Este documento discute a importância de se articular a avaliação de sistema educacional com a avaliação do rendimento escolar de alunos individuais. A avaliação de sistema fornece subsídios para políticas educacionais de alto nível, enquanto a avaliação do rendimento escolar deve subsidiar decisões pedagógicas para melhorar o ensino oferecido. É um desafio equacionar essas duas dimensões avaliativas de forma a atender objetivos distintos, mas convergentes. O planejamento da avaliação deve considerar para que fim está
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Texto avaliação
1. Avaliação de sistema e avaliação do rendimento escolar
O principal propósito de uma avaliação de sistema é possibilitar o
9 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM FORMADORA/ desenvolvimento de políticas públicas na área educacional que contemplem a
AVALIAÇÃO FORMADORA DA APRENDIZAGEM qualidade do ensino oferecido a todos os alunos, e a igualdade de oportunidades
para que os alunos possam aprender.
Em países compromissados com políticas democráticas de educação,
esse tipo de avaliação vem sendo realizada procurando focalizar prioritariamente
o nível de aprendizagem que os alunos estão alcançando em determinadas séries
Clarilza Prado de Sousa1 escolares. No Brasil, a avaliação de sistema desenvolvida pelo Ministério da
Educação e Cultura (MEC) – O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB)
– analisa, através de uma amostra proporcional de alunos de cada estado da
A verificação do rendimento escolar observará os seguintes Federação, qual o desempenho conquistado pelos alunos na 4ª e na 8ª séries do
critérios: Ensino Fundamental e na 3ª série do Ensino Médio, em disciplinas como Língua
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, Portuguesa, Matemática e Ciências. Nessas avaliações, além da aprendizagem
com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos alunos, procura-se também analisar variáveis que interfiram no desempenho
dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas do aluno e possam assim ajudar na compreensão de diferenças encontradas nos
finais; resultados apresentados pelos alunos, como por exemplo: formação dos
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com docentes, situação das escolas etc.
atraso escolar; A exemplo do Ministério da Educação, muitos estados brasileiros têm
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante procurado realizar uma avaliação de seus sistemas de ensino, para obter
verificação do aprendizado; resultados mais específicos, que permitam orientar as políticas de suas regiões.
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; O planejamento dessas avaliações exige um delineamento
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência metodológico e a construção de medidas rigorosas, de forma a permitir a
paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento comparação entre as escolas que compõem o sistema e o diagnóstico preciso do
escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus nível de aprendizagem dos alunos em determinado momento, comparado com
regimentos. padrões internacionais, nacionais ou mesmo com critérios teoricamente definidos
L.D.B./ 9.394 – dezembro de 1996 por um sistema de ensino.
Capítulo II – Da educação básica – Seção I – Das disposições No entanto, embora a comparação de resultados entre escolas e
gerais – Art.24 .V a) b) c) d) e) sistemas seja uma característica da avaliação do sistema, a fim de permitir
referências para a análise, a avaliação do rendimento escolar que se realiza no
O propósito de uma avaliação educacional é fornecer subsídios para que os contexto da escola e da sala de aula enquanto prática educativa, não tem nenhum
responsáveis pela coordenação e desenvolvimento de ações educativas possam propósito classificatório. Deve ser realizada de forma contínua, cumulativa e
tomar decisões que permitam o aperfeiçoamento de processos e condições de integrada a processos de progressão dos alunos nas séries escolares, a
ensino. Dependendo do nível de abrangência das ações educativas e do foco estratégias de aceleração de aprendizagem, de recuperação, e deve estar
privilegiado em um processo avaliativo, pode-se classificar a avaliação apoiada em análises qualitativas que permitam compreender o desempenho do
educacional em várias dimensões: avaliação de sistema, avaliação de currículo, aluno.
avaliação institucional, avaliação de programa e avaliação de rendimento escolar. A realização freqüente nestes últimos anos, no Brasil, de avaliações de
Neste texto procuraremos discutir primeiramente a importância de o sistema, e o emprego de testes objetivos, característica desse tipo de avaliação,
professor aprender a articular a avaliação de sistema e a avaliação do rendimento têm levado muitos professores a supor que deveriam desenvolver seu processo
escolar, compreendendo que os objetivos, métodos e procedimentos dessas de avaliação utilizando a mesma metodologia e os mesmos tipos de instrumentos
duas dimensões avaliativas, embora diferentes, podem convergir para subsidiar que são recomendados para avaliações de grande porte. Perdem com isso a
decisões em sala de aula que conduzam à melhoria da prática educativa. Em possibilidade de aperfeiçoar procedimentos e instrumentos que permitiriam
seguida, discutiremos orientações básicas para o planejamento da avaliação do análises mais aprofundadas de seus alunos, no contexto de sala de aula.
