SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 3
1
A FARSA DO PLEBISCITO APROFUNDA O DIVÓRCIO ENTRE O ESTADO
E A SOCIEDADE CIVIL NO BRASIL
Fernando Alcoforado*
Os acontecimentos que abalam a nação brasileira no momento demonstram o divórcio
profundo que existe entre o Estado e a Sociedade Civil no Brasil porque os detentores
do poder político não podem governar como antes e a Sociedade Civil rebelada não
aceita ser governada como antes. Ao invés de adotar medidas que contribuam para a
convergência entre os interesses do Estado e da Sociedade Civil, o governo federal
procura ganhar tempo com medidas diversionistas como a da convocação do plebiscito
para a reforma política visando arrefecer a revolta popular contra o Estado brasileiro.
A presidente Dilma Rousseff enviou no dia de ontem (2/7/2013) ao Congresso Nacional
mensagem propondo a realização de um plebiscito sobre a reforma política. Há cinco
pontos centrais na proposta de consulta popular sugerida pela presidente: 1) forma de
financiamento de campanhas (público, privado ou misto); 2) definição do sistema
eleitoral (voto proporcional, distrital, distrital misto, "distritão", proposta em dois
turnos); 3) continuidade ou não da existência da suplência no Senado; 4) manutenção ou
não das coligações partidárias; e, 5) fim ou não do voto secreto no Parlamento. Foi
sugerido pela presidente que o Congresso Nacional realize uma consulta popular, na
forma de plebiscito, para que o povo se pronuncie sobre as linhas mestras que devem
balizar a reforma política para o País.
A proposta de plebiscito para reforma política enviada pela presidente Dilma Roussef ao
Congresso Nacional mostra a estreiteza na sua formulação ao não considerar, por
exemplo, o controle do Parlamento pelos cidadãos e a criação de partidos autênticos no
Brasil. A ação do governo federal na conjuntura atual mostra, sobretudo, a falta de visão
estratégica ao não perceber que o tempo conspira contra ele próprio na medida em que
não venha a atender as demandas da população rebelada e tenha que se defrontar com o
paulatino agravamento da situação econômica nacional. O governo federal agiria de
forma inteligente se adotasse, de imediato, medidas que levassem, por exemplo, à
redução de gastos públicos supérfluos e dos tributos e à melhoria dos sistemas de
mobilidade urbana, de educação e saúde do País exigidas pela nação e promovesse uma
reforma administrativa que tornasse o Estado brasileiro eficiente e eficaz.
Através da reforma do Estado e da Administração Pública no Brasil, será possível
corrigir as distorções atuais na ação administrativa dos governos em todos os níveis e
reduzir a carga tributária beneficiando empresas e trabalhadores. A reforma do Estado
nos respectivos níveis, federal, estadual e municipal deveria ser processada a fim de que
ele venha a realizar com eficiência e eficácia suas atribuições constitucionais e reduzir
os seus custos de operação para minimizar a carga tributária sobre os contribuintes.
A capacidade futura do Estado brasileiro de investir na expansão da economia e de
executar programas na área social depende, em grande medida, da reestruturação
administrativa que seja nele processada. Grande parte da ineficiência e ineficácia do
Estado no Brasil resulta da falta de integração dos governos federal, estadual e
municipal na promoção do desenvolvimento nacional. Associe-se a este fato, a
existência de estruturas organizacionais inadequadas em cada um dos níveis federal,
estadual e municipal que inviabilizam o esforço integrativo nessas instâncias de
governo.
2
A implantação de um modelo de gestão eficiente e eficaz para o Estado brasileiro fará
com que a sua capacidade de arrecadação de impostos seja ampliada. A corrupção e a
evasão de impostos, que hoje se verifica no Brasil, são devidas em grande medida à
