho social que se relacionam entre si
                    através de um jogo de valores que lhes dá vida própria e que acaba por
                    reger as relações sociais destes mesmos produtos de trabalho individual
                    (ou seja, os homens) (VILLAS-BOAS, 2003, p. 28).
20



        Com a mudança no quadro social os objetos que interagem com essa
sociedade ganharam valores subjetivos e, nesse contexto, o design tornou-se
fundamental. Contudo, vemos que o surgimento da área só foi possível pelo
percurso histórico da humanidade durante os séculos anteriores, conceitos
aplicados em diversas áreas (arte, arquitetura, literatura, artesanato) foram se
desenvolvendo e permitiram o advento do design.
        No Brasil, a abertura da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI)
inaugurada em 1963 no Rio de Janeiro é o marco institucional da consolidação
da área no país, mas “na verdade, na época da fundação da ESDI pouco
tempo depois, já se buscava implantar o ensino sistemático do design no Brasil
há mais de uma década” (CARDOSO, 2008, p. 190).
        As tentativas precedentes mais lembradas foram as realizadas em
1951 no Instituto de Arte Contemporânea do MASP, que funcionou por três
anos; a da Escola Técnica de Criação do MAM, nunca consolidada realmente e
a realizada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 1962, que
criou uma linha de formação de Desenho Industrial no curso de Arquitetura.
Porém, Cardoso enfatiza:

                     Enquanto alguns ainda disputam diferenças de meses entre a
                     inauguração dos cursos de graduação da ESDI e da FAU/USP, a
                     grande maioria ignora ou silencia a atuação pioneira de instituições,
                     como o Serviço Nacional da Aprendizagem Industrial (...); a Escola
                     Técnica Nacional (...); o Curso de Desenho a Artes Gráficas da
                     Fundação Getúlio Vargas, (...); a Escola IDOPP, (...); ou até mesmo o
                     velho Liceu de Artes e Ofícios (...). A importância de tais indivíduos e
                     instituições na abertura das atividades ligadas ao design no Brasil é
                     demasiada para ser relegada aos porões do esquecimento
                     (CARDOSO, 2008, p. 196).

        Assim, compreendemos que a história é mais complexa do que
normalmente nos é transmitida. A ESDI é fruto de todas essas tentativas, dos
erros e acertos, e ressaltamos que este é apenas o lado institucional: a história
do design como prática é ainda mais controverso:

                     Perdura na consciência nacional o mito de que o design brasileiro
                     teve sua gênese por volta de 1960. Como todo mito, trata-se de uma
                     falsidade histórica patente. Como todo bom mito de origem, trata-se
                     de uma verdade profunda (...) Surgiu nessa época não o design
                     propriamente dito – ou seja, as atividades projetuais relacionadas à
                     produção e ao consumo em escala industrial – , mas antes a
                     consciência do design como conceito, profissão e ideologia
                     (CARDOSO, 2005, p. 07).
21




         Deste modo, o design já estava sendo praticado anteriormente à
década de 1960 no país, principalmente por profissionais estrangeiros e por
brasileiros formados no exterior, especialmente nas áreas de embalagem e
editorial.
         Contudo, a profissão é relativamente jovem quando comparada à
história da humanidade e de outras profissões. No Brasil, o quadro é mais
recente ainda. Por questões culturais, políticas e sociais não temos a
formulação conceitual e prática da área claramente resolvida e uma das
peculiaridades nacionais já começa na própria nomenclatura:

                      Design é uma palavra inglesa originária de designo (as-are-avi-atum),
                      que em latim significa designar, indicar, representar, marcar, ordenar.
                      O sentido de design lembra o mesmo que, em português, tem
                      desígnio: projeto, plano, propósito (Ferreira, 1975) – com a diferença
                      de que desígnio denota uma intenção, enquanto design faz uma
                      aproximação maior com a noção de uma configuração palpável (ou
                      seja projeto). Há assim uma clara diferença entre design e o também
                      inglês drawing – este, sim, o correspondente ao sentido que tem o
                      mesmo termo desenho (VILLAS-BOAS, 2003, p. 48-49).

         Desde a instituição da ESDI já se discutia esta terminologia. Procurou-
se expressões nacionais mais adequadas e até mesmo a criação de uma nova
palavra, mas o estrangeiro termo design foi o mais aceito e difundido. Apesar
de questões como o significado inadequado (incompleto) e a soberba natural
de termos ingleses no Brasil é improvável que haja uma movimentação capaz
de modificar o vocábulo.
         A importância central dessa discussão - para o presente trabalho - está
na subdivisão da área, pois seguindo a tendência mundial do ensino superior
os cursos de Desenho Industrial foram progressivamente se desmembrando
em cursos específicos e a profusão de áreas dificulta a localização do
estudante e profissional dentro do todo.
         Tendo como base a posição defendida por Villas-Boas, apresentamos
na Fig. 1 um esquema da área e principais sub-áreas do design brasileiro. O
referido autor se utilizou da terminologia utilizada pelo Ministério da Educação e
as resoluções do V Endi (VILLAS-BOAS, 2003):
22




Figura 1: Áreas do design
Fonte: adaptado de VILLAS-BOAS, 2003


        O Design Gráfico faz parte da sub-área de Programação Visual assim
como o Design Informacional e o Design Institucional, e se distingue dos
mesmos por questões projetuais e por metodologia de trabalho:

                      É justamente pela busca de uma definição o mais precisa possível (e
                      portanto restrita) que a delimitação do design gráfico envolve quatro
                      aspectos básicos: formais, funcionais-objetivos (ou simplesmente,
                      funcionais) metodológicos e finalmente, funcionais-subjetivos (ou
                      simbólicos). Um objeto só pode ser considerado fruto de design
                      gráfico se responder a estas quatro delimitações (VILLAS-BOAS,
                      2003, p. 08).

        Como ressaltado pelo citado autor, o conceito é restritivo, pois em uma
realidade um tanto caótica é necessário conceituar para localizar e a partir de
uma realidade organizada atender às necessidades heterogêneas das
produções. Assim, em um primeiro momento se delimita concretamente o
espaço/área, mas o intuito não é a setorização definitiva dos objetos e sim a
localização dos indivíduos para um entendimento particular e global:

                      (...) um projeto gráfico é um conjunto de elementos visuais – textuais
                      e/ou não textuais – reunidos numa determinada área
                      preponderantemente bidimensional e que resulta exatamente da
                      relação entre estes elementos (VILLAS-BOAS, 2003, p. 12).

        Tendo em vista as explanações acima ressaltamos que no presente
trabalho analisamos projetos de design gráfico assim como desenvolvemos
peças gráficas. Desta maneira a conceituação formal da área e da
configuração de seus produtos é valorizada.
23




2.1 Função social do Design



            A soberania do sistema capitalista e da sua forma de gestão
horizontalizou a busca por aspectos, antes ligados apenas a empresas, como:
a busca por resultados, eficiência, eficácia e lucro. Esse processo já era
apontado por Weber (WEBER, 1982 apud RODRIGUES, 2009) como uma
tendência, uma vez que a racionalidade voltada para fins torna-se o centro da
administração moderna.
            Essa     racionalidade      objetiva    faz   com     que     argumentos       não
mercadológicos não sejam aceitos como legítimos, pois foge da lógica
capitalista e, portanto, não é entendida. A dimensão social do design está
diretamente ligada a esse fato, pois em um mundo centrado no mercado, não
se entende – amplamente – o motivo para uma profissão ter a sociedade como
“cliente final” e não o mercado.
            Contudo, a disseminação da utilização da expressão “design social”
potencializa a discussão no meio acadêmico e até mesmo no mercado de
trabalho. Enquanto uns crêem que o social está intrinsecamente ligado a área
e, portanto, é indissociável da mesma, independente da postura crítica do
profissional. Outros vêem que para se ter o lado social contemplado no projeto
é necessário uma atuação conscientemente voltada para esta direção.
            Acreditamos que a consciência2 - característica que nos difere dos
demais animais - é um aspecto essencial para o nosso posicionamento no
mundo, seja no âmbito profissional ou particular. Independente do lado
defendido e os argumentos utilizados, todos, a princípio, são válidos.
            Um dos momentos ímpares desta polêmica discussão foi a
publicação do manifesto First Things First (ANEXO 1) revisado, no ano de 2000
(FTF2000). O documento foi originalmente publicado em 1964, sob autoria do


2 Homo sapiens sapiens – sapiens do latim designa “o sábio” ao repetir o adjetivo, caracteriza
a raça hominídea como aquela que possui consciência de sua existência e à racionaliza
24



designer britânico Ken Garland, porém sua repercussão foi tímida. Assim, em
1999 um grupo formado por: Kalle Lasn, Chris Dixon, Tibor Kalman, Ken
Garland, Rick Poynor, Max Bruinsma e Rudy VanderLans têm a ideia de
reeditar o documento e publicá-lo nas principais revistas de design do mundo
(REYS, 2005).
           O manifesto FTF2000 configura-se de maneira tão importante, pois
trava uma discussão direta entre a função social e a mercadológica do design.
Acreditamos que seu conteúdo é extremamente relevante para a presente
pesquisa, desta forma, a seguir iremos pontuar alguns aspectos considerados
fundamentais para uma análise crítica sobre o assunto e disponibilizamos o
mesmo na íntegra no Anexo 1 do presente trabalho.
           No trecho “Existem ocupações mais corretas para nossas habilidades
em solucionar problemas. Uma crise sem precedentes do ambiente social e
cultural demanda nossa atenção” (ANEXO 1), o designer é colocado como um
agente comunicador responsável por sua produção e pelo seu impacto, indo
assim diretamente contra a lógica do mercado. Pois, de maneira geral, somos
“projetados” (por nossas escolas e mercado de trabalho) para atender os clientes
sem questionar, ou no máximo questionar apenas aspectos estéticos.
           Um exemplo clássico do impacto que uma identidade visual pode
provocar é o movimento nazista alemão (1933), é fato que a ideologia de
Adolfo Hitler foi difundida utilizando-se de conceitos de marketing, propaganda e
design (Figura 2).




Figura 2: Evento nazista
Fonte: GOOGLE. Palavra de busca: nazismo.
25



         E o resultado nos é conhecido, um país inteiro acredita na soberania da
raça ariana e promoveram o genocídio de pessoas que eram até então seus
vizinhos, amigos, semelhantes:

                     A propaganda Nazista foi baseada, entre outras coisas, na
                     panfletagem, nos desenhos profissionais e na criação de uma
                     identidade visual (...) Tudo foi pensado para causar impacto visual.
                     Identidade Visual sim! E não preciso nem falar se a mensagem foi
                     passada com sucesso! Basta relembrar o movimento de um homem
                     que levou um país inteiro a acreditar em valores estapafúrdios,
                     iconoclastas e bestiais. Foi a primeira vez que um governo, um
                     regime, se utilizou de estratégias de Marketing sólidas, massificadas,
                     para mudar a forma de pensar de uma nação. Alterou valores
                     culturais, sociais, educacionais e psicológicos (NETO, 2008).

        Obviamente, não estamos afirmando que iremos criar uma barbárie
dessa magnitude trabalhando em um escritório de design – ou empresas do
gênero – mas ao defender uma postura de obediência cega ao cliente,
podemos colaborar para a disseminação de artefatos, ideias e posturas que
são prejudiciais, compreender e aceitar essa responsabilidade é uma
necessidade.
        Outra questão importante é levantada quando se cita – de forma irônica
– alguns trabalhos que realizamos: “os designers então usaram suas
habilidades e imaginação para vender biscoitos de cachorro, designer coffee,
diamantes, detergentes, gel para cabelo, cigarros, cartões de crédito, tênis,
tonificadores para glúteos, cerveja light e veículos de carga para passeio” (ANEXO
1). Entendemos que o intuito é chocar o leitor, mostrar que trabalhamos – às
vezes mais do que seria saudável – para solucionar problemas que não são
relevantes.
        Ou seja, produtos e serviços que foram criados apenas com o intuito de
fomentar cada vez mais um mercado já saturado por inutilidades, preencher as
gôndolas dos mercados, supermercados, hipermercados, espaços cada vez
maiores para preencher os espaços (infinitos) vazios de nossas vidas.
Enquanto questões, em que os designers poderiam realmente fazer a
diferença, são relegados a segundo plano.
26



         Será que poderíamos, por exemplo, colaborar para a diminuição dos
acidentes de trânsito? É uma problemática realmente grande, em 2008 tivemos
36.6663 vítimas fatais no território brasileiro. Acreditamos que poderíamos
colaborar    para     a   diminuição     de    acidentes     e    mortes,     através    do
desenvolvimento de uma sinalização mais eficiente em nossas ruas ou
contribuir para a criação de uma ideia diferente de diversão, em que bebida
alcoólica junto com carro, não seja um modo de tornar os meninos e meninas
mais atraentes.
         Na figura 3, mostramos o projeto da designer Thanva Tivawong,
constituído de uma nova proposta para os semáforos. A funcionalidade é
aguçada pela forma do artefato, pela maneira que se utiliza as cores
tradicionais deste tipo de sinalização, assim como a relação forma versus
tempo, que permite ao motorista uma identificação imediata da situação. Tem,
ainda, um apelo estético alto e promove a economia de energia, uma vez que é
produzida em LED4.




Figura 3: Redesign do semáfaro
Fonte: http://www.hypeness.com.br/2010/12/semaforo-ampulheta-led/. Acesso em 10 dez.
2010, 21:00.


3
  CESVI BRASIL: Centro de Estudos Automotivos. Disponível em:
<http://www.cesvibrasil.com.br/seguranca/biblioteca_dados.shtm#brasil >. Acesso em: 10 nov.
2010, 21:23.
4
  Do inglês Light Emitting Diode, traduzido como: Diodo Emissor de Luz
27



       No final da leitura do FTF2000 tem-se um pedido: reflitam e gerem
ações. Posicionem-se a favor ou contra, mas que algo nos toque. Tire-nos da
inércia, do “conforto” da tela de nossos computadores. Entendemos que o
objetivo é fomentar o pensamento crítico, e que a partir deste ponto possamos
agir de modo a realizar mudanças que beneficiem a sociedade, uma vez que a
estrutura em que vivemos – econômica, política, cultural – foi criada por nós,
nós a mantemos. Acreditemos, mudá-la é possível.
       Uma das críticas mais proclamadas contra o FTF2000 refere-se aos
seus assinantes, profissionais dedicados a atender clientes institucionais que
se diferem em muito dos empresários e clientes do mercado em geral. Assim,
segundo Michael Bierut, os designers que pedem uma posição crítica diante do
mercado não possuem problemas para agir deste modo, pois trabalham para
instituições culturais que já possuem uma visão e um objetivo social diferente
das indústrias (REYS, 2005).
       A crítica realmente é fundamentada, realmente algumas instituições
possuem objetivos que proporcionam um trabalho muito mais institucional e de
comunicação do que mercadológico e de persuasão. Porém, é importante
lembrar que muitos destes ambientes estão tornando-se extremamente
comerciais. Bierut coloca este fato como sendo a prova de que as estratégias
de mercado são eficientes e por tanto adequadas. Mas será que não
poderíamos    encontrar   soluções   melhores?   Vivemos     em   um   mundo
extremamente capitalizado, tornar todas as organizações empresas é ter a
certeza de que o sistema capitalista é o melhor modo de vida para todos.
       Acreditamos que podemos criar com critério, informar de formas
diferentes, procurar soluções para os problemas da nossa sociedade. Fazer
tudo isso com consciência e, mesmo assim, oferecer um serviço de qualidade
para nossos clientes e participar do mercado. O design é intrinsecamente
social, mas ao não refletir sobre a sociedade retiramos a sua essência e
ficamos apenas com o invólucro, de algo que parece design.
28




3. Noções sobre sustentabilidade



         Sustentabilidade é uma palavra que ouvimos em diversas situações, e
referindo-se a uma enorme quantidade de coisas: produtos, empresas, ações.
Porém, seu conceito nem sempre é claro e, na maioria das vezes, seu
significado não é compreendido. Em uma busca ao dicionário percebemos a
dificuldade de definição: sustentabilidade “a qualidade de sustentável”,
sustentável “o que pode ser sustentado”5.
         O que é então sustentabilidade?
         Acreditamos que mais que uma palavra, é uma noção, um modo de
vida, de produção, de ação. Ser sustentável é agir de modo responsável com a
sociedade e as gerações futuras, de forma inclusiva. Assim cria-se um modo
de vida que é sustentável, ou seja, que não entrará em colapso com o passar
do tempo. Para tanto, a questão não é mais focada em apenas um setor
específico de nossas vidas. Compartilhamos dos ideais de Sachs que define os
cinco pilares do desenvolvimento sustentável:

                        a – Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto
                        instrumentais, por causa da perspectiva de disrupção social que paira
                        de forma ameaçadora sobre muitos lugares problemáticos do nosso
                        planeta;
                        b – Ambiental, com as suas duas dimensões (os sistemas de
                        sustentação da vida como provedores de recursos e como
                        „recipientes‟ para a disposição de resíduos);
                        c – Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das
                        populações e das atividades;
                        d – Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua
                            6
                        non para que as coisas aconteçam;
                        e – Político, a governança democrática é um valor fundador e um
                        instrumento necessário para fazer as coisas acontecerem; a liberdade
                        faz toda a diferença ( SACHS, 2004, p. 15).



