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FERNANDO SILVA,
ENTREVISTA                   SENIOR PARTNER DA VIRAGEM




“A atitude faz toda a diferença”
Consultor do sector automóvel desde a década de 80, Fernando                                  Organização Taylorismo, das linhas de
                                                                                              montagem e da divisão do trabalho, para-
Silva tem uma vasta experiência em vendas e formação                                          digma que se manteve até ao pós-guerra e
comportamental, áreas onde actualmente exerce a sua                                           à década de 70. Com a chegada dos anos
                                                                                              80, entramos na era do marketing e da cha-
actividade. Em entrevista à AP MAGAZINE, falou da evolução do                                 mada engenharia científica, em que os mé-
                                                                                              todos da organização industrial foram trans-
mercado automóvel em geral e do Pós-venda em particular                                       feridos para a área comercial. Chegamos à
                                                                                              Organização 2G (Segunda Geração Organi-
                                                                                              zacional), o verdadeiro boom dos procedi-
          visão que Fernando Silva tem da      caminhar para a economia de mercado.           mentos, o encanto pela eficácia das formas


A         evolução do mercado não se limita
          ao sector automóvel, pelo facto de
          também trabalhar com outros sec-
tores de actividade e isso permite-lhe ter
uma visão mais alargada da realidade. Co-
                                                  Nos automóveis com o BER, o “nosso
                                               tratado” regulador, dentro do próprio trata-
                                               do de Roma, destinado a permitir a adapta-
                                               ção do nosso sector à economia de merca-
                                               do.
                                                                                              “standard” de executar as coisas. Fomos
                                                                                              alimentados pelo princípio de que fazendo
                                                                                              “as coisas” de uma determinada forma, um
                                                                                              determinado método geraria um resultado
                                                                                              previsto. Isto era sem dúvida verdade quan-
meçamos por isso por lhe pedir que fizesse        Na década de 90 assistimos ao boom das      do associado a actividades psicomotoras.
uma breve análise das mudanças mais sig-       liberalizações, que continuaram pelos anos     Com o aumento da oferta, o evoluir das me-
nificativas que houve nos mercados nas últi-   2000. Com o 2004, e a separação dos con-       todologias de vendas, o valor do Indivíduo
mas décadas.                                   tractos Vendas, Serviços (APV), Peças, e       na Organização tornou-se cada vez mais
                                               em 2005, abolição das cláusulas de territó-    determinante. Os resultados passaram a ser
Que alterações mais significativas             rio, a liberalização toma outra dimensão. Os   também função do Valor Individual. A Atitu-
aconteceram com a mudança da                   Chamados “Novos Operadores”, centenas          de, fruto da Gestão da Vontade, do determi-
economia corporativa para a economia de        de Reparadores Independentes, e a cres-        nismo focalizado não só na forma de fazer
mercado?                                       cente estruturação das Redes de Serviços,      mas sobretudo na focalização nos resulta-
   Na passagem da economia corporativa         no pós-venda, como a Bosch Car Service,        dos.
(os grémios), para a economia de mercado,      Precision, Norauto, Midas, etc..                  Tão ou mais importante que “medir” o
a forma de “orientar/gerir” o negócio, mu-        Com a queda brutal das vendas a partir      que fizemos é medir o resultado daquilo que
dou, quase que diria, de forma radical. A      de 2008, a consciencialização das mudan-       fizemos. Estamos assim em plena Organiza-
economia corporativa até então era regula-     ças de paradigma apontam para as neces-        ção de Terceira Geração. Organização 3G,
da pelo próprio Estado. Acreditamos que        sárias e rápidas mudanças ao nível organi-     em que o fulcro da organização são os re-
regular a actividade comercial pelo Estado     zacional. Aquilo que tenho chamado de          sultados.
traria futuro, segurança, estabilidade - uma   passagem Organização 2G, para as organi-          Ainda encontramos com frequência a
visão de concertação para que todos ficas-     zações 3G e para as 4G.                        preocupação exagerada de medir o traba-
sem satisfeitos com os resultados. Ao nível                                                   lho de um recepcionista pela forma como
das demais economias, já vivam há muito a      Como define então esta evolução das            faz as coisas (procedimentos), sendo que
orientação para os mercados, caso dos          organizações?                                  os resultados serão consequência. Por ve-
EUA e da Europa Ocidental, por exemplo.           Poderia listar em resumo as característi-   zes sinto que estamos a tornar estes profis-
   Nós continuavamos regulados, definindo      cas das 4 principais Gerações (G) e as suas    sionais prisioneiros da “vontade de outro”
o negócio em função dos territórios, e de-     formas de Organização em função da sua         em fazer uma determinada “coisa” de deter-
monstravamos aos poucos e poucos a nos-        “focalização”:                                 minada forma, como se eles fossem des-
sa orientação no sentido de um impedimen-       - As primeiras formas de Organização –        providos de capacidade de “criar”, pensar e
to à livre concorrência e ao desenvolvimento      Centradas sobre o PRODUTO.                  arriscar. Sem dúvida que os procedimentos
económico. A liberalização do mercado por-      - 1G – Focalização no PRODUTO;                devem servir de suporte à acção, como
tuguês começou em 1974. Sendo que o             - 2G – Sobre os PROCESSOS;                    exemplo das melhores práticas, mas ao ten-
sector automóvel só começou a sentir os         - 3G – Sobre os RESULTADOS;                   tar transformar os humanos como máquinas
seus “verdadeiros” efeitos bem mais tarde.      - 4G – F2C – Focus no Focus do                executantes de determinada forma de
A partir da década de 80, associado aos           CLIENTE: Focalização naquilo em que o       “SER” corremos o risco de matar o próprio
problemas de uma “pseudo-anarquia” no             Cliente se Focaliza.                        sujeito da acção.
