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TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS:
                           EM FOCO A INTELIGÊNCIA LÓGICO-MATEMÁTICA

                                                Gisele Fernanda Berteloni
                UNIMESP – Centro Universitário Metropolitano de São Paulo
                                                           Novembro/2008



                                  1. Histórico

       No final do século XVIII, Franz Joseph Gall, ainda estudante, observava
os diversos modos como os seus colegas de escola se relacionavam entre si,
bem como suas características físicas e pessoais. Sua preferência era
observar os formatos de suas cabeças, verificando que os crânios humanos
diferem uns aos outros. Gall chamou esses estudos de “frenologia” (estudo dos
crânios), pois acreditava que seu formato interferia nas variações de perfis
apresentados pelos seres humanos.
       Gall tinha um parceiro de estudos, Joseph Spurzheim, que o ajudou a
estruturar a frenologia, alcançando enorme popularidade na Europa e nos
Estados Unidos. No início do século XIX, o cirurgião e antropólogo Francês
Pierre Paul Broca demonstrou, pela primeira vez, um relacionamento
indiscutível entre várias lesões no hemisfério esquerdo do cérebro e uma
debilitação lingüística.
       Entretanto, o século XIX apenas introduziu proposições sobre as
capacidades humanas (mentais), dedicando-se a experimentos com o objetivo
de relacionar áreas específicas do cérebro e determinados comportamentos ou
funções cognitivas específicas.
       A psicologia como ciência começou a ganhar seriedade somente a partir
da segunda metade do século XIX, principalmente com Wilhelm Wundt na
Alemanha e William James nos Estados Unidos. Estes foram sem dúvida os
primeiros psicólogos que almejavam fazer da psicologia uma disciplina distinta
da fisiologia e da neurologia. Entretanto, eles mantinham pouco contato entre
si, o que retardou o desenvolvimento da nova ciência.
       Enquanto Gall estudava os conteúdos mentais específicos como
linguagem, música ou diversas formas de percepção visual, Wundt e James



                                                                            1
estudavam algumas faculdades mentais, como a memória, percepção,
atenção, associação e aprendizagem.
      Um dos instrumentos de verificação utilizados pelos psicólogos foram os
testes para classificar os seres humanos, comparando desempenhos e
medindo níveis de capacidades mentais. Mas, gradativamente, perceberam
que para obterem resultados mais precisos, seria necessário observar
principalmente capacidades mais complexas como a linguagem e a abstração.
      O principal pesquisador de testes para medir e comparar capacidades
intelectuais foi o francês Alfred Binet e seu colega Théodore Simon, no início
do século XX, que projetaram os primeiros testes de inteligência para separar
as   crianças que apresentavam dificuldades para seguir as atividades de
classe. Assim, os testes ganharam cada vez mais popularidade nas escolas, no
exército e em organizações industriais.
      Até pouco tempo atrás, a maioria dos psicólogos concordava que a
testagem de inteligência foi sem dúvida a maior conquista da psicologia. Não
obstante, esta concepção vem mudando, pois podemos encontrar inúmeras
limitações nos próprios instrumentos e em sua aplicação, sendo que até a
questão da hereditariedade tem sido desacreditada. À medida que o estado
emocional de um indivíduo influencia nos resultados dos testes, o grau de
inteligência obtida num teste hoje pode ser diferente do resultado de amanhã.
      Conforme demonstrou Stephen Jay Gould (apud in Gardner, 1994, p.
13), “não há nada intrinsecamente superior em relação a qualquer uma dessas
medições matemáticas. Quando o assunto é a interpretação dos testes de
inteligências nos defrontamos com uma questão de gosto ou de preferência ao
invés de com uma sobre a qual a conclusão científica que tende a ser atingida”.
      Ampliando os horizontes na questão da inteligência, pode-se citar
Howard Gardner, psicólogo americano de 56 anos, professor de Cognição e
Educação e co-diretor do Projeto Zero, no Harvard Graduate School of
Education, e professor adjunto de Neurologia na Boston University School of
Medicine. É autor de dezoito livros, incluindo “Estruturas das Mente” que foi
lançado nos Estados Unidos em 1983, publicado no Brasil em 1994. Junto a
uma equipe de pesquisadores, divulgou a teoria de inteligências múltiplas,
questionando a visão predominante de inteligência centrada basicamente nas
habilidades lingüística e lógico-matemática.


                                                                                2
Assim, Gardner é um crítico implacável dos testes de QI e de aptidão
escolar. Em sua teoria, identifica sete “tipos” de inteligência, que serão
caracterizadas no capítulo 2, sendo que em cada pessoa elas se combinam de
forma diferente. Na educação, a teoria de inteligências múltiplas implica o
desenvolvimento de avaliações que sejam adequadas às diversas habilidades,
a criação de currículos específicos e um ambiente educacional mais amplo e
variado. Gardner é considerado um dos principais pedagogos deste final de
século. Mesmo tendo sido influenciado por Piaget, apresenta uma posição
contrária em alguns aspectos.
      Segundo Piaget (1992), o estágio final do desenvolvimento cognitivo de
um indivíduo encontra-se no início da adolescência, pois este já é capaz de
realizar operações formais, de fazer abstrações e raciocinar logicamente diante
dos problemas que o cercam. Afirma que o indivíduo pode continuar a fazer
descobertas, mas não passa mais por mudanças qualitativas em seu
pensamento.
      Para Gardner (1994), a teoria de Piaget apresenta pontos positivos e
negativos. Assim, o fato de se analisar os estágios de desenvolvimento da
criança de acordo com as estruturas mentais de cada fase é visto por Gardner
como positivo. Entretanto, o fato de não se analisar as etapas necessárias para
adquirir outras competências como: desenhar, atuar, esculpir com um artista ou
persuadir, alegar, contestar, defender como um advogado ou possuir algum
tipo de liderança como os políticos e até habilidades para esportes, foi
considerado por Gardner como um aspecto negativo.
      Gardner também relevou os fundamentos biológicos da inteligência
como um ator genético e perspectiva neurobiológica, devido à sua formação
em medicina neurológica. Ele afirma que:
                     “...embora a genética ainda prove ser de utilidade limitada
                     para o estudioso da inteligência, uma revisão da
                     neurologia,    incluindo     as     especialidades       na
                     neuroanatomia, neurofisiologia e a neuropsicologia –
                     promete produzir frutos substanciosos. O conhecimento
                     nervoso está se acumulando rapidamente quanto o
                     conhecimento da genética e os achados são muito mais
                     próximos por assim dizer, dos fenômenos da cognição e
                     da mente” (1994, p.28).




