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Depois da tempestade, vem a bonança
Há muito tempo, antes da formação dos continentes, dos países e dos reinos, havia quatro pequenos
conjuntos de arquipélagos: Norte, Sul, Este e Oeste. Cada arquipélago era constituído por pequenas ilhas,
que governadas independentemente formavam reinos. Era no arquipélago Norte que se encontrava o mais
magnífico e invejado reino de todos.
Tarsília era a mais bela e próspera terra conhecida. Dos seus campos verdejantes, todo o tipo de
culturas se produziam. À beira do rio e do mar, nunca faltaram peixes. Na floresta e nos prados, havia todo o
tipo de animais, e assim, durante muitos anos, se viveu muito bem em Tarsília
Tarsília mantinha alianças com as outras ilhas de Norte, e sempre que alguém da aliança se
encontrasse em apuros, todos os aliados tinham o dever de intervir. A certa altura, o reino vizinho entrou em
guerra e, o rei James, dotado de uma coragem infinita e de uma bondade enorme, partiu para a guerra com o
exército tarsiliano.
Sete meses se passaram e a guerra findou. A ajuda dos tarsilianos foi indispensável para a vitória dos
vizinhos, mas tal contribuição abalou por completo Tarsília. O rei James falecera na batalha final e deixara o
trono entregue à sua mulher até que o seu filho Thomas atingisse a maioridade.
Dez anos se passaram e o dia esperado por todo o país chegou. Agora com dezoito anos de idade, o
príncipe Thomas foi coroado rei de Tarsília.
Toda a gente gostava de Thomas. Era um jovem alegre, sempre animado, dotado da maior das
belezas, e era acima de tudo muito bondoso. Com o melhor dos reinos para governar, muitas esperanças
foram depositadas no jovem príncipe, durante toda a sua vida e, quando finalmente chegou o seu aniversário,
todo o povo festejou alegremente a coroação do novo rei.
Enquanto o seu pai ainda era vivo, Thomas sabia que, quando fosse coroado, queria ser exatamente
como ele. Sempre admirara a sua coragem e a sua bondade, mas o que mais queria era ser adorado da
maneira como o pai o era. No segundo em que foi nomeado rei, Thomas decidiu que todo o seu reinado teria
como único objetivo assegurar uma vida cheia de regalias e vantagens a todos os tarsilianos.
Todos os meses, era organizado um banquete exuberante, para o qual o rei convidava todos os seus
súbditos, seguido de um baile no palácio. Mensalmente eram também distribuídas certas quantias de dinheiro
e de mantimentos para que todo o reino tivesse o conforto assegurado. O rei nunca exigia nada em troca,
fazia tudo por boa vontade e era por isso que todo o povo o adorava.
Meio ano passou e chegou então o rigoroso inverno. Após poucos dias, já o reino estava totalmente
alterado. Nunca Tarsília fora fustigada por tanto frio. Os campos ficaram cobertos de neve e as plantações
ficaram congeladas. Os animais e os peixes fugiram para sítios mais quentes, pois se ali continuassem
morreriam ao frio.
O povo estava apavorado. Não se tinha conhecimento de nenhum inverno que tivesse deixado
consequências tão devastadoras para o reino e nem o próprio rei sabia bem o que havia de fazer. Mas
entretanto, lembrou-se de que nas reservas do palácio se encontravam todos os excedentes da produção
agrícola, o que daria para sustentar a população até conseguir alguma ajuda dos países vizinhos.
O rei foi dirigido até às reservas, porém apanhou uma grande desilusão. Os alimentos que lá se
encontravam não sustentariam todo o reino mais do que um mês, e ainda agora o inverno começara.
Thomas fechou-se no seu quarto e pediu para que ninguém o incomodasse. O rei estava intrigado com
a situação. Era estranho que numa terra como a de Tarsília, onde os invernos sempre foram tão amenos,
fizesse tanto frio e nevasse tanto. Mas mais do que intrigado, o rei sentia-se culpado. Se o rei não tivesse
dado todos aqueles banquetes e todas aquelas festas, o reino teria guardado muitos sustentos e teria
poupado muito dinheiro. Tinha saudades do pai e, naquele momento, presumia que todo o reino tivesse,
porque, se fosse ele a governar, nada disto estaria a acontecer.
As horas passaram e o rei, com a consciência ainda mais pesada que as camadas de neve que
cobriam o reino, acabou por adormecer. Enquanto dormia, apareceu-lhe em sonhos uma figura feminina que
para ele caminhava. Naquela noite, sonhou com a mulher mais bonita que vira em toda a sua vida. Os seus
cabelos brilhavam tanto como os raios de sol, os seus olhos eram mais azuis que o mar e ostentava um
sorriso puro e verdadeiro. Trazia um vestido comprido, todo ele adornado de flores verdadeiras e à sua volta
voavam várias borboletas coloridas. Caminhava graciosamente, como se estivesse a dançar. Há medida que
se aproximava, o rei ia ficando tanto mais nervoso como mais encantado.
Ao aproximar-se do rei, a mulher não pôde deixar de reparar na sua expressão assustada, pelo que
decidiu começar ela a falar.
- Provavelmente não sabe quem eu sou, mas eu sei quem tu és, Thomas.
- Creio que nunca nos encontrámos, eu ter-me-ia lembrado. – respondeu o rei muito intrigado.
- Sou Natura, a deusa ancestral de Tarsília e vim em auxílio ao teu reino. Muito antes de os teus
antepassados povoarem esta terra, já eu era por ela responsável. A tarefa que me foi proposta era apenas
manter o equilíbrio natural em todo o reino, de modo a que este fosse habitável. No dia em que os teus
antepassados cá chegaram, voltei para o pé dos outros deuses. Antes de partir, tive que jurar que sempre
que o reino precisasse de mim eu ajudaria. Há muitos anos que já não venho cá, mas recentemente tomei
conhecimento da vossa situação e aqui estou eu.
O rei permaneceu calado, durante algum tempo. Então, as lendas sobre a misteriosa deusa protetora
eram verdadeiras. Nunca pensara na hipótese de Natura existir mesmo, pois não seria de todo o primeiro
mito que ouvia. Quando estava mesmo para responder, o rei acordou.
Acima de tudo, o rei ficou desapontado. Como era possível um sonho parecer tão real? De qualquer
maneira, é escusado pensar nos sonhos depois de estarmos acordados. O rei levantou-se da cama, calçou
os chinelos, vestiu o roupão e afastou as cortinas da janela. Não podia acreditar. As nuvens, a neve e o vento
tinham desaparecido. Não, não era possível numa noite, toda a paisagem se ter alterado tão drasticamente. E
foi então que o rei se lembrou do sonho. Será que tudo aquilo tinha sido trabalho de Natura? Se calhar foi por
isso que o sonho pareceu tão real, se calhar o sonho tinha sido mesmo real.