sistema de governação, com a consequente                                                         Relembremos o célebre procedimento de
instabilidade económica e financeira, infla-     A primeira geração (1G) a do PRODUTO.        "a explicação da factura", em que o recep-
ção elevada, taxas de emprego acima de         Período industrial, bastaria produzir para     cionista tentava explicar ao cliente o que foi
30%, etc, entramos em contingentação, de       garantir a venda. Relembro Henry Ford:         realizado no carro, sem lhe ter solicitado au-
80 até 87. Por cá passou o FMI em 83. Ade-     “toda a gente pode ter um carro, desde que     torização. Não havia venda, mas sim justifi-
rimos finalmente à CEE em 86. Este é real-     fosse Ford e … preto!” A produção coman-       cação de um trabalho não solicitado, nem
mente o momento em que o país começa a         dava as vendas. Estávamos na época da          tão pouco vendido. Felizmente que hoje a


38 AP MAGAZINE
ENTREVISTA




   DEZEMBRO 2011 39
FERNANDO SILVA,
ENTREVISTA                    SENIOR PARTNER DA VIRAGEM


grande maioria aplica o princípio da “Expli-
cação dos trabalhos”, como forma de valo-
rizar o futuro, sendo que o valor já não pode
ser surpresa para o cliente pois na generali-
dade estamos a investir na Venda, durante
a manhã. A generalidade das nossas Orga-
nizações investem fortemente no momento
da Venda (na parte de manhã) o que confir-
ma a passagem das organizações 2G para
3G, em que a Atitude sobre a Venda, é o
factor determinante.
   E quanto à Organização 4G? A verdadeira
Focalização no Cliente, e não tanto a Focali-
zação no Cliente mas a Organização em pri-
meiro lugar. Tomemos um exemplo simples:
O Vendedor vende a viatura. O Cliente
quando quer fazer a revisão, por vezes pede
ao Vendedor para marcar, mas fá-lo porque
sente que é a sua função, ou pede o favor
de o fazer por ele?

Será que um dia vamos mesmo ter o
Interlocutor Único?
   Estamos a assistir já em 2011, às primei-
ras organizações 4G, com a preocupação
de se estruturarem em função do ciclo glo-
bal e do interlocutor único. O vendedor da
viatura transforma-se num gestor de cliente,
que o acompanha em todo o ciclo de vida
do veículo (com o leque alargado de produ-
tos e serviços ao longo do ciclo). Esta solu-
ção pode não ser aplicável em todas as re-
des de concessionários, mas poderá ser
utilizada por mais de 60% dos operadores.
Os vendedores já não irão mais vender 8 a       base) e com a sua preparação continua em            Kaizen – Mudar para melhor, princípio das
10 viaturas em média por mês, mas 3 a 4,        matéria de gestão e liderança, também o faz     filosofias orientais, é muito mais que sim-
passam a fazer o ciclo completo do veículo,     de igual forma. Não é tanto a formação de       plesmente procurar melhorar. Os princípios
que passará pelo pós-venda. Esta será tam-      base, mas sua actualização perante os de-       da mudança com forte espírito de grupo,
bém uma forma das empresas reterem os           safios da mudança constante.                    sendo que para mudar o grupo investiu na
melhores profissionais de vendas (vendedo-        Formação com bases sólidas na área da         desejabilidade, de forma a que cada um sin-
res), recompensando pela venda dessas           gestão, Vendas, marketing, liderança de         ta o que já alcançou nessa caminhada, e
serviços, e por outro, controlando a quebra     “pessoas”, relação com o cliente são alguns     “saiba” quais são as suas oportunidades de
de serviço nas oficinas, aumentando a re-       dos requisitos fundamentais.                    melhoria.
tenção oficinal, que em algumas organiza-                                                           Zen - é libertação na filosofia oriental e
ções baixou mais de 15% este ano e sabe-        Quais são as principais falhas que              Kai é Mudar, sair de, deixar de estar “preso”
mos que irá continuar a baixar.                 detectou junto dos responsáveis de              a alguma coisa. Cito muitas vezes a defini-
   Uma vez liberalizado o mercado, todos os     oficinas?                                       ção de problema:
operadores, tentam “reter” os seus clientes        O termo “Falha” podemos aplicar com              Problema é quando existe um Delta (dife-
e aumentar a “conquista”. Qual o resultado?     todo o rigor à matéria de natureza técnica.     rença) entre a Ocorrência e a Desejabilida-
Operadores a mais, ou estruturadas sobre-       A variável produto, competência de diag-        de, ou seja, o que está a Ocorrer é Diferente
dimensionadas.                                  nóstico e de intervenção. Quanto a gestão,      (Delta) daquilo que seria Desejável Ocorrer.
                                                pró-actividade, volume de negócios, lide-       Isto é um desafio constante na busca de
           GRANDE DESAFIO                       rança de pessoas, dinâmica organizacional,      transformar o Delta em 0 (Zero), ou seja, fa-
        AOS “NOVOS GESTORES”                    etc., deveremos ser mais cautelosos na uti-     zer coincidir a Ocorrência com a Desejabili-
                                                lização do termo “falha”. Nos últimos 7 anos    dade, fazer com que o que está a ocorrer
Quem está mais bem preparado para               pela minha forte ligação aos profissionais da   seja o desejável.
liderar uma oficina: um engenheiro ou um        Toyota, “aprendi” o verdadeiro valor da filo-       Muitas vezes o problema acontece por-
gestor de empresas?                             sofia kaizen, que podemos traduzir por me-      que o desejável de um determinado “profis-
  Perante estas duas alternativas, seria ten-   lhoria contínua, ou mudar para melhor. A di-    sional” não é o mesmo que a Organização
tado a responder que um gestor estaria me-      cotomia de bem e mal, dá lugar ao desafio       Deseja (desejabilidade Organizacional), logo
lhor colocado para essa função, mas claro       de “hoje melhor que ontem, amanhã melhor        o desafio é a continua Formação no sentido
que o engenheiro (enquanto formação de          que hoje”!                                      de passar a Desejabilidade Organizacional a


40 AP MAGAZINE
ENTREVISTA
                                                                                                “excelente” forma de aumentar os seus ní-
                                                                                                veis de auto estima.

