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Andreas von Karlstadt
Reformador do Pensamento de Lutero
Eduardo Chaves
Ph.D. (1970-1972), University of Pittsburgh
M.Div. (1968-1970), Pittsburgh Theological Seminary
B.D. (1964-1967), Pittsburgh Theological Seminary, Faculdade de Teologia da Igreja
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Seminário Presbiteriano de Campinas
Professor de História da Igreja (2014-2017) – FATIPI
Professor de Educação (2007-2014) – UNISAL
Professor de Filosofia (1972-2007) – UNICAMP
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
SIMPÓSIO "AS OUTRAS FACES DA REFORMA PROTESTANTE"
SÃO PAULO, 23 DE NOVEMBRO DE 2017
Diz Aquele que Sabe das Coisas
“Descobri outra coisa neste mundo:
. . .
Nem sempre são as pessoas mais capazes que
alcançam as mais altas posições.
Tudo depende de sorte e de ocasião.”
(Eclesiastes 9:11)
Por que Karlstadt?
• Hesitei entre quatro vítimas de Lutero:
Erasmo, Karlstadt, Münzer e Katharina von Bora
• Eliminei primeiro Katharina: por ser uma vítima
que conscientemente escolheu o seu destino
• Eliminei em seguida Erasmo, por ser amigo de gente
importante no poder: três papas e dois imperadores
– não convencendo, portanto, como vítima
• Eliminei Münzer, por ser orgulhoso, intrépido, e
ousado demais, perdendo o sentido da realidade –
assim escolhendo tornar-se vítima e a própria morte
• Ficou Karlstadt, bom teólogo, humilde, corajoso, leal
• Alemão, da Saxônia Eleitoral
• 1483-1546 (ca. 63 anos)
• Doutorado: 1512
• Doutorado: Wittenberg
• Professor Wittenberg: 1512
• Sem outra função acadêmica
• Teses contra IC: 31/10/1517
• Número das teses: 95
• Formação inicial: Agostiniana
• Status: Frade (Monge)
• Abandonou votos: 1525
• Casamento: 1525
• Alemão, da Francônia
• 1486-1541 (ca. 55 anos)
• Doutorados: 1510, 1516 (2)
• Doutorado: Wittenberg, Roma
• Professor Wittenberg: 1510
• Reitor, Chefe Departamento
• Teses contra IC: Abril 1517
• Número das teses: 151
• Formação inicial: Tomista
• Status: Padre Secular (Vigário)
• Abandonou votos: 1521
• Casamento: 1521
Lutero Karlstadt
Lutero e Karlstadt: Mais Comparações
• Lutero convenceu Karlstadt a estudar Agostinho
• Karlstadt parece ter convencido Lutero de que a
teologia de Agostinho era contrária à teologia da
Igreja Católica – tanto que produziu sua crítica
pública a essa teologia primeiro (6 meses antes)
• Acadêmica e eclesiasticamente Karlstadt era, até
o fim de 1517, mais importante do que Lutero
• Ainda em 1519 foi Karlstadt quem foi convidado
a debater Johann Eck em Leipzig – não Lutero!
• Até 1522 ambos parecem ter sido bons colegas,
mesmo que não amigos muito chegados
O que houve?
• Alguma coisa importante, que não tem recebido
a devida atenção, aconteceu ao final de 1517 que
começou a alterar esse equilíbrio de forças e de
popularidade que estava em favor de Karlstadt
• Antes de discutir isso, um breve intermezzo e dois
caveats, em que viremos até o presente
Intermezzo: Pantheon - 1
Em projeto de mapeamento digital realizado em
2014, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts
procurou mensurar a produção cultural humana
através dos séculos, do ano 800 AC até o ano 1950
AD. Batizado de Pantheon, o projeto selecionou
todas as pessoas proeminentes cujas páginas na
Wikipédia aparecessem em vinte e cinco ou mais
línguas. Pantheon identificou 4.000 indivíduos
cujas páginas correspondiam a esse critério. Esses
indivíduos fizeram contribuições significativas para
as artes e as ciências antes de 1950.
Intermezzo: Pantheon - 2
Lutero ficou em 5º lugar, dentre 518 pessoas
notáveis, na categoria ‘Religião’, só ficando atrás de
Jesus, Moisés, Maomé e Abraão, e ficando na frente
de Paulo, Salomão, Maria e Pedro.
Lutero ficou em 4º lugar na categoria ‘Nascidos na
Alemanha’, só ficando atrás de Einstein, Bach e
Beethoven, e ficando na frente de Marx, Goethe,
Dürer e Gutenberg.
A figura predominante da Reforma e um dos
maiores heróis da nação alemã hoje é Lutero.
(Scott H. Hendrix, Martin Luther: Visionary Reformer)
Caveat sobre Lutero
• A avaliação extremamente positiva de Lutero se
baseia, em sua maior parte, no "Lutero Jovem",
isto é, o Lutero até no máximo 1525 (quando ele se
casou, depois da matança dos camponeses e depois
da morte do seu protetor Frederico III)
• Boa parte das biografias de Lutero concentra a
atenção no Lutero Jovem e virtualmente ignora o
chamado Lutero Velho, de 1525 em diante (ou
mesmo de 1521 em diante)
• No final de 1525 Lutero fez 42 anos e, do ponto de
vista historiográfico, virtualmente morreu, vindo a
ter 21 anos de sua vida desconsiderados na história
Caveat sobre Karlstadt
• Fora alguns historiadores da Igreja,
Quem sabe quem foi Andreas Rudolf Bodenstein
von Karlstadt?
• E dentre a maioria dos historiadores da Igreja,
Quem faz de Karlstadt uma avaliação positiva e
imagina que ele, exceto por algumas negociações
complicadas entre a Providência e o Acaso, bem
poderia ter sido, quem sabe, a principal figura da
Reforma Religiosa Alemã do Século 16 –
com resultados mais positivos e menos negativos
(certamente com menos camponeses mortos)?
Perguntemos de novo: O que houve?
• Alguma coisa importante, que não tem recebido
a devida atenção, aconteceu ao final de 1517 que
começou a alterar esse equilíbrio de forças e de
popularidade que, até ali, estava claramente em
favor de Karlstadt
• O que aconteceu tem que ver com as 95 Teses,
mas não tanto com o seu conteúdo, e, sim, com
respeito ao encaminhamento que Lutero houve
por bem dar a elas
• O que Lutero fez com as suas 95 Teses em 1517?