Desceu as escadas apressadamente, pronto para tomar o seu pequeno-almoço e, mal se sentou na
mesa, foi informado pelo seu conselheiro que estava no portão do palácio uma jovem que dizia precisar
urgentemente de falar com o rei. Como era hábito seu, Thomas foi ao portão receber a visita e qual foi o seu
espanto quando viu ali, mesmo à sua frente, a deusa Natura, desta vez certamente real. Ao reconhecê-la,
mandou imediatamente que abrissem os portões e acompanhou-a até ao palácio.
Continuava bela, mas um tanto diferente. Ao contrário da noite anterior, trazia um vestido pobre, sujo e
todo esfarrapado. Para além disso, na noite anterior demonstrava um notável à vontade com o rei, mas agora
agia timidamente e raramente abriu a boca no caminho para o palácio. Mandou que lhe arranjassem o melhor
quarto e pusessem ao seu dispor tudo aquilo de que ela precisasse. Meia hora mais tarde, Natura encontrou-
se com o rei no seu escritório, já devidamente arranjada e com todo o seu esplendor restaurado.
- Desculpe, se teve que esperar por mim! – exclamou imediatamente o rei – Mas só há pouco tempo é
que acordei.
- O que importa é que me recebeu – respondeu Natura, com um sorriso amável nos lábios – Ainda se
lembra de mim?
- Como me poderia eu esquecer? Nunca um sonho me pareceu tão real e confesso-lhe que fiquei
desapontado, quando finalmente acordei. Contudo, quando abri a janela e pude observar as mudanças na
paisagem, uma alegria enorme invadiu o meu coração. O meu reino está a salvo graças a si. Estou-lhe
eternamente agradecido.
O rei não parava de sorrir e os seus olhos brilhavam continuamente. Mas, ao proferir estas últimas
palavras, tanto ele como a deusa ficaram de faces coradas.
- Fico realmente feliz por ver tanta determinação, mas o seu reino ainda não está a salvo – anunciou
Natura, agora menos sorridente – Eu posso ter restaurado o clima de Tarsília, mas não tenciono trazer de
volta o alimento. Vai ter que ser o seu povo a cultivar de novo. Mal habituados como estão, a ideia de ter que
trabalhar arduamente de novo não lhes deve agradar, mas a responsabilidade de os motivar é do Thomas. Se
tudo correr bem, brevemente os animais e peixes voltarão e Tarsília estará de novo em pleno equilíbrio.
- Farei tudo o que estiver ao meu alcance. Prometo-o.
-Então, a minha missão aqui está completa. Boa sorte, Thomas! – proferiu Natura sorrindo.
Esta despedida tão repentina deixou o rei triste e dececionado. Toda a alegria que sentia anteriormente
transformou-se em tristeza, mal ouviu aquelas palavras.
- Por favor, fique! – suplicou o rei sem querer, assim que Natura atravessou a porta – Eu preciso de si,
quer dizer, o meu povo precisa de si. Não nos abandone!
Ao ouvir estas palavras, Natura não pôde ficar indiferente. Também ela queria ficar, mas a sua forma
humana era temporária e teria eventualmente que voltar para o pé dos outros deuses. Todavia, como que por
magia, esqueceu as suas obrigações e, tentando não se mostrar nervosa, voltou-se para o rei e respondeu-
lhe:
- Ficar seria abusar da sua boa vontade.
- Mas a sua presença nunca seria um abuso – retribuiu repentinamente o rei, corando – Peço-lhe mais
uma vez que fique. Não nos faltam quartos vazios e nada me deixaria mais feliz do que ter a sua ajuda na
tarefa que me espera.
- Assim sendo, não vejo nada que me possa impedir de ficar.
E, explodindo de alegria, a rapariga saiu do escritório do rei.
Thomas passou o resto do dia radiante por poder hospedar Natura e esta, por sua vez, passou o dia
radiante por poder estar no palácio de Thomas.
No dia seguinte, mal acordou, o rei deixou um bilhete ao Horace, o seu mordomo, destinado a Natura.
Logo de seguida, dirigiu-se à vila, mais propriamente à casa de um grande amigo de infância, George Carter.
Entre muitos festejos e demonstrações de alegria por parte da família Carter, Thomas pediu ao amigo que
ficassem a sós. Disse-lhe que era um assunto importante e isso bastou para que os restantes abandonassem
de imediato a sala.
- Preciso da tua ajuda – começou Thomas – Como já deves ter reparado, a mudança de clima foi
drástica, mas depois eu explico-te isso. Hoje estou aqui para te pedir um favor, um grande favor
- Mas, Thomas, promete-me que me contas tudo depois, nunca foste de me esconder segredos. –
retorquiu George.
- Acontece que não é um segredo meu, se fosse, não hesitava em contar-te. O que eu queria era que
tu organizasses um grupo de agricultores e os orientasses para voltarem a cultivar
- Thomas, vê-se mesmo que já não visitas os campos há muito tempo. Sabes, é que já passou meio
ano desde que foste coroado. Logo, há meio ano que os agricultores pouco produzem.
- Mas a tempestade só se instalou no reino há umas semanas e agora já nem há sinais dela, não há
motivos para eles continuarem parados.
- O problema é que não foi a tempestade que os fez parar. O facto de terem sempre tudo sem terem
que fazer nada é que os deixou muito mal habituados.
- Tu achas que fui eu que fiz mal em tentar dar-lhes alguma qualidade de vida? Eu estava a tentar
ajudá-los.
- Não duvido das tuas intenções, porém agora eles esperam que tu arranjes uma solução.
- Mas eles são a minha solução! – gritou Thomas, já revoltado.
- Eu sei que sim, mas é a eles que tens que mostrar isso. – sugeriu calmamente o amigo.
- Desculpa, exaltei-me, mas assim vai ser mais difícil remediar a nossa situação. Ouve, eu preciso que
reúnas mesmo um grupo de agricultores e mostra-lhes, por favor, que eles são a nossa única salvação.
- Mas os solos estão inférteis
-Não te preocupes, conheço alguém que pode acabar com esse problema. – declarou o rei, com um
sorriso esboçado nos lábios.
Quando chegou finalmente ao palácio, viu os campos de cultivo reais em grande movimento.
Aproximou-se para analisar melhor a situação, e avistou Natura e alguns dos seus criados a tratarem dos
campos.
- Não precisava de fazer isto, é uma hóspede! – exclamou o rei, radiante.
- Bem, já que vou aqui ficar, ao menos que faça alguma coisa útil.
Sem hesitar, também o rei pegou numa enxada e se juntou aos seus criados. Trabalharam o dia inteiro
sem parar, e ninguém se queixou, aliás, toda a gente gostou de ali estar. No entanto, os criados estavam
intrigados. Como é que com um dia de trabalho já se viam alguns rebentos a nascer da terra?! Parecia-lhes
impossível. Por outro lado, Thomas e Natura achavam a situação divertida e naquela tarde tornaram-se muito
mais cúmplices.