                                                                                                Vender um serviço oficinal é tão simples
                                                                                                como vender um automóvel, por exemplo?
                                                                                                   O que está aqui em questão é o fenóme-
                                                                                                no de “vender”. Na essência, um bom ven-
                                                                                                dedor de serviços ou de automóveis será
                                                                                                um bom vendedor de qualquer coisa, até de
                                                                                                sonhos. Os recepcionistas que temos ac-
                                                                                                tualmente já são mais vendedores do que
                                                                                                recepcionistas propriamente (deveriam ser),
                                                                                                porque, se não o forem, o negócio não
                                                                                                acontece. Nos últimos anos, esta questão
                                                                                                da Venda tem sido uma questão fundamen-
                                                                                                tal, o que implica o cuidado em 3 eixos fun-
                                                                                                damentais:
                                                                                                   1 - O Perfil do profissional. É frequente
                                                                                                ser confrontado com a seguinte questão:
                                                                   Viragem
                                                                                                Qual deve ser a formação indicada para que
                                                   Sede:
                                                                                                o Recepcionista aprenda a vender?
                                                  Bela Vista Office
                                                                                                   A minha resposta já sai em automático:
                                                  Estrada de Paço de Arcos, 66 e 66-A
                                                                                                   - Para formar bem um Recepcionista, co-
                                                  2735-336 Cacém
                                                                                                meçamos por ser muito cautelosos na sua
                                                   Senior Partner:
                                                  Fernando Silva                                escolha!;
                                                   Telefone:                                       2 – A sua formação ao Nível das Compor-
                                                  917 247 669                                   tamentais e Técnicas de Venda. A sua pre-
                                                   E-mail:                                      paração como comercial;
                                                  fernandosilva@viragem.com                        3 – As ferramentas de apoio à venda. (di-
                                                   Internet:                                    dácticos, dossiers de produto, argumentá-
                                                  www.viragem.com                               rios, tipo de objecções, etc).
                                                                                                   Nas minhas partilhas com os profissio-
                                                                                                nais, tenho clarificado a diferença entre:
                                                                                                   - “Bater à porta da Compra” e “Vender”
todos os colaboradores.                          tativo necessário para mudar o seu paradig-       “Bater à porta da compra” é perguntar ao
   O princípio, na psicologia, para não recor-   ma de desejabilidade sendo que com isso        cliente se quer comprar, mesmo com al-
rer ao conceito oriental kaizen, deve ser o      vão perder o seu lugar na história.            guns argumentos à mistura. Isso já é bom,
da auto regulação, da educação, que mais                                                        mas não chega. “Vender” ou V6, como lhe
não é do que a adaptação da nossa deseja-        E no caso dos produtivos, que falhas           chamo, é a utilização de algumas técnicas
bilidade ao padrão social.                       encontrou?                                     específicas: V6: 1- Diagnosticar, 2- Estrutu-
   O que aconteceu nestes últimos anos, é           Nos produtivos a questão que se coloca      rar, 3-Orçamentar, 4-Apresentar, 5-Argu-
que o nível de desejabilidade foi muito dife-    não é a sua eficiência psicomotora, mas a      mentar, 6-Concluir.
rente. Na geração 2G, não se pedia a um          capacidade de se envolverem na cultura do         Logo para vender é preciso ter Perfil, ter
colaborador que pensasse por si, mas que         cliente. Precisamos de continuar a recriar     Argumentos, e sobretudo ter tempo para
executasse as ordens recebidas. Ao passar        todos os dias, formas de colocar a organi-     obter a confiança do cliente e passar a sua
para a organização baseada nos resultados        zação voltada para o cliente. Passar horas e   “convicção”.
(3G), - o paradigma mudou. Até por razões        horas a fazer operações repetidas, têm o
económicas a redução das pessoas é uma           seu risco motivacional e em consequência       Numa oficina, o recepcionista é obrigatório
realidade e como consequência os níveis          no clima organizacional. Motivar não passa     ou dispensável?
hierárquicos estão a ser reduzidos, cada         só por critérios cautelosos de remuneração        O recepcionista pode ser dispensável,
vez mais – por alguns denominados de “dis-       ajustada. Quanto importante é a motivação      enquanto função. O Profissional, que ainda
sipadores de calor”.                             Intrínseca. Tantas e tantas vezes ouço for-    chamamos de Recepcionista, mas é muito
   O que aconteceu no pós-venda automó-          mandos, a verbalizar a satisfação pelo facto   mais que isso, esse é cada vez mais neces-
vel tem sido uma profunda mudança do pa-         de reflectirem sobre o valor do cliente, as    sário. Profissional da relação cliente, profis-
radigma do negócio. A Gestão Centrada so-        questões de relacionamento interno, aspec-     sional a pensar quer nas necessidades do
bre os processos, evolui para a Gestão cen-      tos da comunicação, etc..                      cliente quer do negócio, esse sim é e será
trada sobre os resultados. Nos últimos              A remuneração, como motivação extrín-       cada vez mais indispensável.
