SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O caso Snowden e o avanço do fascismo nos EUA
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O CASO SNOWDEN E O AVANÇO DO FASCISMO NOS ESTADOS UNIDOS
Fernando Alcoforado*
Acusado criminalmente de espionagem pelo governo dos Estados Unidos, Edward
Snowden, ex-técnico da CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos),
revelou segredos de segurança do governo norte-americano. Snowden revelou a
existência de programas de vigilância do governo americano contra a população com a
utilização de servidores de empresas como Google, Apple e Facebook e também contra
diplomatas e governos da União Europeia e outros países. Estas revelações foram
publicadas no início de junho deste ano nos jornais “The Guardian” e “Washington
Post”, fato este que levou Snowden a ser ostensivamente procurado pelas autoridades
norte-americanas.
O Brasil é um dos alvos prioritários da espionagem feita pela Agência de Segurança
Nacional do EUA, com o monitoramento de centenas de milhares de ligações e
mensagens de pessoas e empresas no país, segundo revelou o jornal "O Globo". O jornal
diz ter tido acesso a documentos que comprovam a espionagem, coletados por Edward
Snowden. Para a coleta de informações no Brasil, diz o texto, o programa usado foi o
Fairview, desenvolvido pela NSA em parceria com gigantes privados de
telecomunicações (Ver texto sob o título EUA espionaram milhões de mensagens no
Brasil disponível no website <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/117751-eua-
espionaram-milhoes-de-mensagens-no-brasil-diz-jornal.shtml>).
Toda esta situação de espionagem da população e do governo de diversos países pelo
governo norte-americano mostra uma das facetas do avanço do fascismo nos Estados
Unidos. A ascensão ao poder de George W. Bush possibilitou que um aglomerado de
políticos e militares de alta patente, analistas e estrategistas profissionais, representantes
das grandes finanças e do “complexo industrial-militar” se envolvesse nas grandes
decisões governamentais após o atentado ao World Trade Center. O círculo de
intelectuais de direita reunidos sob o rótulo neoconservadores ou “neocons”, sempre
presente na história do país, rapidamente consolidou-se passando a ditar as políticas do
governo norte-americano com a ascensão ao poder de George Bush.
Uma das características dos “neocons” é o desprezo pelas leis e práticas já consolidadas
e consagradas entre países e organizações. Na política externa, uma nova doutrina
substituiu os velhos conceitos de autodeterminação dos povos, não agressão, respeito às
leis internacionais e à autoridade da ONU, etc. com a criação de monstrengos
pseudojurídicos como a proposta das “guerras preventivas”, agressão a países em
desobediência às decisões do Conselho de Segurança da ONU e a poderes que
ameaçassem ou remotamente pudessem vir a ameaçar a hegemonia dos Estados Unidos
no mundo, cujos círculos dominantes encarregam-se de enquadrar como amigos e
inimigos conforme seus interesses. Outra característica do discurso e da prática dos
“neocons” integrantes do governo dos Estados Unidos é a fabricação da verdade com
base em ilações, omissões e mentiras. Esta foi a forma encontrada para basear a decisão
de invadir o Iraque, o Afeganistão e a Líbia.
O ataque ao World Trade Center e ao Pentágono realizado por combatentes sauditas
comandados por Osama bin Laden em 11/09/2001, foi o acontecimento necessário
(equivalente ao incêndio do Reichstag alemão na Alemanha hitlerista) para que os
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dispositivos pró-fascistas entrassem em ação nos Estados Unidos. Para uso interno, já
havia sido elaborada uma lei com centenas de artigos, a Patriot Act, com aprovação
quase unânime do Congresso, que aboliu as principais conquistas democráticas do país.
Entre outras medidas, criou-se, além dos já fartamente existentes aparatos de repressão,
uma estrutura de segurança interna, o Department of Homeland Security, para repressão
a terroristas e ameaças internas à ordem, com orçamento em 2008 de 52 bilhões de
dólares.
Para comparação, os cinco maiores orçamentos militares globais do mundo em dólares
são: Estados Unidos: mais de 1 trilhão no total; China: 65 bilhões; Rússia: 50 bilhões;
França: 45 bilhões; e Reino Unido, 43 bilhões. O orçamento militar dos Estados Unidos,
sozinho, é maior que a soma de todos os orçamentos de todos os países do planeta. Não
bastasse isso, a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências, FEMA, que atende
a emergências como acidentes de gravidade, enchentes, terremotos e furacões,
catástrofes naturais ou provocadas, etc,, também militarizou-se, estando hoje submetida
à autoridade do Department of Homeland Security. Da mesma forma, a Guarda
Nacional de um estado agora pode ser deslocada para qualquer outro estado, sem
consulta ao governo local ou aos cidadãos.
Desde o governo Bush e mantido pelo governo Obama, generalizou-se a violação do
sigilo da comunicação e a vigilância intrusa na vida das pessoas; obrigou-se cada
biblioteca a informar ao FBI a lista de livros solicitados, regra que vale inclusive para
universidades; e criou-se uma lista de inimigos internos, que, por exemplo, não podem
fazer viagens aéreas, e que hoje reúne dezenas de milhares nomes (fala-se em torno de
100 mil), boa parte de dissidentes universitários, pacifistas etc. Listas como estas, são
típicas de regimes totalitários. Aos poucos se fecha o cerco a jornalistas, professores,
pastores, ativistas e dezenas de outros. Extinguiu-se na prática o direito universal do
habeas corpus.
Na ótica da Patriot Act, uma passeata em prol da paz é terrorista, já que o país se acha
em guerra contra o terror e mesmo uma manifestação que atrapalhe o trânsito pode ser
enquadrada como grave perturbação da ordem. As forças do governo têm autorização
para prender qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo (CIA e militares) e também
no país, sem nenhuma justificativa, mantê-la presa sem comunicação com familiares ou
advogados e sem acusação por tempo indeterminado, e movê-la para qualquer das suas
prisões, conhecidas ou secretas, em vários países, ou mesmo alguns navios-prisão, todos
esses locais em que se tortura e assassina com a mais absoluta impunidade, como vem
sendo documentado nas prisões da base de Baghram, no Afeganistão, Abu Ghraib, no
Iraque, e na infame prisão de segurança máxima de Guantánamo, no extremo oriental de
Cuba. Trata-se de um conjunto de disposições fascistas de fazer inveja ao aparelho de
terror de Hitler.
Noam Chomsky, filósofo e professor no MIT (Massachusets Institute of Technology),
advertiu recentemente que o fascismo poderia vir a acontecer nos Estados Unidos.
Chomsky traçou um paralelo entre a República de Weimar na Alemanha com os
Estados Unidos da atualidade. A República de Weimar foi esmagada pelo nazismo em
1933 com a ascensão de Hitler ao poder. (Ver o artigo Chomsky Warns Of Risk Of
Fascism In America! publicado no website
<http://socioecohistory.wordpress.com/2010/04/16/chomsky-warns-of-risk-of-fascism-
in-america/>). Os fatos da realidade demonstram que o fascismo já está acontecendo
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nos Estados Unidos. O caso Snowden mostra apenas uma faceta do fascismo que se já
se constitui em prática de governo nos Estados Unidos.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S
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