Natura já estava hospedada no palácio há pouco mais que uma semana, mas a jovem e o rei já se
tinham tornado grandes amigos e eram inseparáveis. Eis, então, que Thomas mandou que arranjassem a
sala de jantar para ele e para a convidada. Os criados estranharam a ordem, pois aquela mesa só era posta
em ocasiões muito especiais e todos notaram no rei um entusiasmo e uma alegria que não lhe conheciam. O
rei já nem sabia se estava a fazer tudo aquilo para lhe agradecer ou se para a impressionar.
Às oito horas em ponto, o rei encaminhou-se impacientemente para a sala de jantar. Teve que
aguardar um pouco pela chegada de Natura, mas mal a viu ao longe a descer a escadaria, toda a espera
pareceu insignificante. Trazia um vestido azul que pertencera à sua mãe em tempos e que combinava
perfeitamente com os seus olhos. “Como é bonita!” pensava para si o rei maravilhado. Naquela noite, Thomas
voltou a reviver o seu sonho com Natura. Sim, a maneira como ela caminhava para ele, lenta e
graciosamente, os seus cabelos de ouro esvoaçando, o seu sorriso verdadeiro… Apenas uma coisa mudara.
No seu sonho, ela tinha a capacidade de o intimidar, como se fosse um ser superior e, de facto, qualquer
deus é superior aos homens. Todavia, naquela noite, a jovem já causava nele outro efeito. Quando perto
dela, o rei ficava nervoso, mas não como no sonho. O respeito que outrora sentia por ela evoluíra para algo
maior. Enquanto dantes se sentia inferiorizado quando comparado a ela, agora sabia que estavam de igual
para igual. E o sorriso dela era capaz de afastar da mente de Thomas todos os problemas imagináveis. O rei
estava de facto apaixonado não pela deusa, mas sim pela humana em que Natura se tornara.
O jantar correu melhor do que aquilo que ambos esperavam. Os jovens davam-se lindamente e nunca
se aborreciam. O sentimento era mútuo. Contudo, ambos o desconheciam. Mas essa doce incerteza era o
que tornava especial cada momento que passavam juntos.
Mal finalizaram a refeição, o rei decidiu mostrar à convidada a sua divisão favorita de todo o palácio: a
pequena varanda junto ao seu quarto, a que só ele tinha acesso. De lá viam-se os imensos bosques de
Tarsília, debaixo do céu estrelado. Era uma vista maravilhosa. O rei gostava de ir para lá, porque se sentia
em plena paz de espírito, quando tão perto da natureza.
Na varanda, o rei só tinha um pequeno sofá, onde se sentava a ler no verão, um guarda-sol e um
pequeno vaso, do qual por vezes até se esquecia.
Que bem que sabia a Natura estar tão perto da natureza. E que bem que sabia a Thomas estar tão
perto de Natura. Ficaram um tempo por ali e, quando finalmente ficaram sem assunto de conversa, a jovem
aproximou-se do pequeno vaso, no qual se encontrava um pequeno malmequer muito murcho. De seguida,
tocou-lhe e, como que por magia, a flor reergueu-se e voltou a ganhar vida. Bastou um sopro seu para a frágil
flor começar a dançar devagar e graciosamente. A transformação da flor era um espetáculo digno de se
assistir. Tão simples, mas tão belo. Thomas estava encantado, mas de Natura não se podia dizer o mesmo.
Pela primeira vez, o rei julgou detetar-lhe uma certa tristeza no olhar. Perguntou-lhe o que se passava, porém
ela permaneceu em silêncio e fingiu não ter ouvido nada. O problema com que naquele momento Natura se
deparava estava muito além da compreensão de Thomas.
Thomas, que colocava a felicidade da jovem à frente de tudo e de todos, entrou de novo no seu quarto
e, pelo que Natura conseguia ouvir, revirou todas as gavetas dos armários à procura de alguma coisa.
Quando voltou à varanda, tinha algo entre as mãos, algo que pela maneira como o rei lhe pegava devia ser
de grande valor.
Sentou-se no sofá junto à jovem e abriu as mãos, deixando assim o objeto descoberto. Era uma
pequena caixa de madeira, já muito envelhecida, com alguns pormenores dourados. Thomas fez sinal a
Natura para que a abrisse e a jovem, hesitando, assim o fez. Dentro da caixa estava uma flor feita de pedras
preciosas, com pétalas de várias cores. Ela ficou deslumbrada, pois aquela era a mais bela peça de joalharia
que alguma vez tinha visto.
- É para ti – declarou o rei – para quando estiveres triste.
- Não, eu não o posso aceitar – recusou incrédula a jovem.
- Não o aceito de volta. Por favor, faz-me a vontade e fica com ele para ti.
- Mas eu não tenho nada para te dar em troca.
- Quando oferecemos por boa vontade, não esperamos nada em troca – acrescentou Thomas – E tu já
me deste mais a mim do que eu alguma vez te poderei dar.
- A minha ajuda não foi nada, só fiz o que me compete. – disse Natura.
- Acredita, salvaste-me em mais que um aspeto. – perante o silêncio da rapariga, o rei decidiu
prosseguir – A tua ajuda deu-me força e coragem para ajudar o meu reino devidamente, e é certo que agora
sou muito mais responsável e ponderado. Mas, ao que eu me referia realmente era ao facto de teres
despertado em mim sentimentos que nunca ninguém conseguira.
Ao acabar o discurso, Thomas estava envergonhado por se ter exposto assim e Natura, ao se
aperceber disso, não hesitou em o abraçar. E assim, nos braços um do outro ficaram durante algum tempo.
Delicadamente, Natura despediu-se do rei, desejou-lhe uma boa noite e subitamente se retirou. Porém,
Thomas ainda não estava com muito sono, pelo que decidiu ficar mais um pouco ali na varanda, na
companhia das estrelas brilhantes, do luar reluzente e da sua pequena flor encantada. Nunca se sentira tão
feliz em toda a sua vida, pois agora sabia que tanto ele como Natura sentiam o mesmo. Quando o cansaço já
começava a aparecer, o rei decidiu ir dormir também.
No dia seguinte, Thomas não pôde deixar de acordar com o barulho que se ouvia lá de fora. Ouvia-se
uma multidão agitada, mas principalmente alegre. Curioso como era, o rei vestiu o roupão e foi à janela para
ver o que se passava. Mal abriu as cortinas, pôde ver muitos dos seus súbditos reunidos no portão do
palácio. Contudo, continuava sem perceber o porquê, por isso desceu e foi ver o que se passava. Não foi
preciso pedir a alguém que lhe explicasse o que se estava a passar, bastou-lhe seguir a multidão. Depressa
descobriu a razão de toda a euforia.
Nos jardins e nos campos do palácio, mesmo naqueles que não tinham tido qualquer tipo de tratamento
e manutenção, tinham nascido árvores, flores, arbustos e todo o tipo de frutos e vegetais. George Carter e um
pequeno grupo de agricultores já se preparavam para se dedicarem de novo ao trabalho. Do palácio podiam-
se ver os cavalos a correr nos prados, os pássaros a sobrevoar o reino.