                                                                              3
Embora considerando a importância dos aspectos biológicos da teoria
de Gardner, nos deteremos nos aspectos psicológicos e sociais da mesma,
sem diminuir o grau e sem menosprezar a importância dos aspectos puramente
biológicos.


1.1 Sobre o Conceito de Inteligência

      Se estivéssemos em meados do século XIX, seria fácil apresentar um
conceito pronto de inteligência, pois ainda existia a cultuação por pessoas que
apresentavam um alto QI (Coeficiente de Inteligência Intelectual). Assim, as
pessoas que apresentavam facilidade em resolver questões de lógica-
matemática e de lingüística eram consideras inteligentes. Porém, estes
conceitos vêm mudando gradativamente de acordo com o progresso
tecnológico e com o desenvolvimento da sociedade moderna e torna-se quase
que impossível apresentar um conceito único e universal de inteligência nos
dias de hoje.
      Logo, não há uma lista que possa ser universalmente aceita sobre as
inteligências humanas. Em relação a isto, Gardner afirma que:
                     “Jamais um rol mestre de três, sete ou trezentas
                     inteligências que possam ser endossadas por todos os
                     investigadores. Podemos nos aproximar mais desta meta
                     se nos mantivermos apenas em um nível de análise
                     (digamos, neurofisiológico) ou com uma meta (digamos,
                     previsão de sucesso numa universidade técnica); mas se
                     buscamos uma teoria decisiva sobre o alcance da
                     inteligência humana, podemos esperar jamais concluir
                     nossa busca” (1994, p. 45).

      Diante disso, surge a seguinte questão: por que prosseguir num caminho
tão relativo e indefinido em relação à inteligência? Provavelmente porque há
uma grande necessidade das pessoas a serem avaliadas por suas habilidades
e competências e serem valorizadas como tal. Há a necessidade de uma
reclassificação de todas as competências intelectuais humanas, pois novos
estudos e pesquisas estão surgindo e precisam ser revisados para os que
terão acesso a estes. Assim, quem sabe, possam mudar o conceito tradicional
que a maioria das pessoas conhecem sobre inteligência.




                                                                             4
Para que este conceito não pareça muito aleatório, podemos entender a
inteligência como a capacidade que um indivíduo possui para resolver e criar
problemas/situações de qualquer ordem ou grau. Este conceito foi elaborado
por Gardner - Estruturas da Mente (1994) - onde ele defende que uma
competência intelectual humana deve apresentar um conjunto de habilidades
de resolução de problemas que tem alguma importância dentro de um contexto
cultural. Assim, a competência é vista como um critério para qualificar ou
desqualificar a ação de um indivíduo, mas não determina o “grau” da mesma,
somente oferece ”aparentemente” evidências de que um indivíduo é pouco ou
muito inteligente em relação ao problema. Trata-se, portanto, de uma questão
cultural e social sobre o assunto.
      Dentro desta perspectiva, existem outras inteligências, além das
convencionais, que vem surgindo com novas pesquisas e estudos feitos
recentemente, declarando que a mente humana pode favorecer várias
habilidades e/ou habilidades específicas valorizadas ou não pelo meio social no
qual o indivíduo está inserido.
      Sobre o assunto, no Brasil, há o professor Nílson José Machado, que
aprova a teoria de Gardner e acrescenta mais duas novas inteligências –
Pictórica e Naturalista. Há ainda Celso Antunes que iniciou sua carreira como
professor de Geografia no colégio Alberto Conte, em 1958, mas o seu
entusiasmo pela profissão levou-o a buscar em diferentes cursos de
especializações    pedagógicas,      tornando-se   um   colecionador   de   jogos
pedagógicos. Anos depois, assumiu a Coordenação e também a Direção de
algumas grandes escolas de São Paulo, o que tornou possível experimentar
esses jogos em outras áreas e para outras faixas de idade. Estes jogos podem
ser encontrados e seu livro “Jogos para Estimulação das Múltiplas
Inteligências”(2000).
      Verifica-se que Antunes atribui maior ênfase aos estímulos feitos às
diversas inteligências através de jogos com objetivos e métodos específicos
para cada uma. Porém, faz uma breve apresentação das inteligências,
baseado-se em Howard Gardner, e acresce a competência "pictórica"
apresentada pelo professor Nílson José Machado. Esta competência se
manifesta em qualquer criança que desenhe transmitindo mensagens sem a



                                                                               5
presença da escrita, como os cartunistas e grandes pintores cujas obras "falam
por suas expressões não verbais".
       Na obra acima citada, Antunes (2000), declara que os jogos foram
organizados por inteligências específicas que atuam sempre de forma
interdisciplinar e estimulam simultaneamente outras inteligências em maior ou
menor grau, levando em conta os Parâmetros Curriculares Nacionais. Alem
disso, o livro é destinado também aos pais que conhecem a verdadeira idade
cognitiva de suas crianças. O autor faz uma referência relevante à palavra
"jogo": "Neste Manual empregamos a palavra jogo como um estímulo ao
crescimento, como uma astúcia em direção ao desenvolvimento cognitivo e aos
desafios do viver, e não como uma competição entre pessoas ou grupos que
implica vitória ou derrota” (2000, p.11).
       Também apresentam propostas de trabalho sujeitas a adequações, de
acordo com as necessidades da clientela. Assim, não se trata de atividades
criadas/inventadas por ele, mas uma coleta destas no decorrer de sua vida
profissional.
       A forma utilizada para a resolução e até para a escolha de um problema
dependerá sempre do tipo de inteligência que o indivíduo possui em maior
grau, juntamente com o interesse e a habilidade necessária para tanto. Assim,
para fazer a planta de uma casa, é preciso que o indivíduo tenha habilidades
específicas e a inteligência espacial mais aguçada, o que é típico em
arquitetos, geógrafos ou marinheiros que percebem o espaço como um todo,
assim como suas partes, para produzirem mapas, plantas e outras formas de
representações planas.
       Entretanto, existem várias outras competências que estão distribuídas
em maior ou menor grau pela humanidade inteira e algumas delas só precisam
ser estimuladas de alguma forma para que se desenvolvam.
       Antunes considera os jogos a melhor estratégia do professor para
estimular o desenvolvimento das inteligências e por essa razão apresenta
objetivos, regras e materiais específicos para cada competência, que podem
ser adaptados de acordo com o nível de aprendizagem dos alunos e dos
recursos disponíveis na instituição escolar.




