O documento discute a importância da educação para o desenvolvimento econômico e social de um país. A educação é essencial para capacitar as pessoas com as habilidades necessárias para participar da força de trabalho e da sociedade de forma produtiva. Governos devem investir em sistemas educacionais de qualidade para promover o progresso a longo prazo.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Rumo à indústria do futuro
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RUMO À INDÚSTRIA DO FUTURO
Fernando Alcoforado*
Na história da humanidade, já ocorreram 3 revoluções industriais. A 1ª Revolução
Industrial ocorreu no século 18, que significou o aperfeiçoamento da máquina a vapor
por James Watt que colocou a indústria têxtil como símbolo da produção geradora da
riqueza da época, contribuindo para a expansão do capitalismo. A 1ª Revolução
Industrial durou cerca de 200 anos (1712-1913). A 2ª Revolução Industrial que durou
60 anos (1913-1969) foi inaugurada quando Henry Ford criou a linha de produção em
massa com o conceito da produção em escala, reduzindo o custo e popularizando o
produto.
A 3ª Revolução Industrial, que durou cerca de 40 anos (1969-2010), se caracterizou pela
automação dos processos produtivos com a implantação de computadores no chão-de-
fábrica, colocando controles eletrônicos, sensores e dispositivos capazes de gerenciar
uma grande quantidade de variáveis de produção, permitindo a tomada de decisões com
o controle de dispositivos de forma autônoma, cujo impacto foi a elevação da qualidade
dos produtos, o aumento da produção, a gestão dos custos e a elevação da segurança na
produção.
A 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0 é um termo que engloba algumas tecnologias
para automação e troca de dados e utiliza conceitos de Sistemas Cyber-Físicos, Internet
das Coisas e Computação em Nuvem. Com a Indústria 4.0, ocorre uma completa
descentralização do controle dos processos produtivos e uma proliferação de
dispositivos inteligentes interconectados, ao longo de toda a cadeia de produção e
logística. O impacto esperado na produtividade da indústria é comparável ao que foi
proporcionado pela internet em diversos outros campos, como no comércio eletrônico,
nas comunicações pessoais e nas transações bancárias. Com as fábricas inteligentes,
diversas mudanças ocorrerão na forma em que os produtos serão manufaturados,
causando impactos em diversos setores do mercado. Em outras palavras, a Indústria 4.0
é um conceito de indústria proposto recentemente e que engloba as principais inovações
tecnológicas dos campos de automação, controle e tecnologia da informação, aplicadas
aos processos de manufatura.
A Indústria 4.0 caracteriza-se pela integração dos sistemas de produção chamados de
cyber-físicos, em que sensores inteligentes dizem para as máquinas como elas devem
ser processadas. Os processos devem se autogovernar em um sistema modular
descentralizado. Sistemas embutidos espertos começam a trabalhar juntos,
comunicando-se sem fio, tanto diretamente como via uma ”nuvem” na Internet (A
Internet das Coisas ou Thing Internet ou IoT). Os sistemas centralizados rígidos de
controle das fábricas cedem agora seu lugar para inteligência descentralizada, com a
comunicação máquina a máquina (M2M) no chão de fábrica. Esta é a visão da indústria
4,0 da 4ª Revolução Industrial.
O termo Indústria 4.0 se originou de estratégias do governo da Alemanha voltadas ao
avanço tecnológico. O termo foi usado pela primeira vez na Feira de Hannover em
2011. Em Abril de 2013 foi publicado na mesma feira um trabalho final sobre o
desenvolvimento da Indústria 4.0. Seu fundamento básico consiste na conexão de
máquinas e sistemas que possibilita as empresas criarem redes inteligentes ao longo de
toda a cadeia de valor que podem controlar os módulos da produção de forma
autônoma. Ou seja, as fábricas inteligentes terão a capacidade e autonomia para agendar
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manutenções, prever falhas nos processos e se adaptar aos requisitos e mudanças não
planejadas na produção. Os benefícios proporcionados pela Indústria 4.0 são os
seguintes: 1) Redução de Custos; 2) Economia de Energia; 3) Aumento da Segurança;
4) Conservação Ambiental; 5) Redução de Erros; 6) Fim do Desperdício; 7)
Transparência nos Negócios; 8) Aumento da Qualidade de Vida; e, 7) Personalização e
Escala sem Precedentes.