ineficiência da máquina administrativa do Estado. O novo modelo de gestão baseado na
racionalização dos processos de trabalho levará inevitavelmente à redução dos custos de
operação do Estado e, consequentemente, da carga tributária sobre os contribuintes.
Sem colocar em prática este conjunto de medidas o Estado brasileiro não adquirirá a
capacidade de investir na expansão da economia e de adotar políticas de compensação
social no nível necessário para mitigar os desníveis sociais no Brasil.
A revolta popular que eclodiu recentemente no Brasil revela uma nítida crise de
representatividade que se manifesta quando a sociedade não se sente efetivamente
representada pelas pessoas que ela mesma elegeu democraticamente. O Brasil enfrenta
simultaneamente duas crises: 1) de governança; e, 2) de governabilidade. A crise de
governança resulta do fato de o governo em todos os seus níveis ter demonstrado
incapacidade operacional para formular e executar suas políticas de gestão das finanças
públicas, administrativa e técnica. A crise de governabilidade resulta, por sua vez, da
incapacidade do Estado de agregar os múltiplos interesses dispersos na Sociedade Civil
e apresentar-lhes um objetivo comum para o curto, médio e longo prazo.
O não atendimento das demandas da população somado ao agravamento da situação
econômica do Brasil ampliará ainda mais o fosso que separa o Estado brasileiro da
Sociedade Civil que atuarão como indutores de novas e crescentes manifestações
populares contra o estado de coisas reinante no País. Ressalte-se que um Estado é
legítimo se existe um consenso entre os membros da Sociedade Civil para aceitar a
autoridade vigente. Em Ciência Política, legitimidade é o conceito com que se julga a
capacidade de um determinado poder para conseguir obediência sem a necessidade de
recorrer à coerção, que supõe o uso da força como aconteceu em todas as localidades
onde houve manifestação contra os detentores do poder político no Brasil.
Os fatos ocorridos no Brasil demonstram a perda de legitimidade dos detentores do
poder político junto à Sociedade Civil. O risco da estratégia do governo de
simplesmente não atender as demandas populares com a farsa do plebiscito é o de ter
que recorrer cada vez mais à coerção até, no caso extremo, com a decretação do estado
de sítio, inclusive com a instauração do toque de recolher. Na prática, a frágil
democracia que existe no Brasil seria profundamente golpeada com a
institucionalização do estado de exceção pelos atuais detentores do poder. Este é o
cenário que pode acontecer no curto prazo no Brasil com o governo tentando manter a
ordem a todo o custo.
Pode-se afirmar que, além de representar um verdadeiro embuste para manter o “status
quo” a todo o custo, a proposta para reforma política da presidente Dilma Roussef é
irresponsável porque pode colocar em xeque as instituições democráticas vigentes no
Brasil na medida em que tendo que recorrer ao uso da força para manter a ordem, pode
abrir caminho para a volta dos militares ao poder. Esta possibilidade pode se
materializar na prática se os detentores do poder não conseguirem manter a ordem e os
militares tiverem de intervir.
A atual crise política no Egito demonstra a falta de legitimidade do presidente da
República, Mohamed Mursi, que se defronta com a oposição de parcela ponderável da
Sociedade Civil egípcia que exigia sua renúncia. No Egito, estabeleceu-se o impasse
entre o Estado e a Sociedade Civil. Como este impasse não foi resolvido, o Exército
3
depôs o Presidente Mursi através de um golpe militar apoiado por grande parte da
população. Se o impasse político entre o Estado e Sociedade Civil no Brasil não for
resolvido pela falta de visão estratégica do governo federal, é possível que o cenário
imperante no Egito venha a ocorrer, também, no Brasil.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S

