Desde 2014 o Brasil tem enfrentado grandes dificuldades para a retomada de seu crescimento, reflexo de um cenário de instabilidade política e econômica que se intensificou em 2015. De acordo como IBGE, a economia brasileira registrou, em 2016, nova contração do PIB (-3,6%), em relação ao ano anterior. Sendo a segunda queda anual consecutiva, no acumulado de 2015 e 2016, a economia brasileira encolheu 7,2%. E em 2017, apesar da euforia governamental com o aumento de 1% do PIB no primeiro trimestre do ano, em relação ao último trimestre de 2016, quando comparado com o acumulado de igual período do ano anterior a variação do PIB apresenta queda de 0,4%.
Boletim 38 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Análise do nível de atividade econômica no Brasil
1. ANÁLISE DO NÍVEL DE ATIVIDADE ECONÔMICA NO BRASIL
PIB
Desde 2014 o Brasil tem enfrentado grandes dificuldades para a
retomada de seu crescimento, reflexo de um cenário de instabilidade
política e econômica que se intensificou em 2015. De acordo como
IBGE, a economia brasileira registrou, em 2016, nova contração do
PIB (-3,6%), em relação ao ano anterior. Sendo a segunda queda
anual consecutiva, no acumulado de 2015 e 2016, a economia
brasileira encolheu 7,2%. E em 2017, apesar da euforia
governamental com o aumento de 1% do PIB no primeiro trimestre
do ano, em relação ao último trimestre de 2016, quando comparado
com o acumulado de igual período do ano anterior a variação do PIB
apresenta queda de 0,4%.
Em decorrência da queda do PIB em 2016, seu valor per capita
nominal alcançou R$ 30.407, após ter recuado (em termos reais)
4,4% em relação ao ano anterior. Em valores correntes, o maior
agregado macroeconômico brasileiro alcançou R$ 6,3 trilhões no ano
passado, sendo R$ 5,4 trilhões referentes ao Valor Adicionado a
preços básicos e R$ 852,3 bilhões de Impostos sobre Produtos
Líquidos de Subsídios.
Pela ótica da oferta, essa contração foi acompanhada por uma
retração generalizada em todos os setores, sendo a primeira vez
desde 1996, que indústria, serviços e agropecuária, ao mesmo
tempo, sofreram retração em relação ao ano anterior.
O setor agropecuário apresentou queda de 6,6%, no acumulado do
ano de 2016 em relação ao ano anterior, sendo a pior retração desde
1996, ficando a agricultura como maior responsável pelo desempenho
negativo do setor, em razão, principalmente, do clima, que afetou
fortemente a produção no campo. Conforme o Levantamento
Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE), divulgado em
fevereiro de 2017, culturas importantes como milho, café e mandioca
registraram quedas significativas, 25,7%, 15,5%, 2,8%,
respectivamente, na estimativa anual de produção e perda de
produtividade.
Já a Indústria apresentou uma queda de 3,8% em 2016, tendo como
principal fator negativo o comportamento da Indústria de
transformação, a qual apresentou contração de 5,2% ao longo
daquele exercício. Esse resultado foi influenciado, principalmente,
pelo decréscimo da fabricação de máquinas e equipamentos, indústria
automotiva, produtos farmacêuticos, metalurgia, alimentos e bebidas,
móveis, etc. No entanto, considerando os dados do primeiro trimestre
de 2017 com relação ao último trimestre do ano anterior, a Indústria
apresenta um pequeno resultado positivo, de 0,9%.
O único destaque positivo na atividade industrial em 2016 foi o
desempenho do subsetor Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza
2. urbana, que registrou expansão de 4,7% em relação a 2015. Isso se
deveu ao efeito da decisão do Governo Federal de substituição de
termelétricas por hidrelétricas no fornecimento de energia elétrica no
país entre os dois períodos.