anos, na minha actividade de formação e          seca, é o meio com o qual muitos dos nos-
consultoria, tenho encontrado muitas pes-        sos colaboradores “compram depois a sua        Na reparação automóvel, há alguma forma
soas atentas à evolução e preocupadas            alegria” com o dinheiro que levam para         especial para motivar uma equipa?
com o seu futuro, mas infelizmente em mui-       casa. Envolvê-los de forma mais profunda         Os “condimentos” para a motivação de
tos casos não conseguem dar o salto quali-       no ambiente e o negócio da oficina, é uma      uma equipa são, na sua essência, similares,


                                                                                                                             DEZEMBRO 2011 41
FERNANDO SILVA,
ENTREVISTA                     SENIOR PARTNER DA VIRAGEM


independentemente da actividade. Corren-
do o risco de me repetir, listo: O conheci-
mento dos seus colaboradores, a formação
contínua, a promoção do valor “pessoa”, a
focalização dos colaboradores nos resulta-
dos.
   Num dos casos em que me foi solicitado
a “opinião” sobre uma determinada organi-
zação, logo no primeiro dia pedi ao Gerente
para dar comigo uma volta na Oficina. Ao
chegar junto dos profissionais, e ao cumpri-
mentá-los, o Gerente percebendo do meu
interesse foi apresentando os colaborado-
res. Rapidamente me apercebi, que pouco
mais sabia que o Nome, idade, função. Sen-
ti que este Gestor não conhecia cerca de
60% dos seus funcionários. Se não conhe-
cia, e justificava porque não achava neces-
sário, ficou-me a pergunta: Que conceito te-
ria este Gestor de Motivação das Equipas?
   Motivar Equipas é liderar pessoas e não                        Motivar não passa só por critérios cautelosos de remuneração ajustada.
gerir números liderando “ferramentas”.                                         Quanto importante é a motivação Intrínseca

Como aumentar o número de entradas de            “entradas” /dia. Se aplicar o princípio de:           vés de coisas muitos simples. Passemos
veículos na oficina e aumentar o valor de           “… se procuras encontras…!” o Recep-               em filme a seguinte cena:
cada entrada?                                    cionista, para além do que facturou, pode                Num dia de chuva, o cliente entra na ofici-
   O que me está a perguntar é o próprio         encontrar ainda em valor médio por “entra-            na e com ar incomodado verbaliza alto:
“cerne” do negócio. Hoje é o verdadeiro de-      da” um valor na ordem dos 200€ de serviço                - "Isto é que é chover, uff!".
safio. A pró-actividade na nossa actividade      extra em cada viatura, o que feitas as con-              O Recepcionista algo “distraído” procura
com dois desafio complementares:                 tas, pode dar um valor cerca de 40.000€ ao            abreviar o tempo:
   1- “Controlar” o ciclo da “vida” da viatura   fim do mês e ao final de 8 meses (o tempo                - .. sim sim… é para a Revisão?... Qual é
no seu programa de manutenção/repara-            médio entre serviços) valores na ordem dos            a matrícula?
ção, com a marcação pró-activa do próximo        320.000€ (chamamos a este valor o valor                  Os “verdadeiros profissionais” vão por
serviço. Controlando a D_PPS (data da pre-       médio do Pipeline). Isto significa que o pro-         outro caminho:
visão do próximo serviço). Quando o Re-          cesso de venda não é só o fruto do realiza-              - Se chove! É verdade! Venha aqui tomar
cepcionista, está a entregar um veículo tem      do no “dia da entrada” mas um seguimento              um cafezinho para aquecer!".
já a oportunidade de marcar o próximo ser-       contínuo, sobretudo nos produtos e servi-                Grande princípio: Os clientes não têm
viço.                                            ços de grande risco de “perda” ou como di-            matrícula, têm nome e possuem uma viatura
   2 - Potenciar o valor de cada entrada,        zemos que aumentam a TAF (Taxa de Alte-               com matrícula que é a nossa oportunidade
pelo domínio das Técnicas de Negociação e        ração de Fornecedor), ou seja, tomemos o              de “facturar” se a nossa relação com o
Vendas.                                          exemplo da “não venda de pneus”, o risco é            “dono” da matrícula for suficientemente
   O segredo é o cruzamento do controlo do       que se o cliente for comprar os pneus nou-            “forte” para poder conhecer as suas verda-
ciclo de manutenção do veículo, que evita        tra organização, o profissional dessa orga-           deiras necessidades.
que o cliente "salte" para outro lado, com a     nização vai procurar e bem, não só vender                F2C: Valores orientados para o cliente.
angariação de novas oportunidades, e “ren-       os pneus, mas controlar o Próximo Serviço
tabilização” de cada entrada. Achei interes-     a partir daquele momento.                             Na relação com os nossos clientes, que
sante por exemplo, na Feu Vert, a designa-          Claro que Atitude destes profissionais             valores devem orientar os nossos
ção da função do tradicional recepcionis-        vale a diferença. A sua visão do Negócio e            comportamentos?
ta/Gestor de cliente. Na Placa ao peito está:    potencial valor do cliente.                              Exactamente como dizia: Quando o clien-
O Nome e a função: Vendedor. Portanto, a                                                               te entra numa oficina, pretende soluções
questão basilar é fazer com que o cliente        Qual é a importância das atitudes?                    para a sua mobilidade à medida das suas
que vai à oficina volte a realizar os próximos      Toda. A atitude faz toda a diferença. “Per-        expectativas. A oficina "só" tem que arranjar
serviços nessa mesma oficina.                    ceber” e interiorizar o valor de cada um de           as soluções à medida das expectativas e
   A “gestão das oportunidades de venda”         nós para o “negócio” e integrar nas nossas            necessidades do cliente. É a sua missão do
(o Pipeline dos Serviços) é fulcral para au-     atitudes que o Cliente é mesmo a “ferra-              ponto de vista profissional, ético e humano.