Tudo voltou a ser o que fora antigamente, não só no palácio, como em todo o reino de Tarsília.
Thomas, por sua vez, procurou Natura, mas não a conseguiu encontrar no meio da multidão. Sabia que
tudo aquilo acontecera por causa da sua magia, pois na noite anterior ele tinha visto aquilo de que ela era
realmente capaz de fazer. Mal podia esperar por lhe agradecer por tudo aquilo. Já que ela não parecia estar
lá fora, pediu a uma criada que a acordasse e que ela viesse ao escritório ter com ele. A criada obedeceu
imediatamente, e encaminhou-se ao quarto de Natura e, ao ver a ordem a ser cumprida, o rei dirigiu-se ao
escritório. O tempo passava, mas a jovem não aparecia. O rei começava a estranhar a sua ausência e então
decidiu ir ele próprio chamá-la.
Quando chegou ao corredor do quarto de Natura, viu vários criados à porta que, assim que viram o rei
a aproximar-se, ficaram de certo modo aterrorizados e rapidamente se afastaram da porta. Thomas, que
achava incomum este comportamento por parte dos criados que muito estimava, ficou intrigado, mas
lembrou-se que tinha ido até ali procurar Natura. À medida que se aproximava do quarto, os criados
afastavam-se dele e, quando finalmente abriu a porta do quarto da jovem, ele próprio ficou aterrorizado.
O quarto estava vazio, mas perfeitamente arrumado. Era evidente que ninguém passara ali a noite. O
quarto era grande, no entanto não havia maneira nenhuma de Natura estar ali. Pediu que a procurassem, por
todo o palácio e por todas as redondezas e que o deixassem sozinho.
Fechou a porta e deitou-se na cama. Não sabia o que pensar e preferia nem sequer o fazer. Naquele
momento, estimava mais que ele próprio apenas o seu reino e Natura. Estava preocupado com ela, com
medo de a perder, pois perder algo que se ama é como perdermo-nos a nós próprios. Estar ali parado sem
fazer nada não o ajudava, por isso decidiu ir ele próprio procurá-la, mas não antes de revistar o quarto em
busca de algum sinal. Procurou por todo o lado e só quando abriu o armário é que encontrou algo de
relevante. Viu no fundo do armário, por debaixo dos outros vestidos perfeitamente alinhados e
impecavelmente engomados e em cima dos muitos sapatos de senhora, o vestido que Natura usara na noite
anterior. Hesitou em lhe pegar, porém, quando se conformou que a situação não podia piorar, agarrou-o e
esteve com ele nas mãos por breves segundos. O vestido estava amarrotado e perdera todo o encanto que
no dia anterior tivera. O rei atirou-o para a cama, pois já de nada aquele pedaço de tecido lhe servia. Mas,
quando o largou, reparou que de dentro do vestido saiu uma carta. Thomas pegou-lhe e começou a lê-la.
“Querido Thomas,
Eu sabia que ias acabar por encontrar esta carta. Deves estar a estranhar a minha partida repentina.
Sim, é verdade! Desta vez eu parti de vez, e dificilmente me vais voltar a ver. Já há algum tempo que eu
previa que a minha partida estava breve, e contra isso nada podia fazer. Pode parecer estranho, mas não me
estava destinado a mim decidir quando é que teria que deixar o teu reino. Até os deuses têm um superior, e a
minha superior é a Natureza.
O sonho que uma vez tiveste comigo era um aviso enviado pela Natureza de que terias que mudar a
tua atitude e a tua maneira de governar. Esse aviso só era para ser dado uma vez. O suposto era a Natureza
fazer a sua parte, que era dar-te todas as condições naturais que precisavas, mas a maneira de as
aproveitares cabia-te a ti. Depois dessa noite, nem era suposto voltares a ver-me mais nenhuma vez, mas a
Natureza teve outra ideia. Ela sabia que os humanos têm a tendência de abandonar as suas obrigações
habituais, quando têm o que querem, por isso lembrou-se de me enviar com uma nova missão. Desta vez, a
Natureza enviou-me com outra missão, mudar a tua maneira de ser para que, quando o reino já estivesse
salvo, tivesses todas as capacidades para o governar dignamente. Quando acabasse a minha missão, teria
que abandonar Tarsília.
Foi-me difícil aceitar esta tarefa, porque nunca acreditei que conseguiria alguma vez mudar a maneira
de ser, a essência de alguém. Mas, para vir ao teu reino, eu tive que mudar também. Tive que deixar de ser
uma deusa e tornar-me uma humana. No momento em que me tornei humana, experimentei algo novo. Pela
primeira vez na minha longa existência, eu senti e percebi que os sentimentos, sejam eles de tristeza ou de
alegria, não se podem evitar.
A Natureza sabe tudo, prevê tudo. Antes de me mandar nesta tarefa, tinha previsto que me irias
acolher no dia em que cheguei ao palácio, mas nunca previu que esta experiência, que eu tive com os
sentimentos, iria ter tanto impacto em mim. Passados poucos dias, depois de te ter realmente conhecido, já
eras demasiado importante para mim e, pelo que sei agora, eu também já o era para ti. A minha missão foi
curta por este motivo apenas. O simples facto de te teres apaixonado por mim alterou-te, mas, apesar de
positivamente, não do modo que a Natureza previa. Por isso, ontem, antes do jantar, recebi uma carta de
outro deus a dizer que teria que te deixar nessa mesma noite.
Por isso é que, durante o jantar, a minha disposição não foi a melhor. Por piores que tenham sido as
notícias que eu tenha recebido, tu transformaste a noite de ontem na melhor da minha vida, não pela vista da
varanda que me mostraste, nem pelo amuleto que me deste, mas sim por me teres dado a conhecer os teus
verdadeiros sentimentos e me teres confirmado que o meu amor não tinha sido entregue à pessoa errada.
Por isso, sim, te estou eternamente grata.
Natura.”
Tudo fazia sentido agora. Naquele momento, a tristeza do rei transformou-se em alegria, a
preocupação em alívio e a dúvida em relação aos sentimentos da jovem certeza.
Mandou encerrar as buscas pela jovem e, calmamente, foi para a sua varanda. Foi então que viu que a
flor, que Natura encantara, se tinha alterado. Ainda se mexia, mas tinha mudado. A flor frágil e simples era
agora uma réplica exata da flor do amuleto que lhe tinha dado. E, dando graças por tudo aquilo que ela lhe
tinha feito a ele e ao seu reino, Thomas denominou aquele dia como dia de Natura e, todos os anos nesse
dia, os tarisianos passaram a plantar uma árvore em honra de Natura e da oportunidade que esta lhes deu a
todos de reconstruir o reino de novo.
