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O Pentágono e a NATO. Gastos militares e armamentos



Sumário

   1. Enquadramento da política belicista do Pentágono e do seu alter ego,
      a NATO
   2. O volume dos gastos militares
   3. A dimensão das forças armadas
   4. O armamento dos principais paises
   5. Empresas produtoras de armamento
   6. Países vendedores de armamento
   7. Vendedores por tipo de armamento
   8. Países compradores de armamento


1 - Enquadramento da política belicista do Pentágono e do seu alter ego, a
    NATO

O volume dos gastos militares para a grande maioria dos países está
relacionado com o grau de conflitualidade regional, tendo em conta que,
nesses casos, não existem pretensões hegemónicas a nível global; ou com o
poder interno das castas militares, mais ou menos extensas ou influentes no
dimensionamento dos seus meios e mordomias. Em todos os países, por outro
lado, existem relações mais ou menos claras, demasiadas vezes corruptas,
entre os poderes civis, as castas militares, os fornecedores de armamento e
discretos intermediários, que recolhem avultadas comissões. Na base estão
as populações e nomeadamente a multidão de trabalhadores e ex-
trabalhadores, pouco ou nada beneficiados, com essas transações e cujo
papel se resume a arcar com os custos inerentes, que lhes reduz o
rendimento.

Em alguns casos, a pertença a coligações de Estados envolve relações
solidárias, em regra inseridas num quadro hierárquico, encimado por uma
potência dominante. Nesse contexto, países pequenos, sem capacidades
de desenvolverem pretensões hegemónicas a nível global ou, mesmo
regional, sem ameaças descortináveis à sua segurança, são envolvidos em
encargos, conflitos e guerras, resultantes dessa inserção hierárquica, por
conta da satisfação de interesses de terceiros, qual tributo senhorial,
injustificável para os cidadãos.

Naturalmente que a NATO é o exemplo mais completo de coligação, cuja
cabeça é o Pentágono e que abarca politicamente 28 Estados, em regra,
com o entusiasmo das respectivas castas militares, bem pagas e doutrinadas
ideologicamente para obedecer e que constituem, no seu conjunto, um
género de guarda pretoriana, com códigos de actuação e linguagem


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comuns. A NATO, por outro lado, é a única organização militar,
eufemisticamente designada como fornecedora de um serviço de
segurança colectiva e solidária entre os seus membros; e que se arroga
também a actuar sobre os países não membros e contra os seus povos, no
quadro de uma pretensão de intervenção planetária, perigosamente
susceptível de aplicação prática, dados os meios e grau de coesão que
detém. A NATO define mesmo uma escala com os vários graus de aplicação
da sua estratégia:

   •   Protecção preventiva (caso de sanções)
   •   Gestão pró-activa das crises (tipo intervenção no Haiti)
   •   Utilização da intervenção militar (Afeganistão)
   •   Estabilização post-intervenção (pretensamente, o Iraque actual)

Nenhuma outra coligação formal ou informal de Estados, tem o mesmo
poder de intervenção global, quer político, quer militar, alicerçado na
constante existência de um poder de destruição arrasador, por sua vez,
almofadado por uma apropriação francamente assimétrica dos recursos e
da riqueza criada pelo Homem.

Em 2001- e, sublinhe-se, muito antes do 11 de Setembro - sob a direcção do
então vice.presidente dos EUA, Dick Cheney, foi traçada a NPE – Nova
Política Energética, baseada nos seguintes pontos:

   •   A segurança nacional dos EUA tem de estar assegurada, como
       axioma, como princípio inegociável e sagrado, devendo, para o
       efeito, toda a restante Humanidade estar preparada para se
       subordinar a tão alto desígnio;

   •   A manutenção da ordem capitalista mundial, actualmente vigorando
       no âmbito do paradigma neoliberal (como antes sob o primado
       keynesiano), exige um poder militar esmagador que retire veleidades a
       qualquer Estado para se colocar em posição frontal de desafio face
       aos EUA, por um lado, e aos povos, o direito de revolução social, por
       outro;

   •   Para que a economia norte-americana funcione, necessita de um
       intenso recurso a bens energéticos que, sendo essencialmente de
       origem fóssil, são constituidos por reservas mundiais limitadas e,
       portanto, objecto de disputas muito fortes;

   •   A própria manutenção do aparelho militar exige um fluxo garantido e
       abundante de recursos energéticos que contribui, por si só, para uma
       pressão para o controlo desses recursos. senão das suas fontes, pelo
       menos dos seus canais de transporte – vias marítimas, oleodutos e
       gasodutos;



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•   Apesar de possuir grandes recursos e de ser grande produtor de
       produtos energéticos, os EUA têm um volume de consumo muito
       superior às suas próprias capacidades domésticas. De acordo com a
       NPE, a situação a prazo, no capítulo do petróleo, é preocupante:

                                         2002          Prev 2020
                     Produção              8.5             7.0
                     Consumo              19.5            25.5
                     Importação           11.0            18.5
                     Valores em milhões de barris por dia (Mb/d)

   •   Para se mover neste complexo cenário os EUA definiram as vantagens
       para os seus interesses da desestabilização política e da fragmentação
       de Estados, como as levadas a cabo na Jugoslávia, na antiga URSS,
       com a autonomia curda no Iraque.

   •   Mais recentemente, James Jones, comandante supremo da NATO na
       Europa, entre 2003 e 2006, foi designado como assessor de segurança
       nacional de Obama, sabendo-se que é um firme defensor do
       alargamento da NATO a leste e a sul, para controlo dos recursos
       energéticos necessários aos EUA. Esta linha de continuidade face à
       administração Bush e a actuação dos EUA no apoio ao golpe de
       estado nas Honduras, revelam a grande unidade entre republicanos e
       democratas, no que se refere à extensão geográfica do seu conceito
       comum sobre a defesa dos interesses nacionais dos EUA. Por outro
       lado, o Pentágono, em ligação com o sector do petróleo e as suas
       multinacionais e com a indústria do armamento, goza de uma grande
       autonomia face à presidência, é um estado dentro do Estado.
       Condoleeza Rice e Dick Cheney, eram altos quadros do sector
       petrolífero e Robert Gates, manteve-se como responsável máximo do
       Pentágono, transitando do governo de Bush para o de Obama.

Para além deste painel sumário, desenham-se alguns desenvolvimentos e
opções que conduzem à promoção de conflitos e outras acções levadas a
cabo pelos EUA, com maior ou menor envolvimento dos seus aliados da
NATO ou terceiros, circunstanciais, como a Rússia, Israel e países do Maghreb
na operação Active Endeavour, os países do Golfo Pérsico do Conselho de
Cooperação do Golfo, ou a Índia no patrulhamento do estreito de Malaca.

   •   Para solucionar a questão energética, os EUA enquadraram a
       necessidade do aumento do número de fornecedores, o surgimento
       de novas jazidas, o recurso a fontes alternativas limpas (solar, eólica…)
       ou poluentes (nuclear, carvão), sabendo-se que são parcos
       contributos oara o problema. Existem outros grandes consumidores,
       nomeadamente a China, ávidos de garantir abastecimentos,
       imprescindíveis para o seu elevado crescimento económico e estão
       activos, quer em contratos de exploração noutros países, como na
       construção de novos canais de encaminhamento do petróleo e do


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gás. Por outro lado, o surgimento de grandes jazidas vai rareando e as
       condições de exploração (por exemplo, no mar) são cada vez mais
       caras. Finalmente, as renováveis têm ainda um longo caminho a
       percorrer para substituirem o petróleo, nomeadamente nos transportes
       enquanto que o nuclear não colhe grandes simpatias entre as
       populações;

   •   As grandes reservas de petróleo e gás encontram-se na Rússia, na Ásia
       Central, no Médio Oriente e na Venezuela e o grande consumo situa-
       se nos EUA, na Europa, no Japão e na China; para além de uma longa
       lista de outros produtores, mormente em África ou a Noruega e outros
       consumidores de crescente importância como a Índia. Esta não
       justaposição levanta pesados problemas técnicos de logística e
       transporte que acentuam as disputas entre os diversos operadores
       mas, que lhes servem também de instrumentos, num quadro
       geopolítico mais alargado;

   •   O controlo dos fluidos saídos dos poços e do seu encaminhamento
       exige o controlo político dos Estados produtores bem como de outros,
       relevantes para a disponibilidade energética junto dos grandes
       consumidores;

   •   Entre outros factores pouco favoráveis aos EUA, refere-se em primeiro
       lugar a Rússia, que continua a ter um poder geoestratégico, não
       ultrapassável com sanções ou políticas de canhoneira; que tem
       enormes reservas; um poder político forte em torno do seu
       emblemático Putin que domina os recursos energéticos do país e faz
       deles a espinha dorsal da economia russa; que é o natural
       abastecedor da Europa Ocidental, directamente ou como via de
       passagem para as exportações do Turquemenistão e do Cazaquistão;
       que tem a vantagem de ter como vizinhos próximos o Japão e a
       China, grandes importadores;

   •   Essa ligação à UE processa-se através de várias condutas que
       obrigatoriamente têm de atravessar a Ucrânia ou, menos
       problematicamente, pela Biolorússia que é um estado vassalo de
       Moscovo, ambos aptos a constituir matéria para dificuldades
       provocadas pelas agências da CIA, como na “revolução laranja”
       ucraniana, que parece já ter perdido a cor e o cheiro;

   •   Os grandes produtores da Ásia Central, para mais enquadrados com a
       Rússia e a China na Organização de Cooperação de Xangai, tendem
       a coordenar as suas economias com os seus gigantescos vizinhos,
       passado um periodo de permeabilidade à adulação norte-americana
       e de fraqueza da Rússia de Ieltsin;




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•   A Sul, as reservas do Irão são incontornáveis pela sua dimensão, tal
       como é intolerável o regime iraniano para qualquer administração
       norte-americana, seja ela fundamentalista evangélica com os
       republicanos, ou menos ideológica com Obama. Nesse contexto,
       prometem durar as manobras de intimidação e cerco, com o
       argumento do uso militar do nuclear; a aplicação de ineficazes
       sanções sob o patrocínio dessa entidade difusa denominada
       “comunidade internacional; e a contenção da agressividade israelita,
       sempre disposta a aventuras guerreiras, embora não tenha ganho
       nenhuma desde 1967;

   •   Ainda a Sul, coloca-se o Afeganistão onde os norte-americanos tinham
       grandes esperanças de construir a saída do petróleo da Ásia Central
       para o Índico – fora da intervenção russa ou iranuana - mas que nunca
       se poderá realizar num quadro de guerra civil; seja como agora entre o
       prefeito de Kabul (Karzai) e os talibans ou, em alternativa, entre os
       senhores da guerra entre si pelo controlo do tráfego da droga;

   •   No Golfo Pérsico, os EUA construiram uma rede de protectorados
       petrolíferos e bases militares – Iraque, Kuwait, Bahrein, Qatar, Oman –
       confrontando-se, paralelamente com a eterna suspeita de infidelidade
       por parte dos sauditas;

   •   No Cáspio, interesses ocidentais construiram o BTC oleoduto que liga a
       margem oriental (Turquemenistão e Cazaquistão) à margem ocidental,
       restrita ao Azerbaijão da família Aliev e que daí segue pela Geórgia e
       pela Turauia até desembocar em Ceihan, no Mediterrâneo Oriental,
       próximo da fronteira síria;

   •   Finalmente, a Venezuela, apesar de continuar a ser uma fonte
       energética importante no abastecimento dos EUA, apresenta um
       modelo social, cujo exemplo para outros países da América Latina é
       intolerável para os EUA, habituados desde sempre a monitorar a
       evolução das sociedades latino-americanas para que não ousem
       arranhar o poder imperial. E daí o reforço da presença militar na
       Colômbia, em Aruba e a reactivação da IV Esquadra no Atlântico sul,
       coincidentes com novas descobertas petrolíferas nos mares do Brasil.

Actualmente, os EUA, apesar do seu incontestável poder militar, vêm
registando revezes estratégicos que se podem considerar como factores de
recuo e decadência, que os obrigam, a sucessivas intervenções em outros
Estados, em vez da utilização do chamado “soft power”, a um recurso
crescente à disseminação da sua presença militar e à diluição da sua
liderança em quadros formais e multilaterais de actução. Daí a importância
da NATO no dispositivo militar estratégico do capitalismo ocidental.




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•   Os pontos fortes que os EUA têm neste largo tabuleiro são vários. Um é
       a Turquia, que domina historicamente os estreitos entre o mar Negro e
       o Egeu mas, que vem procurando manter uma grande autonomia
       estratégia onde as relações e o armamento norte-americano ou a
       amizade com Israel são temperados pela boa relação com o Irão e a
       recusa no apoio aos EUA na invasão do Iraque;

   •   Outro é a fortaleza israelita cuja relevância no policiamento do Médio
       Oriente obriga os EUA a tolerar o genocídio palestiniano, ganhando
       em contrapartida, o anti-americanismo da “rua árabe”; a mostrar-se
       distraido com a proliferação nuclear protagonizda por Israel; a
       englobar este último em projectos alternativos de condução do
       petróleo de Ceihan até Eilath, porto israelita no mar Vermelho,
       evitando assim o Suez para a ligação entre o Índico e o Mediterrâneo;

   •   O poder militar dá aos EUA e à NATO grandes vantagens no domínio
       aero-naval à escala global, com um sistema logístico em fase de
       adaptação, no sentido da maior mobilidade, com a utilização de uma
       vasta rede de bases, onde estacionam soldados e equipamentos em
       estado de elevada prontidão e maleabilidade táctica;

   •   Do ponto de vista estritamente político-ideológico, a administração
       Obama abandonou as teses xenófobas de Huntington sobre os
       choques de civilizações, onde o inimigo se centrava no mundo
       islâmico e nos países de cultura cristã ortodoxa. Vem-se assistindo, por
       um lado, a tentativas várias de cooptação da Rússia para a estratégia
       ocidental, com o abandono da construção do escudo de mísseis na
       Europa de Leste, o envolvimento no isolamento do Irão, no
       patrulhamento dos mares da Somália, o que é susceptível de agradar
       à UE, pouco interessada em crispações com o seu grande fornecedor
       de energia. E, simultaneamente, dividir a OCX que congrega a Rússia,
       a China, os países da Ásia Central e que tem como observadores
       interessados a Índia e o Irão. Por outro lado, procura-se estabelecer
       uma dicotomia entre os muçulmanos moderados e os jihadistas, os
       terroristas, os fundamentalistas, com óbvios propósitos de aliciamento
       de uns contra os outros, mesmo que não sejam claras as fronteiras
       entre ambos os segmentos;

   •   Grande parte do comércio mundial circula pelo Índico e liga a Ásia
       Oriental (Japão, China…) à Europa – sem referir origens/destinos
       intermédios como a África do Norte e a Oriental ou a Ásia do Sul -
       através de um conjunto de fieiras ou, de modo mais explícito, por
       estreitos. Do mesmo modo e apesar da crescente existência de
       alternativas, o petróleo do Médio Oriente é encaminhado para o
       Extremo Oriente e para a Europa através dos mesmos estreitos, que se
       tornam portanto fulcrais, pontos de potenciais estrangulamentos.
       Sucede, que essas vias são vitais para a Europa, para a Ásia Oriental e


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mesmo do Sul (caso da Índia), com fortes relações comerciais entre si e
       como se disse, devido ao abastecimento de energia. Porém, não o
       são tanto para os EUA que, assumindo o seu controlo, detêm em
       permanência, instrumentos determinantes para a (des)estabilização
       económica de aliados, amigos e menos amigos. O interesse nacional
       dos EUA é quem mais ordena;

   •   De facto, as ligações entre os EUA e o Extremo Oriente, como com a
       Europa, não passam pelo Índico e, por outro lado, o país, no capítulo
       do petróleo tem vindo a aumentar a parcela de proveniências
       situadas na costa atlântica de África para além da Venezuela e
       México, no continente americano, reduzindo, portanto,a dependência
       do Médio Oriente;

   •   O controlo do Índico e dos seus estreitos é vital para todo o sistema
       global de transportes marítimos. Em 1510, Afonso de Albuquerque,
       segundo vice-rei português da Índia, tentou controlar a navegação no
       Índico – a expensas de turcos, persas e indianos - conquistando Ormuz
       (entrada do Golfo Pérsico), Malaca (entrada no respectivo estreito)
       faltando-lhe a tomada de Aden para dominar a entrada no mar
       Vermelho (Bab el Mandeb). Mais tarde, os ingleses conseguiram esse
       desiderato, que durou até à descolonização;

   •   Actualmente, o dispositivo militar norte-americano no que se refere ao
       Bab el Mandeb, está presente no Djibouti podendo evoluir para uma
       instalação no Yémen a partir do conflito interno existente neste país; e
       patrulha o mar contíguo, a pretexto dos denominados “piratas
       somalis”, em parceria com outros países, da NATO ou não. Nas
       imediações do estreito de Ormuz, os EUA detêm o Kuwait onde
       mantêm grande número de instalações, têm o exército fortemente
       presente no Iraque e no Afeganistão, bases militares na Arábia Saudita
       (Dharam, que, por coincidência se situa muito próxima do importante
       terminal petrolífero de Ras Tanura), Bahrein, Qatar (al-Ubaid) e Oman.
       Finalmente, o estreito de Malaca dada a vulnerabilidade morfológica
       e a existência de piratas menos mediatizados é patrulhado pela
       marinha americana em parceria com a Índia, e o forte apoio logístico
       de Singapura. Para se aquilatar a fragilidade de todo este sistema,
       poder-se-á imaginar o impacto no bloqueio do estreito de Malaca,
       susceptivel de aumentar 10/12 dias a viagem de um navio vindo do
       Índico para o Japão.

