5. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Chegou o verão no hemisfério norte! Depois de longos meses de frio - podemos mesmo falar de
um dos piores invernos dos últimos vinte anos - eis que o calor do verão aquece enfim corpos e
corações.
Este ano foi um ano especial para o Varal: muitos números de nossa revista que está cada vez
conquistando um espaço maior e, de quebra, chegando ao coração de leitores ao redor do mun-
do que estão sempre mais participativos. Uma alegria para todos nós!
Também lançamos nossa segunda coletânea, Varal Antológico 2, em três cidades que nos rece-
beram de coração aberto e com muita festa regada à música, poesia e bons papos literários.
Fomos a Salvador dia 25 de maio, a Belo Horizonte no dia 31 de maio e a Brumadinho no dia
primeiro de junho. Contamos para estes significativos eventos que fizeram o Varal se estender
na Bahia e em Minas Gerais, com o apoio de muita gente! Vamos agradecer aqui os que coor-
denaram diretamente, mas não esquecemos que os envolvidos foram muitos!
Norália de Mello Castro e a Prefeitura da cidade de Brumadinho , Secretaria da Cultura e Casa
de Cultura Carmita Passos; Renata Rimet e Valdeck Almeida de Jesus em Salvador, assim co-
mo as proprietárias gentilíssimas do Beco da Rosália;. E, finalmente, mas nunca por último, Cle-
vane Pessoa de Araújo Lopes e Marcos Llobus em Belo Horizonte. Com estes últimos levamos
também nosso agradecimento ao pessoal encantador do Restaurante Dona Preta, aos poetas
participantes do Conversa ao Pé do Fogão e do Sarau da Lagoa do Nado. Estiveram conosco
nos três encontros, diversos coautores do livro, os quais enriqueceram, com suas vivências e
presença, cada um dos eventos acima relacionados! Neste número trazemos para você algumas
fotos para compartilhar nossa alegria!
Com o sucesso da segunda coletânea, abrimos as inscrições para a seleção prévia para o Varal
Antológico no. 3 e que será lançado no ano que vem no Brasil.
Fazemos questão de agradecer a todos os autores participantes deste número e de todos as
edições já publicadas pelo Varal. Vocês são a alma que faz do Varal do Brasil uma revista viva,
alegre, realmente literária sem frescuras!
Entramos em férias no período julho/agosto e desejamos a todos, onde estiverem, o que de me-
lhor possa haver na vida! Nos encontraremos em setembro (inscrições abertas até dez de agos-
to) com a edição no. 17 falando sobre Nossa Infância!
Sua Equipe do Varal
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6. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
1. AILTON SALES 34. JOSE CAMBINDA DALA
2. ALMA LUSITANA 35. JOSE CARLOS DE PAIVA BRUNO
3. ANA MARIA ROSA 36. JOSÉ HILTON ROSA
4. ANA ROSENROT 37. JUAN BARRETO
5. ANDRE L. A. SOARES 38. KARINE ALVES RIBEIRO
6. ANDRÉ VALÉRIO SALES 39. LARIEL FROTA
7. ANTÔNIO FIDÉLIS 40. LÉNIA AGUIAR
8. ANTONIO VENDRAMINI NETO 41. LENIVAL NUNES DE ANDRADE
9. CARLOS BRUNNO S. BARBOSA 42. LINA MACIEIRA
10. CARLOS CONRADO 43. LUCIA AEBERHARDT
11. CLARA MACHADO 44. LUNNA FRANK
12. DANIEL CIARLINI 45. MAGNO OLIVEIRA
13. DANIEL CRAVO SILVEIRA 46. MARCOS TORRES
14. DANILO A. DE ATHAYDE FRAGA 47. MARIA DALVA LEITE
15. DHIOGO JOSÉ CAETANO 48. MARIA LUIZA FALCÃO
16. DOMINGOS A. R. NUVOLARI 49. MARIA LUIZA FRONTEIRA
17. ELISE SCHIFFER 50. MARIO REZENDE
18. ELISEU RAMOS DOS SANTOS 51. NINA DE LIMA
19. ESTRELA RADIANTE 52. RAFIKI ZEN
20. FABIANE RIBEIRO 53. REGINA COSTA
21. FELIPE CATTAPAN 54. ROBERTO ARMORIZZI
22. FERNANDA DE FIGUEIREDO FERRAZ 55. ROZELENE FURTADO DE LIMA
23. FRANCISCO FERREIRA 56. RUTE MIRANDA
24. FRANCY WAGNER 57. SANDRA NASCIMENTO
25. GIORDANA BONIFÁCIO 58. SANDRA BERG
26. GLADYS GIMÉNEZ 59. SARAH VENTURIM LASSO
27. GUACIRA MACIEL 60. SHEILA KUNO
28. HELENA KUNO 61. VARENKA DE FÁTIMA
29. HELENA BARBAGELATA 62. VIVIANE SCHILLER BALAU
30. HILDA FLORES 63. WILLIAN LANDO CZEIKOSKI
31. ISABEL C. S. VARGAS 64. WILSON CARITTA
32. IVANE PEROTTI 65. WILSON DE OLIVEIRA JASA
33. JOANA ROLIM
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7. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Abundancia
Por Ailton Sales
Família sempre unida
Mesa farta e agasalho
Dinheiro na dose certa
Fruto do próprio trabalho
Muita paz muita harmonia
Muito amor e tolerância
Essa é a vida prometida
Por Jesus... Em abundancia.
Família desagregada
Muito luxo e ostentação
Dinheiro em demasia
Sempre fácil sempre à mão
Sem paz sem tranquilidade
Em constante vigilância
Essa é a vida oferecida
Pelo Homem... Na abundancia.
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8. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Déjà-vu
Por Ana Maria Rosa
Ia passando por uma rua próxima, quando sentiu o desejo irresistível de rever aquela ca-
sa. Parou o carro e deixou que suas pernas a levassem à rua das mangueiras. Era melhor vol-
tar – uma mulher de trinta anos parecendo uma adolescente – iria apenas passar como quem
não quer nada, só para dar uma olhada. De longe, avistou a casa amarela. Parou tentando re-
cuperar a respiração. Ainda havia tempo de voltar. Seu corpo impulsionou-se até o número 25.
Quedou-se observando: a fachada imponente, a porta entalhada, o muro de pedra, o jardim de
rosas, a grade alta... Em que momento tudo se acabara? Antes, entrava sem se anunciar,
agora não podia sequer tocar a campainha. Precisava desistir. Dobrou a esquina e viu o por-
tãozinho do quintal, aberto. Olhou para os lados e entrou.
Experimentou o trinco da porta da cozinha. Arrodeou a casa, viu uma janela aberta. Vol-
te, Marina, volte... Escutou o silêncio da casa, o coração aos pulos. Estava louca. Uma mulher
casada com um deputado, mãe de dois filhos – escondida – espreitando o interior de uma ca-
sa! Assomou a cabeça à janela e viu a sala de jantar parada no tempo: a mesa grande, as ca-
deiras de veludo verde, os quadros, o lustre. Apenas as cortinas eram novas – cor de vinho.
Mulherzinha de mau gosto! Fechou os olhos, calculou a altura da janela – como da primeira
vez que dormira com ele – agarrou-se ao parapeito e pulou.
Ouviu o chuveiro e a voz dele vinda de longe – Quem é?
Entrou no quarto, escondeu-se atrás da cortina, ficou a espiá-lo – belo e viril – enxugando
o cabelo. Ouviu a ordem – Marina, saia daí!
Marina fundiu-se ao corpo nu. Sentiu uma mistura de prazer, felicidade e dor, tudo mistu-
rado. Teve medo de estar sonhando novamente. Desejou morrer: não queria acordar em sua
casa, na cama ao lado do marido.
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9. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Escolhas *
Ana Rosenrot
De um canto escuro e apertado, vejo a chuva que cai pesada, gelando as almas e
anunciando a proximidade do inverno, para angústia dos que nada tem.
Observo as pessoas que passam apressadas, coloridos guarda-chuvas tremulam como
bandeiras, todos correm em busca de seus destinos, não me enxergam, minha caixa de es-
molas está molhada e vazia.
Mas a vida é assim mesmo, uns se abrigam em luxuosos carros importados, outros em
cantos escuros e úmidos, a sorte não sorri para todos, como um dia sorriu pra mim.
Minha vida vai correndo como a enxurrada, cheia de sujeira e abandono, o medo cres-
cendo conforme a água da enchente sobe, me sinto tão só, ninguém olha em minha direção,
sou a imagem dos seus temores mais íntimos, acham que nunca estarão no meu lugar e pen-
sar que um dia também pensei assim.
A chuva se arrasta por horas, sinto meus ossos doerem devido ao excesso de umidade,
meu corpo parece estar apodrecendo junto com os jornais que me servem de cobertor e como
o papel, minha alma se dissolve, misturando-se com a lama da rua.
Pouco tempo atrás, parece que já faz um século, minha vida era outra, eu tinha dinheiro
e posição, mas fiz escolhas erradas, me envolvi com as piores pessoas e destruí as conquis-
tas de toda uma vida, devido a ganância e a ambição.
Agora estou aqui, vivendo os segundos, colhendo os restos do mundo, tão inoportuno e
dispensável quanto o entulho que se acumula.
O sol volta a brilhar e as pessoas retomam sua rotina e de repente, alguém que conhe-
ço de outra vida me atira uma moeda, o faz como se jogasse uma pedra em um rio, pouco se
importando onde irá cair, pelo menos, com a moeda, ela acha que aliviou a possível parcela
de culpa que sente sobre minha triste situação, mas a culpa somente existe em quem se julga
culpado e essa culpa é toda minha.
Hoje eu sou filho do mundo, flagelo da humanidade, não me diga que sente pena de
mim, pois todos querem me ver longe de suas vistas, até mesmo você, com sua beleza com-
prada, mas eu estou melhor agora, pois me sinto vivo, real, faço parte de suas ruas e praças,
sempre estarei ao seu lado, lembrando ao mundo que a miséria existe.
A vejo se afastar, passos rápidos, tensos, quem estou enganando, preciso alcançá-la,
olhar em seus olhos outra vez, me levanto, sigo em sua direção, ela entra no carro, alguém a
espera, perco a coragem de me aproximar, ela pertence a outro mundo e nele eu não existo
mais.
Volto a me esconder da vida naquele canto escuro, talvez um dia, eu tome coragem e
faça com que meu grito seja ouvido, até mesmo por você, talvez.