Hoje em dia, esse dia naturalmente já não existe, mas temos algo parecido, a Páscoa que é a nossa
oportunidade anual para melhorarmos e para mudar a nossa vida. Sendo assim, tal como a Thomas, também
nos é dada a oportunidade de nos tornarmos melhores, de nos redimirmos dos nossos pecados e, em
harmonia, construir o nosso recomeço.
Clara Loureiro, nº 7, 9º C

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2014 09-03 - ler aprender gn 3 ceb - depois da tempestade, vem a bonança clara loureiro, 9ºc

  • 1. Depois da tempestade, vem a bonança Há muito tempo, antes da formação dos continentes, dos países e dos reinos, havia quatro pequenos conjuntos de arquipélagos: Norte, Sul, Este e Oeste. Cada arquipélago era constituído por pequenas ilhas, que governadas independentemente formavam reinos. Era no arquipélago Norte que se encontrava o mais magnífico e invejado reino de todos. Tarsília era a mais bela e próspera terra conhecida. Dos seus campos verdejantes, todo o tipo de culturas se produziam. À beira do rio e do mar, nunca faltaram peixes. Na floresta e nos prados, havia todo o tipo de animais, e assim, durante muitos anos, se viveu muito bem em Tarsília Tarsília mantinha alianças com as outras ilhas de Norte, e sempre que alguém da aliança se encontrasse em apuros, todos os aliados tinham o dever de intervir. A certa altura, o reino vizinho entrou em guerra e, o rei James, dotado de uma coragem infinita e de uma bondade enorme, partiu para a guerra com o exército tarsiliano. Sete meses se passaram e a guerra findou. A ajuda dos tarsilianos foi indispensável para a vitória dos vizinhos, mas tal contribuição abalou por completo Tarsília. O rei James falecera na batalha final e deixara o trono entregue à sua mulher até que o seu filho Thomas atingisse a maioridade. Dez anos se passaram e o dia esperado por todo o país chegou. Agora com dezoito anos de idade, o príncipe Thomas foi coroado rei de Tarsília. Toda a gente gostava de Thomas. Era um jovem alegre, sempre animado, dotado da maior das belezas, e era acima de tudo muito bondoso. Com o melhor dos reinos para governar, muitas esperanças foram depositadas no jovem príncipe, durante toda a sua vida e, quando finalmente chegou o seu aniversário, todo o povo festejou alegremente a coroação do novo rei. Enquanto o seu pai ainda era vivo, Thomas sabia que, quando fosse coroado, queria ser exatamente como ele. Sempre admirara a sua coragem e a sua bondade, mas o que mais queria era ser adorado da maneira como o pai o era. No segundo em que foi nomeado rei, Thomas decidiu que todo o seu reinado teria como único objetivo assegurar uma vida cheia de regalias e vantagens a todos os tarsilianos. Todos os meses, era organizado um banquete exuberante, para o qual o rei convidava todos os seus súbditos, seguido de um baile no palácio. Mensalmente eram também distribuídas certas quantias de dinheiro e de mantimentos para que todo o reino tivesse o conforto assegurado. O rei nunca exigia nada em troca, fazia tudo por boa vontade e era por isso que todo o povo o adorava. Meio ano passou e chegou então o rigoroso inverno. Após poucos dias, já o reino estava totalmente alterado. Nunca Tarsília fora fustigada por tanto frio. Os campos ficaram cobertos de neve e as plantações ficaram congeladas. Os animais e os peixes fugiram para sítios mais quentes, pois se ali continuassem morreriam ao frio.
  • 2. O povo estava apavorado. Não se tinha conhecimento de nenhum inverno que tivesse deixado consequências tão devastadoras para o reino e nem o próprio rei sabia bem o que havia de fazer. Mas entretanto, lembrou-se de que nas reservas do palácio se encontravam todos os excedentes da produção agrícola, o que daria para sustentar a população até conseguir alguma ajuda dos países vizinhos. O rei foi dirigido até às reservas, porém apanhou uma grande desilusão. Os alimentos que lá se encontravam não sustentariam todo o reino mais do que um mês, e ainda agora o inverno começara. Thomas fechou-se no seu quarto e pediu para que ninguém o incomodasse. O rei estava intrigado com a situação. Era estranho que numa terra como a de Tarsília, onde os invernos sempre foram tão amenos, fizesse tanto frio e nevasse tanto. Mas mais do que intrigado, o rei sentia-se culpado. Se o rei não tivesse dado todos aqueles banquetes e todas aquelas festas, o reino teria guardado muitos sustentos e teria poupado muito dinheiro. Tinha saudades do pai e, naquele momento, presumia que todo o reino tivesse, porque, se fosse ele a governar, nada disto estaria a acontecer. As horas passaram e o rei, com a consciência ainda mais pesada que as camadas de neve que cobriam o reino, acabou por adormecer. Enquanto dormia, apareceu-lhe em sonhos uma figura feminina que para ele caminhava. Naquela noite, sonhou com a mulher mais bonita que vira em toda a sua vida. Os seus cabelos brilhavam tanto como os raios de sol, os seus olhos eram mais azuis que o mar e ostentava um sorriso puro e verdadeiro. Trazia um vestido comprido, todo ele adornado de flores verdadeiras e à sua volta voavam várias borboletas coloridas. Caminhava graciosamente, como se estivesse a dançar. Há medida que se aproximava, o rei ia ficando tanto mais nervoso como mais encantado. Ao aproximar-se do rei, a mulher não pôde deixar de reparar na sua expressão assustada, pelo que decidiu começar ela a falar. - Provavelmente não sabe quem eu sou, mas eu sei quem tu és, Thomas. - Creio que nunca nos encontrámos, eu ter-me-ia lembrado. – respondeu o rei muito intrigado. - Sou Natura, a deusa ancestral de Tarsília e vim em auxílio ao teu reino. Muito antes de os teus antepassados povoarem esta terra, já eu era por ela responsável. A tarefa que me foi proposta era apenas manter o equilíbrio natural em todo o reino, de modo a que este fosse habitável. No dia em que os teus antepassados cá chegaram, voltei para o pé dos outros deuses. Antes de partir, tive que jurar que sempre que o reino precisasse de mim eu ajudaria. Há muitos anos que já não venho cá, mas recentemente tomei conhecimento da vossa situação e aqui estou eu. O rei permaneceu calado, durante algum tempo. Então, as lendas sobre a misteriosa deusa protetora eram verdadeiras. Nunca pensara na hipótese de Natura existir mesmo, pois não seria de todo o primeiro mito que ouvia. Quando estava mesmo para responder, o rei acordou. Acima de tudo, o rei ficou desapontado. Como era possível um sonho parecer tão real? De qualquer maneira, é escusado pensar nos sonhos depois de estarmos acordados. O rei levantou-se da cama, calçou os chinelos, vestiu o roupão e afastou as cortinas da janela. Não podia acreditar. As nuvens, a neve e o vento