mentar a facturação. Não só aumentar a           menta” do nosso potencial sucesso. O De-              Focalizarmo-nos naquilo em “ele” se focali-
facturação em cada entrada, mas o up-sel-        safio é: F2C. Focus no Focus do Cliente. O            za, procurando “largar” o minúsculo mundo
ling, após a saída do cliente, a facturação      desafio não é tanto o focalizar-se no cliente,        dos nossos pequenos procedimentos roti-
dos produtos/serviços identificados no mo-       mas naquilo em que o cliente se focaliza. Na          neiros e entrar no universo das necessida-
mento da revisão e que não foram “compra-        essência, trata-se de trabalhar as “verda-            des dos outros. É isso que eles esperam e é
dos” naquele dia. Tomemos um exemplo de          deiras necessidades do cliente” – aquilo em           por causa disso que estão disponíveis para
um recepcionista/vendedor que atende 10          que ele se focaliza, e que por vezes é atra-          nos “pagarem”.


42 AP MAGAZINE

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A evolução do mercado automóvel

  • 1. FERNANDO SILVA, ENTREVISTA SENIOR PARTNER DA VIRAGEM “A atitude faz toda a diferença” Consultor do sector automóvel desde a década de 80, Fernando Organização Taylorismo, das linhas de montagem e da divisão do trabalho, para- Silva tem uma vasta experiência em vendas e formação digma que se manteve até ao pós-guerra e comportamental, áreas onde actualmente exerce a sua à década de 70. Com a chegada dos anos 80, entramos na era do marketing e da cha- actividade. Em entrevista à AP MAGAZINE, falou da evolução do mada engenharia científica, em que os mé- todos da organização industrial foram trans- mercado automóvel em geral e do Pós-venda em particular feridos para a área comercial. Chegamos à Organização 2G (Segunda Geração Organi- zacional), o verdadeiro boom dos procedi- visão que Fernando Silva tem da caminhar para a economia de mercado. mentos, o encanto pela eficácia das formas A evolução do mercado não se limita ao sector automóvel, pelo facto de também trabalhar com outros sec- tores de actividade e isso permite-lhe ter uma visão mais alargada da realidade. Co- Nos automóveis com o BER, o “nosso tratado” regulador, dentro do próprio trata- do de Roma, destinado a permitir a adapta- ção do nosso sector à economia de merca- do. “standard” de executar as coisas. Fomos alimentados pelo princípio de que fazendo “as coisas” de uma determinada forma, um determinado método geraria um resultado previsto. Isto era sem dúvida verdade quan- meçamos por isso por lhe pedir que fizesse Na década de 90 assistimos ao boom das do associado a actividades psicomotoras. uma breve análise das mudanças mais sig- liberalizações, que continuaram pelos anos Com o aumento da oferta, o evoluir das me- nificativas que houve nos mercados nas últi- 2000. Com o 2004, e a separação dos con- todologias de vendas, o valor do Indivíduo mas décadas. tractos Vendas, Serviços (APV), Peças, e na Organização tornou-se cada vez mais em 2005, abolição das cláusulas de territó- determinante. Os resultados passaram a ser Que alterações mais significativas rio, a liberalização toma outra dimensão. Os também função do Valor Individual. A Atitu- aconteceram com a mudança da Chamados “Novos Operadores”, centenas de, fruto da Gestão da Vontade, do determi- economia corporativa para a economia de de Reparadores Independentes, e a cres- nismo focalizado não só na forma de fazer mercado? cente estruturação das Redes de Serviços, mas sobretudo na focalização nos resulta- Na passagem da economia corporativa no pós-venda, como a Bosch Car Service, dos. (os grémios), para a economia de mercado, Precision, Norauto, Midas, etc.. Tão ou mais importante que “medir” o a forma de “orientar/gerir” o negócio, mu- Com a queda brutal das vendas a partir que fizemos é medir o resultado daquilo que dou, quase que diria, de forma radical. A de 2008, a consciencialização das mudan- fizemos. Estamos assim em plena Organiza- economia corporativa até então era regula- ças de paradigma apontam para as neces- ção de Terceira Geração. Organização 3G, da pelo próprio Estado. Acreditamos que sárias e rápidas mudanças ao nível organi- em que o fulcro da organização são os re- regular a actividade comercial pelo Estado zacional. Aquilo que tenho chamado de sultados. traria futuro, segurança, estabilidade - uma passagem Organização 2G, para as organi- Ainda encontramos com frequência a visão de concertação para que todos ficas- zações 3G e para as 4G. preocupação exagerada de medir o traba- sem satisfeitos com os resultados. Ao nível lho de um recepcionista pela forma como das demais economias, já vivam há muito a Como define então esta evolução das faz as coisas (procedimentos), sendo que orientação para os mercados, caso dos organizações? os resultados serão consequência. Por ve- EUA e da Europa Ocidental, por exemplo. Poderia listar em resumo as característi- zes sinto que estamos a tornar estes profis- Nós continuavamos regulados, definindo cas das 4 principais Gerações (G) e as suas sionais prisioneiros da “vontade de outro” o negócio em função dos territórios, e de- formas de Organização em função da sua em fazer uma determinada “coisa” de deter- monstravamos aos poucos e poucos a nos- “focalização”: minada forma, como se eles fossem des- sa orientação no sentido de um impedimen- - As primeiras formas de Organização – providos de capacidade