5
  Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/> Acesso em: 26 de setembro de 2010 às 16:18.
6
  Tradução Google: A condição necessária. Disponível em: <http://translate.google.com.br/#>.
Acesso em: 26 de setembro de 2010 às 22:12.
29



           A partir do entendimento da abrangência do conceito sustentável,
compreendemos que é impossível agir de modo completo em um e de modo
indiferente nos demais. Eles estão intrinsecamente relacionados e são
intimamente dependentes. Acreditamos que os ideais sustentáveis deveriam
estar no centro dos debates em prol da construção de um novo modo de
estrutura social. Por esta razão, devem ser incluídos na prática do designer.
Sendo nós designers, agentes comunicadores, podemos em nossas práticas
tanto aplicar os conceitos como promover a sua inclusão nas demais áreas
sociais:

                       Portanto, o design gráfico não é apenas programar ou projetar
                       produtos com mensagens aleatórias, mas interpretar restrições para
                       um projeto com função social, já que a sociedade diretamente ligada
                       a ele deve beneficiar-se a partir dessa produção, como o homem
                       primitivo beneficiava-se do fogo para as suas necessidades básicas
                       (RANGEL, 2007, p. 08).

           Rangel mostra que o design gráfico é mais do que apenas a
organização eficiente e agradável de informações em um determinado suporte.
Precisamos resolver problemas. Compreender o conteúdo que estamos
trabalhando para dar uma forma coerente ao material, trabalhar em cima das
restrições: de espaço, de recursos (financeiros, materiais, sociais), de
necessidades e desejos. Enfim, é um trabalho objetivo – projetar – que envolve
variáveis objetivas e subjetivas, a comunicação passa por inúmeros filtros
sociais e individuais e precisamos dar conta desse complexo todo.
           Por fim, afirmamos que podemos em cada projeto alcançar o
desenvolvimento social, a inclusão e exercitar nossa responsabilidade
profissional e de cidadãos diante da comunidade que é, em última instância, os
verdadeiros clientes/consumidores de nosso trabalho.



3.1 Design e sustentabilidade


           O design como prática profissional e a sustentabilidade como norte
ideológico se entrelaçam neste capítulo. Relembramos os cinco pilares
sustentáveis: social, ambiental, territorial, econômico e político. Cada um
30



desses fundamentos possui áreas de sobreposição específicas com o design.
Mostraremos as principais relações por nós identificadas.
        No artigo 4º, capítulo 1, do Código de Ética Profissional do Designer
Gráfico7 regulamenta-se que o profissional da área “terá sempre em vista a
honestidade, a perfeição e o respeito à legislação vigente e resguardará os
interesses dos clientes e empregados, sem prejuízo de sua dignidade
profissional e dos interesses maiores da sociedade”. Pensamos que, para se
atender os “interesses maiores da sociedade”, necessariamente, o designer
deverá abranger as noções de sustentabilidade em seu projeto, para assim
realmente cumprir o objetivo do artigo.
        Infelizmente, o Código de Ética da nossa profissão é muito superficial e
praticamente     todo    seu   conteúdo      refere-se    a   questões     básicas     de,
simplesmente, ter uma boa educação. Acreditamos que essa postura é reflexo
da não regulamentação da profissão, situação que apresenta como principal
problema - em nossa opinião - a insegurança do cliente e da sociedade frente à
qualidade do trabalho do designer.
        Sabemos que a questão da regulamentação é bastante polêmica e
gera pretensões irreais em alguns indivíduos como, por exemplo, a criação de
base legal para reserva de mercado, que permitiria apenas aos designers o
direito de praticar o design profissionalmente:

                        (...) enquanto alguns designers insistirem em um discurso de
                        exclusão e de privilégio com base não em critérios de capacidade
                        profissional, mas em títulos e genealogias, permanecerá a tendência
                        de desagregação e facciosismo que tem afetado de modo tão
                        negativo a consolidação do campo entre nós (CARDOSO, 2008, p.
                        196).

        Não é nosso intuito legitimar a atuação de profissionais sem formação
superior, contudo nosso principal anseio é garantir os direitos dos clientes e da
sociedade visto que, apenas com a regulamentação, o designer responderá
legalmente por seus projetos de maneira efetiva. Pensamos que ao buscar
maiores deveres iremos encontrar também maiores direitos e, ao se exigir




7
  Disponível em: <http://www.adg.org.br/downloads/ADGBrasil_CodigoEtica.pdf>. Acesso em:
27 set. 2010, 15:41.
31



trabalhos de qualidade, ocorrerá uma seleção natural que beneficiará os
indivíduos com formação profissional.
       Abordando outro aspecto da relação, sabemos ser recorrente quando o
assunto relaciona-se ao consumismo, ouvir comentários sobre o design como
um dos elementos fomentadores e causadores da prática. Tendo em vista que
popularmente a atuação do designer se restringe à finalização do produto, ou
seja, à maquiagem, ao embelezamento.
       Porém, é sabido que o papel do designer assim não se restringe.
Devemos interferir e desenvolver o projeto da peça ou produto desde a sua
concepção. Adequando a ergonomia à funcionalidade, a vida útil à matéria-
prima, como afirma Raymond Loewy “o desenhista industrial astucioso é aquele
que, com lucidez, sente a zona de choque em cada problema específico”
(LOEWY, 1951 apud KAZAZIAN, 2005, p.16).
       Podemos dizer que para Hollis essas “zonas de choque” configuram-se
nas três funções básicas do design, elementos que permeiam a profissão
desde sua gênese:

                    A principal função do designer gráfico é identificar: dizer o que é
                    determinada coisa, ou de onde ela veio (...) Sua segunda função,
                    conhecida no âmbito profissional como Design de Informação, é
                    informar e instruir, indicando a relação de uma coisa com outra
                    quanto à direção, posição e escalas (....) A terceira função, muito
                    diferente das outras duas, é apresentar e promover (...) aqui, o
                    objetivo do design é prender a atenção e tornar sua mensagem
                    inesquecível (HOLLIS, 2000, p. 4 [grifo do autor]).

       Assim, para identificar, informar e apresentar o profissional precisa,
necessariamente, dominar o tema que está trabalhando. Não trata-se portanto
de uma função de acabamento e sim de projeto holístico, ou seja, que
considera a totalidade, entendendo que o todo está na parte e a parte está no
todo igualmente.
       Deste modo, devemos procurar o desenvolvimento constante, tendo
em vista que “podemos dizer que o ecodesign – ou a ecoconcepção – é uma
abordagem de melhora contínua, já que nenhum estado é definitivo ou
encerrado” (KAZAZIAN, 2005, p. 55). Existe, por exemplo, uma infinidade de
produtos que encobrem a necessidade social real “(...) não precisamos de um
32



jornal, mas de informação” (RANGEL, 2007, p. 13), mas a rotina e a
comodidade acabam por encobrir a avaliação crítica das coisas:

                       Você já pensou de onde vem todas as coisas que compramos e para
                       aonde vão quando jogamos tudo fora? [...] o que o livro falou é que as
                       coisas passam por um sistema: de extração à produção, distribuição
                       e disposição. [...] essa não é a estória [sic] completa. Tem muita coisa
                       faltando nessa explicação. De fato, o sistema parece estar bem. Sem
                       problemas. Mas a verdade é que o sistema está em crise. E a razão
                       pela qual está em crise é porque é um sistema linear e vivemos num
                       planeta finito e você não pode operar um sistema linear num planeta
                                                                                8
                       finito indefinidamente (LEONARD, The history of stuff , 2007).

        Entendemos que nosso modo de vida está destruindo o planeta,
precisamos rever nossos conceitos, nossos meios de produção, de distribuição,
de uso e de descarte. Nesse sentido, o design entrelaça-se com três pontos
sustentáveis em especial: o social, o ambiental e o econômico. Vemos que
para buscar alternativas e articular mudanças subjetivas e objetivas é preciso
primeiramente legitimar socialmente essa postura. O indivíduo, independente
de sua profissão, precisa se relacionar com os ideais sustentáveis para assim
colocá-los em prática e, como mostrado para o designer, essa postura é
imprescindível.
        Entretanto, entendemos que ao se identificar com as noções
sustentáveis e desejar que estas façam parte de sua vida, a prática passa a ser
uma grande problemática. Um exemplo bastante banal na área gráfica é o do
papel reciclado. Inúmeras marcas no mercado intitulam-se “eco”, mas não
usam em sua composição nem 1% de papel pós-uso. Claro que a reutilização
das aparas e sobras de produção é importante, mas alertamos para a busca de
informação para conhecermos o que estamos realmente produzindo e
consumindo.
        Ainda utilizando o exemplo do papel, abordamos a viabilidade de talvez
aumentar o custo de uma peça em 10% sem avaliar realmente o “lucro”
ambiental dessa ação. Ratificamos, assim, que a prática sustentável exige mais
que boa vontade, é fundamental um envolvimento profundo com dedicação ao
estudo e a pesquisa.


8
  LEONARD, Annie. The history of stuff. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k>. Acesso em: 15 abr. 2010, 16:24.
33



         O designer brasileiro Dalcacio, em entrevista recente a revista
ABCDesign, foi questionado sobre a questão do custo dos projetos
sustentáveis:

                        Custo sempre foi um empecilho, para produto sustentável ou não.
                        Com certeza, e você tem toda razão, precisamos mudar e rever
                        muitos valores e conceitos, mas para que os produtos sustentáveis
                        “decolem” não podemos nos basear “apenas” numa mudança de
                        valores, precisamos também da ajuda do governo para incentivar,
                        facilitar e legislar em favor de empreendedores com esta visão. Nós
                        designers também podemos e devemos fazer muito, primeiro
                        precisamos nos informar mais sobre o tema, incentivar o
                        desenvolvimento de projetos sustentáveis dentro das universidades
                                                                                9
                        e formar novos designers com estes valores (REIS, 2010 ).

         Entendemos que a questão econômica é um fator importante. A
sociedade capitalista é voltada para fins e não para meios, a racionalidade do
nosso sistema econômico é amoral. Assim sendo, podemos identificar nessa
postura um grande problema sustentável, pois argumentos subjetivos não são
aceitos. Contudo, por outra ótica é uma oportunidade, pois qualquer projeto
que seja eficiente para o capital será aceito. Ser sustentável ou não, será uma
escolha dos profissionais responsáveis pelo seu desenvolvimento.
         Apesar do modo de exposição simplista sabemos que existem muitas
barreiras a serem transpostas. A luta sustentável ganhou corpo a partir de 1960
quando os movimentos ecológicos começam a alertar a sociedade sobre a
problemática “o principal mérito dos movimentos ecológicos terá sido plantar a
dúvida nas consciências dos governantes e da população” (KAZAZIAN, 2005,
p. 23). Existe muito a ser realizado, modificado e até mesmo destruído a fim de
alcançar o que certamente seria o nosso ideal:

                        [...] num futuro que espero estar bem próximo, não precisaremos falar
                        em „design para a sustentabilidade‟ ou mesmo ecodesign, falaremos
                        simplesmente „design‟, no qual já estará embutido todo um
                        pensamento mais saudável e sustentável (REIS, 2010).

         Acreditamos que o design deveria ser símbolo de sustentabilidade,
responsabilidade, desenvolvimento e inclusão. Porém, a realidade não condiz
com nosso anseio. Sendo assim utilizamos expressões que desejamos que se
tornem, o mais breve possível, uma redundância.

9
  Disponível em: <http://abcdesign.com.br/design-de-produto/entrevista-dalcacio-reis/> Acesso
em: 06 out 2010, 22:23.
34




       4. Análise



         Com o intuito de entrelaçar a teoria apresentada à prática do design
gráfico iremos realizar uma análise sustentável de uma campanha de ação
social, tendo como base os cinco pilares da sustentabilidade de Sachs (2004).
Primeiramente, explanaremos sobre cada um dos pontos para na sequência
apresentar o objeto e sua análise.
         O pilar social refere-se à problemática da desigualdade e o desrespeito
aos direitos universais humanos:

                         Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si
                         e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário,
                         habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e
                         direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez,
                         viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência
                         fora de seu controle (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
                                     10
                         HUMANOS , Artigo XXV - Parágrafo 1, 1948).

         A questão social é fundamental para a sustentabilidade, pois apenas
uma comunidade com acesso aos seus direitos vitais básicos tem a
possibilidade de se gerir ao longo do tempo.
         O quesito ambiental é o mais divulgado pelos meios de comunicação,
já que as alterações climáticas que o globo terrestre vem sofrendo não são
possíveis de serem ignoradas. Ainda é importante ressaltar que a temática é
duplamente alarmante, tendo em vista que exaurimos o planeta para abastecer
o sistema produtivo, e após inúmeros processos físicos e químicos devolvemos
os resíduos em formas complexas e tóxicas. A falta de soluções efetivas
mostra que o discurso está em alta, mas a prática é com certeza insuficiente.
         O pilar territorial abrange a distribuição geográfica dos recursos e
meios de subsistência das populações. Sabemos que globalmente existem
regiões de pobreza generalizada como a África e o Oriente Médio, porém


10
    Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>.
Acesso em: 13 nov. 2010, 17:14.
35



diminuindo o panorama sempre é possível identificar novas regiões
marginalizadas. No Brasil, especificamente, poderíamos citar o Nordeste.
Diminuindo ainda mais a área, para uma abordagem estadual, a região sul do
Rio Grande do Sul seria a área flagelada. Neste sentido, a valorização territorial
busca a igualdade de oportunidades entre as áreas e suas comunidades.
         O ponto econômico é fundamental para a instauração das noções
sustentáveis, pois estamos imersos em um sistema capitalista e apenas
práticas que favoreçam – ou pelo menos considerem - a economia, possuem
possibilidade de tornarem-se fortes e universais.
         O último pilar é o político, colocando a democracia como base para a
sustentabilidade, tendo em vista a valorização da liberdade dos indivíduos. É
necessário a apreciação do posicionamento político nas comunidades, para
assim estas terem capacidade e possibilidade de buscar a melhoria da
qualidade de vida contínua.
         O objeto de análise escolhido é a Campanha do Agasalho do Governo
do Rio Grande do Sul11, que arrecada em todo o estado: roupas, cobertores e
alimentos não perecíveis. A escolha da ação se deu pelo seu reconhecimento
popular e, por a partir de 2009 ser realizada por uma agência especializada,
diferentemente dos anos anteriores quando era desenvolvida pelo comitê da
primeira-dama.
         Escolhemos para a análise o cartaz de divulgação da campanha de
2010 (Figura 4), acreditamos ser esta a peça principal - de design gráfico - para
a promoção da ação, além de representar a temática geral da ação.




11
   Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/portal-social/19,0,2916442,Campanha-
do-Agasalho-2010-e-lancada-no-Rio-Grande-do-Sul.html>. Acesso 14 nov. 2010, 18:53.
36




Figura 4: Cartaz Campanha do Agasalho (2010)
Fonte: GOOGLE. Palavra de busca: campanha do agasalho, 2010.




4.1 Análise sustentável



        Social
        O pilar social está no próprio objetivo da campanha - promover a
distribuição de roupas, cobertores e alimentos para a população carente -
proporcionando condições de sobrevivência durante o rigoroso inverno gaúcho.
Acreditamos ainda que ao receber doações de todos e qualquer cidadão a
relação social é fortalecida, pois não há distinção entre os doadores.
37



        Ambiental
        A iniciativa trabalha nos dois pontos ambientais: extração de matéria-
prima e descarte de resíduos. Promove o aumento da vida útil das peças de
roupas e cobertores - que ao invés de serem descartadas e acumularem-se em
algum    lixão   são   realocadas   e   utilizadas   novamente   –   e   assim,
consequentemente, promove a diminuição do consumo de matéria-prima.
        Quanto à peça propriamente dita (cartaz) não há indícios de uma
preocupação ambiental no projeto, o formato utilizado é o tradicional A3, a
impressão é em quatro cores e o suporte é um papel branco de gramatura alta.
Porém ressaltamos que a peça é eficiente para se chegar ao objetivo da
campanha, apresenta qualidade estética e de comunicação, assim por este
ângulo pode ser considerada sustentável.


        Territorial
        A campanha objetiva arrecadar roupas, cobertores e alimentos não
perecíveis em todo o estado e distribuir nas regiões que apresentam condições
precárias de subsistência. Quanto à distribuição as informações são bastante
precárias, não sendo do nosso conhecimento especificidades sobre o
processo, sabemos apenas que é destinada uma porcentagem da arrecadação
para instituições assistenciais e outra para distribuição por parte das
prefeituras.
        Ainda relacionado ao território, os canais de coleta abrangem tanto o
setor privado quanto o setor público, colocando pontos nas prefeituras
municipais e em empresas parceiras; pensamos que nesse sentido ocorre uma
distinção, pois não são todas as empresas privadas que possuem o direito de
terem um posto de coleta. Obviamente existem questões econômicas e de
logística para o fato, porém é uma forma de exclusão.


        Econômico
        Em relação ao cartaz, como visto no pilar ambiental, a peça é bastante
tradicional, sua configuração não aparenta primar pela economia, porém em
termos de meios de comunicação, o cartaz é um modo econômico e eficaz de
divulgação.
38



        Analisando pela ótica dos produtos doados vemos que a economia é
alcançada de maneira indireta – através das doações – tendo em vista que se
instiga a doação de roupas, cobertores e alimentos que não são essenciais
para uma parte da população, para repassar para a população que necessita
destes para sobreviver.


        Político
        O pilar político é o menos palpável, tendo em vista que para Sachs
(2004) sua base está na difusão da democracia e da liberdade. Mas de
maneira indireta, vemos que ações que promovem a igualdade social
alavancam também a liberdade, pois com a sobrevivência garantida o ser
humano tem o direito a escolha.


        Resultado
        A partir da análise sustentável realizada, elaboramos uma tabela de
classificação dos pilares em relação a sua presença na peça, usaremos a
mesma estrutura na análise da produção prática do projeto.




Quadro 1: Análise Sustentável Campanha do Agasalho (2010)
Fonte: pesquisa direta, 2010.