  • 3. tinham desaparecido. Não, não era possível numa noite, toda a paisagem se ter alterado tão drasticamente. E foi então que o rei se lembrou do sonho. Será que tudo aquilo tinha sido trabalho de Natura? Se calhar foi por isso que o sonho pareceu tão real, se calhar o sonho tinha sido mesmo real. Desceu as escadas apressadamente, pronto para tomar o seu pequeno-almoço e, mal se sentou na mesa, foi informado pelo seu conselheiro que estava no portão do palácio uma jovem que dizia precisar urgentemente de falar com o rei. Como era hábito seu, Thomas foi ao portão receber a visita e qual foi o seu espanto quando viu ali, mesmo à sua frente, a deusa Natura, desta vez certamente real. Ao reconhecê-la, mandou imediatamente que abrissem os portões e acompanhou-a até ao palácio. Continuava bela, mas um tanto diferente. Ao contrário da noite anterior, trazia um vestido pobre, sujo e todo esfarrapado. Para além disso, na noite anterior demonstrava um notável à vontade com o rei, mas agora agia timidamente e raramente abriu a boca no caminho para o palácio. Mandou que lhe arranjassem o melhor quarto e pusessem ao seu dispor tudo aquilo de que ela precisasse. Meia hora mais tarde, Natura encontrou- se com o rei no seu escritório, já devidamente arranjada e com todo o seu esplendor restaurado. - Desculpe, se teve que esperar por mim! – exclamou imediatamente o rei – Mas só há pouco tempo é que acordei. - O que importa é que me recebeu – respondeu Natura, com um sorriso amável nos lábios – Ainda se lembra de mim? - Como me poderia eu esquecer? Nunca um sonho me pareceu tão real e confesso-lhe que fiquei desapontado, quando finalmente acordei. Contudo, quando abri a janela e pude observar as mudanças na paisagem, uma alegria enorme invadiu o meu coração. O meu reino está a salvo graças a si. Estou-lhe eternamente agradecido. O rei não parava de sorrir e os seus olhos brilhavam continuamente. Mas, ao proferir estas últimas palavras, tanto ele como a deusa ficaram de faces coradas. - Fico realmente feliz por ver tanta determinação, mas o seu reino ainda não está a salvo – anunciou Natura, agora menos sorridente – Eu posso ter restaurado o clima de Tarsília, mas não tenciono trazer de volta o alimento. Vai ter que ser o seu povo a cultivar de novo. Mal habituados como estão, a ideia de ter que trabalhar arduamente de novo não lhes deve agradar, mas a responsabilidade de os motivar é do Thomas. Se tudo correr bem, brevemente os animais e peixes voltarão e Tarsília estará de novo em pleno equilíbrio. - Farei tudo o que estiver ao meu alcance. Prometo-o. -Então, a minha missão aqui está completa. Boa sorte, Thomas! – proferiu Natura sorrindo. Esta despedida tão repentina deixou o rei triste e dececionado. Toda a alegria que sentia anteriormente transformou-se em tristeza, mal ouviu aquelas palavras. - Por favor, fique! – suplicou o rei sem querer, assim que Natura atravessou a porta – Eu preciso de si, quer dizer, o meu povo precisa de si. Não nos abandone!
  • 4. Ao ouvir estas palavras, Natura não pôde ficar indiferente. Também ela queria ficar, mas a sua forma humana era temporária e teria eventualmente que voltar para o pé dos outros deuses. Todavia, como que por magia, esqueceu as suas obrigações e, tentando não se mostrar nervosa, voltou-se para o rei e respondeu- lhe: - Ficar seria abusar da sua boa vontade. - Mas a sua presença nunca seria um abuso – retribuiu repentinamente o rei, corando – Peço-lhe mais uma vez que fique. Não nos faltam quartos vazios e nada me deixaria mais feliz do que ter a sua ajuda na tarefa que me espera. - Assim sendo, não vejo nada que me possa impedir de ficar. E, explodindo de alegria, a rapariga saiu do escritório do rei. Thomas passou o resto do dia radiante por poder hospedar Natura e esta, por sua vez, passou o dia radiante por poder estar no palácio de Thomas. No dia seguinte, mal acordou, o rei deixou um bilhete ao Horace, o seu mordomo, destinado a Natura. Logo de seguida, dirigiu-se à vila, mais propriamente à casa de um grande amigo de infância, George Carter. Entre muitos festejos e demonstrações de alegria por parte da família Carter, Thomas pediu ao amigo que ficassem a sós. Disse-lhe que era um assunto importante e isso bastou para que os restantes abandonassem de imediato a sala. - Preciso da tua ajuda – começou Thomas – Como já deves ter reparado, a mudança de clima foi drástica, mas depois eu explico-te isso. Hoje estou aqui para te pedir um favor, um grande favor - Mas, Thomas, promete-me que me contas tudo depois, nunca foste de me esconder segredos. – retorquiu George. - Acontece que não é um segredo meu, se fosse, não hesitava em contar-te. O que eu queria era que tu organizasses um grupo de agricultores e os orientasses para voltarem a cultivar - Thomas, vê-se mesmo que já não visitas os campos há muito tempo. Sabes, é que já passou meio ano desde que foste coroado. Logo, há meio ano que os agricultores pouco produzem. - Mas a tempestade só se instalou no reino há umas semanas e agora já nem há sinais dela, não há motivos para eles continuarem parados. - O problema é que não foi a tempestade que os fez parar. O facto de terem sempre tudo sem terem que fazer nada é que os deixou muito mal habituados. - Tu achas que fui eu que fiz mal em tentar dar-lhes alguma qualidade de vida? Eu estava a tentar ajudá-los. - Não duvido das tuas intenções, porém agora eles esperam que tu arranjes uma solução. - Mas eles são a minha solução! – gritou Thomas, já revoltado. - Eu sei que sim, mas é a eles que tens que mostrar isso. – sugeriu calmamente o amigo.
