O documento discute os desafios da vigilância em saúde no município de São Paulo, abordando sua evolução conceitual ao longo do tempo e os principais desafios em termos de objetivos, estrutura e gestão. Os desafios incluem aperfeiçoar ações de prevenção e controle de doenças, desenvolver respostas a novos riscos, aprimorar a integração entre áreas da vigilância e com a atenção à saúde, e fortalecer a estrutura organizacional, recursos humanos e descentralização.
2. Desafios da Vigilância em Saúde
no Município de São Paulo
José Olímpio Moura de Albuquerque
3. Desafio s.m. fig. situação ou grande problema a ser
vencido ou superado; tarefa difícil de ser executada
(Dicionário Houaiss da língua portuguesa)
4. Definições de vigilância em saúde
“Vigilância é a observação contínua da distribuição e tendências da
incidência de doenças mediante coleta sistemática, consolidação e avaliação
de informes de morbidade e mortalidade, assim como de outros dados
relevantes, e a regular disseminação dessas informações a todos os que
necessitam conhecê-la” (A. Langmuir, 1963)
Karel Raska – Acrescenta o qualificativo “epidemiológica” em
artigo publicado em 1964.
5. A evolução do conceito
O conceito de vigilância passa a ter uma evolução internacional
e no Brasil que guardam algumas diferenças:
Em 1968, na XXI Assembleia Mundial de Saúde, foi aceita a incorporação na
vigilância epidemiológica de outras doenças e agravos, além das doenças
transmissíveis.
Desde 1989, o termo vigilância epidemiológica foi substituído pela
denominação vigilância em saúde pública
Definição do CDC: Coleta contínua e sistemática, análise e interpretação de
dados relacionados à saúde essenciais para o planejamento, implementação, e
avaliação da prática de saúde pública, intimamente integrada com a
disseminação oportuna destes dados para quem precisa saber.
6. A evolução do conceito
A Organização Mundial da Saúde e a Organização Pan-americana da Saúde
(OPAS), na década de 70, a incentivarem a criação de sistemas de vigilância
epidemiológica nos países em desenvolvimento.
A Lei Federal 6.259/1975 Art. 2º A ação de vigilância epidemiológica
compreende as informações, investigações e levantamentos necessários à
programação e à avaliação das medidas de controle de doenças e de
situações de agravos à saúde.
7. A evolução do conceito
- Dec. 78.231/1976 76
- Art 5º - As ações de vigilância epidemiológica serão da responsabilidade
imediata de uma rede especial de serviços de saúde, de complexidade
crescente, cujas unidades disporão de meios para:
- I) Coleta das informações básicas necessárias ao controle de doenças;
- 2) Diagnóstico das doenças que estejam sob notificação compulsória;
- 3) Averiguação da disseminação da doença e determinação da população
de risco
- 4) Proposição e execução das medidas de controle pertinentes;
- 5) Adoção de mecanismos de comunicação e coordenação do Sistema;
8. A evolução do conceito
Lei 8.080 - Art. 6º
§ 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou
prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente,
da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse à saúde,
abrangendo:
I – o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde,
compreendida todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e
II – o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a
saúde
§ 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o
conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e
condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as
medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.
9. A evolução do conceito
Portaria 3.259 de 2009 Art. 1º A Vigilância em Saúde tem como objetivo a análise
permanente da situação de saúde da população, articulando-se num conjunto de
ações que se destinam a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de
populações que vivem em determinados territórios, garantindo a integralidade da
atenção, o que inclui tanto a abordagem individual como coletiva dos problemas de
saúde.
Portaria 1.378 de 2013 Art. 2º A Vigilância em Saúde constitui um processo contínuo
e sistemático de coleta, consolidação, análise e disseminação de dados sobre
eventos relacionados à saúde, visando o planejamento e a implementação de
medidas de saúde pública [Proposta do documento PNVS acrescenta: “incluindo a
regulação, intervenção e atuação em condicionantes e determinantes da saúde”],para
a proteção da saúde da população, a prevenção e controle de riscos, agravos e
doenças, bem como para a promoção da saúde.
10. Uma proposta para o debate
Vigilância em Saúde é um conjunto integrado de práticas que
visam promover e proteger a saúde da população, prevenir e
controlar de riscos, doenças e agravos, por meio da vigilância de
eventos e estados relacionados à saúde, intervenção e atuação
em condicionantes e determinantes da saúde, regulação da
produção, comércio de produtos e serviços de interesse da
saúde, implementação de ações e programas de controle e
educação em saúde.