        Considerações
        A Campanha do Agasalho 2010 trabalha o universo lúdico através da
imagem simbólica das múmias. Historicamente, referem-se aos cadáveres
egípcios que passavam por vários processos químicos antes de serem
39



sepultados, permitindo assim a conservação dos corpos por séculos.                      As
múmias popularmente tornaram-se personagens clássicos de filmes de terror e
até mesmo de desenhos animados como Scooby-Doo12.
         O terror transforma-se em diversão, através da composição de uma
imagem colorida, alegre e com grande simbologia social. As crianças
transmitem jovialidade e a fantasia utilizada por elas configura-se através da
composição de vários pedaços de roupas, simbolizando a união da
comunidade em prol do combate ao frio, demonstrando a importância da
participação de cada indivíduo no processo.
         O slogan da campanha “Não deixe o frio assustar nesse inverno”
reforça o objetivo de doação e dialoga com a simbologia de terror trabalhada
na ação. Além das mensagens verbais e não verbais de imagem, usa-se a
fonte como elemento gráfico, com um tipo fantasia e classicamente utilizado
para peças e produtos de terror, a agressividade da fonte é neutralizada
através de sua cor que remete mais ao lúdico e a diversão.
         A visualidade geral da peça é bastante limpa, apesar do uso de cores
vibrantes e contrastantes. O resultado é obtido através da redução de informações
e elementos, do uso de espaços livres e de uma organização eficiente. A
mensagem é clara e direta, de fácil entendimento e grande apelo visual.
         De acordo com Niemeyer (2003) classificamos o processo de
comunicação como manipulação, tendo em vista que “o objetivo do gerador é
que o interpretador proceda algum tipo de ação. Há, portanto, um componente
persuasivo prévio na mensagem” (2003, p. 25) e usa-se a tática da sedução
“em que há a tentativa e evocação de envolvimento afetivo” (2003, p. 26).
         Acreditamos que a peça gráfica é adequada para a ação e consegue
fugir do comum, através de uma visualidade inovadora. O uso da tipografia
fantasia para o título, ano e slogan exige um cuidado bastante expressivo por
seu caráter agressivo. Contudo, através do uso da cor - como mencionado
anteriormente - se consegue um resultado positivo, reafirmamos assim a
qualidade da peça e de sua contribuição para o fortalecimento da campanha.

12
    Scooby-Doo é um desenho animado americano produzido pela Hanna-Barbera, criado no
ano de 1969 por Iwao Takamoto (WIKIPÉDIA). Os personagens Fred, Velma, Daphne e
Salsicha, e o cão Scooby-Doo, investigam casos misteriosos em lugares inóspitos, misturando:
terror, comédia e fantasia.
40



       O    design   é   uma   ferramenta    claramente   utilizada   para   seu
fortalecimento junto à sociedade, com um trabalho bastante coeso e uma
identidade adequada, a ação apresenta um volume crescente de participação
popular e dos setores públicos e privados.
41




5. Prática



           Como objeto de análise utilizamos o estágio realizado pela graduanda,
no Programa Vizinhança da Pró Reitoria de Extensão e Cultura da
Universidade Federal de Pelotas. Salientamos que, com o intuito de amparar o
trabalho realizado, a mesma está lotada no SulDesign Estúdio 13 – projeto de
extensão do Instituto de Artes e Design - sob a supervisão da coordenadora
Lúcia Weymar e da direção de arte do técnico Guilherme Tavares.
           O vínculo com a PREC deu-se a partir do mês de agosto do ano de
2010. O objetivo principal do grupo está no desenvolvimento da identidade
visual do Programa Vizinhança. Assim como atender as demandas geradas
nos diversos projetos que o integram – sendo principalmente peças referentes
à comunicação e a propaganda –.
           O Programa Vizinhança14 começou suas atividades em maio de 2009,
tendo       como      objetivo     geral     promover       intervenções      comunitárias
interdisciplinares na área vizinha ao Campus Porto da UFPel, disponibilizando
o acúmulo de conhecimento da universidade, com vistas a melhorar a
qualidade de vida daqueles que ali residem.
           A região referida é composta pelas comunidades da Balsa, Ambrósio
Perret, parte da Várzea, fronteira com os bairros Fátima e Navegantes
(especificamente as moradias à margem do Canal São Gonzalo e do Canal do
Pepino, popularmente denominados “sem-terra”), ainda soma-se algumas
moradias na área de pescadores (Estrada do Engenho) e da área portuária. A
difícil delimitação da área de atuação do programa se dá pela constituição precária
da região, contudo acredita-se que a população atendida é de 30.000 cidadãos.
           A população da região sofreu um duro golpe econômico e social
quando em 1991 o frigorífico Anglo encerrou suas atividades no local, levando
consigo diversas empresas menores instaladas nas proximidades. Com a
13
     Denominado Escritório Experimental de Design Gráfico até o segundo semestre de 2010.
14
     Informações retiradas do catálogo do Programa Vizinhança, que será publicado em 2011.
42



quebra das empresas e o enfraquecimento do porto de Pelotas ocorreu o
desemprego massivo da comunidade. Uma vez que o desenvolvimento da
região se deu no entorno deste núcleo produtivo (Figura 5), e por causa dele, a
partir da ocupação ilegal (posse), em condições precárias de infra-estrutura
como: esgoto, água potável, eletricidade e transporte coletivo, situação que se
mantém ainda hoje.




Figura 5: Reportagem do Diário Popular, dezembro de 1943.
Fonte: arquivo Programa Vizinhança



         Através da recuperação da história da localidade entende-se a
importância simbólica atual das instalações do Frigorífico Anglo. Prédio em que
a reitoria da universidade se instalou em 2008. Este local promoveu a
subsistência da comunidade durante quase meio século, ao se instalar no
prédio a UFPel acredita ter como dever moral e ético, restituir a dignidade e
promover através da educação a reintegração social e econômica da
sociedade.
43



         Ressaltamos que ao se instalar no prédio a universidade foi
recepcionada com a banda de um dos colégios locais, o Ferreira Viana, por
dirigentes locais e parte da comunidade, mostrando a receptividade para a
instituição. Porém, há também, situações de conflito entre os pólos, a UFPel
realizou um contrato com um grupo comercial privado para a exploração do
local, assim se realizou mudanças estruturais no entorno do antigo prédio que
prejudicaram a comunidade da região.
         Na frente do prédio do antigo frigorífico há um grande terreno baldio
que apresenta em seu entorno arborização. Este espaço era utilizado para o
lazer da comunidade, porém com as reformas, os entulhos oriundos do
processo, foram depositados neste local. Apesar do terreno ser de propriedade
privada, essa atitude é prejudicial em vários sentidos, retira a possibilidade de
lazer da comunidade, promove uma paisagem de descaso, auxilia na
degradação ambiental e maximiza a possibilidade de proliferação de animais
peçonhentos e prejudiciais a saúde humana.
         Outro fato de grande relevância é a separação da comunidade da área
da universidade por um muro de concreto, que segrega o bairro da instituição,
cortando a região a partir da margem do arroio pelotas em direção ao bairro.
Na rótula que dá entrada a UFPel tem-se uma abertura que permite o tráfego,
mas sua largura é tão restritiva que não permite a circulação de dois veículos
ao mesmo tempo.




Figura 6 Panorama da região
Fotos: Ana Maria Dacol, 2010.
44



         Ambas as situações relatadas são apontadas como ações da empresa
privada associada à universidade15, contudo acreditamos que a UFPel deve se
posicionar em relação a situação e tomar atitudes que mostre para a
comunidade seu real comprometimento com a melhoria da sua qualidade de
vida e com o desenvolvimento includente da população.
         Internamente, o Programa Vizinhança também tem uma importância
significativa, pois pretende instituir a prática da extensão na universidade de
maneira efetiva, como exposto no propósito geral do setor 16: “A extensão é o
processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de
forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e
a sociedade”.
         Assim, o programa é constituído de diversos projetos oriundos das
unidades acadêmicas da UFPel, o objetivo é que cada unidade esteja presente
no programa. Atualmente, possuímos por volta de dez projetos, oriundos de
diversas áreas como: odontologia, arquitetura, administração, letras e design.
Cada unidade ou curso desenvolve um projeto que promove a integração social
da instituição e da comunidade, assim como o desenvolvimento social da
comunidade pelotense.
         Nosso papel nesse sentido é desenvolver uma identidade que integre
esse universo fragmentado, fortalecendo sua ação, tanto para a comunidade
universitária quanto para a sociedade em geral.




15
   Não há informação sobre a manutenção dessa parceria ou de sua dissolvição. Mas por
observação não se tem indícios da presença da referida empresa.
16
   Disponível em: <http://prec.ufpel.edu.br/>. Acesso em: 18 out. 2010, 23:02h.
45



5.1 Briefing



Cliente: Programa Vizinhança
Serviço: Projeto de extensão


DADOS DO CLIENTE


A. Perfil do cliente
Atividade: programa social
Percurso histórico da organização: início das atividades em maio de 2009;
financiamento do MEC através do PROEXT para 2010.
Objetivos da organização a curto, médio e longo prazo: em curto prazo
fortalecer a identidade interna do grupo, médio prazo ser reconhecida pela
comunidade como um programa de integração com a universidade e a longo
prazo tornar-se referência de extensão universitária e trazer desenvolvimento
econômico e social para a região do porto.


B. Público-alvo


Perfil do público: comunidade em situação de risco, com renda per capita de
até um salário mínimo, em condições precárias de moradia e de subsistência.
Qual a imagem que a organização tem do seu público? Cidadões
marginalizados e pouco favorecidos pelas ações sociais governamentais.


PROJETO
A. Requisitos


ObjetivoProblema a ser resolvido: Identificar o programa internamente e
externamente.
Principal diferencial a ser explorado: relação entre a comunidade e
universidade.
Conteúdo    conceitual   que   obrigatoriamente   deve   estar   na   proposta:
relacionamentovizinhança.
46



RESTRIÇÕES


Valores negativos a serem evitados: diferença social, hierarquia.
Preferências a fotografias ou ilustrações? Recomendado uso de ilustração.
Quadro semântico referente a valores desejáveis da organização:




Quadro 2: Quadro semântico
Fonte: pesquisa direta, 2010.



5.2 Identidade Visual



         O principal objetivo do estágio no Programa Vizinhança configura-se no
desenvolvimento da identidade visual do programa definido como “o conjunto
de imagens composta pela marca e os elementos visuais adicionais que
combinados transmitem o padrão estético que identifica uma instituição ou um
produto” (MUNHOZ, 2009, p. 11).


         Logotipo
         A primeira peça produzida foi o logotipo da organização. Com o objetivo
principal de transmitir o conceito de relação de vizinhança, trabalhamos com a
47



fonte Alice de autoria de Carolina Moraes Marchese17. A tipografia possui a
característica de união entre os caracteres pela junção18 da fonte, essa estrutura
permite a transmissão do conceito de vizinhança, elementos lado a lado que se
unem e criam algo maior.
         Ressaltamos que a fonte Alice foi utilizada como ponto de partida, sua
estrutura foi trabalhada (Figura 7) para aumentar sua legibilidade, maximizar o
conceito defendido e tornar o logotipo um elemento mais coeso.




Figura 7: Logotipo em construção.
Fonte, pesquisa direta, 2010


         Para a palavra “Programa” optou-se por uma fonte bastão, de alta
legibilidade e menor peso estético: Century Gothic com bold. Sendo uma
tipografia com alto grau de legibilidade, podemos utilizá-la com o corpo bem
menor que a palavra “vizinhança” e mesmo assim alcançar uma redução
máxima adequada. E por ser uma fonte bastão, com uma estrutura vertical
aguçada e bastante neutra, não ocorre a interferência negativa de uma palavra
com a outra.
         Optamos por um alinhamento à direita e pelo preenchimento padrão da
cor preta. Quanto a questão cromática não há a proibição do uso de qualquer
cor, desde que seja chapada e apenas uma (é vetado o uso de degradês ou
cores diferentes nas duas palavras componentes do logotipo).




17
   Graduanda de Design Gráfico da Universidade Federal de Pelotas. Disponível em:
<http://www.diariopopular.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?id=6&noticia=17408>.
Acesso em: 10 ago. 2010, 02:05.
18
   Elemento da base da fonte, a junção é uma parte da serifa.
48



Logotipo principal:




Redução máxima:




Logotipo secundário, com indicação da ação específica:




        Ilustração
        Como exposto no logotipo optamos por uma abordagem conceitual da
temática, porém, havia a necessidade de se criar um elemento com
características   representativas.   Assim,   desenvolvemos   uma   ilustração
independente do logotipo, mas que deve ser utilizado nas peças do programa
sempre que possível.
        A intenção da ilustração é representar a região do Porto, contendo e
ressaltando os elementos: prédio da universidade, arroio pelotas e as casas
(configurando assim a vizinhança). Tendo em vista, a complexidade e o volume
de elementos que poderiam ser representados, optou-se por uma ilustração
linear, que cria apenas o contorno dessa região.
49



        Mas, durante o processo de criação, foi solicitado o acréscimo de mais
detalhes, como pessoas e animais, para tentar satisfazer os anseios do grupo.
Uma questão importante foi a troca da estrutura do prédio, que representa a
UFPel (Figura 8), a princípio       se utilizou como referência o prédio que a
comunidade estudantil utiliza para entrar no complexo, porém trocamos a
referência para o lado do prédio orientado para a comunidade, pois apesar do
muro tapar sua visão global o telhado desta parte é bastante característico.




Figura 8: Prédios do Campus Anglo
Fotos: Ana Maria Dacol, 2010.

        Outro aspecto trabalhado inúmeras vezes foi a representação do
arroio, tendo em vista que geograficamente é o aspecto mais marcante e por
ser para a comunidade uma fonte de renda, alimentação e lazer. Na ilustração,
não há divisões, os elementos estão lado a lado, configuração que esperamos
ser alcançada tanto fisicamente quanto culturalmente.

Estudos da ilustração:
50



Resultado final da ilustração:




5.3 Aplicativos


        Durante o estágio desenvolvemos aplicativos para o fortalecimento da
identidade visual do programa e seu reconhecimento, primando neste primeiro
momento pela comunidade universitária.


        Pôsteres
        Para a apresentação de trabalhos acadêmicos em eventos normatizou-
se o leiaute dos pôsteres, composto por uma orla que apresenta na base a
ilustração do programa, preenchida com a cor referente à unidade acadêmica
oriunda e o cabeçalho, que apresenta o logotipo do programa, a identificação
da PREC e o brasão da universidade.
        O primeiro evento em que utilizou-se o padrão foi para o 28º Seminário
de Extensão Universitária da Região Sul (SEURS), em que o modelo sofreu
algumas adpatações para adequar-se as exigências do evento.
        Ressaltamos que nesse pôster utilizamos a versão anterior da
ilustração final, tendo em vista que precisamos produzir peças durante o
processo de criação da identidade visual.
51




Dimensão original: 1,2 x 1 m

           A iniciativa repercutiu de maneira positiva no grupo, uma vez que os
avaliadores do seminário observaram a aplicação do padrão e elogiaram a
iniciativa. Para este evento, foram produzidos três banners, apesar de não ser
de nosso conhecimento o número total de trabalhos apresentados, sabemos
que é maior do que o número de peças projetadas. Acreditamos que a não
adesão à identidade é devido ao fato do custo da produção (R$) ser de
responsabilidade do grupo ou estudante apresentador, além da resistência de
se passar o conteúdo do trabalho para outra pessoa (estagiária) realizar a
criação.
           O evento seguinte em que produzimos banners foi para o XIX
Congresso de Iniciação Científica (CIC) da UFPel. Neste caso, tivemos de
52



adaptar o modelo do Vizinhança ao modelo do evento (disponibilizado o site do
congresso), este possuía duas barras uma no cabeçalho e outra no rodapé na
cor da identidade visual. No cabeçalho, além da barra, havia o logotipo do
evento. Desta maneira, utilizamos a orla do modelo anterior, já com a ilustração
definitiva e com a cor padrão do CIC, desta forma, não fizemos a referência
cromática ao curso.




Dimensão original: 1 x 0,9 m


         Camisetas


         Para a conclusão do ano foi solicitado o desenvolvimento de uma
proposta de camiseta para o programa. As camisetas serão produzidas para os
membros do grupo, porém o desejo é fortalecer as ações na comunidade,
identificando os estudantes como integrantes do Programa Vizinhança.
         A proposta inicial foi desenvolvida a partir da meta de criação de uma
aplicação diferenciada dos dois elementos institucionais – logotipo e ilustração
53



– para uma estampa para camisetas. Nós entendemos que o Vizinhança é um
projeto sustentável, que trabalha para estruturar socialmente uma região, ou
seja, deseja criar um mundo novo para a área do Porto, assim desenvolvemos
uma ilustração onde a base linear transforma-se em um globo, que possui em
seu centro o logotipo do programa.




        Esta proposta não foi aceita, os dirigentes entenderam que a ilustração
diferenciava-se demasiadamente da identidade visual do programa. E que o
objetivo da peça é marcar a presença do programa, sendo assim não exercia a
principal função.
        Na segunda proposta, trabalhamos com a ilustração em seu formato
original. O principal receio referiu-se a sua posição na peça, de modo a não
trazer desconforto para os usuários (marcar a barriga ou o colo). Salientamos
54



como principal ganho da segunda proposta a redução de duas cores para uma,
assim como um resultado mais simples.
55



5.4 Avaliação sustentável




         Analisaremos por fim, nossa produção, de acordo com os princípios
sustentáveis, classificando-a a partir do quadro desenvolvido para a análise da
Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do Sul.




Quadro 3: Análise sustentável da prática do Programa Vizinhança
Fonte: pesquisa direta, 2010.



