Este documento é uma coleção de poemas sobre ruínas ao redor do mundo. Os poemas descrevem ruínas abandonadas como um teatro em Nova York, um antigo hospital na Alemanha, um palácio no deserto da Arábia Saudita, uma cidade na Rússia e um farol no Reino Unido, retratando a passagem do tempo e a memória que esses lugares deixaram para trás. Os poemas exploram temas como a decadência, a solidão e a efemeridade da existência humana.
7. Dicionário de palavras esquecidas
A memória se perde
entre os tipos esmaecidos
e esta língua
que já pouco
–ou nada–
me diz:
folheio o esquecimento,
entre dois muros
de meio-couro.
8. Geografia do abandono
I
Gering Dome Theater
Nova York, E.U.A.
Luxo e opulência
não mais se conjugam no presente.
As partículas de pó que o habitam
bailam à luz do sol,
buscando seus lugares.
A cortina, inerte, pouco revela:
nada aqui se apresenta–
o último monólogo em cena,
ainda a ecoar,
é o silêncio.
10. III
Palácio Al-Fared
Madain Saleh, Arábia Saudita
Era uma vez um monte em meio ao deserto,
entalhado pelas mãos famintas
de milhares de súditos leais
à espada que lhes cortaria o pescoço,
caso se cansassem.
O portal que se abre às dunas
dá a ver miragens de outros tempos:
caravanas de mercadores, dançarinas,
poetas, profetas e astrólogos
que nunca souberam antever,
nos céus,
o vazio que os habitaria.
11. IV
Kostroma, Rússia
O que os homens já não podem contar
revela-nos o que foi deixado para trás.
Os retratos esquecidos nas paredes,
as imagens que adornam as ruínas,
tudo atesta a pressa com que fugiram.
As portas e janelas abertas
confirmam que nunca cogitaram retornar.
12. V
Antigo farol de Point of Ayr
Talacre, Reino Unido
nada
i
l
u
m
ino
ao redor de mim.
13. VI
Catedral submersa
(Uma imagem)
Anjos-medusas flutuam sobre nós;
a multiplicação dos peixes
se dá diante dos olhos;
os ramos de algas se movem
embalados pela cega fé das correntes.
Para os que caminham sob as águas,
o verdadeiro milagre é respirar.
14. Arquitetura do tempo
No plano, enfim,
se configura a letra
de que se ergue o poema
em construção,
e a voz, magna mater
de todas as palavras,
funda outra realidade,
ampla e contínua,
que escava o tempo
em nova direção.