rendimento escolar. Finalmente, vamos propor um roteiro para o professor Planejar a avaliação de sistema e a avaliação do rendimento escolar que
analisar se está desenvolvendo uma avaliação formadora. subsidiem o aperfeiçoamento do ensino e garanta a eqüidade da educação
oferecida nas escolas é no entanto um grande desafio. Os avaliadores que
planejam uma avaliação de sistema enfrentam a questão de como, por um lado,
1 Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.
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2. garantir uma visão global do sistema e, por outro, não desenvolver um Para que avaliar
delineamento metodológico que acabe dando um diagnóstico tão amplo que se
perca de vista o que ocorre em sala de aula, desconsiderando assim a direção que Avaliação do aluno em sala de aula tem como propósito promover o
está sendo dada à formação do indivíduo no processo educativo. Da mesma aperfeiçoamento do ensino que vem sendo oferecido. Avalia-se para identificar
forma, o professor é desafiado a planejar uma avaliação em sala de aula que não necessidades e prioridades, situar o próprio professor e o aluno no percurso
seja tão estreita que, buscando a individualidade dos sujeitos avaliados, perca de escolar. Nesse sentido, a primeira questão que orienta um planejamento
vista o homem que se quer formar, o projeto da escola, o sistema em que a escola avaliativo é definir para quê se está realizando uma avaliação. Que desicões
está inserida e a sociedade que se espera construir. A questão aqui colocada diz precisam tomar? Que subsídios espera-se obter do processo avaliativo?
respeito ao foco da avaliação e a uma maneira de articular diferentes dimensões As respostas a essas questões são fundamentais no planejamento do
avaliativas. Ambas têm a mesma intenção, mas suas metodologias devem ser processo avaliativo porque permitem ao professor refletir sobre suas intenções,
equacionadas de forma a atender a decisões diferentes, subsidiando assim sobre seu papel, os limites de sua ação e as condições que terá para interferir na
planejamentos distintos. educação de seus alunos. Assim, se a avaliação do rendimento escolar tem como
O Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo função a análise e a proposição de encaminhamentos pedagógicos para que os
(SARESP), procurando enfrentar esse desafio, vem desenvolvendo um processo objetivos do ensino sejam atingidos, evidentemente “seu processo final culmina
de avaliação de sistema que conjuga a avaliação somativa – dos resultados de não na aprovação ou reprovação, mas em prescrições pedagógicas que possam
todo o sistema no final de um determinado ciclo – com a avaliação formativa, tornar o ensino mais efetivo” (Prado de Sousa, 1997, p.144).
desenvolvida nas escolas e delegacias de ensino. Na realização dessa avaliação É nesse contexto que compreendemos os critérios definidos na
formativa, os educadores – professores, supervisores, AT, diretores – são legislação educacional brasileira quando estabelece os propósitos da avaliação
chamados a participar, analisando os processos responsáveis pelo do rendimento escolar. O texto da LDB 9.304/96, em seu artigo 23, item V, é claro
desencadeamento dos resultados coletados na avaliação somativa, que passam quando define os critérios que devem orientar a avaliação do rendimento: “b)
a ser considerados indicativos do processo educativo mais amplo que o professor possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c)
desenvolve em sala de aula. Nesse sentido, os resultados da avaliação de possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
sistema passam a ter duas possibilidades: diagnosticar o sistema de ensino em aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; c)
sala de aula. Fornece, ainda, indicativos sobre aspectos que a avaliação de obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período
rendimento deve abordar para obter um melhor diagnóstico. letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas
No entanto, nem todo delineamento metodológico de avaliação de instituições de ensino em seus regimentos”.