         O Programa Vizinhança é um projeto que prevê o desenvolvimento
social através da revitalização da comunidade do Porto. Nas peças
desenvolvidas reafirmamos o compromisso, tendo o aspecto das relações de
vizinhança permeando a identidade institucional e seus aplicativos.
         Quanto ao quesito ambiental acreditamos que o logotipo e a ilustração
contemplam a questão, pois configuram-se de maneira bastante simples,
utilizam poucas cores e podem ser utilizados de forma monocromática sem
prejuízos estéticos.
         No caso das aplicações, ressaltamos que, quanto aos pôsteres não
decidimos o formato e nem o acabamento, tendo em vista que atendia as
exigências dos eventos e a questões pessoais dos apresentadores, uma vez
que a produção era de sua responsabilidade. Para as camisetas projetamos
dois modelos, um com o uso de duas cores e outro com uma cor, em
camisetas brancas de algodão, pensamos que nesse aplicativo alcançamos o
quesito ambiental de maneira mais efetiva.
56



       Acreditamos que o princípio territorial é fortemente trabalhado, pois é
contemplado na própria estruturação do programa, que visa o trabalho em uma
determinada área de risco social, com o intuito de promover sua inclusão social
e econômica na cidade. A ilustração institucional prevê o reforço do
compromisso ao representar geograficamente a região, objetivando a
identificação das pessoas com o projeto.
       O aspecto econômico novamente é parte do objetivo do Programa
Vizinhança, a atuação da universidade procura capacitar os moradores para o
mercado de trabalho e oferece serviços – ginástica, esporte, entretenimento –
que geralmente são cobrados de forma gratuita. Nas aplicações reafirmamos
que os aspectos de cor – indicados quanto à questão ambiental – trazem
benefícios econômicos. Nos aplicativos, a situação também se repete, nos
pôsteres por não ser de nossa responsabilidade, nosso poder de decisão foi
comprometido, e nas camisetas trabalhamos pensando neste aspecto. A
camiseta branca é a de menor custo, reduzimos o número de cor no modelo
aceito e trabalhamos com duas impressões.
       Para finalizar, avaliamos o pilar político que apresenta-se de maneira
menos direta. Sua identificação nas peças é possível através do entendimento
de que ao promover uma comunidade socialmente, estamos possibilitando a
difusão da democracia e assim da inclusão política dessas pessoas.
57




6. Finalizações


       Nosso objetivo neste capítulo é alinhavar ideias, sintetizar nossos
principais anseios e mostrar ao leitor as reflexões latentes sobre a temática.
Iremos apresentar um panorama geral da pesquisa, indicando as zonas mais
relevantes da discussão proposta. Relataremos também as dificuldades e
limitações enfrentadas, assim como nossas pretensões para o futuro.



6.1 Considerações


       O objetivo desta pesquisa foi investigar se é possível o design
configurar-se em instrumento promovedor do desenvolvimento social a partir da
perspectiva sustentável e como dá-se este processo. Acreditamos que, ao
longo do trabalho, reafirmamos que o design pode ser utilizado como uma
ferramenta para a promoção de causas sociais – através da teoria
apresentada, da análise realizada e da nossa própria produção –. Afirmamos
também que ao longo dos capítulos fomos contemplando nossos objetivos
específicos, comprovaremos a afirmação a seguir.
       Começamos por uma introdução ao campo do design até chegarmos a
nossa especialidade: o design gráfico. Decidimos por essa conceituação por
anseios pessoais de delimitação e localização, assim como para realizar um
pequeno levantamento histórico da nossa profissão. Dentro do mesmo capítulo
procuramos salientar o aspecto social do design, sua relevância profissional e
de postura ética para com a sociedade.
        No capítulo seguinte, trabalhamos com as noções sustentáveis,
apresentando pontos importantes sobre esta área em construção, sendo
importante (re)afirmar que para nós o desenvolvimento sustentável perpassa
os cinco pilares conceituados por Sachs (2004) – social, ambiental, econômico,
territorial e político –. Na seção sequente entrelaçamos a temática sustentável
com o campo do design, ressaltando os aspectos positivos da aproximação
58



entre as áreas e sua importância para a construção de um ambiente mais
saudável para vivermos.
        Realizamos, para uma apresentação mais prática, a análise da
Campanha do Agasalho do Rio Grande do Sul, a fim de comprovar a
importância do design em ações filantrópicas e sociais. Confrontamos também,
a peça representante da campanha, com as bases sustentáveis, identificando
uma postura de acordo com os princípios de Sachs (2004).
        Para atingir o último objetivo específico apresentamos a prática
desenvolvida dentro do Programa Vizinhança e o analisamos à luz da
perspectiva sustentável. Evidenciamos que procuramos desenvolver uma
identidade visual em concordância com as exigências e necessidades
relatadas, com o intuito de fortalecer o programa dentro do meio estudantil e
para a comunidade em geral.
        Nosso principal anseio – que fica – é o de ajudar a promover a
consciência crítica do profissional do design. Entendemos nossa importância
na construção social, e acreditamos que podemos utilizá-la de diferentes
modos e assim provocar diferentes reações, pensamos que o desenvolvimento
sustentável é um caminho para se obter um ambiente mais agradável e por
isso o recomendamos.



6.2 Limitações


        As limitações colaboraram para a configuração final desta pesquisa,
sendo um elemento limitador, porém formador, relataremos os pontos
identificados como os mais significativos:
        •     Tempo – a duração de um semestre para a investigação limita
sua abrangência e os métodos para sua realização, exigindo uma redução do
campo de análise, dos objetivos e dos resultados.
        •     Análise    –    procuramos     a   agência   responsável   pelo
desenvolvimento da Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do
Sul. A princípio, obtivemos resposta, porém o contato foi interrompido, assim
realizamos com informações levantadas na internet.
59



          •    Prática – a realização da prática da pesquisa se deu no local de
estágio da graduanda, assim esteve suscetível às limitações impostas pela
organização.    O principal problema      refere-se   à   informação (objetivos,
necessidades,     operacionalização),    agravado     pelos   fatores:   liderança
compartilhada, tamanho do grupo e o desconhecimento sobre a área do
design.



6.3 Sequência


          Acreditamos na relevância da problemática discutida neste trabalho e
pensamos ser interessante a sua exploração tanto na graduação como na pós-
graduação. É um campo com produção reduzida, ainda, e que é composto por
inúmeros      aspectos   centrais   da   vida   contemporânea.     Sugerimos    o
aprofundamento no campo teórico da sustentabilidade, a exploração da análise
da prática sustentável em diversos setores, assim como a aplicação dos
preceitos sustentáveis em outras especialidades do design e tipos de
organizações.
60




Referências


ABC DESIGN. Entrevista: Dalcacio Reis. Disponível em:
<http://abcdesign.com.br/design-de-produto/entrevista-dalcacio-reis/>. Acesso
em: 06 out. 2010, 22:23h.

ASSOCIAÇÃO DE DESIGN GRÁFICO. Código de Ética Profissional.
Disponível em:
<http://www.adg.org.br/downloads/ADGBrasil_CodigoEtica.pdf>. Acesso em:
27 set. 2010, 15:41.

CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo:
Blucher, 2008.

_______________ (org.). O design brasileiro antes do design: aspectos da
história gráfica, 1870-1960. São Paulo: Cosac Naify, 2005.

DICIONÁRIO MICHAELIS. Palavra de busca: sustentabilidade e sustentável.
Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 26 set. 2010, 16:18.

DURKHEIN, Émile. Pragmatisme et sociologie. Paris: Vrin, 2001.

HOLLANDA, Aurélio. Dicionário Aurélio. Palavra de busca: ideologia.
Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/>. Acesso em: 15 jun.
2010, 23:15.

HOLLIS, Richard. Design Gráfico: uma história concisa. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.

KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves. São Paulo: Senac,
2005.

LEONARD, Annie. The history of stuff. 2007. Vídeo disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k>. Acesso em: 15 abr. 2010,
16:24.

MUNHOZ, Daniella. Manual de identidade visual: guia para construção. Rio
de Janeiro: 2AB, 1ª ed. 2009.

NETO, Wladimir. O Design do Nazismo. 2008. Disponível em:
<http://wladimirneto.blogspot.com/2008/08/o-design-do-nazismo.html>. Acesso
em: 10 nov. 2010, 04:18.
61



NIEMEYER, Lucy. Elementos de semiótica aplicados ao design. Rio de
Janeiro: 2AB, 2003.

PRÓ REITORIA DE EXTENSÃO E CULTURA. Disponível em:
<http://prec.ufpel.edu.br/>. Acesso em: 18 out. 2010, 23:02.

RANGEL, Ângela. Sentidos e direções do design, um roteiro necessário.
2007. 75f. Monografia (Artes Visuais Habilitação Design Gráfico) –
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

REYES, Maria de Lourdes Valente. Design e Comunicação: os objetos como
formas de religação social. 2005. 335f. Tese (Doutorado em Comunicação
Social) - FAMECOS, PUCRS, Porto Alegre, 2005.

RODRIGUES, Márcio. A emergência da sociedade moderna e a
consolidação de uma nova visão de mundo. 2009a. 06f. Artigo (Mestrado
em Administração) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis

__________________. O Ministério da Verdade é uma abstração: Reflexões
e relatos acerca da cumplicidade da mídia com o processo de empresarização
do mundo. 2009b. 16f. Artigo (Mestrado em Administração) – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de
Janeiro: Garamond, 2004.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23 ed.
São Paulo: Cortez, 2007.

THOMPSON, John. Ideologia e Cultura Moderna. Petrópolis: Vozes, 1995.
VILLAS-BOAS, André. O que é [e o que nunca foi] design gráfico. 5ª ed. Rio
de Janeiro: 2AB, 2003.