Weitere ähnliche Inhalte

Mehr von Fernando Alcoforado

O INFERNO DAS CATÁSTROFES SOFRIDAS PELO POVO BRASILEIRO
O INFERNO DAS CATÁSTROFES SOFRIDAS PELO POVO BRASILEIRO   O INFERNO DAS CATÁSTROFES SOFRIDAS PELO POVO BRASILEIRO
O INFERNO DAS CATÁSTROFES SOFRIDAS PELO POVO BRASILEIRO Fernando Alcoforado
 
L'ENFER DES CATASTROPHES SUBIS PAR LE PEUPLE BRÉSILIEN
L'ENFER DES CATASTROPHES SUBIS PAR LE PEUPLE BRÉSILIENL'ENFER DES CATASTROPHES SUBIS PAR LE PEUPLE BRÉSILIEN
L'ENFER DES CATASTROPHES SUBIS PAR LE PEUPLE BRÉSILIENFernando Alcoforado
 
LE MONDE VERS UNE CATASTROPHE CLIMATIQUE?
LE MONDE VERS UNE CATASTROPHE CLIMATIQUE?LE MONDE VERS UNE CATASTROPHE CLIMATIQUE?
LE MONDE VERS UNE CATASTROPHE CLIMATIQUE?Fernando Alcoforado
 
AQUECIMENTO GLOBAL, MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HU...
AQUECIMENTO GLOBAL, MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HU...AQUECIMENTO GLOBAL, MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HU...
AQUECIMENTO GLOBAL, MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HU...Fernando Alcoforado
 
GLOBAL WARMING, GLOBAL CLIMATE CHANGE AND ITS IMPACTS ON HUMAN HEALTH
GLOBAL WARMING, GLOBAL CLIMATE CHANGE AND ITS IMPACTS ON HUMAN HEALTHGLOBAL WARMING, GLOBAL CLIMATE CHANGE AND ITS IMPACTS ON HUMAN HEALTH
GLOBAL WARMING, GLOBAL CLIMATE CHANGE AND ITS IMPACTS ON HUMAN HEALTHFernando Alcoforado
 
LE RÉCHAUFFEMENT CLIMATIQUE, LE CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL ET SES IMPACTS ...
LE RÉCHAUFFEMENT CLIMATIQUE, LE CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL ET SES IMPACTS ...LE RÉCHAUFFEMENT CLIMATIQUE, LE CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL ET SES IMPACTS ...
LE RÉCHAUFFEMENT CLIMATIQUE, LE CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL ET SES IMPACTS ...Fernando Alcoforado
 
INONDATIONS DES VILLES ET CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL
INONDATIONS DES VILLES ET CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIALINONDATIONS DES VILLES ET CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL
INONDATIONS DES VILLES ET CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIALFernando Alcoforado
 
CITY FLOODS AND GLOBAL CLIMATE CHANGE
CITY FLOODS AND GLOBAL CLIMATE CHANGECITY FLOODS AND GLOBAL CLIMATE CHANGE
CITY FLOODS AND GLOBAL CLIMATE CHANGEFernando Alcoforado
 
INUNDAÇÕES DAS CIDADES E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL
INUNDAÇÕES DAS CIDADES E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBALINUNDAÇÕES DAS CIDADES E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL
INUNDAÇÕES DAS CIDADES E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBALFernando Alcoforado
 
CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE SÃO AS ESCOLHAS DO POVO BRASILEIRO NAS ELEIÇÕES DE 2022
CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE SÃO AS ESCOLHAS DO POVO BRASILEIRO NAS ELEIÇÕES DE 2022 CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE SÃO AS ESCOLHAS DO POVO BRASILEIRO NAS ELEIÇÕES DE 2022
CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE SÃO AS ESCOLHAS DO POVO BRASILEIRO NAS ELEIÇÕES DE 2022 Fernando Alcoforado
 
CIVILISATION OU BARBARIE SONT LES CHOIX DU PEUPLE BRÉSILIEN AUX ÉLECTIONS DE ...
CIVILISATION OU BARBARIE SONT LES CHOIX DU PEUPLE BRÉSILIEN AUX ÉLECTIONS DE ...CIVILISATION OU BARBARIE SONT LES CHOIX DU PEUPLE BRÉSILIEN AUX ÉLECTIONS DE ...
CIVILISATION OU BARBARIE SONT LES CHOIX DU PEUPLE BRÉSILIEN AUX ÉLECTIONS DE ...Fernando Alcoforado
 