11. Desafios - fins:
- Aperfeiçoar ações de prevenção e de controle das doenças transmissíveis para
reduzir sua carga;
- Desenvolver respostas aos novos objetos da vigilância em saúde;
- Aperfeiçoar o controle dos riscos associados a produtos e serviços de saúde e
de interesse da saúde e a riscos ambientais;
- Promover a Saúde do trabalhador;
- Desenvolvimento de estratégias eficazes de comunicação e educação em
saúde;
12. Desafios - fins:
- Aperfeiçoar ações de prevenção e de controle das doenças transmissíveis para
reduzir sua carga
- Acelerar a redução desta carga, ultrapassando o ritmo da tendência natural
dessas doenças
- Introduzir novas tecnologias
- Implantação de redes integradas que envolvam a atenção primária,
especializada e de alta complexidade.
- Tuberculose: desenvolver estratégias que impactem incidência da doença
• Ampliar a detecção e o tratamento supervisionado
• Reduzir o abandono
• Ampliar a intervenção sobre populações vulneráveis
- Sífilis congênita: Reduzir a incidência de casos
• Ampliar o acesso ao pré-natal à população vulnerável
• Garantir o diagnóstico e tratamento adequado da gestante e do parceiro
no pré-natal
13. Desafios - fins:
- Aperfeiçoar ações de prevenção e de controle das doenças transmissíveis para
reduzir sua carga
Dengue: Implementar as ações de controle do vetor aumentando a efetividade do
programa.
- Implementar as ações do casa-a-casa visando aumentar a efetividade do
programa
- Melhorar o sistema de informação para permitir o monitoramento e
avaliação mais efetiva do programa uso do tablet para registro das
atividades
- Instituir o supervisor de campo
- Uso do teste rápido nas unidades de saúde para aumentar a capacidade
de realização de bloqueio de criadouros e nebulização
-Garantir na rede de atenção o diagnóstico e tratamento adequado visando
reduzir a letalidade
14. Desafios - fins:
- Aperfeiçoar ações de prevenção e de controle das doenças
transmissíveis para reduzir sua carga
- Leptospirose: Implementar o programa de controle de roedores com
objetivo de redução da infestação e da incidência da doença
- Hepatites virais: Aumentar a detecção de casos e implantar o novo
protocolo para tratamento da hepatite C
- Cobertura vacinal: Aumentar de forma homogênea a cobertura vacinal da
vacinas do PNI
- Implementar o sistema de informação para permitir o
monitoramento da cobertura vacinal por local de residência
- Implementar o acesso as salas de vacina e agir oportunamente
nos casos de abandono.
15. Desafios - fins:
- Desenvolver respostas aos novos objetos da vigilância em saúde
- Aperfeiçoar a produção de informações e análises epidemiológicas
- Doenças crônicas não transmissíveis:
- Produzir evidências que permitam subsidiar, monitorar e avaliar a implantação
de políticas que visem reduzir a prevalência dos fatores de risco na população
(tabagismo, obesidade, inatividade física, consumo de sal)
- Contribuir para a identificação de grupos e populações mais vulneráveis e com
dificuldade de acesso aos serviços de saúde
- Acidentes e violências:
- Implementar os sistemas de informação e a capacidade de análise da
ocorrência de acidentes e violências para subsidiar a implantação,
monitoramento e avaliação das políticas para o enfrentamento
- Exposição a riscos ambientais:
- Desenvolver e implementar metodologias para a identificação e monitoramento
da exposição de populações a riscos ambientais
- Implementar a vigilância da qualidade da água para consumo humano
16. Desafios - fins:
- Aperfeiçoar o controle dos riscos associados a produtos e serviços de
saúde e de interesse da saúde
- Trabalhar com o conceito de risco no território buscando ir além da realização
de inspeções por demanda
- Desenvolver ações para conhecer e atuar sobre o universo de
estabelecimentos sujeitos a vigilância em cada território
- Trabalhar com ações programáticas junto aos diversos segmentos, buscando
impactar na redução da prevalência dos riscos potenciais à saúde mais
perigosos.