       Quais cerejas a encimar este bolo, refiram-se a V Esquadra e a base
       estratégica de Diego Garcia, bem plantada no centro do oceano
       Índico e de onde foi expulsa a população, nos anos 70;

   •   Há, naturalmente e em crescimento, fraquezas estratégicas para o
       Pentágono e os seus aliados da NATO. O objectivo de isolamento da


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Rússia, proposto durante a administração Bush, falhou, apesar da
       absorção da Europa de Leste pela NATO, do desmembramento da
       Jugoslávia, da “independência” do Kosovo (inventada para albergar
       a grande base de Bolsdteel, a “pequena Guantanamo”, para controlo
       dos Balcãs) e das “revoluções laranja” na Ucrânia e na Geórgia. A
       Rússia continua a fornecer a Europa de energia, vem diversificando
       esses canais com ligações directas através do Báltico e de Murmansk,
       evitando a Ucrânia; garantiu a utilização dos seus oleodutos para os
       hidrocarbonetos cazaques e turcomenos; participa numa aliança
       económico-militar – a OCX – que engloba uma enorme massa
       geográfica, rica em petróleo e gás, que inclui o dinamismo chinês, os
       capitais chineses e russos, o maior exército do mundo e o arsenal
       nuclear russo;

   •   As invasões do Iraque e do Afeganistão estão longe de serem casos de
       sucesso para os EUA. No Iraque, a invasão, embora tenha facilitado a
       entrega da exploração do petróleo iraquiano às multinacionais
       ocidentais (1) não garantiu a estabilidade da região, aumentou as
       tensões internas, no Iraque, entre curdos, sunitas e xiitas e o oráculo
       parece pouco optimista quanto depois da saida do exército
       americano e dos seus mercenários. A intervenção no Afeganistão, por
       seu turno, não tem produzido impactos economicamente úteis para os
       seus promotores, se se excluirem os fornecedores de armas; e a
       construção de oleodutos através do território afegão para conduzir o
       petróleo da Ásia central para o Índico, para a Índia e o Paquistão, sem
       passagens por território iraniano é, cada vez mais uma miragem;

   •   Mantém-se a solidez e a estabilidade do Irão que, em vez de isolado,
       intensifica relações de colaboração com os seus vizinhos. O Irão vai
       construir um gazoduto para abastecer o Paquistão e porventura a
       Índia (2) e estabeleceu recentemente uma ligação com o sistema de
       transporte turcomeno(3). Em paralelo, importa gás turcomeno para
       consumo próprio e para abastecimento da Turquia e tornou-se
       importador de gás azeri, num jogo de compensações que minimiza o
       transporte de um produto homogéneo, promovendo as suas
       exportações por mar;

   •   A China estabeleceu ligações de abastecimento de gás e petróleo
       com a Rússia, o Cazaquistão e o Turcomenistão, por via terrestre e vai
       abrir-se uma nova oportunidade com a exportação russa pelo porto
       de Nakhodka, no Extremo Oriente russo e da Sakalina que também
       poderá tornar o Japão menos dependente dos petroleiros vindos do
       sul. Por seu turno, o mesmo Turquemenistão, que detém as quartas
       maiores reservas mundiais de gás dedicou as suas exportações à
       Rússia, à China e ao Irão. Em contrapartida, os EUA dedicam à China a
       atenção necessária para qualquer bloqueio naval, mantendo 100000
       soldados no Japão e na Coreia do Sul, a VII Esquadra, Okinawa e


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Singapura, garantido que está o apoio de Taiwan, estudando ainda a
       possibilidade de retornar a Cam Rahn, no Vietnam que tão más
       recordações lhes trarão;

   •   Finalmente, o deficit orçamental norte-americano é enorme e redunda
       num endividamento que, só perante a China e o Japão, orça os $1,5
       biliões, a que se devem somar juros anuais de $ 250000 M. Para tal
       contribui devidamente o orçamento militar que é de $ 1bilião onde
       sobressaem $ 880000 M para o Pentágono mas, que exclui os
       programas militares secretos ($ 70000 M), a ajuda militar ao estrangeiro,
       nomeadamente ao Egipto, a Israel e ao Paquistão, a contratação de
       225 000 elementos a empresas de serviços militares, os custos com os
       veteranos e os $ 75000 M com os 16 serviços de informações. Só as
       guerras no Iraque e no Afeganistão custarão em 2010 $ 200/250000 M,
       enquanto o recente reforço de 30000 homens decretado por Obama
       para o Afeganistão, constituirá um esforço financeiro superior a todo o
       orçamento de defesa de um país como a Alemanha (4).

Um balanço entre esta síntese de pontos fortes e pontos fracos do
Pentágono, da NATO e da estratégia de domínio norte-americano no
mundo, centrado nos aspectos geopolíticos e militares não é nem nunca
seria satisfatório para os seus promotores. As dificuldades económicas e
financeiras dos EUA e dos países chamados desenvolvidos, a braços com
graves problemas de desemprego, incremento da pobreza, desvalorização
do trabalho, deficits e estagnação, aliados à ausência de credibilidade do
sistema político e dos seus mandarins, não favorecem a resolução dos
problemas globais de acordo com as suas messiânicas expectativas.

A substituição do postulado do choque de civilizações por um outro, mais
subtil “choque de valores” (5), não altera os objectivos de domínio da
Humanidade e de apropriação dos recursos do planeta. Julgavam os
ingénuos que a tecla dos direitos humanos tocada por Reagan tinha ficado
enferrujada com os escândalos de Abu Ghraib, Guantanamo, Kunduz, etc e
por isso, soa a falso e ofensivo que os governos dos EUA e dos seus ajudantes
falem ao mundo de valores.

As dificuldades estratégicas dos EUA, do Pentágono e da NATO não farão
recuar – antes pelo contrário - os seus responsáveis perante o recurso à
guerra, à tortura, à pulverização de cidades e aldeias, ao desalojamento de
populações, ao onerar inaudito dos cidadãos europeus e norte-americanos
com os custos e os riscos inerentes à tal guerra infinita, decretada por Bush,
qual animal enraivecido, perante os fumos das Torres Gêmeas. Somente a
luta dos trabalhadores, a sua interacção e organização contra a guerra, o
militarismo e os sistemas militares-industriais pode travar a deriva guerreira; e
isso só pode ser definido como um objectivo humanitário se enquadrado na
luta pela democracia e pelo extirpar do capitalismo.



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2 - O volume dos gastos militares

O volume dos gastos militares é um indicador elementar mas, bastante
esclarecedor dos ónus que os povos suportam com os respectivos dispositivos
militares. O Quadro I, adiante exposto, contempla o custo dos gastos militares
por habitante, em comparação com a contribuição média de cada
cidadão para a formação da riqueza, para os anos de 1998 e 2008. Essa
análise inclui todos os países da NATO, os países neutrais da Europa e Israel,
tendo em conta a total integração deste último no dispositivo militar-
estratégico ocidental.

     Quadro I – Gastos per capita com a defesa e capitação do PIB ($ de 2005)
                                 1998                  2008              Defesa/PIB (%)
                            Defesa       PIB      Defesa       PIB       1998      2008
     Albânia                     19       3.767        62       7.160    0,51      0,87
     Alemanha                   499      29.074       451      33.714    1,72      1,34
     Áustria     *              340      29.721       336      36.037    1,14      0,93
     Belgica                    447      28.411       415      33.605    1,57      1,23
     Bulgária                    65       6.319        93      11.239    1,02      0,83
     Canadá                     369      29.902       494      36.077    1,23      1,37
     Chipre         *           844      21.101       486      26.453    4,00      1,84
     Croácia                    411      11.951       204      17.520    3,44      1,16
     Dinamarca                  698      30.016       651      34.140    2,33      1,91
     Eslováquia                 138      12.538       168      20.518    1,10      0,82
     Eslovénia                  198      17.990       337      27.188    1,10      1,24
     Espanha                    263      23.148       332      28.313    1,13      1,17
     Estonia                     62       9.956       273      18.882    0,62      1,45
     EUA                      1.162      37.238     1.771      43.671    3,12      4,05
     Finlândia          *       472      25.073       527      33.596    1,88      1,57
     França                     833      26.704       827      30.624    3,12      2,70
     Grã-Bretanha               813      27.714       941      34.061    2,93      2,76
     Grécia                     724      19.134       871      27.124    3,78      3,21
     Holanda                    576      31.402       601      38.078    1,84      1,58
     Hungria                    119      12.563       135      17.997    0,94      0,75
     Irlanda        *           283      27.354       275      39.115    1,03      0,70
     Israel                   1.543      21.535     1.752      25.353    7,17      6,91
     Islândia                        0   28.251            0   36.209    0,00      0,00
     Italia                     535      26.360       545      28.272    2,03      1,93
     Letónia                     23       7.607       176      15.597    0,31      1,13
     Lituânia                    59       9.188       153      17.571    0,65      0,87
     Malta      *               100      18.000        96      22.426    0,56      0,43
     Noruega                  1.010      41.979     1.026      49.072    2,41      2,09
     Polónia                    132      10.833       195      16.440    1,22      1,18
     Portugal                   317      19.086       355      21.194    1,66      1,67



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Rep Checa             182     16.042        199      23.211    1,13        0,86
     Roménia                85      6.792        102      11.704    1,25        0,87
     Suécia    *           672     26.599        571      33.610    2,53        1,70
     Turquia               225      9.702        156      12.408    2,32        1,26
                                Crescimento                       Decrescimento
     * Paises da UE não pertencentes à NATO
                        Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute

Sublinhe-se, em primeiro lugar, que a Islândia é o único destes países sem
forças armadas formais, desde 1859, embora pertença à NATO e mantenha
acordos de segurança com países daquela organização, como os EUA, a
Dinamarca e a Noruega, entre outros. A base de Keflavik esteve na posse
dos EUA em 1951-2006 onde estava aquartelado o Icelandic Defense Force;
essa base é agora mantida pela Agência de Defesa Islandesa.

Os países onde os gastos militares por habitante são mais elevados – EUA,
Israel e Noruega - são os mesmos nos dois anos considerados. Os EUA, como
consequência do aumento de 52.3% relacionado com a ocupação do
Médio Oriente, ultrapassaram em 2008, Israel, no primeiro lugar, apesar de
este último ser, em permanência, uma entidade em guerra.

Outros casos de grande crescimento da capitação dos gastos militares são
os países do Báltico e do leste europeu, antes integrados no Pacto de
Varsóvia e que hoje, rearmam as suas forças armadas, nomeadamente,
substituindo armamento da antiga URSS, por armas fabricadas nos países
ocidentais, no âmbito da sua recente inserção no quadro da NATO.

Embora nenhum país tenha reduzido o valor da capitação do PIB – dados de
2009 retirarão cabimento a esta afirmação como resultado da crise – o
volume das despesas militares por habitante regrediu em onze países. São
eles – Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Croácia, Dinamarca, França,
Irlanda, Malta, Suécia e Turquia.

Para tal facto, contribuem distintos elementos justificativos. No Norte da
Europa, a deslocação do eixo de conflitualidade da NATO para sul, para o
Mediterrâneo e a contestação dos activos movimentos pacifistas e anti-
militaristas ali existentes motivaram essa evolução; no caso da Croácia trata-
se do fim da guerra nos Balcãs; na Turquia, as causas revelam-se na redução
do tradicional papel das forças armadas enquanto tutelares do poder, na
menor conflitualidade no Curdistão e na forte presença militar dos EUA que,
assim, substituem, parcialmente, o gasto turco com a defesa; finalmente, no
caso de Chipre, estando integrado na UE e embora não pertença à NATO,
sentir-se-á mais seguro, nomeadamente face a uma ameaça turca que, por
sua vez estará mitigada pelo desejo turco de integração na UE.




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A parcela do produto de cada país destinado à defesa é mais elevada em
Israel, com 7.17% em 1998, decaindo ligeiramente para 6.91% em 2008. Em
segundo lugar, posicionam-se os EUA cuja mobilização de recursos cresceu
em 2008, quase um ponto percentual relativamente a dez anos antes. E, em
terceiro lugar, posiciona-se a Grécia com 3.21% em 2008, o que,
legitimamente, coloca a questão do contributo de continuados e
astronómicos gastos militares, para as actuais dificuldades financeiras do
Estado grego.

Registou-se uma redução do peso dos gastos militares na capitação do PIB
em 24 países, sendo mais notáveis os decréscimos observados na Croácia,
em Chipre e na Turquia, pelas razões já atrás expressas. Desse total de 24
países existem 11 onde o facto é concomitante com a redução do próprio
gasto militar por habitante, independentemente da consideração do PIB.
Nos restantes, o peso da despesa militar no PIB reduz-se, a despeito do
aumento, em alguns casos substancial, da parcela que onera cada
cidadão.

Em nove paises – Albânia, Canadá, Eslovénia, Espanha, Estónia, EUA, Letónia,
Lituânia e Portugal – aumenta, no periodo, o encargo com a defesa no total
do PIB, ainda que marginalmente, no caso dos dois países ibéricos.

Se nos outros casos, as razões já foram referidas, em Portugal e Espanha,
tendo em conta a ausência de conflitos na sua zona geográfica, tudo indica
que se esteja em periodo de acréscimo de militarização da sociedade, de
recuperação do “prestígio” das forças armadas. De facto, após a queda das
ditaduras, ficou a nu a actuação criminosa das forças armadas peninsulares
no apoio ao fascismo e, no caso português, no envolvimento nas guerras
coloniais. Está-se actualmente, com a consolidação da direita no poder,
numa fase de relegitimação das forças armadas, aproveitando-se o final do
serviço militar obrigatório para reafirmar o seu carácter de casta e a postura
mais agressiva do Pentágono, em busca de aliados firmes e dóceis. Por outro
lado, a enorme taxa de desemprego entre os jovens, cria uma larga base
social de recrutamento para esse mercenariato que, contudo não deixa de
estar marcado pela precariedade. No caso da Espanha e, tendo em conta
a extensão da sua costa e águas territoriais no Mediterrâneo, a grande
proximidade física com a África e as fortes relações com o Magreb, a
questão do rearmamento e do reforço dos militares tem, no contexto
militarista, mais justificação do que no periférico Portugal.

Entre todos os países incluidos, existem seis em que o crescimento da
capitação dos gastos militares é superior à do aumento do PIB por habitante,
no periodo 1998/2008:




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variação em %
                                    Gastos militares          PIB
                      Canadá              33.8              20.7
                      Eslovénia          69.8               51.1
                      EUA                 52.3               17.3
                      Letónia            654.8              105.0
                      Lituânia           157.2              91.2
                      Portugal            11.9               11.0

Os gastos militares globais dos EUA são da ordem de 1 bilião de dólares e
correspondem a metade da despesa mundial nessa área; se se juntarem os
seus aliados da NATO e o Japão, a participação no total, desse conjunto
aumenta para 75%. Somente as guerras no Iraque e no Afeganistão, no
tempo de Bush, para além do endividamento que as tornou possíveis,
envolveram um custo de $ 25000 a cada família norte-americana (4)(6).


3 - A dimensão das forças armadas

Nem sempre se conhecem com rigor os números dos elementos das forças
armadas, havendo várias razões para esse efeito. O primeiro é o sigilo que os
Estados gostam de manter sobre esse tema, bem no cerne do seu ADN,
considerado elemento garante da soberania. Em segundo lugar, há várias
concepções que podem ou não envolver os elementos na reserva, corpos
paramilitares, guardas pretorianas dos regimes, que podem volumes muito
significativos. Essas situações colocam várias reservas às comparações
internacionais, avolumadas com as diferenças, por vezes de vários anos, das
datas a que os dados se referem.

A título de exemplo, no que se refere a elementos paramilitares, cima dos 400
mil em 2008, registavam-se seis países, no caso do principal – o Irão – com
números impressionantes (7):
                                                                1000
                  Irão             11 390   Venezuela             600
                  China             3 969   EUA                   453
                  Índia             1 293   Egipto                405

Cruzando várias fontes de informação (8), construiu-se o quadro II que inclui
o número de militares no activo, na generalidade, em 2008, indicadores
como o número de militares no activo por 1000 habitantes ou, o gasto por
cada militar no activo, no mesmo ano, com a comparação dos elementos
relativos aos países da NATO, aos da UE que não pertencem aquela
organização militar e um conjunto de outros países com forças armadas de
grande dimensão.




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Quadro II - Número de militares no activo (aprox. 2008)
                                                       Nº           Gasto
                                 Nº Militares
                                                militares/1000 militar/militar ($
                                   (1000)
                                                      hab            2005)
           Mundo (estim)               19.669           -              -
           Albânia                          10               3,1              20
           Alemanha                        285               3,4             131
           Áustria                          35               4,1              81
           Bélgica                          39               3,8             110
           Bulgaria                         39               5,1              18
           Canadá                           62               1,9             257
           Chipre                           10              11,7              42
           Croácia                          20               4,4              46
           Dinamarca                        23               4,2             155
           Eslováquia                       26               4,9              35
           Eslovénia                         9               4,5              75
           Espanha                         177               4,0              83
           Estónia                           5               3,7              73
           EUA                           1.474               4,8             372
           Finlândia                        32               6,0              87
           França                          225               3,5             234
           GB                              195               3,2             294
           Grécia                          177              15,9              55
           Holanda                          53               3,2             186
           Hungria                          33               3,3              41
           Irlanda                          10               2,4             113
           Itália                          240               4,1             134
           Letónia                           6               2,4              73
           Lituânia                         14               4,0              38
           Luxemburgo                        1               1,9             352
           Malta                             2               5,3              18
           Noruega                          28               5,9             175
           Polónia                         155               4,1              48
           Portugal                         45               4,2              84
           Rep Checa                        57               5,6              35
           Roménia                          90               4,2              24
           Suécia                           34               3,7             154
           Turquia                         514               6,9              23
           Brasil                          287               1,5              54
           China                         2.255               1,7              28
           Coreia do Sul                   687              14,2              35
           Egipto                          450               6,0                6
           Índia                         1.325               1,1              19
           Irão                            545               7,7              11
           Israel                          187              27,0              65
           Japão                           239               1,9             179
           Paquistão                       650               4,0                6
           Russia                        1.245               8,7              31
           Ucrânia                         149               3,2              22
           Vietnam                         484               5,5                3
           Restantes (estim)             7.042          -              -


Calcula-se que na totalidade, o número de militares das forças armadas no
activo se situe entre 19/20 milhões de elementos. Nesse total, os quatro países


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com mais de um milhão de soldados – China, EUA, Rússia e Índia –
representam perto de um terço (32%) dos efectivos.

Quanto às forças armadas dos EUA há a destacar que, além da natural
presença no seu próprio território, estão disseminadas por 750 bases militares
espalhadas por cinquenta países. Este aparelho logístico, esta rede integrada
e gerida pelo Pentágono, dota este de um poder estratégico e táctico que é
único no mundo e que torna todos os seres humanos e o ambiente global
dependentes da sua permanente ameaça de destruição.
O segundo corpo militar mais numeroso da NATO pertence à Turquia, cujo
efectivo apresenta uma dimensão que se situa num mesmo patamar da
Coreia do Sul e do Paquistão (quinto e sexto, respectivamente, na hierarquia
mundial) e do Irão, logo seguidos pelo Vietnam e pelo Egipto.

Nos restantes países da NATO a dimensão das forças armadas é muito
heterogénea, nem sempre apresentando uma grande proporcionalidade
com a população do país. Os casos mais assombrosos são Israel (aqui
equiparado a membro da NATO) e caso único de verdadeira ordem militar,
bem como a Grécia, com um enorme efectivo militar, cujo volume não
parece ter sido posto em causa pelos guardiães dos “mercados”, muito mais
motivados para sacrificar trabalhadores e pobres.

Quando se avalia o numero de militares por cada 1000 habitantes, para
além dos referidos atrás, Israel e Grécia, sobressaem ainda a Coreia do Sul e
Chipre, todos com mais de 1% da população nas fileiras. Em Israel chegam
mesmo a 2.7% o que, na realidade será mais se se atender a que a
população árabe, constitui um grande segmento populacional, afastado da
participação nas forças armadas da entidade sionista e de uma integral
cidadania.

Entre os países da NATO ou europeus neutrais destacam-se pelos seus
elevados ratios (> 5.0, isto é > 0.5% da população) - Turquia, Finlândia,
Noruega, República Checa, Malta e Bulgária. O mesmo sucedendo a outros,
como a Rússia (herdeira da superpotência URSS), o Irão e o Egipto, bem
inseridos no arco de instabilidade que atravessa o Médio Oriente, no centro
da encarniçada disputa pelo domínio dos combustíveis fósseis.

Entre os países da NATO ou neutrais da UE as situações de menor peso
relativo do corpo militar, no conjunto da população, registam-se no Canadá
e no Luxemburgo (1.9). Note-se que esses indicadores são mesmo menores
em países de grande população como a Índia (1.1), o Brasil, a China e o
Japão.

O custo unitário de cada militar é particularmente elevado nos EUA, que
possuem as forças militares mais poderosas do planeta, largamente munidas
de meios tecnológicos de fazer a guerra. Nesse capítulo da tecnologia, note-
se o papel que vai sendo atribuido aos “drones”, aviões sem piloto,


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telecomandados de terra, por civis contratados pelo Estado norte-
americano. Também o Luxemburgo, Estado minúsculo mas cofre-forte de
grande relevância para o sistema financeiro, apresenta um custo unitário de
cada militar.