A tecnologia base responsável por este conceito é o IoT – Internet of Things (Internet
das Coisas) e o M2M – Machine to Machine (Máquina para Máquina). A Internet das
Coisas (IoT) representa a conexão lógica de todos os dispositivos e meios relacionados
ao ambiente produtivo, os sensores, transmissores, computadores, células de produção,
sistema de planejamento produtivo, diretrizes estratégicas da indústria, informações de
governo, clima, fornecedores, tudo sendo gravado e analisado em um banco de dados. O
conceito de Máquina para Máquina (M2M) representa a interconexão entre células de
produção com os sistemas passando a trocar informações entre si, de forma autônoma,
tomando decisões de produção, custo, contingencia, segurança, através de um modelo
de inteligência artificial, complementado pela IoT.
Para que este sistema funcionar, proporcionando os benefícios acima indicados,
surgiram novas tecnologias para a Automação Industrial muitas delas oriundas da
Tecnologia da Informação as quais podem ser citadas as seguintes: 1) Uso do Protocolo
IPV6 (ampliação dos pontos de conexão IP de todos Devices); 2) Uso do Wireless
(ampla utilização de redes sem fio); 3) Uso de Virtualização (criação de diversos
computadores a partir de softwares); 4) Uso de Cloud (as informações estarão na
Nuvem – compartilhada); 5) Uso do Big Data (todas as informações reunidas, de forma
dinâmica para tomada de decisões); e, 6) Uso de RFID (todo movimento de materiais é
rastreado com todas as informações).
A partir dessas tecnologias teremos uma nova realidade produtiva em que tudo estará
conectado para que as melhores decisões de produção, custo e segurança sejam tomadas
em tempo real. Existem seis princípios apresentados no artigo O Que é Indústria 4.0 e
Como Ela Vai Impactar o Mundo (https://www.citisystems.com.br/industria-4-0/) para
o desenvolvimento e implantação da Indústria 4.0 que definem os sistemas de produção
inteligentes que tendem a surgir nos próximos anos. São eles: 1) Capacidade de
operação em tempo real - Consiste na aquisição e tratamento de dados de forma
praticamente instantânea, permitindo a tomada de decisões em tempo real; 2)
Virtualização - Simulações já são utilizadas atualmente, assim como sistemas
supervisórios. No entanto, a Indústria 4.0 propõe a existência de uma cópia virtual das
fabricas inteligentes. Permitindo a rastreabilidade e monitoramento remoto de todos os
processos por meio dos inúmeros sensores espalhados ao longo da planta; 3)
Descentralização - A tomada de decisões poderá ser feita pelo sistema cyber-físico de
acordo com as necessidades da produção em tempo real. Além disso, as máquinas não
apenas receberão comandos, mas poderão fornecer informações sobre seu ciclo de
trabalho. Logo, os módulos da fabrica inteligente trabalharão de forma descentralizada a
fim de aprimorar os processos de produção; 4) Orientação a serviços - Utilização de
arquiteturas de software orientadas a serviços aliado ao conceito de Internet of Services
e, 5) Modularidade - Produção de acordo com a demanda, acoplamento e
desacoplamento de módulos na produção. O que oferece flexibilidade para alterar as
tarefas das máquinas facilmente.