sistema procura articular a avaliação do rendimento escolar com os resultados Essas possibilidades e obrigatoriedades apresentadas na legislação, na
obtidos na avaliação de sistema. Mesmo no caso do SARESP, apesar de a intensa realidade vêm ampliar o nível das decisões que o professor pode tomar a partir de
capacitação que vem sendo conduzida junto aos níveis intermediários do sistema sua avaliação. Tradicionalmente realizada para classificar alunos e definir
de ensino, pode-se afirmar que a construção de uma cultura avaliativa na rede de aprovação e reprovação, a avaliação do rendimento escolar assume agora
escolas públicas exigirá ainda tempo e prática para que se aprenda a articular os legalmente o que a teoria especializada preconizava como sua função básica:
resultados dos dois tipos de avaliação sem reduzir os resultados e análises de subsidiar o aperfeiçoamento do ensino.
uma e outra. Será necessário ainda que no planejamento da avaliação de sistema Pesquisa realizada com professores do ensino fundamental (Prado de
se conte cada vez mais com indicativos que permitam ao professor interpretar as Sousa, 1997) nos informa que também “os professores se sentem indignados
conseqüências de suas práticas no rendimento dos alunos. Da mesma forma, o com as conseqüências socioemocionais que identificam com a reprovação do
professor vai precisar aprofundar análises, em sua avaliação de rendimento aluno, mais ainda, se sentem insatisfeitos com o fato de utilizarem eles próprios
escolar, que permitam identificar os processos que os alunos utilizam para essa medida. A grande dificuldade que pontuam está em como colocar em prática
responder às questões propostas nas provas da avaliação de sistema. Com o uma medida que para eles exige grande preparo profissional, mudanças de
objetivo de oferecer ao professor uma possibilidade de aperfeiçoamento de sua métodos de ensino, abandono de procedimentos tradicionais e reformas globais
avaliação em sala de aula, discutem-se a seguir as orientações que devem ser do sistema de ensino” (p.15).
consideradas em um processo de avaliação do rendimento escolar. Na realidade, os professores compreendem claramente a dificuldade
que um processo de avaliação bem conduzido deve considerar: professores
capacitados, dispostos a mudar sua prática e suporte do sistema de ensino.
Orientações para um processo de avaliação do rendimento escolar Vasconcellos (1998), analisando o papel do professor na avaliação do rendimento
escolar, reforça a idéia de que a mudança do processo avaliativo depende tanto
Para iniciar uma avaliação do rendimento escolar que traduza na prática do próprio sujeito quanto do apoio institucional, mas ressalta que há também a
o compromisso da escola com o desenvolvimento do aluno, três questões devem “dificuldade de os educadores valorizarem as pequenas práticas, os passos
orientar o trabalho do docente: PARA QUE AVALIAR, O QUE É AVALIAR E COMO pequenos possíveis de serem dados, bem como... a dificuldade de articular essas
AVALIAR.
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3. práticas com uma visão maior” (p.274). Ressalta ainda o autor como o pensar é, poder utilizar a avaliação como instrumento de promoção da aprendizagem do
“dicotômico (tudo ou nada) revelou-se como altamente pernicioso pelo estado de aluno e aperfeiçoamento de seu ensino e da prática educativa da escola.
imobilidade que acaba levando os professores, visto não ser possível uma No entanto, para explicitar os objetivos a serem alcançados e os
mudança total de imediato” (ibidem). resultados pretendidos, é preciso que o professor enfrente algumas dificuldades
Mudar o processo avaliativo é uma caminhada que se inicia passo a que essa questão suscita. Freqüentemente a definição de objetivos tem levado os
passo, começando pelas reflexões “para que vou avaliar o aluno”, “para que serve professores a indagar: a escola deve levar o aluno a adquirir conhecimento ou a
a avaliação”. Em última instância, o que estamos considerando como desenvolver competências? Conseqüentemente, a avaliação a ser realizada
fundamental é somente iniciar um processo de avaliação quando se tem claro e deve se centrar na análise do domínio de conhecimento ou voltar-se para
explicitado coletivamente o significado que a avaliação vai desempenhar na identificar as competências adquiridas?