*Conto premiado com Menção Honrosa no III Concurso de Poesias, Contos e Crônicas de Jacareí
“Troféu Jacaré” 2011.
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10. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
ALICE
Por André L. Soares
Alice, embebida de pureza,
há poucas horas, chegara ao planeta,
ainda estava imune à maldade,
quando as notícias velozes
rasgaram-lhe as têmporas.
Lágrimas verdes vertendo das retinas,
pontas de dor aguda a lhe fisgar o peito,
grito de clave de sol, preso à garganta,
ela então, vê a santa desnuda
sob a luz fria do cotidiano,...
momento em que o belo pintou-se de breu
(sabor amargo de inocência trincada).
Cansada, recolhe-se ao quarto,
a proteger-se dos cristais e plasmas.
Após sangrar lembranças, cerra pálpebras,
chora e soluça outra vez, sozinha.
Por fim, Alice adormeceu!
Em seus sonhos ainda existem flores,
a água e a verdade parecem cristalinas
e até o coração do homem é bom.
Acanhado, procurei algo
que a fizesse sentir-se melhor
quando acordasse;
tentei criar um ‘origami’, mas já era tarde...
eu só tinha em mãos, a realidade.
.
Foto de André L. Soares
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11. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
TEMPO DE REFLETIR
Por Lenival de Andrade
Amigos humanos terráqueos
Vejam bem
E prestem muita atenção também
Pois estamos vivendo
Num tempo muito difícil
Para todos nós
E é muito bom
Parar para pensar
Pensar e refletir
A DEUS perdão pedir
De joelhos e perante ele
Ser Supremo, Soberano e Maior
Sobre tudo e todos
Além de todo o mar, céu e infinito
Pensem e meditem
Antes de tudo o que vai fazer e falar
Não precisa complicar
Sem precisar medir
Pois sempre é tempo
Tempo de refletir
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12. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Deus grego beijava.
7 Anos passados, em uma manhã de segunda-
feira, em meu escritório recebo um telefonema
Por Lúcia Brüllhardt informando que minha amiga ( a da pulseira )
tinha sido assassinada com 19 facadas e o ros-
to tinha sido completamente destruído por áci-
Estou em Atenas, exatamente em um antigo do.
cemitério, parada de frente a um túmulo branco Novamente aquela explosão de luzes como um
coberto por lindas lápis-lazúlis. A beleza era raio em minha mente e como cenas de filme
tamanha, que fascinada com o brilho das pe- passa o sonho, o deus grego, a pulseira, a tra-
dras me abaixo para pegá-las. vessia no riacho..... em meio a turbulência de
De repente surge a minha frente um deslum- imagens, a voz que me revela : Seria você.
brante “deus grego” LINDO! Tentei acordar do pesadelo; ERA REALIDADE,
Pele branca, olhos cor de mel, cabelos doura- eu não estava dormindo, passado o choque e
dos e um corpo desenhado pelas mãos de recuperadas minhas forças emocionais, que
Zeus. Ele veste um minivestido de seda branca devido ao ocorrido me abalaram profundamen-
com um cinto dourado e sandálias de couro te, continuei minha rotina diária...
amarradas nas pernas, musculosas e depila-
das. Tinha uma postura elegante e os braços Quando em uma bela tarde de verão europeu,
cruzados na altura do peito. Em cada braço na decido caminhar na beira do lago. Aquela tarde
altura dos músculos uma pulseira em ouro ma- de domingo era muito especial, o dia estava
ciço. realmente lindíssimo, céu azulado, a brisa leve
Levanto minha cabeça e olho para ele que me que balançava meus longos cabelos negros,
fala : um cheiro de alegria, felicidade misturada com
- Atenção! Não toque nestas pedras. satisfação parava no ar. Eu estava muito feliz e
ACORDEI! (tudo não tinha passado de um so- eufórica, uma dose dupla de felicidade batia em
nho). meu peito. Não entendia porque estava tão fe-
Alguns anos após este sonho, viajava de férias liz.
para Grécia uma amiga e na volta me traz de Ao chegar no lago, decido subir até uma clarei-
presente uma pulseira de pedras “ lápis- ra, onde poderia observar todo o movimento de
lazúlis.”. pessoas e contemplar os contrastes de cores
Em minha mente uma explosão de luzes como céu, mar, árvores e montanhas. Um local ideal
um raio, me traz a tona o “deus grego” me avi- para deitar e desfrutar a natureza.
sando para não tocar nas pedras. Muito assus-
tada, mas contendo minhas emoções agrade- Jogo minha toalha na grama verde, sento e co-
ço, pego a pulseira guardo em minha bolsa... loco meus óculos de sol. Tiro minha roupa bem
Na ida para minha casa teria que passar por devagar, ficando somente de biquíni, sentido
uma ponte com um riacho de forte correnteza. assim, o toque dos raios de sol em meu corpo e
No meio da ponte ouço uma voz que me acon- o vento leve acariciando minha pele. Naquele
selha : exato momento sinto que olhos me observam.
- Joga a pulseira fora, pois a mesma está pre- Ainda sentada, giro minha cabeça para à direi-
parada para te destruir a partir do momento ta, vejo um jovem de uns 27 anos, loiro, pele
que colocares no braço. (Assustada, e quase branca, cabelos dourados. O mesmo também
sem folego, não hesitei. Obedeci) sentado, óculos de sol, somente de calção de
A vida continuou no ritmo normal. banho preto bem justo ao corpo, olhava exata-
mente em minha direção.
Vez por outra recebia a visita da amiga que me
perguntava : Tentei disfarçar, mais ele me observava com
- A pulseira que te dei, você não vai usar? Já grande intensidade. Não era discreto, olhava e
vim aqui diversas vezes e não te vejo com ela ? olhava MESMO.
Com um grande aperto no coração e um frio Perdendo a paciência me levanto, vou em sua
que me percorria toda a espinha dorsal eu res- direção, paro em frente a ele que permanece
pondia : Aquela linda e maravilhosa pulseira só sentado, eu em pé com as mãos na cintura,
uso em ocasião especial. Foi o melhor presente quase gritando pergunto :
que você me deu. Obrigada. Abraçava ela e
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13. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
- O que você tanto olha? Era ele. ERA ELE, em carne e osso, ali na mi-
nha frente, naquele castelo, era real... Me en-
Ele muito calmo, sereno e com uma grande
gasgo, perco o folego, tremo. Uma sensação
classe, tira os óculos de sol e coloca na cabe-
de felicidade, medo e curiosidade percorre todo
ça, olha bem em meus olhos, sorri e me res-
meu ser. Controlando o vendaval de emoções,
ponde :
respiro e falo compassadamente :
- Eu estou olhando para você. - Tenho a impressão de que já te conheço há
Eu meia desconcertada, totalmente sem saber vários anos.
o que responder falei : O meu deus grego me responde :
A partir de hoje eis que tudo se transforma. Vim
- Vamos entrar na água? E saio correndo e me aqui na terra para te levar a uma outra dimen-
jogo nas águas geladas do lago de Bienne. são, viver contigo um amor intenso e te entre-
Após o mergulho olho para trás pensando que gar o segredo dos nossos antepassados.
ELE tinha me acompanhado. Londres, Paris, Veneza, Barcelona, Maurício,
Mas ELE continuava sentado sorrindo e olhan- Pretoria, Tailândia e Brasil. Atravessamos os
do em minha direção. sete mares. De trem, navio e avião, cruzamos
de leste a oeste e de norte a sul.
Completamente irritada saio da água quase ro- Loucuras deliciosas vividas plenamente, como
xa e tremendo de frio, volto a onde ele perma- dois apaixonados, vivemos durante 15 anos.
necia e grito : Durante este período ele foi meu mestre, aman-
- O que você está fazendo sentado aí? Eu te te, amigo e colaborador. Até o dia em que o
convidei para nadar! destino através da morte nos separou. Hoje en-
contro me aqui sozinha NA FRIA NOITE DE
Agora com um sorrido mais largo , ele se levan-
INVERNO.
ta coloca uma toalha em meus ombros e me
Fico pensando e sonhando em todas as belas
fala:
coisas que vivemos e vencemos juntos.
_ Eu tentei te avisar que é começo de verão Infelizmente você não esta mais aqui e me sin-
aqui na Suíça... à água esta CONGELADA, in- to abandonada. Como companheira a solidão.
felizmente você não me deu atenção e saiu Nos encontramos em uma tarde de verão, lem-
correndo em direção ao lago. Gostei muito de bras? Que lindo este dia junto a ti.
ver sua demonstração de coragem.
Você foi para mim um presente dos céus. Na-
Coragem que nada, aquele homem tinha me
quela tarde quando você olha em meus olhos vi
deixado completamente desnorteada, a ponto
que um amor belo e invencível nascera.
de me jogar nas aguas congeladas de um lago.
Lembro que desejei viver eternamente com vo-
Quem era ele? De onde vinha?O que fazia
cê, onde juntos poderíamos transportar monta-
aqui ? Eu tinha que descobrir isso urgente.
nhas. Lembro de seu sorriso e nos dias de do-
Sem perder tempo , convidei o estranho para
mingo que juntos corríamos e brincávamos co-
jantarmos juntos. Ele aceitou.
mo duas crianças. Você não lembra? Para mim
Ao anoitecer , espero meu estranho, que até foi ontem ,você sempre foi o homem que dese-
então eu não sabia seu nome nem onde mora- jei para mim. Eu e vocês, dois! Ouço nossa
va ( tinha esquecido de perguntar). Exatamente canção, sinto suas mãos que tocam em
na hora marcada e no local acertado , ele che- mim...Ilusão. Você não está aqui . Você tornou-
ga. se distante. Velho amigo, desejo seu ombro pa-
Agora muito mais lindo, que a tarde. Entro em ra apoiar minha face como antigamente. A dor
seu carro e vamos a um restaurante com espe- de sua ausência dilacera minha alma, meu pei-
cialidade francesa. O restaurante funcionava to e meu ser... O amor solitário fere e acaba
em um antigo castelo, e o lugar que restava, com as forças que tenho. Volta em meus so-
era uma mesinha exatamente com dois lugares nhos. Explode em luzes no meu pensamento,
na torre. te materializar para um último adeus. Desejo
Sentamos e fomos servidos com um coquetel somente antes de morrer poder reviver os dias
de boas vindas. Brindamos, e no tilintar das ta- lindos que tivemos.. Sentir seu hálito perfuma-
ças, a explosão de luzes em minha mente, trás do e quente entre meu corpo me fazendo tre-
a imagem do deus grego, que conheci (em so- mer de prazer. Meu amado, como é bom relem-
nho) na cidade de Atenas. brar os momentos que passei ao seu lado.