As 95 Teses
• Provavelmente não foi sua "publicação" na porta da
Igreja do Castelo de Wittenberg
• Mais importante foi seu envio ao "Bi Arcebispo"
Alberto de Brandenburgo
• Bispo de Halberstadt e Arcebispo de Magdeburgo
em 1513 (23 anos)
• Arcebispo de Mainz, e Eleitor, em 1514 (24 anos)
• Cardeal Primaz da Alemanha, em 1518 (28 anos)
• Todos esses cargos foram comprados, mas o mais
caro deles foi o segundo (envolvia voto na escolha
do Imperador)
Os fatos da situação - 1
• Em 1514, para se tornar bispo pela terceira vez, e
arcebispo pela segunda, Alberto teve de pagar ao
Papado uma verdadeira fortuna
• Para pagar ao Papado, Alberto pediu dinheiro
emprestado à Casa de Fugger, o principal banco
da Alemanha no século 16
• Para pagar a Casa de Fugger, Alberto fez negociata
com o Papa, mediante a qual este autorizou Alberto
a explorar, na Alemanha, as Indulgências, ficando
com metade dos recursos produzidos pela venda
Os fatos da situação - 2
• Uma semana antes de completar 34 anos, Lutero
escolheu enfrentar e desafiar ninguém menos do
que o mais célebre católico da Alemanha
• Enviou-lhe a cópia das 95 Teses, com uma carta,
em que sugeria que Alberto controlasse excessos
de seus comandados na venda das Indulgências,
pois circulavam boatos, que envolviam o próprio
arcebispo, que, se verdadeiros (o que ele, Lutero,
com toda certeza, não acreditava ser o caso...),
iriam deixar a igreja em situação extremamente
incômoda...
Os fatos da situação - 3
• Que fez Alberto, diante da coragem, do destemor,
da ousadia, da audácia do jovem Lutero ?
• Convocou assessores legais e teológicos que, depois
de analisar as teses e a carta, recomendaram-lhe
que enviasse todo o material ao Papa X, pois eram a
honra e a autoridade do Papa que estavam atacadas
• E foi exatamente isso que Alberto fez – e o que veio
a acontecer era totalmente previsível
O circo estava armado...
• O Papa convocou Lutero a Roma, este não foi, por
sugestão do seu Príncipe (Frederico III, da Saxônia)
• O Papa enviou um legado, Cardeal Cajetano, para
exigir a retratação de Lutero, e este se negou (1518)
• O Papa lhe deu 60 dias para se retratar do que havia
dito e escrito e Lutero queimou a Bula do Papa
• O Papa excomungou Lutero em Janeiro de 1521
• O Príncipe conseguiu do Imperador que ouvisse
Lutero na Dieta de Worms, em Abril de 1521
• O alvo foi alcançado: Lutero ficou famoso sem fazer
uma reforma sequer na Igreja: só falou e escreveu
A Dieta de Worms – Abril de 1521
• Lutero compareceu, com salvo conduto, mas só lhe
foi exigido que se retratasse, o que ele se negou a
fazer, e o Imperador, católico, o baniu do território
do Sacro Império Romano (Alemanha)
• Excomungado e banido, Lutero teria o mesmo
destino de Jan Hus cem anos antes, se Frederico
não o protegesse, escondendo-o em Wartburgo
• Lutero ficou exilado, em segredo, durante nada
menos do que dez meses, sem que quase ninguém
soubesse de seu paradeiro, ou se ele estava vivo
• Havia chegado a hora e a vez de Karlstadt
A Hora e a Vez de Karlstadt
• Apesar de ser duplamente o chefe de Lutero na
Universidade, Karlstadt apoiou Lutero em todos os
eventos de 1517 até Worms, ocupando, de forma
disciplinada, o seu lugar de "escudeiro", até mesmo
cedendo espaço para ele em Leipzig, quando ele,
Karlstadt, era o principal convidado do Duque
• Mas agora, com Lutero fora de cena, em paradeiro
ignorado, havendo dúvida até mesmo se estava
vivo, Karlstadt decidiu que não poderia se omitir,
correndo o risco de que se perdessem os avanços
teóricos já feitos na que era chamada "Teologia de
Wittenberg" (não "Teologia de Lutero")
Diferenças Doutrinárias com Lutero
a. A interpretação e autoridade da Bíblia
b. O laicato universal dos crentes
c. O batismo com base no arrependimento e na fé
d. A interpretação simbólica da Santa Ceia
e. O culto evangélico (ou protestante)
f. A aparência do templo
g. A preferência pela guarda do sábado
h. A igreja como voluntária comunhão dos santos
i. Separação, não subordinação, entre igreja e estado
j. A reforma deve abranger também tanto o político
como o socioeconômico, mas sem recurso à violência
k. A essência da religião fica dentro do indivíduo
Mais Duas Diferenças, estas mais Estratégicas
a. Era Karlstadt um revolucionário?
• Karlstadt negava, mas Lutero o acusou de ser
• O encontro na Estalagem do Urso Negro, em Jena
b. Qual a velocidade e o ritmo a ser imprimido às
reformas e como lidar com os fracos na fé e com
os que hesitavam em aceitar as teses reformistas?
• Karlstadt achava que era preciso agir com rapidez
e que os fracos na fé e os hesitantes viriam atrás
• Lutero achava que era preciso respeitar o ritmo de
cada um e as hesitações dos que ainda não estavam
prontos a aderir às reformas
Wittenberg: Julho/1521 a Fevereiro/1522
• Em cerca de 8 meses, sob a liderança de Karlstadt,
a reforma foi implantada em Wittenberg, o auge
tendo sido alcançado no Dia de Natal de 1521, com
o primeiro culto evangélico no mundo (afrontando
uma ordem do Príncipe protetor de Lutero)
• Karlstadt agiu de forma colegiada, implementando
princípios com os quais Lutero havia concordado, e
com o respaldo do Conselho Municipal
• A nota dissonante foi Gabriel Zwilling que liderou
quebradeira nas igrejas e ataque físico aos padres
• Gabriel Zwilling era o discípulo amado de Lutero e
foi perdoado por ele
As Reformas que Karlstadt Implementou - 1
• Reafirmou a justificação pela fé, sem as obras
• Renunciou seus votos de obediência e castidade (e
resolveu ficar noivo e se casar), abandonou as suas
vestimentas clericais, e tornou-se, para quase todos
os fins, um leigo (embora ainda fosse acadêmico)
• Interpretou o sacerdócio universal dos crentes em
termos do laicato universal dos crentes
• Aboliu a missa, substituindo-a por um culto, a ser
celebrado no vernáculo, e oficiado por leigo, que
deveria consistir de pregação e santa ceia, todos os
fieis participando do pão e do vinho, sem precisar
ter jejuado ou feito confissão auricular antes
As Reformas que Karlstadt Implementou - 2
• Aboliu missas privadas, pagas (de intercessão por
mortos), o culto aos santos e à Virgem, etc.