  • 5. - Desculpa, exaltei-me, mas assim vai ser mais difícil remediar a nossa situação. Ouve, eu preciso que reúnas mesmo um grupo de agricultores e mostra-lhes, por favor, que eles são a nossa única salvação. - Mas os solos estão inférteis -Não te preocupes, conheço alguém que pode acabar com esse problema. – declarou o rei, com um sorriso esboçado nos lábios. Quando chegou finalmente ao palácio, viu os campos de cultivo reais em grande movimento. Aproximou-se para analisar melhor a situação, e avistou Natura e alguns dos seus criados a tratarem dos campos. - Não precisava de fazer isto, é uma hóspede! – exclamou o rei, radiante. - Bem, já que vou aqui ficar, ao menos que faça alguma coisa útil. Sem hesitar, também o rei pegou numa enxada e se juntou aos seus criados. Trabalharam o dia inteiro sem parar, e ninguém se queixou, aliás, toda a gente gostou de ali estar. No entanto, os criados estavam intrigados. Como é que com um dia de trabalho já se viam alguns rebentos a nascer da terra?! Parecia-lhes impossível. Por outro lado, Thomas e Natura achavam a situação divertida e naquela tarde tornaram-se muito mais cúmplices. Natura já estava hospedada no palácio há pouco mais que uma semana, mas a jovem e o rei já se tinham tornado grandes amigos e eram inseparáveis. Eis, então, que Thomas mandou que arranjassem a sala de jantar para ele e para a convidada. Os criados estranharam a ordem, pois aquela mesa só era posta em ocasiões muito especiais e todos notaram no rei um entusiasmo e uma alegria que não lhe conheciam. O rei já nem sabia se estava a fazer tudo aquilo para lhe agradecer ou se para a impressionar. Às oito horas em ponto, o rei encaminhou-se impacientemente para a sala de jantar. Teve que aguardar um pouco pela chegada de Natura, mas mal a viu ao longe a descer a escadaria, toda a espera pareceu insignificante. Trazia um vestido azul que pertencera à sua mãe em tempos e que combinava perfeitamente com os seus olhos. “Como é bonita!” pensava para si o rei maravilhado. Naquela noite, Thomas voltou a reviver o seu sonho com Natura. Sim, a maneira como ela caminhava para ele, lenta e graciosamente, os seus cabelos de ouro esvoaçando, o seu sorriso verdadeiro… Apenas uma coisa mudara. No seu sonho, ela tinha a capacidade de o intimidar, como se fosse um ser superior e, de facto, qualquer deus é superior aos homens. Todavia, naquela noite, a jovem já causava nele outro efeito. Quando perto dela, o rei ficava nervoso, mas não como no sonho. O respeito que outrora sentia por ela evoluíra para algo maior. Enquanto dantes se sentia inferiorizado quando comparado a ela, agora sabia que estavam de igual para igual. E o sorriso dela era capaz de afastar da mente de Thomas todos os problemas imagináveis. O rei estava de facto apaixonado não pela deusa, mas sim pela humana em que Natura se tornara.
  • 6. O jantar correu melhor do que aquilo que ambos esperavam. Os jovens davam-se lindamente e nunca se aborreciam. O sentimento era mútuo. Contudo, ambos o desconheciam. Mas essa doce incerteza era o que tornava especial cada momento que passavam juntos. Mal finalizaram a refeição, o rei decidiu mostrar à convidada a sua divisão favorita de todo o palácio: a pequena varanda junto ao seu quarto, a que só ele tinha acesso. De lá viam-se os imensos bosques de Tarsília, debaixo do céu estrelado. Era uma vista maravilhosa. O rei gostava de ir para lá, porque se sentia em plena paz de espírito, quando tão perto da natureza. Na varanda, o rei só tinha um pequeno sofá, onde se sentava a ler no verão, um guarda-sol e um pequeno vaso, do qual por vezes até se esquecia. Que bem que sabia a Natura estar tão perto da natureza. E que bem que sabia a Thomas estar tão perto de Natura. Ficaram um tempo por ali e, quando finalmente ficaram sem assunto de conversa, a jovem aproximou-se do pequeno vaso, no qual se encontrava um pequeno malmequer muito murcho. De seguida, tocou-lhe e, como que por magia, a flor reergueu-se e voltou a ganhar vida. Bastou um sopro seu para a frágil flor começar a dançar devagar e graciosamente. A transformação da flor era um espetáculo digno de se assistir. Tão simples, mas tão belo. Thomas estava encantado, mas de Natura não se podia dizer o mesmo. Pela primeira vez, o rei julgou detetar-lhe uma certa tristeza no olhar. Perguntou-lhe o que se passava, porém ela permaneceu em silêncio e fingiu não ter ouvido nada. O problema com que naquele momento Natura se deparava estava muito além da compreensão de Thomas. Thomas, que colocava a felicidade da jovem à frente de tudo e de todos, entrou de novo no seu quarto e, pelo que Natura conseguia ouvir, revirou todas as gavetas dos armários à procura de alguma coisa. Quando voltou à varanda, tinha algo entre as mãos, algo que pela maneira como o rei lhe pegava devia ser de grande valor. Sentou-se no sofá junto à jovem e abriu as mãos, deixando assim o objeto descoberto. Era uma pequena caixa de madeira, já muito envelhecida, com alguns pormenores dourados. Thomas fez sinal a Natura para que a abrisse e a jovem, hesitando, assim o fez. Dentro da caixa estava uma flor feita de pedras preciosas, com pétalas de várias cores. Ela ficou deslumbrada, pois aquela era a mais bela peça de joalharia que alguma vez tinha visto. - É para ti – declarou o rei – para quando estiveres triste. - Não, eu não o posso aceitar – recusou incrédula a jovem. - Não o aceito de volta. Por favor, faz-me a vontade e fica com ele para ti. - Mas eu não tenho nada para te dar em troca. - Quando oferecemos por boa vontade, não esperamos nada em troca – acrescentou Thomas – E tu já me deste mais a mim do que eu alguma vez te poderei dar. - A minha ajuda não foi nada, só fiz o que me compete. – disse Natura.
  • 7. - Acredita, salvaste-me em mais que um aspeto. – perante o silêncio da rapariga, o rei decidiu prosseguir – A tua ajuda deu-me força e coragem para ajudar o meu reino devidamente, e é certo que agora sou muito mais responsável e ponderado. Mas, ao que eu me referia realmente era ao facto de teres despertado em mim sentimentos que nunca ninguém conseguira. Ao acabar o discurso, Thomas estava envergonhado por se ter exposto assim e Natura, ao se aperceber disso, não hesitou em o abraçar. E assim, nos braços um do outro ficaram durante algum tempo. Delicadamente, Natura despediu-se do rei, desejou-lhe uma boa noite e subitamente se retirou. Porém, Thomas ainda não estava com muito sono, pelo que decidiu ficar mais um pouco ali na varanda, na companhia das estrelas brilhantes, do luar reluzente e da sua pequena flor encantada. Nunca se sentira tão feliz em toda a sua vida, pois agora sabia que tanto ele como Natura sentiam o mesmo. Quando o cansaço já começava a aparecer, o rei decidiu ir dormir também. No dia seguinte, Thomas não pôde deixar de acordar com o barulho que se ouvia lá de fora. Ouvia-se uma multidão agitada, mas principalmente alegre. Curioso como era, o rei vestiu o roupão e foi à janela para ver o que se passava. Mal abriu as cortinas, pôde ver muitos dos seus súbditos reunidos no portão do palácio. Contudo, continuava sem perceber o porquê, por isso desceu e foi ver o que se passava. Não foi preciso pedir a alguém que lhe explicasse o que se estava a passar, bastou-lhe seguir a multidão. Depressa descobriu a razão de toda a euforia. Nos jardins e nos campos do palácio, mesmo naqueles que não tinham tido qualquer tipo de tratamento e manutenção, tinham nascido árvores, flores, arbustos e todo o tipo de frutos e vegetais. George Carter e um pequeno grupo de agricultores já se preparavam para se dedicarem de novo ao trabalho. Do palácio podiam- se ver os cavalos a correr nos prados, os pássaros a sobrevoar o reino. Tudo voltou a ser o que fora antigamente, não só no palácio, como em todo o reino de Tarsília. Thomas, por sua vez, procurou Natura, mas não a conseguiu encontrar no meio da multidão. Sabia que tudo aquilo acontecera por causa da sua magia, pois na noite anterior ele tinha visto aquilo de que ela era realmente capaz de fazer. Mal podia esperar por lhe agradecer por tudo aquilo. Já que ela não parecia estar lá fora, pediu a uma criada que a acordasse e que ela viesse ao escritório ter com ele. A criada obedeceu imediatamente, e encaminhou-se ao quarto de Natura e, ao ver a ordem a ser cumprida, o rei dirigiu-se ao escritório. O tempo passava, mas a jovem não aparecia. O rei começava a estranhar a sua ausência e então decidiu ir ele próprio chamá-la. Quando chegou ao corredor do quarto de Natura, viu vários criados à porta que, assim que viram o rei a aproximar-se, ficaram de certo modo aterrorizados e rapidamente se afastaram da porta. Thomas, que achava incomum este comportamento por parte dos criados que muito estimava, ficou intrigado, mas lembrou-se que tinha ido até ali procurar Natura. À medida que se aproximava do quarto, os criados afastavam-se dele e, quando finalmente abriu a porta do quarto da jovem, ele próprio ficou aterrorizado.