Num segundo plano, posicionam-se a Grã-Bretanha e a França,
subimperialismos, ex-potências coloniais e detentoras de armas nucleares.
Todos os países mais desenvolvidos têm um custo elevado por militar superior
a $-100, exceptuando a Áustria e a Finlândia que não são membros da
NATO.

Entre os países com forças armadas acima dos 100 mil efectivos, somente os
EUA, a França, a Grã-Bretanha, a Itália e o Japão têm custos unitários por
militar acima dos $ 100. Por seu turno, fora do quadro da NATO, apenas o
Japão, a Suécia e a Irlanda ultrapassam aquele valor, sublinhando-se que, os
dois últimos são os únicos com menos de dez milhões de habitantes.

Inversamente, os mais baixos custos por militar observam-se particularmente
entre as forças armadas de grande dimensão e simultaneamente de menor
riqueza, indiciando a sua dificuldade em adquirir os caros equipamentos que
estão disponíveis para os países ricos. Por outro lado, sendo a mão de obra
abundante e barata e o subemprego elevado, é conveniente a
manutenção de grandes exércitos para ocupação de gente. Do ponto de
vista estritamente económico, tem mais impacto no PIB o incentivo ao
consumo interno com o pagamento de salários aos militares, do que importar
equipamentos caríssimos (com a saída de divisas) e fazer aumentar o
desemprego nem ganhar competências técnicas. O problema surge
quando existe um conflito aberto que obriga à aquisição desses
equipamentos sem a redução dois efectivos,

Quer nos países com forças armadas numerosas e baixo índice de
incorporação tecnológica, quer naqueles onde se observa a situação
inversa, há sempre uma casta militar que pode dominar a vida política ou
constituir-se como verdadeiro estado dentro do Estado, como nos casos do
Paquistão, de Israel ou dos EUA, onde a autonomia do Pentágono é tal que
impõe ao presidente as suas próprias escolhas na liderança.

A dimensão humana de um exército não é determinante numa época em
que a tecnologia aplicada ao armamento é, em regra, objecto de especiais
atenções no capítulo da inovação e para a qual os Estados não regateiam
financiamentos. São conhecidos os casos em que certas inovações
tecnológicas começaram por ter, na base e no objectivo, uma aplicação
militar, antes da sua utilização pelo mundo em geral, sendo a internet o caso
mais conhecido. Nesse contexto, a dimensão em termos humanos de umas
forças armadas, dentro de determinadas proporções, pouco informa sobre o
potencial destrutivo, a mobilidade e o grau de prontidão desse efectivo
militar. Como se sabe, o exercito iraquiano, quando da invasão norte-


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americana, em 2003, tinha um efectivo humano muito superior ao dos
“aliados” e isso foi manifestamente insuficiente para fazer frente ao poder de
fogo e de uso da tecnologia das hordas do Pentágono.

Se um efectivo militar pertence a um país desenvolvido, a priori estará
munido de equipamentos sofisticados e caros, com utilizadores bem
industriados e com elevada capacidade técnica para manejar
equipamentos complexos. Essa elevada componente técnica é uma das
razões para se irem extinguindo os regimes de recrutamento baseados no
serviço militar obrigatório (SMO), por lapsos de tempo curtos (até dois anos),
insusceptíveis de gerar experiências acumuladas no manejo desses
equipamentos. Aliás, mesmo no tempo do SMO, certas especialidades,
mormente na marinha e na aviação, eram objecto de um recrutamento
específico, com horizontes largos de permanência e por – entre outras -
razões técnicas. Por outro lado, é do interesse dos governos e do poder
capitalista, a existência de uma casta militar estável e fiável que, em
articulação com as polícias proceda à mescla de funções necessária ao
controlo biopolítico da multidão.

Essa fusão de funções militares e policiais está bem expressa na doutrina da
NATO, com a validação aprazada do seu novo catecismo – Novo Conceito
Estratégico – para Novembro próximo, em Lisboa. Quando se incluem nas
preocupações da NATO problemas de migrações clandestinas, exige-se uma
integração com as polícias de fronteira; quando a organização pretende
incluir nos seus objectivos o crime organizado, o narcotráfego ou a actuação
dos “hackers”, obriga-se a exercer actividades de polícia criminal.

Neste contexto, a defesa de um retorno ao SMO é uma sementeira de
ilusões. Primeiro, porque a actual forma de domínio biopolítico das
sociedades faz da integração entre polícias e militares uma das questões
essenciais para o prolongamento da vida do capitalismo e a defesa do SMO,
tem algo de paralelo, com a criação da Icaria, no século XIX. Por outro lado,
mesmo os exércitos baseados no SMO, só raras vezes foram protagonistas de
intervenções progressistas na vida dos povos; a estrutura hierárquica e o
autoritarismo existente nas fileiras não favorece a colocação dos soldados
ao lado do povo, sem um apoio significativo da oficialidade. Como se sabe,
o 25 de Abril português foi determinado pela baixa oficialidade,
naturalmente, com a adesão entusiástica dos soldados. Em regra, as
transformações sociais profundas passam pelo desmantelamento dos
exércitos; ainda que, lastimavelmente, com a edificação de outros, que se
lhe substituem, com o mesmo espírito e vícios de casta.

Por outro lado, em contexto de globalização, de fronteiras abertas, de
integração económica e política dos países em grupos geoestratégicos de
geometria variável, do domínio das multinacionais, de aposta deliberada no
“mercado global”, nas exportações, a defesa do mercado interno – a nação
- como coutada defendida por guerreiros devotados e patriotas, acabou. As


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burguesias nacionais acham-se desarmadas para a defesa da “coesão
nacional” como justificação para as suas forças armadas, uma vez que o
poder, no essencial, cabe a instituições regionalizadas ou mundializadas.

Nesse sentido, as forças armadas, como factores dessa coesão nacional já
não são necessárias, subalternizado que está o conceito de pátria perante a
integração regional ou dos mercados, se se preferir. Para as populações,
contudo, ainda se brande a carta nacionalista e uma tradição de defesa da
pátria, cada vez mais descabida e em contradição com a grande
interconectividade entre os povos, com as viagens frequentes, os fluxos
migratórios, as trocas de informação na internet, etc.

Mais do que nunca é clara a partição social entre uma classe mundial dos
capitalistas, com múltiplas instâncias de coordenação nos campos político,
económico, financeiro… e militar; e a esmagadora maioria da Humanidade
que é pretendida como laboriosa, qualificada e, através do controlo
biopolítico global, mansa e resignada, mesmo quando os níveis de
subsistência baixam ao ponto da inclusão em programas implícitos de
genocídio.

O capitalismo globalizado precisa, portanto, de uma força militar também
globalizada, hierarquizada e hierarquizante para estabelecer a autoridade
do capital perante os desmandos da sua existência – conflitos internacionais,
crises sociais, “terrorismo”, migrações clandestinas, cibercrime, “pirataria”,
problemas ambientais, segurança das vias de comunicação, crime
organizado, narcotráfego e outros negócios afins, defesa da “democracia”,
etc. Essa força, que está em edificação e reforço doutrinário, dos meios
disponíveis e de organização, está também em fase de construção de novas
formas de instalação e actuação a nivel territorial.

Esse poder militar global precisa de centuriões nas fronteiras e de agentes
regionais e locais, da mesma forma que a existência de um comando distrital
da polícia não dispensa a existência de esquadras de bairro para garantia
da lei e da ordem. Por isso, num plano global, o capitalismo exige a presença
de castas militares localizadas mas, integradas e mobilizáveis no seio de uma
NATO reformulada, às ordens de um poder unificador, o Pentágono; o Novo
Conceito Estratégico é a forma dessa reformulação.


4 - O armamento dos principais paises

Mantém-se neste capítulo a ausência de dados sistematizados sobre o
armamento das forças armadas, naturalmente, fazendo parte das políticas
de sigilo levadas a cabo pelos Estados. Esse sigilo, de facto, deve dirigir-se
aos povos, uma vez que os serviços secretos fornecerão aos estados-maiores
as informações necessárias sobre os potenciais inimigos e rivais, para efeito
de dimensionamento dos seus recursos humanos, materiais e logísticos, de


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planeamento operacional e de aquisições. Convém recordar que é
bastante comum, nas aquisições, a corrupção das altas patentes, a ligação
interessada destas aos grandes grupos fornecedores; e, estes, raramente
regateiam essas comissões dada a concorrência e o elevado valor das
encomendas. O episódio que relaciona a Ferrostaal, o cônsul de Portugal em
Munique e os submarinos é ilustrativo… e ainda se não conhecem muitos dos
pormenores e intervenientes.

O quadro seguinte (Quadro III) evidencia, quantificando, os principais
elementos dos arsenais guerreiros dos principais países do planeta e
apurando, em particular, o poder destrutivo da NATO. A especificação é
feita para aviões, helicópteros, tanques, navios e submarinos (9).

          Quadro III - Meios militares dos principais países     periodo 2001-2008
                           Aviões    Helicópteros   Tanques      Navios Submarinos
          Alemanha             350            748        5.699      130         13
          Canadá               399            168        2.194       34          4
          Dinamarca            161             40          nd        51          4
          Espanha              691            311        2.869       90          8
          EUA               18.169          4.593      29.920     1.559         75
          França             1.023            892        8.536      134         10
          Grã-Bretanha       1.891            779        5.121      139         17
          Grécia               847            218        4.403      118          8
          Italia             1.594            716        3.355      107          7
          Noruega              141             66          nd        45          6
          Polónia              807            291          nd        87          4
          Suécia               744            150         540        77          9
          Turquia            1.199            336        6.672      182         13
          Brasil             1.272            372        1.676       89          5
          China              1.900            491      31.300       760         68
          Coreia do Sul        538            502        8.325       85         20
          Egipto             1.230            243        9.357       93          4
          Índia              1.007            240      10.340       143         18
          Irão                  84             84        5.449       65          3
          Israel             1.230            386      14.200        18          3
          Japão              1.957            745        2.040      147         18
          Paquistão            710            198        3.919       33         11
          Russia             3.888          2.625      79.985       526         61
          Ucrânia            2.451            743          nd        46          1


          NATO              27.272          9.158      68.769     2.676        169
          Restantes         17.011          6.779     167.131     2.082        221


Entre as forças aéreas presentes no quadro a dimensão das flotilhas dos
países da NATO é muito superior à dos restantes países que, para mais não


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pertencem a um mesmo bloco militar, nem podem tirar as vantagens da
homogeneidade do equipamento. E, neste campo, essa supremacia
numérica é mais elevada do que nos outros tipos de máquinas de guerra.

A força aérea dos EUA, isolada, sem a consideração dos outros aliados da
NATO é superior à soma dos outros países considerados, não aderentes à
NATO. Essa superioridade aérea é possível por várias razões. Primeiro, pelo
domínio da tecnologia, mormente detida por três empresas – Boeing,
Lockheed-Martin e Northrop Grumman; depois, pela constante pesquisa e
inovação, sob encomenda do Pentágono, que tem uma imensa autonomia
no seio da administração norte-americana, a qual não lhe regateia verbas
orçamentais; pela existência de uma economia poderosa mantida pela
facilidade de recurso ao crédito (emissão de dólares) que mais nenhum país
detém; finalmente, pela determinação em manter uma hegemonia militar a
nível mundial que obriga os EUA a considerar o resto do planeta como
existentes para a satisfação “dos interesses nacionais dos EUA”,
nomeadamente no campo energético.

A força aérea dos EUA, pela sua dimensão, a sua mobilidade, os vários
pontos de apoio espalhados pelo mundo é o principal instrumento da
hegemonia norte-americana a nível planetário.

Nos outros lugares do pódio no que respeita à aviação situam-se a Rússia e a
Ucrânia, embora no caso desta última, o equipamento deva ser antigo e as
dificuldades económicas do país não permitirem a sua renovação.

Num mesmo patamar quantitativo, encontram-se o Japão, a China, a Grã-
Bretanha e a Itália, havendo ainda mais seis Estados com mais de mil aviões
de guerra. A frota israelita, enorme para a sua dimensão territorial e humana
revela o seu papel de fortaleza, de ameaça permanente a todos os povos
do Médio Oriente e do Mediterrâneo Oriental; e que lhe permite ter
bombardeado sem punição, nos anos 80, a central nuclear iraquiana de
Osirak e ansiar pela autorização dos EUA para fazer o mesmo no Irão, com
consequências desastrosas para a região e nos preços da energia… o que
não conviria em tempos de recessão.

No que se refere aos helicópteros, a superioridade dos países da NATO é
também elevada, embora menor do que nos aviões de combate. Sendo o
helicóptero uma arma táctica, desempenha uma função mais localizada e,
portanto, não é um elemento de domínio estratégico.

Note-se que os EUA, detendo de longe o principal efectivo de helicópteros,
detêm nos aviões uma superioridade que, em relação à Rússia é de 4.7/1, a
qual se reduz para 1.8/1 nos helicópteros. Num patamar bem mais baixo do
que o das superpotências militares, com 700/800 aparelhos, destacam-se a
Grã-Bretanha, a Alemanha, o Japão, a Ucrânia e a Itália. Provavelmente, a



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posição da Ucrânia tenderá a baixar, na hierarquia das máquinas de guerra,
à medida que se vá diluindo a herança soviética.

É bem patente nos dados apresentados, relativos a 2006, a relevância dos
meios aéreos do Irão, bem longe do que sobressai da propaganda norte-
americana que, perante os factos, revela que a “ameaça” iraniana dá pelo
nome de recursos energéticos, há mais de trinta anos cobiçados pelo
Pentágono.

Já no que se refere aos tanques, a NATO não dispõe da superioridade
observada atrás, detendo com os restantes países uma relação de 4/10,
devendo-se isso aos grandes parques que, particularmente, a Rússia e a
China detêm. Estes, tratando-se de países com carácter continental, com
longas e remotas fronteiras, e algumas disputas fronteiriças (caso da China
com a Índia e a questão de Taiwan), supostamente, tenderão a exigir um
elemento dissuassor adequado para os seus exércitos.

Também no âmbito da NATO, os EUA deixam de ter a maioria absoluta
destes veículos mas, mesmo assim, com um volume superior à soma dos
maiores detentores seguintes – França, Turquia, Alemanha e Grã-Bretanha.

Uma vez mais, Israel surge em grande destaque, situando-se no quarto posto
da hierarquia mundial, muito acima dos restantes países e, porventura
apresentando a maior densidade de tanques por quilómetro quadrado.

No quadro do latente conflito regional entre a Índia e o Paquistão, já
protagonistas de várias guerras, a superioridade indiana é patente.

A marinha de guerra, tal como a aviação, constitui um outro instrumento
essencial de domínio global, tendo em conta a sua mobilidade e
capacidade de destruição. E aí, de novo a NATO surge com uma evidente
superioridade relativamente ao conjunto dos restantes países do mundo,
embora o seu papel seja reduzido no apoio às tentativas de implantação
estratégica dos EUA na Ásia Central; ao contrário da aviação que pode
operar sem limitações geográficas, em terra e no mar.

A superioridade naval da NATO, não tendo em consideração a diversidade
da composição e a autonomia das frotas, pode aferir-se a partir do facto de
que o número de navios da organização superar os pertencentes ao resto do
mundo, em 29%.

Por outro lado, os meios navais dos EUA suplantam de modo esmagador os
detidos por qualquer outro país e mesmo, quer a soma dos navios russos e
chineses, ou o conjunto de todos os aliados da NATO; os EUA detêm 58% das
marinhas de guerra do total dos principais países da NATO.




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Note-se que marinhas de guerra, historicamente importantes e até
dominadoras – caso da Grã-Bretanha, da Alemanha, da França e do Japão
– não representam, cada uma delas 9% dos efectivos norte-americanos.

Convirá ainda sublinhar, neste contexto, a enorme concentração de meios
navais no Mediterrâneo/Egeu pertencentes à Turquia e à Grécia. Os turcos
detêm a quarta maior frota de guerra mundial e a Grécia a décima primeira,
estando, decerto, luxos desta natureza presentes nas dificuldades financeiras
deste país. Dentro da lógica prevalecente no jogo de espelhos constituido
pelo BCE, pelo FMI, pela Comissão Europeia e os obscuros “mercados”, para
o combate ao deficit grego, prefere-se reduzir salários e criminalizar os
funcionários públicos.

Acredita-se que os almirantes lusos se devem roer de inveja face aos seus
congéneres gregos e aguardam ansiosos os submarinos que os farão
ultrapassar o patamar de guardas costeiros onde o seu desempenho não
tem constituido um caso de sucesso. Ressalva-se o seu valente desempenho
no combate às pequenas lanchas, com meia dúzia de homens (“piratas”
somalis) para defesa do saque do atum por pesqueiros espanhóis, entre
outros. Recorde-se que o almirantado lusitano não frequentava águas do
Índico desde a gloriosa fuga, dentro do porto de Pangim, do “Afonso de
Albuquerque” - entre navios mercantes ancorados, até encalhar em terra –
perante a marinha indiana, no fim da colonização portuguesa de Goa
(1961).

Finalmente, o último vector de máquinas de guerra aqui considerado é o dos
submarinos. Aqui, a supremacia da NATO é relativa, uma vez que o conjunto
das outras frotas supera o total dos submersíveis pertencentes aos países da
organização.

Os EUA detêm o maior efectivo de submarinos, seguidos, relativamente de
perto, pela China e pela Rússia. No contexto da NATO, os EUA têm apenas
44% dos submersíveis.

Todos os outros Estados possuem 20 ou menos embarcações, com algum
destaque para a Coreia do Sul, a Índia, o Japão e a Grã-Bretanha. Uma vez
mais se destaca o relevo da Grécia, com um número de unidades pouco
consonante com a dimensão económica e populacional do país e cuja
integridade não é disputada por nenhum outro Estado.


5 - Empresas produtoras de armamento

O Quadro IV hierarquiza as dez principais empresas mundiais no âmbito do
armamento, de acordo com a dimensão das suas vendas nesse sector; e
evidencia também, o grau de dependência relativamente às encomendas



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militares, a rendabilidade do negócio, o volume do emprego e os tipos de
equipamentos que produzem.

  Quadro – IV - As principais empresas produtoras de armamento (2007)*
                                                Vendas de armas
                                                                    Taxa de
                                                           % no                             Área de
              Empresa                País                            lucro  Emprego
                                               $ milhões total da                          produção
                                                                      (%)
                                                         empresa

   1 Boeing                 EUA                   30.480      46        13,4     159.300 1,3,4,9
   2 BAE Systems            Grã-Bretanha          29.850      95         6,0      97.500 1,2,3,4,5,6,8
   3 Lockheed Martin        EUA                   29.400      70        10,3     140.000 1,3,4,9
   4 Northrop Grumman       EUA                   24.600      77         7,3     122.000 1,3,4,7,8,9
   5 General Dynamics       EUA                   21.520      79         9,7      83.500 2,3,5,7
   6 Raytheon               EUA                   19.540      92         7,5      72.100 3,4
   7 BAE Systems **         EUA                   14.910     100         9,9      51.300 2,3,5,6
   8 EADS                   UE                    13.100      24        (4,7)    116.490 1,3,4,9
   9 L-3 Communications     EUA                   11.240      81         6,7      64.600 3,7
  10 Finmeccanica           Itália                 9.850      54         7,2      60.750 1,2,3,4,5,6
  11 Thales                 França                 9.350      56        13,0      61.200 3,4,6
  * Exclui China      ** Subsidiária da BAE Systems (Grã-Bretanha)                        Fonte: SIPRI

                1 – Aviões                  4 – Mísseis                           7 - Serviços
                2 – Artilharia              5 - Veículos militares                8 - Navios
                3 – Electronica             6 - Pequenas armas e munições         9 - Aerospacial

Como se pode verificar, os EUA detêm um grande domínio entre as principais
empresas produtoras. A procura de uma posição hegemónica no planeta
conduz à manutenção de umas forças armadas poderosíssimas, em regra
envolvidas directamente em guerras ou, promovendo-as através de
terceiros. Esse facto obriga à existência de um sector doméstico de
armamento,      garantidamente     viabilizado  economicamente       pelas
encomendas do Pentágono, de países subsidiários ou de gangs partidários
no poder; e, para o efeito, é alimentada uma vasta rede de recolha de
informações, de angariação de agentes, de promoção de actividades
corruptas de “procurement” ou “lobbying” no sentido da venda de
equipamentos ao exterior e assim garantir a rendabilidade dos capitais
investidos. Tudo isto, como exemplo típico do que é o capitalismo real, em
nada semelhante ao lirismo do mercado livre, cantado pelos menetréis do
neoliberalismo.

