1) O documento discute a necessidade de uma terceira revolução energética para substituir as fontes não renováveis por fontes renováveis e sustentáveis.
2) A dependência de fontes não renováveis como petróleo e carvão está causando emissões crescentes de gases do efeito estufa e aquecimento global.
3) Uma transição para um sistema de energia sustentável baseado 70% em fontes renováveis até 2030 é necessária para limitar o aquecimento a 2°C e evitar impactos climáticos catastróficos.
Como realizar a terceira revolução energética no mundo
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COMO REALIZAR A TERCEIRA REVOLUÇÃO ENERGÉTICA NO MUNDO
Fernando Alcoforado*
Na segunda metade do século XVIII, ocorreu na Inglaterra a primeira revolução
energética no mundo com o uso do carvão em substituição à madeira até então
amplamente utilizada como fonte de energia. A primeira revolução energética ocorreu
simultaneamente com o advento da 1ª Revolução Industrial. Dotado de um poder
calorífico bem superior aos dos combustíveis até então utilizados, o carvão
proporcionava energia bem maior para o mesmo volume, além de ser mais fácil e
econômico para transportá-lo. O desenvolvimento das minas de carvão e a invenção da
máquina a vapor contribuíram para o nascimento na Europa e no Ocidente de uma nova
economia.
A máquina a vapor aciona as máquinas nas fábricas, as locomotivas nas primeiras
ferrovias e os navios que substituem as embarcações movidas a vela. As pessoas, as
mercadorias, os capitais e as ideias passam a circular a uma velocidade até então
desconhecida. Rapidamente um novo ambiente se descortina com o surgimento das
primeiras metrópoles e de mudanças na organização social. A primeira revolução
energética ficou circunscrita à Europa, inicialmente na Grã-Bretanha e, em seguida, na
Europa Ocidental, e depois nos Estados Unidos no início do século XX.
A segunda revolução energética, que coincidiu com 2ª Revolução Industrial, ocorreu
com o advento do petróleo e da eletricidade. A utilização do petróleo como fonte de
energia no mundo teve seu início nos Estados Unidos com a exploração do primeiro
poço em 1901 no Texas. Da mesma forma que a máquina a vapor passou a ser
amplamente utilizada com o advento do carvão como fonte de energia, o motor a
explosão interna passou a ser amplamente utilizado com o advento do petróleo. A
descoberta de um vetor energético como a eletricidade e a invenção das máquinas
elétricas no século XIX, juntamente com a introdução dos veículos automotores,
lançaram as bases para a introdução da moderna sociedade de consumo,
caracterizada por uma intensidade energética nunca vista na história da
humanidade.
De uma forma ou de outra, todas as atividades humanas sobre a Terra provocaram
alterações no meio ambiente em que vivemos. Muitos destes impactos ambientais
são provenientes da geração, manuseio e uso da energia que é responsável por 57%
da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera resultante das atividades dos
seres humanos. A principal razão para esta expressiva participação dos processos
energéticos pode ser observada no fato de que, em 2011, o consumo mundial de
energia primária proveniente de fontes não renováveis (petróleo, carvão, gás natural
e nuclear) correspondeu a aproximadamente 88% do total, cabendo apenas 12% às
fontes renováveis.
Esta enorme dependência de fontes não renováveis de energia tem acarretado, além
da preocupação permanente com o esgotamento destas fontes, a emissão de grandes
quantidades de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera pelos combustíveis fósseis
baseados no carvão, petróleo e gás natural que em 1973 foi de 16,2 bilhões de
toneladas anuais, em 1998 de 23 bilhões de toneladas e em 2013 foi da ordem de 36,3
bilhões de toneladas, aproximadamente 3,9 vezes a quantidade emitida em 1960 (9,3
bilhões de toneladas). Como consequência da dependência de fontes não renováveis
de energia, o teor de dióxido de carbono na atmosfera tem aumentado
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progressivamente, levando muitos especialistas a acreditarem que o aumento da
temperatura média da biosfera terrestre, que vem sendo observado há algumas
décadas, seja devido ao “Efeito Estufa” provocado por este acréscimo de CO2 e de
outros gases na atmosfera.