WIKIPÉDIA. Palavra de busca: scooby-doo. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Scooby-Doo>. Acesso em: 13 nov. 2010, 16:43.
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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS INSTITUTO DE ARTES E DESIGN DESIGN GRÁFICO Trabalho de Conclusão de Curso Desenvolvimento Sustentável Uma abordagem social do design gráfico no Programa Vizinhança HELEN PINHO DE SOUZA PELOTAS / 2010
  • 2. HELEN PINHO DE SOUZA Desenvolvimento Sustentável Uma abordagem social do design gráfico no Programa Vizinhança Monografia apresentada ao Instituto de Artes e Design ao Curso de Artes Visuais Bacharelado em Design Gráfico da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Design Gráfico. Orientadora: Mônica Lima de Faria PELOTAS / 2010
  • 3. 3 Banca examinadora _____________________________________ Profª. Drª. Lúcia Bergamaschi Costa Weymar _____________________________________ Profª. Drª. Maria de Lourdes Valente Reyes _____________________________________ Profª. Me. Mônica de Lima Faria _____________________________________ Profª. Me. Roberta Barros
  • 4. 4 Para todos que pensam seis coisas impossíveis antes do café da manhã (adaptado de alice in wonderland)
  • 5. 5 Agradecimentos Mãe, me orgulho te ser tua filha, tua força é uma inspiração constante. Te ofereço a minha graduação como uma pequena retribuição por toda a dedicação que tens por mim. Amo-te com todo meu coração. Mana, tu és a estrela da minha vida, tua luz me ilumina e me guia, o caminho que trilho é marcado pelos teus passos. Amo-te eternamente, obrigada por me amar da mesma forma e saber tão bem o demonstrar. Pai, a tua simplicidade é invejável, tu consegues encontrar a felicidade no mais trivial acontecimento. Obrigada, amo-te. Marcel, agradeço pelos bons momentos que tu me concedeu, pelas risadas e pelos sorrisos e por compartilhar comigo o Wesley e a Joana, tornaste os meus dias mais fáceis e leves. À roda de chimarrão da Administração – Édila, Talita, Cátia, André, Aline, Renan, Max – minhas saudações por compartilharem momentos agradáveis, tornar as aulas mais atrativas e aumentarem minha capacidade de fazer um bom mate. Aos colegas que foram amigos – Copiador, Henrique, Anta, Rafita, Pi, Carol, Dani, Ana, Cintia, Barbi – todos vocês foram fundamentais para a minha formação, sou grata pelos os momentos que compartilhamos. Sucesso. À Ana, tu és a minha mala querida, obrigada pela amizade leve e sincera, pela tua risada (ela me faz rir) e por cantar comigo “Não dá para controlar Não dá! Não dá prá planejar Eu ligo o rádio E blá, blá Blá, blá, blá, blá Eu te amo!” (Lobão). À Dani, por compartilhar os ideais, por colaborar com o meu trabalho e me incentivar. Por entrar na maior fria – literalmente – do ano comigo, incomodar bastante, me lembrar das aulas e ser tão perdida quanto eu.
  • 6. 6 À Universidade Federal de Pelotas e seus funcionários, que proporcionaram a mim mais do que apenas uma graduação. Aos professores que se dedicaram ao ensino com seriedade, que dividiram seus conhecimentos, e fizeram a diferença. Ao professor Fernando Igansi, por crer na capacidade de seus alunos, nos oferecer oportunidades maravilhosas e pensar mil coisas ao mesmo tempo. A minha homenagem a ti. À professora Lucia Weymar, obrigada por crer na minha capacidade, por me orientar em diversas situações e se mostrar sempre carinhosa. Ao professor Marcio Rodrigues, sou grata por nos dizer “o mundo é um moinho / vai triturar teus sonhos tão mesquinhos / vai reduzir as ilusões a pó” (Cartola), meu querido a minha graduação foi transformada pela tua chegada, obrigada. Desejo que os nossos sonhos possam ser sempre renovados. Á banca, por me tratar com tanto carinho, colaborar para o engrandecimento da minha pesquisa, foi gratificante a experiência. Obrigada. Ao Estúdio Sul Design e ao Programa Vizinhança pelo estágio e a oportunidade de exercer o meu trabalho de acordo com as minhas convicções, por auxiliar no meu amadurecimento sou grata. À querida orientadora Mônica Faria, minha gratidão por ti é imensa, é surpreendente tua dedicação, preocupação e apoio constante. Tu fizeste toda a diferença, muito obrigada.
  • 7. 7 “Têm coisas que tem seu valor Avaliado em quilates, em cifras e fins E outras não têm o apreço Nem pagam o preço que valem pra mim”. Guto Teixeira “Todos têm ideias diferentes sobre o que seja design. Alguns pensam que é a gravata do pai, outros pensam que é a camisola da mãe”. Paul Rand
  • 8. 8 Resumo Vivemos em uma sociedade capitalista, centrada no mercado, extremamente desigual que acaba por marginalizar parte de seu população. Assim esta pesquisa propõe uma reflexão sobre o design e o papel dos designers para a formação da estrutura social, investigamos a capacidade do design se configurar em uma ferramenta de desenvolvimento social, tendo como base os cinco princípios sustentáveis de Sachs – social, ambiental, econômico, territorial e político –. Metodologicamente operacionamos a pesquisa através da abordagem qualitativa e do método hermenêutica de profundidade (THOMPSON, 1995), assim na fase de análise sócio-histórica apresentamos uma pesquisa bibliográfica sobre design gráfico, sustentabilidade e as relações entre os temas, na fase da análise formal avaliamos a Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do Sul sob a ótica do desenvolvimento sustentável e na terceira e última fase do método, interpretação/re-interpretação, apresentaremos a prática desenvolvida no Programa Vizinhança – projeto de extensão de cunho social da Universidade Federal de Pelotas –. Desde modo concluímos que o design pode ser uma ferramenta em prol do desenvolvimento social e que o designer, a partir de um posicionamento crítico, possui a capacidade de colaborar a transformação da estrutura social atual. Palavras-Chaves: design gráfico, sustentabilidade, desenvolvimento social, Programa Vizinhança.
  • 9. 9 Resumen Vivimos en una sociedad capitalista, orientada al mercado, muy al contrario que en última instancia, marginar a parte de su población. Por lo tanto, propone una reflexión sobre el papel del diseño y los diseñadores para la formación de la estructura social, se determinó la capacidad del diseño se encuentra en una herramienta de desarrollo social, basado en los cinco principios del desarrollo sostenible Sachs (2204) - sociales, ambientales, económicos, territorial y política -. Metodologías operacionales para buscar a través del enfoque cualitativo y el método de la hermenéutica de profundidad (Thompson, 1995) sólo en la fase de análisis socio-histórico se presenta una búsqueda en la literatura sobre diseño gráfico, la sostenibilidad y las relaciones entre los temas en la etapa de análisis formal de evaluación Campaña de Invierno del Gobierno de Rio Grande do Sul, desde la perspectiva del desarrollo sostenible y la tercera y última etapa del método, interpretación y reinterpretación-, se presenta la práctica de sarrollada en el Programa Vizinhança - Proyecto de Extensión social de la Universidad Federal de Pelotas -. De esta manera llegamos a la conclusión de que el diseño puede ser una herramienta para el desarrollo social y diseñador que, desde una posición crítica, tiene la capacidad de colaborar para transformar la estructura social actual. Palabras clave: diseño gráfico, la sostenibilidad, el desarrollo social, Programa Vizinhança.
  • 10. 10 Lista de Figuras Figura 1: Áreas do design ............................................................................................ 21 Figura 2: Evento Nazista ............................................................................................. 23 Figura 3: Redesign do semáforo ................................................................................... 25 Figura 4: Cartaz Campanha do Agasalho (2010) .............................................................. 35 Figura 5: Reportagem do Diário Popular, dezembro de 1913 ............................................... 41 Figura 6: Panorama da região ...................................................................................... 42 Figura 7: Logotipo em construção .................................................................................. 46 Figura 8: Prédios do campus Anglo ................................................................................ 48
  • 11. 11 Lista de Quadros Quadro 1: Análise sustentável Campanha do Agasalho (2010) ............................................ 37 Quadro 2: Quadro semântico ........................................................................................ 45 Quadro 3: Análise sustentável do Programa Vizinhança ..................................................... 54
  • 12. 12 SUMÁRIO 1 Introdução ............................................................................................................ 13 2 Design e Design Gráfico ...................................................................................... 18 2.1 Função Social do Design ................................................................................. 22 3 Noções sobre sustentabilidade ......................................................................... 27 3. 1 Design e sustentabilidade .............................................................................. 28 4 Análise .................................................................................................................. 33 4.1 Análise sustentável .......................................................................................... 35 5 Prática .................................................................................................................. 40 5.1 Briefing .............................................................................................................. 44 5.2 Identidade Visual .............................................................................................. 45 5.3 Aplicativos ........................................................................................................ 49 5.4 Avaliação sustentável ...................................................................................... 54 6 Finalizações ......................................................................................................... 56 6.1 Considerações .................................................................................................. 56 6.2 Limitações ......................................................................................................... 57 6.3 Sequência ......................................................................................................... 58 Referências ............................................................................................................. 59 Anexos .................................................................................................................... 61
  • 13. 13
  • 14. 14 1. Introdução A evolução do sistema econômico mundial marcou a história da humanidade de diversas maneiras e uma das mais impressionantes foi a retirada do poder das mãos do Estado para as mãos das empresas. Podemos citar a Revolução Industrial como um marco definitivo desta transição, porém é necessário entender que apenas com o desenvolvimento da sociedade moderna e de sua ideologia racionalista foi possível a criação e o desenvolvimento do sistema econômico vigente e, consequentemente, da estrutura social ocidental. Para tanto, citamos alguns fatos históricos como momentos ímpares para a disseminação e desenvolvimento dos princípios capitalistas, são eles: reforma protestante e movimento iluminista, a já citada revolução industrial e a revolução francesa (RODRIGUES, 2009a). A reestruturação do sistema produtivo e da estrutura social foi fundamental para o desenvolvimento do mundo capitalista e para a mudança na forma de dominação dos indivíduos, que deixa de ser pela força e passa a ser estabelecida pela ideologia1, divulgada na forma de discurso. Como exposto por Rodrigues (2009b), a mídia estabelece uma relação restrita com o discurso, pois é um meio de propagação com abrangência mundial: Com efeito, para que a ideologia possa ganhar generalidade suficiente para homogeneizar a sociedade no seu todo é preciso que a mídia cumpra seu papel de veicular a informação não de um pólo particular a outro pólo particular, mas de um foco central circunscrito que se dirige ao todo indeterminado da sociedade (RODRIGUES, 2009b, p. 04) O discurso é efetivo, pois é realizado de forma pacífica (em oposição, por exemplo, às guerras), gradual e contínua, assim não distinguimos nossos desejos da política vigente de comportamento e encaramos a estrutura social atual como um fato social (Durkheim, 2001). 1 Definição do Aurélio: s.f. Ciência que trata da formação das idéias. / Conjunto de idéias próprias de um grupo, de uma época, e que traduzem uma situação histórica: a ideologia burguesa dicionário.
  • 15. 15 Porém, o sistema capitalista não faz parte da natureza, tampouco as estruturas empresariais. Estes conceitos foram criados, desenvolvidos e sustentados por homens e podem ser modificados pelos homens e para os homens, Kazazian (2005) explicita este pensamento: [...] a empresa poderia estar na origem de uma profunda mutação e passagem de uma sociedade de consumo baseada no produto para uma sociedade de utilização cuja principal modalidade seria o serviço, e que teria por finalidade uma economia leve (KAZAZIAN, 2005, p. 27). Assim sendo, acreditamos que é possível o estabelecimento de uma nova ordem e, principalmente, que a academia tem possibilidades de alavancá- la, através da formação de profissionais qualificados e socialmente críticos. Para tanto, é importante o fomento da pesquisa com caráter transdisciplinar e no desenvolvimento de uma postura profissional responsável. Pensando em um futuro desenvolvido a partir da estrutura vigente, os designers ocupam uma posição de fundamental importância nesta transição. Como afirma Victor Papanek “a única importância, no design, é sua relação com as pessoas” (PAPANEK, 1971 apud KAZAZIAN, 2005, p. 21). Assim suas bases necessariamente têm de estar na ecologia, no homem e na ética: O desenvolvimento sustentável obedece ao duplo imperativo ético da solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exige a explicitação de critérios de sustentabilidades social e ambiental e de viabilidade econômica. Estritamente falando, apenas as soluções que considerem estes três elementos, isto é, que promovam o crescimento econômico com impactos positivos em termos sociais e ambientais, merecem a dominação de desenvolvimento [...] (SACHS, 2004, p. 36). Insere-se aqui um conceito base para o trabalho que se segue, a sustentabilidade possui um escopo maior que a questão ambiental, teoricamente difundida. Para Sachs (2004), há cinco pilares fundadores: o econômico, o social, o ambiental, o territorial e o político. Assim, apesar da questão da sustentabilidade não ser novidade, ainda vemos de modo simplista sua problemática e nossas ações são igualmente parciais. Prova disso é o aumento dos problemas ambientais, o fortalecimento da desigualdade social e o fato de o desenvolvimento ocorrer apenas nos
  • 16. 16 países já denominados desenvolvidos. Deixando claro que, neste trajeto, discurso e ação, existem desconexões, falhas, inverdades: [...] fundamentalistas de mercado, eles implicitamente consideram o desenvolvimento como um conceito redundante. O desenvolvimento virá como resultado natural do crescimento econômico, graças ao “efeito cascata” (trickle down effect). [...] A teoria do “efeito cascata” seria totalmente inaceitável em termos éticos, mesmo se funcionasse, o que não é o caso. Num mundo de desigualdades abismais, é um absurdo pretender que os ricos devam ficar mais ricos ainda, para que os destituídos possam ser um pouco menos destituídos (SACHS, 2004, p. 26). A presente investigação pretende que, a partir da perspectiva sustentável, seja possível instituir o desenvolvimento social em busca de uma estrutura social digna e justa – no presente e no futuro – bem como, demonstrar que o design pode se configurar em uma ferramenta para o alcance deste objetivo. Assim sendo, a questão problema geradora desta pesquisa é: “Como o design pode configurar-se em instrumento promovedor do desenvolvimento social a partir da perspectiva sustentável?”. Para responder esta questão, temos como objetivo geral analisar o design como instrumento promovedor do desenvolvimento social a partir da perspectiva sustentável. Para alcançar o objetivo geral nos utilizamos dos seguintes objetivos específicos: compreender as noções sustentáveis, apresentar o campo do design e do design gráfico, salientar a relevância social do design gráfico, realizar a análise da campanha do agasalho do Rio Grande do Sul através da perspectiva sustentável, aplicar na prática do Programa Vizinhança o design social a partir da perspectiva sustentável. Metodologicamente, pretendemos alcançar o objetivo geral e os específicos fazendo uso da abordagem qualitativa: Quando se fala de pesquisa quantitativa ou qualitativa, e mesmo quando se fala de metodologia quantitativa e qualitativa, apesar da liberdade de linguagem consagrada pelo uso acadêmico, não se está referindo a uma modalidade de metodologia particular. Daí ser preferível falar-se de abordagem quantitativa, de abordagem qualitativa, pois como essas designações, cabe referir-se a conjuntos de metodologias, envolvendo, eventualmente, diversas referências epistemológicas. São várias metodologias de pesquisa que podem adotar uma abordagem qualitativa, modo de dizer que faz referência
  • 17. 17 mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a especificidades metodológicas (SEVERINO, p. 119, 2007). Especificamente, usamos o método proposto por John B. Thompson (1995) denominado hermenêutica de profundidade (HP). Este método possui um caráter cíclico de reflexão teórica e prática, sendo especialmente indicado para estudos na área das ciências sociais e em estudos em que se pretende avaliar de maneira prática a teoria pesquisada e desenvolvida. A HP apresenta-se dividida em três fases: análise sócio-histórica, análise formal ou discursiva e interpretação/re-interpretação: Como eu entendo, a HP é um referencial metodológico amplo que compreende três fases ou procedimentos principais. Essas fases devem ser vistas não tanto como estágios separados de um método seqüencial, mas antes como dimensões analiticamente distintas de um processo interpretativo complexo (THOMPSON, 1995, p. 365). Para a execução da pesquisa, usamos ferramentas que possibilitam a caminhada por todas as fases da hermenêutica e o entrelaçamento entre as mesmas. Na análise sócio-histórica, trabalhamos com a pesquisa bibliográfica, a fim de construir uma base teórica sobre o design, sustentabilidade e desenvolvimento. Na análise formal nos utilizaremos do estudo de caso e da interpretação semiótica. Para a interpretação/re-interpretação, analisamos a prática desenvolvida e sua relação com as etapas anteriores. Explicitamos ainda, sucintamente, como se dá o encaminhamento do leitor por este trabalho. No primeiro capítulo, apresentamos nossa questão problema, objetivos e motivações para a realização da investigação, assim como o processo metodológico utilizado. No capítulo dois, “Design e Design Gráfico”, tratamos das questões formais e conceituais da área, demonstrando a capacidade de aplicação dos conhecimentos teóricos a fim de promover empresas, marcas, ações e especificamente o desenvolvimento social. No capítulo terceiro, “Noções sobre Sustentabilidade”, explanamos sobre o complexo campo do sustentável, seus objetivos, conceitos em
  • 18. 18 construção e abrangência de sua atuação. Trataremos, também, da relação com o design e, consequentemente, com o profissional da área. No capítulo quarto, realizamos a análise sustentável de uma campanha social que objetiva promover o desenvolvimento igualitário. Escolhemos uma ação com abrangência regional, com o intuito de identificar e inferir a relação do design com as mesmas e os resultados identificados. No capítulo quinto, apresentamos a prática realizada no Programa Vizinhança – projeto de extensão da Universidade Federal de Pelotas – local em que a graduanda realiza estágio. O programa visa o estreitamento das relações entre a instituição e a comunidade situada no entorno do campus porto. Desenvolvemos aplicativos gráficos para a criação de uma identidade visual do grupo e analisamos essa prática de acordo com a análise sustentável, utilizada no estudo de caso. Finalizamos com a apresentação das considerações finais e discussões sugeridas ao longo da realização da pesquisa, a fim de fomentar a continuação de estudos na área e do desenvolvimento de práticas que colaborem para o desenvolvimento social e para a criação de uma sociedade justa e includente.