O volume de vendas, muito próximo, entre as três primeiras empresas,
distancia-se das distantes, apresentando-se a última empresa da lista incluida
no Quadro IV, com menos de um terço da facturação dos primeiros: o que
revela um elevado grau de concentração do sector a nível mundial.

Todas as empresas cimeiras têm um elevado número de trabalhadores e
uma taxa de lucro bastante aceitável. Como se trata de encomendas


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públicas, em grande parte provenientes dos próprios países em que estão
inseridas, a pressão para a baixa de preços não é a que se verifica em outros
sectores de actividade. Os Estados sempre foram menos exigentes nos
preços que pagam a empresas dos seus respectivos complexos militares-
industriais do que com os trabalhadores que nelas trabalham.

Quanto à diversidade da produção, a mais abrangente é a inglesa BAE
Systems, com mais uma valência que a norte–americana Northrop Grumman
ou a italiana Finmeccanica. Por seu turno, a Raytheon e a L-3
Communications, ambas dos EUA, têm uma actividade concentrada em
apenas dois segmentos.

Na lista divulgada pelo SIPRI (10), constam 117 empresas, cujo agrupamento
por nacionalidade produz o seguinte resultado:

                        Alemanha               5 Israel             3
                        Austrália              2 Itália             9
                        Canadá                 1 Japão              4
                        Coreia do Sul          6 Noruega            1
                        Espanha                4 Rússia             7
                        EUA                   48 Singapura          1
                        Finlândia              1 Suécia             1
                        França                 8 Suiça              1
                        Grã-Bretanha          11 UE                 1
                        Índia                  3 Total           117


Nesse total, 75% estão localizadas em países da NATO e, entre estes, os EUA
contribuem com 41%, a que se seguem, a grande distância a Grã-Bretanha,
a Itália e a França. O domínio mundial dos EUA na produção de armamentos
mantém-se muito marcado, mesmo quando se alarga a listagem a empresas
com um volume de vendas na ordem dos $ 500 mil, em 2007.

Em Portugal também existe um conjunto de empresas vocacionadas para,
pelo menos parcialmente, exercerem actividade na área da defesa e que se
encontram-se englobadas numa sociedade holding denominada Empordef
– Empresa Portuguesa de Defesa, SGPS, SA. Esta empresa, com um capital
social de € 141.9 M tem prejuizos acumulados de € 66.2 M, em 2008.

As suas participadas constam do seguinte Quadro V (11):

  Quadro V                                                                              2008
                              particip                                            Resultados
                                                                    Vendas
                               ação             Actividade                        liquidos do
                                                                     (M €)
                                (%)                                                 ano(M €)
 Arsenal do Alfeite             100      reparação naval                    nd             nd
 Estal. Nav. Viana Castelo      100      construção naval                 129,6       (12,100)
 Navalrocha                      45      reparação naval                    6,2         0,700


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desmilitarização de
 IDD                        100                                           2,1     0,25
                                    materiais de defesa
                                    manutenção e reparação
 OGMA                        35                                         141,5       5,6
                                    de aviões
 Edisoft                     30     software                              6,1    0,300
 EID                        31,8    sistemas de comunicação              19,5    1,100
 ETI                        100     software de simulação                 1,9   (0,170)
 Portugal Space            83,75    tecnologia espacial                    0    (0,010)
 Defloc                      81     locação                              15,0   (0,050)
 Defaerloc                  100     locação de aviões                      0     0,000
 OGMA Imobiliária           100     imobiliária                            0    (1,350)
 Ribeira d'Atalaia         56,58    construção civil                       0    (0,700)


Enquanto sector de defesa, este conjunto de empresas apresenta várias
características que o debilitam. Algumas das empresas relevantes estão
dominadas por interesses privados (e até estrangeiros como no caso da
OGMA) que dificilmente se integrarão numa lógica dominada por interesses
militares portugueses. Só de modo muito episódico poderão ser produzidos
equipamentos militares, não passando algumas empresas de actividades de
apoio ou de prestação de serviços. Por outro lado, engloba empresas
secundárias num complexo militar, nomeadamente as locadoras e as da
área imobiliária ou de construção. Finalmente, poucas valias têm oferecido
em fórmulas de contrapartidas na aquisição de equipamentos militares no
estrangeiro.

Neste contexto, não é estranho que nas vendas, as de carácter militar
apenas representem cerca de 1/3 da facturação global e que a
exportação, neste contexto, participe apenas com 54.5%, em 2008.

                          Facturação em 2008
                                                  M€      %
                          Militar                  98,8    32,1
                            nacional               45,0    45,5
                            exportação             53,8    54,5
                          Civil                   208,9    67,9
                            nacional               43,9    21,0
                            exportação            165,1    79,0
                          Total                   307,7   100,0
                            nacional               88,9    28,9
                            exportação            218,9    71,1


E, para finalizar, torna-se compreensível que Portugal não tenha uma só
empresa na lista das 117 maiores empresas da área militar e que, portanto
seja um importador líquido de equipamentos, como adiante se verá.




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6 - Países vendedores de armamento

Segundo o SIPRI, as exportações de armamento acumuladas nos vinte anos
que terminaram em 2009 corresponderam a $ 468199 M, a preços constantes
de 1990, numa média anual de € 23410 M e que corresponde a cerca de $78
por ser humano actualmente existente.

Poderá parecer irrisório esse custo para a Humanidade. Porém, convirá
sublinhar que se trata de um cômputo que avalia apenas as transações
internacionais dos vários componentes dos arsenais dos países, não
considerando, portanto, a produção que se destina às forças armadas dos
próprios paises produtores. De facto, se os países pobres, desprovidos de
relevantes fábricas de armamento, recorrem essencialmente à importação
para equipar minimamente os seus muitos e mal pagos soldados, o mesmo
não se passa com os países ricos e poderosos que, têm os maiores
orçamentos militares, as grandes fábricas de equipamentos sofisticados,
como também apresentam forças armadas munidas com alta tecnologia e
quadros bem pagos.

Assim, uma enorme proporção da produção de armamento dos países
produtores não é objecto de inclusão no comércio internacional, porquanto
é absorvida pelos suas forças armadas domésticas, que contribuem
largamente para a sua viabilidade económica. Por outro lado, serão
consideradas nos valores das transações internacionais, as vendas de
equipamentos em segunda mão, que não são protagonizadas pelos
fabricantes mas, antes objecto de negócios envolvendo componentes
financeiras e políticas nem sempre claros. Para actualizarem e modernizarem
as suas forças armadas, os Estados procuram, ao procederem à encomenda
de novos equipamentos, colocar os meios obsoletos ao dispor de países com
menos suporte financeiro ou interesse em se posicionarem na vanguarda das
tecnologias existentes.

Poderá, contudo e para se aquilatar a distância que vai entre a produção
mundial de armas e a exportação de armamento, avaliar-se a fatia que é
absorvida pelos próprios países produtores. Um exercício aproximativo, dadas
as diversas unidades de medida, consegue-se comparando o comércio de
armamento em 2007 - $ 25443 M (preços de 1990) com os $ 213 840 M das
vendas das onze maiores aglomerados referidos acima (Quadro V) em 2007
(preços correntes).

Neste campo podem-se fazer algumas comparações interessantes com os $
213 840 M daquelas vendas:

   •   PIB em 2007: da Tailândia - $ 245384 M (população 63.9 M); da
       Venezuela - $ 233450 M (população 27.7 M); de Portugal - $ 219499
       (população 10.5 M)



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•   Sensívelmente, aquele valor de vendas de armas teria permitido
       duplicar o rendimento dos 320 M de habitantes de 25 países da África
       oriental e central cujo PIB conjunto foi $ 244032 M em 2007

O imediato periodo que se seguiu ao final da guerra fria e o subsequente
desmembramento da URSS trouxe um periodo de redução das transacções
internacionais de equipamentos, com a geração de fundas preocupações
entre os fabricantes de armamento e os estados-maiores, por motivos
diferentes mas, coincidentes quanto à forma de superar essa crise da
procura.

Os produtores de armas queriam, naturalmente que houvesse mais guerras e
tensões para manter activas as suas linhas de produção e cheios os bolsos
dos seus accionistas. Os generais e almirantes, para justificar as suas profícuas
existências precisavam de ser criativos para justificar o rearmamento junto
dos governos e da população.

Essa criatividade é bem patente quando a NATO, depois de uma primeira
fase de confusão, perante a desaparição do inimigo que justificava a sua
existência, inventou uma vasta panóplia de ameaças, umas mais difusas ou
etéreas e outras, francamente perigosas, pois vieram a conduzir a teatros
reais de guerra - sem figurantes, como nas tradicionais manobras - com
destruição de vidas e bens, num contexto geograficamente alargado (6).

Essa falta de concretização das ameaças e dos inimigos não resulta da falta
de massa cinzenta dos militares e dos seus consultores mas, de um propósito
deliberado de deixar vago o campo de aplicação das intervenções
militares, contrariamente ao que sucedia no tempo da guerra fria, em que o
espaço e os motivos da guerra eram calculados ao milímetro.

As compras de armamento pelos países obedecem a planeamentos
efectuados a médio prazo, sobretudo quando se trata de aquisições de
equipamentos novos, em que é preciso considerar as disponibilidades das
linhas de montagem dos fabricantes, assegurar financiamentos e prazos de
pagamento . E cada país tem os seus próprios planos e calendários, pelo que
a soma das transações internacionais têm variações que não se justapõem
exactamente aos periodos de crises e guerras ou ausência delas. Por outro
lado, os prazos de validade dos equipamentos militares são limitados, como
acontece com qualquer outro equipamento, mesmo os socialmente úteis.

Depois da quebra observada no gráfico seguinte, para o primeiro lustro dos
anos 90, 1997/98 é um periodo de recrudescimento com responsabilidades
repartidas por vários compradores – Grécia, Israel, Japão, Malásia, Arábia
Saudita, e Turquia, casos em que o principal fornecedor foram os EUA; a
Índia, abastecida pela Rússia; e ainda Taiwan, pelos EUA e pela França.




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Vendas de armamento (1990/2009)
 M$ de 1990
  32.000

  28.000

  24.000

  20.000

  16.000

  12.000

   8.000

   4.000

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                                                                                      03

                                                                                            04

                                                                                                  05

                                                                                                        06

                                                                                                              07

                                                                                                                    08

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O periodo 2000/2005 mostra-se relativamente pouco activo no que se refere
às transações internacionais de armamento. E isso, a despeito do medo
inculcado na multidão face à ameaça terrorista após o 11 de Setembro e as
invasões norte-americanas e seus sequazes, do Afeganistão e do Iraque.

Em 2006/2007 assiste-se a um novo aumento das compras de armamento,
sendo esse incremento resultante de um naipe de países compradores e
fornecedores mais alargado do que cerca de dez anos antes. Entre os
fornecidos pelos EUA salienta-se a Coreia do Sul, o Canadá, o Kuwait e o
Japão; os clientes da Rússia são a Índia e a Argélia; a Holanda abasteceu a
Noruega, o Chile e a Alemanha; e a Alemanha procedeu a grandes vendas
à Itália, posicionando-se como grande fornecedor da Grécia (em parceria
com a França) e da Malásia aqui, juntamente com a Rússia.

A distribuição das vendas de armamento no periodo 1990/2009 por grandes
grupos de fornecedores apresenta-se de acordo com o gráfico que abaixo
se segue.

Para todo o periodo considerado (1990/2009), em resumo, os países da NATO
procedem a cerca de 2/3 das vendas mundiais de armamento, contra 21.2%
do conjunto China-Rússia-Ucrânia, enquanto os paises neutros da Europa
(Suécia e Suiça) se quedam pelos 2.4% e o resto do mundo em 9.3%.

Nos dois primeiros anos utilizados existe um problema de classificação, uma
vez que não se conhecendo dados para a Rússia e a Ucrânia, não é possível



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separá-los dos restantes países do mundo, o que, envieza ligeiramente o
valor acumulado para as duas décadas.

Com a ressalva anterior, na década de 90, os países da NATO (onde se inclui
Israel, por motivos já referidos) ultrapassam sempre os 70% do total das
vendas, chegando mesmo a 84.6% em 2008, patamares que nunca mais
foram atingidos.


  (% )              Vendas de armamento (1990/2009)
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         Membros da NATO - Europa   EUA-Israel         Países neutros da Europa
         China-Rússia-Ucrânia       Resto do mundo



O triângulo China-Rússia-Ucrânia estabelece, no periodo 1999/2004, uma
consolidação da sua posição num patamar bem mais elevado que
anteriormente e que chega aos 37.6% da procura mundial, em 2001,
parecendo vir a estabilizar para quotas de mercado entre 25 e 30%.

No que se refere aos países da UE que são da NATO, observa-se que no
periodo 1994/2000 o seu peso no total das vendas de armamento cifrou-se
um pouco acima de 1/4 do total e, nos últimos cinco anos mantém-se com
uma quota tendencialmente acima dos 30% atingindo 35.1% em 2007.




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Quanto aos países neutros da Europa, mantêm uma posição firme que subiu,
claramente, a partir de 1999, chegando ao máximo de 5.4% em 2001.

Em suma, estas tendências mostram uma repartição relativamente igualitária
entre a UE, o binómio EUA-Israel e o conjunto China-Rússia-Ucrânia.

Entre os principais países europeus, verifica-se uma tendência para o
crescimento da quota de mercado de todos eles, particularmente no último
lustro, com a excepção da Grã-Bretanha.

         Quota média por periodo (%)
                           1990/1994 1995/1999    2000/2004     2005/2009 1990/2009
         Alemanha                7,6        6,2          6,5          10,6      7,7
         Espanha                 0,5        0,8          0,4           2,5      1,1
         França                  3,9        8,4          7,4           8,0      6,9
         GB                      5,6        6,5          5,8           4,1      5,5
         Holanda                 1,8        1,9          1,4           3,6      2,2
         Itália                  1,0        1,6          1,4           2,6      1,6
                   Total        20,4       25,3         22,9          31,4     25,0

Os EUA, abarcando quase metade das vendas mundiais de armamento na
década de 90, recuam para menos de 1/3 na primeira década do século
XXI. Isto sucede, precisamente, quando após o bombardeamento da
Jugoslávia, os EUA acentuam a sua crispação, as suas pretensões a uma
hegemonia absoluta e marcam de acções guerreiras a sua intervenção,
com o tenebroso “diktat” vomitado por G W Bush “Quem não estiver
conosco, está com o terrorismo”, bem dentro do maniqueismo típico dos
fundamentalistas cristãos. Na realidade, os desejos de domínio planetário dos
EUA esbarram, para além das resistências mais explícitas ou mais surdas dos
povos e dos Estados, com uma fragilidade económica evidente que se
manifesta, neste caso concreto, na perda de importância relativa no
comércio de armamento.

                  Quota média por periodo (%)
                  1990/1994 1995/1999     2000/2004 2005/2009 1990/2009
                     49,2         49,5      32,1         29,8          40,9



Contudo, a grande valia dos EUA, no contexto mundial, no contexto
económico é essencialmente, a capacidade de emissão ilimitada de títulos
(moeda e dívida pública), transferindo para os seus credores a
responsabilidade pela sua potencial insolvência. Em termos da produção de
bens e serviços, estratégicamente e para além dos vectores ligados ao
complexo militar (aviação, comunicações, software…), são de nomear, a



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produção cinematográfica e de conteúdos (com o papel ideológico
inerente) e a produção (altamente subsidiada) de cereais.

No âmbito do conjunto China-Rússia-Ucrânia observa-se, no periodo
observado – do qual se excluiu o periodo 1990/94 por razões já expostas –
uma estabilização dos pesos relativos da China e da Ucrânia, com
representatividades globais modestas e evidenciando-se a Rússia, como a
segunda potência exportadora mundial, apesar da quebra na última
metade da última década.

                Quota média por periodo (%)
                          1995/1999    2000/2004    2005/2009 1990/2009
                China            2,4          2,3         2,4           2,8
                Russia          13,3         28,7        23,6          16,8
                Ucrania          1,9          1,9         1,8           1,5
                total           17,6         33,0        27,7          21,2

Numa referência a Portugal, as exportações do país, reportadas na base de
dados do SIPRI situam-se apenas em 2008 e 2009 e computam-se em $ 87 M
e $ 40 M (preços de 1990), respectivamente (0.38% e 0.18% do comércio
mundial). Recorda-se que, no relatório da Empordef, atrás referido, as
exportações militares em 2008 se cifram em € 53.8 M, onde se incluirão,
porventura, exportações de serviços, que não estão contemplados nos
dados coligidos neste capítulo.

As exportações portuguesas de armamento em 2008 destinaram-se ao
Uruguai e ao Chile e, em 2009, à Bélgica.


7 – Vendedores por tipo de armamento

Viu-se no ponto anterior a distribuição das vendas de armamento por grupos
de países, procedendo-se agora à sua avaliação por tipo de equipamentos.

A preponderância do conjunto dos países da NATO (onde se inclui Israel)
observa-se em todos os segmentos de equipamentos, numa média global
que corresponde a cerca de 2/3 das vendas mundiais. Abaixo daquele
patamar somente se verifica o caso dos tanques (54.9%), sendo muito
superior a supremacia no que se refere ao fornecimento de satélites e
“outros”: quanto a máquinas e sensores, o peso das vendas dos países da
NATO situa-se em cerca 3/4 do total mundial.

No caso dos aviões, o binómio EUA-Israel, nomeadamente os EUA detêm a
maioria das vendas mundiais, seguindo-se o conjunto China-Rússia-Ucrânia a
grande distância, sendo modesta a participação dos países europeus da
NATO.


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Vendas de armamento por tipo de equipamento
 (%)
                                      (1990/2009)

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 Si




            Membros da NATO - Europa   EUA-Israel                  Países neutros da Europa
            China-Rússia-Ucrânia       Restantes



Quanto aos sistemas antiaéreos e tanques a participação da NATO-Europa e
da China-Rússia-Ucrânia aproxima-se de 1/4 das vendas mundiais, atrás da
posição de EUA-Israel, mais baixa no contexto dos tanques, ainda que em
ambos os casos detenham a maior fatia do mercado. No que se refere aos
tanques, observa-se a maior participação dos restantes países (18.2%).




www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt                        21-04-2010                      32
Nas vendas de artilharia, a posição dominante pertence à NATO-Europa,
seguida de muito perto pela participação dos EUA-Israel. Os restantes países
têm um peso superior ao do conjunto China-Rússia-Ucrânia.

No caso das máquinas, o predomínio dos EUA-Israel é elevado, ocupando a
NATO-Europa que responde por 1/3 das vendas, enquanto o conjunto China-
Rússia-Ucrânia e os restantes têm pesos aproximados.