                                                                            6
1.2 O Desenvolvimento da Mente Humana

      A mente humana desenvolve-se mediante dois aspectos: a evolução
biológica e a evolução histórico-cultural. Embora muitos teóricos tenham feito
contribuições significativas à teoria cognitivo-desenvolvimentista, Piaget é a
figura central desta teoria, pois para o autor, o pensamento é a base em que se
assenta a aprendizagem e a maneira da inteligência manifestar-se.
      Piaget denominou sua teoria de epistemologia genética, pois estudou a
evolução do conhecimento (desenvolvimento) em crianças e a partir das
pesquisas efetuadas sistematizou a evolução do pensamento. Cada período de
desenvolvimento é caracterizado por aquilo que todas as crianças normais
conseguem fazer, considerando faixas etárias específicas.
      Apresenta-se    a   seguir   uma    sistematização      das     etapas        do
desenvolvimento cognitivo baseado na teoria de Piaget:
      Quadro – Desenvolvimento Cognitivo Segundo Piaget
        PERÍODO                    ESTÁGIO                  CARACTERIZAÇÃO
                                                      Inicia o desenvolvimento de
                                                      algumas                habilidades
0 a 18/24 meses             1. Sensório-Motor
                                                      motoras       básicas     (sentar,
                                                      rolar, engatinhar, etc)
                                                      A     criança   está     na    fase
                                                      egocêntrica.
2 a 7 anos                  2. Pré-Operatório         O conhecimento através dos
                                                      órgãos dos sentidos é mais
                                                      aguçado (manipulação).
                                                      Através da manipulação, a
7 a 11/12 anos              3. Operações Concretas criança consegue resolver
                                                      problemas concretos.
                                                      É       capaz      de          fazer
                                                      abstrações,         sem            a
A partir de 12 anos         4. Operações Formais
                                                      necessidade                        da
                                                      manipulação concreta.
Fonte: Quadro elaborado pela pesquisadora




                                                                                     7
Segundo o autor, todos os indivíduos passam pelos estágios acima
sistematizados. Entretanto, as idades atribuídas ao surgimento dos estágios
são um referencial variável, que podem alterar-se de acordo com as
características biológicas, educacionais ou sociais da criança. Deve-se
ressaltar que a construção de uma nova fase depende da realização plena das
anteriores. Não se pode saltar etapas, pois acarretam prejuízos posteriores à
aprendizagem.
      Estes problemas são geralmente diagnosticados quando a criança inicia
sua vida escolar, pois estará em contato com atividades que requerem
habilidades específicas. Sendo assim, é mais fácil para o professor perceber
alguma deficiência da criança na sala de aula do que os pais em casa. Assim,
o professor deve trabalhar com estratégias adequadas a fim de contribuir neste
sentido.
      A escola é o local onde as crianças passam a maior parte do tempo por
diversas questões de ordem socioeconômicas e portanto este ambiente deve
oferecer estímulos diversificados que a criança não encontra em casa,
principalmente no caso de alunos carentes, compreendendo que “..nenhuma
criança é uma esponja passiva que absorve o que lhe é apresentado. Ao
contrário, as crianças modelam ativamente seu próprio ambiente e se tornam
agentes de seu processo de crescimento e das forças ambientais que elas
mesmas ajudam a formar. Em síntese, o ambiente e a educação fluem do
mundo externo para a criança e da própria criança para seu mundo." (Antunes,
2000, p. 16).
      Diante desta citação, pode-se concluir que a criança faz parte do
processo e deve ser avaliada de acordo com as habilidades que utilizou para
compor o mesmo processo de aprendizagem.
      A noção das inteligências múltiplas dificilmente poder ser cientificamente
comprovada, já que ela é uma idéia que recentemente adquiriu o direito de ser
discutida seriamente, através de Howard Gardner e de seus estudos com
indivíduos prodígios, talentosos, pacientes com danos cerebrais.
      Gardner apresenta também um grupo de "inteligências candidatas”,
incluindo as que são ditadas pelo senso comum, como a capacidade de
processar seqüências auditivas, bom senso ou intuição notável (sinais de
"prodigiosidade") e capacidade executiva. Nesta questão, é importante


                                                                              8
ressaltar que "em nenhum caso uma inteligência é completamente dependente
de um único sistema sensorial, nem nenhum sistema sensorial foi imortalizado
com inteligência” (1994, p. 51). Assim, as inteligências são capazes de
realização através de mais de um sistema sensorial. E e´ um erro tentar fazer
comparações entre elas, pois cada uma deve ser pensada como um sistema
próprio e com suas próprias regras.


1.3 A Inteligência Lógico-Matemática


  Em geral, as pessoas que possuem a inteligência matemática apresentam
  facilidade em resolver problemas, pois seu raciocínio lógico é muito rápido e
  bem desenvolvido. São pessoas que conseguem analisar o todo e suas
  partes com objetividade e surpreendem os que estão à sua volta, já que
  resolvem os problemas com rapidez e eficiência. No contexto atual, esta é
  uma das habilidades mais valorizadas, seja no setor educacional ou
  mercantil. Assim afirma Antunes (2000, p.30):

                     “Entre todas as inteligências, indiscutivelmente, a lógico-
                     matemática e a verbal são as de maior prestígio. Uma vez
                     que a matemática e a leitura se encontram entre as mais
                     admiráveis conquistas da sociedade ocidental, é
                     compreensível que os expoentes dessas inteligências
                     estejam muito mais próximos de serem considerados
                     “gênios” do que os que possuem ou possuíram notável
                     inteligência cinestésica, corporal, naturalista, intrapessoal
                     e outras.”

      A lógica esteve presente em todo processo de desenvolvimento das
sociedades atuais. O seu expoente máximo foi sem dúvida Aristóteles, que
viveu no século IV antes de Cristo e que pode ser considerado o primeiro
filósofo que se preocupou com a necessidade de estabelecer regras para a
argumentação, as eternas falácias ou sofismas.
      O fato de estabelecer argumentos faz parte das características de uma
pessoa lógica e esta atividade é bastante aproveitada pelos professores, no
sentido de promover questionamentos básicos. Para tanto, são utilizados até
júris simulados em sala de aula para estimular o desenvolvimento da
inteligência lógico-matemática.




                                                                                9
Dentro desta proposta, temos uma citação de Machado (1998) na
introdução de sua obra Lógica? É lógico! da Coleção Vivendo a Matemática,
aonde vem a confirmar:
                    “Algumas pessoas gostam de dançar, outras não. Há
                    quem vibre ao dirigir automóveis e quem sinta sono na
                    direção. Como tudo na vida, há quem goste de
                    Matemática e quem não a veja com bons olhos. Mas, para
                    gostar de alguma coisa, é preciso conhecê-la. É preciso
                    experimentá-la e ter a chance de sentir algum prazer
                    neste contato.”