• Anunciou que o uso de imagens era antibíblico, na
igreja e em casa, e que toda a parafernália usada na
missa também carecia de amparo das Escrituras
• Anunciou que em 31/12/1521 celebraria o primeiro
culto nesses termos na Igreja do Castelo
• O Príncipe baixou ordem proibindo que esse culto
fosse celebrado no local indicado
• Karlstadt realizou o culto uma semana antes, no
Dia de Natal, na Igreja da Cidade
Lutero é chamado de volta a Wittenberg (1522)
• Em 6 de Março Lutero está de volta e recebe ordem
do Príncipe para colocar ordem na casa
• Lutero tira Gabriel Zwilling de cena e escolhe seu
bode expiatório: Karlstadt (embora o Conselho da
Cidade tenha aprovado tudo que Karlstadt fez)
• Karlstadt é afastado do processo, proibido de dar
aula, de pregar, e de se manifestar por panfletos ou
de outra forma escrita
• Karlstadt tenta publicar um livro pela Universidade
e esta censura o seu livro e não o publica
• Lutero revoga todas as reformas feitas na cidade
Os Oito Sermões do Invocavit
• Nas oito semanas seguintes Lutero, usando suas
vestes de monge, em missas tradicionais, usou o
púlpito para explicar por que estava voltando atrás
e para criticar Karlstadt, colocando toda a culpa
pelos distúrbios na cidade sobre suas costas
• Nos sermões desenvolveu a teoria de que, mesmo
que as reformas feitas por Karlstadt estivessem em
direção certa (i.e., fossem corretas), elas deveriam
ter sido implementadas de forma lenta, gradual e
incremental (uma de cada vez), de forma legal
• Para bebês, não se dá carne e vinho, mas leite, e em
mamadeira...
A Atitude Cordata de Karlstadt
• Diante desses fatos consumados, Karlstadt, que já
não podia trabalhar, proibido que havia sido por
Lutero, foi para Orlamünde, que era a comunidade
que pagava seu salário na Universidade, para ali
adquirir um terreno e trabalhar na terra, como um
mero camponês
• A Igreja de lá não se conformou e basicamente o
colocou como pastor pro tempore, concitando-o a
implementar lá as reformas que não havia podido
realizar em Wittenberg
• Ele aceitou, mas propôs que seu pastorado fosse
exercido de forma colegiada e participativa
Aceitação e Receio do Trabalho de Karlstadt
• A positiva aceitação do trabalho de Karlstadt pelas
comunidades de Orlamünde e da região de Jena
passou a atrair enorme atenção – afinal de contas
era a única reforma para valer na Alemanha
• Reformadores mais radicais, como os de Zwickau
(os chamados "Profetas") e de Allstedt (Münzer)
ficaram interessados no que acontecia ali...
• Lutero, porém, teve reação negativa e pediu ao
Príncipe permissão para inspecionar o trabalho
• Em Agosto de 1524 Lutero fez a viagem, pregou em
Jena, atacou Karlstadt violentamente, e Karlstadt,
disfarçado, assistiu à missa e pediu uma entrevista
O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 1A
• Lutero havia dito em seu sermão daquele dia que “o
espírito de Zwickau e Allstedt”, que leva a revolução
e assassinato, é um espírito claramente demoníaco,
afirmando, na sequência, em referência a Karlstadt,
que "esse espírito demoníaco é o mesmo daqueles
que quebram imagens, destroem altares, danificam
igrejas, e distorcem a doutrina dos sacramentos do
batismo e da eucaristia" – e acrescentou:
“Aquele que empreende essas coisas não é um bom
espírito, mas, só pode ser, sim, o próprio Diabo...”
• Ou seja: Lutero colocou em um mesmo grupo os
Profetas de Zwickau, Thomas Münzer e Karlstadt
O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 1B
• Na discussão pública que tiveram no local em que
Lutero estava hospedado, o Urso Negro, a resposta
de Karlstadt foi um enérgico “Não!”:
“Quem tenta me associar com esse pessoal,
colocando-me em uma mesma panela
com espíritos dispostos ao assassinato,
é mentiroso,
me atribui falsidades,
sem nenhuma verdade,
e não age como pessoa honesta”.
• Ou seja: Karlstadt acusou Lutero, na face deste, de
ser mentiroso e desonesto.
O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 1C
• A resposta de Lutero foi fraquíssima: disse apenas
que Karlstadt nunca poderia provar que ele, Lutero,
estava se referindo a Karlstadt enquanto pregava...
• E acrescentou algo assim: mas se você acha que eu
me referia a você, e vestiu a carapuça, que seja...
• Disse ainda que lamentava que o povo que estava
seguindo Karlstadt (parte do qual estava presente
na Taverna) estivesse sendo alimentado com uma
teologia equivocada.
O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 2A
• Karlstadt disse que, no tocante à Santa Ceia, ele era
capaz de provar que o ponto de vista dele era mais
correto, da perspectiva bíblica, do que o de Lutero
– e que Lutero estava pregando o Evangelho
de forma errônea.
• Karlstadt tentou trazer a conversa de volta para a
questão da acusação de que ele possuía o mesmo
espírito que os revolucionários e assassinos.
• Disse que era plenamente capaz de provar que
não era daqueles que defendiam o uso da
violência em defesa e na promoção da causa da
reforma.
O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 2B
• Lutero replicou que não era preciso que provar isso
porque ele tinha lido a carta que Karlstadt escreveu
a Thomas Münzer, em nome de sua congregação de
Orlamünde, e que estava convencido da verdade de
seu conteúdo.
• Karlstadt lhe perguntou, em seguida, por que, se ele
estava convencido da verdade do que dizia a carta,
ele havia dito no sermão que o espírito daqueles que
pregavam doutrina errônea dos sacramentos
era o mesmo espírito dos revolucionários e dos que
estavam dispostos a se tornarem assassinos...