CIVILIZATION OR BARBARISM ARE THE CHOICES OF THE BRAZILIAN PEOPLE IN THE 2022...
CIVILIZATION OR BARBARISM ARE THE CHOICES OF THE BRAZILIAN PEOPLE IN THE 2022...CIVILIZATION OR BARBARISM ARE THE CHOICES OF THE BRAZILIAN PEOPLE IN THE 2022...
CIVILIZATION OR BARBARISM ARE THE CHOICES OF THE BRAZILIAN PEOPLE IN THE 2022...Fernando Alcoforado
 
COMO EVITAR A PREVISÃO DE STEPHEN HAWKING DE QUE A HUMANIDADE SÓ TEM MAIS 100...
COMO EVITAR A PREVISÃO DE STEPHEN HAWKING DE QUE A HUMANIDADE SÓ TEM MAIS 100...COMO EVITAR A PREVISÃO DE STEPHEN HAWKING DE QUE A HUMANIDADE SÓ TEM MAIS 100...
COMO EVITAR A PREVISÃO DE STEPHEN HAWKING DE QUE A HUMANIDADE SÓ TEM MAIS 100...Fernando Alcoforado
 
COMMENT ÉVITER LA PRÉVISION DE STEPHEN HAWKING QUE L'HUMANITÉ N'A QUE 100 ANS...
COMMENT ÉVITER LA PRÉVISION DE STEPHEN HAWKING QUE L'HUMANITÉ N'A QUE 100 ANS...COMMENT ÉVITER LA PRÉVISION DE STEPHEN HAWKING QUE L'HUMANITÉ N'A QUE 100 ANS...
COMMENT ÉVITER LA PRÉVISION DE STEPHEN HAWKING QUE L'HUMANITÉ N'A QUE 100 ANS...Fernando Alcoforado
 
THE GREAT FRENCH REVOLUTION THAT CHANGED THE WORLD
THE GREAT FRENCH REVOLUTION THAT CHANGED THE WORLDTHE GREAT FRENCH REVOLUTION THAT CHANGED THE WORLD
THE GREAT FRENCH REVOLUTION THAT CHANGED THE WORLDFernando Alcoforado
 
LA GRANDE RÉVOLUTION FRANÇAISE QUI A CHANGÉ LE MONDE
LA GRANDE RÉVOLUTION FRANÇAISE QUI A CHANGÉ LE MONDE LA GRANDE RÉVOLUTION FRANÇAISE QUI A CHANGÉ LE MONDE
LA GRANDE RÉVOLUTION FRANÇAISE QUI A CHANGÉ LE MONDE Fernando Alcoforado
 
A GRANDE REVOLUÇÃO FRANCESA QUE MUDOU O MUNDO
A GRANDE REVOLUÇÃO FRANCESA QUE MUDOU O MUNDOA GRANDE REVOLUÇÃO FRANCESA QUE MUDOU O MUNDO
A GRANDE REVOLUÇÃO FRANCESA QUE MUDOU O MUNDOFernando Alcoforado
 
O TARIFAÇO DE ENERGIA É SINAL DE INCOMPETÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL NO PLANEJAM...
O TARIFAÇO DE ENERGIA É SINAL DE INCOMPETÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL NO PLANEJAM...O TARIFAÇO DE ENERGIA É SINAL DE INCOMPETÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL NO PLANEJAM...
O TARIFAÇO DE ENERGIA É SINAL DE INCOMPETÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL NO PLANEJAM...Fernando Alcoforado
 
LES RÉVOLUTIONS SOCIALES, LEURS FACTEURS DÉCLENCHEURS ET LE BRÉSIL ACTUEL
LES RÉVOLUTIONS SOCIALES, LEURS FACTEURS DÉCLENCHEURS ET LE BRÉSIL ACTUELLES RÉVOLUTIONS SOCIALES, LEURS FACTEURS DÉCLENCHEURS ET LE BRÉSIL ACTUEL
LES RÉVOLUTIONS SOCIALES, LEURS FACTEURS DÉCLENCHEURS ET LE BRÉSIL ACTUELFernando Alcoforado
 
