O documento discute três concepções de identidade cultural de acordo com Stuart Hall - identidade do sujeito iluminista, sujeito sociológico e sujeito pós-moderno. Também aborda o modelo de codificação/decodificação de Hall para analisar a comunicação e como as identidades estão se tornando mais fragmentadas e fluidas na pós-modernidade.
2. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE
As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo
social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e
fragmentando o indivíduo moderno – até aqui visto como sujeito
unificado.
3. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Uma mudança estrutural está transformando as sociedades
modernas do fim do século XX, fragmentando as paisagens
culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade,
que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como
indivíduos sociais.
4. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Essas transformações estão mudando também as identidades
pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos
integrados. Esta perda de um “sentido de si” estável é chamada,
algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito.
5. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
O duplo deslocamento – descentração dos indivíduos tanto de seu
lugar no mundo social e cultural, como de si mesmos – constitui
uma “crise de identidade” para o indivíduo.
Kobena Mercer: “A identidade somente se torna uma questão
quando está em crise, quando algo que se supõe fixo, coerente e
estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza”.
6. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Três concepções de identidade (Stuart Hall)
• Sujeito do Iluminismo
• Sujeito Sociológico
• Sujeito Pós-moderno
7. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Três concepções de identidade (Stuart Hall)
• Sujeito do Iluminismo: Concepção da pessoa humana como
indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades
de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num
núcleo interior que emergia quando o sujeito nascia e com ele se
desenvolvia.
• O centro essencial do EU era a identidade da pessoa.
• Concepção individualista do sujeito e de sua identidade.
8. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Três concepções de identidade (Stuart Hall)
• Sujeito Sociológico: Reflexo da crescente complexidade do
mundo moderno e da consciência de que o núcleo interior do
sujeito não é autônomo e autossuficiente, mas formado na
relação de outras pessoas importantes para ele, que mediavam
para ele os valores, sentidos e símbolos (a cultura) dos mundos
por ele habitados.
9. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Três concepções de identidade (Stuart Hall)
• Pela concepção sociológica, a identidade é formada a partir da
interação entre o EU e a SOCIEDADE.
• O sujeito mantém um núcleo interior considerado como seu “eu
real”, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo
com os mundos culturais exteriores e as identidades que esses
mundos oferecem.
10. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Três concepções de identidade (Stuart Hall)
• A identidade do ser se coloca, portanto, no espaço entre o
“interior” e o “exterior” – entre o mundo pessoal e o mundo
público.
• A identidade costura/sutura o sujeito à estrutura na qual ele está
inserido, estabilizando tanto os sujeitos quanto os mundos
culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais
unificados e predizíveis.
11. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Três concepções de identidade (Stuart Hall)
São justamente essas relações do sujeito com os mundos culturais
que agora estão mudando.
O sujeito da identidade unificada e estável agora está se tornando
fragmentado, abrigando não apenas uma, mas várias identidades –
às vezes contraditórias e/ou não resolvidas.
12. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Três concepções de identidade (Stuart Hall)
As paisagens culturais, por seu lado, estão entrando em colapso,
como resultado de mudanças estruturais e institucionais.
Os brancos americanos são maioria entre os norte-americanos que
possuem idade superior a 65 anos (80% da população com idade
superior a 65 anos). Entre os recém-nascidos, porém, outros grupos
além dos brancos não-hispânicos (negros, latinos/hispânicos,
asiáticos, etc.) predominam e já os ultrapassaram, de acordo com
notícia divulgada em junho de 2011 [3], sendo a mesma tendência
registrada para as crianças na faixa etária de 5 anos, conforme notícia
recente, de 2013.[4]
13. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Três concepções de identidade (Stuart Hall)
• Esse processo (sujeito fragmentado + colapso das paisagens
culturais) produz o sujeito pós-moderno caracterizado pela
ausência de identidade fixa, essencial ou permanente.
• Na pós-modernidade, a identidade torna-se uma “celebração
móvel”: formada e transformada continuamente em relação às
formas pelas quais somos representados ou interpelados pelos
sistemas culturais que nos rodeiam.
14. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Três concepções de identidade (Stuart Hall)
• Na pós-modernidade o sujeito assume identidades diferentes em
diferentes momentos, identidades estas não unificadas em torno
de um EU coerente.
• O sentimento de posse de uma identidade contínua desde o
nascimento resulta de uma “narrativa do eu” cômoda que
construímos e que nos dá estabilidade – no entanto, na pós-
modernidade as identidades são continuamente deslocadas.
15. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
A identidade completamente unificada e segura é uma fantasia.
Na medida em que os sistemas de significação e representação
cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade
de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos
identificar – ao menos temporariamente.
16. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
As sociedades modernas são, por definição, sociedades de mudança
constante, rápida e permanente.
Processo de globalização exerce profundo impacto sobre as
identidades culturais.