  Sendo assim, o professor é responsável em tornar prazeroso o contato do
  aluno com o mundo da Matemática, através de aulas atrativas e concretas,
  elaborando   problemas    do   cotidiano     envolvendo   números,   objetos
  matemáticos, cálculos, transformações, etc.

  Em geral, este tipo de inteligência é mais desenvolvido em Engenheiros,
  Físicos, Químicos, Matemáticos, Filósofos, Contabilistas, Administradores e
  Advogados, devido às característica de sua formação e opção profissional,
  que estão associadas à competência em desenvolver raciocínios dedutivos,
  em construir ou acompanhar cadeias causais, em vislumbrar soluções para
  problemas e em lidar com números, cálculos e formas matemáticas.

  Assim, segundo Machado (1996), pode-se afirmar que “o pensamento
  científico encontra-se fortemente associado à dimensão lógico-matemática
  da inteligência”, pois a maioria dos avanços científicos e tecnológicos
  provém de profissionais das áreas de exatas e biológicas, ou seja, de
  profissionais que manifestam tal competência em maior destaque do que as
  outras.

  No âmbito escolar, o currículo é fragmentado por disciplinas e áreas de
  conhecimento específicas, sendo a matemática o saber mais valorizado
  pelos docentes. Entretanto, este saber deveria ser integrado a outros
  conteúdos e outras formas de avaliação, para que a criança tenha
  oportunidade de manifestar as habilidades que melhor domina e para que
  seja avaliada de acordo com seu potencial.

  É importante enfatizar que a inteligência lógico-matemática, como as
  demais, está presente em todas as pessoas, mas em algumas se mostra



                                                                           10
mais acentuada e a questão do estímulo, tanto em casa como na escola,
  será o fator-chave para o desenvolvimento desse tipo de inteligência.



                         2. A Teoria na Prática – Conclusão

      Com o objetivo de desenvolver aulas mais interessantes, Antunes (2000)
elaborou uma extensa coletânea de jogos a ser utilizada por pais e
professores, com a finalidade de estimular as inteligências múltiplas nos
alunos. Por essa razão, ele se intitula “colecionador de jogos pedagógicos”
(Antunes, 2000, p.9).

      Os jogos sugeridos podem ser utilizados de maneira a levar em conta os
Parâmetros Curriculares Nacionais, embora o autor tenha se preocupado com
a abrangência pluricurricular. Assim, tomou o cuidado de não indicar o material
por faixa etária, pois não toma por base a idade das crianças e sim as
habilidades cognitivas a serem desenvolvidas, uma vez que a idade biológica
pode diferir da idade cognitiva. Por isso, adverte:

                        “..no Brasil a idade da criança é sempre um ícone
                        subordinado às condições materiais da família,
                        econômicas e do meio ambiente (...) a diversidade de
                        estímulos ambientais interferrem no desenvolvimento
                        físico, cognitivo, intelectual e, sobretudo, emocional da
                        criança, ocasionando imensas diferenças individuais...”
                        “Somente as pessoas que acompanham a criança como
                        os pais e professores, são melhores do que ninguém para
                        saber a idade cognitiva de suas crianças” (Antunes, 2000,
                        p.11).
      Outro autor que se preocupa com o desenvolvimento infantil e que tem
pesquisado o assunto é Kishimoto, principalmente nos livros Jogos Infantis: o
jogo a criança e a educação (1993) e O brincar e suas teorias (1998). Para a
autora, o jogo é fundamental para a educação e o desenvolvimento infantil,
quer se trate do jogo tradicional infantil, produto da livre iniciativa da criança e
marcado pela transmissão oral, ou do jogo educativo que introduz conteúdos
escolares e habilidades a serem adquiridas por meio da ação lúdica.

      Também faz uma relação cultural para a compreensão deste
desenvolvimento, ao apontar que: “A compreensão das brincadeiras e a
preocupação do sentido lúdico de cada povo dependem do modo de vida de


                                                                                 11
cada agrupamento humano, em seu tempo e espaço. Daí emerge a imagem
que se faz da criança, seus costumes e suas brincadeiras”.(Kishimoto,1993,
p.63)

        Ressaltando a objetividade de alcançar o desenvolvimento integral da
criança, a educadora americana White (1977, p.233) aconselha que “O
professor deve constantemente ter como objetivo a simplicidade e a eficiência.
Deve amplamente ensinar por meio de ilustrações,...“, e nada mais simples,
porém objetivos do que jogos orientados.

        Gardner também é a favor que se procurem métodos que ajudem as
pessoas a desenvolverem suas habilidades, afirmando:

                      “..., o propósito da escola deveria ser o de desenvolver as
                      inteligências e ajudar as pessoas a atingirem objetivos de
                      ocupação e passatempo adequados ao seu espectro
                      particular de inteligências. As pessoas que são ajudadas
                      a fazer isso, acredito, se sentem mais engajadas e
                      competentes, e portanto mais inclinadas a servirem à
                      sociedade de uma maneira construtiva.” (Gardner, 1995,
                      p.16).
        Cabe ao professor desenvolver esta diversidade de competências,
valorizando a bagagem cultural de cada aluno e relacionando a prática da sala
de aula a habilidades a serem aprendidas e ensinadas.



2.1 O Papel da Escola diante da Teoria

        Segundo aqueles que defendem as inteligências múltiplas, é preciso
repensar a escola para que ela possa responder efetivamente às diferenças
individuais percebidas entre os alunos, de modo a garantir que todos possam
receber um tipo de educação que maximize o seu potencial intelectual.

        Assim,   a   escola   deve   voltar-se   para   o   desenvolvimento   das
potencialidades de cada aluno e basear-se em duas idéias fundamentais. A
primeira é que nos diversos campos do conhecimento se utilizam diferentes
processos cognitivos e a segunda é que as diferentes culturas sempre se
beneficiam das diferentes inclinações intelectuais das pessoas.

        Dessa forma, a escola só terá um significado real na medida em que vá
ao encontro das diferentes inclinações percebidas entre os alunos e as utilize


                                                                               12
como pontos de apoio para desenvolver outros tipos de inteligências. Para
tanto, a escola precisa se preocupar com avaliações periódicas que devem ser
justas, considerando sempre os diversos tipos de inteligências e também os
níveis de desenvolvimento dos alunos.

      O ensino da matemática é também muito importante, nesta proposta o
mesmo deve ser trabalhado de forma interdisciplinar, para que se desenvolva
junto ao aluno habilidades e        competências nas diversas     áreas do
conhecimento.