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZILSOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZILFernando Alcoforado
 

Mehr von Fernando Alcoforado (20)

O INFERNO DAS CATÁSTROFES SOFRIDAS PELO POVO BRASILEIRO
O INFERNO DAS CATÁSTROFES SOFRIDAS PELO POVO BRASILEIRO   O INFERNO DAS CATÁSTROFES SOFRIDAS PELO POVO BRASILEIRO
O INFERNO DAS CATÁSTROFES SOFRIDAS PELO POVO BRASILEIRO
 
L'ENFER DES CATASTROPHES SUBIS PAR LE PEUPLE BRÉSILIEN
L'ENFER DES CATASTROPHES SUBIS PAR LE PEUPLE BRÉSILIENL'ENFER DES CATASTROPHES SUBIS PAR LE PEUPLE BRÉSILIEN
L'ENFER DES CATASTROPHES SUBIS PAR LE PEUPLE BRÉSILIEN
 
LE MONDE VERS UNE CATASTROPHE CLIMATIQUE?
LE MONDE VERS UNE CATASTROPHE CLIMATIQUE?LE MONDE VERS UNE CATASTROPHE CLIMATIQUE?
LE MONDE VERS UNE CATASTROPHE CLIMATIQUE?
 
AQUECIMENTO GLOBAL, MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HU...
AQUECIMENTO GLOBAL, MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HU...AQUECIMENTO GLOBAL, MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HU...
AQUECIMENTO GLOBAL, MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HU...
 
GLOBAL WARMING, GLOBAL CLIMATE CHANGE AND ITS IMPACTS ON HUMAN HEALTH
GLOBAL WARMING, GLOBAL CLIMATE CHANGE AND ITS IMPACTS ON HUMAN HEALTHGLOBAL WARMING, GLOBAL CLIMATE CHANGE AND ITS IMPACTS ON HUMAN HEALTH
GLOBAL WARMING, GLOBAL CLIMATE CHANGE AND ITS IMPACTS ON HUMAN HEALTH
 
LE RÉCHAUFFEMENT CLIMATIQUE, LE CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL ET SES IMPACTS ...
LE RÉCHAUFFEMENT CLIMATIQUE, LE CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL ET SES IMPACTS ...LE RÉCHAUFFEMENT CLIMATIQUE, LE CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL ET SES IMPACTS ...
LE RÉCHAUFFEMENT CLIMATIQUE, LE CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL ET SES IMPACTS ...
 
INONDATIONS DES VILLES ET CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL
INONDATIONS DES VILLES ET CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIALINONDATIONS DES VILLES ET CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL
INONDATIONS DES VILLES ET CHANGEMENT CLIMATIQUE MONDIAL
 
CITY FLOODS AND GLOBAL CLIMATE CHANGE
CITY FLOODS AND GLOBAL CLIMATE CHANGECITY FLOODS AND GLOBAL CLIMATE CHANGE
CITY FLOODS AND GLOBAL CLIMATE CHANGE
 
INUNDAÇÕES DAS CIDADES E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL
INUNDAÇÕES DAS CIDADES E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBALINUNDAÇÕES DAS CIDADES E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL
INUNDAÇÕES DAS CIDADES E MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL
 
CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE SÃO AS ESCOLHAS DO POVO BRASILEIRO NAS ELEIÇÕES DE 2022
CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE SÃO AS ESCOLHAS DO POVO BRASILEIRO NAS ELEIÇÕES DE 2022 CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE SÃO AS ESCOLHAS DO POVO BRASILEIRO NAS ELEIÇÕES DE 2022
CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE SÃO AS ESCOLHAS DO POVO BRASILEIRO NAS ELEIÇÕES DE 2022
 
CIVILISATION OU BARBARIE SONT LES CHOIX DU PEUPLE BRÉSILIEN AUX ÉLECTIONS DE ...
CIVILISATION OU BARBARIE SONT LES CHOIX DU PEUPLE BRÉSILIEN AUX ÉLECTIONS DE ...CIVILISATION OU BARBARIE SONT LES CHOIX DU PEUPLE BRÉSILIEN AUX ÉLECTIONS DE ...
CIVILISATION OU BARBARIE SONT LES CHOIX DU PEUPLE BRÉSILIEN AUX ÉLECTIONS DE ...
 