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Em síntese, estamos diante da 4ª Revolução Industrial combinada com tecnologia de
nuvem, com o uso de redes inteligentes capazes de agendar manutenções de máquinas,
prever falhas em processos e propor mudanças na produção. Há uma descentralização
do controle dos processos produtivos e o uso em escala de dispositivos inteligentes
interconectados que só tende a crescer. Essas mudanças ao longo de toda a cadeia de
produção e logística são profundas e agregam eficiência para diversos setores como
saúde, energia, transporte, logística, varejo, construção, agronegócio e manufatura. A 4ª
Revolução Industrial deverá aumentar o desemprego com o avanço da automação. No
último Fórum Económico de Davos o assunto foi discutido e se admitiu que a inovação
tecnológica associada à indústria 4.0 poderá colocar em risco cinco milhões de postos
de trabalho até 2020, em todo o mundo.
O artigo Como será o profissional da indústria 4.0? informa que um novo perfil de
profissionais irá emergir com a 4ª Revolução Industrial. Para trabalhar no chão de uma
fábrica digital, será preciso desenvolver competências essenciais. Técnicos deixarão de
exercer funções repetitivas. Eles ficarão concentrados em tarefas estratégicas e no
controle de projetos. Quem quer conquistar espaço nas fábricas do futuro deverá
desenvolver novas habilidades. Será preciso, por exemplo, aprender a trabalhar lado a
lado com robôs inteligentes colaborativos para aumentar a produtividade. Isso gera
espaço para exercer funções mais complexas e criativas.
O profissional das fábricas do futuro não será responsável apenas por exercer uma parte
específica da linha de montagem, mas por todo o processo produtivo. Este profissional
precisa estar aberto a mudanças, ter flexibilidade para se adaptar às novas funções e se
habituar a uma aprendizagem multidisciplinar contínua. É muito importante que ele
tenha uma visão ampla. Ter uma visão multidisciplinar não significa que o
conhecimento técnico especializado perdeu importância no currículo. Uma formação
acadêmica em engenharia da computação ou mecatrônica é importante, mas não é o
suficiente. É preciso se especializar em diversas frentes e conhecer um pouco de cada
coisa. Tem que gostar de tecnologia, de inovação e, principalmente, ter curiosidade para
aprender e acompanhar uma indústria que sempre se reinventa.
Enquanto a Indústria 4.0 está em desenvolvimento, sobretudo, nos países capitalistas
mais avançados, lamentavelmente, o Brasil se defronta com o duplo desafio de, por um
lado, reverter o processo de desindustrialização que sofreu de 1990 até o presente
momento a partir da introdução do modelo neoliberal que devastou a economia
brasileira que está sendo levada à bancarrota no momento atual e, de outro, promover o
desenvolvimento da Indústria 4.0 no País. O consenso entre os especialistas é de que a
indústria nacional é atrasada estando ainda em grande parte na transição do que seria a
Indústria 2.0 da 2ª Revolução Industrial, caracterizada pela utilização de linhas de
montagem e energia elétrica, para a Indústria 3.0 da 3ª Revolução Industrial que aplica
automação por meio da eletrônica, robótica e programação.
Para termos uma ideia da defasagem do Brasil, seria preciso instalar cerca de 165 mil
robôs industriais para se aproximar da densidade robótica atual da Alemanha. No ritmo
atual, cerca de 1,5 mil robôs instalados por ano no país, o Brasil levará mais de 100
anos para chegar lá. Precisaremos, mais do que nunca, de um governo que seja capaz de
planejar o desenvolvimento do Brasil, de lideranças fortes e articuladoras na indústria, e
nas instituições acadêmicas e de pesquisa do País. Precisaremos também de níveis
de investimento relevantes e da capacitação intensiva de gestores, engenheiros, analistas
de sistemas e técnicos nessas novas tecnologias, além de parcerias e alianças
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estratégicas com entidades de outros países. O Brasil tem, portanto, ainda longo
caminho a percorrer em vários setores da economia de forma gradual e disruptiva. Uma
das medidas necessárias à inserção do Brasil à 4ª Revolução Industrial consiste em
investimentos maciços na educação para qualificação das pessoas com foco em
tecnologia.
*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação e da Academia Brasileira Rotária
de Letras – Seção da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova
(Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX
e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of
the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016) e A Invenção de um novo
Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017).