BIBLIOGRAFIA:

      ALVES, Ubiratan Silva. Inteligências: percepções, identificações e
teorias. São Paulo: Vetor, 2002.
      ANTUNES, CELSO. As inteligências múltiplas e seus estímulos. 8ª
ed. Ed. Papirus, Campinas, SP: 1998.

      GARDNER, Howard. Estruturas da Mente: A teoria das Inteligências
Múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.
      KISHIMIOTO, Tizuko Morchida. Jogos Infantis: o Jogo a criança e a
educação. Ed. Vozes, Petrópolis/RJ: 1993.

      LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar:
estudos e proposições. Cortez Editora, São Paulo: 1998.

      PIAGET, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão/Yes
de La Taille, Marta Kohl de Oliveira, Hebysa Dantas – São Paulo: Summus: 92.

      MACHADO, Nílson José. Epistemologia e Didática: as concepções
de conhecimento e inteligência e a prática docente. Editora Cortez, 2º ed.
São Paulo: 1996.




                                                                          13

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Artigo unimesp

  • 1. TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: EM FOCO A INTELIGÊNCIA LÓGICO-MATEMÁTICA Gisele Fernanda Berteloni UNIMESP – Centro Universitário Metropolitano de São Paulo Novembro/2008 1. Histórico No final do século XVIII, Franz Joseph Gall, ainda estudante, observava os diversos modos como os seus colegas de escola se relacionavam entre si, bem como suas características físicas e pessoais. Sua preferência era observar os formatos de suas cabeças, verificando que os crânios humanos diferem uns aos outros. Gall chamou esses estudos de “frenologia” (estudo dos crânios), pois acreditava que seu formato interferia nas variações de perfis apresentados pelos seres humanos. Gall tinha um parceiro de estudos, Joseph Spurzheim, que o ajudou a estruturar a frenologia, alcançando enorme popularidade na Europa e nos Estados Unidos. No início do século XIX, o cirurgião e antropólogo Francês Pierre Paul Broca demonstrou, pela primeira vez, um relacionamento indiscutível entre várias lesões no hemisfério esquerdo do cérebro e uma debilitação lingüística. Entretanto, o século XIX apenas introduziu proposições sobre as capacidades humanas (mentais), dedicando-se a experimentos com o objetivo de relacionar áreas específicas do cérebro e determinados comportamentos ou funções cognitivas específicas. A psicologia como ciência começou a ganhar seriedade somente a partir da segunda metade do século XIX, principalmente com Wilhelm Wundt na Alemanha e William James nos Estados Unidos. Estes foram sem dúvida os primeiros psicólogos que almejavam fazer da psicologia uma disciplina distinta da fisiologia e da neurologia. Entretanto, eles mantinham pouco contato entre si, o que retardou o desenvolvimento da nova ciência. Enquanto Gall estudava os conteúdos mentais específicos como linguagem, música ou diversas formas de percepção visual, Wundt e James 1
  • 2. estudavam algumas faculdades mentais, como a memória, percepção, atenção, associação e aprendizagem. Um dos instrumentos de verificação utilizados pelos psicólogos foram os testes para classificar os seres humanos, comparando desempenhos e medindo níveis de capacidades mentais. Mas, gradativamente, perceberam que para obterem resultados mais precisos, seria necessário observar principalmente capacidades mais complexas como a linguagem e a abstração. O principal pesquisador de testes para medir e comparar capacidades intelectuais foi o francês Alfred Binet e seu colega Théodore Simon, no início do século XX, que projetaram os primeiros testes de inteligência para separar as crianças que apresentavam dificuldades para seguir as atividades de classe. Assim, os testes ganharam cada vez mais popularidade nas escolas, no exército e em organizações industriais. Até pouco tempo atrás, a maioria dos psicólogos concordava que a testagem de inteligência foi sem dúvida a maior conquista da psicologia. Não obstante, esta concepção vem mudando, pois podemos encontrar inúmeras limitações nos próprios instrumentos e em sua aplicação, sendo que até a questão da hereditariedade tem sido desacreditada. À medida que o estado emocional de um indivíduo influencia nos resultados dos testes, o grau de inteligência obtida num teste hoje pode ser diferente do resultado de amanhã. Conforme demonstrou Stephen Jay Gould (apud in Gardner, 1994, p. 13), “não há nada intrinsecamente superior em relação a qualquer uma dessas medições matemáticas. Quando o assunto é a interpretação dos testes de inteligências nos defrontamos com uma questão de gosto ou de preferência ao invés de com uma sobre a qual a conclusão científica que tende a ser atingida”. Ampliando os horizontes na questão da inteligência, pode-se citar Howard Gardner, psicólogo americano de 56 anos, professor de Cognição e Educação e co-diretor do Projeto Zero, no Harvard Graduate School of Education, e professor adjunto de Neurologia na Boston University School of Medicine. É autor de dezoito livros, incluindo “Estruturas das Mente” que foi lançado nos Estados Unidos em 1983, publicado no Brasil em 1994. Junto a uma equipe de pesquisadores, divulgou a teoria de inteligências múltiplas, questionando a visão predominante de inteligência centrada basicamente nas habilidades lingüística e lógico-matemática. 2
  • 3. Assim, Gardner é um crítico implacável dos testes de QI e de aptidão escolar. Em sua teoria, identifica sete “tipos” de inteligência, que serão caracterizadas no capítulo 2, sendo que em cada pessoa elas se combinam de forma diferente. Na educação, a teoria de inteligências múltiplas implica o desenvolvimento de avaliações que sejam adequadas às diversas habilidades, a criação de currículos específicos e um ambiente educacional mais amplo e variado. Gardner é considerado um dos principais pedagogos deste final de século. Mesmo tendo sido influenciado por Piaget, apresenta uma posição contrária em alguns aspectos. Segundo Piaget (1992), o estágio final do desenvolvimento cognitivo de um indivíduo encontra-se no início da adolescência, pois este já é capaz de realizar operações formais, de fazer abstrações e raciocinar logicamente diante dos problemas que o cercam. Afirma que o indivíduo pode continuar a fazer descobertas, mas não passa mais por mudanças qualitativas em seu pensamento. Para Gardner (1994), a teoria de Piaget apresenta pontos positivos e negativos. Assim, o fato de se analisar os estágios de desenvolvimento da criança de acordo com as estruturas mentais de cada fase é visto por Gardner como positivo. Entretanto, o fato de não se analisar as etapas necessárias para adquirir outras competências como: desenhar, atuar, esculpir com um artista ou persuadir, alegar, contestar, defender como um advogado ou possuir algum tipo de liderança como os políticos e até habilidades para esportes, foi considerado por Gardner como um aspecto negativo. Gardner também relevou os fundamentos biológicos da inteligência como um ator genético e perspectiva neurobiológica, devido à sua formação em medicina neurológica. Ele afirma que: “...embora a genética ainda prove ser de utilidade limitada para o estudioso da inteligência, uma revisão da neurologia, incluindo as especialidades na neuroanatomia, neurofisiologia e a neuropsicologia – promete produzir frutos substanciosos. O conhecimento nervoso está se acumulando rapidamente quanto o conhecimento da genética e os achados são muito mais próximos por assim dizer, dos fenômenos da cognição e da mente” (1994, p.28). 3