O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 2C
• A resposta de Lutero de novo foi fraca...
• Lutero repete a mesma coisa que há havia dito, ou
seja, que não havia sequer mencionado o nome de
Karlstadt no sermão – e abandonou esse assunto.
• Karlstadt redarguiu que, se ele, Karlstadt, estava
errado acerca da doutrina dos sacramentos, Lutero
deveria tê-lo admoestado em privado.
• Lutero replicou que se ele, Lutero, pregava de forma
errônea o Evangelho, como Karlstadt havia alegado,
ele, Lutero, então não entendia nada do Evangelho.
O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 3A
• Lutero desafiou Karlstadt a colocar por escrito, na
forma de livro, a refutação de suas doutrinas...
• Karlstadt afirmou que Lutero havia amarrado suas
mãos e seus pés antes de ataca-lo publicamente, ao
proibi-lo de pregar e de dar aula, e tendo ele escrito
um livro, Lutero impediu que livro fosse publicado,
agindo via a Universidade – e depois saiu a falar e a
escrever contra ele, sem que ele pudesse responder
e se defender
• Karlstadt insistiu que, estivesse ele livre para falar e
escrever, Lutero já teria descoberto há muito tempo
o que havia de errado em seus ensinamentos...
O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 3B
• Lutero jogou uma moeda para Karlstadt, que, pelo
costume, representava um desafio...
• Karlstadt pegou a moeda e disse, aos presentes:
“Irmãos, firma-se aqui um compromisso: eu recebi
do Dr. Lutero autorização para escrever contra ele.
Peço-lhes que me sirvam de testemunha desse fato”.
• Em seguida, voltou-se para Lutero e disse:
“Senhor Doutor, eu lhe peço, encarecidamente, que
não me impeça de publicar meus livros, nem me
faça nenhuma perseguição, nem me impeça, de
nenhuma maneira, de ganhar a minha vida”.
O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 3C
• Lutero respondeu, fazendo-se de bobo: “Por que eu
impediria você de escrever se sou eu que o pede?"
• O pregador da corte de Weimar, Wolfgang Stein,
que acompanhava Lutero, sentiu a necessidade de
intervir e disse a Karlstadt, sem que Lutero o
contestasse:
“O doutor Lutero não lhe fará mal, nem o
impedirá de ganhar sua vida”.
• Diante disso, Karlstadt estendeu a mão a Lutero,
considerando aceito o desafio e feito o trato
• Nesse tom, se despediram. Isso foi em 22/8/1524.
Lutero Rompe o Trato
• Nos dias seguintes Karlstadt enviou, através de seu
cunhado, oito manuscritos para serem publicados
na Suíça, cumprindo sua parte no acordo
• No entanto, no início de Setembro de 1524, antes
de serem eles publicados, Karlstadt foi expulso da
Saxônia pelo Príncipe, protetor de Lutero, ficando
Karlstadt impedido até mesmo de ir até Wittenberg
para pegar o seu primeiro filho e a sua mulher, que
estava grávida de seu segundo filho
• Conrad Grebel, um dos fundadores dos chamados
"Irmãos Suíços", considerou esse comportamento
de Lutero nada menos do que escandaloso
Diante disso...
• Expulso da Saxônia, Karlstadt foi recebido por seus
amigos de outras regiões próximas, entre os quais
estava Thomas Münzer e outros revolucionários
• Consciente de que uma revolução estava iminente,
Karlstadt tentou agir junto a seus amigos para que o
pior não acontecesse, sempre defendendo a tese de
que, por mais justas que fossem as reivindicações,
nada justificava, à luz do Novo Testamento, o uso da
força e da violência
• Quando a rebelião eclodiu, ele fugiu da região para
não ficar entre os assassinados
Depois disso...
• A mulher de Karlstadt, em Wittenberg, estando o
seu primogênito ainda sem batismo, apesar de já ter
mais de dois anos, pediu à mulher de Lutero que
providenciasse alguém para batiza-lo, e convidou-a,
a Katharina de Bora, para ser madrinha do menino
• Depois, Karlstadt pediu a Lutero que lhe permitisse
voltar a Wittenberg para buscar sua família, e este,
depois de exigir que Karlstadt prometesse que não
iria se manifestar publicamente em crítica a Lutero
e à Reforma Luterana, concordou
• Karlstadt fez isso e a seguir mudou-se para a Suíça,
onde seus amigos, Zuínglio entre eles, o receberam
Na bendita Suíça...
• Na Suíça Karlstadt veio a encontrar sossego e apoio
• Morreu em Basileia, em 1541, exatamente na cidade
que antes acolheu Erasmo e onde este também veio
a morrer, cinco anos antes, em 1536
• Em Basileia Karlstadt, além de ser pastor, chegou
a ser Professor e Reitor da Universidade, falecendo
em decorrência da praga, durante a qual cessou as
suas outras atividades para dar apoio material e
espiritual às vítimas da doença, que veio a contrair
• Cinco anos depois morria Lutero, enquanto ajudava
os Duques de Mansfeld a resolver seus problemas
financeiros...
Conclusão: De Volta ao Mote Inicial
“Nem sempre são as pessoas mais capazes que
alcançam as mais altas posições.
Tudo depende de sorte e de ocasião.”
• Mas não só disso – as coisas dependeram, também,
no caso, das seguintes ações conscientes de Lutero:
• Sua escolha corajosa e audaciosa de inimigos que lhe
trariam maior visibilidade e projeção mais ampla;
• Sua decisão de trair o colega (e a si mesmo!!!), e de
persegui-lo, em favor de um acordo político maior
que garantiria a existência de uma igreja luterana
independente de Roma, sim, mas que, em teologia
e culto, acabou por ser muito pouco reformada.
Obrigado !
