A perspectiva cultural inglesa surge no início dos anos 1960, na Universidade de Birmingham, Inglaterra, com a criação do Center for Contemporary Cultural Studies (CCCS).
Desde o início estabelece uma linha interdisciplinar de investigação, interessada em pensar as relações entre cultura e sociedade.
2. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
A perspectiva cultural inglesa surge no início dos anos 1960, na
Universidade de Birmingham, com a criação do Center for
Contemporary Cultural Studies (CCCS).
Desde o início estabelece uma linha interdisciplinar de investigação,
interessada em pensar as relações entre cultura e sociedade.
3. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
A tradição do pensamento até então vigente nos estudos sobre
sociedade e cultura na Inglaterra apresentava uma visão
conservadora e elitista da cultura – lamentando o impacto da
Revolução Industrial sobre a cultura nacional. Na perspectiva desses
estudos, a industrialização comprometia a cultura.
4. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Para Frank Raymond Leavis (1895-1978), defensor dos valores
culturais tradicionais, a cultura de massa industrialmente produzida
degrada a cultura nacional. Em 1932 ele funda a revista Scrutiny
como “tribuna de uma cruzada moral e intelectual contra o
‘embrutecimento’ praticado pela mídia e pela publicidade”, com
objetivo de deter a degenerescência da cultura.
5. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Os estudos culturais inaugurados pelo CCCS participa do debate
relacionado ao papel da cultura nas sociedades, mas optam por uma
abordagem que incluía estudos sobre produção, consumo e
construção de sentidos dos bens culturais no seio das classes
populares. Representa, dessa forma, uma mudança de paradigma.
6. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Três eixos fundadores do CCCS, estabelecidos nos
anos 1960, vão se opor frontalmente à perspectiva
elitista dos estudos da cultura até então
predominantes na Inglaterra:
Richard Hoggart defende em “As utilizações da
cultura” (1957) que a classe trabalhadora apresenta
um universo cultural próprio, não sendo adequado,
portanto, estudar este universo na perspectiva da
cultura de elite.
Richard Hoggart (1918-2014)
7. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Hoggart mostrou como a classe operária cria, no seu “encontro”
com os processos de industrialização e urbanização, formas
culturais específicas e, ao fazê-lo, mostrou que a produção e o
consumo culturais expressam as relações sociais básicas, as formas
de vida de uma dada sociedade. A cultura é vista como expressão
dos processos sociais básicos.
8. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Hoggart interessa-se pelo modo como o desenvolvimento
industrial e tecnológico estavam transformando a cultura
como um todo.
Ele lamenta os efeitos dessa relação entre sociedade
industrial e cultura, mas rejeita uma postura determinista
sobre as relações entre cultura de massa e cultura da classe
operária.
9. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Raymond Williams, em “Cultura e Sociedade”
(1958) defende que a cultura deve ser pensada
como todo um modo de vida, não se limitando a
aspectos como modo de morar, de se vestir ou de
ocupar o tempo de lazer.
Williams amplia a noção de cultura no intuito de
refletir sobre (e valorizar) a cultura da classe
trabalhadora.
Raymond Williams
(1921-1988)
10. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Para Williams, a cultura da classe trabalhadora é, antes de tudo,
social (no sentido em que cria instituições) do que individual
(ligada ao trabalho intelectual e imaginativo).
Considerada no contexto da sociedade, essa cultura representa uma
realização criadora notável.
11. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Em 1969 a direção do CCCS é entregue ao
teórico cultural e sociólogo jamaicano Stuart
Hall, radicado em Londres desde 1951.
Stuart Hall permanece na direção do Centro até
1979, quando transfere a direção para Richard
Johnson.
As bases teóricas do CCCS foram, desde o
princípio, o marxismo, o estruturalismo e a
semiologia/semiótica.
Stuart Hall (1932-2014)
12. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
A teoria marxista vê a organização da vida social a partir das relações
entre a base e a superestrutura.
Por BASE (ou ESTRUTURA) referem-se às forças produtivas e às
relações sociais de produção. São as formas como os sujeitos se
organizam para conseguir os bens de que precisam para viver.
13. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
A SUPERESTRUTURA diz respeito à dimensão ideológica que atua
como pano de fundo para as atividades da estrutura. Dela fazem parte
instituições políticas, concepções religiosas, sistemas culturais,
códigos morais e estéticos, sistemas legais, conhecimentos filosóficos
e científicos, e representações coletivas.
As ideias formadas na SUPERESTRUTURA adquirem efetividade na
BASE/ESTRUTURA.
14. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Os Estudos Culturais assumem o modelo BASE-
SUPERESTRUTURA visando destacar a importância da
economia (e do capitalismo) na organização social.
Contudo, eles relativizam o papel da SUPERESTRUTURA
como determinante da cultura. Para eles, a cultura deve ser
pensada a partir de sua autonomia relativa: sofre, sim,
influência das relações econômicas, mas não pode ser
entendida como mero reflexo delas.
15. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Inspirados no ESTRUTURALISMO, os teóricos de Birmingham
entendem a sociedade como uma totalidade complexa, cujas partes
se interligam em relação de dependência mútua.
A cultura, uma das partes da totalidade social, também é vista
como estrutura complexa que deve ser analisada a partir de suas
interconexões (internas e externas).
16. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Defendem que ela está relacionada à dimensão econômica da
sociedade, mas que deve ser pensada a partir de sua autonomia
relativa.
Na SEMIOLOGIA buscam referências para a compreensão da
cultura a partir das linguagens e da produção simbólica,
reconhecendo a heterogeneidade e a multiplicidade dos
significados.
17. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Rejeitam a perspectiva Hipodérmica norteamericana baseada
na ideia de estímulo-resposta e na passividade das audiências.
Particularmente sob Stuart Hall, o CCCS como o campo da
cultura oferecia, ao mesmo tempo, instrumentos de dominação
pelas classes dominantes e recursos para a resistência e a luta.
18. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Ao mesmo tempo em que olhavam para a opressão dos textos
(produtos culturais), os pesquisadores percebiam
possibilidades de resistência através de subculturas, de
condutas desviantes, de sociabilidades operárias.
Além de se dedicarem a essa perspectiva política da cultura,
os pesquisadores também ao papel do contexto sócio-histórico
na configuração dos produtos culturais.
19. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
As pesquisas demonstram especial interesse para com a
recepção dos produtos culturais, considerando a subjetividade
das leituras e as estratégias interpretativas das audiências.
Destacam, dessa forma, aspectos das identidades, das
subjetividades, e das leituras que os sujeitos fazem dos
produtos culturais.
20. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Os estudos de Birmingham vão gerar desdobramentos em
vários outros países, com destaque para os EUA, Austrália, no
Brasil e em outros países latino-americanos.
O interesse pela análise dos textos midiáticos, pelos estudos
de recepção, e pelos processos de construção de identidades
foi adotado por muitos estudiosos brasileiros.
21. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Análises sobre televisão, cinema, rádio, jornal, envolvendo
discursos e recepção, bem como os contextos em que esses
meios se inserem surgiram no país a partir de contribuições da
perspectiva inglesa.
22. ESTUDOS CULTURAIS INGLESES – I
Bibliografia recomendada
FRANÇA, Vera V.; SIMÕES, Paula G. Curso básico de teorias da comunicação.
Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2016.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte:
Editora UFMG; Brasília: Representação da Unesco no Brasil, 2003.
SANTOS, J. L. O que é cultura. São Paulo, Col. Primeiros Passos, 16ª edição,
Ed. Brasiliense, 1996
WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa, Ed. Presença, 1999