  • 4. Embora considerando a importância dos aspectos biológicos da teoria de Gardner, nos deteremos nos aspectos psicológicos e sociais da mesma, sem diminuir o grau e sem menosprezar a importância dos aspectos puramente biológicos. 1.1 Sobre o Conceito de Inteligência Se estivéssemos em meados do século XIX, seria fácil apresentar um conceito pronto de inteligência, pois ainda existia a cultuação por pessoas que apresentavam um alto QI (Coeficiente de Inteligência Intelectual). Assim, as pessoas que apresentavam facilidade em resolver questões de lógica- matemática e de lingüística eram consideras inteligentes. Porém, estes conceitos vêm mudando gradativamente de acordo com o progresso tecnológico e com o desenvolvimento da sociedade moderna e torna-se quase que impossível apresentar um conceito único e universal de inteligência nos dias de hoje. Logo, não há uma lista que possa ser universalmente aceita sobre as inteligências humanas. Em relação a isto, Gardner afirma que: “Jamais um rol mestre de três, sete ou trezentas inteligências que possam ser endossadas por todos os investigadores. Podemos nos aproximar mais desta meta se nos mantivermos apenas em um nível de análise (digamos, neurofisiológico) ou com uma meta (digamos, previsão de sucesso numa universidade técnica); mas se buscamos uma teoria decisiva sobre o alcance da inteligência humana, podemos esperar jamais concluir nossa busca” (1994, p. 45). Diante disso, surge a seguinte questão: por que prosseguir num caminho tão relativo e indefinido em relação à inteligência? Provavelmente porque há uma grande necessidade das pessoas a serem avaliadas por suas habilidades e competências e serem valorizadas como tal. Há a necessidade de uma reclassificação de todas as competências intelectuais humanas, pois novos estudos e pesquisas estão surgindo e precisam ser revisados para os que terão acesso a estes. Assim, quem sabe, possam mudar o conceito tradicional que a maioria das pessoas conhecem sobre inteligência. 4
  • 5. Para que este conceito não pareça muito aleatório, podemos entender a inteligência como a capacidade que um indivíduo possui para resolver e criar problemas/situações de qualquer ordem ou grau. Este conceito foi elaborado por Gardner - Estruturas da Mente (1994) - onde ele defende que uma competência intelectual humana deve apresentar um conjunto de habilidades de resolução de problemas que tem alguma importância dentro de um contexto cultural. Assim, a competência é vista como um critério para qualificar ou desqualificar a ação de um indivíduo, mas não determina o “grau” da mesma, somente oferece ”aparentemente” evidências de que um indivíduo é pouco ou muito inteligente em relação ao problema. Trata-se, portanto, de uma questão cultural e social sobre o assunto. Dentro desta perspectiva, existem outras inteligências, além das convencionais, que vem surgindo com novas pesquisas e estudos feitos recentemente, declarando que a mente humana pode favorecer várias habilidades e/ou habilidades específicas valorizadas ou não pelo meio social no qual o indivíduo está inserido. Sobre o assunto, no Brasil, há o professor Nílson José Machado, que aprova a teoria de Gardner e acrescenta mais duas novas inteligências – Pictórica e Naturalista. Há ainda Celso Antunes que iniciou sua carreira como professor de Geografia no colégio Alberto Conte, em 1958, mas o seu entusiasmo pela profissão levou-o a buscar em diferentes cursos de especializações pedagógicas, tornando-se um colecionador de jogos pedagógicos. Anos depois, assumiu a Coordenação e também a Direção de algumas grandes escolas de São Paulo, o que tornou possível experimentar esses jogos em outras áreas e para outras faixas de idade. Estes jogos podem ser encontrados e seu livro “Jogos para Estimulação das Múltiplas Inteligências”(2000). Verifica-se que Antunes atribui maior ênfase aos estímulos feitos às diversas inteligências através de jogos com objetivos e métodos específicos para cada uma. Porém, faz uma breve apresentação das inteligências, baseado-se em Howard Gardner, e acresce a competência "pictórica" apresentada pelo professor Nílson José Machado. Esta competência se manifesta em qualquer criança que desenhe transmitindo mensagens sem a 5
  • 6. presença da escrita, como os cartunistas e grandes pintores cujas obras "falam por suas expressões não verbais". Na obra acima citada, Antunes (2000), declara que os jogos foram organizados por inteligências específicas que atuam sempre de forma interdisciplinar e estimulam simultaneamente outras inteligências em maior ou menor grau, levando em conta os Parâmetros Curriculares Nacionais. Alem disso, o livro é destinado também aos pais que conhecem a verdadeira idade cognitiva de suas crianças. O autor faz uma referência relevante à palavra "jogo": "Neste Manual empregamos a palavra jogo como um estímulo ao crescimento, como uma astúcia em direção ao desenvolvimento cognitivo e aos desafios do viver, e não como uma competição entre pessoas ou grupos que implica vitória ou derrota” (2000, p.11). Também apresentam propostas de trabalho sujeitas a adequações, de acordo com as necessidades da clientela. Assim, não se trata de atividades criadas/inventadas por ele, mas uma coleta destas no decorrer de sua vida profissional. A forma utilizada para a resolução e até para a escolha de um problema dependerá sempre do tipo de inteligência que o indivíduo possui em maior grau, juntamente com o interesse e a habilidade necessária para tanto. Assim, para fazer a planta de uma casa, é preciso que o indivíduo tenha habilidades específicas e a inteligência espacial mais aguçada, o que é típico em arquitetos, geógrafos ou marinheiros que percebem o espaço como um todo, assim como suas partes, para produzirem mapas, plantas e outras formas de representações planas. Entretanto, existem várias outras competências que estão distribuídas em maior ou menor grau pela humanidade inteira e algumas delas só precisam ser estimuladas de alguma forma para que se desenvolvam. Antunes considera os jogos a melhor estratégia do professor para estimular o desenvolvimento das inteligências e por essa razão apresenta objetivos, regras e materiais específicos para cada competência, que podem ser adaptados de acordo com o nível de aprendizagem dos alunos e dos recursos disponíveis na instituição escolar. 6