Blog da Reforma: https://reformation.space
chaves@reformation.space
Blog Geral: https://chaves.space
eduardo@chaves.space

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Andreas von Karlstadt: Reformador do Pensamento de Lutero

  • 1. Andreas von Karlstadt Reformador do Pensamento de Lutero Eduardo Chaves Ph.D. (1970-1972), University of Pittsburgh M.Div. (1968-1970), Pittsburgh Theological Seminary B.D. (1964-1967), Pittsburgh Theological Seminary, Faculdade de Teologia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Seminário Presbiteriano de Campinas Professor de História da Igreja (2014-2017) – FATIPI Professor de Educação (2007-2014) – UNISAL Professor de Filosofia (1972-2007) – UNICAMP UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE SIMPÓSIO "AS OUTRAS FACES DA REFORMA PROTESTANTE" SÃO PAULO, 23 DE NOVEMBRO DE 2017
  • 2. Diz Aquele que Sabe das Coisas “Descobri outra coisa neste mundo: . . . Nem sempre são as pessoas mais capazes que alcançam as mais altas posições. Tudo depende de sorte e de ocasião.” (Eclesiastes 9:11)
  • 3. Por que Karlstadt? • Hesitei entre quatro vítimas de Lutero: Erasmo, Karlstadt, Münzer e Katharina von Bora • Eliminei primeiro Katharina: por ser uma vítima que conscientemente escolheu o seu destino • Eliminei em seguida Erasmo, por ser amigo de gente importante no poder: três papas e dois imperadores – não convencendo, portanto, como vítima • Eliminei Münzer, por ser orgulhoso, intrépido, e ousado demais, perdendo o sentido da realidade – assim escolhendo tornar-se vítima e a própria morte • Ficou Karlstadt, bom teólogo, humilde, corajoso, leal
  • 4. • Alemão, da Saxônia Eleitoral • 1483-1546 (ca. 63 anos) • Doutorado: 1512 • Doutorado: Wittenberg • Professor Wittenberg: 1512 • Sem outra função acadêmica • Teses contra IC: 31/10/1517 • Número das teses: 95 • Formação inicial: Agostiniana • Status: Frade (Monge) • Abandonou votos: 1525 • Casamento: 1525 • Alemão, da Francônia • 1486-1541 (ca. 55 anos) • Doutorados: 1510, 1516 (2) • Doutorado: Wittenberg, Roma • Professor Wittenberg: 1510 • Reitor, Chefe Departamento • Teses contra IC: Abril 1517 • Número das teses: 151 • Formação inicial: Tomista • Status: Padre Secular (Vigário) • Abandonou votos: 1521 • Casamento: 1521 Lutero Karlstadt
  • 5. Lutero e Karlstadt: Mais Comparações • Lutero convenceu Karlstadt a estudar Agostinho • Karlstadt parece ter convencido Lutero de que a teologia de Agostinho era contrária à teologia da Igreja Católica – tanto que produziu sua crítica pública a essa teologia primeiro (6 meses antes) • Acadêmica e eclesiasticamente Karlstadt era, até o fim de 1517, mais importante do que Lutero • Ainda em 1519 foi Karlstadt quem foi convidado a debater Johann Eck em Leipzig – não Lutero! • Até 1522 ambos parecem ter sido bons colegas, mesmo que não amigos muito chegados
  • 6. O que houve? • Alguma coisa importante, que não tem recebido a devida atenção, aconteceu ao final de 1517 que começou a alterar esse equilíbrio de forças e de popularidade que estava em favor de Karlstadt • Antes de discutir isso, um breve intermezzo e dois caveats, em que viremos até o presente
  • 7. Intermezzo: Pantheon - 1 Em projeto de mapeamento digital realizado em 2014, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts procurou mensurar a produção cultural humana através dos séculos, do ano 800 AC até o ano 1950 AD. Batizado de Pantheon, o projeto selecionou todas as pessoas proeminentes cujas páginas na Wikipédia aparecessem em vinte e cinco ou mais línguas. Pantheon identificou 4.000 indivíduos cujas páginas correspondiam a esse critério. Esses indivíduos fizeram contribuições significativas para as artes e as ciências antes de 1950.
  • 8. Intermezzo: Pantheon - 2 Lutero ficou em 5º lugar, dentre 518 pessoas notáveis, na categoria ‘Religião’, só ficando atrás de Jesus, Moisés, Maomé e Abraão, e ficando na frente de Paulo, Salomão, Maria e Pedro. Lutero ficou em 4º lugar na categoria ‘Nascidos na Alemanha’, só ficando atrás de Einstein, Bach e Beethoven, e ficando na frente de Marx, Goethe, Dürer e Gutenberg. A figura predominante da Reforma e um dos maiores heróis da nação alemã hoje é Lutero. (Scott H. Hendrix, Martin Luther: Visionary Reformer)
  • 9. Caveat sobre Lutero • A avaliação extremamente positiva de Lutero se baseia, em sua maior parte, no "Lutero Jovem", isto é, o Lutero até no máximo 1525 (quando ele se casou, depois da matança dos camponeses e depois da morte do seu protetor Frederico III) • Boa parte das biografias de Lutero concentra a atenção no Lutero Jovem e virtualmente ignora o chamado Lutero Velho, de 1525 em diante (ou mesmo de 1521 em diante) • No final de 1525 Lutero fez 42 anos e, do ponto de vista historiográfico, virtualmente morreu, vindo a ter 21 anos de sua vida desconsiderados na história
  • 10. Caveat sobre Karlstadt • Fora alguns historiadores da Igreja, Quem sabe quem foi Andreas Rudolf Bodenstein von Karlstadt? • E dentre a maioria dos historiadores da Igreja, Quem faz de Karlstadt uma avaliação positiva e imagina que ele, exceto por algumas negociações complicadas entre a Providência e o Acaso, bem poderia ter sido, quem sabe, a principal figura da Reforma Religiosa Alemã do Século 16 – com resultados mais positivos e menos negativos (certamente com menos camponeses mortos)?
  • 11. Perguntemos de novo: O que houve? • Alguma coisa importante, que não tem recebido a devida atenção, aconteceu ao final de 1517 que começou a alterar esse equilíbrio de forças e de popularidade que, até ali, estava claramente em favor de Karlstadt • O que aconteceu tem que ver com as 95 Teses, mas não tanto com o seu conteúdo, e, sim, com respeito ao encaminhamento que Lutero houve por bem dar a elas • O que Lutero fez com as suas 95 Teses em 1517?
