Estamos no Brasil diante de um labirinto com pouca chance de encontrar uma saída para os problemas econômicos, políticos, de gestão do setor público e ético e moral como teve Teseu que, depois de matar o “Minotauro”, saiu do labirinto em que se encontrava. Muito provavelmente, iremos substituir um “Minotauro” (Dilma Rousseff) por outro (Michel Temer), não tendo, portanto, o mesmo sucesso que teve Teseu ao derrotar seu “Minotauro”. Em outras palavras, podemos estar diante de um beco sem saída ou os futuros acontecimentos políticos e econômicos poderão dar margem à gestação de uma liderança ou lideranças que possam realizar as mudanças estruturais exigidas para o Brasil na era contemporânea.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Brasil em Labirinto Político e Econômico
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O BRASIL DIANTE DE UM LABIRINTO POLÍTICO E ECONÔMICO
Fernando Alcoforado*
Umberto Eco, escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama
internacional, professor titular da cadeira de Semiótica e diretor da Escola Superior de
ciências humanas na Universidade de Bolonha, publicou o artigo O labirinto da mente: a
cada passo você deve escolher entre dois caminhos que se encontra disponível no website
<http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/umberto-eco/2015/09/26/o-labirinto-
da-mente-a-cada-passo-voce-deve-escolher-entre-dois-caminhos.htm>. Neste artigo,
Umberto Eco faz referência ao labirinto de Cnossos –o labirinto de Teseu localizado em
Creta na Grécia.
Cabe observar que o Palácio de Cnossos, que é localizado na antiga cidade de Cnossos é
provavelmente a construção mais antiga da Europa tendo sido o maior e mais
sofisticado dos Palácios de Creta que é famosa por ter sido o berço da civilização
Minoica, que atingiu o seu auge no segundo milênio a.C. Segundo a mitologia grega,
Creta é o lugar onde o Minotauro, criatura mitológica com cabeça de touro e corpo
humano, vivia. Segundo o mito, o Minotauro morreu pelas mãos do herói ateniense
Teseu.
O touro era uma figura importante na cultura cretense, em razão de seu grande porte e
sua grande potência física, esse animal era consagrado e utilizado em sacrifícios, e era
parte das festividades. Nas festividades ocorriam jogos, e um deles consistia em fazer
acrobacias em cima do touro. Conta a lenda grega que o deus Poseidon presenteou a
Minos, rei de Creta, com um belíssimo touro branco. Era para que o rei Minos
sacrificasse o animal em homenagem ao deus Poseidon. Mas a beleza do touro fascinou
o rei, que sacrificou outro touro, um falso touro branco, no lugar do belo touro branco
que Poseidon havia lhe dado.
Poseidon, furioso pela tentativa do rei Minos de lhe enganar, fez com que Pasífae,
esposa de Minos, se apaixonasse pelo touro branco, sendo que, da união do touro com
Pasífae, nasceu o Minotauro (Touro de Minos). Sem outra opção, e não podendo matar
o “filho” de sua esposa, Minos pediu ao famoso arquiteto Dédalo para que construísse
um labirinto onde ele pudesse esconder o Minotauro de forma que este nunca pudesse
encontrar a saída do labirinto e assim fugir. O Minotauro foi colocada nesse labirinto, o
Labirinto de Creta, construído sob o Palácio de Minos, onde passou a viver.
O rei Minos, que havia vencido os atenienses numa guerra, ordenou que fossem
enviados, todos os anos, sete rapazes e sete moças de Atenas para serem devorados pelo
Minotauro. Isso revoltou os atenienses. Depois do terceiro ano de sacrifício de
atenienses, o herói ateniense Teseu resolve apresentar-se para ir voluntariamente à Creta
para matar o Minotauro. No entanto, quem entrava no labirinto não conseguia encontrar
a saída e acabava morto pelo Minotauro. No entanto, o ardiloso Teseu, usando uma
comprida linha – um novelo de lã -, com uma ponta presa à entrada e outra ao seu
corpo, conseguiu matar o Minotauro atacando-o de surpresa e sair do labirinto (Ver o
artigo Creta: a ilha onde Teseu matou o Minotauro disponível no website
<https://www.epochtimes.com.br/creta-ilha-onde-teseu-matou-
minotauro/#.VgpmoexViko>.