escola. Na realidade, essa questão revela-se um mal-entendido e encerra um
dilema, segundo Perrenoud (1997). É um mal-entendido porque muitos acreditam
que é possível desenvolver competências sem garantir a aquisição de
O que avaliar conhecimentos. Ao contrário, assinala o autor, quanto mais complexa for
determinada competência, mais se exigirá do aluno a aquisição de amplos
A avaliação do aluno desenvolvida pelo professor em sala de aula deve conhecimentos especializados, organizados e confiáveis. Além disso, argumenta
ser deduzida a partir das diretrizes de seu próprio ensino. o autor, ações complexas, abstratas, mediadas por tecnologia, exigirão
É analisando o seu curso, as aprendizagens que prioriza e o tipo de conhecimentos cada vez mais extenso, especializados, organizados e confiáveis.
ensino que pretende desenvolver que o professor define o que irá avaliar. Assim, Essa questão encerra também um dilema porque, para realizar um curso
por exemplo, como salientam Hurtado & Navia (1998), os cursos destinados à voltado para o desenvolvimento de competências, é preciso que os alunos se
aquisição de habilidades e à formação de lideranças em determinada área irão apropriem de determinados conhecimentos que suportarão o exercício das
realizar avaliações não só do ensino desenvolvido em sala de aula, mas também competências exigidas. Contudo, cursos voltados apenas para a aquisição de
procurarão analisar experiências dos alunos fora da classe. conhecimentos não levarão, ipso facto, ao desenvolvimento de competências
Da mesma forma, escolas que atendem uma população de alunos pelos alunos.
bastante diversificada e com habilidades escolares muito heterogêneas A questão apresentada coloca então ao professor um desafio a enfrentar,
precisariam concentrar seus processos avaliativos no diagnóstico de pré- ou, melhor dizendo, definir o que avaliar conduz o professor a refletir sobre o
requisitos, na eficácia dos programas de aceleração que são desenvolvidos para ensino que pretende desenvolver e as dificuldades que terá que enfrentar para
os estudantes com maiores dificuldades, na análise das necessidades de alunos alcançar os propósitos esperados.
tendo em vista a preparação de programas que levassem à superação. Definir o que avaliar exige do professor muita clareza sobre a formação
Mesmo escolas que priorizaram projetos de ensino voltados pretendida de seus alunos. É a partir do planejamento que realizou para promover
basicamente para as habilidades intelectuais do aluno podem estar interessadas o processo de ensino-aprendizagem, isto é, da seleção das competências e
em analisar como os seus alunos estão se saindo em avaliações padronizadas conhecimentos que priorizou e das estratégias que escolheu para desenvolvê-los
nacionalmente, em resultados a longo prazo em termos de postos obtidos no que o professor irá estavelecer o que avaliar.
mercado de trabalho, e no sucesso na superação de barreiras que dificultam a
continuidade dos estudos.
Mais ainda, nos cursos cujo foco é promover uma formação de alta Como avaliar
qualidade, as avaliações não podem apenas visar a coleta de informações sobre o
alcance de resultados, mas também deverão procurar identificar as causas das Avaliar não é medir. Avaliar envolve o levantamento de informações
dificuldades e sucessos dos alunos, e promover o desenvolvimento de sobre a aprendizagem dos alunos que devem ser analisadas considerando os
motivações internas dos alunos de forma a comprometê-lo com o seu próprio critérios e objetivos do plano de ensino, e inclui também o processo de tomada de
desenvolvimento. Ressaltam ainda Hurtado & Navia (1998) que somente quando decisões. A avaliação envolve portanto a medida, ou a prova, mas não se reduz a
o professor tem claros os propósitos educacionais do seu curso – o que avaliar – ela. Nesse sentido, analisar como vou avaliar não implica definir apenas que
poderá planejar a sua avaliação e analisar os resultados obtidos e os processos provas, testes vou realizar, ma sobretudo estabelecer como vou permitir que os
utilizados. dados levantados permitam o autoconhecimento do aluno e o diagnóstico do
É portanto a clareza dos objetivos do curso que está ministrando, o ensino oferecido.
significado da sua disciplina na formação do aluno, os propósitos delineados nas Evidentemente será sempre importante para o professor aprender a
diretrizes do projeto de escola que permitirão ao professor definir os construir instrumentos um pouco mais precisos, que permitam analisar com mais
procedimentos a serem seguidos e assim planejar avaliações que permitam aos rigor o nível de competência e as habilidades que os alunos estão alcançando.