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14. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Volto a Atenas, tentando te encontrar, mais lá você não está. Talvez a beira do lago, ou no res-
taurante castelo, lá também você não está.
Eu não conseguirei viver sem você. Ouve minha dor, houve meu lamento.
Eu grito de paixão e desejo. Meu deus grego.
Não quero ir para outros braços, não quero sentir outros beijos. O sétimo céu quero ver somente
com você.
Como forma de amenizar a saudade , olho nossas fotos e os presentes que recebi de você, du-
rante nossa caminhada aqui na terra. No meio de tantos, uma pequena caixinha vermelha em
forma de coração, me chama atenção. Curioso, nunca tinha a visto antes. Abro –a e, encontro
um papel no qual está escrito :
“ deus, mito, lenda, sonho ou alucinação “
Lágrimas quentes rolam dos meus olhos, que caem pesadas no chão e se transformarão em
lápis-lazúlis. .
Amazônia
Por Magno Oliveira
As aves não mais voam
Os peixes não mais nadam
Os pássaros não mais cantam
As pessoas não mais se amam.
Tudo isso por culpa do homem e a sua maldade
Tudo por culpa do homem e a sua falta de caridade.
As nossas matas desmatadas
As nossas florestas devastadas
Nossos animais em extinção
Nosso medo da poluição.
A Amazônia é nossa devemos protege lá
A Amazônia é nossa devemos ama lá.
Viva o verde, viva a Amazônia,
Viva os índios, viva a alegria.
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15. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
O CLUBE DOS VIRA-LATAS é uma organização não governa-
mental, sem fins lucraƟvos, que mantém em seu abrigo ho-
je mais de 400 animais que são cuidados e alimentados dia-
riamente. Boa parte desses animais chegou ao Clube após
atropelamentos, acidentes, maus tratos e abandono. Nosso
objeƟvo é resgatá-los das ruas, tratá-los e conseguir um lar
responsável para que eles possam ter uma vida feliz.
Por que ajudar os animais? doações. Todos podem ajudar, seja divulgando o
Clube, seja adotando um animal ou mesmo doando
Você sabia que no Brasil milhões de cães e gatos dinheiro, ração ou medicamentos. Qualquer doa-
vivem nas ruas, passando fome, frio e todos os Ɵpos ção, de qualquer valor por menor que seja, é bem-
de necessidades? Cerca deles 70% acabam em abri- vinda. As contas do Clube bem como o desƟno de
gos e 90% nunca encontrarão um lar. Parte será víƟ- todo o dinheiro estão abertas para quem quiser
ma ainda de atropelamentos, espancamentos e to-
dos os Ɵpo de maus tratos. BRADESCO (banco 237 para DOC)
Infelizmente, não é possível solucionar este proble- Agência: 0557
ma da noite para o dia. A castração dos animais de CC: 73.760-7
rua é uma solução para diminuir as futuras popula- Titular: Clube dos Vira-Latas
ções mas não resolve o problema do agora. Sendo CNPJ: 05.299.525/0001-93 Ou
assim, algumas coisas que você pode fazer para aju-
dar um animal carente hoje:
Banco do Brasil (banco 001 para DOC)
Adotar um animal de maneira responsável Agência: 6857-8
CC: 1624-1
Voluntariar-se em algum abrigo. Titular: Clube dos Vira-Latas
Doar alimento (ração) e/ou remédios para abrigos. CNPJ: 05.299.525/0001-93
Contribuir financeiramente com ONGs.
Nunca abandonar seu animal (Saiba mais sobre o Clube em hƩp://fr-
fr.facebook.com/ClubeDosViraLatas?ref=ts)
Como o Clube vive? Somente de doações. Todas as
nossas contas são públicas, assim como extratos
bancários e notas fiscais.
Como ajudar o Clube? Para manter esses mais de
400 peludos em nosso abrigo, contamos hoje ape-
nas o trabalho dos voluntários e com o dinheiro de
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16. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
AS TOURADAS DE SEVILHA É um povo festeiro, com uma cultura de danças
regionais como o Flamenco de mais antigamente
e os mais modernos com as Sevilhanas. Tem tam-
Por Antonio Vendramini Neto bém a semana santa que é percorrida pelas ruas
finalizando na belíssima cadetral.
Destacam-se a “Feria de Abril”, de caráter folclóri-
Nos caminhos percorridos em terras espanholas, co, com milhares de pessoas vindas de toda a Es-
visitei juntamente com a companheira, a esplendo- panha, e no recinto da festa as pessoas se reú-
rosa cidade de Sevilha, em pleno verão europeu. nem para cantar e dançar. “Durante a semana”,
Trata-se de uma terra aguerrida, povo cheio de realizam-se uma serie de touradas, de fama nacio-
vida, dando a impressão que estão sempre nervo- nal, na conhecida “Plaza de Toros, La Maestran-
sos e apressados, mas não vimos nada de excep- za”, onde tivemos a oportunidade de visitar, mas
cional em sua metrópole que os levasse a ter esse nos dias que se seguiram, não houve touradas,
comportamento, pelo contrario, é um povo muito ficamos então com o museu muito bem montado
acolhedor, talvez seja o espírito da raça. em suas dependências.
A paixão que os eleva, são as touradas, que é
uma questão de cultura, que veio da mistura de
europeus e seus conquistadores, mais recente- AS TOURADAS REGISTRADAS NO MUSEU
mente, os mouros que ficaram em seu território
por mais tempo, cerca de 700 anos, transforman-
do-se na “caliente” região de Andaluzia. O espetáculo em sua praça de touros é algo
parecido a um ginásio esportivo. As pessoas
Além dela, visitamos as principais cidades como; sentam nas arquibancadas para assistirem e
Mérida, Córdoba e Granada, estão situadas a Su- em todas as “corridas” o “toro” é sacrificado.
deste da Península Ibérica é a capital da província
da Comunidade Autônoma, sendo a quarta cidade O matador o enfrenta com uma capa vermelha,
espanhola, com cerca de 700.000 mil habitantes. o qual é ajudado pelos seus assistentes, de-
pois vêm os “picadores” que dão as suas esto-
O que mais nos impressionou, foram os acervos e cadas, enfraquecendo os seus músculos, inicia
as arquiteturas da época que estou descrevendo -se então a etapa com os gritos da platéia de
como sendo a dos Mouros. No ano 712 da nossa olé-olé, que “pegou” nos jogos de futebol aqui
era, o Califa Musa, acompanhado de seu filho e no Brasil, quando o time vencedor quer tam-
com um exercito de 18.000 homens, cruzou o es- bém dar o seu espetáculo.
treito e procedeu a conquista, em busca de pasta-
gens de abundancia de água. O papel do toureiro é fazer um bonito show,
deixando o touro cansado, tirando suspiros da
Ocupou as cidades de Medina, Carmona e Sevilha torcida. È uma pena a judiação que é feito com
e, seguidamente atacou Mérida que após sitiada a o animal. Mas nesse país é tradição e nunca
conquistou. A Cidade então passou também a ser vai acabar. Eu sempre torço pelo touro, porque
território Mouro. E foram eles que lhe deram o no- o bicho homem faz dele um palhaço dentro do
me atual, a portentosa Sevilha. picadeiro e acabando com sua existência.
Nesta época a sua riqueza cultural cresceu enor- Enfim, depois de tantos passos, gritos de olé,
memente com a chegada dos árabes, em tanto, o matador se prepara para a estocada final.
que tinha dependência do Califado de Córdoba Com um movimento de espada escondida so-
convertendo-se na mais importante de AL - Anda- bre a capa, faz com que o animal se aproxime,
luz. Os cristãos reconquistaram a cidade em 1248 enfiando em seu dorso, fazendo-o cair. É o fi-
durante o reinado de Fernando III de Castela. Foi nal.
também sede da exposição Ibera America em
1929 e da exposição mundial em 1992, onde inú- No museu, pudemos ver os cartazes das toura-
meras obras foram erigidas em seu louvor. das de antigamente, destacando-se, o terrível
“Manuel Rodrigues”, conhecido nos meios co-
O clima é muito gostoso, com aquele tempero me- mo “El Manolete”, um dos maiores matadores
diterrâneo, com temperatura media anual de 19 que já existiu, morreu no dia da tourada marca-
graus, o que a faz uma das mais quentes da Euro- da no cartaz (28081947), foi ferido pelo touro
pa, dado a proximidade com o continente Africano, “Islero”, no meio da “Praça de Toros Linares”.
tornando-se o paraíso dos turistas, dobrando a
população. Em julho a temperatura sobe para até
35, superando no apogeu do verão em mais de 40
graus.
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17. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Sedex lírico: Carta a uma senhora poeta
Por Carlos Bruno S. Barbosa
Hoje a noite amanheceu mais fria e pálida em mim, senhora. Me disseste que não sa-
bes escrever, jogaste fora um poema lindo sobre essa angústia que nos atinge e, com ele,
levaste à cova da insegurança vários versos que morreram antes de poderem crescer. En-
quanto escrevo isso com os olhos caídos, em luto pelos poemas que não te aconteceram, ou-
ço minha vizinha lá fora aconselhar uma amiga: “Tem que pensar pra cima e não pra baixo.”
Desconheço o assunto que a levou a tal reflexão, prefiro guardar apenas essa poesia que sua
voz, indelicadamente alta e decididamente vigorosa, me transmite sem querer.
Quando tornei-me professor e quis me dedicar a inspirar meus alunos a escreverem,
sempre trouxe comigo o sonho louco de Bukowski de imaginar que deveria haver um poeta
em cada esquina da vida e, assim, aprendi a ver poesia em quase tudo, pois quase tudo é
múltiplo, lírico e singular. A arte salvou minha vida; sem ela, confesso que me jogaria debaixo
de um carro, me atiraria no mar ou me tornaria uma pessoa apática, sem gosto pra nada, inu-
tilizada pela própria inexistência. Sei que o ato de escrever não permite que salvemos o mun-
do, não impede que aviões se atirem sobre prédios inocentes, não traz a cura do câncer, não
tira a dor da perda de alguém; mas salva a invisível alma que agoniza, impede que pilotemos
tais aviões contra casas que amamos, controla a dor estagnada e mantém vivas aquelas pes-
soas que se perderam no caminho. E também sei o quão difícil é este caminho que escolhi:
às vezes, converso com paredes surdas; às vezes, me sinto ridículo; às vezes, estou muito
só... Mas e aquele verso que alguém ouviu e levou pra própria vida, como um urso de pelúcia
que, apesar da aparência inútil, conforta a criança que levamos pra cama quando nos nina-
mos em sonhos difíceis? E aquela febre de encontrar a palavra certa e a impressão de que a
Terra toda volta a se mover quando a encontramos? E esse brilho nos teus olhos, senhora,
outrora estrela, agora triste fagulha... por que pensas em exterminá-lo de vez? Por que perder
tudo isso, por que deixar de escrever?
