SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
A submissão do governo dilma roussef ao neoliberalismo no altar das finanças de davos
1. A SUBMISSÃO DO GOVERNO DILMA ROUSSEF AO NEOLIBERALISMO
NO ALTAR DAS FINANÇAS DE DAVOS
Fernando Alcoforado*
Mudar o mundo através do Estado foi o paradigma que predominou no âmbito dos
partidos políticos de esquerda do século XVIII até a década de 1990 do século XX. A
tese dos partidos políticos de esquerda que fundamentava essas concepções é simples:
conquista-se o Estado que até então era um instrumento da burguesia e o transforma em
um instrumento da classe trabalhadora através da Reforma ou da Revolução Social. A
tese de considerar o Estado como centro irradiador da mudança foi um rotundo fracasso
em todas as partes do mundo, tanto nos países que tentaram construir o socialismo,
quanto nos países periféricos que adotaram uma postura nacionalista na promoção de
seu desenvolvimento.
Ambos os enfoques, o reformista e o revolucionário fracassaram no seu projeto de
mudar pacificamente ou radicalmente a sociedade. Com o fim do socialismo real na
década de 1990 na União Soviética e nos países do leste europeu, os grandes partidos de
esquerda em todos os países do mundo abandonaram não apenas as teses
revolucionárias, mas também as reformistas visando as mudanças sociais. Muitos
partidos de esquerda no mundo se tornaram partidos da ordem dominante. A partir da
década de 1990, a esquerda que nasceu em 1848 e conquistou o poder em vários países
perdeu o rumo devido sobretudo à falta de um projeto alternativo ao que foi implantado
na União Soviética e em outros países.
A ação política da velha esquerda ficou reduzida fundamentalmente à sua participação
nas eleições parlamentares defendendo teses liberais centristas ou neoliberais e
abdicando das teses nacionalistas e da revolução social que sempre foram os principais
móveis de sua atuação política no passado. Em vários países do mundo, partidos de
esquerda que conquistaram o poder, inclusive no Brasil, como ocorreu nos governos
Lula da Silva e Dilma Roussef, adotaram e adotam teses liberais ou neoliberais com a
concessão de amplas benesses às classes dominantes, sobretudo as do setor financeiro, e
de “esmolas” aos “de baixo” na escala social, para neutralizar convulsões sociais como
ocorre atualmente no Brasil com o “Bolsa Familia”.
A submissão do governo brasileiro em relação ao neoliberalismo começou com o
governo Collor ao aderir ao Consenso de Washington que preconizava a abertura da
economia, a privatização das empresas estatais e o câmbio flutuante, situação esta
mantida também durante os governos Itamar Franco, FHC, Lula e Dilma Roussef.
Recentemente, no Forum Econômico Mundial de Davos na Suiça onde esteve reunida a
fina flor do capitalismo mundial, Dilma Rousseff fez uma espécie de reedição da "Carta
ao Povo Brasileiro", lançada por Lula no início da campanha presidencial de 2002,
quando assumiu o compromisso de não atentar contra seus interesses. Num cenário de
crescimento econômico baixo, inflação alta e falta de confiança nos rumos da política
econômica, o discurso de Dilma Roussef focado nas principais questões que inquietam
os investidores ganha especial relevância.
Assim como Lula fez na campanha presidencial de 2002, Dilma Roussef defendeu o
respeito aos contratos vigentes, o livre comércio, a melhora na gestão dos recursos
públicos e o controle da inflação. Este discurso confirma, na prática, o que se registra
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2. em vários países do mundo, quando partidos de esquerda que conquistaram o poder
adotaram e adotam teses liberais ou neoliberais com a concessão de amplas benesses às
classes dominantes, sobretudo as do setor financeiro. Segundo André Singer, Dilma
Rousseff peregrinou até o Fórum Eonômico Mundial de Davos penitenciando-se pela
efêmera “aventura desenvolvimentista” do Brasil e depositando, “no altar das finanças”,
as “oferendas de praxe” a fim de “obter a absolvição dos endinheirados” (Ver o artigo
Dilma, a penitente publicado no website <http://oglobo.globo.com/opiniao/dilmapenitente-11445045>). Dilma Roussef disse em Davos que ama o mercado, o
investimento privado e a estabilidade econômica. As “oferendas de praxe” equivalem,
até certo ponto, a uma abjuração de crenças pessoais, mas não a uma ruptura com a
natureza nefasta do lulismo.