TABELA 1 - Brasil: Taxa Acumulada ao Longo do Ano (variação em volume em relação ao
mesmo período do ano anterior– %)
Setor de Atividade 2015.IV 2016.I 2016.II 2016.III 2016.IV 2017.I
Agropecuária 3,6 -8,3 -7,3 -6,9 -6,6 15,2
Indústria -6,3 -7,0 -5,0 -4,3 -3,8 -1,1
Extrativa Mineral 4,8 -9,2 -7,1 -5,1 -2,9 9,7
Transformação -10,4 -10,4 -7,5 -6,1 -5,2 -1,0
Construção Civil -6,5 -5,0 -4,1 -4,4 -5,2 -6,3
Prod. e distrib.eletricidade, gás e água -1,5 3,8 6,2 5,6 4,7 4,4
Serviços -2,7 -3,5 -3,1 -2,8 -2,7 -1,7
Comércio -8,7 -10,5 -8,6 -7,2 -6,3 -2,5
Transporte, amarzenagem e correio -6,6 -7,3 -6,6 -6,9 -7,1 -2,2
Serviços de informação -0,5 -4,5 -3,8 -3,1 -3,0 -0,3
Intermediação financeira, seguros... -0,8 -1,3 -2,1 -2,5 -2,8 -4,0
Outros serviços -1,9 -3,3 -3,6 -3,2 -3,1 -1,8
Ativ. imobilárias e aluguel -0,1 0,2 0,3 0,2 0,2 -0,6
Adm. saúde e educação públicas -0,1 -0,1 0,2 0,2 -0,1 -0,7
Valor adicionado a preços básicos -3,2 -4,6 -3,8 -3,4 -3,1 -0,3
Impostos líquidos sobre produtos -7,0 -10,2 -8,7 -7,4 -6,4 -0,8
PIB a preços de mercado -3,8 -5,4 -4,5 -4,0 -3,6 -0,4
Despesa de consumo das famílias -3,9 -5,8 -5,3 -4,7 -4,2 -1,9
Despesa de consumo da adm. Pública -1,1 -0,8 -0,6 -0,7 -0,6 -1,3
Formação bruta de capital fixo -13,9 -17,3 -13,1 -11,6 -10,2 -3,7
Exportação de bens e serviços 6,3 12,7 7,9 5,2 1,9 1,9
Importação de bens e serviços (-) -14,1 -21,5 -16,0 -13,1 -10,3 9,8
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
O setor de Serviços também apresentou queda em 2016, 2,7% em
relação a 2015. Entre os subsetores que compõe os Serviços,
somente atividades imobiliárias apresentaram resultado positivo e,
ainda assim, muito tímido (0,2%). A pressão sobre o consumo pesou
no desempenho do setor de serviços, e, dentre as possíveis causas
para esse comportamento negativo, estão a escassez de crédito, o
aumento no endividamento das famílias, o desemprego. Tais fatores
reduzem o poder de compra e o consumo agregado afetando
diretamente o seu desempenho. No entanto, ao contrário da
Indústria, o Setor de serviços vem ganhando participação relativa no
PIB correspondendo a 73,3% do principal agregado macroeconômico
do país.
Pela ótica do gasto, composta pelo Consumo das Famílias, Consumo
do Governo, Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) e Exportações
Líquidas, um componente que vem apresentando queda expressiva
desde 2014 é a Formação Bruta de Capital fixo, a qual indica o nível
dos gastos de investimento. Assim, pode-se afirmar que, em 2016, a
contração dos investimentos foi da ordem de 10,2%. Este recuo é
justificado, principalmente, pela queda das importações de bens de
capital, pelo desempenho negativo da construção civil, além da
recessão global. Tal resultado da FBCF levou a taxa de investimento
3. da economia brasileira a fechar o ano em 16,6% do PIB, o nível mais
baixo da série iniciada em 1995. Com relação aos condicionantes
externos, a desaceleração mundial impacta profundamente as
economias altamente dependentes da produção de commodities,
como é o caso do Brasil.
A Despesa de Consumo das Famílias, principal componente do PIB
pelo lado da demanda, registrou retração de 4,2% em 2016 quando
comparada a 2015. Este resultado se justifica com base no
comportamento dos indicadores de juros, crédito, emprego e renda
ao longo de 2016. A deterioração do mercado de trabalho foi o
principal fator para reduzir a demanda das famílias, corroendo o
poder de compra das mesmas. Como se pode perceber, a redução da
inflação, não se refletiu no aumento do consumo.
A Despesa de Consumo do Governo, que inclui as esferas municipal,
estadual e federal, por sua vez, também apresentou queda de 0,6%
em 2016, na comparação com o ano imediatamente anterior.
No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços cresceram
1,9%, enquanto as Importações apresentaram contração de 10,3%
ao longo do ano de 2016, muito por conta do quadro recessivo que se
instalou, além da influência do câmbio. Entre os produtos e serviços
da pauta de exportações, os maiores aumentos foram observados em
petróleo e gás natural, açúcar, automóveis, embarcações e outros
equipamentos de transporte.