A vida, na maioria das vezes, é inglória e rancorosa, senhora, e, talvez, por isso, não
nos deixe prazer em nossa arte; talvez, por isso, quando escrevemos, o ar parece rarefeito
pra tais ações. A vida, quase sempre, nos ignora, senhora, renega nossos talentos e faz-nos
esquecer dos diamantes que carregamos nas cavernas de nós mesmos. Me disseste que não
sabes escrever, como um planeta dourado que se julga inabitável pra qualquer habitante de
valor. Me desculpe os olhos tristes, senhora, mas o que dizes não condiz com teus versos
sublimes de lirismo incontestável, nem a vida que sempre carregaste nas palavras vivas de
calor e amor. A vida já apaga muitas luzes nos túneis da rotina; não deixes que a tua própria
insegurança desfaça a única chama independente que nos restou. Volta a escrever, senhora,
por favor...
(http://diariosdesolidao.blogspot.com/2011/09/sedex-lirico-carta-uma-senhora-poeta.html)
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18. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
O gozo
Por Carlos Conrado
A Terra banha-se despida
Sob o olhar de Deus.
O pudor horrorizado grita:
- Isto é um crime contra a decência!
Voluptuosa a Terra atiça
Os desejos secretos de quem a fez.
O olhar, vendo as curvas benditas
Atende ao convite do incesto,
Na pirâmide pubiana atira
O esperma onipotente.
Ergue-se no tempo um riso
Símbolo da satisfação
Deste orgasmo de Deus.
Pintura de Carlos Conrado
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19. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Imagem TMK(Tom.CJ)
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SEDA BRANCA
Por Daniel Cravo Silveira
Plana no escuro dos céus, a Lua
Farol solitário de branca luz
Peregrina vestal nua
És meu tesouro e minha cruz.
Forasteiro das horas incertas
Nesta noturna visita,
A revelar-te das ruas desertas
O meu amor selenita.
Lua nova, lua tímida, fugidia
Teus sorrisos se calaram
Teu silêncio é uma lança
A cortar do coração toda a esperança.
Não temas este amar que te revelo
Não há culpa, nem pecado se o sinto
Não vês que és da vida, o meu elo
Da sanidade à terra, és meu cinto.
Dos céus a distância te protege
Meus lábios, meus abraços, não te alcançam
Seda branca, a reinar eterna no paraíso.
Jogo ao vento minhas rimas que se lançam
Ao espaço, a tua busca, por um sorriso!
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20. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
ARMAND LESTAT
Por Lunna Frank
Foi naquela noite quente e chuvosa, quando Antonella, bebia uma taça de vinho tinto suave,
olhou pela janela do seu quarto, vendo o céu, a lua cheia estava enorme foi quando começou a
sentir uma sensação diferente uns calafrios ao mesmo tempo um calor enorme tremia como se
estivesse com uma febre muito alta.
Sentiu uma transformação uma vontade enorme de uivar percebeu-se forte dominadora, nesse
momento a chuva fina caia lá fora, quando desceu as escadas do sobrado acendeu as luzes da
sala de estar sentiu aquele vento frio, eram as janelas que estavam abertas, fechou as janelas e
as cortinas, quando resolveu tomar mais uma taça de vinho, avistou aquela sombra vinda em
sua direção, sentiu um medo enorme mais a sombra atraiu com um perfume forte envolvente.
Era aquele homem belo, forte e diferente, com os olhos fixos em Antonella, meio anestesiada
com o vinho e o perfume que exalava me tomou pelas mãos dei o ar da minha graça, nesse mo-
mento seu colar de pérolas negras arrebentou, sentiu uma grande concentração de energias e
prazeres, começou a uivar e pontapear nem sabia a quantas andava, percebeu então que ele a
tomava em seus braços beijou seu pescoço sua boca era gélida e quente ao mesmo tempo.
Um beijo profundo ardente misturando suas salivas foi festejando o momento sem dar conta, pa-
recia que já conhecia aquele homem, se entregou sem reservas, com um simples movimento
mordeu e chupou seu pescoço, é um prazer indescritível como jamais sentiu em toda sua vida.
Fizeram amor e sentiu umas gotas de sangue em seus lábios, sentiu um arrepio muito forte, de-
pois desfaleceu. Quando acordou estava nua na praia bem em frente da sua casa do seu lado
uma capa negra e duas taças de vinho personalizadas com um nome, apanhou a capa cobriu
seu corpo e foi correndo para casa.
Estava amanhecendo, tomou um banho quente, um café forte, quando se deparou com duas
marcas em seu pescoço eram marcas pequenas dois furinhos com um pequeno hematoma em
volta, todos os pensamentos passaram naquela hora estava confusa cansada com sono.
Anoiteceu, quando acordou festejou aquele momento, tive um pouco de medo mais a excitação
era maior, refletindo o que teria acontecido já que lembrava vagamente, misturando os pensa-
mentos entre o sonho e a realidade.
Mais a memoria visual daquele homem lindo, forte daquela figura que emergiu na penumbra da
noite em sua sala, com aquele olhar misterioso jamais poderia ter sido um sonho, já que deixou
suas marcas em seu pescoço.
Pensou que fosse ser transformada em uma morta viva um ser da noite, mais ao contrario esse
homem deixou um presente, sua marca o dom da imortalidade, deu as mãos a palmatoria para
as mulheres que como Antonelle já viveram essa magnifica experiência do amor sobrenatural.
E todas as noites chuvosas de verão, vai para janela do seu quarto com as duas taças de vinho,
vestindo sua capa totalmente nua uivando para lua cheia esperando por Armand Lestat para re-
viver essa experiência de amor maravilhosa e saborear as gotas do seu sangue adocicado, fazer
amor e celebrar com uma taça de vinho tinto até a próxima lua cheia.
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21. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Querendo Ter Coragem Pular as pedras
Saltar os obstáculos e deixar passar a onda,
Por Maria Dalva Leite Contornar a montanha se ela estiver obstruin-
do o caminho,
E fixar-se nas marcas que lhe trarão de volta,
Passado reconfortante caso precise voltar,
Para passar a exaustão, Não se esqueça de cumprimentá-la antes de
Busco achar o sentido perdido por o pé na estrada
La onde me encontro Por nada solte a mão de Deus,
O sentido proibido também me visita O perigo ronda,
Lá onde me encontro: cama de nuvens, num Não esmoreça
local acolhedor A insegurança filha do medo
Onde só o bem estar e a alegria podem me Deve ser evitada,
acompanhar
Ela surrapa as encostas, rola as pedras, afun-
Rígida numa posição confortável rejeito as da os precipícios.
mudanças que sempre surpreendem,
Cuidado! tenha fé.
Fujo da dor escondendo-me do que incomoda.
Tudo é para o bem.
Navegando em águas calmas, ficar bem é o
melhor A segurança é a magia que fará você transpor
os obstáculos, E ficar distante do medo
Petrificada longe da dor.
Repito : não solte a mão de Deus, ocupe-se
Entender o que esta se passando dele e atenção por onde pisa para não falsear
Compreender e se lembrar da lição que a o passo, e fraquejar.
mestra vida nos dá.. Deus seja louvado.
Abençoa-la em todas nuances e inserir- se Vamos em frente que atrás vem gente.
como parte do todo.
Unir-se à vida.
Dar bom- dia para o dia, Saudar o sol, a chu-
va, o luar,
Respirar o mesmo ar que nos contata com
todas formas de ser, desde a menor formigui-
nha, as folhagens das plantas, todos animais ,
a grama verdinha, verdinha ondulada pelo
vento.
Todas pessoas do mundo interconectadas
respirando o mesmo ar.
Existindo juntas na linda atmosfera, pulmão da
terra, preenchendo o olhar de cores,
prenhe de frescor e odores, amadurecidos em
toda sua trajetória pelo universo.
Sorrir para o tempo magnânimo
Compreender as oportunidades,
Não se apavorar com o caminho,
Bem-fazer toda ajuda,
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22. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Genuínas reminiscências
Por Maria Luzia Fronteira
Arrebata-me uma saudade na rajada do vento, na morrinha e na invernada que rasga o silen-
cio oh, e à noitinha junto à lareir’ acender o lume, com a saruga do pinheiro, os gravetos d’
acácia, e as folhas tenras d’ eucalipto e do loureiro, e das bagas oh, o cheiro, sob as rachas
da lenha resguardada no palheiro de paredes de pedra e de telhado rijo fabricado n’ olaria da
minha rua.
Arrebata-me a saudade das brasas na lareira sob a panela de ferro, cozendo o milho, ou a
sopa de trigo ou o bolo do caco e a castanha no brasume p’a família inteira.
Arrebata-me uma saudade na cartola e no garrafão de vime, e no corno do boi cheio de vinho
caseiro amiúde...e dos poios laranja terra, adubada com o estrume da vaca e a mondada a
eito das urtigas e da erva melada...e das botas d’água da rega na levada clorofilada de mus-
gos, ervas aromáticas, treviscos, giestas, dente de leão, abundâncias, trevos, pata de gali-
nha, junquilhos e malvas.
Arrebata-me uma saudade na vassoura de urze e na vassoura de palha e no cabo de madei-
ra, da pá, da foice, da pedoa, da enxada do machado e da lima...oh e arrancar a erva do pá-
tio na calçada.
Arrebata-me uma saudade de beber água com sabor a terra das nascentes e do verde dos
montes ingremes, numa bica de palma fazendo a ponte na levada quebrada.
Ah e do toque das ave-marias, às seis e meia e as mulheres resguardadas de pés em banho-
maria absorvendo um calorzinho na derme fria, e as mãos em direção ao azul do céu, ora
num tom azul anil, ora num tom azul mar, ora num tom azul petróleo ora num tom místico
pardacento rezand’o terço e dando as graças pelo berço abençoado em que foramos acolhi-
dos.
