O documento discute o conceito de intoxicação exógena, definindo-a como as consequências clínicas e bioquímicas da exposição a substâncias químicas encontradas no ambiente ou isoladas. Também aborda diferentes tipos de intoxicações exógenas, incluindo por drogas, medicamentos, pesticidas e cumarínicos. O tratamento geralmente envolve remover o paciente do agente intoxicante, observação clínica, terapia de suporte e, em alguns casos, o uso de antídotos.
2. Conceito
Intoxicação exógena pode ser definida como a
consequência clínica e/ou bioquímicas da exposição a
substâncias químicas encontradas no ambiente ou isoladas.
Como exemplo, dessas substâncias intoxicantes
ambientais, podemos citar o ar, água, alimentos, plantas,
animais peçonhentos ou venenosos. Por sua vez, os principais
representantes de substâncias isoladas são os pesticidas, os
medicamentos, produtos químicos industriais ou de uso
domiciliar.
Como a intoxicação é um processo patológico
causado por substâncias endógenas ou exógenas,
caracterizado por desequilíbrio fisiológico, é importante
entender o conceito de intoxicação exógena para diferenciá-la
da intoxicação endógena, que ocorre por meio de substâncias
produzidas no próprio organismo, seja pelas toxinas de
microrganismos infecciosos ou por perturbação metabólica /
glandular (autointoxicação).
3. Intoxicações
Dentro deste contexto, temos ainda definições mais
específicas, como a intoxicação exógena por drogas de abuso,
como exemplo a definição das Organizações das Nações Unidas
para intoxicação por drogas de abuso:
“Intoxicação é uma condição seguida da administração de
substâncias psicoativas e resultante em distúrbios no nível de
consciência, cognição, percepção, julgamento, afeto ou
comportamento, ou outra resposta ou função psicofisiológica.
Os distúrbios são relatados aos efeitos farmacológicos e
respostas à substâncias e os efeitos desaparecem com o
decorrer do tempo, até a recuperação completa, exceto quando
há lesões teciduais ou outras complicações.”
O tratamento de intoxicação exógena, via de regra segue o procedimento, de afastamento do
paciente ao agente intoxicante, observação clínica para verificar a involução ou não dos sintomas, e
terapia de suporte. Para intoxicações por ingestão, acrescenta-se a lavagem gástrica, somente se
realizado em até uma hora após a ingestão, e a administração de carvão ativado. Provocar vômito é
totalmente contraindicado em qualquer caso.
6. Casos
Drogas simpaticomiméticas: São substâncias que imitam os efeitos do hormônio
epinefrina (adrenalina) e do hormônio/neurotransmissor norepinefrina
(noradrenalina). Estas drogas aumentam a pressão sanguínea e são bases fracas.
Diversas substâncias podem causar estimulação do sistema nervoso central (SNC),
como a cafeína e a estricnina. Na prática clínica, as drogas usadas para se obter tal
efeito são as chamadas aminas simpaticomiméticas, que são definidas como as
catecolaminas endógenas e drogas que reproduzem seus efeitos.
Agentes simpatomiméticos
Anfetaminas
Efedrina
Cocaína e análogos (crack...)
Hormônio tireoidiano
Inibidores da MAO
Derivados da ergotamina
7. Tratamento
Tratamento
Boa hidratação e suporte cardiovascular
Não usar anti-hipertensivos de longa ação!
Não usar beta-bloqueadores (piora da vasoconstrição)
Benzodiazepínicos
Ansiedade e agitação
Convulsões
SCA e emergências hipertensivas
Nitroglicerina/nitroprussiato
8. Casos
Drogas Anticolinérgicas: São substâncias antagonistas da ação de fibras nervosas parassimpáticas
que liberam acetilcolina. Ou seja, que inibem a produção da acetilcolina. Absorvido em quantidades maiores
do que a dose terapêutica, o produto provoca alterações mentais como alucinações e delírios, com duração de
48 horas. Consumido junto com outras drogas, como inalantes e maconha, o efeito pode durar mais tempo
ainda, iniciando pela sensação de "barato" na cabeça ou no corpo todo, seguida de alterações na percepção de
cores/sons, terminando com sensações de estranheza, medo, confusão mental, ideias de perseguição,
dificuldades de memória - síndrome que adota a forma de um surto psicótico agudo. O potencial de
dependência parece elevado, com alta toxicidade, evoluindo para alterações crônicas.
Possíveis tóxicos
• Anti-histamínicos H1
• Atropina, hioscina, escopolamina e ipratrópio.
• Antiparkinsonianos: biperideno e benztropina.
• Relaxantes musculares: orfenadrina, ciclobenzaprina e
isomepteno
• Neurolépticos: clozapina, olanzapina e fenotiazinas.
• Antidepressivos tricíclicos.
9. Casos
Antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos: Em população com alta chance de suicídio.
• Tricíclicos: amitriptilina, imipramina, clomipramina e nortriptilina.
• Tetracíclicos: bupropiona, maprotilina e mirtazapina.