  • 8. O quarto estava vazio, mas perfeitamente arrumado. Era evidente que ninguém passara ali a noite. O quarto era grande, no entanto não havia maneira nenhuma de Natura estar ali. Pediu que a procurassem, por todo o palácio e por todas as redondezas e que o deixassem sozinho. Fechou a porta e deitou-se na cama. Não sabia o que pensar e preferia nem sequer o fazer. Naquele momento, estimava mais que ele próprio apenas o seu reino e Natura. Estava preocupado com ela, com medo de a perder, pois perder algo que se ama é como perdermo-nos a nós próprios. Estar ali parado sem fazer nada não o ajudava, por isso decidiu ir ele próprio procurá-la, mas não antes de revistar o quarto em busca de algum sinal. Procurou por todo o lado e só quando abriu o armário é que encontrou algo de relevante. Viu no fundo do armário, por debaixo dos outros vestidos perfeitamente alinhados e impecavelmente engomados e em cima dos muitos sapatos de senhora, o vestido que Natura usara na noite anterior. Hesitou em lhe pegar, porém, quando se conformou que a situação não podia piorar, agarrou-o e esteve com ele nas mãos por breves segundos. O vestido estava amarrotado e perdera todo o encanto que no dia anterior tivera. O rei atirou-o para a cama, pois já de nada aquele pedaço de tecido lhe servia. Mas, quando o largou, reparou que de dentro do vestido saiu uma carta. Thomas pegou-lhe e começou a lê-la. “Querido Thomas, Eu sabia que ias acabar por encontrar esta carta. Deves estar a estranhar a minha partida repentina. Sim, é verdade! Desta vez eu parti de vez, e dificilmente me vais voltar a ver. Já há algum tempo que eu previa que a minha partida estava breve, e contra isso nada podia fazer. Pode parecer estranho, mas não me estava destinado a mim decidir quando é que teria que deixar o teu reino. Até os deuses têm um superior, e a minha superior é a Natureza. O sonho que uma vez tiveste comigo era um aviso enviado pela Natureza de que terias que mudar a tua atitude e a tua maneira de governar. Esse aviso só era para ser dado uma vez. O suposto era a Natureza fazer a sua parte, que era dar-te todas as condições naturais que precisavas, mas a maneira de as aproveitares cabia-te a ti. Depois dessa noite, nem era suposto voltares a ver-me mais nenhuma vez, mas a Natureza teve outra ideia. Ela sabia que os humanos têm a tendência de abandonar as suas obrigações habituais, quando têm o que querem, por isso lembrou-se de me enviar com uma nova missão. Desta vez, a Natureza enviou-me com outra missão, mudar a tua maneira de ser para que, quando o reino já estivesse salvo, tivesses todas as capacidades para o governar dignamente. Quando acabasse a minha missão, teria que abandonar Tarsília. Foi-me difícil aceitar esta tarefa, porque nunca acreditei que conseguiria alguma vez mudar a maneira de ser, a essência de alguém. Mas, para vir ao teu reino, eu tive que mudar também. Tive que deixar de ser uma deusa e tornar-me uma humana. No momento em que me tornei humana, experimentei algo novo. Pela primeira vez na minha longa existência, eu senti e percebi que os sentimentos, sejam eles de tristeza ou de alegria, não se podem evitar.
  • 9. A Natureza sabe tudo, prevê tudo. Antes de me mandar nesta tarefa, tinha previsto que me irias acolher no dia em que cheguei ao palácio, mas nunca previu que esta experiência, que eu tive com os sentimentos, iria ter tanto impacto em mim. Passados poucos dias, depois de te ter realmente conhecido, já eras demasiado importante para mim e, pelo que sei agora, eu também já o era para ti. A minha missão foi curta por este motivo apenas. O simples facto de te teres apaixonado por mim alterou-te, mas, apesar de positivamente, não do modo que a Natureza previa. Por isso, ontem, antes do jantar, recebi uma carta de outro deus a dizer que teria que te deixar nessa mesma noite. Por isso é que, durante o jantar, a minha disposição não foi a melhor. Por piores que tenham sido as notícias que eu tenha recebido, tu transformaste a noite de ontem na melhor da minha vida, não pela vista da varanda que me mostraste, nem pelo amuleto que me deste, mas sim por me teres dado a conhecer os teus verdadeiros sentimentos e me teres confirmado que o meu amor não tinha sido entregue à pessoa errada. Por isso, sim, te estou eternamente grata. Natura.” Tudo fazia sentido agora. Naquele momento, a tristeza do rei transformou-se em alegria, a preocupação em alívio e a dúvida em relação aos sentimentos da jovem certeza. Mandou encerrar as buscas pela jovem e, calmamente, foi para a sua varanda. Foi então que viu que a flor, que Natura encantara, se tinha alterado. Ainda se mexia, mas tinha mudado. A flor frágil e simples era agora uma réplica exata da flor do amuleto que lhe tinha dado. E, dando graças por tudo aquilo que ela lhe tinha feito a ele e ao seu reino, Thomas denominou aquele dia como dia de Natura e, todos os anos nesse dia, os tarisianos passaram a plantar uma árvore em honra de Natura e da oportunidade que esta lhes deu a todos de reconstruir o reino de novo. Hoje em dia, esse dia naturalmente já não existe, mas temos algo parecido, a Páscoa que é a nossa oportunidade anual para melhorarmos e para mudar a nossa vida. Sendo assim, tal como a Thomas, também nos é dada a oportunidade de nos tornarmos melhores, de nos redimirmos dos nossos pecados e, em harmonia, construir o nosso recomeço. Clara Loureiro, nº 7, 9º C