No capítulo dos mísseis, de novo surge o domínio dos EUA-Israel, com a
China-Rússia-Ucrânia a ocupar perto de 1/4 do total, muito acima da
posição da NATO-Europa que, pelos dados do SIPRI, é o único vendedor de
satélites.

Nos “outros equipamentos” a parcela dos países da NATO é muito grande,
como aliás, nos sensores, onde é notória a relevância dos países neutrais da
Europa, a Suécia e a Suiça.

Quanto à venda de navios de guerra, a NATO-Europa domina as vendas
mundiais com 55.7% do total no conjunto das duas décadas, assinalando-se
o terceiro lugar dos EUA-Israel, atrás da China-Rússia-Ucrânia.

O perfil exportador de cada grupo de países, de acordo com o tipo de
equipamentos militares, consolidado nas últimas duas décadas, apresenta
diferenças claras, como se pode observar no quadro seguinte.

                                                                                   (%)
                                                Paises     China-
                          NATO-      EUA-
                                              neutrais -   Rússia-   Restantes Mundo
                          Europa     Israel
                                               Europa      Ucrânia
     Aviões                26,6      55,6       24,6        49,3          40,7    44,9
     Sistemas     anti-
                            3,7       3,6        7,2         4,3          0,7      3,6
     aéreos
     Tanques               10,9       9,2       11,7        14,0          23,6    12,1
     Artilharia             2,7       1,5        1,7         1,2          3,3      1,9
     Máquinas               3,4       2,7        0,4         1,4          2,8      2,6
     Mísseis                9,8      15,8        9,0        15,3          12,8    13,8
     Outros                 0,7       0,6        0,0         0,0          0,7      0,5
     Satélites              0,0       0,0        0,0         0,0          0,0      0,0
     Sensores               7,4       4,9       28,3         1,8          1,5      5,1
     Navios                34,8       6,0       17,2        12,6          14,0    15,6
                          Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute

A exportação a nível mundial é dominada pelo elevado valor dos aviões,
seguidos num mesmo patamar pelos navios, os mísseis e os tanques.