alunos e a ele próprio ter uma gestão dos erros e do processo de superação. Isto Contudo, reforçar somente esse aspecto da avaliação do rendimento escolar
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4. pode levar a desenvolver uma prática que não considera a sua possibilidade radical da atitude avaliativa e não somente dos procedimentos e instrumentos
formadora. Isto é, uma prática fragmentada, que reduz e estreita o olhar do utilizados. O professor vem utilizando procedimentos tradicionais e provas
professor sobre a pessoa do aluno que está formando. escritas como recursos básicos de análise de aprendizagens de alunos. Não se
A avaliação, ao possibilitar o diagnóstico do aluno oferecido pelo criticam aqui os métodos tradicionais de avaliação com a intenção de propor
professor e do desempenho do aluno, pode ser formadora quando os resultados novidades metodológicas, que nem sempre significam alternativas mais
possibilitarem também uma reflexão sobre a prática que estamos desenvolvendo, adequadas e mais seguras para avaliar o aluno. Pretende-se destacar o fato de
isto é, quando os resultados obtidos pelos alunos permitirem ao professor analisar que, ao utilizar procedimentos de avaliação durante muito tempo sem questionar
a sua participação na aquisição da aprendizagem e identificar, a partir daí, quais seus objetivos e finalidades, corre-se o risco de perder o próprio sentido de um
as estratégias mais efetivas e as que precisam ser revistas, quais os processos de processo avaliativo.
aprendizagem os alunos estão construindo, quais as dificuldades que ele mesmo, Com o objetivo de contribuir para a reflexão dos educadores, em especial
professor, enfrenta no desenvolvimento do programa. Resumindo: quando o daqueles que enfrentam o desafio da sala de aula, propõe-se aqui um “Roteiro
professor compreender que os resultados de um processo avaliativo analisa para autodiagnóstico”. Baseado em perguntas, esse roteiro pretende contribuir
também o seu próprio desempenho. para a reflexão do professor interessado em aperfeiçoar seu processo avaliativo.
Uma avaliação formadora deve possibilitar, ainda, a análise do Projeto
Educacional da Escola, uma vez que são os seus princípios que orientam a
avaliação do desempenho ao aluno. Roteiro para autodiagnóstico
Assim sendo, os resultados da avaliação, os procedimentos e
instrumentos utilizados, devem permitir aos professores analisar como estão
implantando o Projeto Educacional da Escola. O aluno está aprendendo? O que ele está aprendendo?
Desenvolver uma avaliação formadora significa realizar um processo
não fragmentado, não punitivo e orientado por princípios éticos. Comprometida Indago constantemente se meu aluno está aprendendo?
com a transformação social, essa prática educativa reconhece o papel da Ensino sem aprendizagem é um conjunto vazio, não tem nenhuma
educação nessa transformação, prioriza a análise do pensamento crítico do aluno significação. Na verdade, essa pergunta traduz a preocupação constante do
e focaliza sua capacidade de solucinar problemas reais. educador e a tensão do professor comprometido.
Contudo, o professor, ao realizar uma avaliação formadora, não
abandona a informação, mas procura utilizar instrumentos cada vez mais precisos
e válidos para diagnosticar a aprendizagem dos alunos e assim contar com Quais as dificuldades que o aluno está apresentando?
informações cada vez mais seguras para suas análises e decisões.
Mesmo aperfeiçoando seu diagnóstico, o professor que procura Diante das dificuldades apresentadas pelos alunos, procuro pesquisar o
desenvolver uma avaliação formadora compreende que o comportamento que está acontecendo? Verifico se a dificuldade do aluno se deve à falta de pré-
humano é multideterminado e que uma dificuldade do aluno não pode ser requisito ou a outro fator? Desenvolvo meios para melhor diagnosticar as
atribuída a um único aspecto específico do aluno, e que a família do aluno não é a dificuldades?
única justificativa para os resultados do desempenho obtido em sala de aula.