  • 12. As 95 Teses • Provavelmente não foi sua "publicação" na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg • Mais importante foi seu envio ao "Bi Arcebispo" Alberto de Brandenburgo • Bispo de Halberstadt e Arcebispo de Magdeburgo em 1513 (23 anos) • Arcebispo de Mainz, e Eleitor, em 1514 (24 anos) • Cardeal Primaz da Alemanha, em 1518 (28 anos) • Todos esses cargos foram comprados, mas o mais caro deles foi o segundo (envolvia voto na escolha do Imperador)
  • 13. Os fatos da situação - 1 • Em 1514, para se tornar bispo pela terceira vez, e arcebispo pela segunda, Alberto teve de pagar ao Papado uma verdadeira fortuna • Para pagar ao Papado, Alberto pediu dinheiro emprestado à Casa de Fugger, o principal banco da Alemanha no século 16 • Para pagar a Casa de Fugger, Alberto fez negociata com o Papa, mediante a qual este autorizou Alberto a explorar, na Alemanha, as Indulgências, ficando com metade dos recursos produzidos pela venda
  • 14. Os fatos da situação - 2 • Uma semana antes de completar 34 anos, Lutero escolheu enfrentar e desafiar ninguém menos do que o mais célebre católico da Alemanha • Enviou-lhe a cópia das 95 Teses, com uma carta, em que sugeria que Alberto controlasse excessos de seus comandados na venda das Indulgências, pois circulavam boatos, que envolviam o próprio arcebispo, que, se verdadeiros (o que ele, Lutero, com toda certeza, não acreditava ser o caso...), iriam deixar a igreja em situação extremamente incômoda...
  • 15. Os fatos da situação - 3 • Que fez Alberto, diante da coragem, do destemor, da ousadia, da audácia do jovem Lutero ? • Convocou assessores legais e teológicos que, depois de analisar as teses e a carta, recomendaram-lhe que enviasse todo o material ao Papa X, pois eram a honra e a autoridade do Papa que estavam atacadas • E foi exatamente isso que Alberto fez – e o que veio a acontecer era totalmente previsível
  • 16. O circo estava armado... • O Papa convocou Lutero a Roma, este não foi, por sugestão do seu Príncipe (Frederico III, da Saxônia) • O Papa enviou um legado, Cardeal Cajetano, para exigir a retratação de Lutero, e este se negou (1518) • O Papa lhe deu 60 dias para se retratar do que havia dito e escrito e Lutero queimou a Bula do Papa • O Papa excomungou Lutero em Janeiro de 1521 • O Príncipe conseguiu do Imperador que ouvisse Lutero na Dieta de Worms, em Abril de 1521 • O alvo foi alcançado: Lutero ficou famoso sem fazer uma reforma sequer na Igreja: só falou e escreveu
  • 17. A Dieta de Worms – Abril de 1521 • Lutero compareceu, com salvo conduto, mas só lhe foi exigido que se retratasse, o que ele se negou a fazer, e o Imperador, católico, o baniu do território do Sacro Império Romano (Alemanha) • Excomungado e banido, Lutero teria o mesmo destino de Jan Hus cem anos antes, se Frederico não o protegesse, escondendo-o em Wartburgo • Lutero ficou exilado, em segredo, durante nada menos do que dez meses, sem que quase ninguém soubesse de seu paradeiro, ou se ele estava vivo • Havia chegado a hora e a vez de Karlstadt
  • 18. A Hora e a Vez de Karlstadt • Apesar de ser duplamente o chefe de Lutero na Universidade, Karlstadt apoiou Lutero em todos os eventos de 1517 até Worms, ocupando, de forma disciplinada, o seu lugar de "escudeiro", até mesmo cedendo espaço para ele em Leipzig, quando ele, Karlstadt, era o principal convidado do Duque • Mas agora, com Lutero fora de cena, em paradeiro ignorado, havendo dúvida até mesmo se estava vivo, Karlstadt decidiu que não poderia se omitir, correndo o risco de que se perdessem os avanços teóricos já feitos na que era chamada "Teologia de Wittenberg" (não "Teologia de Lutero")
  • 19. Diferenças Doutrinárias com Lutero a. A interpretação e autoridade da Bíblia b. O laicato universal dos crentes c. O batismo com base no arrependimento e na fé d. A interpretação simbólica da Santa Ceia e. O culto evangélico (ou protestante) f. A aparência do templo g. A preferência pela guarda do sábado h. A igreja como voluntária comunhão dos santos i. Separação, não subordinação, entre igreja e estado j. A reforma deve abranger também tanto o político como o socioeconômico, mas sem recurso à violência k. A essência da religião fica dentro do indivíduo
  • 20. Mais Duas Diferenças, estas mais Estratégicas a. Era Karlstadt um revolucionário? • Karlstadt negava, mas Lutero o acusou de ser • O encontro na Estalagem do Urso Negro, em Jena b. Qual a velocidade e o ritmo a ser imprimido às reformas e como lidar com os fracos na fé e com os que hesitavam em aceitar as teses reformistas? • Karlstadt achava que era preciso agir com rapidez e que os fracos na fé e os hesitantes viriam atrás • Lutero achava que era preciso respeitar o ritmo de cada um e as hesitações dos que ainda não estavam prontos a aderir às reformas
  • 21. Wittenberg: Julho/1521 a Fevereiro/1522 • Em cerca de 8 meses, sob a liderança de Karlstadt, a reforma foi implantada em Wittenberg, o auge tendo sido alcançado no Dia de Natal de 1521, com o primeiro culto evangélico no mundo (afrontando uma ordem do Príncipe protetor de Lutero) • Karlstadt agiu de forma colegiada, implementando princípios com os quais Lutero havia concordado, e com o respaldo do Conselho Municipal • A nota dissonante foi Gabriel Zwilling que liderou quebradeira nas igrejas e ataque físico aos padres • Gabriel Zwilling era o discípulo amado de Lutero e foi perdoado por ele
  • 22. As Reformas que Karlstadt Implementou - 1 • Reafirmou a justificação pela fé, sem as obras • Renunciou seus votos de obediência e castidade (e resolveu ficar noivo e se casar), abandonou as suas vestimentas clericais, e tornou-se, para quase todos os fins, um leigo (embora ainda fosse acadêmico) • Interpretou o sacerdócio universal dos crentes em termos do laicato universal dos crentes • Aboliu a missa, substituindo-a por um culto, a ser celebrado no vernáculo, e oficiado por leigo, que deveria consistir de pregação e santa ceia, todos os fieis participando do pão e do vinho, sem precisar ter jejuado ou feito confissão auricular antes
  • 23. As Reformas que Karlstadt Implementou - 2 • Aboliu missas privadas, pagas (de intercessão por mortos), o culto aos santos e à Virgem, etc. • Anunciou que o uso de imagens era antibíblico, na igreja e em casa, e que toda a parafernália usada na missa também carecia de amparo das Escrituras • Anunciou que em 31/12/1521 celebraria o primeiro culto nesses termos na Igreja do Castelo • O Príncipe baixou ordem proibindo que esse culto fosse celebrado no local indicado • Karlstadt realizou o culto uma semana antes, no Dia de Natal, na Igreja da Cidade
  • 24. Lutero é chamado de volta a Wittenberg (1522) • Em 6 de Março Lutero está de volta e recebe ordem do Príncipe para colocar ordem na casa • Lutero tira Gabriel Zwilling de cena e escolhe seu bode expiatório: Karlstadt (embora o Conselho da Cidade tenha aprovado tudo que Karlstadt fez) • Karlstadt é afastado do processo, proibido de dar aula, de pregar, e de se manifestar por panfletos ou de outra forma escrita • Karlstadt tenta publicar um livro pela Universidade e esta censura o seu livro e não o publica • Lutero revoga todas as reformas feitas na cidade
  • 25. Os Oito Sermões do Invocavit • Nas oito semanas seguintes Lutero, usando suas vestes de monge, em missas tradicionais, usou o púlpito para explicar por que estava voltando atrás e para criticar Karlstadt, colocando toda a culpa pelos distúrbios na cidade sobre suas costas • Nos sermões desenvolveu a teoria de que, mesmo que as reformas feitas por Karlstadt estivessem em direção certa (i.e., fossem corretas), elas deveriam ter sido implementadas de forma lenta, gradual e incremental (uma de cada vez), de forma legal • Para bebês, não se dá carne e vinho, mas leite, e em mamadeira...
