2. 0.0. Introdução
O texto que a seguir se apresenta revela o esqueleto/a previsão do que vai
ser o desenvolvimento do trabalho científico que visa caracterizar o
português em Moçambique, e, especificamente na província de gaza, distrito
de xai-xai/chonguene, em relação ao português Europeu (PE). A
caracterização da língua portuguesa ao nível Europeu e Moçambicano surge
na tentativa de descobrir as principais causas das mudanças e diferenças
existentes no Português que é a língua oficial em Moçambique e em alguns
países da África tendo como português padrão o PE. Das mudanças do
português pertinentes a Moçambique, neste trabalho, interessa-nos o nível
fonético no que diz respeito a inserção de nasal. Assim, das hipóteses a
seguir apresentadas, o desenvolvimento do trabalho irá provar a verdade ou
falsidade delas, caso serem falsas apresentando as verdadeiras e vice-versa.
Esta previsão do trabalho investigatório sobre as mudanças de português em
Moçambique inclui algumas palavras-chave do trabalho, o respectivo
problema, hipóteses, assim como algumas das obras que irão ajudar no
desenvolvimento do trabalho referidas no subcapítulo “referências
bibliográficas”.
3. 0.1. Delimitação do tema:
• Interferências fonéticas de xichangana em
português falado em chonguene: no âmbito de
inserção de nasal (2011-2013)
4. 0.2. Justificativa
O português é a língua adoptada em Moçambique como
língua oficial, desde a ascensão do país a independência,
pois, era a única forma de manter uma comunicação una do
Rovuma ao Maputo, sendo dessa forma uma língua de
unidade nacional. O português padrão oficializado em
Moçambique é o (PE) português europeu, mas, o mesmo
depois de analisado verifica-se que sofre muitas mudanças
durante a comunicação seja a nível fonético, fonológico,
semântico, etc., visto que, Moçambique é um país
multilingue e, em cada comunidade de acordo com os seus
padrões de linguística bantu o português ganha uma nova
forma de falar em Moçambique. Sem mais nem menos, não
tardei em olhar para caso como aspecto a ser analisado, seja
essa, pois, a razão da escolha do tema em mesa.
5. 0.3. Objectivos:
• Geral
Descobrir as consequências das interferências fonéticas de
xichangana em português falado em Moçambique, no caso
específico de chonguene;
• Específicos
Indicar as características do português em Moçambique, província
de gaza/xai-xai/chonguene;
Identificar as principais mudanças a nível fonético do português em
Moçambique província de gaza/xai-xai/chonguene;
Identificar as principais causas das mudanças fonéticas do
português em Moçambique província de gaza/xai-xai/chonguene;
Descobrir o que influencia para a mudança do português em
Moçambique província de gaza/xai-xai/chonguene.
6. 0.4. Problema
De alguns anos atrás para os nossos dias o português foi
adquirindo novas formas quer na pronúncia assim como na
produção de novos vocábulos genuinamente moçambicanos,
e, ainda caracteriza-se por múltiplas variedades dependendo
de cada região deste canto do mundo visto que cada língua
que os falantes dessas regiões têm como materna influi com
extrema força no português falado nesses cantos. Neste caso,
chonguene que é uma das regiões deste país não escapa as
essas mudanças visto que é também uma zona bilingue, isto é,
há duas línguas aí faladas sendo que, uma interfere na outra
de modo automático. Desse modo coloca-se a questão chave:
• Que consequências têm as interferências fonéticas de
xichangana em português?
7. 0.5. Hipóteses
• As interferências fonéticas de xichangana no
português não afectam a comunicação, pois as
formas lexicais daí resultantes não coincidem
com nenhumas outras existentes na língua
portuguesa.
• A interferência fonética de xichangana
verificada na pronúncia pode influenciar
também na escrita.
8. 0.6. Metodologia
• Revisão bibliográfica - este método que é o de revisão de diferentes obras de
autores que, sobretudo, retratam o mesmo tema, podendo assim ajudar na
compreensão de alguns pontos importantes no desenvolvimento do trabalho. Este
método consiste em autor recorrer a bibliografias diferenciadas para obter mais
conhecimento acerca do tema.
• Entrevistas -este método consiste em entrevistar alguns membros da área de
estudo para obter mais informações e conhecimentos a cerca do tema. O método
ajuda na compreensão e na análise de dados e formas como o português é falado
em Moçambique.
• Método analítico – este consiste na análise de algumas entrevistas, dados
recolhidos nas comunidades estudadas, as formas como o português é falado em
Moçambique com objectivo de encontrar as principais causas e consequências
dessas mudanças.