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23. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
25 ANOS
Por Sarah Venturim Lasso
Bem vindos 25 anos
Faço bodas de prata de mim mesma
Como uma rosa desabrochando
Feminina
Menina
Virando mulher
Em 25 primaveras juvenis
Despeço-me da juventude
E abro as portas
Para um caminho sem volta
Trilhado por mim mesma
Em noites de insônia
Rumo ao desconhecido
Adulta
Com frio
Com medo
Sozinha
Acompanhada de mim mesma
Nessa vida
Como um jardim
Seco e inóspito
Sigo firme e forte
Rumo ao verão
E a chuva
E mesmo sem saber
Como será o amanhã
Sigo positiva
E pensativa
Como uma rosa
Driblando meus próprios espinhos
Enlaçados em meu corpo frágil
Mesmo sem saber do amanhã
Sigo rosa,
A espera da colheita do amor.
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24. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
ROCAMBOLE DE GOIABADA
http://tudogostoso.uol.com.br/
Ingredientes
• 3 claras em neve
• 3 gemas
• ½ xícara de água
• 1 xícara de açúcar
• 1 xícara de farinha de trigo
• 1 colher de chá de fermento
300 g de goiabada derretida
Modo de fazer
1. Bater na batedeira as claras em neve, após jogar a gemas, a água,
em seguida o açúcar, o trigo e por último o fermento
2. Colocar a massa em forma retangular grande untada em forno pré-
aquecido
3. Assim que retirar do fogo colocar a massa sobre um pano de prato
polvilhado com açúcar (ou papel manteiga)
4. Enrole imediatamente e reserve
Derreta a goiabada e aplique, enrole novamente e polvilhe açúcar ou
cubra com chantilly
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25. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Uma Árvore Chamada Terezinha-Centro Cultural Lagoa do Nado -
Jardim dos Poetas -Belo Horizonte - MG
Por Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Jacqueline Aisenman de azul, e sua árvore, Terezinha, observada por Rogé-
rio Salgado e por mim, (Clevane Pessoa), no Jardim dos Poetas-Lagoa do nNdo, em
31 de maio de 2012.Salgado e eu .
Crédito da foto: Lecy de Souza
Marco Llobus marcara para 31 de maio, a segunda edição do Jardim dos Poetas(**): poetas que
passaram pela Lagoa do Nado (*)em Saraus de Poesia , os que fizeram parte do histórico pro-
cesso ...
A premiada prosadora e poeta Norália de Castro Mello estava nos primórdios da organização,
em Brumadinho, de um lançamento- do Varal do Brasil-2, onde estamos na qualidade de coau-
toras e organizada por Jacqueline Aisenman a qual lançaria também seu próprio novo livro,
"Briga de Foice", pela
Design Editora , de Jaguará do Sul/SC, um belo trabalho editorial. Jacqueline também é catari-
nense-e mora há anos, em Genebra.
Norália sonhava em reunir aqui, os coautores mineiros.
Queria sobretudo, oferecer a Jacqueline a grande oportunidade de conhecer Inhotim (**).Mas as
negociações se arrastavam, graças aos valores -e ela então, investiu potencialmente na Prefei-
tura de Brumadinho, onde hoje reside, que cedeu-lhe a Casa da Cultura-para a recepção de 01
de junho, hospedagem aos poetas e prosadores, várias benesses. A Secretaria de Cultura e Tu-
rismo entrou no esquema produtivo-e Norália pode contar com Juliana Brasil, Regina Esméria,
Maria Lúcia Guedes, Maria Carmen de Souza, que se empenharam na decoração e na degusta-
ção de acepipes tipicamente mineiros juninos. Segundo comentários dos autores e convidados,
foi uma grande confraternização-continuada em Inhotim e depois no Restaurante D. Carmita,
com os lançamentos das antologias citas e livros dos presentes .
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26. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Bem, então, no Dia 31, aqui em Belo Horizon- poderia ser madrinha ou afilhada do poeta e o
te, começamos a recepção à Jacqueline, que poeta escolheria o nome de sua árvore, pen-
seria homenageada junto com Diovvani Men- sei em achegar-me a uma que desse muitas
donça (leia-se Paz e Poesia ***) , no Sarau da flores , para dar-lhe o nome de minha mãe,
Lagoa do Nado, no Restaurante D. Preta, re- que adorava o verde. Eu andava daqui e dali,
duto de poetas ,artistas e pessoas da Paz, a mas fui atraída por um cedro. Mesmo ele apre-
convite de Claudio Marcio Barbosa , produtor sentando uma praga branca. Não consegui
cultural e poeta, que faz parte da família que afastar-me das lindas folhas oblongas e aceti-
administra o D.Preta. preparam um substancial nadas. Então, pensei: vou dar-lhe o nome de
prato mineiríssimo, o Feijão Tropeiro (****). Máximo, pois meu avô ,paraibano, trovador,
Foi organizada uma mesa de livros , para a cordelista e jornalista, repentista sonetista, que
degustação da mente e do espírito, por que ensinou-me a metrificar e amar a poesia ainda
não, do coração? Jacqueline recebeu as no seu colo, não obstante árvore do gênero
"Palmas Barrocas" -alusivas à arte sacra mi- feminino na gramática, mas comum dos dois
neira, uma criação da artista de Sabará-uma na espécie, Cedro sempre vai lembrar-me o
das mais antigas cidades mineiras- Dirléia Ne- gênero masculino.
ves Peixoto e que são parcimoniosamente dis- Desejei muita sorte ao meu cedro-que cresça
tribuídas pelo grupo de Poetas Pela Paz e pela o máximo, seja o máximo-sobrenome de vovô,
Poesia., grupo que realiza o Paz e Poesia em Luiz Máximo de Araújo -pensei .
Belo Horizonte (*****). Depois de curtir a árvore que me escolheu, fui
circular e quando Jacqueline Aisenman foi ba-
No D. Preta, , esperamos a chegada de Norá- tizar a sua, ela disse-me;-Terezinha, o nome
lia, que chegou com sua filha Daniela. Desse de minha mãe.
momento, participaram os poetas e artistas de Fiquei literalmente arrepiada .Claro que o pre-
Belo Horizonte, Marco Llobus, Neuza ladeira nome da santinha de Lisieux é muito comum,
Rodrigo Starling, Iara Abreu, Maria Moreira, mas eu, que vivo na memória e no imaginário,
Adão Rodrigues, Fátima Sampaio, Rogério escritora que sou, logo pensei : -Mamãe, que
Salgado, Claudio Márcio Barbosa , Serginho adorava o pai, deu-lhe lugar.
BH (fundo musical ao violão) e eu. Coautoras E assim , toda vez que for ao jardim de nós,
de outros Estados e cidades estiveram no con- Poetas, no CC Lagoa do nado, vou acarinhar
graçamento: Yara Darin, Maria Clara Macha- essas duas árvores: pela amiga distante, em
do, e, com Norália e Daniela, também artista, outro país, Jacqueline Aisenman e cultura o
chegou a alegre Madhu Maretiori, que lan- nome materno de ambas, e o d e vovô, meu
çou seu encantador "Em Nome de Gaia"- mi- mago iniciador que revelou-me a POIESIS, co-
nilivro de grande conteúdo. mo soi ser, com autoria, orgulho e ale-
Bem, esse prólogo longo , mas necessário ao gria ::Terezinha e Máximo.
registro de nossa história de poetas, nos leva Mais tarde, já em casa, li um texto maravilho-
agora, à Lagoa do Nado. so, em Varal Antológico 2 de Jaqueline Aisen-
Lá, além do mini tour pelo pulmão verde e su- man ,denominado Pintura Ingênua, onde ela
as águas, com passagem pela exposição a abre ao leitor o grande amor por seu pai ("Meu
céu aberto da obra enraizada de Mestre Thi- pai, sentado na cozinha, palpitava a vida, dava
bau., Jacqueline e nós, poetas convidados , palpites em tudo"), onde a mãe amada entrea-
fomos levados para plantar nossa árvore no parece, figura de fundo e de pal-
Jardim da Poesia. co ,indispensável( "Ou ia pelos braços queri-
dos de minha mãe, braços)
Quando saí de casa, sabendo que cada árvore
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27. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
cheios de alma") .
Realmente , esse plantio para mim, transcendeu os objetivos lindos desse jardim de árvores:
permitiu-me a sagrada memória familiar vir bailar conosco por entre as mudinhas esperanço-
sas...
(A Jacqueline Aisenman, agradecendo o convite para ser e estar em Varal Antológico 2:alegria e
honra).
Jacqueline, vendo nossos livros. Nas mãos,
Sais—de Rogerio Salgado. Na pilha, meu
Asas de Água e Nós, de Rodrigo Starling-
entre outros.
Exemplares de Varal Antológico-
antologia coordenada por Jac-
queline Aisenman
Café com Letras é da ALTO, em teófilo oto-
ni e Lírios sem Delírios, meu livro mais re-
cente (selo aBrace).
Revistas internacionais aBrace
Convite para o evento em Brumadinho
Fotos de Clevane Pessoa
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28. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Varal Antológico 2 se estende entre os poetas em Belo Horizonte
Fotos de Yara Abreu, Clevane Pessoa, Yara Darin entre outros
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29. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
UMA CONVERSA AO PÉ DO FOGÃO, UM SARAU PERFEITO!
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31. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Guerra sem paz
Por Lina Macieira
O homem
é a luz do seu
próprio eu
rebeldia sem cor
forte carência espiritual
armas interior.
O homem reprime sua vontade
de fazer amor, fugindo da paz
homem insolente, homem frágil
digno de morrer e mata.
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32. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
NO MUNDO DA
FICÇÃO CIENTÍFICA
Por Daniel C. B. Ciarlini
O adeus de Bradbury e
Fahrenheit 451
Deixando saudades e uma extensa lista
de romances e contos, Ray Bradbury, escritor
americano considerado um dos pilares do gê-
nero da ficção científica moderna, morreu na
manhã do último dia 6 de junho, aos 91 anos.