  • 19. 19 2. Design e Design Gráfico O marco histórico do advento do design no mundo é motivo de discussões. Enquanto alguns autores defendem expressões de elementos de design já nas sociedades primitivas, outros só aceitam o surgimento da área após a Revolução Industrial, mas “toda versão histórica é uma construção e, portanto, nenhuma delas é definitiva” (CARDOSO, 2008, p. 17). Contudo, acreditamos que apenas com a transformação da estrutura social, dos meios de produção e do sistema econômico houve a necessidade do design. Cardoso afirma que “o design é fruto de três grandes processos históricos que ocorreram de modo interligado e concomitantemente, em escala mundial, entre os séculos 19 e 20” (CARDOSO, 2008, p. 22), que são: a industrialização, a urbanização moderna e a globalização. Até então, o modo de produção artesanal e de manufatura era suficiente para atender a demanda da sociedade e, segundo Villas-Boas (2003), este tipo de produção não caracteriza um produto de design. Este necessariamente deve ser produzido em escala e especialmente desenvolvido para a sociedade de massas. Outro ponto importante para caracterizar o design é a separação entre o processo produtivo e o projeto (CARDOSO, 2008). Villas-Boas (2003) ainda ressalta a importância do fenômeno da fetichização de Marx para o processo: No mundo da sociedade de massas, uma música não é uma música; um tapete não é um tapete; uma camisa não é uma camisa: são produtos de trabalhos individuais que, pelo trabalho alienado, se configuram em produtos do trabalho social que se relacionam entre si através de um jogo de valores que lhes dá vida própria e que acaba por reger as relações sociais destes mesmos produtos de trabalho individual (ou seja, os homens) (VILLAS-BOAS, 2003, p. 28).
  • 20. 20 Com a mudança no quadro social os objetos que interagem com essa sociedade ganharam valores subjetivos e, nesse contexto, o design tornou-se fundamental. Contudo, vemos que o surgimento da área só foi possível pelo percurso histórico da humanidade durante os séculos anteriores, conceitos aplicados em diversas áreas (arte, arquitetura, literatura, artesanato) foram se desenvolvendo e permitiram o advento do design. No Brasil, a abertura da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) inaugurada em 1963 no Rio de Janeiro é o marco institucional da consolidação da área no país, mas “na verdade, na época da fundação da ESDI pouco tempo depois, já se buscava implantar o ensino sistemático do design no Brasil há mais de uma década” (CARDOSO, 2008, p. 190). As tentativas precedentes mais lembradas foram as realizadas em 1951 no Instituto de Arte Contemporânea do MASP, que funcionou por três anos; a da Escola Técnica de Criação do MAM, nunca consolidada realmente e a realizada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 1962, que criou uma linha de formação de Desenho Industrial no curso de Arquitetura. Porém, Cardoso enfatiza: Enquanto alguns ainda disputam diferenças de meses entre a inauguração dos cursos de graduação da ESDI e da FAU/USP, a grande maioria ignora ou silencia a atuação pioneira de instituições, como o Serviço Nacional da Aprendizagem Industrial (...); a Escola Técnica Nacional (...); o Curso de Desenho a Artes Gráficas da Fundação Getúlio Vargas, (...); a Escola IDOPP, (...); ou até mesmo o velho Liceu de Artes e Ofícios (...). A importância de tais indivíduos e instituições na abertura das atividades ligadas ao design no Brasil é demasiada para ser relegada aos porões do esquecimento (CARDOSO, 2008, p. 196). Assim, compreendemos que a história é mais complexa do que normalmente nos é transmitida. A ESDI é fruto de todas essas tentativas, dos erros e acertos, e ressaltamos que este é apenas o lado institucional: a história do design como prática é ainda mais controverso: Perdura na consciência nacional o mito de que o design brasileiro teve sua gênese por volta de 1960. Como todo mito, trata-se de uma falsidade histórica patente. Como todo bom mito de origem, trata-se de uma verdade profunda (...) Surgiu nessa época não o design propriamente dito – ou seja, as atividades projetuais relacionadas à produção e ao consumo em escala industrial – , mas antes a consciência do design como conceito, profissão e ideologia (CARDOSO, 2005, p. 07).
  • 21. 21 Deste modo, o design já estava sendo praticado anteriormente à década de 1960 no país, principalmente por profissionais estrangeiros e por brasileiros formados no exterior, especialmente nas áreas de embalagem e editorial. Contudo, a profissão é relativamente jovem quando comparada à história da humanidade e de outras profissões. No Brasil, o quadro é mais recente ainda. Por questões culturais, políticas e sociais não temos a formulação conceitual e prática da área claramente resolvida e uma das peculiaridades nacionais já começa na própria nomenclatura: Design é uma palavra inglesa originária de designo (as-are-avi-atum), que em latim significa designar, indicar, representar, marcar, ordenar. O sentido de design lembra o mesmo que, em português, tem desígnio: projeto, plano, propósito (Ferreira, 1975) – com a diferença de que desígnio denota uma intenção, enquanto design faz uma aproximação maior com a noção de uma configuração palpável (ou seja projeto). Há assim uma clara diferença entre design e o também inglês drawing – este, sim, o correspondente ao sentido que tem o mesmo termo desenho (VILLAS-BOAS, 2003, p. 48-49). Desde a instituição da ESDI já se discutia esta terminologia. Procurou- se expressões nacionais mais adequadas e até mesmo a criação de uma nova palavra, mas o estrangeiro termo design foi o mais aceito e difundido. Apesar de questões como o significado inadequado (incompleto) e a soberba natural de termos ingleses no Brasil é improvável que haja uma movimentação capaz de modificar o vocábulo. A importância central dessa discussão - para o presente trabalho - está na subdivisão da área, pois seguindo a tendência mundial do ensino superior os cursos de Desenho Industrial foram progressivamente se desmembrando em cursos específicos e a profusão de áreas dificulta a localização do estudante e profissional dentro do todo. Tendo como base a posição defendida por Villas-Boas, apresentamos na Fig. 1 um esquema da área e principais sub-áreas do design brasileiro. O referido autor se utilizou da terminologia utilizada pelo Ministério da Educação e as resoluções do V Endi (VILLAS-BOAS, 2003):
  • 22. 22 Figura 1: Áreas do design Fonte: adaptado de VILLAS-BOAS, 2003 O Design Gráfico faz parte da sub-área de Programação Visual assim como o Design Informacional e o Design Institucional, e se distingue dos mesmos por questões projetuais e por metodologia de trabalho: É justamente pela busca de uma definição o mais precisa possível (e portanto restrita) que a delimitação do design gráfico envolve quatro aspectos básicos: formais, funcionais-objetivos (ou simplesmente, funcionais) metodológicos e finalmente, funcionais-subjetivos (ou simbólicos). Um objeto só pode ser considerado fruto de design gráfico se responder a estas quatro delimitações (VILLAS-BOAS, 2003, p. 08). Como ressaltado pelo citado autor, o conceito é restritivo, pois em uma realidade um tanto caótica é necessário conceituar para localizar e a partir de uma realidade organizada atender às necessidades heterogêneas das produções. Assim, em um primeiro momento se delimita concretamente o espaço/área, mas o intuito não é a setorização definitiva dos objetos e sim a localização dos indivíduos para um entendimento particular e global: (...) um projeto gráfico é um conjunto de elementos visuais – textuais e/ou não textuais – reunidos numa determinada área preponderantemente bidimensional e que resulta exatamente da relação entre estes elementos (VILLAS-BOAS, 2003, p. 12). Tendo em vista as explanações acima ressaltamos que no presente trabalho analisamos projetos de design gráfico assim como desenvolvemos peças gráficas. Desta maneira a conceituação formal da área e da configuração de seus produtos é valorizada.
  • 23. 23 2.1 Função social do Design A soberania do sistema capitalista e da sua forma de gestão horizontalizou a busca por aspectos, antes ligados apenas a empresas, como: a busca por resultados, eficiência, eficácia e lucro. Esse processo já era apontado por Weber (WEBER, 1982 apud RODRIGUES, 2009) como uma tendência, uma vez que a racionalidade voltada para fins torna-se o centro da administração moderna. Essa racionalidade objetiva faz com que argumentos não mercadológicos não sejam aceitos como legítimos, pois foge da lógica capitalista e, portanto, não é entendida. A dimensão social do design está diretamente ligada a esse fato, pois em um mundo centrado no mercado, não se entende – amplamente – o motivo para uma profissão ter a sociedade como “cliente final” e não o mercado. Contudo, a disseminação da utilização da expressão “design social” potencializa a discussão no meio acadêmico e até mesmo no mercado de trabalho. Enquanto uns crêem que o social está intrinsecamente ligado a área e, portanto, é indissociável da mesma, independente da postura crítica do profissional. Outros vêem que para se ter o lado social contemplado no projeto é necessário uma atuação conscientemente voltada para esta direção. Acreditamos que a consciência2 - característica que nos difere dos demais animais - é um aspecto essencial para o nosso posicionamento no mundo, seja no âmbito profissional ou particular. Independente do lado defendido e os argumentos utilizados, todos, a princípio, são válidos. Um dos momentos ímpares desta polêmica discussão foi a publicação do manifesto First Things First (ANEXO 1) revisado, no ano de 2000 (FTF2000). O documento foi originalmente publicado em 1964, sob autoria do 2 Homo sapiens sapiens – sapiens do latim designa “o sábio” ao repetir o adjetivo, caracteriza a raça hominídea como aquela que possui consciência de sua existência e à racionaliza
  • 24. 24 designer britânico Ken Garland, porém sua repercussão foi tímida. Assim, em 1999 um grupo formado por: Kalle Lasn, Chris Dixon, Tibor Kalman, Ken Garland, Rick Poynor, Max Bruinsma e Rudy VanderLans têm a ideia de reeditar o documento e publicá-lo nas principais revistas de design do mundo (REYS, 2005). O manifesto FTF2000 configura-se de maneira tão importante, pois trava uma discussão direta entre a função social e a mercadológica do design. Acreditamos que seu conteúdo é extremamente relevante para a presente pesquisa, desta forma, a seguir iremos pontuar alguns aspectos considerados fundamentais para uma análise crítica sobre o assunto e disponibilizamos o mesmo na íntegra no Anexo 1 do presente trabalho. No trecho “Existem ocupações mais corretas para nossas habilidades em solucionar problemas. Uma crise sem precedentes do ambiente social e cultural demanda nossa atenção” (ANEXO 1), o designer é colocado como um agente comunicador responsável por sua produção e pelo seu impacto, indo assim diretamente contra a lógica do mercado. Pois, de maneira geral, somos “projetados” (por nossas escolas e mercado de trabalho) para atender os clientes sem questionar, ou no máximo questionar apenas aspectos estéticos. Um exemplo clássico do impacto que uma identidade visual pode provocar é o movimento nazista alemão (1933), é fato que a ideologia de Adolfo Hitler foi difundida utilizando-se de conceitos de marketing, propaganda e design (Figura 2). Figura 2: Evento nazista Fonte: GOOGLE. Palavra de busca: nazismo.
  • 25. 25 E o resultado nos é conhecido, um país inteiro acredita na soberania da raça ariana e promoveram o genocídio de pessoas que eram até então seus vizinhos, amigos, semelhantes: A propaganda Nazista foi baseada, entre outras coisas, na panfletagem, nos desenhos profissionais e na criação de uma identidade visual (...) Tudo foi pensado para causar impacto visual. Identidade Visual sim! E não preciso nem falar se a mensagem foi passada com sucesso! Basta relembrar o movimento de um homem que levou um país inteiro a acreditar em valores estapafúrdios, iconoclastas e bestiais. Foi a primeira vez que um governo, um regime, se utilizou de estratégias de Marketing sólidas, massificadas, para mudar a forma de pensar de uma nação. Alterou valores culturais, sociais, educacionais e psicológicos (NETO, 2008). Obviamente, não estamos afirmando que iremos criar uma barbárie dessa magnitude trabalhando em um escritório de design – ou empresas do gênero – mas ao defender uma postura de obediência cega ao cliente, podemos colaborar para a disseminação de artefatos, ideias e posturas que são prejudiciais, compreender e aceitar essa responsabilidade é uma necessidade. Outra questão importante é levantada quando se cita – de forma irônica – alguns trabalhos que realizamos: “os designers então usaram suas habilidades e imaginação para vender biscoitos de cachorro, designer coffee, diamantes, detergentes, gel para cabelo, cigarros, cartões de crédito, tênis, tonificadores para glúteos, cerveja light e veículos de carga para passeio” (ANEXO 1). Entendemos que o intuito é chocar o leitor, mostrar que trabalhamos – às vezes mais do que seria saudável – para solucionar problemas que não são relevantes. Ou seja, produtos e serviços que foram criados apenas com o intuito de fomentar cada vez mais um mercado já saturado por inutilidades, preencher as gôndolas dos mercados, supermercados, hipermercados, espaços cada vez maiores para preencher os espaços (infinitos) vazios de nossas vidas. Enquanto questões, em que os designers poderiam realmente fazer a diferença, são relegados a segundo plano.
  • 26. 26 Será que poderíamos, por exemplo, colaborar para a diminuição dos acidentes de trânsito? É uma problemática realmente grande, em 2008 tivemos 36.6663 vítimas fatais no território brasileiro. Acreditamos que poderíamos colaborar para a diminuição de acidentes e mortes, através do desenvolvimento de uma sinalização mais eficiente em nossas ruas ou contribuir para a criação de uma ideia diferente de diversão, em que bebida alcoólica junto com carro, não seja um modo de tornar os meninos e meninas mais atraentes. Na figura 3, mostramos o projeto da designer Thanva Tivawong, constituído de uma nova proposta para os semáforos. A funcionalidade é aguçada pela forma do artefato, pela maneira que se utiliza as cores tradicionais deste tipo de sinalização, assim como a relação forma versus tempo, que permite ao motorista uma identificação imediata da situação. Tem, ainda, um apelo estético alto e promove a economia de energia, uma vez que é produzida em LED4. Figura 3: Redesign do semáfaro Fonte: http://www.hypeness.com.br/2010/12/semaforo-ampulheta-led/. Acesso em 10 dez. 2010, 21:00. 3 CESVI BRASIL: Centro de Estudos Automotivos. Disponível em: <http://www.cesvibrasil.com.br/seguranca/biblioteca_dados.shtm#brasil >. Acesso em: 10 nov. 2010, 21:23. 4 Do inglês Light Emitting Diode, traduzido como: Diodo Emissor de Luz
  • 27. 27 No final da leitura do FTF2000 tem-se um pedido: reflitam e gerem ações. Posicionem-se a favor ou contra, mas que algo nos toque. Tire-nos da inércia, do “conforto” da tela de nossos computadores. Entendemos que o objetivo é fomentar o pensamento crítico, e que a partir deste ponto possamos agir de modo a realizar mudanças que beneficiem a sociedade, uma vez que a estrutura em que vivemos – econômica, política, cultural – foi criada por nós, nós a mantemos. Acreditemos, mudá-la é possível. Uma das críticas mais proclamadas contra o FTF2000 refere-se aos seus assinantes, profissionais dedicados a atender clientes institucionais que se diferem em muito dos empresários e clientes do mercado em geral. Assim, segundo Michael Bierut, os designers que pedem uma posição crítica diante do mercado não possuem problemas para agir deste modo, pois trabalham para instituições culturais que já possuem uma visão e um objetivo social diferente das indústrias (REYS, 2005). A crítica realmente é fundamentada, realmente algumas instituições possuem objetivos que proporcionam um trabalho muito mais institucional e de comunicação do que mercadológico e de persuasão. Porém, é importante lembrar que muitos destes ambientes estão tornando-se extremamente comerciais. Bierut coloca este fato como sendo a prova de que as estratégias de mercado são eficientes e por tanto adequadas. Mas será que não poderíamos encontrar soluções melhores? Vivemos em um mundo extremamente capitalizado, tornar todas as organizações empresas é ter a certeza de que o sistema capitalista é o melhor modo de vida para todos. Acreditamos que podemos criar com critério, informar de formas diferentes, procurar soluções para os problemas da nossa sociedade. Fazer tudo isso com consciência e, mesmo assim, oferecer um serviço de qualidade para nossos clientes e participar do mercado. O design é intrinsecamente social, mas ao não refletir sobre a sociedade retiramos a sua essência e ficamos apenas com o invólucro, de algo que parece design.
  • 28. 28 3. Noções sobre sustentabilidade Sustentabilidade é uma palavra que ouvimos em diversas situações, e referindo-se a uma enorme quantidade de coisas: produtos, empresas, ações. Porém, seu conceito nem sempre é claro e, na maioria das vezes, seu significado não é compreendido. Em uma busca ao dicionário percebemos a dificuldade de definição: sustentabilidade “a qualidade de sustentável”, sustentável “o que pode ser sustentado”5. O que é então sustentabilidade? Acreditamos que mais que uma palavra, é uma noção, um modo de vida, de produção, de ação. Ser sustentável é agir de modo responsável com a sociedade e as gerações futuras, de forma inclusiva. Assim cria-se um modo de vida que é sustentável, ou seja, que não entrará em colapso com o passar do tempo. Para tanto, a questão não é mais focada em apenas um setor específico de nossas vidas. Compartilhamos dos ideais de Sachs que define os cinco pilares do desenvolvimento sustentável: a – Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais, por causa da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares problemáticos do nosso planeta; b – Ambiental, com as suas duas dimensões (os sistemas de sustentação da vida como provedores de recursos e como „recipientes‟ para a disposição de resíduos); c – Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e das atividades; d – Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua 6 non para que as coisas aconteçam; e – Político, a governança democrática é um valor fundador e um instrumento necessário para fazer as coisas acontecerem; a liberdade faz toda a diferença ( SACHS, 2004, p. 15). 5 Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/> Acesso em: 26 de setembro de 2010 às 16:18. 6 Tradução Google: A condição necessária. Disponível em: <http://translate.google.com.br/#>. Acesso em: 26 de setembro de 2010 às 22:12.
  • 29. 29 A partir do entendimento da abrangência do conceito sustentável, compreendemos que é impossível agir de modo completo em um e de modo indiferente nos demais. Eles estão intrinsecamente relacionados e são intimamente dependentes. Acreditamos que os ideais sustentáveis deveriam estar no centro dos debates em prol da construção de um novo modo de estrutura social. Por esta razão, devem ser incluídos na prática do designer. Sendo nós designers, agentes comunicadores, podemos em nossas práticas tanto aplicar os conceitos como promover a sua inclusão nas demais áreas sociais: Portanto, o design gráfico não é apenas programar ou projetar produtos com mensagens aleatórias, mas interpretar restrições para um projeto com função social, já que a sociedade diretamente ligada a ele deve beneficiar-se a partir dessa produção, como o homem primitivo beneficiava-se do fogo para as suas necessidades básicas (RANGEL, 2007, p. 08). Rangel mostra que o design gráfico é mais do que apenas a organização eficiente e agradável de informações em um determinado suporte. Precisamos resolver problemas. Compreender o conteúdo que estamos trabalhando para dar uma forma coerente ao material, trabalhar em cima das restrições: de espaço, de recursos (financeiros, materiais, sociais), de necessidades e desejos. Enfim, é um trabalho objetivo – projetar – que envolve variáveis objetivas e subjetivas, a comunicação passa por inúmeros filtros sociais e individuais e precisamos dar conta desse complexo todo. Por fim, afirmamos que podemos em cada projeto alcançar o desenvolvimento social, a inclusão e exercitar nossa responsabilidade profissional e de cidadãos diante da comunidade que é, em última instância, os verdadeiros clientes/consumidores de nosso trabalho. 3.1 Design e sustentabilidade O design como prática profissional e a sustentabilidade como norte ideológico se entrelaçam neste capítulo. Relembramos os cinco pilares sustentáveis: social, ambiental, territorial, econômico e político. Cada um