• Picos séricos após 2-6 horas e altíssima ligação protéica (>95%)
• Complicações graves: hipotensão e arritmias
• Óbito tardio: complicações pulmonares e de múltiplos órgãos.
Neurolépticos: Quadro clínico específico
• Distonia, acatisia e parkinsonismo.
• Depressão respiratória e do SNC.
• Efeitos anticolinérgicos.
• Síndrome neuroléptica maligna.
• Diazepam, bromocriptina, L-DOPA...
10. Tratamento
Tratamento
Lavagem gástrica na primeira hora da ingestão
Carvão ativado após a lavagem
Benzodiazepínicos (agitação)
Antídoto
Fisostigmina: 1-2 mg EV durante 2-5 minutos (a dose pode ser
repetida).
Não deve ser usada para convulsões ou coma.
Contraindicada se distúrbios de condução cardíaca.
11. Casos
Inseticidas organofosforados:
• Inibição irreversível da acetilcolinesterase
• Malathion, parathion e gás sarin.
• Extensa distribuição no organismo e lento metabolismo
hepático
• Efeitos podem durar semanas a meses
Inseticidas carbamatos:
• Inibição reversível da acetilcolinesterase
• Veneno para rato
• Metabolização pelo fígado e soro em 12-24 horas
• Ação mais curta que a dos organofosforados (raramente
ultrapassam 48 horas)
12. Tratamento
Tratamento
Retirar as roupas do paciente e exaustiva lavagem
Intoxicação oral: lavagem gástrica na primeira hora seguida de
carvão ativado
Tratamento de suporte
Antídotos
Atropina: 2 mg-EV para casos leves a moderados e 2-5 mg-EV para os
casos mais graves. Repetir a cada 5-15 minutos.
Pralidoxima
Regenera a acetilcolinesterase
Dose: 1-2 g em 250 mL de SF em infusão lenta (30 minutos). Pode ser
mantida a cada 6 horas ou em BIC (500 mg/hora).
13. Casos
Quanto à duração:
• Longa: dizepam, flurazepam e clonazepam.
• Curta: lorazepam, flunitrazepam e alprazolam.
• Ultracurta: midazolam.
Quadro clínico:
• Depressão respiratória
• Hipotensão
• Hipotermia
• Coma
• Danger: associação de depressores do SNC
• Álcool, antidepressivos, barbitúricos e opioides.
14. Tratameto
Tratamento
Suporte clínico
Lavagem gástrica na primeira hora seguida de carvão ativado
Atenção: intuba primeiro se necessário!
Antídoto: flumazenil
Dose: 0,1 mg em 1 minuto com diversas repetições até o efeito
desejado.
Dose máxima: 3 mg.
Efeito esperado: adequado reflexo de deglutição (não é deixar o
paciente acordado).
Pode causar síndrome de abstinência e convulsões (“crônicos”)
15. Casos
Representantes:
Morfina
Codeína
Meperidina
Fentanil
Alfentanil
Sufentanil
Heroína
- Destilação da morfina
- 2-5x a potência analgésica
- Overdose: edema pulmonar
em até 67% dos casos.
16. Tratamento
Tratamento
Suporte clínico
Lavagem gástrica na primeira hora seguida de carvão ativado
O carvão pode ser usado mais tardiamente
Aquecimento ativo ou passivo
Reposição volêmica
Danger: EAP!
RNC + hipoventilação + bradipneia (tríado do mal)
Antídoto: NALOXONE!
Dose: 1-4 mg EV, IM ou intratraqueal.
Repetições a cada 20-60 minutos.
17. Casos
Cumarínicos: São substâncias de cunho sintético, ou natural, que estão relacionadas à cumarina (delta-lactona do
ácido cumarínico). Tem ação anti-coagulante, farmacêutica, anti-neoplásica etc. Pode ser encontrados em raticidas e
em alguns fármacos.
Na maioria dos casos, são pessoas saudáveis, que desenvolvem sintomas e sinais decorrentes do contato
com substâncias exter- nas e dos efeitos sistêmicos delas. As substâncias po- dem ser de uso industrial, doméstico,
agrícola, auto- motivo, etc. Outras, são de uso humano, médico, na maioria, resultando em efeitos tóxicos pelo mau
uso ou pelo abuso.
18. Tratamento
RNI < 5.0 e ausência de sangramento (ou
leve)
Reduzir a dose de varfarina ou
“Pular” 1 dose e reiniciar a varfarina em dose
menor quando o RNI estiverna faixa terapêutica
ou
Não reduzir a dose da varfarina se o RNI estiver
levemente alterado.
RNI entre 5.0 e 9.0 sem sangramento (ou
leve)
“Pular” 1 ou 2 doses, monitorizar o RNI de 6/6
horas e reiniciar a varfarina em dose menor
quando o RNI atingir a faixa terapêutica ou
“Pular” 1 dose e administrar 1-2,5 mg de
vitamina K1 oral.