Se não houver redução imediata na emissão de gases de efeito estufa os meios utilizados
para mitigá-los não serão suficientes e a vida no planeta ficará ameaçada. O
aquecimento global resultante da emissão dos gases do efeito estufa provocará
mudanças climáticas que não deixarão nenhuma parte do globo intacta. Caso não haja
redução dos gases do efeito estufa, os cientistas preveem impactos severos e
irreversíveis para a humanidade e para os ecossistemas em consequência da mudança
climática catastrófica. Deverão ocorrer tempestades com frequência inusitada,
inundações decorrentes do aumento do nível do mar que pode submergir muitas ilhas e
cidades litorâneas, períodos de seca prolongados e extremo calor em todo o mundo.
Eventos climáticos extremos podem levar à desagregação das redes de infraestrutura de
energia, transportes, comunicações e serviços. Há risco de insegurança alimentar, de
falta de água, de perda de produção agrícola e de meios de renda, particularmente das
populações mais pobres.
O mundo está diante de um desafio que é o de não permitir um aquecimento global no
século XXI superior a dois graus centígrados. Para evitar um aquecimento do planeta
superior a 2º C, seria preciso estabilizar as concentrações de dióxido de carbono (e
equivalentes) em 450 PPM (partes por milhão) sem a qual o mundo se defrontaria até o
final do século XXI com uma mudança climática catastrófica que pode ameaçar a
sobrevivência da humanidade. Para isso, as emissões mundiais terão que ser reduzidas
abaixo de seus níveis de 1990. Reduzir as emissões em relação aos níveis de 1990 é um
desafio gigantesco. Basta considerar que a Agência Internacional de Energia (AIE), ao
projetar as tendências recentes, faz previsão de aumento de 50% da demanda energética
até 2030, com continuada dependência dos combustíveis fósseis.
A Agência Internacional de Energia (AIE) advertiu que "o mundo se encaminhará para
um futuro energético insustentável" se os governos não adotarem "medidas urgentes"
para otimizar os recursos disponíveis (Ver o artigo AIE: mundo se encaminha para
futuro energético insustentável publicado no website
<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/11/aie-diz-que-mundo-se-encaminha-para-
futuro-energetico-insustentavel.html>). Para otimizar os recursos energéticos
disponíveis no planeta, é preciso dar início à terceira revolução energética que deve se
traduzir na implantação de um sistema de energia sustentável em escala planetária. Em
um sistema de energia sustentável, a produção mundial de petróleo deveria ser reduzida
à metade e a de carvão de 90%, enquanto a de fontes de energia renováveis (solar,
eólica, biomassa, maremotriz, geotérmica, hidrogênio, etc.) deveria crescer quase 4
vezes até 2030. No ano 2030, as energias renováveis deveriam ser da ordem de 70% da
produção total de energia do planeta.
Com o sistema de energia sustentável, é muito possível que o gás natural passe a ser,
entre os combustíveis fósseis, o recurso energético predominante no futuro porque é o
menos poluente entre os combustíveis fósseis. A energia nuclear não seria uma fonte
importante de energia em um sistema energético realmente sustentável. Isto se deve, em
grande medida, aos acidentes de Three Mile Island nos Estados Unidos, Tchernobil na
ex- União Soviética e Fukushima no Japão. Um sistema de energia sustentável somente
será possível se a eficiência energética for muito aperfeiçoada, isto é, se for maximizada
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a relação entre a quantidade de energia empregada em uma atividade (energia útil) e
aquela disponibilizada para sua realização (energia total). Estes são os requisitos de um
sistema energético sustentável em todo o mundo.
O primeiro passo para implantar um sistema energético sustentável em todo o mundo
consiste em redirecionar um grande número de políticas governamentais de modo que
se destinem a realizar os objetivos centrais da redução do uso de combustíveis fósseis e
da eficiência energética. Por exemplo: recompensar a aquisição de veículos automotores
eficientes e a fabricação de carros elétricos, encorajar alternativas de transporte de
massa de alta capacidade em substituição ao automóvel, reestruturar as indústrias de
energia e elevar os impostos sobre os combustíveis fósseis, entre outras medidas.
O uso de fontes renováveis de energia provocaria mudanças de grande magnitude em
todo o planeta destacando-se, entre elas, a criação de indústrias totalmente novas, o
desenvolvimento de novos sistemas de transporte e a modificação da agricultura e das
cidades. O grande desafio que se coloca na atualidade é o de prosseguir com o
desenvolvimento de novas tecnologias que aproveitem eficientemente a energia e
utilizem economicamente recursos renováveis. Este é o cenário energético alternativo
que poderá evitar o comprometimento do meio ambiente global. Isto significa dizer que
mudanças profundas de política energética global devem ser colocadas em prática para
viabilizar a terceira revolução energética no mundo.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.