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O Pentágono e a Nato. gastos militares e armamentos
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  • 1. O Pentágono e a NATO. Gastos militares e armamentos Sumário 1. Enquadramento da política belicista do Pentágono e do seu alter ego, a NATO 2. O volume dos gastos militares 3. A dimensão das forças armadas 4. O armamento dos principais paises 5. Empresas produtoras de armamento 6. Países vendedores de armamento 7. Vendedores por tipo de armamento 8. Países compradores de armamento 1 - Enquadramento da política belicista do Pentágono e do seu alter ego, a NATO O volume dos gastos militares para a grande maioria dos países está relacionado com o grau de conflitualidade regional, tendo em conta que, nesses casos, não existem pretensões hegemónicas a nível global; ou com o poder interno das castas militares, mais ou menos extensas ou influentes no dimensionamento dos seus meios e mordomias. Em todos os países, por outro lado, existem relações mais ou menos claras, demasiadas vezes corruptas, entre os poderes civis, as castas militares, os fornecedores de armamento e discretos intermediários, que recolhem avultadas comissões. Na base estão as populações e nomeadamente a multidão de trabalhadores e ex- trabalhadores, pouco ou nada beneficiados, com essas transações e cujo papel se resume a arcar com os custos inerentes, que lhes reduz o rendimento. Em alguns casos, a pertença a coligações de Estados envolve relações solidárias, em regra inseridas num quadro hierárquico, encimado por uma potência dominante. Nesse contexto, países pequenos, sem capacidades de desenvolverem pretensões hegemónicas a nível global ou, mesmo regional, sem ameaças descortináveis à sua segurança, são envolvidos em encargos, conflitos e guerras, resultantes dessa inserção hierárquica, por conta da satisfação de interesses de terceiros, qual tributo senhorial, injustificável para os cidadãos. Naturalmente que a NATO é o exemplo mais completo de coligação, cuja cabeça é o Pentágono e que abarca politicamente 28 Estados, em regra, com o entusiasmo das respectivas castas militares, bem pagas e doutrinadas ideologicamente para obedecer e que constituem, no seu conjunto, um género de guarda pretoriana, com códigos de actuação e linguagem www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 1
  • 2. comuns. A NATO, por outro lado, é a única organização militar, eufemisticamente designada como fornecedora de um serviço de segurança colectiva e solidária entre os seus membros; e que se arroga também a actuar sobre os países não membros e contra os seus povos, no quadro de uma pretensão de intervenção planetária, perigosamente susceptível de aplicação prática, dados os meios e grau de coesão que detém. A NATO define mesmo uma escala com os vários graus de aplicação da sua estratégia: • Protecção preventiva (caso de sanções) • Gestão pró-activa das crises (tipo intervenção no Haiti) • Utilização da intervenção militar (Afeganistão) • Estabilização post-intervenção (pretensamente, o Iraque actual) Nenhuma outra coligação formal ou informal de Estados, tem o mesmo poder de intervenção global, quer político, quer militar, alicerçado na constante existência de um poder de destruição arrasador, por sua vez, almofadado por uma apropriação francamente assimétrica dos recursos e da riqueza criada pelo Homem. Em 2001- e, sublinhe-se, muito antes do 11 de Setembro - sob a direcção do então vice.presidente dos EUA, Dick Cheney, foi traçada a NPE – Nova Política Energética, baseada nos seguintes pontos: • A segurança nacional dos EUA tem de estar assegurada, como axioma, como princípio inegociável e sagrado, devendo, para o efeito, toda a restante Humanidade estar preparada para se subordinar a tão alto desígnio; • A manutenção da ordem capitalista mundial, actualmente vigorando no âmbito do paradigma neoliberal (como antes sob o primado keynesiano), exige um poder militar esmagador que retire veleidades a qualquer Estado para se colocar em posição frontal de desafio face aos EUA, por um lado, e aos povos, o direito de revolução social, por outro; • Para que a economia norte-americana funcione, necessita de um intenso recurso a bens energéticos que, sendo essencialmente de origem fóssil, são constituidos por reservas mundiais limitadas e, portanto, objecto de disputas muito fortes; • A própria manutenção do aparelho militar exige um fluxo garantido e abundante de recursos energéticos que contribui, por si só, para uma pressão para o controlo desses recursos. senão das suas fontes, pelo menos dos seus canais de transporte – vias marítimas, oleodutos e gasodutos; www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 2
  • 3. Apesar de possuir grandes recursos e de ser grande produtor de produtos energéticos, os EUA têm um volume de consumo muito superior às suas próprias capacidades domésticas. De acordo com a NPE, a situação a prazo, no capítulo do petróleo, é preocupante: 2002 Prev 2020 Produção 8.5 7.0 Consumo 19.5 25.5 Importação 11.0 18.5 Valores em milhões de barris por dia (Mb/d) • Para se mover neste complexo cenário os EUA definiram as vantagens para os seus interesses da desestabilização política e da fragmentação de Estados, como as levadas a cabo na Jugoslávia, na antiga URSS, com a autonomia curda no Iraque. • Mais recentemente, James Jones, comandante supremo da NATO na Europa, entre 2003 e 2006, foi designado como assessor de segurança nacional de Obama, sabendo-se que é um firme defensor do alargamento da NATO a leste e a sul, para controlo dos recursos energéticos necessários aos EUA. Esta linha de continuidade face à administração Bush e a actuação dos EUA no apoio ao golpe de estado nas Honduras, revelam a grande unidade entre republicanos e democratas, no que se refere à extensão geográfica do seu conceito comum sobre a defesa dos interesses nacionais dos EUA. Por outro lado, o Pentágono, em ligação com o sector do petróleo e as suas multinacionais e com a indústria do armamento, goza de uma grande autonomia face à presidência, é um estado dentro do Estado. Condoleeza Rice e Dick Cheney, eram altos quadros do sector petrolífero e Robert Gates, manteve-se como responsável máximo do Pentágono, transitando do governo de Bush para o de Obama. Para além deste painel sumário, desenham-se alguns desenvolvimentos e opções que conduzem à promoção de conflitos e outras acções levadas a cabo pelos EUA, com maior ou menor envolvimento dos seus aliados da NATO ou terceiros, circunstanciais, como a Rússia, Israel e países do Maghreb na operação Active Endeavour, os países do Golfo Pérsico do Conselho de Cooperação do Golfo, ou a Índia no patrulhamento do estreito de Malaca. • Para solucionar a questão energética, os EUA enquadraram a necessidade do aumento do número de fornecedores, o surgimento de novas jazidas, o recurso a fontes alternativas limpas (solar, eólica…) ou poluentes (nuclear, carvão), sabendo-se que são parcos contributos oara o problema. Existem outros grandes consumidores, nomeadamente a China, ávidos de garantir abastecimentos, imprescindíveis para o seu elevado crescimento económico e estão activos, quer em contratos de exploração noutros países, como na construção de novos canais de encaminhamento do petróleo e do www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 3
  • 4. gás. Por outro lado, o surgimento de grandes jazidas vai rareando e as condições de exploração (por exemplo, no mar) são cada vez mais caras. Finalmente, as renováveis têm ainda um longo caminho a percorrer para substituirem o petróleo, nomeadamente nos transportes enquanto que o nuclear não colhe grandes simpatias entre as populações; • As grandes reservas de petróleo e gás encontram-se na Rússia, na Ásia Central, no Médio Oriente e na Venezuela e o grande consumo situa- se nos EUA, na Europa, no Japão e na China; para além de uma longa lista de outros produtores, mormente em África ou a Noruega e outros consumidores de crescente importância como a Índia. Esta não justaposição levanta pesados problemas técnicos de logística e transporte que acentuam as disputas entre os diversos operadores mas, que lhes servem também de instrumentos, num quadro geopolítico mais alargado; • O controlo dos fluidos saídos dos poços e do seu encaminhamento exige o controlo político dos Estados produtores bem como de outros, relevantes para a disponibilidade energética junto dos grandes consumidores; • Entre outros factores pouco favoráveis aos EUA, refere-se em primeiro lugar a Rússia, que continua a ter um poder geoestratégico, não ultrapassável com sanções ou políticas de canhoneira; que tem enormes reservas; um poder político forte em torno do seu emblemático Putin que domina os recursos energéticos do país e faz deles a espinha dorsal da economia russa; que é o natural abastecedor da Europa Ocidental, directamente ou como via de passagem para as exportações do Turquemenistão e do Cazaquistão; que tem a vantagem de ter como vizinhos próximos o Japão e a China, grandes importadores; • Essa ligação à UE processa-se através de várias condutas que obrigatoriamente têm de atravessar a Ucrânia ou, menos problematicamente, pela Biolorússia que é um estado vassalo de Moscovo, ambos aptos a constituir matéria para dificuldades provocadas pelas agências da CIA, como na “revolução laranja” ucraniana, que parece já ter perdido a cor e o cheiro; • Os grandes produtores da Ásia Central, para mais enquadrados com a Rússia e a China na Organização de Cooperação de Xangai, tendem a coordenar as suas economias com os seus gigantescos vizinhos, passado um periodo de permeabilidade à adulação norte-americana e de fraqueza da Rússia de Ieltsin; www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 4
  • 5. A Sul, as reservas do Irão são incontornáveis pela sua dimensão, tal como é intolerável o regime iraniano para qualquer administração norte-americana, seja ela fundamentalista evangélica com os republicanos, ou menos ideológica com Obama. Nesse contexto, prometem durar as manobras de intimidação e cerco, com o argumento do uso militar do nuclear; a aplicação de ineficazes sanções sob o patrocínio dessa entidade difusa denominada “comunidade internacional; e a contenção da agressividade israelita, sempre disposta a aventuras guerreiras, embora não tenha ganho nenhuma desde 1967; • Ainda a Sul, coloca-se o Afeganistão onde os norte-americanos tinham grandes esperanças de construir a saída do petróleo da Ásia Central para o Índico – fora da intervenção russa ou iranuana - mas que nunca se poderá realizar num quadro de guerra civil; seja como agora entre o prefeito de Kabul (Karzai) e os talibans ou, em alternativa, entre os senhores da guerra entre si pelo controlo do tráfego da droga; • No Golfo Pérsico, os EUA construiram uma rede de protectorados petrolíferos e bases militares – Iraque, Kuwait, Bahrein, Qatar, Oman – confrontando-se, paralelamente com a eterna suspeita de infidelidade por parte dos sauditas; • No Cáspio, interesses ocidentais construiram o BTC oleoduto que liga a margem oriental (Turquemenistão e Cazaquistão) à margem ocidental, restrita ao Azerbaijão da família Aliev e que daí segue pela Geórgia e pela Turauia até desembocar em Ceihan, no Mediterrâneo Oriental, próximo da fronteira síria; • Finalmente, a Venezuela, apesar de continuar a ser uma fonte energética importante no abastecimento dos EUA, apresenta um modelo social, cujo exemplo para outros países da América Latina é intolerável para os EUA, habituados desde sempre a monitorar a evolução das sociedades latino-americanas para que não ousem arranhar o poder imperial. E daí o reforço da presença militar na Colômbia, em Aruba e a reactivação da IV Esquadra no Atlântico sul, coincidentes com novas descobertas petrolíferas nos mares do Brasil. Actualmente, os EUA, apesar do seu incontestável poder militar, vêm registando revezes estratégicos que se podem considerar como factores de recuo e decadência, que os obrigam, a sucessivas intervenções em outros Estados, em vez da utilização do chamado “soft power”, a um recurso crescente à disseminação da sua presença militar e à diluição da sua liderança em quadros formais e multilaterais de actução. Daí a importância da NATO no dispositivo militar estratégico do capitalismo ocidental. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 5
  • 6. Os pontos fortes que os EUA têm neste largo tabuleiro são vários. Um é a Turquia, que domina historicamente os estreitos entre o mar Negro e o Egeu mas, que vem procurando manter uma grande autonomia estratégia onde as relações e o armamento norte-americano ou a amizade com Israel são temperados pela boa relação com o Irão e a recusa no apoio aos EUA na invasão do Iraque; • Outro é a fortaleza israelita cuja relevância no policiamento do Médio Oriente obriga os EUA a tolerar o genocídio palestiniano, ganhando em contrapartida, o anti-americanismo da “rua árabe”; a mostrar-se distraido com a proliferação nuclear protagonizda por Israel; a englobar este último em projectos alternativos de condução do petróleo de Ceihan até Eilath, porto israelita no mar Vermelho, evitando assim o Suez para a ligação entre o Índico e o Mediterrâneo; • O poder militar dá aos EUA e à NATO grandes vantagens no domínio aero-naval à escala global, com um sistema logístico em fase de adaptação, no sentido da maior mobilidade, com a utilização de uma vasta rede de bases, onde estacionam soldados e equipamentos em estado de elevada prontidão e maleabilidade táctica; • Do ponto de vista estritamente político-ideológico, a administração Obama abandonou as teses xenófobas de Huntington sobre os choques de civilizações, onde o inimigo se centrava no mundo islâmico e nos países de cultura cristã ortodoxa. Vem-se assistindo, por um lado, a tentativas várias de cooptação da Rússia para a estratégia ocidental, com o abandono da construção do escudo de mísseis na Europa de Leste, o envolvimento no isolamento do Irão, no patrulhamento dos mares da Somália, o que é susceptível de agradar à UE, pouco interessada em crispações com o seu grande fornecedor de energia. E, simultaneamente, dividir a OCX que congrega a Rússia, a China, os países da Ásia Central e que tem como observadores interessados a Índia e o Irão. Por outro lado, procura-se estabelecer uma dicotomia entre os muçulmanos moderados e os jihadistas, os terroristas, os fundamentalistas, com óbvios propósitos de aliciamento de uns contra os outros, mesmo que não sejam claras as fronteiras entre ambos os segmentos; • Grande parte do comércio mundial circula pelo Índico e liga a Ásia Oriental (Japão, China…) à Europa – sem referir origens/destinos intermédios como a África do Norte e a Oriental ou a Ásia do Sul - através de um conjunto de fieiras ou, de modo mais explícito, por estreitos. Do mesmo modo e apesar da crescente existência de alternativas, o petróleo do Médio Oriente é encaminhado para o Extremo Oriente e para a Europa através dos mesmos estreitos, que se tornam portanto fulcrais, pontos de potenciais estrangulamentos. Sucede, que essas vias são vitais para a Europa, para a Ásia Oriental e www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 6
  • 7. mesmo do Sul (caso da Índia), com fortes relações comerciais entre si e como se disse, devido ao abastecimento de energia. Porém, não o são tanto para os EUA que, assumindo o seu controlo, detêm em permanência, instrumentos determinantes para a (des)estabilização económica de aliados, amigos e menos amigos. O interesse nacional dos EUA é quem mais ordena; • De facto, as ligações entre os EUA e o Extremo Oriente, como com a Europa, não passam pelo Índico e, por outro lado, o país, no capítulo do petróleo tem vindo a aumentar a parcela de proveniências situadas na costa atlântica de África para além da Venezuela e México, no continente americano, reduzindo, portanto,a dependência do Médio Oriente; • O controlo do Índico e dos seus estreitos é vital para todo o sistema global de transportes marítimos. Em 1510, Afonso de Albuquerque, segundo vice-rei português da Índia, tentou controlar a navegação no Índico – a expensas de turcos, persas e indianos - conquistando Ormuz (entrada do Golfo Pérsico), Malaca (entrada no respectivo estreito) faltando-lhe a tomada de Aden para dominar a entrada no mar Vermelho (Bab el Mandeb). Mais tarde, os ingleses conseguiram esse desiderato, que durou até à descolonização; • Actualmente, o dispositivo militar norte-americano no que se refere ao Bab el Mandeb, está presente no Djibouti podendo evoluir para uma instalação no Yémen a partir do conflito interno existente neste país; e patrulha o mar contíguo, a pretexto dos denominados “piratas somalis”, em parceria com outros países, da NATO ou não. Nas imediações do estreito de Ormuz, os EUA detêm o Kuwait onde mantêm grande número de instalações, têm o exército fortemente presente no Iraque e no Afeganistão, bases militares na Arábia Saudita (Dharam, que, por coincidência se situa muito próxima do importante terminal petrolífero de Ras Tanura), Bahrein, Qatar (al-Ubaid) e Oman. Finalmente, o estreito de Malaca dada a vulnerabilidade morfológica e a existência de piratas menos mediatizados é patrulhado pela marinha americana em parceria com a Índia, e o forte apoio logístico de Singapura. Para se aquilatar a fragilidade de todo este sistema, poder-se-á imaginar o impacto no bloqueio do estreito de Malaca, susceptivel de aumentar 10/12 dias a viagem de um navio vindo do Índico para o Japão. Quais cerejas a encimar este bolo, refiram-se a V Esquadra e a base estratégica de Diego Garcia, bem plantada no centro do oceano Índico e de onde foi expulsa a população, nos anos 70; • Há, naturalmente e em crescimento, fraquezas estratégicas para o Pentágono e os seus aliados da NATO. O objectivo de isolamento da www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 7
  • 8. Rússia, proposto durante a administração Bush, falhou, apesar da absorção da Europa de Leste pela NATO, do desmembramento da Jugoslávia, da “independência” do Kosovo (inventada para albergar a grande base de Bolsdteel, a “pequena Guantanamo”, para controlo dos Balcãs) e das “revoluções laranja” na Ucrânia e na Geórgia. A Rússia continua a fornecer a Europa de energia, vem diversificando esses canais com ligações directas através do Báltico e de Murmansk, evitando a Ucrânia; garantiu a utilização dos seus oleodutos para os hidrocarbonetos cazaques e turcomenos; participa numa aliança económico-militar – a OCX – que engloba uma enorme massa geográfica, rica em petróleo e gás, que inclui o dinamismo chinês, os capitais chineses e russos, o maior exército do mundo e o arsenal nuclear russo; • As invasões do Iraque e do Afeganistão estão longe de serem casos de sucesso para os EUA. No Iraque, a invasão, embora tenha facilitado a entrega da exploração do petróleo iraquiano às multinacionais ocidentais (1) não garantiu a estabilidade da região, aumentou as tensões internas, no Iraque, entre curdos, sunitas e xiitas e o oráculo parece pouco optimista quanto depois da saida do exército americano e dos seus mercenários. A intervenção no Afeganistão, por seu turno, não tem produzido impactos economicamente úteis para os seus promotores, se se excluirem os fornecedores de armas; e a construção de oleodutos através do território afegão para conduzir o petróleo da Ásia central para o Índico, para a Índia e o Paquistão, sem passagens por território iraniano é, cada vez mais uma miragem; • Mantém-se a solidez e a estabilidade do Irão que, em vez de isolado, intensifica relações de colaboração com os seus vizinhos. O Irão vai construir um gazoduto para abastecer o Paquistão e porventura a Índia (2) e estabeleceu recentemente uma ligação com o sistema de transporte turcomeno(3). Em paralelo, importa gás turcomeno para consumo próprio e para abastecimento da Turquia e tornou-se importador de gás azeri, num jogo de compensações que minimiza o transporte de um produto homogéneo, promovendo as suas exportações por mar; • A China estabeleceu ligações de abastecimento de gás e petróleo com a Rússia, o Cazaquistão e o Turcomenistão, por via terrestre e vai abrir-se uma nova oportunidade com a exportação russa pelo porto de Nakhodka, no Extremo Oriente russo e da Sakalina que também poderá tornar o Japão menos dependente dos petroleiros vindos do sul. Por seu turno, o mesmo Turquemenistão, que detém as quartas maiores reservas mundiais de gás dedicou as suas exportações à Rússia, à China e ao Irão. Em contrapartida, os EUA dedicam à China a atenção necessária para qualquer bloqueio naval, mantendo 100000 soldados no Japão e na Coreia do Sul, a VII Esquadra, Okinawa e www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 8
  • 9. Singapura, garantido que está o apoio de Taiwan, estudando ainda a possibilidade de retornar a Cam Rahn, no Vietnam que tão más recordações lhes trarão; • Finalmente, o deficit orçamental norte-americano é enorme e redunda num endividamento que, só perante a China e o Japão, orça os $1,5 biliões, a que se devem somar juros anuais de $ 250000 M. Para tal contribui devidamente o orçamento militar que é de $ 1bilião onde sobressaem $ 880000 M para o Pentágono mas, que exclui os programas militares secretos ($ 70000 M), a ajuda militar ao estrangeiro, nomeadamente ao Egipto, a Israel e ao Paquistão, a contratação de 225 000 elementos a empresas de serviços militares, os custos com os veteranos e os $ 75000 M com os 16 serviços de informações. Só as guerras no Iraque e no Afeganistão custarão em 2010 $ 200/250000 M, enquanto o recente reforço de 30000 homens decretado por Obama para o Afeganistão, constituirá um esforço financeiro superior a todo o orçamento de defesa de um país como a Alemanha (4). Um balanço entre esta síntese de pontos fortes e pontos fracos do Pentágono, da NATO e da estratégia de domínio norte-americano no mundo, centrado nos aspectos geopolíticos e militares não é nem nunca seria satisfatório para os seus promotores. As dificuldades económicas e financeiras dos EUA e dos países chamados desenvolvidos, a braços com graves problemas de desemprego, incremento da pobreza, desvalorização do trabalho, deficits e estagnação, aliados à ausência de credibilidade do sistema político e dos seus mandarins, não favorecem a resolução dos problemas globais de acordo com as suas messiânicas expectativas. A substituição do postulado do choque de civilizações por um outro, mais subtil “choque de valores” (5), não altera os objectivos de domínio da Humanidade e de apropriação dos recursos do planeta. Julgavam os ingénuos que a tecla dos direitos humanos tocada por Reagan tinha ficado enferrujada com os escândalos de Abu Ghraib, Guantanamo, Kunduz, etc e por isso, soa a falso e ofensivo que os governos dos EUA e dos seus ajudantes falem ao mundo de valores. As dificuldades estratégicas dos EUA, do Pentágono e da NATO não farão recuar – antes pelo contrário - os seus responsáveis perante o recurso à guerra, à tortura, à pulverização de cidades e aldeias, ao desalojamento de populações, ao onerar inaudito dos cidadãos europeus e norte-americanos com os custos e os riscos inerentes à tal guerra infinita, decretada por Bush, qual animal enraivecido, perante os fumos das Torres Gêmeas. Somente a luta dos trabalhadores, a sua interacção e organização contra a guerra, o militarismo e os sistemas militares-industriais pode travar a deriva guerreira; e isso só pode ser definido como um objectivo humanitário se enquadrado na luta pela democracia e pelo extirpar do capitalismo. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 9
  • 10. 2 - O volume dos gastos militares O volume dos gastos militares é um indicador elementar mas, bastante esclarecedor dos ónus que os povos suportam com os respectivos dispositivos militares. O Quadro I, adiante exposto, contempla o custo dos gastos militares por habitante, em comparação com a contribuição média de cada cidadão para a formação da riqueza, para os anos de 1998 e 2008. Essa análise inclui todos os países da NATO, os países neutrais da Europa e Israel, tendo em conta a total integração deste último no dispositivo militar- estratégico ocidental. Quadro I – Gastos per capita com a defesa e capitação do PIB ($ de 2005) 1998 2008 Defesa/PIB (%) Defesa PIB Defesa PIB 1998 2008 Albânia 19 3.767 62 7.160 0,51 0,87 Alemanha 499 29.074 451 33.714 1,72 1,34 Áustria * 340 29.721 336 36.037 1,14 0,93 Belgica 447 28.411 415 33.605 1,57 1,23 Bulgária 65 6.319 93 11.239 1,02 0,83 Canadá 369 29.902 494 36.077 1,23 1,37 Chipre * 844 21.101 486 26.453 4,00 1,84 Croácia 411 11.951 204 17.520 3,44 1,16 Dinamarca 698 30.016 651 34.140 2,33 1,91 Eslováquia 138 12.538 168 20.518 1,10 0,82 Eslovénia 198 17.990 337 27.188 1,10 1,24 Espanha 263 23.148 332 28.313 1,13 1,17 Estonia 62 9.956 273 18.882 0,62 1,45 EUA 1.162 37.238 1.771 43.671 3,12 4,05 Finlândia * 472 25.073 527 33.596 1,88 1,57 França 833 26.704 827 30.624 3,12 2,70 Grã-Bretanha 813 27.714 941 34.061 2,93 2,76 Grécia 724 19.134 871 27.124 3,78 3,21 Holanda 576 31.402 601 38.078 1,84 1,58 Hungria 119 12.563 135 17.997 0,94 0,75 Irlanda * 283 27.354 275 39.115 1,03 0,70 Israel 1.543 21.535 1.752 25.353 7,17 6,91 Islândia 0 28.251 0 36.209 0,00 0,00 Italia 535 26.360 545 28.272 2,03 1,93 Letónia 23 7.607 176 15.597 0,31 1,13 Lituânia 59 9.188 153 17.571 0,65 0,87 Malta * 100 18.000 96 22.426 0,56 0,43 Noruega 1.010 41.979 1.026 49.072 2,41 2,09 Polónia 132 10.833 195 16.440 1,22 1,18 Portugal 317 19.086 355 21.194 1,66 1,67 www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 10