de “criar”, pensar e to à livre concorrência e ao desenvolvimento Centradas sobre o PRODUTO. arriscar. Sem dúvida que os procedimentos económico. A liberalização do mercado por- - 1G – Focalização no PRODUTO; devem servir de suporte à acção, como tuguês começou em 1974. Sendo que o - 2G – Sobre os PROCESSOS; exemplo das melhores práticas, mas ao ten- sector automóvel só começou a sentir os - 3G – Sobre os RESULTADOS; tar transformar os humanos como máquinas seus “verdadeiros” efeitos bem mais tarde. - 4G – F2C – Focus no Focus do executantes de determinada forma de A partir da década de 80, associado aos CLIENTE: Focalização naquilo em que o “SER” corremos o risco de matar o próprio problemas de uma “pseudo-anarquia” no Cliente se Focaliza. sujeito da acção. sistema de governação, com a consequente Relembremos o célebre procedimento de instabilidade económica e financeira, infla- A primeira geração (1G) a do PRODUTO. "a explicação da factura", em que o recep- ção elevada, taxas de emprego acima de Período industrial, bastaria produzir para cionista tentava explicar ao cliente o que foi 30%, etc, entramos em contingentação, de garantir a venda. Relembro Henry Ford: realizado no carro, sem lhe ter solicitado au- 80 até 87. Por cá passou o FMI em 83. Ade- “toda a gente pode ter um carro, desde que torização. Não havia venda, mas sim justifi- rimos finalmente à CEE em 86. Este é real- fosse Ford e … preto!” A produção coman- cação de um trabalho não solicitado, nem mente o momento em que o país começa a dava as vendas. Estávamos na época da tão pouco vendido. Felizmente que hoje a 38 AP MAGAZINE
  • 2. ENTREVISTA DEZEMBRO 2011 39
  • 3. FERNANDO SILVA, ENTREVISTA SENIOR PARTNER DA VIRAGEM grande maioria aplica o princípio da “Expli- cação dos trabalhos”, como forma de valo- rizar o futuro, sendo que o valor já não pode ser surpresa para o cliente pois na generali- dade estamos a investir na Venda, durante a manhã. A generalidade das nossas Orga- nizações investem fortemente no momento da Venda (na parte de manhã) o que confir- ma a passagem das organizações 2G para 3G, em que a Atitude sobre a Venda, é o factor determinante. E quanto à Organização 4G? A verdadeira Focalização no Cliente, e não tanto a Focali- zação no Cliente mas a Organização em pri- meiro lugar. Tomemos um exemplo simples: O Vendedor vende a viatura. O Cliente quando quer fazer a revisão, por vezes pede ao Vendedor para marcar, mas fá-lo porque sente que é a sua função, ou pede o favor de o fazer por ele? Será que um dia vamos mesmo ter o Interlocutor Único? Estamos a assistir já em 2011, às primei- ras organizações 4G, com a preocupação de se estruturarem em função do ciclo glo- bal e do interlocutor único. O vendedor da viatura transforma-se num gestor de cliente, que o acompanha em todo o ciclo de vida do veículo (com o leque alargado de produ- tos e serviços ao longo do ciclo). Esta solu- ção pode não ser aplicável em todas as re- des de concessionários, mas poderá ser utilizada por mais de 60% dos operadores. Os vendedores já não irão mais vender 8 a base) e com a sua preparação continua em Kaizen – Mudar para melhor, princípio das 10 viaturas em média por mês, mas 3 a 4, matéria de gestão e liderança, também o faz filosofias orientais, é muito mais que sim- passam a fazer o ciclo completo do veículo, de igual forma. Não é tanto a formação de plesmente procurar melhorar. Os princípios que passará pelo pós-venda. Esta será tam- base, mas sua actualização perante os de- da mudança com forte espírito de grupo, bém uma forma das empresas reterem os safios da mudança constante. sendo que para mudar o grupo investiu na melhores profissionais de vendas (vendedo- Formação com bases sólidas na área da desejabilidade, de forma a que cada um sin- res), recompensando pela venda dessas gestão, Vendas, marketing, liderança de ta o que já alcançou nessa caminhada, e serviços, e por outro, controlando a quebra “pessoas”, relação com o cliente são alguns “saiba” quais são as suas oportunidades de de serviço nas oficinas, aumentando a re- dos requisitos fundamentais. melhoria. tenção oficinal, que em algumas organiza- Zen - é libertação na filosofia oriental e ções baixou mais de 15% este ano e sabe- Quais são as principais falhas que Kai é Mudar, sair de, deixar de estar “preso” mos que irá continuar a baixar. detectou junto dos responsáveis de a alguma coisa. Cito muitas vezes a defini- Uma vez liberalizado o mercado, todos os oficinas? ção de problema: operadores, tentam “reter” os seus clientes O termo “Falha” podemos aplicar com Problema é quando existe um Delta (dife- e aumentar a “conquista”. Qual o resultado? todo o rigor à matéria de natureza técnica. rença) entre a Ocorrência e a Desejabilida- Operadores a mais, ou estruturadas sobre- A variável produto, competência de diag- de, ou seja, o que está a Ocorrer é Diferente dimensionadas. nóstico e de intervenção. Quanto a gestão, (Delta) daquilo que seria Desejável Ocorrer. pró-actividade, volume de negócios, lide- Isto é um desafio constante na busca de GRANDE DESAFIO rança de pessoas, dinâmica organizacional, transformar o Delta em 0 (Zero), ou seja, fa- AOS “NOVOS GESTORES” etc., deveremos ser mais cautelosos na uti- zer coincidir a Ocorrência com a Desejabili- lização do termo “falha”. Nos últimos 7 anos dade, fazer com que o que está a ocorrer Quem está mais bem preparado para pela minha forte ligação aos profissionais da seja o desejável. liderar uma oficina: um engenheiro ou um Toyota, “aprendi” o verdadeiro valor da filo- Muitas vezes o problema acontece por- gestor de empresas? sofia kaizen, que podemos traduzir por me- que o desejável de um determinado “profis- Perante estas duas alternativas, seria ten- lhoria contínua, ou mudar para melhor. A di- sional” não é o mesmo que a Organização tado a responder que um gestor estaria me- cotomia de bem e mal, dá lugar ao desafio Deseja (desejabilidade Organizacional), logo lhor colocado para essa função, mas claro de “hoje melhor que ontem, amanhã melhor o desafio é a continua Formação no sentido que o engenheiro (enquanto formação de que hoje”! de passar a Desejabilidade Organizacional a 40 AP MAGAZINE
