Os estudos observacionais descritos incluem estudos de coorte (prospectivos e retrospectivos), estudos de caso-controle e estudos transversais. Estudos de coorte acompanham grupos ao longo do tempo para comparar desfechos. Estudos de caso-controle comparam exposições em grupos com e sem desfecho. Estudos transversais medem prevalências simultaneamente.
2. O que é o estudo de coorte?
No estudo coorte, um grande grupo de pessoas (coorte)
com características definidas é observado para
determinar a incidência de uma doença específica,
mortalidade por determinada causa ou outro tipo de
desfecho clínico.
Os estudos coorte podem ser prospectivos ou
retrospectivos. Os estudos coorte prospectivos são
conduzidos do presente para o futuro. Os estudos coorte
retrospectivos são conduzidos no presente, mas buscam
dados no passado.
3. O que é estudo coorte prospectivo?
No estudo coorte prospectivo, um grande número de pessoas
provenientes da mesma população é classificado em dois
grupos: um grupo de expostos a um fator que se supõe de
risco e o outro grupo de não expostos a esse fator. Os grupos
são observados durante certo tempo para verificar se a
proporção de um dado desfecho é maior em um dos grupos.
4. Exemplo:
Na década de 1950, dois pesquisadores ingleses fizeram o primeiro
estudo coorte. Eles queriam saber se fumantes apresentam maior
risco de ter câncer do pulmão em comparação com quem não fuma.
Para isso, enviaram um questionário para aproximadamente 60 mil
médicos do Reino Unido, perguntando sobre seus dados
demográficos (nome, endereço, sexo, idade etc.) e os hábitos de
fumar deles próprios. Receberam aproximadamente 40 mil
respostas. Os pesquisadores acompanharam a sobrevivência dos
médicos durante 53 meses, por meio de um registro geral. Dentre as
pessoas com o hábito de fumar (fator de risco) ocorreram mais
mortes por câncer no pulmão (desfecho).
5. O que é estudo coorte retrospectivo?
No estudo coorte retrospectivo, também chamado estudo
coorte histórico, um grande número de pessoas
provenientes da mesma população é classificado em dois
grupos: um grupo de expostos a um fator que se supõe de
risco para determinada doença e o outro grupo de não
expostos a esse fator. Depois, em arquivos ou por meio de
questionários, busca-se a proporção de participantes com a
doença nos dois grupos.
6. Exemplo
Para estudar a associação5 entre o hábito de fumar cigarros e o risco
de artrite reumatoide em mulheres, foi enviado um questionário para
377.481 mulheres americanas, profissionais da área da saúde, que
participam do Estudo Coorte sobre a Saúde da Mulher. As mulheres
foram, então, divididas em dois grupos: fumantes (expostas ao risco) e
não fumantes (não expostas). Para comparar os grupos, a análise
estatística considerou diversas variáveis, demográficas e de saúde. A
conclusão foi a de que a duração do hábito, mas não a intensidade
(número de cigarros por dia), está diretamente associada a um
pequeno aumento de risco de artrite reumatoide em mulheres.
8. O que é estudo de caso-controle
No estudo de caso-controle, um grupo de pessoas doentes
(casos) e outro de pessoas sadias (controles) são examinados e
questionados para que o pesquisador possa buscar, na
diferença de seus históricos, os fatores que predispõem
pessoas à doença em estudo.
9. Casos e controles devem ser tão similares quanto possível,
diferindo apenas pelo fato de um grupo ter a doença ou
condição em estudo (casos) e o outro não apresentar essa
doença ou condição (controles).
O pesquisador examina e questiona cada participante da
pesquisa para saber se foi ou não exposto, e em que grau, ao
fator que se presume de risco para a doença ou condição que
estuda. Faz, portanto, um retrospecto da vida dos participantes
de pesquisa e depois compara as proporções de expostos ao
fator de risco, nos dois grupos. O estudo de caso-controle é
também chamado de estudo retrospectivo
10. Exemplo:
Para verificar se as doenças periodontais estão associadas ao
hábito de fumar, foi feito um estudo de caso-controle.Foram
selecionados 95 homens com doença periodontal (casos) que
serviam a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, no período
de junho a outubro de 1998. Esses militares foram pareados
com outros 95, que não tinham doença periodontal
(controles). Os pares foram formados com militares da mesma
faixa etária e mesma patente. Levantados os hábitos de fumar
nos dois grupos, pode-se verificar que entre participantes com
doenças periodontais havia mais fumantes.
12. Exemplo:
Foi conduzido um estudo de caso-controle em 52 países para
identificar fatores de risco associados ao infarto do miocárdio de
ocorrência prematura. Foram levantados dados de 15.152 casos
(infartados) e 14.820 controles (sem ocorrência de infarto). Os achados
(em retrospecto) mostraram que infarto do miocárdio está
positivamente associado a tabagismo, hipertensão, diabetes,
obesidade abdominal, apolipoproteína e fatores psicológicos; e
negativamente associado a consumo de frutas e vegetais, consumo
moderado de álcool e atividade física regular.
INTERHEART Study Investigators. Effect of potentially modifiable risk factors associated with
myocardial infarction in 52 countries (the INTERHEART study): case-control study. Lancet,
2004 Set. 11; v. 364: 937-52.
13. Qual é a diferença entre estudo coorte retrospectivo e estudo de caso-
controle?
A diferença entre estudo coorte retrospectivo e estudo de
caso-controle está na direção. Nos estudos coorte
retrospectivos, os participantes da pesquisa são identificados
no presente, pela exposição ou não ao fator que se supõe de
risco para determinada doença. Depois, busca-se a doença
nessas pessoas. Por exemplo, tomam-se dois grupos de
pessoas, fumantes (expostas) e não fumantes (não expostas);
em seguida, busca-se o número de pessoas com doenças
cardíacas nos dois grupos, para comparar as proporções.
14. Nos estudos de caso-controle a busca é feita em sentido
contrário, ou seja, o desfecho é visto no presente, e a
exposição é buscada no passado. Por exemplo, para cada
participante com doença cardíaca, busca-se outro participante,
com características demográficas similares, mas sem a doença.
São assim formados dois grupos: o de casos e o de controles.
Depois, contam-se fumantes e não fumantes nos dois grupos e
comparam-se as proporções.
15. O que é estudo transversal?
No estudo transversal (cross-sectional study), o pesquisador
coleta uma amostra da população e, simultaneamente, levanta
dados de duas variáveis – o participante tem ou não uma
doença e foi ou não exposto ao fator que se presume de risco –
para estudar prevalências.
16. Os estudos transversais são rápidos, baratos, fáceis de serem
conduzidos. São também chamados de estudos de prevalência,
porque são feitos para estimar prevalências. Não servem para
estabelecer relação de causa e efeito, mesmo que exista
associação entre as variáveis – o fator eleito como causa e o
presumível desfecho. Em geral, as doenças são consequências
de múltiplos fatores e de um complexo de inter-relações
18. Tempo de espera e duração da consulta médica na região metropolitana de
Manaus, Brasil: estudo transversal de base populacional, 2015
Disponível em: https://www.scielosp.org/article/ress/2020.v29n4/e2020026/
19. REFERÊNCIAS
1- Vieira S, Hossne WS. Metodologia científica para a área da saúde. Editora Elsevier. 2ª ed.
2017.
2- http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/
3- http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/
4- https://ramb.amb.org.br/ultimas-edicoes/
5- https://www.youtube.com/watch?v=P-3ADWZyqxY&t=750s
6- https://www.youtube.com/watch?v=LWt_lBug-oA