  • 30. 30 desses fundamentos possui áreas de sobreposição específicas com o design. Mostraremos as principais relações por nós identificadas. No artigo 4º, capítulo 1, do Código de Ética Profissional do Designer Gráfico7 regulamenta-se que o profissional da área “terá sempre em vista a honestidade, a perfeição e o respeito à legislação vigente e resguardará os interesses dos clientes e empregados, sem prejuízo de sua dignidade profissional e dos interesses maiores da sociedade”. Pensamos que, para se atender os “interesses maiores da sociedade”, necessariamente, o designer deverá abranger as noções de sustentabilidade em seu projeto, para assim realmente cumprir o objetivo do artigo. Infelizmente, o Código de Ética da nossa profissão é muito superficial e praticamente todo seu conteúdo refere-se a questões básicas de, simplesmente, ter uma boa educação. Acreditamos que essa postura é reflexo da não regulamentação da profissão, situação que apresenta como principal problema - em nossa opinião - a insegurança do cliente e da sociedade frente à qualidade do trabalho do designer. Sabemos que a questão da regulamentação é bastante polêmica e gera pretensões irreais em alguns indivíduos como, por exemplo, a criação de base legal para reserva de mercado, que permitiria apenas aos designers o direito de praticar o design profissionalmente: (...) enquanto alguns designers insistirem em um discurso de exclusão e de privilégio com base não em critérios de capacidade profissional, mas em títulos e genealogias, permanecerá a tendência de desagregação e facciosismo que tem afetado de modo tão negativo a consolidação do campo entre nós (CARDOSO, 2008, p. 196). Não é nosso intuito legitimar a atuação de profissionais sem formação superior, contudo nosso principal anseio é garantir os direitos dos clientes e da sociedade visto que, apenas com a regulamentação, o designer responderá legalmente por seus projetos de maneira efetiva. Pensamos que ao buscar maiores deveres iremos encontrar também maiores direitos e, ao se exigir 7 Disponível em: <http://www.adg.org.br/downloads/ADGBrasil_CodigoEtica.pdf>. Acesso em: 27 set. 2010, 15:41.
  • 31. 31 trabalhos de qualidade, ocorrerá uma seleção natural que beneficiará os indivíduos com formação profissional. Abordando outro aspecto da relação, sabemos ser recorrente quando o assunto relaciona-se ao consumismo, ouvir comentários sobre o design como um dos elementos fomentadores e causadores da prática. Tendo em vista que popularmente a atuação do designer se restringe à finalização do produto, ou seja, à maquiagem, ao embelezamento. Porém, é sabido que o papel do designer assim não se restringe. Devemos interferir e desenvolver o projeto da peça ou produto desde a sua concepção. Adequando a ergonomia à funcionalidade, a vida útil à matéria- prima, como afirma Raymond Loewy “o desenhista industrial astucioso é aquele que, com lucidez, sente a zona de choque em cada problema específico” (LOEWY, 1951 apud KAZAZIAN, 2005, p.16). Podemos dizer que para Hollis essas “zonas de choque” configuram-se nas três funções básicas do design, elementos que permeiam a profissão desde sua gênese: A principal função do designer gráfico é identificar: dizer o que é determinada coisa, ou de onde ela veio (...) Sua segunda função, conhecida no âmbito profissional como Design de Informação, é informar e instruir, indicando a relação de uma coisa com outra quanto à direção, posição e escalas (....) A terceira função, muito diferente das outras duas, é apresentar e promover (...) aqui, o objetivo do design é prender a atenção e tornar sua mensagem inesquecível (HOLLIS, 2000, p. 4 [grifo do autor]). Assim, para identificar, informar e apresentar o profissional precisa, necessariamente, dominar o tema que está trabalhando. Não trata-se portanto de uma função de acabamento e sim de projeto holístico, ou seja, que considera a totalidade, entendendo que o todo está na parte e a parte está no todo igualmente. Deste modo, devemos procurar o desenvolvimento constante, tendo em vista que “podemos dizer que o ecodesign – ou a ecoconcepção – é uma abordagem de melhora contínua, já que nenhum estado é definitivo ou encerrado” (KAZAZIAN, 2005, p. 55). Existe, por exemplo, uma infinidade de produtos que encobrem a necessidade social real “(...) não precisamos de um
  • 32. 32 jornal, mas de informação” (RANGEL, 2007, p. 13), mas a rotina e a comodidade acabam por encobrir a avaliação crítica das coisas: Você já pensou de onde vem todas as coisas que compramos e para aonde vão quando jogamos tudo fora? [...] o que o livro falou é que as coisas passam por um sistema: de extração à produção, distribuição e disposição. [...] essa não é a estória [sic] completa. Tem muita coisa faltando nessa explicação. De fato, o sistema parece estar bem. Sem problemas. Mas a verdade é que o sistema está em crise. E a razão pela qual está em crise é porque é um sistema linear e vivemos num planeta finito e você não pode operar um sistema linear num planeta 8 finito indefinidamente (LEONARD, The history of stuff , 2007). Entendemos que nosso modo de vida está destruindo o planeta, precisamos rever nossos conceitos, nossos meios de produção, de distribuição, de uso e de descarte. Nesse sentido, o design entrelaça-se com três pontos sustentáveis em especial: o social, o ambiental e o econômico. Vemos que para buscar alternativas e articular mudanças subjetivas e objetivas é preciso primeiramente legitimar socialmente essa postura. O indivíduo, independente de sua profissão, precisa se relacionar com os ideais sustentáveis para assim colocá-los em prática e, como mostrado para o designer, essa postura é imprescindível. Entretanto, entendemos que ao se identificar com as noções sustentáveis e desejar que estas façam parte de sua vida, a prática passa a ser uma grande problemática. Um exemplo bastante banal na área gráfica é o do papel reciclado. Inúmeras marcas no mercado intitulam-se “eco”, mas não usam em sua composição nem 1% de papel pós-uso. Claro que a reutilização das aparas e sobras de produção é importante, mas alertamos para a busca de informação para conhecermos o que estamos realmente produzindo e consumindo. Ainda utilizando o exemplo do papel, abordamos a viabilidade de talvez aumentar o custo de uma peça em 10% sem avaliar realmente o “lucro” ambiental dessa ação. Ratificamos, assim, que a prática sustentável exige mais que boa vontade, é fundamental um envolvimento profundo com dedicação ao estudo e a pesquisa. 8 LEONARD, Annie. The history of stuff. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k>. Acesso em: 15 abr. 2010, 16:24.
  • 33. 33 O designer brasileiro Dalcacio, em entrevista recente a revista ABCDesign, foi questionado sobre a questão do custo dos projetos sustentáveis: Custo sempre foi um empecilho, para produto sustentável ou não. Com certeza, e você tem toda razão, precisamos mudar e rever muitos valores e conceitos, mas para que os produtos sustentáveis “decolem” não podemos nos basear “apenas” numa mudança de valores, precisamos também da ajuda do governo para incentivar, facilitar e legislar em favor de empreendedores com esta visão. Nós designers também podemos e devemos fazer muito, primeiro precisamos nos informar mais sobre o tema, incentivar o desenvolvimento de projetos sustentáveis dentro das universidades 9 e formar novos designers com estes valores (REIS, 2010 ). Entendemos que a questão econômica é um fator importante. A sociedade capitalista é voltada para fins e não para meios, a racionalidade do nosso sistema econômico é amoral. Assim sendo, podemos identificar nessa postura um grande problema sustentável, pois argumentos subjetivos não são aceitos. Contudo, por outra ótica é uma oportunidade, pois qualquer projeto que seja eficiente para o capital será aceito. Ser sustentável ou não, será uma escolha dos profissionais responsáveis pelo seu desenvolvimento. Apesar do modo de exposição simplista sabemos que existem muitas barreiras a serem transpostas. A luta sustentável ganhou corpo a partir de 1960 quando os movimentos ecológicos começam a alertar a sociedade sobre a problemática “o principal mérito dos movimentos ecológicos terá sido plantar a dúvida nas consciências dos governantes e da população” (KAZAZIAN, 2005, p. 23). Existe muito a ser realizado, modificado e até mesmo destruído a fim de alcançar o que certamente seria o nosso ideal: [...] num futuro que espero estar bem próximo, não precisaremos falar em „design para a sustentabilidade‟ ou mesmo ecodesign, falaremos simplesmente „design‟, no qual já estará embutido todo um pensamento mais saudável e sustentável (REIS, 2010). Acreditamos que o design deveria ser símbolo de sustentabilidade, responsabilidade, desenvolvimento e inclusão. Porém, a realidade não condiz com nosso anseio. Sendo assim utilizamos expressões que desejamos que se tornem, o mais breve possível, uma redundância. 9 Disponível em: <http://abcdesign.com.br/design-de-produto/entrevista-dalcacio-reis/> Acesso em: 06 out 2010, 22:23.
  • 34. 34 4. Análise Com o intuito de entrelaçar a teoria apresentada à prática do design gráfico iremos realizar uma análise sustentável de uma campanha de ação social, tendo como base os cinco pilares da sustentabilidade de Sachs (2004). Primeiramente, explanaremos sobre cada um dos pontos para na sequência apresentar o objeto e sua análise. O pilar social refere-se à problemática da desigualdade e o desrespeito aos direitos universais humanos: Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS 10 HUMANOS , Artigo XXV - Parágrafo 1, 1948). A questão social é fundamental para a sustentabilidade, pois apenas uma comunidade com acesso aos seus direitos vitais básicos tem a possibilidade de se gerir ao longo do tempo. O quesito ambiental é o mais divulgado pelos meios de comunicação, já que as alterações climáticas que o globo terrestre vem sofrendo não são possíveis de serem ignoradas. Ainda é importante ressaltar que a temática é duplamente alarmante, tendo em vista que exaurimos o planeta para abastecer o sistema produtivo, e após inúmeros processos físicos e químicos devolvemos os resíduos em formas complexas e tóxicas. A falta de soluções efetivas mostra que o discurso está em alta, mas a prática é com certeza insuficiente. O pilar territorial abrange a distribuição geográfica dos recursos e meios de subsistência das populações. Sabemos que globalmente existem regiões de pobreza generalizada como a África e o Oriente Médio, porém 10 Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 13 nov. 2010, 17:14.
  • 35. 35 diminuindo o panorama sempre é possível identificar novas regiões marginalizadas. No Brasil, especificamente, poderíamos citar o Nordeste. Diminuindo ainda mais a área, para uma abordagem estadual, a região sul do Rio Grande do Sul seria a área flagelada. Neste sentido, a valorização territorial busca a igualdade de oportunidades entre as áreas e suas comunidades. O ponto econômico é fundamental para a instauração das noções sustentáveis, pois estamos imersos em um sistema capitalista e apenas práticas que favoreçam – ou pelo menos considerem - a economia, possuem possibilidade de tornarem-se fortes e universais. O último pilar é o político, colocando a democracia como base para a sustentabilidade, tendo em vista a valorização da liberdade dos indivíduos. É necessário a apreciação do posicionamento político nas comunidades, para assim estas terem capacidade e possibilidade de buscar a melhoria da qualidade de vida contínua. O objeto de análise escolhido é a Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do Sul11, que arrecada em todo o estado: roupas, cobertores e alimentos não perecíveis. A escolha da ação se deu pelo seu reconhecimento popular e, por a partir de 2009 ser realizada por uma agência especializada, diferentemente dos anos anteriores quando era desenvolvida pelo comitê da primeira-dama. Escolhemos para a análise o cartaz de divulgação da campanha de 2010 (Figura 4), acreditamos ser esta a peça principal - de design gráfico - para a promoção da ação, além de representar a temática geral da ação. 11 Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/portal-social/19,0,2916442,Campanha- do-Agasalho-2010-e-lancada-no-Rio-Grande-do-Sul.html>. Acesso 14 nov. 2010, 18:53.
  • 36. 36 Figura 4: Cartaz Campanha do Agasalho (2010) Fonte: GOOGLE. Palavra de busca: campanha do agasalho, 2010. 4.1 Análise sustentável Social O pilar social está no próprio objetivo da campanha - promover a distribuição de roupas, cobertores e alimentos para a população carente - proporcionando condições de sobrevivência durante o rigoroso inverno gaúcho. Acreditamos ainda que ao receber doações de todos e qualquer cidadão a relação social é fortalecida, pois não há distinção entre os doadores.
  • 37. 37 Ambiental A iniciativa trabalha nos dois pontos ambientais: extração de matéria- prima e descarte de resíduos. Promove o aumento da vida útil das peças de roupas e cobertores - que ao invés de serem descartadas e acumularem-se em algum lixão são realocadas e utilizadas novamente – e assim, consequentemente, promove a diminuição do consumo de matéria-prima. Quanto à peça propriamente dita (cartaz) não há indícios de uma preocupação ambiental no projeto, o formato utilizado é o tradicional A3, a impressão é em quatro cores e o suporte é um papel branco de gramatura alta. Porém ressaltamos que a peça é eficiente para se chegar ao objetivo da campanha, apresenta qualidade estética e de comunicação, assim por este ângulo pode ser considerada sustentável. Territorial A campanha objetiva arrecadar roupas, cobertores e alimentos não perecíveis em todo o estado e distribuir nas regiões que apresentam condições precárias de subsistência. Quanto à distribuição as informações são bastante precárias, não sendo do nosso conhecimento especificidades sobre o processo, sabemos apenas que é destinada uma porcentagem da arrecadação para instituições assistenciais e outra para distribuição por parte das prefeituras. Ainda relacionado ao território, os canais de coleta abrangem tanto o setor privado quanto o setor público, colocando pontos nas prefeituras municipais e em empresas parceiras; pensamos que nesse sentido ocorre uma distinção, pois não são todas as empresas privadas que possuem o direito de terem um posto de coleta. Obviamente existem questões econômicas e de logística para o fato, porém é uma forma de exclusão. Econômico Em relação ao cartaz, como visto no pilar ambiental, a peça é bastante tradicional, sua configuração não aparenta primar pela economia, porém em termos de meios de comunicação, o cartaz é um modo econômico e eficaz de divulgação.
  • 38. 38 Analisando pela ótica dos produtos doados vemos que a economia é alcançada de maneira indireta – através das doações – tendo em vista que se instiga a doação de roupas, cobertores e alimentos que não são essenciais para uma parte da população, para repassar para a população que necessita destes para sobreviver. Político O pilar político é o menos palpável, tendo em vista que para Sachs (2004) sua base está na difusão da democracia e da liberdade. Mas de maneira indireta, vemos que ações que promovem a igualdade social alavancam também a liberdade, pois com a sobrevivência garantida o ser humano tem o direito a escolha. Resultado A partir da análise sustentável realizada, elaboramos uma tabela de classificação dos pilares em relação a sua presença na peça, usaremos a mesma estrutura na análise da produção prática do projeto. Quadro 1: Análise Sustentável Campanha do Agasalho (2010) Fonte: pesquisa direta, 2010. Considerações A Campanha do Agasalho 2010 trabalha o universo lúdico através da imagem simbólica das múmias. Historicamente, referem-se aos cadáveres egípcios que passavam por vários processos químicos antes de serem
  • 39. 39 sepultados, permitindo assim a conservação dos corpos por séculos. As múmias popularmente tornaram-se personagens clássicos de filmes de terror e até mesmo de desenhos animados como Scooby-Doo12. O terror transforma-se em diversão, através da composição de uma imagem colorida, alegre e com grande simbologia social. As crianças transmitem jovialidade e a fantasia utilizada por elas configura-se através da composição de vários pedaços de roupas, simbolizando a união da comunidade em prol do combate ao frio, demonstrando a importância da participação de cada indivíduo no processo. O slogan da campanha “Não deixe o frio assustar nesse inverno” reforça o objetivo de doação e dialoga com a simbologia de terror trabalhada na ação. Além das mensagens verbais e não verbais de imagem, usa-se a fonte como elemento gráfico, com um tipo fantasia e classicamente utilizado para peças e produtos de terror, a agressividade da fonte é neutralizada através de sua cor que remete mais ao lúdico e a diversão. A visualidade geral da peça é bastante limpa, apesar do uso de cores vibrantes e contrastantes. O resultado é obtido através da redução de informações e elementos, do uso de espaços livres e de uma organização eficiente. A mensagem é clara e direta, de fácil entendimento e grande apelo visual. De acordo com Niemeyer (2003) classificamos o processo de comunicação como manipulação, tendo em vista que “o objetivo do gerador é que o interpretador proceda algum tipo de ação. Há, portanto, um componente persuasivo prévio na mensagem” (2003, p. 25) e usa-se a tática da sedução “em que há a tentativa e evocação de envolvimento afetivo” (2003, p. 26). Acreditamos que a peça gráfica é adequada para a ação e consegue fugir do comum, através de uma visualidade inovadora. O uso da tipografia fantasia para o título, ano e slogan exige um cuidado bastante expressivo por seu caráter agressivo. Contudo, através do uso da cor - como mencionado anteriormente - se consegue um resultado positivo, reafirmamos assim a qualidade da peça e de sua contribuição para o fortalecimento da campanha. 12 Scooby-Doo é um desenho animado americano produzido pela Hanna-Barbera, criado no ano de 1969 por Iwao Takamoto (WIKIPÉDIA). Os personagens Fred, Velma, Daphne e Salsicha, e o cão Scooby-Doo, investigam casos misteriosos em lugares inóspitos, misturando: terror, comédia e fantasia.
  • 40. 40 O design é uma ferramenta claramente utilizada para seu fortalecimento junto à sociedade, com um trabalho bastante coeso e uma identidade adequada, a ação apresenta um volume crescente de participação popular e dos setores públicos e privados.
  • 41. 41 5. Prática Como objeto de análise utilizamos o estágio realizado pela graduanda, no Programa Vizinhança da Pró Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Pelotas. Salientamos que, com o intuito de amparar o trabalho realizado, a mesma está lotada no SulDesign Estúdio 13 – projeto de extensão do Instituto de Artes e Design - sob a supervisão da coordenadora Lúcia Weymar e da direção de arte do técnico Guilherme Tavares. O vínculo com a PREC deu-se a partir do mês de agosto do ano de 2010. O objetivo principal do grupo está no desenvolvimento da identidade visual do Programa Vizinhança. Assim como atender as demandas geradas nos diversos projetos que o integram – sendo principalmente peças referentes à comunicação e a propaganda –. O Programa Vizinhança14 começou suas atividades em maio de 2009, tendo como objetivo geral promover intervenções comunitárias interdisciplinares na área vizinha ao Campus Porto da UFPel, disponibilizando o acúmulo de conhecimento da universidade, com vistas a melhorar a qualidade de vida daqueles que ali residem. A região referida é composta pelas comunidades da Balsa, Ambrósio Perret, parte da Várzea, fronteira com os bairros Fátima e Navegantes (especificamente as moradias à margem do Canal São Gonzalo e do Canal do Pepino, popularmente denominados “sem-terra”), ainda soma-se algumas moradias na área de pescadores (Estrada do Engenho) e da área portuária. A difícil delimitação da área de atuação do programa se dá pela constituição precária da região, contudo acredita-se que a população atendida é de 30.000 cidadãos. A população da região sofreu um duro golpe econômico e social quando em 1991 o frigorífico Anglo encerrou suas atividades no local, levando consigo diversas empresas menores instaladas nas proximidades. Com a 13 Denominado Escritório Experimental de Design Gráfico até o segundo semestre de 2010. 14 Informações retiradas do catálogo do Programa Vizinhança, que será publicado em 2011.
  • 42. 42 quebra das empresas e o enfraquecimento do porto de Pelotas ocorreu o desemprego massivo da comunidade. Uma vez que o desenvolvimento da região se deu no entorno deste núcleo produtivo (Figura 5), e por causa dele, a partir da ocupação ilegal (posse), em condições precárias de infra-estrutura como: esgoto, água potável, eletricidade e transporte coletivo, situação que se mantém ainda hoje. Figura 5: Reportagem do Diário Popular, dezembro de 1943. Fonte: arquivo Programa Vizinhança Através da recuperação da história da localidade entende-se a importância simbólica atual das instalações do Frigorífico Anglo. Prédio em que a reitoria da universidade se instalou em 2008. Este local promoveu a subsistência da comunidade durante quase meio século, ao se instalar no prédio a UFPel acredita ter como dever moral e ético, restituir a dignidade e promover através da educação a reintegração social e econômica da sociedade.