  • 11. Rep Checa 182 16.042 199 23.211 1,13 0,86 Roménia 85 6.792 102 11.704 1,25 0,87 Suécia * 672 26.599 571 33.610 2,53 1,70 Turquia 225 9.702 156 12.408 2,32 1,26 Crescimento Decrescimento * Paises da UE não pertencentes à NATO Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute Sublinhe-se, em primeiro lugar, que a Islândia é o único destes países sem forças armadas formais, desde 1859, embora pertença à NATO e mantenha acordos de segurança com países daquela organização, como os EUA, a Dinamarca e a Noruega, entre outros. A base de Keflavik esteve na posse dos EUA em 1951-2006 onde estava aquartelado o Icelandic Defense Force; essa base é agora mantida pela Agência de Defesa Islandesa. Os países onde os gastos militares por habitante são mais elevados – EUA, Israel e Noruega - são os mesmos nos dois anos considerados. Os EUA, como consequência do aumento de 52.3% relacionado com a ocupação do Médio Oriente, ultrapassaram em 2008, Israel, no primeiro lugar, apesar de este último ser, em permanência, uma entidade em guerra. Outros casos de grande crescimento da capitação dos gastos militares são os países do Báltico e do leste europeu, antes integrados no Pacto de Varsóvia e que hoje, rearmam as suas forças armadas, nomeadamente, substituindo armamento da antiga URSS, por armas fabricadas nos países ocidentais, no âmbito da sua recente inserção no quadro da NATO. Embora nenhum país tenha reduzido o valor da capitação do PIB – dados de 2009 retirarão cabimento a esta afirmação como resultado da crise – o volume das despesas militares por habitante regrediu em onze países. São eles – Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Croácia, Dinamarca, França, Irlanda, Malta, Suécia e Turquia. Para tal facto, contribuem distintos elementos justificativos. No Norte da Europa, a deslocação do eixo de conflitualidade da NATO para sul, para o Mediterrâneo e a contestação dos activos movimentos pacifistas e anti- militaristas ali existentes motivaram essa evolução; no caso da Croácia trata- se do fim da guerra nos Balcãs; na Turquia, as causas revelam-se na redução do tradicional papel das forças armadas enquanto tutelares do poder, na menor conflitualidade no Curdistão e na forte presença militar dos EUA que, assim, substituem, parcialmente, o gasto turco com a defesa; finalmente, no caso de Chipre, estando integrado na UE e embora não pertença à NATO, sentir-se-á mais seguro, nomeadamente face a uma ameaça turca que, por sua vez estará mitigada pelo desejo turco de integração na UE. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 11
  • 12. A parcela do produto de cada país destinado à defesa é mais elevada em Israel, com 7.17% em 1998, decaindo ligeiramente para 6.91% em 2008. Em segundo lugar, posicionam-se os EUA cuja mobilização de recursos cresceu em 2008, quase um ponto percentual relativamente a dez anos antes. E, em terceiro lugar, posiciona-se a Grécia com 3.21% em 2008, o que, legitimamente, coloca a questão do contributo de continuados e astronómicos gastos militares, para as actuais dificuldades financeiras do Estado grego. Registou-se uma redução do peso dos gastos militares na capitação do PIB em 24 países, sendo mais notáveis os decréscimos observados na Croácia, em Chipre e na Turquia, pelas razões já atrás expressas. Desse total de 24 países existem 11 onde o facto é concomitante com a redução do próprio gasto militar por habitante, independentemente da consideração do PIB. Nos restantes, o peso da despesa militar no PIB reduz-se, a despeito do aumento, em alguns casos substancial, da parcela que onera cada cidadão. Em nove paises – Albânia, Canadá, Eslovénia, Espanha, Estónia, EUA, Letónia, Lituânia e Portugal – aumenta, no periodo, o encargo com a defesa no total do PIB, ainda que marginalmente, no caso dos dois países ibéricos. Se nos outros casos, as razões já foram referidas, em Portugal e Espanha, tendo em conta a ausência de conflitos na sua zona geográfica, tudo indica que se esteja em periodo de acréscimo de militarização da sociedade, de recuperação do “prestígio” das forças armadas. De facto, após a queda das ditaduras, ficou a nu a actuação criminosa das forças armadas peninsulares no apoio ao fascismo e, no caso português, no envolvimento nas guerras coloniais. Está-se actualmente, com a consolidação da direita no poder, numa fase de relegitimação das forças armadas, aproveitando-se o final do serviço militar obrigatório para reafirmar o seu carácter de casta e a postura mais agressiva do Pentágono, em busca de aliados firmes e dóceis. Por outro lado, a enorme taxa de desemprego entre os jovens, cria uma larga base social de recrutamento para esse mercenariato que, contudo não deixa de estar marcado pela precariedade. No caso da Espanha e, tendo em conta a extensão da sua costa e águas territoriais no Mediterrâneo, a grande proximidade física com a África e as fortes relações com o Magreb, a questão do rearmamento e do reforço dos militares tem, no contexto militarista, mais justificação do que no periférico Portugal. Entre todos os países incluidos, existem seis em que o crescimento da capitação dos gastos militares é superior à do aumento do PIB por habitante, no periodo 1998/2008: www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 12
  • 13. variação em % Gastos militares PIB Canadá 33.8 20.7 Eslovénia 69.8 51.1 EUA 52.3 17.3 Letónia 654.8 105.0 Lituânia 157.2 91.2 Portugal 11.9 11.0 Os gastos militares globais dos EUA são da ordem de 1 bilião de dólares e correspondem a metade da despesa mundial nessa área; se se juntarem os seus aliados da NATO e o Japão, a participação no total, desse conjunto aumenta para 75%. Somente as guerras no Iraque e no Afeganistão, no tempo de Bush, para além do endividamento que as tornou possíveis, envolveram um custo de $ 25000 a cada família norte-americana (4)(6). 3 - A dimensão das forças armadas Nem sempre se conhecem com rigor os números dos elementos das forças armadas, havendo várias razões para esse efeito. O primeiro é o sigilo que os Estados gostam de manter sobre esse tema, bem no cerne do seu ADN, considerado elemento garante da soberania. Em segundo lugar, há várias concepções que podem ou não envolver os elementos na reserva, corpos paramilitares, guardas pretorianas dos regimes, que podem volumes muito significativos. Essas situações colocam várias reservas às comparações internacionais, avolumadas com as diferenças, por vezes de vários anos, das datas a que os dados se referem. A título de exemplo, no que se refere a elementos paramilitares, cima dos 400 mil em 2008, registavam-se seis países, no caso do principal – o Irão – com números impressionantes (7): 1000 Irão 11 390 Venezuela 600 China 3 969 EUA 453 Índia 1 293 Egipto 405 Cruzando várias fontes de informação (8), construiu-se o quadro II que inclui o número de militares no activo, na generalidade, em 2008, indicadores como o número de militares no activo por 1000 habitantes ou, o gasto por cada militar no activo, no mesmo ano, com a comparação dos elementos relativos aos países da NATO, aos da UE que não pertencem aquela organização militar e um conjunto de outros países com forças armadas de grande dimensão. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 13
  • 14. Quadro II - Número de militares no activo (aprox. 2008) Nº Gasto Nº Militares militares/1000 militar/militar ($ (1000) hab 2005) Mundo (estim) 19.669 - - Albânia 10 3,1 20 Alemanha 285 3,4 131 Áustria 35 4,1 81 Bélgica 39 3,8 110 Bulgaria 39 5,1 18 Canadá 62 1,9 257 Chipre 10 11,7 42 Croácia 20 4,4 46 Dinamarca 23 4,2 155 Eslováquia 26 4,9 35 Eslovénia 9 4,5 75 Espanha 177 4,0 83 Estónia 5 3,7 73 EUA 1.474 4,8 372 Finlândia 32 6,0 87 França 225 3,5 234 GB 195 3,2 294 Grécia 177 15,9 55 Holanda 53 3,2 186 Hungria 33 3,3 41 Irlanda 10 2,4 113 Itália 240 4,1 134 Letónia 6 2,4 73 Lituânia 14 4,0 38 Luxemburgo 1 1,9 352 Malta 2 5,3 18 Noruega 28 5,9 175 Polónia 155 4,1 48 Portugal 45 4,2 84 Rep Checa 57 5,6 35 Roménia 90 4,2 24 Suécia 34 3,7 154 Turquia 514 6,9 23 Brasil 287 1,5 54 China 2.255 1,7 28 Coreia do Sul 687 14,2 35 Egipto 450 6,0 6 Índia 1.325 1,1 19 Irão 545 7,7 11 Israel 187 27,0 65 Japão 239 1,9 179 Paquistão 650 4,0 6 Russia 1.245 8,7 31 Ucrânia 149 3,2 22 Vietnam 484 5,5 3 Restantes (estim) 7.042 - - Calcula-se que na totalidade, o número de militares das forças armadas no activo se situe entre 19/20 milhões de elementos. Nesse total, os quatro países www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 14
  • 15. com mais de um milhão de soldados – China, EUA, Rússia e Índia – representam perto de um terço (32%) dos efectivos. Quanto às forças armadas dos EUA há a destacar que, além da natural presença no seu próprio território, estão disseminadas por 750 bases militares espalhadas por cinquenta países. Este aparelho logístico, esta rede integrada e gerida pelo Pentágono, dota este de um poder estratégico e táctico que é único no mundo e que torna todos os seres humanos e o ambiente global dependentes da sua permanente ameaça de destruição. O segundo corpo militar mais numeroso da NATO pertence à Turquia, cujo efectivo apresenta uma dimensão que se situa num mesmo patamar da Coreia do Sul e do Paquistão (quinto e sexto, respectivamente, na hierarquia mundial) e do Irão, logo seguidos pelo Vietnam e pelo Egipto. Nos restantes países da NATO a dimensão das forças armadas é muito heterogénea, nem sempre apresentando uma grande proporcionalidade com a população do país. Os casos mais assombrosos são Israel (aqui equiparado a membro da NATO) e caso único de verdadeira ordem militar, bem como a Grécia, com um enorme efectivo militar, cujo volume não parece ter sido posto em causa pelos guardiães dos “mercados”, muito mais motivados para sacrificar trabalhadores e pobres. Quando se avalia o numero de militares por cada 1000 habitantes, para além dos referidos atrás, Israel e Grécia, sobressaem ainda a Coreia do Sul e Chipre, todos com mais de 1% da população nas fileiras. Em Israel chegam mesmo a 2.7% o que, na realidade será mais se se atender a que a população árabe, constitui um grande segmento populacional, afastado da participação nas forças armadas da entidade sionista e de uma integral cidadania. Entre os países da NATO ou europeus neutrais destacam-se pelos seus elevados ratios (> 5.0, isto é > 0.5% da população) - Turquia, Finlândia, Noruega, República Checa, Malta e Bulgária. O mesmo sucedendo a outros, como a Rússia (herdeira da superpotência URSS), o Irão e o Egipto, bem inseridos no arco de instabilidade que atravessa o Médio Oriente, no centro da encarniçada disputa pelo domínio dos combustíveis fósseis. Entre os países da NATO ou neutrais da UE as situações de menor peso relativo do corpo militar, no conjunto da população, registam-se no Canadá e no Luxemburgo (1.9). Note-se que esses indicadores são mesmo menores em países de grande população como a Índia (1.1), o Brasil, a China e o Japão. O custo unitário de cada militar é particularmente elevado nos EUA, que possuem as forças militares mais poderosas do planeta, largamente munidas de meios tecnológicos de fazer a guerra. Nesse capítulo da tecnologia, note- se o papel que vai sendo atribuido aos “drones”, aviões sem piloto, www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 15
  • 16. telecomandados de terra, por civis contratados pelo Estado norte- americano. Também o Luxemburgo, Estado minúsculo mas cofre-forte de grande relevância para o sistema financeiro, apresenta um custo unitário de cada militar. Num segundo plano, posicionam-se a Grã-Bretanha e a França, subimperialismos, ex-potências coloniais e detentoras de armas nucleares. Todos os países mais desenvolvidos têm um custo elevado por militar superior a $-100, exceptuando a Áustria e a Finlândia que não são membros da NATO. Entre os países com forças armadas acima dos 100 mil efectivos, somente os EUA, a França, a Grã-Bretanha, a Itália e o Japão têm custos unitários por militar acima dos $ 100. Por seu turno, fora do quadro da NATO, apenas o Japão, a Suécia e a Irlanda ultrapassam aquele valor, sublinhando-se que, os dois últimos são os únicos com menos de dez milhões de habitantes. Inversamente, os mais baixos custos por militar observam-se particularmente entre as forças armadas de grande dimensão e simultaneamente de menor riqueza, indiciando a sua dificuldade em adquirir os caros equipamentos que estão disponíveis para os países ricos. Por outro lado, sendo a mão de obra abundante e barata e o subemprego elevado, é conveniente a manutenção de grandes exércitos para ocupação de gente. Do ponto de vista estritamente económico, tem mais impacto no PIB o incentivo ao consumo interno com o pagamento de salários aos militares, do que importar equipamentos caríssimos (com a saída de divisas) e fazer aumentar o desemprego nem ganhar competências técnicas. O problema surge quando existe um conflito aberto que obriga à aquisição desses equipamentos sem a redução dois efectivos, Quer nos países com forças armadas numerosas e baixo índice de incorporação tecnológica, quer naqueles onde se observa a situação inversa, há sempre uma casta militar que pode dominar a vida política ou constituir-se como verdadeiro estado dentro do Estado, como nos casos do Paquistão, de Israel ou dos EUA, onde a autonomia do Pentágono é tal que impõe ao presidente as suas próprias escolhas na liderança. A dimensão humana de um exército não é determinante numa época em que a tecnologia aplicada ao armamento é, em regra, objecto de especiais atenções no capítulo da inovação e para a qual os Estados não regateiam financiamentos. São conhecidos os casos em que certas inovações tecnológicas começaram por ter, na base e no objectivo, uma aplicação militar, antes da sua utilização pelo mundo em geral, sendo a internet o caso mais conhecido. Nesse contexto, a dimensão em termos humanos de umas forças armadas, dentro de determinadas proporções, pouco informa sobre o potencial destrutivo, a mobilidade e o grau de prontidão desse efectivo militar. Como se sabe, o exercito iraquiano, quando da invasão norte- www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 16
  • 17. americana, em 2003, tinha um efectivo humano muito superior ao dos “aliados” e isso foi manifestamente insuficiente para fazer frente ao poder de fogo e de uso da tecnologia das hordas do Pentágono. Se um efectivo militar pertence a um país desenvolvido, a priori estará munido de equipamentos sofisticados e caros, com utilizadores bem industriados e com elevada capacidade técnica para manejar equipamentos complexos. Essa elevada componente técnica é uma das razões para se irem extinguindo os regimes de recrutamento baseados no serviço militar obrigatório (SMO), por lapsos de tempo curtos (até dois anos), insusceptíveis de gerar experiências acumuladas no manejo desses equipamentos. Aliás, mesmo no tempo do SMO, certas especialidades, mormente na marinha e na aviação, eram objecto de um recrutamento específico, com horizontes largos de permanência e por – entre outras - razões técnicas. Por outro lado, é do interesse dos governos e do poder capitalista, a existência de uma casta militar estável e fiável que, em articulação com as polícias proceda à mescla de funções necessária ao controlo biopolítico da multidão. Essa fusão de funções militares e policiais está bem expressa na doutrina da NATO, com a validação aprazada do seu novo catecismo – Novo Conceito Estratégico – para Novembro próximo, em Lisboa. Quando se incluem nas preocupações da NATO problemas de migrações clandestinas, exige-se uma integração com as polícias de fronteira; quando a organização pretende incluir nos seus objectivos o crime organizado, o narcotráfego ou a actuação dos “hackers”, obriga-se a exercer actividades de polícia criminal. Neste contexto, a defesa de um retorno ao SMO é uma sementeira de ilusões. Primeiro, porque a actual forma de domínio biopolítico das sociedades faz da integração entre polícias e militares uma das questões essenciais para o prolongamento da vida do capitalismo e a defesa do SMO, tem algo de paralelo, com a criação da Icaria, no século XIX. Por outro lado, mesmo os exércitos baseados no SMO, só raras vezes foram protagonistas de intervenções progressistas na vida dos povos; a estrutura hierárquica e o autoritarismo existente nas fileiras não favorece a colocação dos soldados ao lado do povo, sem um apoio significativo da oficialidade. Como se sabe, o 25 de Abril português foi determinado pela baixa oficialidade, naturalmente, com a adesão entusiástica dos soldados. Em regra, as transformações sociais profundas passam pelo desmantelamento dos exércitos; ainda que, lastimavelmente, com a edificação de outros, que se lhe substituem, com o mesmo espírito e vícios de casta. Por outro lado, em contexto de globalização, de fronteiras abertas, de integração económica e política dos países em grupos geoestratégicos de geometria variável, do domínio das multinacionais, de aposta deliberada no “mercado global”, nas exportações, a defesa do mercado interno – a nação - como coutada defendida por guerreiros devotados e patriotas, acabou. As www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 17
  • 18. burguesias nacionais acham-se desarmadas para a defesa da “coesão nacional” como justificação para as suas forças armadas, uma vez que o poder, no essencial, cabe a instituições regionalizadas ou mundializadas. Nesse sentido, as forças armadas, como factores dessa coesão nacional já não são necessárias, subalternizado que está o conceito de pátria perante a integração regional ou dos mercados, se se preferir. Para as populações, contudo, ainda se brande a carta nacionalista e uma tradição de defesa da pátria, cada vez mais descabida e em contradição com a grande interconectividade entre os povos, com as viagens frequentes, os fluxos migratórios, as trocas de informação na internet, etc. Mais do que nunca é clara a partição social entre uma classe mundial dos capitalistas, com múltiplas instâncias de coordenação nos campos político, económico, financeiro… e militar; e a esmagadora maioria da Humanidade que é pretendida como laboriosa, qualificada e, através do controlo biopolítico global, mansa e resignada, mesmo quando os níveis de subsistência baixam ao ponto da inclusão em programas implícitos de genocídio. O capitalismo globalizado precisa, portanto, de uma força militar também globalizada, hierarquizada e hierarquizante para estabelecer a autoridade do capital perante os desmandos da sua existência – conflitos internacionais, crises sociais, “terrorismo”, migrações clandestinas, cibercrime, “pirataria”, problemas ambientais, segurança das vias de comunicação, crime organizado, narcotráfego e outros negócios afins, defesa da “democracia”, etc. Essa força, que está em edificação e reforço doutrinário, dos meios disponíveis e de organização, está também em fase de construção de novas formas de instalação e actuação a nivel territorial. Esse poder militar global precisa de centuriões nas fronteiras e de agentes regionais e locais, da mesma forma que a existência de um comando distrital da polícia não dispensa a existência de esquadras de bairro para garantia da lei e da ordem. Por isso, num plano global, o capitalismo exige a presença de castas militares localizadas mas, integradas e mobilizáveis no seio de uma NATO reformulada, às ordens de um poder unificador, o Pentágono; o Novo Conceito Estratégico é a forma dessa reformulação. 4 - O armamento dos principais paises Mantém-se neste capítulo a ausência de dados sistematizados sobre o armamento das forças armadas, naturalmente, fazendo parte das políticas de sigilo levadas a cabo pelos Estados. Esse sigilo, de facto, deve dirigir-se aos povos, uma vez que os serviços secretos fornecerão aos estados-maiores as informações necessárias sobre os potenciais inimigos e rivais, para efeito de dimensionamento dos seus recursos humanos, materiais e logísticos, de www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 18
  • 19. planeamento operacional e de aquisições. Convém recordar que é bastante comum, nas aquisições, a corrupção das altas patentes, a ligação interessada destas aos grandes grupos fornecedores; e, estes, raramente regateiam essas comissões dada a concorrência e o elevado valor das encomendas. O episódio que relaciona a Ferrostaal, o cônsul de Portugal em Munique e os submarinos é ilustrativo… e ainda se não conhecem muitos dos pormenores e intervenientes. O quadro seguinte (Quadro III) evidencia, quantificando, os principais elementos dos arsenais guerreiros dos principais países do planeta e apurando, em particular, o poder destrutivo da NATO. A especificação é feita para aviões, helicópteros, tanques, navios e submarinos (9). Quadro III - Meios militares dos principais países periodo 2001-2008 Aviões Helicópteros Tanques Navios Submarinos Alemanha 350 748 5.699 130 13 Canadá 399 168 2.194 34 4 Dinamarca 161 40 nd 51 4 Espanha 691 311 2.869 90 8 EUA 18.169 4.593 29.920 1.559 75 França 1.023 892 8.536 134 10 Grã-Bretanha 1.891 779 5.121 139 17 Grécia 847 218 4.403 118 8 Italia 1.594 716 3.355 107 7 Noruega 141 66 nd 45 6 Polónia 807 291 nd 87 4 Suécia 744 150 540 77 9 Turquia 1.199 336 6.672 182 13 Brasil 1.272 372 1.676 89 5 China 1.900 491 31.300 760 68 Coreia do Sul 538 502 8.325 85 20 Egipto 1.230 243 9.357 93 4 Índia 1.007 240 10.340 143 18 Irão 84 84 5.449 65 3 Israel 1.230 386 14.200 18 3 Japão 1.957 745 2.040 147 18 Paquistão 710 198 3.919 33 11 Russia 3.888 2.625 79.985 526 61 Ucrânia 2.451 743 nd 46 1 NATO 27.272 9.158 68.769 2.676 169 Restantes 17.011 6.779 167.131 2.082 221 Entre as forças aéreas presentes no quadro a dimensão das flotilhas dos países da NATO é muito superior à dos restantes países que, para mais não www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 19
  • 20. pertencem a um mesmo bloco militar, nem podem tirar as vantagens da homogeneidade do equipamento. E, neste campo, essa supremacia numérica é mais elevada do que nos outros tipos de máquinas de guerra. A força aérea dos EUA, isolada, sem a consideração dos outros aliados da NATO é superior à soma dos outros países considerados, não aderentes à NATO. Essa superioridade aérea é possível por várias razões. Primeiro, pelo domínio da tecnologia, mormente detida por três empresas – Boeing, Lockheed-Martin e Northrop Grumman; depois, pela constante pesquisa e inovação, sob encomenda do Pentágono, que tem uma imensa autonomia no seio da administração norte-americana, a qual não lhe regateia verbas orçamentais; pela existência de uma economia poderosa mantida pela facilidade de recurso ao crédito (emissão de dólares) que mais nenhum país detém; finalmente, pela determinação em manter uma hegemonia militar a nível mundial que obriga os EUA a considerar o resto do planeta como existentes para a satisfação “dos interesses nacionais dos EUA”, nomeadamente no campo energético. A força aérea dos EUA, pela sua dimensão, a sua mobilidade, os vários pontos de apoio espalhados pelo mundo é o principal instrumento da hegemonia norte-americana a nível planetário. Nos outros lugares do pódio no que respeita à aviação situam-se a Rússia e a Ucrânia, embora no caso desta última, o equipamento deva ser antigo e as dificuldades económicas do país não permitirem a sua renovação. Num mesmo patamar quantitativo, encontram-se o Japão, a China, a Grã- Bretanha e a Itália, havendo ainda mais seis Estados com mais de mil aviões de guerra. A frota israelita, enorme para a sua dimensão territorial e humana revela o seu papel de fortaleza, de ameaça permanente a todos os povos do Médio Oriente e do Mediterrâneo Oriental; e que lhe permite ter bombardeado sem punição, nos anos 80, a central nuclear iraquiana de Osirak e ansiar pela autorização dos EUA para fazer o mesmo no Irão, com consequências desastrosas para a região e nos preços da energia… o que não conviria em tempos de recessão. No que se refere aos helicópteros, a superioridade dos países da NATO é também elevada, embora menor do que nos aviões de combate. Sendo o helicóptero uma arma táctica, desempenha uma função mais localizada e, portanto, não é um elemento de domínio estratégico. Note-se que os EUA, detendo de longe o principal efectivo de helicópteros, detêm nos aviões uma superioridade que, em relação à Rússia é de 4.7/1, a qual se reduz para 1.8/1 nos helicópteros. Num patamar bem mais baixo do que o das superpotências militares, com 700/800 aparelhos, destacam-se a Grã-Bretanha, a Alemanha, o Japão, a Ucrânia e a Itália. Provavelmente, a www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 20