Nesse sentido, procura na sua prática elementos para atuar ante dificuldades
detectadas, e, quando considera que um determinado fator tem importância no Quais as hipóteses que levanto sobre a maneira como se realiza a
nível da aprendizagem de seus alunos, se esforça para desenvolver avaliações aprendizagem dos alunos?
que lhe permitam esclarecer melhor a influência desse aspecto para, a partir daí,
atuar pedagogicamente sobre ele. Como meus alunos aprendem? Como se dá o processo de
Evidentemente, a avaliação formadora de professores e alunos não pode aprendizagem? Desenvolvi minha própria teoria sobre o modo como se realiza a
utilizar procedimentos e instrumentos “fechados a sete chaves”, impedindo que se aprendizagem? Qual é essa teoria? Procuro comparar minhas pequenas teorias
analisem os critérios e os parâmetros utilizados. Ela deve ser transparente no com os fundamentos teóricos da área de aprendizagem?
planejamento, nos resultados e nos critérios. Considerando que qualquer curso Essas questões visam levar o professor a ultrapassar as concepções do
deva ter como objetivo desenvolver a autonomia intelectual e a formação senso comum, a respeito de como se realiza a aprendizagem, e alcançar um nível
profissional do estudante, é fundamental que o aluno participe ativa e de maior complexidade teórica, que lhe possibilite levantar hipóteses
compromissadamente de sua formação. Isso implica dizer que o resultado de uma fundamentadas sobre os processos de aprendizagem dos seus alunos.
avaliação deve sempre ser devolvido, e analisado com o aluno.
Finalmente, podemos afirmar que uma avaliação é formadora quando A avaliação está “cobrando” as aprendizagens de conteúdos e
contribui efetivamente para a formação do cidadão. Para tanto, exige uma revisão habilidades prioritárias, consideradas em meu plano de curso?
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5. O que a escola pode/deve fazer para superar determinadas dificuldades
Selecionar o que avaliar é um processo difícil. Existem alguns tópicos em dos alunos? Como a participação de meus colegas pode ajudar nas dificuldades
que o professor pode estar mais interessado, considera mais fácil de desenvolver que estou enfrentando em sala de aula?
ou a respeito dos quais prefere fazer perguntas. A questão aqui colocada tem a
intenção de levá-lo a refletir se sua avaliação considera os tópicos fundamentais e A sala de aula não deve ser concebida pelo professor como uma ilha em
mais relevantes do curso. A resposta a essa questão, no entanto, exige uma que ele se isola dos demais colegas e de toda a escola. As dificuldades que sente
discussão com seus colegas. A decisão sobre que objetivos e conteúdos são são com certeza vivenciadas pelos demais professores. O professor que realiza a
relevantes para determinado curso, de determinada escola, com uma população avaliação formadora compreende o coletivo escolar como o espaço onde ele
específica, é uma definição coletiva. reflete sobre suas dificuldades e facilidades e constrói recursos para enfrentar
seus desafios cotidianos.
Quais as estratégias que têm dado melhor resultado para garantir
determinadas aprendizagens? Como vou discutir os resultados da avaliação cm os alunos?
O professor nem sempre tem o hábito de registrar sua experiência As devolutivas do professor que realiza a avaliação formadora são
didática. Essa questão procura levá-lo a observar, registrar e comparar, baseado planejadas de forma a se constituirem em mais um espaço de ensino-
em experiências anteriores, qual a eficiência de determinadas estratégias. aprendizagem. Ao aluno devem ser dadas condições para analisar, compreender
Espera-se com isso evitar a repetição de atividades ou métodos que se têm seu desempenho e, dessa forma, junto com o professor, propor metas para o
provado ineficientes para produzir aprendizagens. período seguinte.
O aluno sabe efetivamente por que erra? Não basta ao aluno identificar o
que erra, é preciso que ele tenha claro o processo que desenvolveu para chegar a
Que decisões devo tomar a partir dos resultados de minha classe? determinado resultado e, a partir daí, poder rever sua trajetória. A avaliação
formadora possibilita sempre a formação do aluno.
Para o professor que procura realizar uma avaliação formadora, a
análise dos resultados obtidos pelos alunos em sua classe é sempre um desafio,
no sentido de poder selecionar a melhor ação a ser desenvolvida em determinada Qual a visão de avaliação que os alunos têm? Devo ou estou interessado
situação. Mesmo quando os resultados estão de acordo com os parâmetros em mudar essa visão?
esperados, é preciso se perguntar se pode avançar mais, se o nível alcançado
pela aprendizagem pode ser melhorado. Enfim, o professor que realiza uma Os alunos têm construído uma concepção de avaliação semelhante à
avaliação formadora é de certa maneira um “inquieto”. Em virtude dos resultados que quero desenvolver? O professor que realiza a avaliação formadora procura
de seus alunos está sempre se perguntando: por quê, o que fazer para melhorar? construir com seus alunos uma visão positiva da avaliação e, mais ainda, uma
visão positiva de suas possibilidades. Nesse sentido, não têm receio, medo de
serem avaliados.