  • 43. 43 Ressaltamos que ao se instalar no prédio a universidade foi recepcionada com a banda de um dos colégios locais, o Ferreira Viana, por dirigentes locais e parte da comunidade, mostrando a receptividade para a instituição. Porém, há também, situações de conflito entre os pólos, a UFPel realizou um contrato com um grupo comercial privado para a exploração do local, assim se realizou mudanças estruturais no entorno do antigo prédio que prejudicaram a comunidade da região. Na frente do prédio do antigo frigorífico há um grande terreno baldio que apresenta em seu entorno arborização. Este espaço era utilizado para o lazer da comunidade, porém com as reformas, os entulhos oriundos do processo, foram depositados neste local. Apesar do terreno ser de propriedade privada, essa atitude é prejudicial em vários sentidos, retira a possibilidade de lazer da comunidade, promove uma paisagem de descaso, auxilia na degradação ambiental e maximiza a possibilidade de proliferação de animais peçonhentos e prejudiciais a saúde humana. Outro fato de grande relevância é a separação da comunidade da área da universidade por um muro de concreto, que segrega o bairro da instituição, cortando a região a partir da margem do arroio pelotas em direção ao bairro. Na rótula que dá entrada a UFPel tem-se uma abertura que permite o tráfego, mas sua largura é tão restritiva que não permite a circulação de dois veículos ao mesmo tempo. Figura 6 Panorama da região Fotos: Ana Maria Dacol, 2010.
  • 44. 44 Ambas as situações relatadas são apontadas como ações da empresa privada associada à universidade15, contudo acreditamos que a UFPel deve se posicionar em relação a situação e tomar atitudes que mostre para a comunidade seu real comprometimento com a melhoria da sua qualidade de vida e com o desenvolvimento includente da população. Internamente, o Programa Vizinhança também tem uma importância significativa, pois pretende instituir a prática da extensão na universidade de maneira efetiva, como exposto no propósito geral do setor 16: “A extensão é o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a sociedade”. Assim, o programa é constituído de diversos projetos oriundos das unidades acadêmicas da UFPel, o objetivo é que cada unidade esteja presente no programa. Atualmente, possuímos por volta de dez projetos, oriundos de diversas áreas como: odontologia, arquitetura, administração, letras e design. Cada unidade ou curso desenvolve um projeto que promove a integração social da instituição e da comunidade, assim como o desenvolvimento social da comunidade pelotense. Nosso papel nesse sentido é desenvolver uma identidade que integre esse universo fragmentado, fortalecendo sua ação, tanto para a comunidade universitária quanto para a sociedade em geral. 15 Não há informação sobre a manutenção dessa parceria ou de sua dissolvição. Mas por observação não se tem indícios da presença da referida empresa. 16 Disponível em: <http://prec.ufpel.edu.br/>. Acesso em: 18 out. 2010, 23:02h.
  • 45. 45 5.1 Briefing Cliente: Programa Vizinhança Serviço: Projeto de extensão DADOS DO CLIENTE A. Perfil do cliente Atividade: programa social Percurso histórico da organização: início das atividades em maio de 2009; financiamento do MEC através do PROEXT para 2010. Objetivos da organização a curto, médio e longo prazo: em curto prazo fortalecer a identidade interna do grupo, médio prazo ser reconhecida pela comunidade como um programa de integração com a universidade e a longo prazo tornar-se referência de extensão universitária e trazer desenvolvimento econômico e social para a região do porto. B. Público-alvo Perfil do público: comunidade em situação de risco, com renda per capita de até um salário mínimo, em condições precárias de moradia e de subsistência. Qual a imagem que a organização tem do seu público? Cidadões marginalizados e pouco favorecidos pelas ações sociais governamentais. PROJETO A. Requisitos ObjetivoProblema a ser resolvido: Identificar o programa internamente e externamente. Principal diferencial a ser explorado: relação entre a comunidade e universidade. Conteúdo conceitual que obrigatoriamente deve estar na proposta: relacionamentovizinhança.
  • 46. 46 RESTRIÇÕES Valores negativos a serem evitados: diferença social, hierarquia. Preferências a fotografias ou ilustrações? Recomendado uso de ilustração. Quadro semântico referente a valores desejáveis da organização: Quadro 2: Quadro semântico Fonte: pesquisa direta, 2010. 5.2 Identidade Visual O principal objetivo do estágio no Programa Vizinhança configura-se no desenvolvimento da identidade visual do programa definido como “o conjunto de imagens composta pela marca e os elementos visuais adicionais que combinados transmitem o padrão estético que identifica uma instituição ou um produto” (MUNHOZ, 2009, p. 11). Logotipo A primeira peça produzida foi o logotipo da organização. Com o objetivo principal de transmitir o conceito de relação de vizinhança, trabalhamos com a
  • 47. 47 fonte Alice de autoria de Carolina Moraes Marchese17. A tipografia possui a característica de união entre os caracteres pela junção18 da fonte, essa estrutura permite a transmissão do conceito de vizinhança, elementos lado a lado que se unem e criam algo maior. Ressaltamos que a fonte Alice foi utilizada como ponto de partida, sua estrutura foi trabalhada (Figura 7) para aumentar sua legibilidade, maximizar o conceito defendido e tornar o logotipo um elemento mais coeso. Figura 7: Logotipo em construção. Fonte, pesquisa direta, 2010 Para a palavra “Programa” optou-se por uma fonte bastão, de alta legibilidade e menor peso estético: Century Gothic com bold. Sendo uma tipografia com alto grau de legibilidade, podemos utilizá-la com o corpo bem menor que a palavra “vizinhança” e mesmo assim alcançar uma redução máxima adequada. E por ser uma fonte bastão, com uma estrutura vertical aguçada e bastante neutra, não ocorre a interferência negativa de uma palavra com a outra. Optamos por um alinhamento à direita e pelo preenchimento padrão da cor preta. Quanto a questão cromática não há a proibição do uso de qualquer cor, desde que seja chapada e apenas uma (é vetado o uso de degradês ou cores diferentes nas duas palavras componentes do logotipo). 17 Graduanda de Design Gráfico da Universidade Federal de Pelotas. Disponível em: <http://www.diariopopular.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?id=6&noticia=17408>. Acesso em: 10 ago. 2010, 02:05. 18 Elemento da base da fonte, a junção é uma parte da serifa.
  • 48. 48 Logotipo principal: Redução máxima: Logotipo secundário, com indicação da ação específica: Ilustração Como exposto no logotipo optamos por uma abordagem conceitual da temática, porém, havia a necessidade de se criar um elemento com características representativas. Assim, desenvolvemos uma ilustração independente do logotipo, mas que deve ser utilizado nas peças do programa sempre que possível. A intenção da ilustração é representar a região do Porto, contendo e ressaltando os elementos: prédio da universidade, arroio pelotas e as casas (configurando assim a vizinhança). Tendo em vista, a complexidade e o volume de elementos que poderiam ser representados, optou-se por uma ilustração linear, que cria apenas o contorno dessa região.
  • 49. 49 Mas, durante o processo de criação, foi solicitado o acréscimo de mais detalhes, como pessoas e animais, para tentar satisfazer os anseios do grupo. Uma questão importante foi a troca da estrutura do prédio, que representa a UFPel (Figura 8), a princípio se utilizou como referência o prédio que a comunidade estudantil utiliza para entrar no complexo, porém trocamos a referência para o lado do prédio orientado para a comunidade, pois apesar do muro tapar sua visão global o telhado desta parte é bastante característico. Figura 8: Prédios do Campus Anglo Fotos: Ana Maria Dacol, 2010. Outro aspecto trabalhado inúmeras vezes foi a representação do arroio, tendo em vista que geograficamente é o aspecto mais marcante e por ser para a comunidade uma fonte de renda, alimentação e lazer. Na ilustração, não há divisões, os elementos estão lado a lado, configuração que esperamos ser alcançada tanto fisicamente quanto culturalmente. Estudos da ilustração:
  • 50. 50 Resultado final da ilustração: 5.3 Aplicativos Durante o estágio desenvolvemos aplicativos para o fortalecimento da identidade visual do programa e seu reconhecimento, primando neste primeiro momento pela comunidade universitária. Pôsteres Para a apresentação de trabalhos acadêmicos em eventos normatizou- se o leiaute dos pôsteres, composto por uma orla que apresenta na base a ilustração do programa, preenchida com a cor referente à unidade acadêmica oriunda e o cabeçalho, que apresenta o logotipo do programa, a identificação da PREC e o brasão da universidade. O primeiro evento em que utilizou-se o padrão foi para o 28º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul (SEURS), em que o modelo sofreu algumas adpatações para adequar-se as exigências do evento. Ressaltamos que nesse pôster utilizamos a versão anterior da ilustração final, tendo em vista que precisamos produzir peças durante o processo de criação da identidade visual.
  • 51. 51 Dimensão original: 1,2 x 1 m A iniciativa repercutiu de maneira positiva no grupo, uma vez que os avaliadores do seminário observaram a aplicação do padrão e elogiaram a iniciativa. Para este evento, foram produzidos três banners, apesar de não ser de nosso conhecimento o número total de trabalhos apresentados, sabemos que é maior do que o número de peças projetadas. Acreditamos que a não adesão à identidade é devido ao fato do custo da produção (R$) ser de responsabilidade do grupo ou estudante apresentador, além da resistência de se passar o conteúdo do trabalho para outra pessoa (estagiária) realizar a criação. O evento seguinte em que produzimos banners foi para o XIX Congresso de Iniciação Científica (CIC) da UFPel. Neste caso, tivemos de
  • 52. 52 adaptar o modelo do Vizinhança ao modelo do evento (disponibilizado o site do congresso), este possuía duas barras uma no cabeçalho e outra no rodapé na cor da identidade visual. No cabeçalho, além da barra, havia o logotipo do evento. Desta maneira, utilizamos a orla do modelo anterior, já com a ilustração definitiva e com a cor padrão do CIC, desta forma, não fizemos a referência cromática ao curso. Dimensão original: 1 x 0,9 m Camisetas Para a conclusão do ano foi solicitado o desenvolvimento de uma proposta de camiseta para o programa. As camisetas serão produzidas para os membros do grupo, porém o desejo é fortalecer as ações na comunidade, identificando os estudantes como integrantes do Programa Vizinhança. A proposta inicial foi desenvolvida a partir da meta de criação de uma aplicação diferenciada dos dois elementos institucionais – logotipo e ilustração
  • 53. 53 – para uma estampa para camisetas. Nós entendemos que o Vizinhança é um projeto sustentável, que trabalha para estruturar socialmente uma região, ou seja, deseja criar um mundo novo para a área do Porto, assim desenvolvemos uma ilustração onde a base linear transforma-se em um globo, que possui em seu centro o logotipo do programa. Esta proposta não foi aceita, os dirigentes entenderam que a ilustração diferenciava-se demasiadamente da identidade visual do programa. E que o objetivo da peça é marcar a presença do programa, sendo assim não exercia a principal função. Na segunda proposta, trabalhamos com a ilustração em seu formato original. O principal receio referiu-se a sua posição na peça, de modo a não trazer desconforto para os usuários (marcar a barriga ou o colo). Salientamos
  • 54. 54 como principal ganho da segunda proposta a redução de duas cores para uma, assim como um resultado mais simples.
  • 55. 55 5.4 Avaliação sustentável Analisaremos por fim, nossa produção, de acordo com os princípios sustentáveis, classificando-a a partir do quadro desenvolvido para a análise da Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do Sul. Quadro 3: Análise sustentável da prática do Programa Vizinhança Fonte: pesquisa direta, 2010. O Programa Vizinhança é um projeto que prevê o desenvolvimento social através da revitalização da comunidade do Porto. Nas peças desenvolvidas reafirmamos o compromisso, tendo o aspecto das relações de vizinhança permeando a identidade institucional e seus aplicativos. Quanto ao quesito ambiental acreditamos que o logotipo e a ilustração contemplam a questão, pois configuram-se de maneira bastante simples, utilizam poucas cores e podem ser utilizados de forma monocromática sem prejuízos estéticos. No caso das aplicações, ressaltamos que, quanto aos pôsteres não decidimos o formato e nem o acabamento, tendo em vista que atendia as exigências dos eventos e a questões pessoais dos apresentadores, uma vez que a produção era de sua responsabilidade. Para as camisetas projetamos dois modelos, um com o uso de duas cores e outro com uma cor, em camisetas brancas de algodão, pensamos que nesse aplicativo alcançamos o quesito ambiental de maneira mais efetiva.
  • 56. 56 Acreditamos que o princípio territorial é fortemente trabalhado, pois é contemplado na própria estruturação do programa, que visa o trabalho em uma determinada área de risco social, com o intuito de promover sua inclusão social e econômica na cidade. A ilustração institucional prevê o reforço do compromisso ao representar geograficamente a região, objetivando a identificação das pessoas com o projeto. O aspecto econômico novamente é parte do objetivo do Programa Vizinhança, a atuação da universidade procura capacitar os moradores para o mercado de trabalho e oferece serviços – ginástica, esporte, entretenimento – que geralmente são cobrados de forma gratuita. Nas aplicações reafirmamos que os aspectos de cor – indicados quanto à questão ambiental – trazem benefícios econômicos. Nos aplicativos, a situação também se repete, nos pôsteres por não ser de nossa responsabilidade, nosso poder de decisão foi comprometido, e nas camisetas trabalhamos pensando neste aspecto. A camiseta branca é a de menor custo, reduzimos o número de cor no modelo aceito e trabalhamos com duas impressões. Para finalizar, avaliamos o pilar político que apresenta-se de maneira menos direta. Sua identificação nas peças é possível através do entendimento de que ao promover uma comunidade socialmente, estamos possibilitando a difusão da democracia e assim da inclusão política dessas pessoas.
  • 57. 57 6. Finalizações Nosso objetivo neste capítulo é alinhavar ideias, sintetizar nossos principais anseios e mostrar ao leitor as reflexões latentes sobre a temática. Iremos apresentar um panorama geral da pesquisa, indicando as zonas mais relevantes da discussão proposta. Relataremos também as dificuldades e limitações enfrentadas, assim como nossas pretensões para o futuro. 6.1 Considerações O objetivo desta pesquisa foi investigar se é possível o design configurar-se em instrumento promovedor do desenvolvimento social a partir da perspectiva sustentável e como dá-se este processo. Acreditamos que, ao longo do trabalho, reafirmamos que o design pode ser utilizado como uma ferramenta para a promoção de causas sociais – através da teoria apresentada, da análise realizada e da nossa própria produção –. Afirmamos também que ao longo dos capítulos fomos contemplando nossos objetivos específicos, comprovaremos a afirmação a seguir. Começamos por uma introdução ao campo do design até chegarmos a nossa especialidade: o design gráfico. Decidimos por essa conceituação por anseios pessoais de delimitação e localização, assim como para realizar um pequeno levantamento histórico da nossa profissão. Dentro do mesmo capítulo procuramos salientar o aspecto social do design, sua relevância profissional e de postura ética para com a sociedade. No capítulo seguinte, trabalhamos com as noções sustentáveis, apresentando pontos importantes sobre esta área em construção, sendo importante (re)afirmar que para nós o desenvolvimento sustentável perpassa os cinco pilares conceituados por Sachs (2004) – social, ambiental, econômico, territorial e político –. Na seção sequente entrelaçamos a temática sustentável com o campo do design, ressaltando os aspectos positivos da aproximação
  • 58. 58 entre as áreas e sua importância para a construção de um ambiente mais saudável para vivermos. Realizamos, para uma apresentação mais prática, a análise da Campanha do Agasalho do Rio Grande do Sul, a fim de comprovar a importância do design em ações filantrópicas e sociais. Confrontamos também, a peça representante da campanha, com as bases sustentáveis, identificando uma postura de acordo com os princípios de Sachs (2004). Para atingir o último objetivo específico apresentamos a prática desenvolvida dentro do Programa Vizinhança e o analisamos à luz da perspectiva sustentável. Evidenciamos que procuramos desenvolver uma identidade visual em concordância com as exigências e necessidades relatadas, com o intuito de fortalecer o programa dentro do meio estudantil e para a comunidade em geral. Nosso principal anseio – que fica – é o de ajudar a promover a consciência crítica do profissional do design. Entendemos nossa importância na construção social, e acreditamos que podemos utilizá-la de diferentes modos e assim provocar diferentes reações, pensamos que o desenvolvimento sustentável é um caminho para se obter um ambiente mais agradável e por isso o recomendamos. 6.2 Limitações As limitações colaboraram para a configuração final desta pesquisa, sendo um elemento limitador, porém formador, relataremos os pontos identificados como os mais significativos: • Tempo – a duração de um semestre para a investigação limita sua abrangência e os métodos para sua realização, exigindo uma redução do campo de análise, dos objetivos e dos resultados. • Análise – procuramos a agência responsável pelo desenvolvimento da Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do Sul. A princípio, obtivemos resposta, porém o contato foi interrompido, assim realizamos com informações levantadas na internet.
  • 59. 59 • Prática – a realização da prática da pesquisa se deu no local de estágio da graduanda, assim esteve suscetível às limitações impostas pela organização. O principal problema refere-se à informação (objetivos, necessidades, operacionalização), agravado pelos fatores: liderança compartilhada, tamanho do grupo e o desconhecimento sobre a área do design. 6.3 Sequência Acreditamos na relevância da problemática discutida neste trabalho e pensamos ser interessante a sua exploração tanto na graduação como na pós- graduação. É um campo com produção reduzida, ainda, e que é composto por inúmeros aspectos centrais da vida contemporânea. Sugerimos o aprofundamento no campo teórico da sustentabilidade, a exploração da análise da prática sustentável em diversos setores, assim como a aplicação dos preceitos sustentáveis em outras especialidades do design e tipos de organizações.
  • 60. 60 Referências ABC DESIGN. Entrevista: Dalcacio Reis. Disponível em: <http://abcdesign.com.br/design-de-produto/entrevista-dalcacio-reis/>. Acesso em: 06 out. 2010, 22:23h. ASSOCIAÇÃO DE DESIGN GRÁFICO. Código de Ética Profissional. Disponível em: <http://www.adg.org.br/downloads/ADGBrasil_CodigoEtica.pdf>. Acesso em: 27 set. 2010, 15:41. CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Blucher, 2008. _______________ (org.). O design brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica, 1870-1960. São Paulo: Cosac Naify, 2005. DICIONÁRIO MICHAELIS. Palavra de busca: sustentabilidade e sustentável. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 26 set. 2010, 16:18. DURKHEIN, Émile. Pragmatisme et sociologie. Paris: Vrin, 2001. HOLLANDA, Aurélio. Dicionário Aurélio. Palavra de busca: ideologia. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/>. Acesso em: 15 jun. 2010, 23:15. HOLLIS, Richard. Design Gráfico: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2000. KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves. São Paulo: Senac, 2005. LEONARD, Annie. The history of stuff. 2007. Vídeo disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k>. Acesso em: 15 abr. 2010, 16:24. MUNHOZ, Daniella. Manual de identidade visual: guia para construção. Rio de Janeiro: 2AB, 1ª ed. 2009. NETO, Wladimir. O Design do Nazismo. 2008. Disponível em: <http://wladimirneto.blogspot.com/2008/08/o-design-do-nazismo.html>. Acesso em: 10 nov. 2010, 04:18.
  • 61. 61 NIEMEYER, Lucy. Elementos de semiótica aplicados ao design. Rio de Janeiro: 2AB, 2003. PRÓ REITORIA DE EXTENSÃO E CULTURA. Disponível em: <http://prec.ufpel.edu.br/>. Acesso em: 18 out. 2010, 23:02. RANGEL, Ângela. Sentidos e direções do design, um roteiro necessário. 2007. 75f. Monografia (Artes Visuais Habilitação Design Gráfico) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. REYES, Maria de Lourdes Valente. Design e Comunicação: os objetos como formas de religação social. 2005. 335f. Tese (Doutorado em Comunicação Social) - FAMECOS, PUCRS, Porto Alegre, 2005. RODRIGUES, Márcio. A emergência da sociedade moderna e a consolidação de uma nova visão de mundo. 2009a. 06f. Artigo (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis __________________. O Ministério da Verdade é uma abstração: Reflexões e relatos acerca da cumplicidade da mídia com o processo de empresarização do mundo. 2009b. 16f. Artigo (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. São Paulo: Cortez, 2007. THOMPSON, John. Ideologia e Cultura Moderna. Petrópolis: Vozes, 1995. VILLAS-BOAS, André. O que é [e o que nunca foi] design gráfico. 5ª ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2003. WIKIPÉDIA. Palavra de busca: scooby-doo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Scooby-Doo>. Acesso em: 13 nov. 2010, 16:43.