  • 4. ENTREVISTA “excelente” forma de aumentar os seus ní- veis de auto estima. Vender um serviço oficinal é tão simples como vender um automóvel, por exemplo? O que está aqui em questão é o fenóme- no de “vender”. Na essência, um bom ven- dedor de serviços ou de automóveis será um bom vendedor de qualquer coisa, até de sonhos. Os recepcionistas que temos ac- tualmente já são mais vendedores do que recepcionistas propriamente (deveriam ser), porque, se não o forem, o negócio não acontece. Nos últimos anos, esta questão da Venda tem sido uma questão fundamen- tal, o que implica o cuidado em 3 eixos fun- damentais: 1 - O Perfil do profissional. É frequente ser confrontado com a seguinte questão: Viragem Qual deve ser a formação indicada para que Sede: o Recepcionista aprenda a vender? Bela Vista Office A minha resposta já sai em automático: Estrada de Paço de Arcos, 66 e 66-A - Para formar bem um Recepcionista, co- 2735-336 Cacém meçamos por ser muito cautelosos na sua Senior Partner: Fernando Silva escolha!; Telefone: 2 – A sua formação ao Nível das Compor- 917 247 669 tamentais e Técnicas de Venda. A sua pre- E-mail: paração como comercial; fernandosilva@viragem.com 3 – As ferramentas de apoio à venda. (di- Internet: dácticos, dossiers de produto, argumentá- www.viragem.com rios, tipo de objecções, etc). Nas minhas partilhas com os profissio- nais, tenho clarificado a diferença entre: - “Bater à porta da Compra” e “Vender” todos os colaboradores. tativo necessário para mudar o seu paradig- “Bater à porta da compra” é perguntar ao O princípio, na psicologia, para não recor- ma de desejabilidade sendo que com isso cliente se quer comprar, mesmo com al- rer ao conceito oriental kaizen, deve ser o vão perder o seu lugar na história. guns argumentos à mistura. Isso já é bom, da auto regulação, da educação, que mais mas não chega. “Vender” ou V6, como lhe não é do que a adaptação da nossa deseja- E no caso dos produtivos, que falhas chamo, é a utilização de algumas técnicas bilidade ao padrão social. encontrou? específicas: V6: 1- Diagnosticar, 2- Estrutu- O que aconteceu nestes últimos anos, é Nos produtivos a questão que se coloca rar, 3-Orçamentar, 4-Apresentar, 5-Argu- que o nível de desejabilidade foi muito dife- não é a sua eficiência psicomotora, mas a mentar, 6-Concluir. rente. Na geração 2G, não se pedia a um capacidade de se envolverem na cultura do Logo para vender é preciso ter Perfil, ter colaborador que pensasse por si, mas que cliente. Precisamos de continuar a recriar Argumentos, e sobretudo ter tempo para executasse as ordens recebidas. Ao passar todos os dias, formas de colocar a organi- obter a confiança do cliente e passar a sua para a organização baseada nos resultados zação voltada para o cliente. Passar horas e “convicção”. (3G), - o paradigma mudou. Até por razões horas a fazer operações repetidas, têm o económicas a redução das pessoas é uma seu risco motivacional e em consequência Numa oficina, o recepcionista é obrigatório realidade e como consequência os níveis no clima organizacional. Motivar não passa ou dispensável? hierárquicos estão a ser reduzidos, cada só por critérios cautelosos de remuneração O recepcionista pode ser dispensável, vez mais – por alguns denominados de “dis- ajustada. Quanto importante é a motivação enquanto função. O Profissional, que ainda sipadores de calor”. Intrínseca. Tantas e tantas vezes ouço for- chamamos de Recepcionista, mas é muito O que aconteceu no pós-venda automó- mandos, a verbalizar a satisfação pelo facto mais que isso, esse é cada vez mais neces- vel tem sido uma profunda mudança do pa- de reflectirem sobre o valor do cliente, as sário. Profissional da relação cliente, profis- radigma do negócio. A Gestão Centrada so- questões de relacionamento interno, aspec- sional a pensar quer nas necessidades do bre os processos, evolui para a Gestão cen- tos da comunicação, etc.. cliente quer do negócio, esse sim é e será trada sobre os resultados. Nos últimos A remuneração, como motivação extrín- cada vez mais indispensável. anos, na minha actividade de formação e seca, é o meio com o qual muitos dos nos- consultoria, tenho encontrado muitas pes- sos colaboradores “compram depois a sua Na reparação automóvel, há alguma forma soas atentas à evolução e preocupadas alegria” com o dinheiro que levam para especial para motivar uma equipa? com o seu futuro, mas infelizmente em mui- casa. Envolvê-los de forma mais profunda Os “condimentos” para a motivação de tos casos não conseguem dar o salto quali- no ambiente e o negócio da oficina, é uma uma equipa são, na sua essência, similares, DEZEMBRO 2011 41