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Segundo Umberto Eco, “o conceito do labirinto remonta à história de Teseu e Ariadne
na mitologia grega, e com o passar do tempo se transformou em uma fonte de fascínio
nos mundos da arte e, diriam alguns, da filosofia. No labirinto de Cnossos –o labirinto
de Teseu, se você imprimisse uma vista aérea dele e seguisse o caminho com um lápis,
seria impossível encontrar tanto o centro quanto a saída. O labirinto de Cnossos é
"unicursal": se pudesse ser desenredado, você teria uma única linha reta –assim como o
fio que Ariadne dá a Teseu para marcar seu caminho de volta. O que torna o labirinto de
Cnossos perigoso é que o Minotauro se encontra em seu centro. Assim que você se livra
do Minotauro, sair é fácil”.
Umberto Eco acrescenta que “o labirinto passou de unicursal para multicursal: a cada
passo você deve escolher entre dois caminhos, e apenas um deles é o correto. Você pode
se perder em um labirinto multicursal. Se fosse desenredado, não haveria uma única
linha reta, não um fio, mas uma árvore com potencialmente um número infinito de
galhos. E qualquer caminho pode levar a um beco sem saída, ou para uma série de
desvios que afastam você cada vez mais da saída. A situação fica ainda mais complexa
com uma terceira forma de labirinto, a rede ou teia, onde cada ponto pode se conectar a
qualquer outro, gerando assim múltiplos caminhos”. Umberto Eco conclui que “uma
rede não pode ser desemaranhada. Diferente dos labirintos unicursal e multicursal, que
possuem um interior e um exterior, esse tipo de labirinto não possui nenhum. E pode se
estender infinitamente”.
Pode-se, a partir do raciocínio de Umberto Eco, concluir que vivemos no Brasil
contemporâneo diante do desafio de se livrar do “Minotauro” representado pelo sistema
de poder que infelicita o País tendo que entrar em um labirinto que tem a forma de teia
ou rede que pode gerar múltiplos caminhos e levar a um beco sem saída, ou para uma
série de desvios que afastam você cada vez mais da saída. Diferentemente do labirinto
de Cnossos que é "unicursal" que possibilitou a Teseu marcar seu caminho de volta com
o fio dado por Ariadne depois de matar o “Minotauro”, nada assegura que ocorrerá a
morte do “Minotauro” com a remoção de Dilma Rousseff do poder porque a Presidência
da República seria ocupada por seu vice, Michel Temer, que não seria o líder necessário
ao Brasil para encontrar uma saída realizando as mudanças estruturais exigidas para
superar as crises econômica, política, de gestão do setor público e ética e moral.
Substituiríamos um “Minotauro” por outro que sempre estiveram juntos e são
responsáveis pelo descalabro em que se encontra o Brasil e não teríamos uma saída para
as crises que abalam o País.
Diferentemente das crises econômica e política que abalaram o Brasil em 1929 e 1930,
das quais resultou o surgimento de uma liderança providencial que foi Getúlio Vargas
que promoveu a reestruturação dos sistemas político e econômico do País, no momento
atual, ainda não apareceram organizações políticas com líderes que acenassem com a
possibilidade de exercerem o mesmo papel. Na história da humanidade, são inúmeros os
exemplos de lideranças providenciais que foram fundamentais para determinar os rumos
de seus países. Napoleão teve papel decisivo para transformar a França na grande
potência de sua época, Lênin na ex- União Soviética, Mao Zedong na China, Fidel
Castro em Cuba e Mandela na África do Sul foram decisivos para realizar as mudanças
sociais por eles lideradas, Roosevelt foi fundamental na reestruturação dos Estados
Unidos após a crise econômica de 1929 e Churchill teve papel decisivo no combate à
Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
Lamentavelmente, estamos no Brasil diante de um labirinto com pouca chance de
encontrar uma saída para os problemas econômicos, políticos, de gestão do setor
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público e ético e moral como teve Teseu que, depois de matar o “Minotauro”, saiu do
labirinto em que se encontrava. Muito provavelmente, iremos substituir um
“Minotauro” (Dilma Rousseff) por outro (Michel Temer), não tendo, portanto, o mesmo
sucesso que teve Teseu ao derrotar seu “Minotauro”. Em outras palavras, podemos estar
diante de um beco sem saída ou os futuros acontecimentos políticos e econômicos
poderão dar margem à gestação de uma liderança ou lideranças que possam realizar as
mudanças estruturais exigidas para o Brasil na era contemporânea.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).