  • 26. A Atitude Cordata de Karlstadt • Diante desses fatos consumados, Karlstadt, que já não podia trabalhar, proibido que havia sido por Lutero, foi para Orlamünde, que era a comunidade que pagava seu salário na Universidade, para ali adquirir um terreno e trabalhar na terra, como um mero camponês • A Igreja de lá não se conformou e basicamente o colocou como pastor pro tempore, concitando-o a implementar lá as reformas que não havia podido realizar em Wittenberg • Ele aceitou, mas propôs que seu pastorado fosse exercido de forma colegiada e participativa
  • 27. Aceitação e Receio do Trabalho de Karlstadt • A positiva aceitação do trabalho de Karlstadt pelas comunidades de Orlamünde e da região de Jena passou a atrair enorme atenção – afinal de contas era a única reforma para valer na Alemanha • Reformadores mais radicais, como os de Zwickau (os chamados "Profetas") e de Allstedt (Münzer) ficaram interessados no que acontecia ali... • Lutero, porém, teve reação negativa e pediu ao Príncipe permissão para inspecionar o trabalho • Em Agosto de 1524 Lutero fez a viagem, pregou em Jena, atacou Karlstadt violentamente, e Karlstadt, disfarçado, assistiu à missa e pediu uma entrevista
  • 28. O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 1A • Lutero havia dito em seu sermão daquele dia que “o espírito de Zwickau e Allstedt”, que leva a revolução e assassinato, é um espírito claramente demoníaco, afirmando, na sequência, em referência a Karlstadt, que "esse espírito demoníaco é o mesmo daqueles que quebram imagens, destroem altares, danificam igrejas, e distorcem a doutrina dos sacramentos do batismo e da eucaristia" – e acrescentou: “Aquele que empreende essas coisas não é um bom espírito, mas, só pode ser, sim, o próprio Diabo...” • Ou seja: Lutero colocou em um mesmo grupo os Profetas de Zwickau, Thomas Münzer e Karlstadt
  • 29. O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 1B • Na discussão pública que tiveram no local em que Lutero estava hospedado, o Urso Negro, a resposta de Karlstadt foi um enérgico “Não!”: “Quem tenta me associar com esse pessoal, colocando-me em uma mesma panela com espíritos dispostos ao assassinato, é mentiroso, me atribui falsidades, sem nenhuma verdade, e não age como pessoa honesta”. • Ou seja: Karlstadt acusou Lutero, na face deste, de ser mentiroso e desonesto.
  • 30. O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 1C • A resposta de Lutero foi fraquíssima: disse apenas que Karlstadt nunca poderia provar que ele, Lutero, estava se referindo a Karlstadt enquanto pregava... • E acrescentou algo assim: mas se você acha que eu me referia a você, e vestiu a carapuça, que seja... • Disse ainda que lamentava que o povo que estava seguindo Karlstadt (parte do qual estava presente na Taverna) estivesse sendo alimentado com uma teologia equivocada.
  • 31. O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 2A • Karlstadt disse que, no tocante à Santa Ceia, ele era capaz de provar que o ponto de vista dele era mais correto, da perspectiva bíblica, do que o de Lutero – e que Lutero estava pregando o Evangelho de forma errônea. • Karlstadt tentou trazer a conversa de volta para a questão da acusação de que ele possuía o mesmo espírito que os revolucionários e assassinos. • Disse que era plenamente capaz de provar que não era daqueles que defendiam o uso da violência em defesa e na promoção da causa da reforma.
  • 32. O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 2B • Lutero replicou que não era preciso que provar isso porque ele tinha lido a carta que Karlstadt escreveu a Thomas Münzer, em nome de sua congregação de Orlamünde, e que estava convencido da verdade de seu conteúdo. • Karlstadt lhe perguntou, em seguida, por que, se ele estava convencido da verdade do que dizia a carta, ele havia dito no sermão que o espírito daqueles que pregavam doutrina errônea dos sacramentos era o mesmo espírito dos revolucionários e dos que estavam dispostos a se tornarem assassinos...
  • 33. O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 2C • A resposta de Lutero de novo foi fraca... • Lutero repete a mesma coisa que há havia dito, ou seja, que não havia sequer mencionado o nome de Karlstadt no sermão – e abandonou esse assunto. • Karlstadt redarguiu que, se ele, Karlstadt, estava errado acerca da doutrina dos sacramentos, Lutero deveria tê-lo admoestado em privado. • Lutero replicou que se ele, Lutero, pregava de forma errônea o Evangelho, como Karlstadt havia alegado, ele, Lutero, então não entendia nada do Evangelho.
  • 34. O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 3A • Lutero desafiou Karlstadt a colocar por escrito, na forma de livro, a refutação de suas doutrinas... • Karlstadt afirmou que Lutero havia amarrado suas mãos e seus pés antes de ataca-lo publicamente, ao proibi-lo de pregar e de dar aula, e tendo ele escrito um livro, Lutero impediu que livro fosse publicado, agindo via a Universidade – e depois saiu a falar e a escrever contra ele, sem que ele pudesse responder e se defender • Karlstadt insistiu que, estivesse ele livre para falar e escrever, Lutero já teria descoberto há muito tempo o que havia de errado em seus ensinamentos...