  • 5. FERNANDO SILVA, ENTREVISTA SENIOR PARTNER DA VIRAGEM independentemente da actividade. Corren- do o risco de me repetir, listo: O conheci- mento dos seus colaboradores, a formação contínua, a promoção do valor “pessoa”, a focalização dos colaboradores nos resulta- dos. Num dos casos em que me foi solicitado a “opinião” sobre uma determinada organi- zação, logo no primeiro dia pedi ao Gerente para dar comigo uma volta na Oficina. Ao chegar junto dos profissionais, e ao cumpri- mentá-los, o Gerente percebendo do meu interesse foi apresentando os colaborado- res. Rapidamente me apercebi, que pouco mais sabia que o Nome, idade, função. Sen- ti que este Gestor não conhecia cerca de 60% dos seus funcionários. Se não conhe- cia, e justificava porque não achava neces- sário, ficou-me a pergunta: Que conceito te- ria este Gestor de Motivação das Equipas? Motivar Equipas é liderar pessoas e não Motivar não passa só por critérios cautelosos de remuneração ajustada. gerir números liderando “ferramentas”. Quanto importante é a motivação Intrínseca Como aumentar o número de entradas de “entradas” /dia. Se aplicar o princípio de: vés de coisas muitos simples. Passemos veículos na oficina e aumentar o valor de “… se procuras encontras…!” o Recep- em filme a seguinte cena: cada entrada? cionista, para além do que facturou, pode Num dia de chuva, o cliente entra na ofici- O que me está a perguntar é o próprio encontrar ainda em valor médio por “entra- na e com ar incomodado verbaliza alto: “cerne” do negócio. Hoje é o verdadeiro de- da” um valor na ordem dos 200€ de serviço - "Isto é que é chover, uff!". safio. A pró-actividade na nossa actividade extra em cada viatura, o que feitas as con- O Recepcionista algo “distraído” procura com dois desafio complementares: tas, pode dar um valor cerca de 40.000€ ao abreviar o tempo: 1- “Controlar” o ciclo da “vida” da viatura fim do mês e ao final de 8 meses (o tempo - .. sim sim… é para a Revisão?... Qual é no seu programa de manutenção/repara- médio entre serviços) valores na ordem dos a matrícula? ção, com a marcação pró-activa do próximo 320.000€ (chamamos a este valor o valor Os “verdadeiros profissionais” vão por serviço. Controlando a D_PPS (data da pre- médio do Pipeline). Isto significa que o pro- outro caminho: visão do próximo serviço). Quando o Re- cesso de venda não é só o fruto do realiza- - Se chove! É verdade! Venha aqui tomar cepcionista, está a entregar um veículo tem do no “dia da entrada” mas um seguimento um cafezinho para aquecer!". já a oportunidade de marcar o próximo ser- contínuo, sobretudo nos produtos e servi- Grande princípio: Os clientes não têm viço. ços de grande risco de “perda” ou como di- matrícula, têm nome e possuem uma viatura 2 - Potenciar o valor de cada entrada, zemos que aumentam a TAF (Taxa de Alte- com matrícula que é a nossa oportunidade pelo domínio das Técnicas de Negociação e ração de Fornecedor), ou seja, tomemos o de “facturar” se a nossa relação com o Vendas. exemplo da “não venda de pneus”, o risco é “dono” da matrícula for suficientemente O segredo é o cruzamento do controlo do que se o cliente for comprar os pneus nou- “forte” para poder conhecer as suas verda- ciclo de manutenção do veículo, que evita tra organização, o profissional dessa orga- deiras necessidades. que o cliente "salte" para outro lado, com a nização vai procurar e bem, não só vender F2C: Valores orientados para o cliente. angariação de novas oportunidades, e “ren- os pneus, mas controlar o Próximo Serviço tabilização” de cada entrada. Achei interes- a partir daquele momento. Na relação com os nossos clientes, que sante por exemplo, na Feu Vert, a designa- Claro que Atitude destes profissionais valores devem orientar os nossos ção da função do tradicional recepcionis- vale a diferença. A sua visão do Negócio e comportamentos? ta/Gestor de cliente. Na Placa ao peito está: potencial valor do cliente. Exactamente como dizia: Quando o clien- O Nome e a função: Vendedor. Portanto, a te entra numa oficina, pretende soluções questão basilar é fazer com que o cliente Qual é a importância das atitudes? para a sua mobilidade à medida das suas que vai à oficina volte a realizar os próximos Toda. A atitude faz toda a diferença. “Per- expectativas. A oficina "só" tem que arranjar serviços nessa mesma oficina. ceber” e interiorizar o valor de cada um de as soluções à medida das expectativas e A “gestão das oportunidades de venda” nós para o “negócio” e integrar nas nossas necessidades do cliente. É a sua missão do (o Pipeline dos Serviços) é fulcral para au- atitudes que o Cliente é mesmo a “ferra- ponto de vista profissional, ético e humano. mentar a facturação. Não só aumentar a menta” do nosso potencial sucesso. O De- Focalizarmo-nos naquilo em “ele” se focali- facturação em cada entrada, mas o up-sel- safio é: F2C. Focus no Focus do Cliente. O za, procurando “largar” o minúsculo mundo ling, após a saída do cliente, a facturação desafio não é tanto o focalizar-se no cliente, dos nossos pequenos procedimentos roti- dos produtos/serviços identificados no mo- mas naquilo em que o cliente se focaliza. Na neiros e entrar no universo das necessida- mento da revisão e que não foram “compra- essência, trata-se de trabalhar as “verda- des dos outros. É isso que eles esperam e é dos” naquele dia. Tomemos um exemplo de deiras necessidades do cliente” – aquilo em por causa disso que estão disponíveis para um recepcionista/vendedor que atende 10 que ele se focaliza, e que por vezes é atra- nos “pagarem”. 42 AP MAGAZINE