“Na medida em que áreas diferentes do globo são postas em
interconexão umas com as outras, ondas de transformação social
atingem virtualmente toda a superfície da terra – e a natureza das
instituições modernas”.
17. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
CODIFICAÇÃO/DECODIFICAÇÃO
• Apresentado por Stuart Hall como alternativa a uma visão do
processo comunicacional como circuito linear emissor-
mensagem-receptor (Teoria Matemática, Paradigma de
Lasswell). Este modelo é criticado pela ausência de uma
concepção estruturada dos diferentes momentos do processo
comunicacional e da complexidade das relações entre emissor X
receptor.
18. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• Processo comunicacional deve ser pensado como estrutura
produzida e sustentada pela articulação de momentos distintos,
mas interligados – produção, circulação, distribuição/consumo,
reprodução – dos conteúdos comunicacionais.
19. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• Produção e recepção da mensagem televisiva não são, portanto,
idênticas, mas estão relacionadas: são momentos diferenciados
dentro da totalidade formada pelas relações sociais do processo
comunicativo como um todo.
20. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• A produção da mensagem não é uma atividade transparente
como pode parecer à primeira vista.
• A mensagem constitui-se como estrutura complexa de
significados.
• A recepção não é algo aberto e perfeitamente transparente.
• A cadeia comunicativa não opera de forma unilinear.
21. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• O fenômeno comunicacional ocorre num contexto de
ARTICULAÇÃO entre codificação e decodificação, entre os
momentos de produção e os momentos de consumo. Codificação
e decodificação são práticas relacionadas que conectam
momentos isolados.
• Codificação/decodificação apresenta a comunicação como
totalidade complexa e determinada.
22. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• A codificação busca uma leitura preferencial dos conteúdos
difundidos.
• Leitura preferencial: busca por decodificação/interpretação
determinada. Parte do desejo de que os conteúdos sejam
decodificados/recepcionados sob determinada forma. As
decodificações ocorrem dentro do universo da codificação.
• O próprio produtor é constrangido pelo contexto institucional no
qual o conteúdo é produzido.
23. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• “À transparência entre o momento da codificação e da
decodificação eu chamo de momento de hegemonia. Ser
perfeitamente hegemônico é fazer com que cada significado que
você quer comunicar seja compreendido pela audiência
especificamente e somente daquela maneira pretendida. Trata-se
de um tipo de sonho de poder”.
24. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• Na perspectiva da decodificação preferencial, o poder se infiltra
no discurso, pois as mensagens não têm um único significado ou
forma única de decodificação.
• Contudo, essa tentativa de hegemonizar a audiência nunca é
inteiramente eficaz. Nunca é inteiramente bem sucedida. Trata-se
de um exercício do poder na tentativa de hegemonizar a leitura
da audiência.
25. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• Três posições de decodificação: preferencial, negociada e de
oposição.
• Preferencial: Hegemonização do processo de decodificação pelo
agente codificador.
• Negociada: A decodificação não ocorre plenamente no contexto
preferencial, tampouco representa oposição total ao texto. “A
maioria de nós nunca está completamente dentro da leitura
preferencial, ou totalmente a contrapelo do texto”.
26. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• Oposição: Decodificação a partir de um ponto oposicionista, que
pode ou não ter entendido o sentido preferido na produção, mas
que retira do texto exatamente o oposto do preferido. “Entende,
por exemplo, o exercício da lei e da ordem como exercício de
opressão, ou de resistência”.
27. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• Há que se falar ainda do preferencial no âmbito da
decodificação, que é diferente do preferencial da codificação. O
consumidor pode rejeitar a preferência do produtor,
interpretando a partir de outra preferência – pois, tão logo nos
damos conta de determinado texto, fazemos dele um tipo de
leitura.
28. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• A inexistência de leitura preferencial configura-se como leitura
objetiva dos conteúdos comunicacionais e da realidade
circundante – o que é mera ilusão.
29. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Codificação/Decodificação (Stuart Hall)
• As audiências são constituídas por grupos que compartilham
referenciais de entendimento e interpretação. Nessa perspectiva,
a decodificação, portanto, é compartilhada e possui uma
expressão institucional. Relaciona-se com o fato do indivíduo
estar ligado a determinada instituição.
• Estão relacionadas à família na qual o ser foi criado, ao lugar
onde trabalha, das instituições às quais pertence, de outras
práticas que constituem o dia-a-dia do indivíduo.
30. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – II
Bibliografia recomendada
FRANÇA, Vera V.; SIMÕES, Paula G. Curso básico de teorias da comunicação.
Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2016.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª edição, Rio de
Janeiro, Ed. DP&A, 2011
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte:
Editora UFMG; Brasília: Representação da Unesco no Brasil, 2003.
SANTOS, J. L. O que é cultura. São Paulo, Col. Primeiros Passos, 16ª edição,
Ed. Brasiliense, 1996
WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa, Ed. Presença, 1999