CIVILIZATION OR BARBARISM ARE THE CHOICES OF THE BRAZILIAN PEOPLE IN THE 2022...
CIVILIZATION OR BARBARISM ARE THE CHOICES OF THE BRAZILIAN PEOPLE IN THE 2022...CIVILIZATION OR BARBARISM ARE THE CHOICES OF THE BRAZILIAN PEOPLE IN THE 2022...
CIVILIZATION OR BARBARISM ARE THE CHOICES OF THE BRAZILIAN PEOPLE IN THE 2022...
 
COMO EVITAR A PREVISÃO DE STEPHEN HAWKING DE QUE A HUMANIDADE SÓ TEM MAIS 100...
COMO EVITAR A PREVISÃO DE STEPHEN HAWKING DE QUE A HUMANIDADE SÓ TEM MAIS 100...COMO EVITAR A PREVISÃO DE STEPHEN HAWKING DE QUE A HUMANIDADE SÓ TEM MAIS 100...
COMO EVITAR A PREVISÃO DE STEPHEN HAWKING DE QUE A HUMANIDADE SÓ TEM MAIS 100...
 
COMMENT ÉVITER LA PRÉVISION DE STEPHEN HAWKING QUE L'HUMANITÉ N'A QUE 100 ANS...
COMMENT ÉVITER LA PRÉVISION DE STEPHEN HAWKING QUE L'HUMANITÉ N'A QUE 100 ANS...COMMENT ÉVITER LA PRÉVISION DE STEPHEN HAWKING QUE L'HUMANITÉ N'A QUE 100 ANS...
COMMENT ÉVITER LA PRÉVISION DE STEPHEN HAWKING QUE L'HUMANITÉ N'A QUE 100 ANS...
 
THE GREAT FRENCH REVOLUTION THAT CHANGED THE WORLD
THE GREAT FRENCH REVOLUTION THAT CHANGED THE WORLDTHE GREAT FRENCH REVOLUTION THAT CHANGED THE WORLD
THE GREAT FRENCH REVOLUTION THAT CHANGED THE WORLD
 
LA GRANDE RÉVOLUTION FRANÇAISE QUI A CHANGÉ LE MONDE
LA GRANDE RÉVOLUTION FRANÇAISE QUI A CHANGÉ LE MONDE LA GRANDE RÉVOLUTION FRANÇAISE QUI A CHANGÉ LE MONDE
LA GRANDE RÉVOLUTION FRANÇAISE QUI A CHANGÉ LE MONDE
 
A GRANDE REVOLUÇÃO FRANCESA QUE MUDOU O MUNDO
A GRANDE REVOLUÇÃO FRANCESA QUE MUDOU O MUNDOA GRANDE REVOLUÇÃO FRANCESA QUE MUDOU O MUNDO
A GRANDE REVOLUÇÃO FRANCESA QUE MUDOU O MUNDO
 
O TARIFAÇO DE ENERGIA É SINAL DE INCOMPETÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL NO PLANEJAM...
O TARIFAÇO DE ENERGIA É SINAL DE INCOMPETÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL NO PLANEJAM...O TARIFAÇO DE ENERGIA É SINAL DE INCOMPETÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL NO PLANEJAM...
O TARIFAÇO DE ENERGIA É SINAL DE INCOMPETÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL NO PLANEJAM...
 