Já entre as importações, as maiores quedas foram observadas em
máquinas e equipamentos, automóveis, materiais elétricos, petróleo
e derivados, bem como os serviços de transportes.
Importante destacar ainda que algumas mudanças metodológicas
feitas pelo IBGE no início de 2017, que dizem respeito ao cálculo do
desempenho do setor de serviços e vendas no varejo, podem ter
influenciado de maneira positiva, mas apenas estatisticamente, os
resultados agregados. Afinal, os pesos de alguns subsetores foram
alterados (as vendas dos supermercados perderam peso no conjunto
do comércio, enquanto as vendas de combustíveis ganharam peso). A
base de comparação das pesquisas mensais passou de 2011 para
2014 – ano de menor crescimento. Além de ter atualizado o cadastro
de empresas entrevistadas, algumas entraram e as que foram
fechadas saíram.
Tais mudanças, no geral, acabam por impactar positivamente o
resultado de índices como emprego, inflação, vendas no varejo,
comércio e consumo das famílias, o que gerou uma onda de críticas
ao Instituto e, em especial, ao presidente do IBGE, Paulo Rabello de
Castro, posto sob suspeição de tentar maquilar os resultados da
atividade econômica com fins políticos.
4. Indústria
A produção da indústria brasileira, de acordo com o IBGE, terminou o
ano de 2016 com uma queda de 6,6% no acumulado do ano,
completando três anos consecutivos de resultados negativos para o
setor.
Fato relevante foi que a maioria dos segmentos da indústria mostrou
resultados negativos durante o exercício 2016, como comprovam os
desempenhos das indústrias extrativas (-9,4%), de coque, produtos
derivados do petróleo e bicombustíveis (-8,5%), além de veículos
automotores, reboques e carrocerias (-11,4%). Já na outra ponta, as
maiores influências positivas partiram de produtos alimentícios
(0,6%) e de celulose, papel e produtos de papel (2,5%). De acordo
com dados publicados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI),
o faturamento real da indústria caiu 12,1%, em 2016.
Em abril de 2017, quando se toma o acumulado dos últimos 12
meses e se compara com igual período anterior, ou seja, maio de
2015 a abril de 2016, novamente observa queda (-3,6 %), repetindo-
se, assim, a tendência negativa observada desde junho de 2016.
Ainda na mesma base de comparação, as quatro grandes categorias
econômicas da indústria apresentam, todas, resultados negativos,
como bens de capital (-1,2%), bens de consumo intermediário (-
3,8%), bens de consumo duráveis (-3,0%) e bens semi e não
duráveis (-3,9%). Os principais setores que contribuíram
negativamente para esse resultado foram, a exemplo de 2016, a
indústria extrativa (-0,35%) e a de coque, produtos derivados de
petróleo e biocombustível (-1,30%), acrescidos ainda da indústria de
produtos alimentícios (- 0,25%) e a de minerais não metálicos (-
0,25%).
Olhando-se para o acumulado de janeiro a abril 2017, observa-se a
décima queda consecutiva, desta vez da ordem de (-0,7%), com
destaque para a queda na produção de alimentos (carnes de bovinos
congeladas e sucos concentrados de laranja e açúcar cristal e VHP)
(-6,2%), medicamentos (-15,0%) e na de coque e produtos
derivados de petróleo e biocombustível(-9,1%), devida a queda na
produção de álcool etílico e óleos diesel.
Comércio
As vendas do comércio varejista brasileiro caíram 6,2%, em 2016,
quando comparadas às de 2015, de acordo com o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), perfazendo assim a maior queda
observada na série histórica do indicador desde 2001. Em 2016,
quase todos os subsetores apresentaram taxas negativas, e o que
mais influenciou a queda geral do índice do varejo foram aquelas que
mais representam o consumo da classe trabalhadora, ou seja, as
5. vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios,
bebidas e fumo (-3,1%), que tiveram o pior resultado desde 2003.
Ainda de acordo com o mesmo instituto, a pressão inflacionária o
aumento das taxas de juros, o desemprego e o enfraquecimento do
mercado de trabalho ao longo de 2016 podem ser apontados como as
principais causas da queda nos índices de consumo e comércio.
Seguindo igual tendência, o ano de 2017 começou apresentando
taxas negativas no que tange ao comércio varejista nacional, tanto
para o volume de vendas quanto para a receita nominal. Por ser um
setor sensível à variação da renda das famílias, o comércio varejista
reflete a situação econômica de crise pela qual o país vem passando,
como serve de exemplo o primeiro trimestre de 2017, que acumulou
redução de 3,0% no comércio varejista e -5,3% nos últimos doze
meses.