  • 7. 1.2 O Desenvolvimento da Mente Humana A mente humana desenvolve-se mediante dois aspectos: a evolução biológica e a evolução histórico-cultural. Embora muitos teóricos tenham feito contribuições significativas à teoria cognitivo-desenvolvimentista, Piaget é a figura central desta teoria, pois para o autor, o pensamento é a base em que se assenta a aprendizagem e a maneira da inteligência manifestar-se. Piaget denominou sua teoria de epistemologia genética, pois estudou a evolução do conhecimento (desenvolvimento) em crianças e a partir das pesquisas efetuadas sistematizou a evolução do pensamento. Cada período de desenvolvimento é caracterizado por aquilo que todas as crianças normais conseguem fazer, considerando faixas etárias específicas. Apresenta-se a seguir uma sistematização das etapas do desenvolvimento cognitivo baseado na teoria de Piaget: Quadro – Desenvolvimento Cognitivo Segundo Piaget PERÍODO ESTÁGIO CARACTERIZAÇÃO Inicia o desenvolvimento de algumas habilidades 0 a 18/24 meses 1. Sensório-Motor motoras básicas (sentar, rolar, engatinhar, etc) A criança está na fase egocêntrica. 2 a 7 anos 2. Pré-Operatório O conhecimento através dos órgãos dos sentidos é mais aguçado (manipulação). Através da manipulação, a 7 a 11/12 anos 3. Operações Concretas criança consegue resolver problemas concretos. É capaz de fazer abstrações, sem a A partir de 12 anos 4. Operações Formais necessidade da manipulação concreta. Fonte: Quadro elaborado pela pesquisadora 7
  • 8. Segundo o autor, todos os indivíduos passam pelos estágios acima sistematizados. Entretanto, as idades atribuídas ao surgimento dos estágios são um referencial variável, que podem alterar-se de acordo com as características biológicas, educacionais ou sociais da criança. Deve-se ressaltar que a construção de uma nova fase depende da realização plena das anteriores. Não se pode saltar etapas, pois acarretam prejuízos posteriores à aprendizagem. Estes problemas são geralmente diagnosticados quando a criança inicia sua vida escolar, pois estará em contato com atividades que requerem habilidades específicas. Sendo assim, é mais fácil para o professor perceber alguma deficiência da criança na sala de aula do que os pais em casa. Assim, o professor deve trabalhar com estratégias adequadas a fim de contribuir neste sentido. A escola é o local onde as crianças passam a maior parte do tempo por diversas questões de ordem socioeconômicas e portanto este ambiente deve oferecer estímulos diversificados que a criança não encontra em casa, principalmente no caso de alunos carentes, compreendendo que “..nenhuma criança é uma esponja passiva que absorve o que lhe é apresentado. Ao contrário, as crianças modelam ativamente seu próprio ambiente e se tornam agentes de seu processo de crescimento e das forças ambientais que elas mesmas ajudam a formar. Em síntese, o ambiente e a educação fluem do mundo externo para a criança e da própria criança para seu mundo." (Antunes, 2000, p. 16). Diante desta citação, pode-se concluir que a criança faz parte do processo e deve ser avaliada de acordo com as habilidades que utilizou para compor o mesmo processo de aprendizagem. A noção das inteligências múltiplas dificilmente poder ser cientificamente comprovada, já que ela é uma idéia que recentemente adquiriu o direito de ser discutida seriamente, através de Howard Gardner e de seus estudos com indivíduos prodígios, talentosos, pacientes com danos cerebrais. Gardner apresenta também um grupo de "inteligências candidatas”, incluindo as que são ditadas pelo senso comum, como a capacidade de processar seqüências auditivas, bom senso ou intuição notável (sinais de "prodigiosidade") e capacidade executiva. Nesta questão, é importante 8
  • 9. ressaltar que "em nenhum caso uma inteligência é completamente dependente de um único sistema sensorial, nem nenhum sistema sensorial foi imortalizado com inteligência” (1994, p. 51). Assim, as inteligências são capazes de realização através de mais de um sistema sensorial. E e´ um erro tentar fazer comparações entre elas, pois cada uma deve ser pensada como um sistema próprio e com suas próprias regras. 1.3 A Inteligência Lógico-Matemática Em geral, as pessoas que possuem a inteligência matemática apresentam facilidade em resolver problemas, pois seu raciocínio lógico é muito rápido e bem desenvolvido. São pessoas que conseguem analisar o todo e suas partes com objetividade e surpreendem os que estão à sua volta, já que resolvem os problemas com rapidez e eficiência. No contexto atual, esta é uma das habilidades mais valorizadas, seja no setor educacional ou mercantil. Assim afirma Antunes (2000, p.30): “Entre todas as inteligências, indiscutivelmente, a lógico- matemática e a verbal são as de maior prestígio. Uma vez que a matemática e a leitura se encontram entre as mais admiráveis conquistas da sociedade ocidental, é compreensível que os expoentes dessas inteligências estejam muito mais próximos de serem considerados “gênios” do que os que possuem ou possuíram notável inteligência cinestésica, corporal, naturalista, intrapessoal e outras.” A lógica esteve presente em todo processo de desenvolvimento das sociedades atuais. O seu expoente máximo foi sem dúvida Aristóteles, que viveu no século IV antes de Cristo e que pode ser considerado o primeiro filósofo que se preocupou com a necessidade de estabelecer regras para a argumentação, as eternas falácias ou sofismas. O fato de estabelecer argumentos faz parte das características de uma pessoa lógica e esta atividade é bastante aproveitada pelos professores, no sentido de promover questionamentos básicos. Para tanto, são utilizados até júris simulados em sala de aula para estimular o desenvolvimento da inteligência lógico-matemática. 9