LES RÉVOLUTIONS SOCIALES, LEURS FACTEURS DÉCLENCHEURS ET LE BRÉSIL ACTUEL
LES RÉVOLUTIONS SOCIALES, LEURS FACTEURS DÉCLENCHEURS ET LE BRÉSIL ACTUELLES RÉVOLUTIONS SOCIALES, LEURS FACTEURS DÉCLENCHEURS ET LE BRÉSIL ACTUEL
LES RÉVOLUTIONS SOCIALES, LEURS FACTEURS DÉCLENCHEURS ET LE BRÉSIL ACTUEL
 
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZILSOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
 

A farsa do plebiscito aprofunda o divórcio entre o estado e a sociedade civil no brasil

  • 1. 1 A FARSA DO PLEBISCITO APROFUNDA O DIVÓRCIO ENTRE O ESTADO E A SOCIEDADE CIVIL NO BRASIL Fernando Alcoforado* Os acontecimentos que abalam a nação brasileira no momento demonstram o divórcio profundo que existe entre o Estado e a Sociedade Civil no Brasil porque os detentores do poder político não podem governar como antes e a Sociedade Civil rebelada não aceita ser governada como antes. Ao invés de adotar medidas que contribuam para a convergência entre os interesses do Estado e da Sociedade Civil, o governo federal procura ganhar tempo com medidas diversionistas como a da convocação do plebiscito para a reforma política visando arrefecer a revolta popular contra o Estado brasileiro. A presidente Dilma Rousseff enviou no dia de ontem (2/7/2013) ao Congresso Nacional mensagem propondo a realização de um plebiscito sobre a reforma política. Há cinco pontos centrais na proposta de consulta popular sugerida pela presidente: 1) forma de financiamento de campanhas (público, privado ou misto); 2) definição do sistema eleitoral (voto proporcional, distrital, distrital misto, "distritão", proposta em dois turnos); 3) continuidade ou não da existência da suplência no Senado; 4) manutenção ou não das coligações partidárias; e, 5) fim ou não do voto secreto no Parlamento. Foi sugerido pela presidente que o Congresso Nacional realize uma consulta popular, na forma de plebiscito, para que o povo se pronuncie sobre as linhas mestras que devem balizar a reforma política para o País. A proposta de plebiscito para reforma política enviada pela presidente Dilma Roussef ao Congresso Nacional mostra a estreiteza na sua formulação ao não considerar, por exemplo, o controle do Parlamento pelos cidadãos e a criação de partidos autênticos no Brasil. A ação do governo federal na conjuntura atual mostra, sobretudo, a falta de visão estratégica ao não perceber que o tempo conspira contra ele próprio na medida em que não venha a atender as demandas da população rebelada e tenha que se defrontar com o paulatino agravamento da situação econômica nacional. O governo federal agiria de forma inteligente se adotasse, de imediato, medidas que levassem, por exemplo, à redução de gastos públicos supérfluos e dos tributos e à melhoria dos sistemas de mobilidade urbana, de educação e saúde do País exigidas pela nação e promovesse uma reforma administrativa que tornasse o Estado brasileiro eficiente e eficaz. Através da reforma do Estado e da Administração Pública no Brasil, será possível corrigir as distorções atuais na ação administrativa dos governos em todos os níveis e reduzir a carga tributária beneficiando empresas e trabalhadores. A reforma do Estado nos respectivos níveis, federal, estadual e municipal deveria ser processada a fim de que ele venha a realizar com eficiência e eficácia suas atribuições constitucionais e reduzir os seus custos de operação para minimizar a carga tributária sobre os contribuintes. A capacidade futura do Estado brasileiro de investir na expansão da economia e de executar programas na área social depende, em grande medida, da reestruturação administrativa que seja nele processada. Grande parte da ineficiência e ineficácia do Estado no Brasil resulta da falta de integração dos governos federal, estadual e municipal na promoção do desenvolvimento nacional. Associe-se a este fato, a existência de estruturas organizacionais inadequadas em cada um dos níveis federal, estadual e municipal que inviabilizam o esforço integrativo nessas instâncias de governo.