• Método indutivo - é o método que consiste em analisar uma parte da comunidade
em causa para o estudo, tirando assim conclusões que permitam entender o
principal problema deste caso.
• Os métodos acima mencionados são alguns dos que contribuirão no
desenvolvimento deste trabalho podendo ainda anexar alguns não mencionados.
9. 1. Revisão Bibliográfica
• Língua órgão muscular que desempenha papel significativo
na produção (articulação) de sons da fala XAVIER &
MATEUS (226).
• Língua – para Ferdinand Saussure citado por GALLISSON &
COSTE (1983: 442) "é todo sistema específico de signos
articulados que servem para transmitir mensagens
humanas. Ela é de natureza social: é partilhada por uma
comunidade que admite as suas normas mas que pouco a
pouco, as modifica; dai o seu carácter evolutivo". De acordo
com esta definição conclui-se que a língua é o conjunto de
vocábulos ou ditos usados por um povo, uma nação e o
conjunto de regras da sua gramática e que evolui com
tempo e espaço.
10. Cont.
• Língua estrangeira – é a língua não nativa do
sujeito e por ele aprendida com maior ou menor
grau de eficiência. XAVIER & MATEUS (229).
Neste caso, não nos resta dúvida de que o
português nesta região constitui uma língua
estrangeira.
• Língua materna – é a língua nativa do sujeito que
foi adquirindo naturalmente ao longo da infância
e sobre a qual ele possui intuições linguísticas
quanto à forma e uso. Em oposição à anterior.
XAVIER & MATEUS (p231). No caso específico da
região em que é destinado este estudo a língua
materna é, sem dúvida, xichangana.
11. .
• Bilinguismo – comparando, para o caso, as defesas de
Dubois et al (2006:87) que afirmam ser uma situação
linguística na qual os falantes são levados a utilizar
alternativamente segundo os meios ou situações duas
línguas diferentes e XAVIER & MATEUS (p63) que afirmam
ser uma situação linguística em que duas línguas coexistem
na mesma comunidade ou são dominadas pelo mesmo
individuo. Diríamos sem dúvidas que é a capacidade que
um individuo tem de falar duas línguas distintas tendo uma
como materna ou ainda as duas, isto é, um individuo que é
falante de xichangana e que tem esta língua como materna
e que ao mesmo tempo fala português, língua estrangeira,
considera-se esse individuo bilingue e a esse sistema
bilinguismo. Podemos ainda dizer que é a forma mais
simples do multilinguismo, isto é, já que o multilinguismo
consiste na existência de muitas línguas, por exemplo numa
comunidade, o bilinguismo consiste na existência de duas.
12. cont.
• Bilinguismo composto ou interdependente – é o
bilinguismo em que a segunda língua é adquirida
após uma primeira fase de socialização da língua
primeira. É o caso de xichangana e português. Os
falantes desta região concebem xichangana como
língua primeira e em seguida o português como
língua segunda.
13. • Interferência – manifesta-se quer em situação de
bilinguismo quer em situação de aprendizagem, sendo que
no primeiro caso, há interferência quando um falante
bilingue utiliza, numa das línguas de que é falante, uma
forma ou traço próprio de outra língua. E, no segundo caso,
a interferência consiste na modificação de aspectos da
estrutura da língua adquirida por influência da língua nativa.
(GALLISSON & COSTE (1983)
• Dubois et al (2006:349) afirmam que considera-se
interferência fonética quando um falante bilingue utiliza em
uma língua alvo A traços fonéticos de uma outra língua B.
• Interferência linguística- pode definir-se como fenómeno
que consiste na utilização numa língua de traços
característicos de uma outra língua devido a incapacidade de
o sujeito falante produzir correctamente um som da língua
não materna (NGUNGA,2009)
14. cont.
• Define-se ainda o prodígio de interferência, segundo Weinreich
(1953) citado por Ngunga (2012) como uma situação de desvio
das normas de língua que ocorre na fala dos bilingues enquanto
consequência da sua familiaridade com mais de uma língua. Para
este autor, a interferência pode acontecer tanto através da
presença de traços de língua materna na língua não materna,
como através da presença de traços de língua não materna na
língua materna do falante. O autor acima citado defende que, a
interferência acontece tanto através da presença de traços de
língua materna na língua não materna, como através da presença
de traços de língua não materna na língua materna do falante,
isto é, para o caso de xichangana e português, a interferência
pode acontecer com a presença de traços de português em
xichangana ou ainda com a presença de traços de xichangana em
português e, este último caso é que está aqui evidenciado. Isto
leva-nos a reconhecer a existência duma relação entre o
bilinguismo e a interferência, isto é, basta ser bilingue para ser
candidato a criador de interferência por isso, os falantes de
xichangana não são uma excepção.