Era natural de Waukegan, Illinois, Estados Uni-
dos, onde nasceu em 22 de agosto de 1920. Além de ter explorado com talento o
Viveu a maior parte de sua vida em Los Ange- campo da ficção científica, teve proveitosas
les, Califórnia. participações no gênero do horror, onde, inclu-
sive, foi referência e conquistou o reconheci-
Diferentemente de Isaac Asimov, Arthur mento e o respeito de figuras como Stephen
C. Clarke e Robert A. Heinlein, que foram des- King, considerado o mestre do terror e do sus-
cobertos por John W. Campbell Jr. na era das pense da contemporaneidade. É a Bradbury
pulp magazines, Bradbury foi o único escritor que King dedica Dança Macabra (1981), cole-
da década de 40 a surgir no campo da ficção tânea de ensaios impressionistas que discutem
científica de maneira, por assim dizer, indepen- a manifestação do horror nos campos da litera-
dente, sem apadrinhamento, cujos conheci- tura e cinema.
mentos científicos e técnicos não foram adquiri-
dos em academias, mas de maneira empírica, Ray Bradbury era o último dos moicanos
autodidata. Estreou na literatura com o conto que representava a Geração de Ouro da ficção
Hollerbochen’s dilemma, publicado entre 1938 científica moderna, formada também por Isaac
e 1939, e iniciou a carreira como profissional Asimov, Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke.
em 1941, quando teve seu primeiro conto pago Foi considerado o apóstolo dos gentios e o em-
divulgado na Super Science Stories. Anos mais baixador da ficção científica para o mundo ex-
tarde já era visto assinando textos na Astoun- terior (ou seja, além das fronteiras estaduni-
ding e nas principais revistas congêneres que denses), pois “Pessoas que não liam livros
circulavam os EUA. Período este que seu no- desse gênero e que se retraíam diante de suas
me virou febre e angariou um público conside- convenções pouco familiares e de seu vocabu-
rável de leitores em toda a porção Norte da lário bastante especializado, descobriram que
América. eram capazes de ler e entender Ray Bradbury”,
segundo afirmou Asimov em ensaio à TV Gui-
de, em 12 de janeiro de 1980. Sendo um dos
mestres da science fiction, não podia deixar de
ter publicado clássicos como As Crônicas Mar-
cianas, coletânea de vinte e seis contos que
consolidou sua carreira e foi classificada pelo
próprio autor como uma espécie de “mitologia
espacial”, escrita nos anos 50.
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33. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Apesar de ser considerado um dos qua- Guy Montag, a personagem principal,
tro pilares da ficção científica, estranhamente observando as pessoas encasteladas em te-
não gostava desta denominação, negando mui- lões de televisão afixados nas paredes de suas
tas vezes que fosse escritor do gênero. Além residências, onde assistem a programas e ao
disso, dos casos peculiares que marcam a sua mesmo tempo interagem (um tipo de antecipa-
biografia, sabe-se da aversão que tinha por via- ção aos reality shows), assim desabafa:
gens de avião e de jamais ter dirigido um auto- “Ninguém mais presta atenção. Não posso falar
móvel. Escreveu peças de teatro, poemas e foi com as paredes porque elas estão gritando pa-
roteirista de sucesso, tendo adaptado Moby ra mim. Não posso falar com minha mulher; ela
Dick para Hollywood. Antes de se tornar escri- escuta as paredes. Eu só quero alguém para
tor, era jornaleiro. Começou a escrever para ouvir o que tenho a dizer. E talvez, se eu falar
sustentar a família. por tempo suficiente, minhas palavras façam
sentido” (op. cit., p. 120, grifos do autor).
Sem nada a instruir a não ser o exercício
e as práticas esportivas, à escola é reservado o
papel de formar “corredores, saltadores, fundis-
tas, remadores, agarradores, detetives, aviado-
res e nadadores em lugar de examinadores,
críticos, conhecedores e criadores imaginati-
vos” (op. cit., p. 88), sendo, pois, a palavra
“intelectual” um tipo de palavrão. Nesse senti-
do, eis que os filhos são mantidos nas escolas
por nove dias seguidos, com apenas um dia de
folga, logo, não ficam mais do que três dias por
mês na casa dos pais, e quando assim o são à
frente dos telões. O livro também é visto como
uma ameaça ao governo que incentiva a igno-
rância: “Um livro é uma arma carregada na ca-
sa vizinha. Queime-o. Descarregue a arma. Fa-
çamos uma brecha no espírito do homem.
Quem sabe quem poderia ser alvo do homem
lido? Eu? Eu não tenho estômago para eles,
nem por um minuto” (op. cit., p. 89).
Em Fahrenheit 451, um de seus livros Afora esses aspectos, Fahrenheit 451,
mais famosos, Bradbury produz uma narrativa como toda boa obra de ficção científica, não
tipicamente soft e distópica. Desvenda uma so- deixa de especular a respeito de inventos tec-
ciedade transformada pelos avanços dos meios nológicos, como quando demonstra a existên-
de comunicação que alienam a sociedade. A cia de bancos 24 horas, cujos caixas são ro-
leitura de livros é vista como proibida e para bôs, uma antecipação dos atuais caixas de
manter a ordem o governo manda queimar bi- atendimento automático. Vê-se ainda a existên-
bliotecas e até residências que comportam lei- cia de helicópteros de polícia que podem se
tores. Interessante observar que este papel é transformar em viaturas ou vice-versa; além de
desempenhado pelos bombeiros, vistos como cães mecânicos farejadores. Bacharéis e cien-
mantenedores da ordem. Apesar de escrito na tistas, em face da proibição de livros, desenvol-
década de 50, ainda é notável a ironia do autor vem ainda um método que consegue trazer a
ao analisar o aspecto alienado das pessoas lume tudo aquilo que já leram, bem como uma
frente às futilidades trazidas pelo desenvolvi- bebida que modifica a composição química do
mento econômico: “O que mais falam é de mar- corpo a fim de alterar o feromônio, despistando
cas de carro ou roupas ou piscinas [...] todos assim os sabujos, os cães mecânicos.
dizem a mesma coisa e ninguém diz nada dife- Sem escritório e espaço em casa para
rente de ninguém” (op. cit., p. 51-2). Ou ainda: produzir, Bradbury escreveu Fahrenheit 451
“O clangor reduziu as pessoas à submissão; nos porões da Universidade da Califórnia em
não corriam, não havia lugar nenhum para on- Los Angeles, entre livros velhos e máquinas de
de correr” (op. cit., p. 116). datilografar alugadas a dez centavos a meia
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34. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
hora. Segundo afirmou, o livro acabado lhe custou nove dólares e oitenta centavos.
Das passagens mais emblemáticas e libertas que, a meu ver, Bradbury deixou aos coleci-
onadores de preciosidades, resume-se em um trecho de denúncia a toda e qualquer forma de
opressão que tenta podar o espírito livre e imaginativo do homem: “[...] este é um mundo louco e
ficará mais louco, se permitirmos que as minorias – sejam elas de anões ou gigantes, orango-
tangos ou golfinhos, adeptos de ogivas nucleares ou de conversações aquáticas, pró-
computadorologistas ou neo-ludditas, débeis mentais ou sábios – interfiram na estética. O mun-
do real é o terreno em que todo e qualquer grupo formula ou revoga leis como num grande jogo.
Mas a ponta do nariz do meu livro ou dos meus contos ou poemas é onde seus direitos termi-
nam e meus imperativos territoriais começam, mandam e comandam”.
ORGIA
Por Mário Rezende
Que mulher é essa?
Que magia é essa que ela tem,
de me atrair assim,
como uma presa fácil,
indefesa, sem forças
e vontade de fugir?
Quem é essa mulher
que me deixa assim
com os neurônios em orgia,
ouvindo cantos e tambores
ecoando batuques ritmados?
Por que será que essa mulher
controla assim a minha mente
e provoca uma vontade louca
de me deixar levar, ficar ausente?
Todo esse poder é teu, minha mulher.
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35. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
UM BILHETE ANÓNIMO
Por Lénia Aguiar
Quando o final do ano lectivo aconteceu, Magda, que até agora tinha ocultado os seus senti-
mentos pelo professor de educação física, Guilherme, por temer a rejeição e parecer ousada,
finalmente teve coragem para se declarar escrevendo um bilhete. Descobriu qual o seu cacifo e
colocou um bilhete. Guilherme ficou surpreso com tal papelinho, assim como com o seu conteú-
do:
Há muito que lhe quero dizer que é bonito.
Conheço-o há algum tempo e você a mim também.
Se quer saber quem sou vá até ao cais às 20h30min.
M
Quando terminou de ler sorriu. Arrumou o bilhete e tirou tudo o que tinha no cacifo arru-
mando na mochila. Saiu da sala em direcção a casa. Foi a pé, morava relativamente perto.
Enquanto caminhava pensava:
«-Quem será? Porquê tão tarde o encontro? Deveria ser já, estou ansioso para saber quem é.
Se não gostar disfarço, dou meia volta e vou para o bar da praia.»
Ao chegar a casa tomou um banho e vestiu t-shirt e calças de treinar. Nem o pai nem a
mãe desconfiavam que ele teria um encontro. Jantou e fez-lhes companhia durante algum tem-
po enquanto a tv transmitia o noticiário. Ao passar cinco minutos das vinte horas, levantou-se e
disse-lhes que ia encontrar-se com amigos.
Quando chegou ao cais avistou algumas pessoas ao redor, a maioria acompanhadas. Mas
havia uma mulher mais afastada e voltada para o mar, era elegante e de cabelo ondulado escu-
ro. Só poderia ser aquela a M! Até suspeitou que pudesse ser a sua ex-aluna, porém, não que-
ria estar muito empolgado, pois era cedo e a tal mulher poderia ainda não ter chegado ou nem
aparecer. Aproximou-se lentamente e disse sorridente:
--Está um bonito fim de tarde! - Porém, ao aperceber-se de quem se tratava acrescentou – Mag-
da!?
--Sim. Estou à espera do homem que sempre esteve apaixonado por mim e só agora admitiu.
-Estou sem palavras... Algumas vezes suspeitei do teu interesse, mas conclui ser loucura mi-
nha.
--Também apercebi-me muitas vezes que me olhava com ar de macho... Farei dezoito anos
amanhã.
--Não te importas mesmo que namoremos? Eu fui teu professor até hoje.
--Poderemos mentir, ninguém precisa saber que eras meu professor, Guilherme.
Ele enlaçou-a e beijou-a confessando:
--Só o nosso amor interessa.
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37. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
A essência da poesia
Por Alma Lusitana
Recentemente abandonado pela comunidade,
vive na rua sem rumo e numa selvagem crueldade.