Será que realmente sei este tópico de meu curso? No que exatamente
precisaria me aperfeiçoar para melhorar o meu desempenho?
Culpabilizo os pais pelos resultados dos alunos em minha sala de aula?
A formação do professor, embora se inicie na faculdade ou no ensino Peço a colaboração dos pais para que me ajudem na tarefa de educar meus
médio, irá se concretizar em sua prática. Na verdade, somente descobrimos as alunos? Já procurei pesquisar porque não recebo a colaboração que solicito?
lacunas de nossa formação inicial quando nos defrontamos com as dificuldades
de fazer com que algumas crianças aprendam. O professor voltado para seu A relação positiva, colaborativa e produtiva da escola e dos professores
autodesenvolvimento precisa encontrar tempo para diagnosticar as dificuldades com os pais dos alunos muitas vezes enfrenta dificuldades sérias. No momento da
maiores que sente na realização de seu curso. Quais os tópicos que precisa devolução das avaliações, a falta de entendimento tende a se agravar. A
aperfeiçoar? Que aspecto do seu curso sente insegurança em desenvolver? Por dificuldade do professor com a educação de certos alunos o tem levado a supor
que os alunos sentem maior dificuldade em determinados tópicos de seu curso? que o aluno não tem um bom rendimento em razão da falta de apoio dos pais na
As estratégias que está usando para desenvolver determinados tópicos realização do trabalho escolar. O professor que realiza a avaliação formadora, por
problemáticos não precisariam ser revistas? considerar importante a participação dos pais na escola, deve se preparar
também para construir uma relação colaborativa, para que juntos possam apoiar
as dificuldades do aluno/filho. Nesse sentido, abandona totalmente a idéia de que
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6. se o aluno não aprendeua “culpa” é de alguém e busca alternativas para superar Referências bibliográficas
os problemas.
HURTADO, S., NAVIA, C.N. Avaliação de estudantes universitários. In: módulo do
Curso de especialização em avaliação a distância. v.3. UNB/Catedra Unesco,
Mesmo quando o aluno apresenta dificuldades, estou interessado em 1998.
que ele não desenvolva uma auto-estima negativa?
PERRENOUD, P. Contruire des compétences dès l ‘école. Paris: ESFéditeur, 1997.
Os resultados de um processo de avaliação não podem ser tomados PRADO DE SOUSA, C. (Org.) Avaliação do rendimento escolar. 6.ed. Campinas:
como prescritivos, não devem possibilitar gravar negativamente o destino do Papirus, 1997.
aluno. Após uma avaliação, após uma reprovação, o aluno pode desenvolver uma VASCONCELLOS, C. S. Processo de mudança de avaliação da aprendizagem: o
visão negativa de si mesmo, de suas possibilidades de aprender. O professor que papel do professor – Representações e práticas. São Paulo, 1998. Tese
realiza uma avaliação formadora analisa os resultados de uma prova, de um (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.
exercício, com seu aluno e não o condena, não generaliza, mas o prepara para
sua auto-avaliação e proposição de metas para superação.
Considero que minha atuação em sala de aula faz diferença? Considero-
me um bom professor? Estou disposto a mudar minha prática para proporcionar
um melhor desempenho a meus alunos? Entendo que essa mudança depende
também de minha disposição pessoal?
O professor que realiza a avaliação formadora sabe da importância de
seu papel e busca seu constante aperfeiçoamento. Tendo como meta pessoal
transformar-se em um bom professor e ser reconhecido na escola como tal, não
mede esforços para alcançar esse objetivo. Para tanto, compreende que deve
traçar uma trajetória de mudanças gradativas, que se realizem em sala de aula.
Não espera uma revolução, muito menos reestruturações completas do sistema
para iniciar, passo a passo, sua mudança. Essas convicções transformam o
professor em um militante em sua escola, em sua associação, na área
educacional. Nesse sentido, ele compreende que realizar uma avaliação
formadora é antes de tudo uma questão de mudança de atitude em relação à
educação, e sobretudo uma ação política.
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