15. Cont.
• As interferências podem ser, de acordo com NGUNGA
(2012:9), da Língua materna na Língua não materna
ou vice-versa, como já foi antes referenciado, e, neste
caso, consideremos o xichangana como língua
materna e o português como língua não materna e
interessemo-nos com as interferências de xichangana
em português.
• As interferências de uma língua noutra podem ser de
carácter fonético, fonológico, semântico, sintáctico,
morfológico e dialectal. Disto, interessa-nos
evidenciar o carácter fonético para o presente
estudo. Mas como as interferências fonéticas
também ocorrem em vários pontos, vamos aqui
tratar da inserção de nasal.
16. • Interferência fonética – é a transferência e posterior
utilização de traços fonéticos de uma língua para
outra e, seria neste caso, a transferência e posterior
utilização de traços fonéticos do xichangana em
português. Este tipo de interferência é, de acordo
com Ngunga (2012), o mais comum quando uma
pessoa aprende uma língua não materna, sobretudo
aquele que se relaciona com a produção de sons
quando alguém tenta pronunciar palavras isoladas. As
interferências fonéticas podem ser no âmbito de:
Inserção de nasal, Fricativização do som líquido
palatal, Alveolarização do som líquido palatal entre
outros. O que a nós nos interessa neste presente
trabalho é a inserção de nasal.
17. • Inserção de nasal - Ø —> [nas]
Consiste em inserir desnecessariamente uma nasal entre uma
vogal e uma consoante em algumas palavras. Para Ngunga
(2012) esta interferência não tem nenhuma relação directa
particular com algo que acontece na língua, mas é comum em
quase todos os falantes da língua xichangana. A inserção de
nasal é uma das características mais notáveis em português
falado por falantes de xichangana. De acordo com este autor
apesar de a inserção de nasal constituir um forte ruído para o
ouvinte, este “erro” geralmente não afecta a comunicação, pois
as formas lexicais daí resultantes não coincidem com nenhumas
outras existentes na língua portuguesa mas, a inserção nasal,
do nosso ponto de vista pode causar graves consequências
nesta língua pois, o nível de falantes com este problema é
elevado e ainda, por exemplo, um professor que esteja numa
sala de aulas explicando a matéria ou ditando apontamentos
certamente os alunos vão escrever o que terão escutado do
professor, isto é, esta inserção acontece geralmente na
pronúncia mas pode também influenciar na escrita.
18. Cont.
Vejamos a seguir alguns exemplos de palavras
que sofrem inserção duma nasal:
• convinte [konvinte] – convite
• enkonomiya [enkonomija] – economia
• enzagero [enzageru] – exagero
• enzame [enzame] – exame
• enzixte [enziste] – existe
• enzersisiyu [enzersisiju] – exercício
• 29/05/2014
19. Referências bibliográficas
• Dubois et al; dicionário de linguística, Coimbra, Cultrix, 2006
• GALLISSON & COSTE, dicionário de didáctica das línguas, livraria Almedina,
Coimbra, 1983.
• GONSALVES, P. Mudanças de português em Moçambique, Maputo, livraria
universitária, UEM, 1998.
• JR. J. M. C. Dicionário de linguística e gramática, 27ª ed., Petrópolis, Vozes
editora, 2009.
• GONÇALVES, P. & SITOE, B. (1998). Mudança linguística em situação de
contacto de Línguas: o caso do Changana e do Português. Comunicação
apresentada no V Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais
(Maputo, 1-5/9/98).
• GONÇALVES, P. Dados para a história da Língua Portuguesa em
Moçambique, Maputo 2000
• Mateus et al, gramática de língua portuguesa, 7a ed., Lisboa, editorial
caminho, 1989.
• NGUNGA, A. ; Revista Científica UEM, Série: Letras e Ciências Sociais, Vol. 1,
No 0, pp 7-20, 2012
• UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA, Normas para produção de Trabalho
Científicos na universidade Pedagógica, Maputo, 2003.
• XAVIER & MATEUS, dicionário de termos linguísticos, vol. 1, edições cosmos.
20. “Reparta o seu conhecimento. É uma
forma de alcançar a imortalidade” –
Dalai Lama
Grato pela atenção dispensada
Edisio Daniel Mandlate
Quinta-feira, 19 de Setembro de 2013
•