Desce a calçada com os pés doridos pela ausência de resguardo,
sendo vencido por um cansaço aliado à urgência de alimento.
Numa noite chuvosa, sucumbe sobre os gélidos paralelos
de uma calçada deserta e sombria.
Ao despertar dolorosamente da sua malfeita sorte,
encontra a seu lado, lambendo-lhe afectuosamente a face,
um pequeno cachorro também desgastado pelas atrocidades
da nossa preconceituosa sociedade.
Fixados num olhar penetrante, o sem-abrigo, retira do bolso
meio pão enlameado repartindo-o poeticamente com o único
ser que no auge do seu desespero e imune a qualquer presunção,
o acompanha nesta sua dolorosa enfermidade.
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38. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
O violino
Por Danilo Augusto de Athayde Fraga
(As três graças)
Apaga
A luz e dança
A casa vazia a noite jovem
A lua e você
Toca um quarteto
De Ravel de cordas
A corda não
Quer parar de adormecer
Eu e você e mais
A lua e a noite eu sou
Entre rosa orquídea e adelfa
A quarta e quinta corda
O violinista adormecido
O poeta que desperta para enfim
Fechar os olhos como quem goza
Uma breve nota de Satie
As três graças de Canova
Eu sou o arco que desliza sobre cordas
Tensas e também é corda
O verso e o seio como taça
O vinho e o sonho
O amor ou algo parecido
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39. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
A ARTE INCONDICIONAL DE AMAR
Por Dhiogo José Caetano
O amor é a maior força que existe no mundo. Aqui falo de amor no sentido lato e não só do sen-
timento que pode existir entre dois seres. O amor total é uma forte de energia que não utilizamos
o suficiente.
O amor é uma plenitude que no envolve até nos momentos de raiva, pois a raiva ou ódio é a an-
títese do amor, ou seja, o amor que está doente.
Portanto, aja sempre com amor e terá sucesso na sua existência. O amor está na base de todas
as grandes descobertas e grandes invenções que tiveram lugar, têm lugar e terão lugar na histó-
ria da humanidade.
Sem amor, não podemos construir nada de grande. O amor é simplesmente a essência que nos
mantém vivos.
Se os homens projetaram enormes templos, igrejas, mosteiros, sinagogas, mesquitas, foi por
amor ao ser supremo: o seu salvador aquele conhecido com regente de todas as coisas que
existe no universo.
Se os homens fizeram descobertas em todos os domínios, foi para melhorar a vida dos seus
amados irmãos.
Seja no domínio da medicina, da tecnologia, do dia a dia ou da melhoria das condições de vida,
no fundo, os investigadores, os cientistas, os médicos e os grandes exploradores agiram sempre
para o bem da humanidade.
O amor vence tudo, a sua supremacia sobrepõe todas as coisas.
Aqueles que tentaram, tentam ou tentarão praticar o mal serão sempre vencidos, porque a força
do amor é maior do que a força do ódio. Esta pode causar muitos estragos, mas será sempre
vencida no fim!
Meus amados irmãos, convindo vocês para praticar a arte do amor no dia a dia. Não só irá atin-
gir mais depressa os seus objetivos, mas também praticará o bem à sua volta. Obterá sempre
uma recompensa moral ou material.
Será um ministro que prega o amor e que é sempre amado.
Em suma, cultive a atitude de amar incondicionalmente e não por interesse ou esperando rece-
ber uma recompensa. Coloque um amor incondicional nas suas palavras, pensamentos e atos,
assim a sua vida plenamente será rega com muito sucesso, clarividência e paz.
Amar nunca é demais!
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40. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
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teriores, peça através do nosso e-
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41. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Rocambole de Batata
Marilice Bernabei
http://www.receitas.com/
Ingredientes
Massa
• 1/2 kg de batata
• 1 xícara de leite
• 3 ovos
• 4 colheres de farinha de trigo
1 colher de manteiga
Recheio
O de sua preferência: frango, palmito, carne moída, presunto e queijo, camarão ou verduras
refogadas.
modo de preparo
Massa
1º - Descasque as batatas e depois de cozinhar em água e sal, esmague-as e passe-as pe-
la peneira.
2º - Junte a manteiga, o leite morno, a farinha aos pouquinhos e misturando bem.
3º - Depois, acrescente os ovos. Bata muito bem até conseguir uma massa lisa e uniforme.
Montagem
1º - Despeje numa assadeira untada com manteiga e polvilhada com farinha de trigo.
2º - Alise, polvilhe com um pouquinho de farinha de rosca e leve ao forno por cerca de 15
minutos.
3º - Deixe esfriar um pouco e, quando ainda quente, vire a massa sobre um guardanapo
polvilhado com farinha de rosca.
4º - Espalhe o recheio e enrole com cuidado, aperte com o guardanapo e depois de alguns
minutos desembrulhe.
5º - Salpique com pedacinhos de manteiga e passe outra vez pelo forno por cerca de 5 mi-
nutos.
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42. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
A Tartaruga Fifi forte graças à nova família.
Infelizmente, depois de tanto carinho e amor,
Suzi não quis mais Fifi e sua família inconse-
quentemente colocou-a na rua, à sua própria
sorte.
Para a alegria de Fifi, uma menina chamada
Sofia apareceu e a resgatou, livrando-a daque-
la movimentação enorme das ruas.
Em casa, Sofia perguntou a tartaruga:
-Você está perdida?
A tartaruga balançou a cabeça mostrando que
Por Helena Akiko Kuno sim.
(Helena tem 8 anos e escreve pela primeira Então Sofia adotou Fifi e ficou muito feliz, pois
vez para a revista) ganhara uma amiga para brincar.
Em um belo dia ensolarado, Suzi andava pela O tempo passou, Fifi adoeceu e não havia vete-
rua quando viu um novo Pet shop e decidiu co- rinário que cuidasse de tartarugas na cidade.
nhecê-lo.
Um dia Fifi começou a fechar os seus olhinhos.
Chegando lá, ela viu diversos animais: cachor-
ros, gatos, peixes, hamsters e tartarugas. Sofia inconformada chorou muito, mas não ha-
via mais tempo, Fifi tinha morrido.
Mas uma tartaruga bem pequena no fundo de
uma gaiola lhe chamou a atenção, ela parecia Sofia ficou tão triste e até hoje ela ainda lembra
fraquinha e magrela. -se de Fifi.
Suzi com dó da tartaruga foi correndo para ca-
sa conversar com a mãe:
- Mãe tem uma tartaruguinha no novo petShop,
você compra para mim?
- Não sei filha, estou com pouco dinheiro este
mês.
- Por favor, mãe.
- Está bem, mas lembre-se que a responsabili-
dade é sua.
Chegando ao pet shop, Suzi pegou a tartaru-
guinha na mão e disse:
- É essa tartaruga que eu quero mãe.
- Mas ela parece tão frágil, não acha?
- Não mãe, eu não acho!
- Está bem querida, então vai ser essa.
Então a tartaruga começou a ficar saudável e
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43. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
O segredo
Por Domingos A. R. Nuvolari
Florinda casou-se a alguns instantes e já estava eufórica para a sua viagem de lua de mel, que
faria daqui a algumas horas. Ediberto seu noivo, se divertia regado a cerveja e seu pagode pre-
ferido, que saia da caixa de som.
Entre fotos e abraços sujava cada vez mais a cauda de seu vestido longo e branco, perdido nas
rendas, que um dia sonhara para este dia tão especial. Com o nó já frouxo de sua gravata, o
noivo ria das piadas contadas pelos amigos, na rodada que seguia noite adentro e não parecia
que Ediberto estivesse sonhando com a viagem ao nordeste baiano, terra de sua gente.
Os convidados, que não foram à cerimônia, não terminavam de chegar ao salão de festas, inclu-
sive Maria Antônia, uma confidente de Florinda que no meio da festa adentrou ao salão, seu
olhar não se cansou de procurar a noiva, até que a avistou e correu ao seu encontro.
O noivo era preparado pelos amigos para o momento esperado, o tradicional corte da gravata.
Soma tão esperada que ajudaria no custeio dos dias que passariam, na pequena cidade natal
do baiano, que ali continuava a se divertir como sempre se divertia, na sua pacata vida de vigia
de um supermercado.
Durante seus dois anos de namoro e noivado, Florinda não se deixou levar pela fraqueza da
carne, sempre seguiu rigidamente a tradição da família, que sonha em levar a noiva para o altar
e casar de véu e grinalda, corretamente.
Maria Antônia, agora de frente para a noiva, nem mal cumprimentou Florinda, pelo seu casa-
mento, foi logo cochichando no ouvido da noiva, com um ar de fofoca, segredo guardado há
tempos, a espera do momento certo para soltar a bomba. Florinda num gesto de surpresa, colo-
cou as duas mãos na boca aberta, afirmando ainda mais a inesperada bomba que a amiga con-
fidente fuxicou em seu ouvido.
Nesta altura da festa, Ediberto já garantia um bom trocado para a tão sonhada lua de mel, que
esperou, embora não demonstrasse estar com pressa. Ele conhecera Florinda no cemitério da
cidade quando levava ela ao tumulo ali esquecido, meses antes do início do namoro.
Quando Ediberto olhou para Florinda, naquela cena olhando para ele, ele sentiu em seu gesto
de desespero e podia imaginar que não era um simples gesto, ele parecia saber do que se trata-
va pois ficou paralisado como se um segredo havia acabado de ser descoberto.
Florinda voltou-se para o local onde Ediberto estava e saiu ao seu encontro, já em meio ao cho-
ro, ao nervosismo e ao desespero. Ediberto repentinamente acorda de seu pesadelo, na véspe-
ra de seu casamento, suando frio, assustado mas com a certeza e a garantido que seu segredo
ainda ficaria guardado, por mais algum tempo, com ele e com Maria Antônia, falecida pouco an-
tes do início de seu namoro.
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44. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Adoção é uma permuta de amor.
O homem ama o cão e o cão ama o homem.
Os dois tornam-se amigos.
Na foto, Costelinha
Por Elise Schiffer
Amigos: Costelinha (4 anos) e Rosemberg (12 anos)
Era uma vez um menino que vivia sozinho,
Sua família havia mudado de residência.
O menino ainda não tinha amigos no novo Bairro.
No dia de Natal o menino pediu a sua mãe.
Mãe, eu quero um cachorro de presente.
Era uma vez um cachorro chateado,
Que havia sido abandonado ainda filhote.