A atual crise mundial evidenciou um vazio teórico das esquerdas. Frente à crise das
teses neoliberais, a velha esquerda nada apresentou como alternativa. A posição
assumida pela velha esquerda se resumiu, basicamente, à reprodução das ideias
keynesianas que é uma solução tipicamente capitalista adotada após a 2ª. Guerra
Mundial. O máximo que a velha esquerda vê na crise financeira é a possibilidade de
fortalecimento do Estado. Mas, fortalecer o Estado para que? Para reestruturar
radicalmente a sociedade onde atua ou, pura e simplesmente, se manter no poder para
usufruir das benesses por ele proporcionadas? Como não possui um projeto de
reestruturação da sociedade só resta à velha esquerda o caminho de se manter no poder
a todo o custo fazendo alianças políticas com a escória política como se verifica no
Brasil com o PT e seus aliados da velha esquerda que têm como parceiros partidos de
direita como o PMDB e políticos execráveis como Collor, Sarney, Renan Calheiros,
entre outros.
Esta situação já está provocando desilusão junto a amplos setores da população que
adquiriram a sensação de que os partidos da velha esquerda tiveram sua oportunidade
histórica com base em uma estratégia de duas etapas para transformar o mundo (tomar o
poder do Estado, depois transformá-lo) e que não cumpriram sua promessa histórica na
União Soviética e nos países do leste europeu, na China, no Vietnã, em Cuba, etc. A
perda de rumo da esquerda no mundo está acontecendo, não apenas devido à falta de um
projeto alternativo ao que foi implantado na União Soviética e em outros países, mas
sobretudo pela ofensiva das forças conservadoras do Reino Unido e dos Estados Unidos
sob a liderança de Margaret Thatcher e Ronald Reagan que levaram avante as teses
neoliberais cuja doutrina econômica defende a absoluta liberdade de mercado e uma
restrição à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer em setores
imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo.
Diante deste fato, à velha esquerda não restou outra alternativa senão a da participação
nas eleições parlamentares defendendo teses liberais centristas e abdicando da revolução
social que sempre foi o principal móvel de sua ação política no passado. Em vários
países do mundo, inclusive no Brasil, partidos de esquerda conquistaram o poder sem
que tenham sido tomadas iniciativas na direção das mudanças sociais e econômicas de
base socialista. O presidente da França François Hollande, do partido socialista francês,
é um excelente exemplo de um presidente eleito que traiu suas promessas de campanha
porque não rompeu com a ortodoxia de políticas de austeridade, destrutivas, da Europa.
Mas agora ele fez algo realmente escandaloso ao ter abraçado as doutrinas econômicas
desacreditadas da direita. É um lembrete de que os apuros econômicos da Europa não
podem ser atribuídos exclusivamente às ideias ruins da direita, segundo Paul Krugman
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3. (Ver o artigo de Paul Krugman, Escândalo na França é Hollande abraçar doutrinas
desacreditadas da direita publicado no website <http://noticias.uol.com.br/blogs-ecolunas/coluna/paul-krugman/2014/01/18/escandalo-na-franca-e-hollande-abracardoutrinas-desacreditadas-da-direita.htm
18/01/2014>).
Krugman
complementa
afirmando que conservadores equivocados e insensíveis estão promovendo as políticas,
mas eles são encorajados e autorizados por políticos covardes e trapalhões da esquerda
moderada como Hollande na França. Isto se aplica também ao Brasil com seus políticos
covardes e trapalhões da esquerda moderada.
*Fernando Alcoforado, 74, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.
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