- Ampliar as estratégias de comunicação junto ao setor regulado
- Desenvolver ações de educação em saúde para a população visando um
consumo saudável de bens e serviços
- Desenvolver um sistema de informação que permita o monitoramento dos riscos
no território
17. Desafios - fins:
Promover a saúde do trabalhador
- Implantar a vigilância em saúde do trabalhador em todas as Suvis;
- Identificar as atividades produtivas da população trabalhadora e das situações de
risco à saúde dos trabalhadores no território;
- Implementar a vigilância dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho;
- Promover a intervenção no processos e ambientes de trabalho de acordo com os
riscos identificados
18. Desafios - meio
- Estrutura
- Estrutura física
- Recursos humanos
- Estrutura organizacional
- Gestão
- Descentralização
- Cultura de resultados
- Melhoria de processos
- Integração entre a áreas da vigilância
- Integração com a assistência
- Articulação Intersetorial
19. Desafios - meio
- Estrutura física
- Adequar a estrutura física de todas as unidades de vigilância às suas
funções
- Desenvolver solução para o adequado armazenamento e distribuição de
insumos químicos para o controle de vetores
20. Desafios - meio
- Recursos humanos
- Adequar o número de técnicos às necessidades de pessoal para execução das
ações de vigilância
- Incorporar novos profissionais para executar as ações de saúde do trabalhador
e vigilância em saúde ambiental nas Suvis
- Desenvolver programa de educação continuada para todos os técnicos da
vigilância de acordo com as funções exercidas de maneira a qualificar as ações
desenvolvidas
- Capacitar os gestores para a gestão de equipes
21. Desafios - meio
- Estrutura organizacional
- Revisar e implantar uma nova estrutura organizacional em todos os níveis do
SMVS
- Criar cargos vinculados a nova estrutura organizacional com provimento
adequado ao campo da vigilância em saúde
22. Desafios - meio
- Gestão – descentralização
- Definir melhor os papéis e competências de cada nível do SMVS
- Estabelecer mecanismos negociados de pactuação para a definição das
ações que devem ser realizadas por cada nível e o comprometimento com o
alcance de resultados
- Responsabilização por cada nível do SMVS pela gestão do conjunto das
ações de vigilância em seu território
- Estabelecimento de mecanismos de financiamento das ações compatível com
a descentralização
23. Desafios - meio
- Gestão – cultura de resultados
- Promover a cultura de resultados na gestão
- Estabelecer para todos os compromissos de metas da gestão a desagregação
e pactuação destas metas em todos os níveis do SMVS ( município, CRS,
STS e, quando for o caso, unidades de saúde)
- Promover mecanismos eficazes de monitoramento e avaliação de indicadores
do alcance de metas e a tomada de medidas corretivas necessárias.
24. Desafios - meio
- Gestão - Melhoria de processos
- Realizar a revisão dos processos comuns ao SMVS e promover o seu
redesenho visando à melhoria do desempenho
- Estabelecer modelos de processos de trabalho e procedimentos
padronizados para uso em todo o SMVS quando indicados
- Desenvolver mecanismos de gestão dos processos redesenhados que
possam ser utilizados pelo gestor local
25. Desafios - meio
- Gestão - Integração entre a áreas da vigilância
- Promover a integração entre as áreas da vigilância buscando
potencializar as ações e o intercâmbio de conhecimento.
- Promover o compartilhamento de conhecimento e habilidades de
interesse comum: epidemiologia, análise de dados, mapeamento de
dados, implantação e avaliação de programas, etc.
- Promover a realização de ações conjuntas quando couber.
26. Desafios - meio
- Gestão - Integração ou articulação com a atenção à saúde
- Ações de vigilância que devem ser realizadas por todos os serviços em
todos os níveis da atenção:
- Detecção / Notificação de:
- Doenças de notificação compulsória
- Surtos e epidemias
- Eventos inusitados
- Manter equipes capacitadas, adequadamente dimensionada ao porte e tipo
do serviço, para realizar estas atividades
- Estabelecer procedimentos (quem e como) para realizar essas atividades
durante todo período de funcionamento do serviço.
27. Desafios - meio
- Gestão - Integração ou articulação com a atenção à saúde
- As equipes das unidades de base territorial devem ter equipes capacitadas e
com disponibilidade para realizarem ações de vigilância no território de
abrangência da unidade, tais como:
- Visitas domiciliares e em outros locais para investigação de caso
- Ações de vacinação (bloqueio, campanhas), quimioprofilaxia, etc
- Outras atividades de vigilância em saúde no território
28. Desafios - meio
- Gestão - Integração ou articulação com a atenção à saúde
- Desenvolvimento de um modelo de integração efetiva entre os agentes
comunitários de saúde e do Programa Áreas Verdes e Saudáveis com os
agentes de saúde ambiental / combate a endemias.
- Esse modelo deve prever:
- Uma base territorial comum
- Reuniões periódicas
- Mecanismos de acionamento recíproco quando necessário
29. Desafios - meio
- Gestão – Integração/articulação com a atenção à saúde
- As STS juntamente com as SUVIS devem promover junto as unidades de
saúde:
- Capacitação das equipes das unidades para a realização das ações de
vigilância
- Supervisão das ações de vigilância e das salas de vacina
- O acompanhamento e avaliação dos indicadores relativos as ações de
vigilância (busca ativa de sintomáticos respiratórios, adesão ao tratamento
de tuberculose, taxas de abandono e cobertura vacinal, etc.)