O cachorrinho estava sozinho, não tinha nenhum amigo.
As pernas tremiam de tanto medo que sentia por estar sozinho.
O filhote latiu e latiu pedindo aos céus um dono para amar.
No dia de Natal a mãe do menino o levou a um abrigo de animais.
Lá o menino viu muitos filhotes pulando e latindo.
O coração do menino bateu forte pelo filhote mais sujo e magro.
Era o filhote mais feio no berçário do abrigo.
Hoje o filhote é um belo cão, o menino esta feliz e os dois são grandes amigos.
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45. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
PSICOSE LITERÁRIA secretamente ainda tinha esperança de fazê-lo,
mas não podia dormir por pouco mais de qua-
tro horas por dia, os pesadelos eram constan-
Por Eliseu Ramos dos Santos tes e verossímeis e o cheiro dos corpos já im-
pregnava toda a casa. O cheiro era mesmo o
pior de tudo, aquilo que o deixava mais angusti-
Uma folha em branco era a visão mais ado. Cansava-o. Espalhado por todas as par-
recorrente em sua vida desde então. Fitava-a tes da casa, exceto no tapete persa. Por isso
insistentemente, mas não conseguia mais es- ele passava horas a fio de bruços, com os bra-
crever depois que havia feito. Agora estava so- ços abertos e o nariz estacionado nas cerdas
zinho. Aliás, estivera sozinho há muito tempo, do tapete. Podia cultivar o terrível sentimento
contudo, desta vez se encontrava fisicamente até o fim contanto que não precisasse suportar
só, por pouco mais de um mês não vira algum o aroma da morte. Sabia que lhe restava pouco
mísero rosto diferente, nem o seu próprio. Que- tempo até que o cheiro se ousasse a romper os
brou todos os espelhos da casa, pois não su- limites da casa e chamar a atenção do mundo
portava a expressão de fracasso e desolação que há depois da porta da frente.
tatuada em sua face. Por vezes conseguia se Pois então, se quisesse que valesse a pe-
enxergar furtivamente no reflexo da água em na tudo que havia feito, deveria começar a es-
suas mãos antes de lançá-la contra o rosto, ou crever logo. Seria sua obra-prima. Um estan-
senão era possível se reconhecer de um modo darte da literatura moderna, recuperaria enfim,
deformado na garrafa de uísque recém- o reconhecimento de todos, mesmo com um
esvaziado, esta sim, era a imagem que mais débito tão alto a pagar, o sacrifício não seria
lhe agradara nos últimos tempos: seu semblan- em vão. Não o sacrifício próprio, mas o de seus
te totalmente distorcido, o que representava entes: sua bela e amável esposa e seus filhos,
para ele, a desfiguração de seu pobre espírito. carinhosos e educados. “Morreram para entrar
Diante do estado de solidão, há muito tempo na história”, pensava ele, em momentos de in-
não pronunciara uma só palavra. Não carecia, tensa insanidade, “serão eternos personagens
ele não era do tipo que jogava palavras ao ven- do meu legado como escritor, estarão vivos por
to, o máximo que produziu sonoramente duran- séculos no imaginário de toda a humanidade!
te esse período fora alguns gritos dispersos de Ora, como não? Se estivessem aqui prestariam
desespero e angústia motivados pelas lem- inúmeros agradecimentos a mim por serem es-
branças vinculadas ao que fizera, surgiam em colhidos para tal.” Sua mente agora doentia
sua mente com tanta força e violência que não costumava variar do estado de plena culpa e
conseguia conter-se em silêncio: gritar emude- desolação para uma incontinente e repentina
cia sua mente e o deixava um pouco menos megalomania. Um desgraçado dégradé de
morto. emoções que o deixava cada vez mais demen-
Falando nisso, não cogitou em nenhum te. Não era à toa que se encontrasse nessas
momento a ideia de suicídio, para ele, viver o condições, afinal praticara um dos atos mais
maior tempo que dispusesse com aquele senti- lastimáveis conferidos ao ser humano: o assas-
mento tão corrosivo quanto ácido era o único sínio da própria família.
modo de diminuir em alguns per centos sua
parcela de responsabilidade sobre seu ato. As- “Mas foi por uma causa nobre! E ademais,
sim, já realizara o próprio julgamento pessoal, eles me jogaram no poço da decadência, preci-
pois os meios jurídicos já não importavam sava ter feito algo, sim, tudo faz sentido!” Essa
mais, tampouco a punição divina, até porque ideia repugnante brotou-lhe em sua cabeça
não era religioso. No entanto fez de seu lar um paulatinamente, tendo como origem um sincero
inferninho particular para ser simultaneamente, diálogo com seu agente, “antes de seu casa-
demônio e pecador, onde ele mesmo prepara a mento cara, você era louco, bebia como nin-
via-crúcis e a percorre sem auto refutações. guém e tinha várias mulheres, quantas quises-
A casa era grande, entretanto ele passou se, havia histórias pra contar e não eram pou-
maior parte do tempo num quarto dos fundos, cas, sua mente borbulhava em criatividade e
sem móveis, onde havia apenas um belo tapete isso se traduzia em grandes escritos seus, por
persa e sua máquina de datilografia com uma isso tinha se tornado um grande escritor, hoje
folha posicionada ansiando a primeira frase ser você não é mais nada.
escrita. Ele achou que conseguiria escrever e
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46. Varal do Brasil— julho/agosto 2012
Você é do tipo que precisa viver pra es- seguida pelo desejo de aniquilar seus inimigos
crever, toda sua obra até hoje foi baseada em do lar. “Dei minha vida por eles, e o que eles
sua vida, por isso mesmo agora você é um cara fazem? Acabam com minha criatividade, des-
decadente e sua familiazinha o deixou assim, troem minha carreira, me deixam decadente.
sua vida é decadente e seus escritos também Mas isso não ficará assim, não mesmo.”
seguem o mesmo ritmo, tudo chatice. Volta a Só lhe faltava a coragem da prática, pois
viver cara, viva para ter uma história pra contar, a bravura de admitir a si mesmo seus intentos
estão todos esperando você tornar a ser quem sórdidos ele já havia alcançado. Imaginava co-
era, quem nunca deveria ter deixado de ser...”, mo seria glorioso seu retorno as livrarias, mata-
nesses termos, a coisa que ele mais prezava ria sua família e faria deste ato o enredo para o
no mundo, sua carreira, se transformara num novo livro. Sim! Estava tudo certo, todos ficari-
fiasco, precisava reverter isso, custasse o que am estupefatos e secretamente maravilhados
custar. com todos os detalhes descritivos que constari-
“Viva cara, para ter uma história”, depois am no texto, quebraria todos os paradigmas
dessa conversa com seu agente e conselheiro vigentes. Seria ali inaugurado um novo momen-
essa ideia foi-se germinando tão intensamente to da literatura mundial. No primeiro instante, as
que não conseguia pensar em outra coisa, pessoas o bombardeariam impiedosamente pe-
“viver uma história, viver uma história, fazer lo que havia praticado, mas os insultos costu-
uma história, fazer história”, os pensamentos meiros estariam criptograficamente carregados
dele iam sendo gradualmente atingidos por de admiração pela bela e pormenorizada des-
uma gangrena de obscuridade, pensava final- crição de seu ato. Seria a redenção de sua car-
mente que para voltar a escrever como antes reira e o declínio de um homem na sociedade.
precisava se livrar de sua família, a esquizofre- O escritor do submundo. Um maravilhoso para-
nia rondava suas ações e emoções. A partir daí doxo que mexeria com a cabeça de todos os
cada vez que observava seus filhos brincando leitores e marcariam suas vidas. Só isso o inte-
e sorrindo, e sua mulher realizando as tarefas ressava agora. Marcar. Chocar. Faria com que
domésticas com todo o carinho e dedicação, as pessoas sentissem desejos absurdos e obs-
pensava como eles estavam sugando seu ta- curos ao lerem sua obra. No fundo tinha a cer-
lento e transformando num escritor inconstante. teza de que toda a humanidade tem intrinseca-
Aquilo não era vida. O ódio crescia vertiginosa- mente o instinto psicótico de contemplar a vio-
mente e a rotina tediosa potencializava ideias lência e a barbárie.
psicóticas e compulsivas. A essa altura formu- Sabia que esta podia ser sua ultima obra,
lava diversas maneiras de abstraí-los de sua mas estava tão obcecado com a ideia que nada
vida, e só a morte lhe parecia a opção plausível mais importaria, nada precisaria ser escrito
e necessária. Então começa a surgir em sua após o ponto final. Só lhe faltava mesmo a co-
mente doentia a possibilidade de destruir sua ragem do ato. Nunca tentou contra a vida de
família e renascer enquanto escritor. A premis- alguém, tampouco agredira sua esposa, ultima
sa de que, sem seus entes sua carreira iria re- vez que havia brigado ainda cursava o colegial.
nascer como uma fênix levantando voo já lhe Por mais que seu estado fosse de plena psico-
soava como uma verdade absoluta. A solidão se, ainda esbarrava em preceitos cultivados
realçava sua aptidão para a escrita. Mal via a durante toda uma vida e era cabível que mes-
hora de voltar a escrever majestosamente co- mo anestesiado por pensamentos tenebrosos,
mo antes e se envaidecer diante dos elogios seu corpo poderia não responder a seus co-
que outrora havia se habituado. Durante meses mandos quando necessário. Pensava em fazê-
fora crescendo em seu ser a vontade de ver lo ébrio, mas isso prejudicaria a etnografia do
seu lar definhar às suas vistas. Tornara-se frio ato, pois poderia perder alguns detalhes ou
com todos. Isolou-se em sua redoma psicótica, mesmo não lembrar devido à embriaguez.
todos eram inimigos, pois o condenariam caso Como seria concebível realizar, ou mes-
seus pensamentos viessem à tona. Não podia mo cogitar tal feito egoísta e desumano? Nesse
mais confiar em ninguém. Estado paranoico. momento, ele era o pior homem da face da Ter-
Olhava para todos os lados a todo o momento. ra, ou talvez aquele que melhor representasse
A única coisa que o fazia esboçar um leve sorri- o que realmente somos. Provavelmente sentia-
so era reler seus antigos escritos e fomentar a se assim, como se desfrutasse ali o sabor
esperança de que tudo voltaria a ser como an- amargo da essência de nossa espécie. Somos
tes. A nostalgia era obrigatória e morbidamente também animais, na verdade, somos primeiro
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