  • 35. O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 3B • Lutero jogou uma moeda para Karlstadt, que, pelo costume, representava um desafio... • Karlstadt pegou a moeda e disse, aos presentes: “Irmãos, firma-se aqui um compromisso: eu recebi do Dr. Lutero autorização para escrever contra ele. Peço-lhes que me sirvam de testemunha desse fato”. • Em seguida, voltou-se para Lutero e disse: “Senhor Doutor, eu lhe peço, encarecidamente, que não me impeça de publicar meus livros, nem me faça nenhuma perseguição, nem me impeça, de nenhuma maneira, de ganhar a minha vida”.
  • 36. O Diálogo na Taverna do "Urso Negro" – 3C • Lutero respondeu, fazendo-se de bobo: “Por que eu impediria você de escrever se sou eu que o pede?" • O pregador da corte de Weimar, Wolfgang Stein, que acompanhava Lutero, sentiu a necessidade de intervir e disse a Karlstadt, sem que Lutero o contestasse: “O doutor Lutero não lhe fará mal, nem o impedirá de ganhar sua vida”. • Diante disso, Karlstadt estendeu a mão a Lutero, considerando aceito o desafio e feito o trato • Nesse tom, se despediram. Isso foi em 22/8/1524.
  • 37. Lutero Rompe o Trato • Nos dias seguintes Karlstadt enviou, através de seu cunhado, oito manuscritos para serem publicados na Suíça, cumprindo sua parte no acordo • No entanto, no início de Setembro de 1524, antes de serem eles publicados, Karlstadt foi expulso da Saxônia pelo Príncipe, protetor de Lutero, ficando Karlstadt impedido até mesmo de ir até Wittenberg para pegar o seu primeiro filho e a sua mulher, que estava grávida de seu segundo filho • Conrad Grebel, um dos fundadores dos chamados "Irmãos Suíços", considerou esse comportamento de Lutero nada menos do que escandaloso
  • 38. Diante disso... • Expulso da Saxônia, Karlstadt foi recebido por seus amigos de outras regiões próximas, entre os quais estava Thomas Münzer e outros revolucionários • Consciente de que uma revolução estava iminente, Karlstadt tentou agir junto a seus amigos para que o pior não acontecesse, sempre defendendo a tese de que, por mais justas que fossem as reivindicações, nada justificava, à luz do Novo Testamento, o uso da força e da violência • Quando a rebelião eclodiu, ele fugiu da região para não ficar entre os assassinados
  • 39. Depois disso... • A mulher de Karlstadt, em Wittenberg, estando o seu primogênito ainda sem batismo, apesar de já ter mais de dois anos, pediu à mulher de Lutero que providenciasse alguém para batiza-lo, e convidou-a, a Katharina de Bora, para ser madrinha do menino • Depois, Karlstadt pediu a Lutero que lhe permitisse voltar a Wittenberg para buscar sua família, e este, depois de exigir que Karlstadt prometesse que não iria se manifestar publicamente em crítica a Lutero e à Reforma Luterana, concordou • Karlstadt fez isso e a seguir mudou-se para a Suíça, onde seus amigos, Zuínglio entre eles, o receberam
  • 40. Na bendita Suíça... • Na Suíça Karlstadt veio a encontrar sossego e apoio • Morreu em Basileia, em 1541, exatamente na cidade que antes acolheu Erasmo e onde este também veio a morrer, cinco anos antes, em 1536 • Em Basileia Karlstadt, além de ser pastor, chegou a ser Professor e Reitor da Universidade, falecendo em decorrência da praga, durante a qual cessou as suas outras atividades para dar apoio material e espiritual às vítimas da doença, que veio a contrair • Cinco anos depois morria Lutero, enquanto ajudava os Duques de Mansfeld a resolver seus problemas financeiros...
  • 41. Conclusão: De Volta ao Mote Inicial “Nem sempre são as pessoas mais capazes que alcançam as mais altas posições. Tudo depende de sorte e de ocasião.” • Mas não só disso – as coisas dependeram, também, no caso, das seguintes ações conscientes de Lutero: • Sua escolha corajosa e audaciosa de inimigos que lhe trariam maior visibilidade e projeção mais ampla; • Sua decisão de trair o colega (e a si mesmo!!!), e de persegui-lo, em favor de um acordo político maior que garantiria a existência de uma igreja luterana independente de Roma, sim, mas que, em teologia e culto, acabou por ser muito pouco reformada.
  • 42. Obrigado ! Blog da Reforma: https://reformation.space chaves@reformation.space Blog Geral: https://chaves.space eduardo@chaves.space

Hinweis der Redaktion

  1. ERASMO: Amigo de Leão X (1513-1521) [GIOVANNI DE MEDICI], Adriano VI (1522-1523) [DUTCH] e Clemente VII (1523-1534) [GIULIO DE MEDICI] ERASMO: Amigo e conselheiro de Maximiliano I (1493-1519) e de Carlos V (1519-1556)
  2. Lutero parece ter convencido Karlstadt a estudar Agostinho (e a comprar suas Obras Completas) Karlstadt parece ter convencido Lutero de que a teologia de Agostinho era contrária à teologia da Igreja Católica – tanto que produziu sua crítica pública a essa teologia primeiro (6 meses antes) Até 1522 ambos parecem ter sido bons amigos Acadêmica e eclesiasticamente Karlstadt era, até o fim de 1517, mais importante do que Lutero Ainda em 1519 foi Karlstadt quem foi convidado a debater Johann Eck em Leipzig – não Lutero!
  3. Há hoje razoável consenso entre historiadores de que a coisa importante em relação às 95 Teses de Lutero não foi sua "publicação" na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg Mais importante foi seu envio ao "Bi Arcebispo" Alberto de Brandenburgo, que se tornou Bispo de Halberstadt e Arcebispo de Magdeburgo em 1513, e Arcebispo de Mainz, e Eleitor, em 1514, quando tinha meros 23 e 24 anos, respectivamente, e, que, aos 28 anos, em 1518, se tornou nada menos do que o Cardeal Primaz da Alemanha, principal figura da todo-poderosa dinastia de Hohenzollern...
  4. Este é o slide 21 – que representa a METADE da Apresentação (que tem 42)