RNI > 9.0 sem sangramento (ou leve)
Suspender a varfarina e administrar 2,5-5 mg
de vitamina K1 oral.
Solicitar RNI de 6/6 horas.
Administrar mais vitamina K1 se necessário.
Reduzir a dose da varfarina quando o RNI
atingir a faixa terapêutica.
Qualquer RNI com sangramento importante
Suspender a varfarina
Administrar vitamina K1 10 mg-EV em infusão
lenta
Administrar plasma fresco congelado ou
concentrado de complexo protrombínico
Solicitar RNI de 6/6 horas
Repetir as doses se necessário
RNI: medida laboratorial, para avaliar a via extrínseca
da coagulação.
19. Casos
Depressão do SNC e cardiovascular, coma. SNC: sonolência,
letargia, confusão, delírio, dificuldade de fala, diminuição ou
perda dos reflexos, ataxia, nistagmo, hipotermia, depressão
respiratória. SCV: hipotensão, taquicardia, choque.
Gastrointestinal: diminuição do tônus e motilidade, pode
compactar comprimidos. Óbito por insuficiência
cardiorespiratória ou secundária a depressão de centros
medulares vitais.
20. Tratamento
Tratamento
Carvão ativado (pode ser usado em múltiplas doses)
Medidas de suporte
Convulsões: interrupção do agente e emprego de
benzodiazepínicos
Apesar de serem ANTI convulsivantes, se usados em doses extremas
podem induzir convulsões.
Diálise!
Fenobarbital, ácido valproico e carbamazepina.
21. Casos
A intoxicação pelo lítio é um problema grave e se
não se reconhece/diagnostica e não se trata, pode ter
graves consequências que podem ir até ao coma, lesão
cerebral e mesmo morte. Por causa da gravidade potencial
da intoxicação pelo lítio, o Médico deve ser avisado
imediatamente se sintomas, como os mencionados atrás,
ocorrerem. Se os doentes e os seus familiares estiverem a
par destes sintomas e os reconhecerem logo, situações
potencialmente graves podem ser resolvidas com
segurança e rapidamente.
22. Tratamento
Tratamento
Lavagem gástrica na primeira hora
Não adianta carvão ativado...
Tratamento de suporte
Importantíssimo: aumentar a excreção renal!
Hemodiálise (litemia > 8 mmol/L); mais precoce se IRA.
Hidratação venosa
Alcalinização da urina
23. Cuidados de Enfermagem
CUIDADOS DE ENFERMAGEM IMEDIATOS
INDEPENDENTEMENTE DO PRODUTO DE INTOXICAÇÃO, OS PRIMEIROS CUIDADOS DE ENFERMAGEM SERÃO:
• VERIFICAR OS SINAIS VITAIS E COMUNICAR AS ALTERAÇÕES.
• INTERVIR NAS COMPLICAÇÕES IMEDIATAS, COMO CONVULSÕES.
• MANTER O PACIENTE COM A CABEÇA LATERALIZADA CASO HAJA RISCO DE VÔMITOS.
• INSTALAR UM OXÍMETRO.
• INSTALAR CATETER NASAL OU MÁSCARA DE OXIGÊNIO, SE SAT ≤90%, OU CONFORME PROTOCOLO.
• INSTALAR MONITORAÇÃO CARDÍACA LOGO QUE POSSÍVEL.
• MANTER-SE ALERTA QUANTO AO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA.
• MANTER AS GRADES LATERAIS DO LEITO ELEVADAS.
• AGUARDAR A AVALIAÇÃO E A PRESCRIÇÃO MÉDICA E REALIZAR RIGOROSAMENTE OS PROCEDIMENTOS
PRESCRITOS.
ALGUNS PROCEDIMENTOS SERÃO REALIZADOS APÓS A PRESCRIÇÃO MÉDICA, SENDO DETERMINADOS PELO
TIPO DE SUBSTÂNCIA INGERIDA, TEMPO E DOSE, POR EXEMPLO:
• INDUÇÃO DE VÔMITO (XAROPE DE IPECA)
• LAVAGEM GÁSTRICA
• INSTALAÇÃO DE VIA DE ACESSO VENOSO PARA OS CASOS DE USO DE MEDICAMENTOS ANTAGONISTAS
• USO DE CARVÃO ATIVADO
NO CASO DO USO DE CARVÃO ATIVADO, A DOSE RECOMENDADA É DE 1 GT/KG DE PESO, PODENDO SER
DILUÍDA EM ÁGUA OU REFRIGERANTES NA PROPORÇÃO DE 1:4. A DOSE PARA CRIANÇAS É 1/2 G/KG DE
PESO.
EM CASO DE SUBSTÂNCIAS ÁCIDAS OU ALCALINAS, CORROSIVOS COMO DERIVADOS DO PETRÓLEO, A
INDUÇÃO AO VÔMITO É CONTRAINDICADA. CASO SEJA NECESSÁRIO O USO DE SNG, ESTA DEVE SER COLOCADA
POR ENDOSCOPIA.