  • 10. Dentro desta proposta, temos uma citação de Machado (1998) na introdução de sua obra Lógica? É lógico! da Coleção Vivendo a Matemática, aonde vem a confirmar: “Algumas pessoas gostam de dançar, outras não. Há quem vibre ao dirigir automóveis e quem sinta sono na direção. Como tudo na vida, há quem goste de Matemática e quem não a veja com bons olhos. Mas, para gostar de alguma coisa, é preciso conhecê-la. É preciso experimentá-la e ter a chance de sentir algum prazer neste contato.” Sendo assim, o professor é responsável em tornar prazeroso o contato do aluno com o mundo da Matemática, através de aulas atrativas e concretas, elaborando problemas do cotidiano envolvendo números, objetos matemáticos, cálculos, transformações, etc. Em geral, este tipo de inteligência é mais desenvolvido em Engenheiros, Físicos, Químicos, Matemáticos, Filósofos, Contabilistas, Administradores e Advogados, devido às característica de sua formação e opção profissional, que estão associadas à competência em desenvolver raciocínios dedutivos, em construir ou acompanhar cadeias causais, em vislumbrar soluções para problemas e em lidar com números, cálculos e formas matemáticas. Assim, segundo Machado (1996), pode-se afirmar que “o pensamento científico encontra-se fortemente associado à dimensão lógico-matemática da inteligência”, pois a maioria dos avanços científicos e tecnológicos provém de profissionais das áreas de exatas e biológicas, ou seja, de profissionais que manifestam tal competência em maior destaque do que as outras. No âmbito escolar, o currículo é fragmentado por disciplinas e áreas de conhecimento específicas, sendo a matemática o saber mais valorizado pelos docentes. Entretanto, este saber deveria ser integrado a outros conteúdos e outras formas de avaliação, para que a criança tenha oportunidade de manifestar as habilidades que melhor domina e para que seja avaliada de acordo com seu potencial. É importante enfatizar que a inteligência lógico-matemática, como as demais, está presente em todas as pessoas, mas em algumas se mostra 10
  • 11. mais acentuada e a questão do estímulo, tanto em casa como na escola, será o fator-chave para o desenvolvimento desse tipo de inteligência. 2. A Teoria na Prática – Conclusão Com o objetivo de desenvolver aulas mais interessantes, Antunes (2000) elaborou uma extensa coletânea de jogos a ser utilizada por pais e professores, com a finalidade de estimular as inteligências múltiplas nos alunos. Por essa razão, ele se intitula “colecionador de jogos pedagógicos” (Antunes, 2000, p.9). Os jogos sugeridos podem ser utilizados de maneira a levar em conta os Parâmetros Curriculares Nacionais, embora o autor tenha se preocupado com a abrangência pluricurricular. Assim, tomou o cuidado de não indicar o material por faixa etária, pois não toma por base a idade das crianças e sim as habilidades cognitivas a serem desenvolvidas, uma vez que a idade biológica pode diferir da idade cognitiva. Por isso, adverte: “..no Brasil a idade da criança é sempre um ícone subordinado às condições materiais da família, econômicas e do meio ambiente (...) a diversidade de estímulos ambientais interferrem no desenvolvimento físico, cognitivo, intelectual e, sobretudo, emocional da criança, ocasionando imensas diferenças individuais...” “Somente as pessoas que acompanham a criança como os pais e professores, são melhores do que ninguém para saber a idade cognitiva de suas crianças” (Antunes, 2000, p.11). Outro autor que se preocupa com o desenvolvimento infantil e que tem pesquisado o assunto é Kishimoto, principalmente nos livros Jogos Infantis: o jogo a criança e a educação (1993) e O brincar e suas teorias (1998). Para a autora, o jogo é fundamental para a educação e o desenvolvimento infantil, quer se trate do jogo tradicional infantil, produto da livre iniciativa da criança e marcado pela transmissão oral, ou do jogo educativo que introduz conteúdos escolares e habilidades a serem adquiridas por meio da ação lúdica. Também faz uma relação cultural para a compreensão deste desenvolvimento, ao apontar que: “A compreensão das brincadeiras e a preocupação do sentido lúdico de cada povo dependem do modo de vida de 11
  • 12. cada agrupamento humano, em seu tempo e espaço. Daí emerge a imagem que se faz da criança, seus costumes e suas brincadeiras”.(Kishimoto,1993, p.63) Ressaltando a objetividade de alcançar o desenvolvimento integral da criança, a educadora americana White (1977, p.233) aconselha que “O professor deve constantemente ter como objetivo a simplicidade e a eficiência. Deve amplamente ensinar por meio de ilustrações,...“, e nada mais simples, porém objetivos do que jogos orientados. Gardner também é a favor que se procurem métodos que ajudem as pessoas a desenvolverem suas habilidades, afirmando: “..., o propósito da escola deveria ser o de desenvolver as inteligências e ajudar as pessoas a atingirem objetivos de ocupação e passatempo adequados ao seu espectro particular de inteligências. As pessoas que são ajudadas a fazer isso, acredito, se sentem mais engajadas e competentes, e portanto mais inclinadas a servirem à sociedade de uma maneira construtiva.” (Gardner, 1995, p.16). Cabe ao professor desenvolver esta diversidade de competências, valorizando a bagagem cultural de cada aluno e relacionando a prática da sala de aula a habilidades a serem aprendidas e ensinadas. 2.1 O Papel da Escola diante da Teoria Segundo aqueles que defendem as inteligências múltiplas, é preciso repensar a escola para que ela possa responder efetivamente às diferenças individuais percebidas entre os alunos, de modo a garantir que todos possam receber um tipo de educação que maximize o seu potencial intelectual. Assim, a escola deve voltar-se para o desenvolvimento das potencialidades de cada aluno e basear-se em duas idéias fundamentais. A primeira é que nos diversos campos do conhecimento se utilizam diferentes processos cognitivos e a segunda é que as diferentes culturas sempre se beneficiam das diferentes inclinações intelectuais das pessoas. Dessa forma, a escola só terá um significado real na medida em que vá ao encontro das diferentes inclinações percebidas entre os alunos e as utilize 12
  • 13. como pontos de apoio para desenvolver outros tipos de inteligências. Para tanto, a escola precisa se preocupar com avaliações periódicas que devem ser justas, considerando sempre os diversos tipos de inteligências e também os níveis de desenvolvimento dos alunos. O ensino da matemática é também muito importante, nesta proposta o mesmo deve ser trabalhado de forma interdisciplinar, para que se desenvolva junto ao aluno habilidades e competências nas diversas áreas do conhecimento. BIBLIOGRAFIA: ALVES, Ubiratan Silva. Inteligências: percepções, identificações e teorias. São Paulo: Vetor, 2002. ANTUNES, CELSO. As inteligências múltiplas e seus estímulos. 8ª ed. Ed. Papirus, Campinas, SP: 1998. GARDNER, Howard. Estruturas da Mente: A teoria das Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994. KISHIMIOTO, Tizuko Morchida. Jogos Infantis: o Jogo a criança e a educação. Ed. Vozes, Petrópolis/RJ: 1993. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e proposições. Cortez Editora, São Paulo: 1998. PIAGET, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão/Yes de La Taille, Marta Kohl de Oliveira, Hebysa Dantas – São Paulo: Summus: 92. MACHADO, Nílson José. Epistemologia e Didática: as concepções de conhecimento e inteligência e a prática docente. Editora Cortez, 2º ed. São Paulo: 1996. 13