  • 21. posição da Ucrânia tenderá a baixar, na hierarquia das máquinas de guerra, à medida que se vá diluindo a herança soviética. É bem patente nos dados apresentados, relativos a 2006, a relevância dos meios aéreos do Irão, bem longe do que sobressai da propaganda norte- americana que, perante os factos, revela que a “ameaça” iraniana dá pelo nome de recursos energéticos, há mais de trinta anos cobiçados pelo Pentágono. Já no que se refere aos tanques, a NATO não dispõe da superioridade observada atrás, detendo com os restantes países uma relação de 4/10, devendo-se isso aos grandes parques que, particularmente, a Rússia e a China detêm. Estes, tratando-se de países com carácter continental, com longas e remotas fronteiras, e algumas disputas fronteiriças (caso da China com a Índia e a questão de Taiwan), supostamente, tenderão a exigir um elemento dissuassor adequado para os seus exércitos. Também no âmbito da NATO, os EUA deixam de ter a maioria absoluta destes veículos mas, mesmo assim, com um volume superior à soma dos maiores detentores seguintes – França, Turquia, Alemanha e Grã-Bretanha. Uma vez mais, Israel surge em grande destaque, situando-se no quarto posto da hierarquia mundial, muito acima dos restantes países e, porventura apresentando a maior densidade de tanques por quilómetro quadrado. No quadro do latente conflito regional entre a Índia e o Paquistão, já protagonistas de várias guerras, a superioridade indiana é patente. A marinha de guerra, tal como a aviação, constitui um outro instrumento essencial de domínio global, tendo em conta a sua mobilidade e capacidade de destruição. E aí, de novo a NATO surge com uma evidente superioridade relativamente ao conjunto dos restantes países do mundo, embora o seu papel seja reduzido no apoio às tentativas de implantação estratégica dos EUA na Ásia Central; ao contrário da aviação que pode operar sem limitações geográficas, em terra e no mar. A superioridade naval da NATO, não tendo em consideração a diversidade da composição e a autonomia das frotas, pode aferir-se a partir do facto de que o número de navios da organização superar os pertencentes ao resto do mundo, em 29%. Por outro lado, os meios navais dos EUA suplantam de modo esmagador os detidos por qualquer outro país e mesmo, quer a soma dos navios russos e chineses, ou o conjunto de todos os aliados da NATO; os EUA detêm 58% das marinhas de guerra do total dos principais países da NATO. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 21
  • 22. Note-se que marinhas de guerra, historicamente importantes e até dominadoras – caso da Grã-Bretanha, da Alemanha, da França e do Japão – não representam, cada uma delas 9% dos efectivos norte-americanos. Convirá ainda sublinhar, neste contexto, a enorme concentração de meios navais no Mediterrâneo/Egeu pertencentes à Turquia e à Grécia. Os turcos detêm a quarta maior frota de guerra mundial e a Grécia a décima primeira, estando, decerto, luxos desta natureza presentes nas dificuldades financeiras deste país. Dentro da lógica prevalecente no jogo de espelhos constituido pelo BCE, pelo FMI, pela Comissão Europeia e os obscuros “mercados”, para o combate ao deficit grego, prefere-se reduzir salários e criminalizar os funcionários públicos. Acredita-se que os almirantes lusos se devem roer de inveja face aos seus congéneres gregos e aguardam ansiosos os submarinos que os farão ultrapassar o patamar de guardas costeiros onde o seu desempenho não tem constituido um caso de sucesso. Ressalva-se o seu valente desempenho no combate às pequenas lanchas, com meia dúzia de homens (“piratas” somalis) para defesa do saque do atum por pesqueiros espanhóis, entre outros. Recorde-se que o almirantado lusitano não frequentava águas do Índico desde a gloriosa fuga, dentro do porto de Pangim, do “Afonso de Albuquerque” - entre navios mercantes ancorados, até encalhar em terra – perante a marinha indiana, no fim da colonização portuguesa de Goa (1961). Finalmente, o último vector de máquinas de guerra aqui considerado é o dos submarinos. Aqui, a supremacia da NATO é relativa, uma vez que o conjunto das outras frotas supera o total dos submersíveis pertencentes aos países da organização. Os EUA detêm o maior efectivo de submarinos, seguidos, relativamente de perto, pela China e pela Rússia. No contexto da NATO, os EUA têm apenas 44% dos submersíveis. Todos os outros Estados possuem 20 ou menos embarcações, com algum destaque para a Coreia do Sul, a Índia, o Japão e a Grã-Bretanha. Uma vez mais se destaca o relevo da Grécia, com um número de unidades pouco consonante com a dimensão económica e populacional do país e cuja integridade não é disputada por nenhum outro Estado. 5 - Empresas produtoras de armamento O Quadro IV hierarquiza as dez principais empresas mundiais no âmbito do armamento, de acordo com a dimensão das suas vendas nesse sector; e evidencia também, o grau de dependência relativamente às encomendas www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 22
  • 23. militares, a rendabilidade do negócio, o volume do emprego e os tipos de equipamentos que produzem. Quadro – IV - As principais empresas produtoras de armamento (2007)* Vendas de armas Taxa de % no Área de Empresa País lucro Emprego $ milhões total da produção (%) empresa 1 Boeing EUA 30.480 46 13,4 159.300 1,3,4,9 2 BAE Systems Grã-Bretanha 29.850 95 6,0 97.500 1,2,3,4,5,6,8 3 Lockheed Martin EUA 29.400 70 10,3 140.000 1,3,4,9 4 Northrop Grumman EUA 24.600 77 7,3 122.000 1,3,4,7,8,9 5 General Dynamics EUA 21.520 79 9,7 83.500 2,3,5,7 6 Raytheon EUA 19.540 92 7,5 72.100 3,4 7 BAE Systems ** EUA 14.910 100 9,9 51.300 2,3,5,6 8 EADS UE 13.100 24 (4,7) 116.490 1,3,4,9 9 L-3 Communications EUA 11.240 81 6,7 64.600 3,7 10 Finmeccanica Itália 9.850 54 7,2 60.750 1,2,3,4,5,6 11 Thales França 9.350 56 13,0 61.200 3,4,6 * Exclui China ** Subsidiária da BAE Systems (Grã-Bretanha) Fonte: SIPRI 1 – Aviões 4 – Mísseis 7 - Serviços 2 – Artilharia 5 - Veículos militares 8 - Navios 3 – Electronica 6 - Pequenas armas e munições 9 - Aerospacial Como se pode verificar, os EUA detêm um grande domínio entre as principais empresas produtoras. A procura de uma posição hegemónica no planeta conduz à manutenção de umas forças armadas poderosíssimas, em regra envolvidas directamente em guerras ou, promovendo-as através de terceiros. Esse facto obriga à existência de um sector doméstico de armamento, garantidamente viabilizado economicamente pelas encomendas do Pentágono, de países subsidiários ou de gangs partidários no poder; e, para o efeito, é alimentada uma vasta rede de recolha de informações, de angariação de agentes, de promoção de actividades corruptas de “procurement” ou “lobbying” no sentido da venda de equipamentos ao exterior e assim garantir a rendabilidade dos capitais investidos. Tudo isto, como exemplo típico do que é o capitalismo real, em nada semelhante ao lirismo do mercado livre, cantado pelos menetréis do neoliberalismo. O volume de vendas, muito próximo, entre as três primeiras empresas, distancia-se das distantes, apresentando-se a última empresa da lista incluida no Quadro IV, com menos de um terço da facturação dos primeiros: o que revela um elevado grau de concentração do sector a nível mundial. Todas as empresas cimeiras têm um elevado número de trabalhadores e uma taxa de lucro bastante aceitável. Como se trata de encomendas www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 23
  • 24. públicas, em grande parte provenientes dos próprios países em que estão inseridas, a pressão para a baixa de preços não é a que se verifica em outros sectores de actividade. Os Estados sempre foram menos exigentes nos preços que pagam a empresas dos seus respectivos complexos militares- industriais do que com os trabalhadores que nelas trabalham. Quanto à diversidade da produção, a mais abrangente é a inglesa BAE Systems, com mais uma valência que a norte–americana Northrop Grumman ou a italiana Finmeccanica. Por seu turno, a Raytheon e a L-3 Communications, ambas dos EUA, têm uma actividade concentrada em apenas dois segmentos. Na lista divulgada pelo SIPRI (10), constam 117 empresas, cujo agrupamento por nacionalidade produz o seguinte resultado: Alemanha 5 Israel 3 Austrália 2 Itália 9 Canadá 1 Japão 4 Coreia do Sul 6 Noruega 1 Espanha 4 Rússia 7 EUA 48 Singapura 1 Finlândia 1 Suécia 1 França 8 Suiça 1 Grã-Bretanha 11 UE 1 Índia 3 Total 117 Nesse total, 75% estão localizadas em países da NATO e, entre estes, os EUA contribuem com 41%, a que se seguem, a grande distância a Grã-Bretanha, a Itália e a França. O domínio mundial dos EUA na produção de armamentos mantém-se muito marcado, mesmo quando se alarga a listagem a empresas com um volume de vendas na ordem dos $ 500 mil, em 2007. Em Portugal também existe um conjunto de empresas vocacionadas para, pelo menos parcialmente, exercerem actividade na área da defesa e que se encontram-se englobadas numa sociedade holding denominada Empordef – Empresa Portuguesa de Defesa, SGPS, SA. Esta empresa, com um capital social de € 141.9 M tem prejuizos acumulados de € 66.2 M, em 2008. As suas participadas constam do seguinte Quadro V (11): Quadro V 2008 particip Resultados Vendas ação Actividade liquidos do (M €) (%) ano(M €) Arsenal do Alfeite 100 reparação naval nd nd Estal. Nav. Viana Castelo 100 construção naval 129,6 (12,100) Navalrocha 45 reparação naval 6,2 0,700 www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 24
  • 25. desmilitarização de IDD 100 2,1 0,25 materiais de defesa manutenção e reparação OGMA 35 141,5 5,6 de aviões Edisoft 30 software 6,1 0,300 EID 31,8 sistemas de comunicação 19,5 1,100 ETI 100 software de simulação 1,9 (0,170) Portugal Space 83,75 tecnologia espacial 0 (0,010) Defloc 81 locação 15,0 (0,050) Defaerloc 100 locação de aviões 0 0,000 OGMA Imobiliária 100 imobiliária 0 (1,350) Ribeira d'Atalaia 56,58 construção civil 0 (0,700) Enquanto sector de defesa, este conjunto de empresas apresenta várias características que o debilitam. Algumas das empresas relevantes estão dominadas por interesses privados (e até estrangeiros como no caso da OGMA) que dificilmente se integrarão numa lógica dominada por interesses militares portugueses. Só de modo muito episódico poderão ser produzidos equipamentos militares, não passando algumas empresas de actividades de apoio ou de prestação de serviços. Por outro lado, engloba empresas secundárias num complexo militar, nomeadamente as locadoras e as da área imobiliária ou de construção. Finalmente, poucas valias têm oferecido em fórmulas de contrapartidas na aquisição de equipamentos militares no estrangeiro. Neste contexto, não é estranho que nas vendas, as de carácter militar apenas representem cerca de 1/3 da facturação global e que a exportação, neste contexto, participe apenas com 54.5%, em 2008. Facturação em 2008 M€ % Militar 98,8 32,1 nacional 45,0 45,5 exportação 53,8 54,5 Civil 208,9 67,9 nacional 43,9 21,0 exportação 165,1 79,0 Total 307,7 100,0 nacional 88,9 28,9 exportação 218,9 71,1 E, para finalizar, torna-se compreensível que Portugal não tenha uma só empresa na lista das 117 maiores empresas da área militar e que, portanto seja um importador líquido de equipamentos, como adiante se verá. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 25
  • 26. 6 - Países vendedores de armamento Segundo o SIPRI, as exportações de armamento acumuladas nos vinte anos que terminaram em 2009 corresponderam a $ 468199 M, a preços constantes de 1990, numa média anual de € 23410 M e que corresponde a cerca de $78 por ser humano actualmente existente. Poderá parecer irrisório esse custo para a Humanidade. Porém, convirá sublinhar que se trata de um cômputo que avalia apenas as transações internacionais dos vários componentes dos arsenais dos países, não considerando, portanto, a produção que se destina às forças armadas dos próprios paises produtores. De facto, se os países pobres, desprovidos de relevantes fábricas de armamento, recorrem essencialmente à importação para equipar minimamente os seus muitos e mal pagos soldados, o mesmo não se passa com os países ricos e poderosos que, têm os maiores orçamentos militares, as grandes fábricas de equipamentos sofisticados, como também apresentam forças armadas munidas com alta tecnologia e quadros bem pagos. Assim, uma enorme proporção da produção de armamento dos países produtores não é objecto de inclusão no comércio internacional, porquanto é absorvida pelos suas forças armadas domésticas, que contribuem largamente para a sua viabilidade económica. Por outro lado, serão consideradas nos valores das transações internacionais, as vendas de equipamentos em segunda mão, que não são protagonizadas pelos fabricantes mas, antes objecto de negócios envolvendo componentes financeiras e políticas nem sempre claros. Para actualizarem e modernizarem as suas forças armadas, os Estados procuram, ao procederem à encomenda de novos equipamentos, colocar os meios obsoletos ao dispor de países com menos suporte financeiro ou interesse em se posicionarem na vanguarda das tecnologias existentes. Poderá, contudo e para se aquilatar a distância que vai entre a produção mundial de armas e a exportação de armamento, avaliar-se a fatia que é absorvida pelos próprios países produtores. Um exercício aproximativo, dadas as diversas unidades de medida, consegue-se comparando o comércio de armamento em 2007 - $ 25443 M (preços de 1990) com os $ 213 840 M das vendas das onze maiores aglomerados referidos acima (Quadro V) em 2007 (preços correntes). Neste campo podem-se fazer algumas comparações interessantes com os $ 213 840 M daquelas vendas: • PIB em 2007: da Tailândia - $ 245384 M (população 63.9 M); da Venezuela - $ 233450 M (população 27.7 M); de Portugal - $ 219499 (população 10.5 M) www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 26
  • 27. Sensívelmente, aquele valor de vendas de armas teria permitido duplicar o rendimento dos 320 M de habitantes de 25 países da África oriental e central cujo PIB conjunto foi $ 244032 M em 2007 O imediato periodo que se seguiu ao final da guerra fria e o subsequente desmembramento da URSS trouxe um periodo de redução das transacções internacionais de equipamentos, com a geração de fundas preocupações entre os fabricantes de armamento e os estados-maiores, por motivos diferentes mas, coincidentes quanto à forma de superar essa crise da procura. Os produtores de armas queriam, naturalmente que houvesse mais guerras e tensões para manter activas as suas linhas de produção e cheios os bolsos dos seus accionistas. Os generais e almirantes, para justificar as suas profícuas existências precisavam de ser criativos para justificar o rearmamento junto dos governos e da população. Essa criatividade é bem patente quando a NATO, depois de uma primeira fase de confusão, perante a desaparição do inimigo que justificava a sua existência, inventou uma vasta panóplia de ameaças, umas mais difusas ou etéreas e outras, francamente perigosas, pois vieram a conduzir a teatros reais de guerra - sem figurantes, como nas tradicionais manobras - com destruição de vidas e bens, num contexto geograficamente alargado (6). Essa falta de concretização das ameaças e dos inimigos não resulta da falta de massa cinzenta dos militares e dos seus consultores mas, de um propósito deliberado de deixar vago o campo de aplicação das intervenções militares, contrariamente ao que sucedia no tempo da guerra fria, em que o espaço e os motivos da guerra eram calculados ao milímetro. As compras de armamento pelos países obedecem a planeamentos efectuados a médio prazo, sobretudo quando se trata de aquisições de equipamentos novos, em que é preciso considerar as disponibilidades das linhas de montagem dos fabricantes, assegurar financiamentos e prazos de pagamento . E cada país tem os seus próprios planos e calendários, pelo que a soma das transações internacionais têm variações que não se justapõem exactamente aos periodos de crises e guerras ou ausência delas. Por outro lado, os prazos de validade dos equipamentos militares são limitados, como acontece com qualquer outro equipamento, mesmo os socialmente úteis. Depois da quebra observada no gráfico seguinte, para o primeiro lustro dos anos 90, 1997/98 é um periodo de recrudescimento com responsabilidades repartidas por vários compradores – Grécia, Israel, Japão, Malásia, Arábia Saudita, e Turquia, casos em que o principal fornecedor foram os EUA; a Índia, abastecida pela Rússia; e ainda Taiwan, pelos EUA e pela França. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 27
  • 28. Vendas de armamento (1990/2009) M$ de 1990 32.000 28.000 24.000 20.000 16.000 12.000 8.000 4.000 0 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 O periodo 2000/2005 mostra-se relativamente pouco activo no que se refere às transações internacionais de armamento. E isso, a despeito do medo inculcado na multidão face à ameaça terrorista após o 11 de Setembro e as invasões norte-americanas e seus sequazes, do Afeganistão e do Iraque. Em 2006/2007 assiste-se a um novo aumento das compras de armamento, sendo esse incremento resultante de um naipe de países compradores e fornecedores mais alargado do que cerca de dez anos antes. Entre os fornecidos pelos EUA salienta-se a Coreia do Sul, o Canadá, o Kuwait e o Japão; os clientes da Rússia são a Índia e a Argélia; a Holanda abasteceu a Noruega, o Chile e a Alemanha; e a Alemanha procedeu a grandes vendas à Itália, posicionando-se como grande fornecedor da Grécia (em parceria com a França) e da Malásia aqui, juntamente com a Rússia. A distribuição das vendas de armamento no periodo 1990/2009 por grandes grupos de fornecedores apresenta-se de acordo com o gráfico que abaixo se segue. Para todo o periodo considerado (1990/2009), em resumo, os países da NATO procedem a cerca de 2/3 das vendas mundiais de armamento, contra 21.2% do conjunto China-Rússia-Ucrânia, enquanto os paises neutros da Europa (Suécia e Suiça) se quedam pelos 2.4% e o resto do mundo em 9.3%. Nos dois primeiros anos utilizados existe um problema de classificação, uma vez que não se conhecendo dados para a Rússia e a Ucrânia, não é possível www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 28
  • 29. separá-los dos restantes países do mundo, o que, envieza ligeiramente o valor acumulado para as duas décadas. Com a ressalva anterior, na década de 90, os países da NATO (onde se inclui Israel, por motivos já referidos) ultrapassam sempre os 70% do total das vendas, chegando mesmo a 84.6% em 2008, patamares que nunca mais foram atingidos. (% ) Vendas de armamento (1990/2009) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 l ta To 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 Membros da NATO - Europa EUA-Israel Países neutros da Europa China-Rússia-Ucrânia Resto do mundo O triângulo China-Rússia-Ucrânia estabelece, no periodo 1999/2004, uma consolidação da sua posição num patamar bem mais elevado que anteriormente e que chega aos 37.6% da procura mundial, em 2001, parecendo vir a estabilizar para quotas de mercado entre 25 e 30%. No que se refere aos países da UE que são da NATO, observa-se que no periodo 1994/2000 o seu peso no total das vendas de armamento cifrou-se um pouco acima de 1/4 do total e, nos últimos cinco anos mantém-se com uma quota tendencialmente acima dos 30% atingindo 35.1% em 2007. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 29
  • 30. Quanto aos países neutros da Europa, mantêm uma posição firme que subiu, claramente, a partir de 1999, chegando ao máximo de 5.4% em 2001. Em suma, estas tendências mostram uma repartição relativamente igualitária entre a UE, o binómio EUA-Israel e o conjunto China-Rússia-Ucrânia. Entre os principais países europeus, verifica-se uma tendência para o crescimento da quota de mercado de todos eles, particularmente no último lustro, com a excepção da Grã-Bretanha. Quota média por periodo (%) 1990/1994 1995/1999 2000/2004 2005/2009 1990/2009 Alemanha 7,6 6,2 6,5 10,6 7,7 Espanha 0,5 0,8 0,4 2,5 1,1 França 3,9 8,4 7,4 8,0 6,9 GB 5,6 6,5 5,8 4,1 5,5 Holanda 1,8 1,9 1,4 3,6 2,2 Itália 1,0 1,6 1,4 2,6 1,6 Total 20,4 25,3 22,9 31,4 25,0 Os EUA, abarcando quase metade das vendas mundiais de armamento na década de 90, recuam para menos de 1/3 na primeira década do século XXI. Isto sucede, precisamente, quando após o bombardeamento da Jugoslávia, os EUA acentuam a sua crispação, as suas pretensões a uma hegemonia absoluta e marcam de acções guerreiras a sua intervenção, com o tenebroso “diktat” vomitado por G W Bush “Quem não estiver conosco, está com o terrorismo”, bem dentro do maniqueismo típico dos fundamentalistas cristãos. Na realidade, os desejos de domínio planetário dos EUA esbarram, para além das resistências mais explícitas ou mais surdas dos povos e dos Estados, com uma fragilidade económica evidente que se manifesta, neste caso concreto, na perda de importância relativa no comércio de armamento. Quota média por periodo (%) 1990/1994 1995/1999 2000/2004 2005/2009 1990/2009 49,2 49,5 32,1 29,8 40,9 Contudo, a grande valia dos EUA, no contexto mundial, no contexto económico é essencialmente, a capacidade de emissão ilimitada de títulos (moeda e dívida pública), transferindo para os seus credores a responsabilidade pela sua potencial insolvência. Em termos da produção de bens e serviços, estratégicamente e para além dos vectores ligados ao complexo militar (aviação, comunicações, software…), são de nomear, a www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 30
  • 31. produção cinematográfica e de conteúdos (com o papel ideológico inerente) e a produção (altamente subsidiada) de cereais. No âmbito do conjunto China-Rússia-Ucrânia observa-se, no periodo observado – do qual se excluiu o periodo 1990/94 por razões já expostas – uma estabilização dos pesos relativos da China e da Ucrânia, com representatividades globais modestas e evidenciando-se a Rússia, como a segunda potência exportadora mundial, apesar da quebra na última metade da última década. Quota média por periodo (%) 1995/1999 2000/2004 2005/2009 1990/2009 China 2,4 2,3 2,4 2,8 Russia 13,3 28,7 23,6 16,8 Ucrania 1,9 1,9 1,8 1,5 total 17,6 33,0 27,7 21,2 Numa referência a Portugal, as exportações do país, reportadas na base de dados do SIPRI situam-se apenas em 2008 e 2009 e computam-se em $ 87 M e $ 40 M (preços de 1990), respectivamente (0.38% e 0.18% do comércio mundial). Recorda-se que, no relatório da Empordef, atrás referido, as exportações militares em 2008 se cifram em € 53.8 M, onde se incluirão, porventura, exportações de serviços, que não estão contemplados nos dados coligidos neste capítulo. As exportações portuguesas de armamento em 2008 destinaram-se ao Uruguai e ao Chile e, em 2009, à Bélgica. 7 – Vendedores por tipo de armamento Viu-se no ponto anterior a distribuição das vendas de armamento por grupos de países, procedendo-se agora à sua avaliação por tipo de equipamentos. A preponderância do conjunto dos países da NATO (onde se inclui Israel) observa-se em todos os segmentos de equipamentos, numa média global que corresponde a cerca de 2/3 das vendas mundiais. Abaixo daquele patamar somente se verifica o caso dos tanques (54.9%), sendo muito superior a supremacia no que se refere ao fornecimento de satélites e “outros”: quanto a máquinas e sensores, o peso das vendas dos países da NATO situa-se em cerca 3/4 do total mundial. No caso dos aviões, o binómio EUA-Israel, nomeadamente os EUA detêm a maioria das vendas mundiais, seguindo-se o conjunto China-Rússia-Ucrânia a grande distância, sendo modesta a participação dos países europeus da NATO. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 31
  • 32. Vendas de armamento por tipo de equipamento (%) (1990/2009) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 es s s l es ia s s s s s ta vio ue na eo i ro lite ar se iõ To or ut nq ui ér tilh Na Av té ís ns O áq a Ta M Sa Ar Se ti- M an as em st Si Membros da NATO - Europa EUA-Israel Países neutros da Europa China-Rússia-Ucrânia Restantes Quanto aos sistemas antiaéreos e tanques a participação da NATO-Europa e da China-Rússia-Ucrânia aproxima-se de 1/4 das vendas mundiais, atrás da posição de EUA-Israel, mais baixa no contexto dos tanques, ainda que em ambos os casos detenham a maior fatia do mercado. No que se refere aos tanques, observa-se a maior participação dos restantes países (18.2%). www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 32
  • 33. Nas vendas de artilharia, a posição dominante pertence à NATO-Europa, seguida de muito perto pela participação dos EUA-Israel. Os restantes países têm um peso superior ao do conjunto China-Rússia-Ucrânia. No caso das máquinas, o predomínio dos EUA-Israel é elevado, ocupando a NATO-Europa que responde por 1/3 das vendas, enquanto o conjunto China- Rússia-Ucrânia e os restantes têm pesos aproximados. No capítulo dos mísseis, de novo surge o domínio dos EUA-Israel, com a China-Rússia-Ucrânia a ocupar perto de 1/4 do total, muito acima da posição da NATO-Europa que, pelos dados do SIPRI, é o único vendedor de satélites. Nos “outros equipamentos” a parcela dos países da NATO é muito grande, como aliás, nos sensores, onde é notória a relevância dos países neutrais da Europa, a Suécia e a Suiça. Quanto à venda de navios de guerra, a NATO-Europa domina as vendas mundiais com 55.7% do total no conjunto das duas décadas, assinalando-se o terceiro lugar dos EUA-Israel, atrás da China-Rússia-Ucrânia. O perfil exportador de cada grupo de países, de acordo com o tipo de equipamentos militares, consolidado nas últimas duas décadas, apresenta diferenças claras, como se pode observar no quadro seguinte. (%) Paises China- NATO- EUA- neutrais - Rússia- Restantes Mundo Europa Israel Europa Ucrânia Aviões 26,6 55,6 24,6 49,3 40,7 44,9 Sistemas anti- 3,7 3,6 7,2 4,3 0,7 3,6 aéreos Tanques 10,9 9,2 11,7 14,0 23,6 12,1 Artilharia 2,7 1,5 1,7 1,2 3,3 1,9 Máquinas 3,4 2,7 0,4 1,4 2,8 2,6 Mísseis 9,8 15,8 9,0 15,3 12,8 13,8 Outros 0,7 0,6 0,0 0,0 0,7 0,5 Satélites 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Sensores 7,4 4,9 28,3 1,8 1,5 5,1 Navios 34,8 6,0 17,2 12,6 14,0 15,6 Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute A exportação a nível mundial é dominada pelo elevado valor dos aviões, seguidos num mesmo patamar pelos navios, os mísseis e os tanques. www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt 21-04-2010 33