Notícias acalentadoras apresentadas por diversos canais de mídia
impressa e de fontes ligadas ao próprio governo realçam uma
melhora no comércio varejista em termos da receita nominal de
vendas. Isso por terem apresentado alta de 4,2%, na comparação do
acumulado de abril de 2016 a março de 2017, contra igual período
imediatamente anterior. Não obstante, quando se confronta tal
informação com o volume de vendas para a mesma base de
comparação, é possível constatar uma retração de 3,2%.
Possivelmente esse aumento da receita está vinculado a elevações de
preços nesses setores visando contrarrestar a baixa no volume de
vendas.
Em relação ao desempenho das unidades federativas, o acumulado
de 2016 quando comparado ao de 2015 mostrou redução no volume
de vendas do Comércio Varejista em praticamente todas as regiões.
Das 27 Unidades da Federação, 26 apresentaram taxas negativas,
com exceção de Roraima que obteve avanço de 1,2 % sendo o único
estado em que o comércio varejista apresentou avanços em 2016. Os
destaques negativos, em termos de magnitude de taxa, são o do
Amapá (-18,1%), Pará (-13,1%), Rondônia (-12,3%) e Bahia (-
12,1%).
6. Tabela 2– Taxa de variação do volume de vendas para as principais atividades (%)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Serviços e Comércio.
As famílias estão consumindo menos e um dos principais motivos é o
avanço do desemprego que já atinge uma taxa de 13,7% no primeiro
trimestre de 2017, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) Contínua, divulgados pelo IBGE. O
desempenho negativo do volume de vendas é influenciado,
sobretudo, pelo setor de Hipermercados, supermercados, produtos
alimentícios, bebidas e fumo que foi responsável por 57,0% da
redução no total do varejo.
Na comparação do primeiro trimestre de 2017 com igual trimestre de
2016, o volume de vendas do comércio varejista registrou recuo de
3,0%. Apesar disso, quando comparado com o trimestre
imediatamente anterior, o volume de vendas apresentou resultado
positivo de 3,3%. Entre outros motivos, estão os saques realizados
nas contas inativas do FGTS que já injetaram R$ 5,5 bilhões na
economia, embora parcialmente nem todo montante seja absorvido
pelo consumo. Este desempenho positivo não era observado desde o
último trimestre de dezembro de 2014, quando a taxa de variação foi
1,4%.
O volume de vendas do varejo ampliado, que inclui os setores de
veículos, motos, partes e peças e de material de construção também
obteve redução na queda passando de -8,1% no segundo semestre
de 2016 para -4,8% em janeiro de 2017 influenciado pelo setor se
veículos, motos, partes e peças que passou de -14,2% para -4,6% e
de material de construção (de -8,4% para -0,3%).
Atividades 2015 2016
1º tri 2º tri 3º tri 4º tri 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri
Comércio varejista -1,3 -2,5 -2,7 -0,7 -2,7 -0,6 -1,6 -1,2
Combustíveis e lubrificantes -4,2 -1,2 -2,9 -3,5 -3,1 -1,1 -2,1 -1,6
Hiper.,Super., Alim., Beb. e
Fumo -0,5 -1,3 -2,2 0,8 -2,2 0,3 -0,8 -1,8
Tecidos, vest.e calçados -3,3 -4,9 -3,1 -1,6 -5,3 0,6 -5,4 -1,2
Móveis e eletrodomésticos -4,6 -7,0 -5,2 -1,3 -4,7 -2,0 -3,3 -1,1
Artigos farmacêuticos -0,1 0,7 -1,3 2,0 0,1 -3,2 -2,0 0
Livros, jornais, rev. E papelaria -2,8 -2,8 -5,9 -4,3 -4,4 -6,9 -2,4 -1,8
Equip e mat. para escritório 4,6 -10,8 -6,2 -3,9 0,4 -6,5 -1,0 2,2
Outros art. de uso pessoal e
doméstico
2,7 -5,5 -1,6 -3,7 -5,0 -0,4 -1,6 2,4
Comércio Varejista ampliado -4,1 -3,8 -2,7 -2,4 -1,9 -2,5 -2,6 -0,9
Veic. e motos, partes e Peças -11,6 -4,6 -3,1 -5,4 -0,8 -7,0 -4,3 -0,5
Material de Construção -3,5 -4,4 -3,1 -4,4 -2,4 -2,6 -1,1 -1,1