  • 2. 2 A implantação de um modelo de gestão eficiente e eficaz para o Estado brasileiro fará com que a sua capacidade de arrecadação de impostos seja ampliada. A corrupção e a evasão de impostos, que hoje se verifica no Brasil, são devidas em grande medida à ineficiência da máquina administrativa do Estado. O novo modelo de gestão baseado na racionalização dos processos de trabalho levará inevitavelmente à redução dos custos de operação do Estado e, consequentemente, da carga tributária sobre os contribuintes. Sem colocar em prática este conjunto de medidas o Estado brasileiro não adquirirá a capacidade de investir na expansão da economia e de adotar políticas de compensação social no nível necessário para mitigar os desníveis sociais no Brasil. A revolta popular que eclodiu recentemente no Brasil revela uma nítida crise de representatividade que se manifesta quando a sociedade não se sente efetivamente representada pelas pessoas que ela mesma elegeu democraticamente. O Brasil enfrenta simultaneamente duas crises: 1) de governança; e, 2) de governabilidade. A crise de governança resulta do fato de o governo em todos os seus níveis ter demonstrado incapacidade operacional para formular e executar suas políticas de gestão das finanças públicas, administrativa e técnica. A crise de governabilidade resulta, por sua vez, da incapacidade do Estado de agregar os múltiplos interesses dispersos na Sociedade Civil e apresentar-lhes um objetivo comum para o curto, médio e longo prazo. O não atendimento das demandas da população somado ao agravamento da situação econômica do Brasil ampliará ainda mais o fosso que separa o Estado brasileiro da Sociedade Civil que atuarão como indutores de novas e crescentes manifestações populares contra o estado de coisas reinante no País. Ressalte-se que um Estado é legítimo se existe um consenso entre os membros da Sociedade Civil para aceitar a autoridade vigente. Em Ciência Política, legitimidade é o conceito com que se julga a capacidade de um determinado poder para conseguir obediência sem a necessidade de recorrer à coerção, que supõe o uso da força como aconteceu em todas as localidades onde houve manifestação contra os detentores do poder político no Brasil. Os fatos ocorridos no Brasil demonstram a perda de legitimidade dos detentores do poder político junto à Sociedade Civil. O risco da estratégia do governo de simplesmente não atender as demandas populares com a farsa do plebiscito é o de ter que recorrer cada vez mais à coerção até, no caso extremo, com a decretação do estado de sítio, inclusive com a instauração do toque de recolher. Na prática, a frágil democracia que existe no Brasil seria profundamente golpeada com a institucionalização do estado de exceção pelos atuais detentores do poder. Este é o cenário que pode acontecer no curto prazo no Brasil com o governo tentando manter a ordem a todo o custo. Pode-se afirmar que, além de representar um verdadeiro embuste para manter o “status quo” a todo o custo, a proposta para reforma política da presidente Dilma Roussef é irresponsável porque pode colocar em xeque as instituições democráticas vigentes no Brasil na medida em que tendo que recorrer ao uso da força para manter a ordem, pode abrir caminho para a volta dos militares ao poder. Esta possibilidade pode se materializar na prática se os detentores do poder não conseguirem manter a ordem e os militares tiverem de intervir. A atual crise política no Egito demonstra a falta de legitimidade do presidente da República, Mohamed Mursi, que se defronta com a oposição de parcela ponderável da Sociedade Civil egípcia que exigia sua renúncia. No Egito, estabeleceu-se o impasse entre o Estado e a Sociedade Civil. Como este impasse não foi resolvido, o Exército
  • 3. 3 depôs o Presidente Mursi através de um golpe militar apoiado por grande parte da população. Se o impasse político entre o Estado e Sociedade Civil no Brasil não for resolvido pela falta de visão estratégica do governo federal, é possível que o cenário imperante no Egito venha a ocorrer, também, no Brasil. *Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.S